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4 - A VIDA É BUSINESS: UM OLHAR SOBRE OS “NOVOS” NEGÓCIOS  
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Tópico 01
A vida é business: um olhar sobre os “novos” negócios  
Olá, estudante!
Seja bem-vindo(a) à Unidade de Estudo "A vida é business: um olhar sobre os “novos” negócios", na qual trataremos das interseções entre economia e relações de consumo e de trabalho. 
FIGURA 1 | TRABALHO
Desde a 1ª Revolução Industrial, que marcou a transição da sociedade do campo para a cidade, a economia foi intensamente impactada, se adaptando e transformando a vida social: do feudalismo ao mercantilismo, do mercado interno ao internacional, da economia clássica à livre concorrência, dentre tantas outras mudanças que ocorreram no decorrer dos séculos.
Com a consolidação da 4ª Revolução Industrial e do ciberespaço, a economia, outra vez, é impactada com outros pontos de inflexão, por exemplo, algumas novas formas de realizar operações financeiras (Pix), de moedas digitais (bitcoin), de consumir (em plataforma, sites, dentre outros) e de trabalhar (trabalho autônomo, com novos tipos organizacionais).
Em virtude dessas transformações, o mercado consumidor e o mercado de mão de obra tiveram crescimento vertiginoso com ganhos de produtividade e aumento de consumo. O marketing teve papel importante nessa transformação, tornando as pessoas “alvo” para o consumo.
Entretanto, no que diz respeito às questões de mercado, a partir do advento da internet, os discursos comerciais tiveram de mudar, tornando-se mais inteligentes, visto que o consumidor da era digital é mais crítico e atento àquilo que consome.
A transformação digital afeta diretamente...
a economia e as novas e velhas organizações estabelecidas, desafiando e melhorando o modelo de negócio e encontrando novas metodologias a serem seguidas/implementadas.
 
Na atual conjuntura empresarial, o consumo não se trata mais de interligar os clientes e negócio mas também de utilizar informações desses clientes em benefício da organização, incluindo serviços, personalização e inteligência. O mesmo ocorre em relação ao trabalho, com o surgimento de novas categorias, o aumento de trabalhos automatizados e a diminuição de postos de emprego.
Com isso, inaugurou-se uma nova era econômica, que criou um novo tipo de capitalismo, chamado de “sharing economy” (em português, “economia colaborativa”), cujo foco está nas externalidades da rede. Isto é, consolida-se a partir do compartilhamento de produtos e serviços, de forma dinâmica e por meio de plataformas digitais.
FIGURA 2 | SHARING ECONOMY
Utilizando o potencial que têm (incluídos bens ociosos ou com pouco uso), os negócios que não possuem a sua própria matéria-prima foram inaugurados. A respeito dessa nova economia que está se consolidando desde o início do século XXI, vamos pensar como nasceu o Airbnb?
Economia compartilhada
O Airbnb nasceu quando dois anfitriões receberam três hóspedes em sua casa, em São Francisco, em 2007. Atualmente, a plataforma conta com 4 milhões de anfitriões que já receberam mais de 1 bilhão de hóspedes em quase todos os países do mundo. Todos os dias, anfitriões oferecem acomodações e atividades únicas que possibilitam a viajantes vivenciar o mundo de forma mais autêntica e conectada (SOBRE..., 2022).
Em um passado recente, as pessoas não imaginavam ser possível abrir um negócio que não possuísse estoque ou uma rede de hospedagem/acomodação sem edifícios próprios — muito menos um serviço de transporte urbano sem frota própria de veículos.
Atualmente, a realidade que se apresenta é da, interessante, relação da tecnologia com a economia e com as pessoas. Mais uma vez, reinventa-se o capitalismo.
Por isso, ao longo do presente estudo, pensaremos sobre o papel dos consumidores e trabalhadores nesses novos negócios e, em especial, a nova visão de mercado. Entenderemos o que Airbnb, Uber e Netflix têm em comum. 
Ao final deste conteúdo, você será capaz de:
· compreender os fundamentos da economia compartilhada;
· identificar os riscos e os benefícios dessa nova economia aos consumidores;
· analisar o impacto dessa nova tecnologia no trabalho contemporâneo.
No mundo contemporâneo, é fundamental termos um novo olhar sobre o mercado a fim de entender o exato ponto em que a economia moderna distingue-se das relações comerciais tradicionais, nas quais elementos centrais de propriedade passam a ser questionados pelas perguntas a seguir. Ainda existe custo-benefício em se ter um carro? Vale a pena pagar gasolina, revisão e seguro? Não é mais barato utilizar Uber?
Tais questionamentos fazem parte de uma nova realidade que se apresenta à sociedade contemporânea, cada vez mais conectada à internet e às plataformas digitais, trazendo resultados de parcerias e negócios on-line ao mundo real. 
Economia do compartilhamento 
Quando pensamos em economia do compartilhamento, passa em nossa mente que precisamos ter algo para compartilhar para participar, correto?
A fim de descobrirmos um pouco mais sobre esse novo tipo de economia, convido você a assistir ao vídeo a seguir, que explicará como funciona esse novo “compartilhar”.
 Saiba mais
A economia do compartilhamento utiliza-se de três categorias principais:
1. os prestadores de serviços, que nada mais são que particulares oferecendo serviços (um quarto residencial, um serviço de limpeza, uma viagem de transporte particular etc.);
2. os usuários desses serviços;
3. as plataformas digitais, que estabelecem a conexão entre a oferta (prestadores de serviços) e a procura (usuários) em tempo real.
Ademais, a economia do compartilhamento se subdivide em dois propósitos: comercial e não comercial.
Comercial 
A economia do compartilhamento comercial tem fins lucrativos, a exemplo, as empresas Airbnb, Uber, Delivery Much etc. São novos tipos de mercado que se aproveitam do que têm (casa, carro) ou do que sabem fazer (comidas, serviços) para oferecer em troca de remuneração de outras pessoas. 
Não comercial 
A economia do compartilhamento não comercial apresenta serviços de acomodação on-line sem fins lucrativos. Isto é, estimula a troca, o escambo, o compartilhar do que se tem sem ganhar dinheiro em troca — tem como justo objetivo diminuir o consumo excessivo. Como exemplo dessa modalidade podemos citar a plataforma CouchSurfing.
Para melhor entender características, elementos e mudanças proporcionadas pela economia do compartilhamento, convido você a aprofundar nossos estudos por meio da seguinte leitura:
Estudo Guiado
Leia as páginas 22 a 43, que tratam das plataformas tecnológicas e da economia do compartilhamento.
 Clique no link e leia o livro
TIGRE, P. B.; PINHEIRO, A. M. Inovação em serviços e a economia do compartilhamento. São Paulo: Saraiva, 2019.
Cabe destacar que vários autores, em especial do ramo laboral, tais como Hugo Barretto Ghione e Valdete Souto Severo, dentre outros, consideram inadequado o termo “compartilhamento”, pois entendem que quem compartilha não deveria receber sobre esse compartilhamento. Na visão desses autores, o termo não se adequa ao que propõe, pois, na maioria dos casos, se cobra por serviços.
Mercado de consumo 
O consumo, na economia do compartilhamento, tem finalidade diversa do consumo da economia tradicional, pois esse novo tipo de economia tem como conceito não investir em patrimônios, mas, sim, em acesso a bens. É um consumo que privilegia o aluguel, o empréstimo, o compartilhamento, em vez da compra. Além disso, se utiliza muito das compras via internet e plataformas digitais, o e-commerce.
[...] ao invés de comprar e possuir coisas, consumidores querem acesso a bens e preferem pagar pela experiência de acessá-los temporariamente (BARDHI; ECKHARDT, 2012, p. 881).
Nesse sentido, a economia do compartilhamento funciona como um termo “guarda-chuva” que compreende, acima de tudo, um utilitarismo econômico. É uma aproximação da economia solidária, economia criativa, sem preterir o lucro, conforme contextualiza a seguinte figura.
FIGURA 3 | COMPRA ON-LINE
Podemos observar que a economia do compartilhamento conecta potenciais vendedores e compradores, tendo essa conexãoforte apelo da tecnologia.
A economia do compartilhamento apresenta um forte embasamento tecnológico, modificando os antigos modelos de negócio, criando novas demandas que até então eram inexistentes e, consequentemente, desenvolvendo novos mercados. Um dos principais representantes dessa categoria é a plataforma de entretenimento Netflix que promoveu uma reorganização na forma das pessoas consumirem filmes e séries - sendo responsável pela substituição da compra ou aluguel por uma assinatura mensal que disponibiliza um extenso inventário de filmes e séries on-line. Do mesmo modo, destacam-se as plataformas digitais que permitem a conexão entre agentes de mercado que buscam não apenas comprar, mas vender e trocar produtos, como o OLX, Enjoei, Mercado Livre, etc. que permitem a venda, a troca e a compra de produtos novos e usados (GERHARD; SILVA JÚNIOR; CÂMARA, 2019, p. 804).
Não há dúvidas de que a economia do compartilhamento cresce rapidamente. Afinal, a internet fomenta a participação cada vez maior de usuários nesse tipo econômico — não é à toa que mecanismos como o Facebook já possuem seu próprio marketplace, aproveitando a larga conexão entre pessoas, seja nos grupos ou na própria rede de amigos.  
Os comportamentos sociais transformaram-se nesse...
novo mercado da era digital, tornando normal o fato de “chamar um Uber”, comparar preços entre hotéis e Airbnb, ver se já chegou determinado filme a Netflix, Amazon Prime ou Disney Plus, dentre tantos outros serviços de streaming, verificar o Waze antes de sair de casa ou, simplesmente, verificar preços, informações e fatos no Google.
Há, sem sombra de dúvidas, um novo mercado, um novo capitalismo e um novo comportamento social.
HSM
Os ubercapitalistas estão chegando
Os ubercapitalistas estão chegando
Vale a leitura porque...
... nem todas as mudanças em curso têm a ver com a desaceleração da economia brasileira (ou com a Grécia). Parte se deve à destruição criadora.
... a economia compartilhada é um dos resultados dessa destruição criadora.
.... as regras do novo jogo precisam ser conhecidas: incluem mais comunidades de relacionamento e menos barreiras de entrada.
Levantamentos globais apontam a criação de três startups por segundo. E, embora mais de 90% dessas empresas deixem de existir em pouco tempo, 102 já atingiram um valor de mercado superior a US$ 1 bilhão cada uma.
Surpreso? Pois o que mais me surpreende na avalanche empreendedora são duas empresas que encabeçam a lista dos chamados unicórnios, diferentes de tudo o que aprendemos nas escolas de negócios: o Uber, plataforma de transporte individual avaliada em mais de US$ 51 bilhões, e o Airbnb, plataforma de hospedagem de mais de US$ 25 bilhões. Em comum, as duas não têm ativos próprios.
Essas companhias nos dão uma pista de como a destruição criadora de Schumpeter está reorganizando a economia. Emerge um novo modelo com foco em aproveitar capacidades ociosas compartilhando-as, proporcionando um aproveitamento maior não apenas daquilo que se possui, como também daquilo a que se tem acesso.
Das três empresas do topo da lista dos unicórnios (startups com mais de US$ 1 bilhão de valor de mercado), duas são ícones da economia compartilhada 
'Essas empresas economizam por um lado, ao usarem capacidades de outros, e também faturam mais, pois aumentam muito seu alcance e distribuição”, resume a norte-americana Robin Chase, ícone da assim batizada “economia compartilhada” que recentemente lançou Peers Inc., que pode se tornar uma bíblia sobre o assunto [o livro será publicado no Brasil em novembro pela HSM].
O compartilhamento de ativos não deveria ser uma surpresa; sempre existiu na economia, segundo ela. Apenas a tecnologia atual está mudando a escala em que ele acontece. Chase foi uma que usou a tecnologia para promover compartilhamento – de carros, em seu caso. Sua já famosa ZipCar revolucionou a locação de automóveis nos EUA até que a gigante Avis a adquiriu.
A empreendedora não tem dúvida: enquanto ficam reclamando do Uber, a economia compartilhada se consolida. Ela expõe seu argumento: a construção de negócios com base em comunidades de relacionamento, envolvendo pessoas como consumidoras e como produtoras, já consiste em um padrão reconhecível em diversos segmentos e, em grande medida, é replicável.
Mudar a mentalidade é complicado, mas não impossível. Lembremos que a Netflix se estabeleceu como um negócio inicial tradicional, baseado em aluguel de DVDs físicos, e, depois, virou essa empresa com mais de 62 milhões de assinantes em todo o mundo
 
O modelo é replicável principalmente porque a lógica do mercado vem se alterando. “Com a tecnologia, em especial a internet, fica contraproducente para as empresas tentarem erguer barreiras de entrada e induzir algum nível de escassez no mercado, porque isso diminui o valor gerado pelas inovações e a velocidade com que obtêm um bom nível de produtividade”, pontua Chase.
A ascensão fica mais óbvia porque não vale mais somente para produtos e serviços digitais ou para negócios que promovam algum tipo de intermediação. Aplica-se a segmentos tradicionais igualmente. Tende a funcionar assim: sempre que fizer sentido econômico para o consumidor, a lógica do compartilhamento pode prevalecer. 
Chase exemplifica: “Do ponto de vista da economia do consumidor, faz mais sentido alugar um carro por hora ou minuto do que por dia; a locadora tradicional só aluga por dia porque se estruturou com grandes contratos e muitas etapas de decisão”. É provável que em breve vejamos uma mesma empresa mantendo, em paralelo, linhas de negócios convencionais e compartilhadas. 
Há mais um fator que pode contribuir para acelerar a consolidação da nova economia. Chama-se “crise”. Não se trata apenas da crise econômica cíclica, como no Brasil ou na Europa, mas de uma crise mais essencial, do capitalismo.
Mudanças-chave
O que realmente muda no dia a dia dos negócios com a emergência da economia compartilhada? É mais simples do que parece, porque são só três mudanças essenciais.
Em primeiro lugar, muda o que é considerado vantagem competitiva. “O que mais vale hoje, para qualquer empresa, é maximizar a quantidade de conexões, com pessoas, bens e conhecimentos de fora da organização”, explica Chase.
Em segundo, tem de mudar a mentalidade, que, diga-se, é algo particularmente complicado de fazer.
Passo a palavra à empreendedora da ZipCar novamente: “É difícil para empresas com legado fazerem a transição para essa nova lógica, pois elas já têm, obviamente, uma cultura e uma estrutura e estão orientadas para o curto ou médio prazo, muitas vezes sob pressão de seus investidores”. Então, mudar a mentalidade significa mudar estrutura, cultura e orientação estratégica.
 
Por fim, caem, em geral, as barreiras de entrada, o que significa mudança regulatória. Pergunto a Chase como ela enxerga a revolta de tantos contra o Uber. “Motoristas particulares têm uma profissão registrada, sempre estiveram à disposição para serem contratados”, responde ela de bate-pronto.
Um dos carros compartilhados da ZipCar, empresa pioneira da economia compartilhada fundada por Robin Chase (na foto acima); com a empresa, a cobrança mudou de dia para minuto
 
Esse argumento de Chase parece acabar com todos os outros. Os reguladores terão de, mais cedo ou mais tarde, aceitá-lo, flexibilizar-se e reconhecer que os motoristas podem continuar a ser contratados por mês, mas também por minuto ou por hora, o tempo de uma corrida.
E no Brasil?
Sei de gente achando que economia compartilhada é coisa de gringo, não de brasileiro. Para esses, respondo com três histórias.
Tripda
Esse aplicativo de caronas intermunicipais já conta com mais de 150 mil usuários em 12 países. Ainda sem fonte de receita, o app sediado em São Paulo tem investimento do grupo alemão Rocket Internet e consolidou o mercado brasileiro ao adquirir outros apps que também atuavam na mesma área (o Unicaronas e o Caronas.co).
“Estimamos que, com o número de caronas realizadas no período, deixamos de emitir uma quantidade de CO2 no meio ambiente equivalentea reflorestar uma área de mais de 6.600 campos de futebol”, afirma Pedro Meduna, cofundador e CEO global da empresa. “É uma alternativa a ônibus, vans e até voos de curta duração. Passageiros e condutores trocam mensagens e estabelecem preferências das viagens”, complementa o presidente de operações no Brasil, Daniel Marcelo Velazo-Bedoya.
O app não envolve dinheiro, mas é praxe os caroneiros ratearem custos.
Fleety
Donos de automóveis podem entrar na plataforma e oferecer seus veículos para pessoas que desejam alugá-los por hora (ou por dia). “Para que todas as partes interessadas tenham ótimas experiências, as corridas têm seguro e fazemos verificações de segurança”, conta André Marim, CEO, que fica na sede, em Curitiba.
A proposta vem agradando: 6 mil pessoas estão cadastradas para locação de 600 automóveis (populares, sedãs e utilitários) oferecidos por pessoas comuns. Curitiba ainda é a região com maior uso, mas o serviço já está à disposição em São Paulo.
A Fleety faz a intermediação das reservas e dos pagamentos, ficando com uma comissão.
Spinlister
O aplicativo permite às pessoas alugar bicicletas especiais e equipamentos para acampar, esquiar e surfar, entre outros, em uma comunidade de relacionamento definida. Já vem sendo utilizado em 30 países e está em fase de instalação em outros 35.
O Spinlister fica sediado na Califórnia, mas foi fundado por um brasileiro, Marcelo Loureiro, que é seu CEO. No Brasil, opera com bikes principalmente, porém a oferta e a demanda por elas ainda são pequenas.
“Atrapalham os problemas estruturais de segurança; uma bicicleta é facilmente roubada e infelizmente não podemos contornar isso com seguros por conta dos altos impostos sobre bikes importadas no Brasil”, diz Loureiro.
Polêmica e potencial
Há uma rejeição à economia compartilhada no Brasil? Quem vê os protestos contra o Uber tende a pensar que sim. Loureiro, do Spinlister, fez-me ver que a polêmica pode fortalecer a economia compartilhada, porque funciona como uma propaganda gratuita. “Essa polêmica só traz mais atenção para a categoria.”
O Airbnb, que faz o compartilhamento de acomodações, está avaliado em US$ 25 bilhões
 
Loureiro também explica que é preciso ter paciência, porque a economia compartilhada é uma maratona, não uma corrida de curta distância. Ele fez um paralelo com seu app Spinlister. “Nosso app ainda consome mais capital do que gera, pois, nesse tipo de marketplace, você precisa de alguns anos de investimento até atingir a massa crítica de usuários que gera o crescimento exponencial.”
Mais ainda, Loureiro diz ver no Brasil “um potencial incrível” para a economia compartilhada: “Esse player mediador do tipo Uber ou Spinlister gera a segurança para que, se as pessoas tiverem um problema com a outra parte, elas tenham a quem recorrer. E os consumidores brasileiros demandam segurança”.
Ele acrescenta que esses players investem também em melhorar a experiência e a comunicação, algo igualmente buscado pelos brasileiros.
Para onde vamos
O modelo econômico que tentamos manter hoje nasceu no setor de transporte: ele é herdeiro das ideias do fabricante de automóveis Henry Ford. Tudo indica que o próximo modelo também sairá do transporte, com o pioneirismo da ZipCar, o alarde do Uber e a disseminação de similares como Lyft, Instacart, Sidecar etc.
Há muitas explicações para esse protagonismo do transporte, mas eu as resumirei poeticamente: se move as pessoas, essa indústria move a economia. 
O fato é que o movimento parece tão irreversível quanto foi com Ford. Retomo as palavras da pioneira Robin Chase: “Esse modelo não vai parar nem que a gente tente impedir. É o caminho para evitar crises, pois ele equilibra melhor a oferta com a demanda, gerando maior produtividade”.
As empresas típicas da economia compartilhada estão obtendo, como diz Chase, as duas coisas mais importantes do mundo dos negócios: grandes retornos e elevada percepção de valor pelas pessoas. Acho que o ubercapitalismo não tem volta, não. 
Você aplica quando...
... começa a fazer três mudanças: construir uma comunidade (e plataforma digital) de relacionamento, adotar outra mentalidade (transformando cultura, estrutura e orientação estratégica) e aceitar o fim das barreiras de entrada.
... dedica-se a identificar capacidades ociosas em sua empresa que possam ser compartilhadas e cria um modelo de negócio diferente para isso.
A confusão conceitual
Há uma razão simples para tanta confusão em torno do conceito de “economia compartilhada”. Para muitos, algo compartilhado é algo que se toma emprestado e, portanto, é gratuito. Daí o incômodo de vários grupos com o fato de empresas estarem construindo um império de bilhões de dólares apoiadas nessa ideia. Isso é visto como enganação.
Ocorre que “compartilhar” refere-se, sobretudo, a consumir algo conjuntamente com outras pessoas, seja um bem, produto, serviço ou experiência. Trata-se de uso coletivo, não de posse individual, e o uso pode ser remunerado ou não.
Compartilhamos muitas coisas já: o planeta, a eletricidade, a telefonia, a internet, a televisão, as rodovias, o ônibus etc. E pelo jeito compartilharemos cada vez mais.
Alguns preferem adotar “consumo colaborativo” como uma espécie de sinônimo de “economia compartilhada”, porque o verbo “colaborar” enfatiza a ideia de fazer algo juntos.
O “barraco” do Uber
Fabio Sabba, porta-voz da Uber no Brasil (a empresa usa o artigo feminino), conversou com HSM Management sobre como o polêmico negócio está operando no País.
Como a Uber está se instalando no Brasil? Parece diferente dos EUA...
Estamos nos incorporando aos poucos ao ecossistema de transporte das cidades brasileiras e com certeza vamos fortalecê-lo.
Hoje estamos em quatro cidades – Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo –, com dois modelos de negócio em operação e o terceiro em implementação, entre os vários de que dispomos.
O UberBlack, que é o modelo tradicional, opera nas quatro cidades. Em São Paulo, já temos o UberX, de custo mais acessível [com carros mais compactos]. E, recentemente, lançamos um beta do UberBike, que são carros com rack para duas bicicletas, como teste em São Paulo e em Brasília.
Nosso crescimento acompanha a realidade de cada local em que estamos.
No mundo, temos muitos produtos diferentes, como o UberRush, que oferece mensageiros de bike, o UberEats, de entrega de comida, e o UberPool, de carona, sem custo.
Quanto vocês têm crescido?
A Uber chegou ao Rio de Janeiro nas vésperas da Copa do Mundo, em maio de 2014, e seu tempo de espera médio por carro é de 5 minutos [para o UberBlack], o que é um bom padrão.
Não avaliamos o crescimento pelo número de motoristas cadastrados, porque estes são parceiros e trabalham quando e quanto querem.
A Uber compartilha?
Nós compartilhamos com o motorista seu carro e seu tempo, e ele compartilha conosco nossa plataforma.
Cada motorista do UberBlack fica com 80% do valor das viagens, enquanto a Uber recebe 20% pelo uso da plataforma. No UberX, o motorista fica com 75%.
O que a Uber oferece ao consumidor? Segurança, experiência e comunicação?
Em termos de segurança, antes de aprovar um motorista que se candidata a ser nosso parceiro, checamos seus antecedentes nas esferas federal e estadual para verificar sua idoneidade. Por meio de uma empresa parceira, checamos, inclusive, se o aplicante tem processos civis e criminais, julgados ou em andamento, em todo o território nacional.
Exigimos que o profissional possua carteira de motorista com licença para exercer atividade remunerada (EAR); não é qualquer um que pode sair dirigindo. Garantimos que o veículo também tenha seguro que proteja o passageiro, o de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP).
E quanto à experiência e à comunicação?
Primeiro, os motoristas são obrigatoriamente avaliados pelos usuários após cada viagem. É necessário manter média de 4,6, em uma escala de 1 a 5, para continuar com a parceria com a Uber.
Antes de eles começarem a atuar, a Uber apresenta a todos como funciona o aplicativo e qual é a filosofia da empresa.
Quem são os motoristas?Há desde gente que atuava com transporte executivo até mães solteiras e estudantes. Todos se preparam para virar motoristas da Uber e ter, com isso, uma fonte de renda complementar.
Os taxistas acusam a Uber de ilegalidade. Vocês são ilegais?
Não. O motorista da Uber paga IPVA e também o preço cheio do carro, sem o desconto de IPI e ICMS que os taxistas têm. E, como todas as transações são feitas por cartão de crédito, toda a receita é contabilizada e paga imposto de renda.
OS UBERCAPITALISTAS estão chegando. HSM Experience, 2015.
A troca de diversos produtos e serviços entre pessoas ou entre pessoas e empresas ocorre cada vez mais de forma 100% digital, demonstrando que esse modelo econômico, em vez de diminuir, aumentará.
FIGURA 4 | COMPRA ON-LINE
 Exemplo
A pandemia fez surgir um consumidor mais digital, favorecendo, imensamente, este modo de consumo. A necessidade de ficar em casa e evitar estabelecimentos comerciais fez com que as pessoas passassem a fazer as suas compras on-line, independentemente, do tipo de produtos — desde supermercado, remédios, roupas, livros etc. 
 Saiba mais
A pandemia aumentou o comércio digital vertiginosamente. Como as pessoas não podiam sair de suas casas, em virtude da alta possibilidade de contaminação pelo coronavírus causador da covid-19, o setor varejista passou a ter sua salvação no comércio digital. Tanto é que, segundo estudos da Mastercard, em comparação com 2019, compras de hobby e livrarias tiveram aumento acima de 110 %; por sua vez, o setor de drogarias cresceu mais de 88,7 %. (VILELA, 2021)
A pandemia foi o empurrão que o comércio precisava para se adaptar de vez às vendas digitais, mostrando que os fornecedores precisam ficar cada vez mais atentos às demandas do mercado, que, por ora, são digitais.
Mercado de trabalho
O mercado de trabalho, a partir do “modelo Uber”, também transformou os modos de trabalho. A economia de plataforma inaugura uma nova metodologia de trabalho popularmente chamada de “uberização” — caracterizada por novos modos de trabalho sem vínculo empregatício e benefícios sociais dele decorrentes, sem contrato de trabalho, sem salários e horários fixos —, amplamente difundida em serviços de aplicativos de carros e de entregas.
Com isso, questionamentos surgem. Algum dia, alguém pensou que as pessoas trabalhariam, quase todas, de maneira remota conforme o desenho animado da família "Os Jetsons" já retratava na década de 1960? Alguém pensou que a telemedicina seria uma realidade e que as compras on-line seriam a regra, ambas atividades retratadas pela família Jetsons?
FIGURA 5 | ATIVIDADES CONTEMPORÂNEAS RETRATADAS NO DESENHO “OS JETSONS”
Atualmente, as pessoas estão, literalmente, à distância de um click de obter o que desejam ou de manter contato com quem quiserem.
FIGURA 6 | DISTÂNCIA E PROXIMIDADE
Há uma transformação nos modos de trabalho, de consumir e de se relacionar. Com a eclosão da digitalização, do trabalho em plataforma, da economia colaborativa e do trabalho em rede, novas formas de labor (trabalho) são cada vez mais dependentes destas características: digitalização, flexibilidade e interconexão.
Atenção!
Surge, assim, um novo contexto laborativo cujos focos são maiores autonomia do trabalhador (porém com perda de estabilidade e de postos de emprego) e flexibilização de regras e condições de trabalho. Por isso, podemos dizer que os novos negócios impactam a sociedade de forma social e econômica. 
Sociedade e trabalho transformaram-se de maneira tão disruptiva que, para alguns sociólogos, tal como Ricardo Antunes, vivemos uma era em que há um “privilégio na servidão”.
 Saiba mais
O professor e sociólogo Ricardo Antunes concedeu uma entrevista ao programa Justiça do Trabalho, na TVT (do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina – TRT-SC), no qual abordou as principais consequências dos avanços tecnológicos para o mercado de trabalho. A sua fala tem como foco principal o novo proletariado do século XXI e a Indústria 4.0.
 
Diante desse cenário, podemos perceber que as novas formas de trabalho surgidas, impulsionadas pelos novos modelos econômicos, fizeram com que o então modelo de grandes fábricas ficasse para trás. Atualmente, há maior descentralização do labor, uma vez que prestadores de serviços passam a desenvolver atividades laborais de diferentes lugares e de diferentes formas.
Estudo Guiado
Leia as páginas 63 a 86, que trazem uma abordagem sobre o trabalhador em tempos de modernidade líquida e destruição criadora.
 Clique no link e leia o livro
TEODORO, M. C. M. O princípio da adequação setorial negociada no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2018.
A globalização tem um importante papel nessa desterritorialização do trabalho, pois, a partir do mercado global, das tecnologias e da virtualização dos processos, qualquer pessoa pode trabalhar em qualquer lugar, em qual tipo de serviço.
Entretanto, esse encurtamento das distâncias, que é altamente benéfico para a troca de experiências e de conhecimentos, também traz consigo a despersonalização. Isto é, a pessoa que antes se fazia presente, materializada nas empresas, agora se faz “presente” numa chamada de voz ou vídeo ou, simplesmente, numa mensagem — sua presença física se desmaterializa. 
Atenção!
Em virtude dessa nova realidade do trabalho, verifica-se uma perda de identidade do trabalhador, vez que ele tornou-se “parceiro” das atividades econômicas. Passou-se a utilizar outros termos (jobs, serviços, freelancer etc.) a fim de descaracterizar a relação empregatícia e afastar a aplicação da legislação trabalhista.
Vale destacar que nem todas as relações de trabalho configuram-se em relações de emprego, visto que esse é, tão somente, um tipo contratual dentre vários tipos de trabalho existentes. O que não se pode aceitar é a alteração fraudulenta de tipos contratuais a fim de diminuir custos.
Para a pessoa ser empregada,...
a ela necessita de cumprir determinados requisitos da legislação: subordinação, pessoalidade, onerosidade, habitualidade e ser pessoa física. Se um desses requisitos não for preenchido, o indivíduo será considerado, para fins legais, um trabalhador, não um empregado.
Na nova realidade que se apresenta no mercado de trabalho, não há problema em aumentar a trabalhabilidade e diminuir a empregabilidade. Entretanto, é fundamental considerar o seguinte aspecto: incrementar o trabalho sem precarizar a relação trabalhista. A seguir, destacamos algumas das vantagens e desvantagens da nova realidade do mercado de trabalho.
Recurso lista interativa:
· Vantagens
· Desvantagens
Conteúdo
Vantagens :
Alternativa para o desemprego (qualquer pessoa pode se cadastrar num aplicativo).
Flexibilidade sem controle de horários (não há determinação prefixada de horários de entrada e de saída).
Possibilidade de aumentar a renda (pode servir como uma renda extra àqueles que têm trabalho fixo).
Voltar para a navegação do recurso lista interativa
Atenção!
Com a evolução das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs), bem como a criação de novas, o trabalho se transformará cada vez mais, afastando-se gradativamente de formas convencionais que conhecemos. Por isso, há que se enfatizar a ampliação da proteção ao cidadão que trabalha sem diminuir direitos daquele já empregado.
A pandemia de covid-19 demonstrou de forma clara que a taxa de desemprego não corresponde à inatividade, mas, sim, a uma porcentagem de pessoas não enquadradas na tipologia emprego. Em virtude dessa realidade, os governos (no Brasil e no mundo) inovaram na criação de auxílios emergenciais direcionados a pessoas que se encontravam ativas — trabalhando — de modo informal.
 Reflita
Diante dessa nova economia do compartilhamento, na qual a informalidade torna-se uma regra cada vez mais consolidada, há que se ter uma necessária atenção aqueles que desenvolvem atividades laborativas não amparadas pelas legislações trabalhistas, no caso do Brasil da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pois estes indivíduos sim, são os mais vulneráveis, uma vez que estão à margem do sistema de proteçãosocial.
Convido você a aprofundar nossos estudos sobre o impacto da Indústria 4.0 no direito fundamental ao ambiente laboral equilibrado, que é imprescindível para salvaguardar a saúde e a segurança do trabalhador. 
Estudo Guiado
Leia o artigo “A precarização do trabalho na era digital e seu impacto no equilíbrio no laboral-ambiental”.
 Clique no link e leia o livro
LEAL, C. R. F.; RODRIGUES, D. R. N. A precarização do trabalho na era digital e seu impacto no equilíbrio laboral-ambiental. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 17, n. 38, p. 137-165, maio/ago. 2020.
Diante disso, podemos compreender que as inovações ocorridas com as novas tecnologias e as novas formas de organização econômica geram novos valores de mercado e novos serviços capazes de integrá-las em diferentes tipos de processos e modelos de negócios.
 Curiosidade
O documentário realizado pelo Repórter Brasil traz informações sobre como...
O documentário realizado pelo Repórter Brasil traz informações sobre como funciona o trabalho mediado por aplicativos: características, modus operandi e remuneração. Evidencia que, com o avanço da “gig economy” ou “sharing economy”, o trabalho via app passa a ser uma alternativa àqueles não registrados conforme a CLT, porém, via de regra, são maneiras precárias e sem observação a parâmetros protecionistas da referida legislação.
Há uma redução dos custos de produção em virtude da aplicabilidade maciça de tecnologia, em especial, da internet, por meio de plataformas interativas e flexíveis que permitem atendimento às necessidades dos clientes e oportunizam o surgimento de novos tipos de trabalho. Entretanto, apesar de seu caráter inovador e tecnológico, há muito a se discutir, em especial, quanto a formas de mitigar a precarização do trabalho e garantir os direitos dos cidadãos em meio à nova economia do compartilhamento.
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