Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOI: 10.4025/actasciagron.v33i4.11254 Troca gasosa de vasoTabebuia áureaplantas sob estresse hídrico Ademir Kleber Morbeck Oliveira1*, Sônia Cristina Juliano de Gualtieri2e Ricardo Anghinoni Bocchese1 Programa de Pós-gravação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Universidade Anhanguera-Uniderp, Rua Alexandre Herculano, 1400, 79037-280, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.2Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: akmorbeck@hotmail.com ABSTRATO.Avaliar os efeitos do estresse hídrico no CO2e H2Ó troca, cinco meses de idade Tabebuia áureamudas cultivadas em sacos de plantio foram submetidas ao estresse hídrico com supressão da irrigação por 21 dias. Após 14 dias sem irrigação, as taxas de transpiração, condutância estomática e fotossíntese líquida nas folhas foram zero, enquanto o potencial hídrico das folhas atingiu -2,4 MPa. Após este ponto, a irrigação diária foi retomada e os valores das variáveis medidas recuperaram aos níveis iniciais após 96 horas (taxa de transpiração de 3,2 a 3,5 mmol m-2é-1; taxa de condutância estomática de 0,32 a 0,35 mol m-2é-1e taxa de fotossíntese de 8,0 a 9,8 μmol m-2é-1). Da mesma forma, os valores de potencial hídrico foram semelhantes aos do início do experimento (-0,6 MPa). Esses resultados demonstram queT. áurea possui mecanismos para tolerar um período de déficit hídrico, o que pode ser considerado ecologicamente relevante. Palavras-chave:déficit hídrico, fotossíntese, condutância,Tabebuia. RESUMO. Trocas gasosas em plantas envasadas deTabebuia áureasob estresse hídrico. Visando avaliar os efeitos do estresse hídrico sobre as trocas gasosas de CO2eH2O, mudas de paratudo com cinco meses de idade cultivadas em sacos de plantio foram aplicadas a estresse hídrico simulado pela supressão da irrigação durante 21 dias. Após 14 dias de supressão de segurança, os valores de transpiração, condutância estomática e fotossíntese líquida das folhas foram nulos, enquanto o potencial hídrico das folhas atingidas - 2,4MPa. A partir deste ponto foi reiniciado a rotina diária, sendo que após 96 horas as taxas voltaram a oscilar na faixa dos valores iniciais (transpiração - 3,2 a 3,5 mmol m-2é-1; condutância estomática - 0,32 a 0,35 mol m-2é-1; e, fotossíntese - 8,0 a 9,8 μmol m-2é-1), além do potencial hídrico voltar a apresentar valores semelhantes ao início do experimento (-0,6 MPa), demonstrando que a espécie possui mecanismos para tolerar déficit hídrico durante um período que pode ser considerado ecologicamente relevante. Palavras-chave:déficit hídrico, fotossíntese, condutância, ipê. Introdução A atividade fotossintética pode ser limitada pelo fechamento estomático, pela diminuição do potencial hídrico foliar ou pela redução da umidade relativa do ar. A menor atividade fotossintética também pode resultar de respostas estomáticas ao déficit hídrico do solo, intensidade luminosa, temperatura, CO2concentração e teor de nitrogênio nas folhas (MARENCO; LOPES, 2005). O estresse hídrico afeta o desenvolvimento das plantas, reduzindo as taxas de fotossíntese (através da restrição de CO2difusão para o mesofilo foliar) e limitando o CO do cloroplasto2capacidade de fixação. Essa redução na fotossíntese está relacionada ao fechamento estomático, causando diminuição do CO parcial2pressão e, assim, limitando a transpiração, que é um mecanismo importante para evitar a perda de água e a desidratação em condições de estresse (KRAMER; BOYER, 1995; LARCHER, 2004). Estudos ambientais de espécies arbóreas lenhosas sob condições de estresse hídrico são de fundamental importância porque o grau de tolerância ao estresse varia de acordo com a espécie, idade da planta e duração do estresse. Contudo, é geralmente reconhecido que as plantas jovens são as mais afetadas por fatores ambientais adversos (KRAMER; BOYER, 1995; LARCHER, 2004; MEDINA, 1998). A água é o fator limitante mais comum para o desenvolvimento das plantas (KRAMER; BOYER, 1995), e o déficit hídrico afeta a abertura estomática, o que leva à redução da capacidade fotossintética e das taxas de crescimento das plantas. Porém, como a abertura estomática é uma característica adaptável às condições ambientais, cada espécie apresenta comportamento diferente quando submetida a déficit hídrico moderado ou intenso (LARCHER, 2004). Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 Traduzido do Inglês para o Português - www.onlinedoctranslator.com https://www.onlinedoctranslator.com/pt/?utm_source=onlinedoctranslator&utm_medium=pdf&utm_campaign=attribution 642 Oliveira e cols. Os mecanismos que permitem a sobrevivência da vegetação em áreas onde a restrição hídrica é comum são o fechamento estomático durante períodos de maior perda de água e a redução do potencial hídrico celular interno através do acúmulo de solutos que favorece a absorção de água no solo (LARCHER, 2004). No entanto, as espécies têm diferentes limiares de potencial hídrico para a ocorrência de fechamento estomático, e um potencial hídrico de -1,0 a -2,0 MPa pode levar a transpiração e CO próximos a zero.2taxas de assimilação para algumas espécies (KRAMER; BOYER, 1995; LARCHER, 2004). Muitas espécies que se adaptaram ao estresse hídrico utilizam o acúmulo intracelular de solutos para se ajustarem à diminuição da disponibilidade hídrica (TURNER, 1986), o que permite a manutenção do turgor celular, da abertura estomática e, consequentemente, da fotossíntese, mesmo quando há baixa disponibilidade hídrica. no solo (KRAMER; BOYER, 1995; TURNER, 1986). Entretanto, as taxas de fotossíntese diminuem quando tais plantas estão sob estresse (LARCHER, 2004). Medina (1998) afirma que a sobrevivência de plântulas em savanas e florestas secas está associada à duração do estresse hídrico. A seca é geralmente uma mudança drástica que impõe estresse aos organismos com intensidade e duração imprevisíveis. A flora das zonas propensas à seca tem sofrido fortes pressões selectivas, o que levou à evolução de mecanismos que permitem a sobrevivência em condições tão adversas. Embora as xerófitas normalmente apresentem uma série de adaptações ao estresse hídrico (TURNER, 1986), as mesófitas também podem se adaptar para sobreviver em ambientes onde ocorrem déficits sazonais (CALBO; MORAES, 2000). Dentre as diferentes regiões que estão sujeitas ao estresse hídrico sazonal, uma das mais importantes é o Pantanal Matogrossense, que paradoxalmente é caracterizado por cheias periódicas. No entanto, as condições de seca ocorrem durante parte do ano porque a evapotranspiração ocorre com maior frequência do que a precipitação nesta área (ALHO; GONÇALVES, 2005). Segundo Soares e Oliveira (2009), o Pantanal apresenta diferentes formações vegetais adaptadas às diversas condições ambientais. Muitas formações são povoadas quase exclusivamente por uma única espécie (conhecida como monodominância), que muitas vezes dominam extensas áreas. O Paratudal é uma região que exemplifica a monodominância: tem como única espécie arbórea dominante, o paratudoTabebuia áurea (Silva Manso) Benth. & Gancho. f. ex S. Moore, que fica na região conhecida como Pantanal de Miranda. Apesar da grande riqueza florística do Pantanal, existem poucos estudos ecofisiológicos focados nos mecanismos de troca gasosa de espécies arbóreas nativas do Pantanal. Portanto, o presente estudo teve como objetivo investigar o sistema de trocas gasosas de plantas com cinco meses de idade da espécie arbórea paratudoT.áureaapós serem expostos a condições de estresse hídrico induzido. material e métodos T. áureaos frutos foram colhidos de árvores situadas na sub-bacia do rio Miranda (bacia do alto rio Paraguai), no Pantanal de Miranda, município de Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, especificamente na região conhecida como Passo do Lontra (19ó34' 37”S; 57ó00' 42” W). A coleta foirealizada com mais de 30 matrizes. Após a coleta, os frutos foram acondicionados em sacos de papel e transportados para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) onde foram mantidos a 25ºC no Laboratório de Ecofisiologia Vegetal do Departamento de Botânica. As sementes contidas no interior dos frutos secos com deiscência natural foram coletadas e peneiradas manualmente para separar as que estavam mais bem conservadas. Posteriormente, as sementes escolhidas foram colocadas para germinar em placas de petri contendo papel filtro umedecido com solução fungicida Captan (0,2%) e mantidas nas prateleiras do laboratório sob temperatura ambiente. Após a germinação, as mudas foram transferidas para bandejas metálicas contendo vermiculita e irrigadas diariamente com água destilada. Ao atingirem altura de 7 cm acima do solo (11 dias após a germinação), as mudas foram transplantadas para sacos de plantio (sacos plásticos pretos para mudas, capacidade de 7 kg) já contendo substrato. O substrato utilizado foi coletado em áreas de Cerrado do campus da UFSCar entre 0 e 20 cm de profundidade. O solo foi classificado como Eutrodoxo (unidade Canchim) com textura arenosa (MO: 2,07%; pH: 4,33 CaCl2; P: Resina 2 μg cm-3; K+: 0,09 mg 100 cm-3; Ca2+: 0,72 mg 100 cm-3; mg+2: 0,56 mg 100 cm-3; Al+3: 0,35 mg 100 cm-3). As análises dos atributos do solo foram realizadas no Laboratório de Análises Químicas de Solos e Plantas do Departamento de Recursos Naturais do Centro de Ciências Agrárias da UFSCar (campus Araras). O substrato foi peneirado, colocado sobre lonas plásticas e seco ao ar livre. Cada saco recebeu uma única muda e foi mantido em casa de vegetação (modelo Double Poly Pad/Fan estufa) com temperatura média, mínima ou máxima (20°C, 25 ± 2°C e 15 ± 2°C, respectivamente). umidade relativa de 60 ± 10% e intensidade luminosa de 65% (em comparação com 100% em plena luz do dia). Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 Estresse hídrico em vasosTabebuia áureaplantas 643 Cinco meses após a emergência, as plantas foram submetidas a condições de estresse hídrico simuladas pela supressão da irrigação. As trocas gasosas de três plantas controle e três plantas sob estresse foram medidas com um Hoddesdon modelo LCA-2 CO2 analisador portátil infravermelho (IRGA, Analytical Development Company – ADC) conectado a uma unidade de suprimento de ar (ADC ASU; MF), processador e unidade de armazenamento de dados (DL-2), com referência de ar de 38%- 40% ajustada para umidade relativa . Medidas diárias de PN(fotossíntese líquida, μmol m-2é-1) foram feitas, e depois que a fotossíntese atingiu um nível constante, medições de E (transpiração, mmol m -2é-1) e Gé(condutância estomática relacionada ao vapor de água, mol m-2é-1), utilizando folhetos primários que permaneceram na câmara por 10 e 20 segundos. As medições foram realizadas com uma intensidade de luz de 1.200 μmol · m-2é-1produzido por uma luz suspensa. Uma tigela contendo água foi colocada entre a fonte de luz e as plantas para evitar aquecimento excessivo das folhas. As avaliações foram realizadas no período da manhã, geralmente a partir das 7h30, e foram feitas tentativas de utilizar os mesmos pares de folhas para cada avaliação. As medições foram realizadas durante 21 dias e a irrigação ocorreu no dia 14. O potencial hídrico foliar (Ψw) foi obtido utilizando a câmara de pressão Scholander (PMS-1000, EUA). O experimento foi inteiramente casualizado com dois tratamentos (1-omissão de água; 2-irrigação diária até saturação da carga do solo), seis repetições por tratamento e avaliações diárias durante 21 dias. diferentes daqueles encontrados no bioma savana. Essa diferença geográfica pode explicar o maior valor (ou seja, menor tolerância ao déficit hídrico) encontrado para nossas plantas quando comparadas a outras espécies deste bioma. - 3 - 2,5 Estresse Ao controle- 2 - 1,5 - 1 - 0,5 0 1 3 5 7 10 11 12 13 14 15 17 18 20 21 Dias Figura 1.Potencial hídrico foliar (MPa) em jovensTabebuia áurea plantas envasadas submetidas ao estresse hídrico induzido. Plantas encontradas em diferentes ecossistemas podem apresentar diferenças na expressão genotípica causadas por influências ambientais, sendo esta uma plasticidade que pode se manifestar tanto morfológica quanto fisiologicamente, permitindo que a espécie se adapte a diferentes ambientes (SULTAN, 2000). Segundo Larcher (2004), plantas mesofíticas de florestas tropicais com potenciais hídricos entre - 1,5 e -4,0 MPa podem atingir taxas de fotossíntese zero, indicando queT. áureaapresenta características de planta mesofítica em resposta ao estresse hídrico. Além disso, a lenta diminuição do potencial hídrico e de outros parâmetros avaliados (transpiração, condutância estomática e fotossíntese) indicam que esta espécie pode se adaptar para tolerar estresse hídrico moderado por um período moderado, o que também é um comportamento típico de espécies mesofíticas. O ponto de compensação de luz (PCL, a intensidade de luz na qual o CO2emissão por transpiração e fotorrespiração é igual ao carbono fixado pela fotossíntese) foi de 53,4 μmol m-2é-1 (Figura 2). O maior PCL registrado encontrado por Calbo e Moraes (2000) foi para crianças de quatro mesesEuterpe oleráceaMarço. palmeiras (18,1 μmol m-2é-1), ainda inferior ao observado por Rocha e Moraes (1997) para crianças de seis mesesS. adstringens(59 μmol·m-2é-1). A taxa máxima de fotossíntese obtida para T. áureafoi de 9,9 μmol·m-2é-1(Figura 2), valor superior ao encontrado por Calbo e Moraes (2000) paraE. oleracea(4,2 μmol·m-2é-1). Essa taxa, no entanto, foi inferior à observada por Rocha e Moraes (1997) paraS. adstringens(12,9 μmol·m-2é-1). Resultados e discussão Os valores do potencial hídrico foliar dos primeiros cinco dias ficaram entre -0,5 e -0,6 MPa. A partir do dia 7, o potencial hídrico aumentou de -1,0 MPa até atingir -2,5 MPa no dia 14, quando a fotossíntese líquida foi de 0,0 μmol m-2é-1. Este foi o valor do potencial hídrico (-2,5 MPa) que limitou a fotossíntese desta espécie aos cinco meses de idade. Após esse período a irrigação foi retomada. No dia 15, o valor do potencial hídrico atingiu -0,6 MPa, mas voltou ao valor inicial no dia 17 (-0,5 MPa) (Figura 1). Os valores mínimos de potencial hídrico foliar encontrados paraT. áureasão superiores aos citados por Rocha e Moraes (1997), que testaram jovens Stryphnodendron adstringens(Mart.), plantas de Coville (-2,7 MPa) encontradas no Cerrado. EmboraT. áurea também podem ser encontradas em diferentes regiões do Cerrado, nossas amostras foram coletadas no Pantanal, onde as condições ambientais são Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 M Pa 644 Oliveira e cols. Ao estudar plantas adultas de 20 espécies diferentes de Cerrado, Prado e Moraes (1997) relataram taxas de fotossíntese que variaram entre 19,8 μmol m-2é-1[ Tibouchina stenocarpa(DC.) Cogn.] e 6,5 μmol m-2é-1[ Tocoyena formosa(Cham. et Sch.) K. Sch.], indicando grande diversidade no comportamento de espécies de áreas sob estresse hídrico temporário. Além disso, Franco et al. (2005) estudaram 11 espécies arbóreas das savanas Neotropicais (Cerrado) e encontraram valores variando entre 16,3 μmol m-2é-1 (Schefflera macrocarpaCham. & Schltdl. Frodin) e 8,8 μmol·m-2é-1(Vochysia elípticaMart.), o que novamente demonstra diferentes estratégias comportamentais. esperado porque um aumento no déficit hídrico sempre leva a uma redução na condutância ou a um aumento na resistência estomática. Com maiores déficits hídricos ocorre fechamento estomático mais intenso, o que é importante para manter a integridade do sistema de transporte de água e um potencial hídrico favorável ao desenvolvimento foliar durante a estação seca ou em condições de estresse hídrico (DE MATTOS, 1998). 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 12 10 8 6 ŷ = 2,3969Ln(x) - 7,4991 R2 = 0,9453 EstresseAo controle 4 2 0 0 1 3 5 7 9 11 13 Dias 15 17 19 21 - 2 Figura 3.Taxas de condutância (mol m-2é-1) nos dois grupos experimentais (estresse e controle) de jovensTabebuia áurea plantas em vasos submetidas ao estresse hídrico através da supressão da irrigação. 0 200 400 600 PAR (µmol·m-2é-1) 800 1000 1200 1400 Figura 2.Taxa líquida de fotossíntese (PN, μmol m-2é-1) em função da radiação fotossinteticamente ativa (PAR, μmol m-2é-1) em jovens e hidratadosTabebuia áureavasos de plantas. Rocha e Moraes (1997) relataram uma diminuição nas taxas de condutância emS. adstringenssob estresse hídrico. Os autores observaram que esta espécie manteve continuamente sua taxa de condutância estomática entre 0,10 e 0,32 mol m-2é-1até o dia 27, sendo que esses valores chegaram a zero no dia experimental 30 com potencial hídrico de -2,7 MPa. Após retomar a irrigação, a taxa de condutância retornou aos valores iniciais em dois dias, o que foi semelhante ao observado paraT. áurea. Calbo e Moraes (2000) também demonstraram diminuição nas taxas de condutância para as espécies amazônicasE. oleraceasob estresse, que inicialmente variou entre 0,05 e 0,12 mol m-2é-1durante os primeiros 24 dias de estresse e diminuiu para zero no dia 61 (potencial hídrico de -2,4 MPa). No entanto, a recuperação das taxas iniciais de condutância estomática foi lenta e não foi alcançada até o dia 14 após a irrigação. Resultados semelhantes foram encontrados por Tatagiba et al. (2007) paraEucaliptoclones nos quais ocorreu uma diminuição nas taxas de condutância durante a estação seca e um aumento ocorreu durante a estação chuvosa. Pesquisa de Galmés et al. (2007) com oito espécies mediterrâneas submetidas ao estresse hídrico também indicaram uma diminuição na condutância à medida que a falha hídrica aumentava, e a recuperação ocorria após a reidratação. Silva e outros. (2008) também observaram fechamento estomático Para a maioria das plantas, a taxa de fotossíntese aumenta em resposta ao aumento da luz até aproximadamente 25% da luz solar total. Acima deste valor, as taxas de fotossíntese são limitadas pela disponibilidade de forças redutoras e ATP. Entretanto, a fotossíntese não é limitada quando a intensidade da luz saturante é atingida, a menos que haja menor fixação de carbono como resultado de uma diminuição no fornecimento de dióxido de carbono aos locais de carboxilação (AUSTIN, 1989). Larcher (2004) afirmou que a capacidade fotossintética é uma característica intrínseca de cada espécie e que as taxas mudam durante o crescimento das plantas. Esta capacidade depende frequentemente de variações nos factores ambientais (por exemplo, luz e temperatura) aos quais as plantas estão expostas. Os dados obtidos para condutância estomática (Figura 3) apresentaram valores iniciais entre 0,24 e 0,37 mol m-2é-1até o dia 11; depois, esses valores variaram entre 0,08 e 0,01 mol m-2é-1até o dia 13. No dia 14, a condutância foi de 0,0 mol m-2é-1com potencial hídrico de -2,4 MPa, sendo então retomada a irrigação. As taxas de condutância estavam entre 0,34 e 0,36 mol m-2é-1com potencial hídrico de - 0,5 MPa às 96 horas após o reinício da irrigação, indicando uma recuperação rápida. Esses resultados foram Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 PN (µ m ol ·m -2 é- 1 ) Co nd ut ân ci a (m ol m -2 é- 1) Estresse hídrico em vasosTabebuia áureaplantas 645 durante estresse hídrico e recuperação após irrigação em Schinus terebinthifoliusRaddi. Algumas espécies apresentam recuperação lenta da condutância estomática devido ao acúmulo de ácido abscísico (ABA) durante o estresse hídrico. No entanto, os tempos de recuperação variam de acordo com a espécie, e a rápida recuperação observada paraT. áurea pode indicar baixo acúmulo de ABA. As taxas de transpiração variaram entre 2,8 e 3,5 mmol·m-2é-1até o dia 11 e depois variou entre 0,3 a 1,8 mmol m-2é-1até o dia 14. No dia 15 foi observada a menor taxa de transpiração (0,0 mmol m-2é-1). Após este ponto (dia 14), a irrigação foi retomada e as taxas aumentaram novamente, retornando aos valores iniciais 96 horas após a irrigação (Figura 4). Portanto, a alta resistência cuticular desta espécie também é um indício de tolerância à seca. O comportamento da transpiração em resposta à seca varia entre as plantas. Rocha e Moraes (1997) relataram queS. adstringensmanteve altas taxas de transpiração de 2,7 a 4,0 mmol m-2é-1até o dia 26, e então as taxas começaram a diminuir até atingirem 0,1 mmol m-2é-1no dia 30. Após o reinício da irrigação, a transpiração retornou aos valores iniciais. Em contraste, Calbo e Moraes (2000) descobriram que as taxas de transpiração emE. oleraceavariou entre 1,0 e 2,0 mmol m-2é-1durante os primeiros 30 dias de estresse. Posteriormente, as taxas de transpiração continuaram a diminuir, atingindo zero no dia 61 e voltando aos valores iniciais após 14 dias de irrigação. Uma diminuição nos valores de transpiração durante a restrição hídrica também foi observada por Silva et al. (2003) em casa de vegetação com diversas espécies arbóreas incluindo Mimosa caesalpiniifoliaBenth.,Enterolóbio contortisiliquum(Bem.) Morong. eTabebuia áurea. Além disso, Tatagiba et al. (2007) observaram uma diminuição nas taxas de transpiração durante os períodos de seca e um aumento durante os períodos chuvosos para Eucaliptoclones, enquanto Silva et al. (2008) notaram um padrão semelhante paraSchinus terebinthifoliusRaddi. As taxas líquidas iniciais de fotossíntese variaram entre 8,0 e 9,9 μmol·m-2é-1até o dia 11, quando começaram a cair rapidamente (5,3 μmol m-2é-1no dia 12; 0,1 μmol·m -2é-1no dia 13) até atingir 0,0 μmol m-2é-1no dia 14 com potencial hídrico de -2,4 MPa. Neste ponto, a irrigação foi retomada e as taxas líquidas de fotossíntese foram semelhantes aos valores iniciais após 72 horas de irrigação (Figura 5). Da mesma forma, o potencial hídrico também foi recuperado (-0,5 MPa), indicando que o mesofilo foliar não foi afetado neste período de estresse. 4 3.5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Estresse Ao controle 1 3 5 7 9 11 Dias 13 15 17 19 21 Figura 4.Taxas de transpiração (mmol m-2é-1) nos dois grupos experimentais (estresse e controle) de jovensTabebuia áurea plantas em vasos submetidas ao estresse hídrico através da supressão da irrigação. Maiores taxas de transpiração estão associadas ao excesso hídrico no solo. Quando a quantidade de água no solo diminui, as taxas de transpiração também diminuem através de mecanismos de restrição (LARCHER, 2004) que evitam a redução hídrica severa e a subsequente morte da planta. No entanto, as taxas de transpiração podem diminuir com um declínio contínuo da água até chegar a zero. Essa diminuição na disponibilidade hídrica leva ao aumento do estresse hídrico, o que é esperado para espécies mesofíticas submetidas ao estresse (KRAMER; BOYER, 1995; LARCHER, 2004). Porém, espécies adaptadas a períodos regulares de seca desenvolvem resistência a esse tipo de estresse e conseguem manter a transpiração por períodos mais longos, apesar da restrição hídrica do solo (LARCHER, 2004). A rápida recuperação (Figura 4) observada nas espécies estudadas (T. áurea) indica uma adaptação a ambientes sujeitos a estresses periódicos. EmT. áurea, uma diminuição na transpiração (Figura 4) se correlaciona com uma redução na condução estomática (Figura 3), demonstrando que a transpiração cuticular é mínima durante esta fase de crescimento. 12 10 8 6 4 Estresse Ao controle2 0 1 3 5 7 9 11 Dias 13 15 17 19 21 Figura 5.Taxas de fotossíntese (μmol m-2é-1) nos dois grupos experimentais (estresse e controle) de jovensTabebuia áurea plantas em vasos submetidas ao estresse hídrico através da supressão da irrigação. A redução nas taxas de fotossíntese é comum em espécies sensíveis ao estresse hídrico; esse Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 Tr an sp ira çã o (m m ol m -2 é-1) Fo to ss ín te se lí qu id a (µ m ol m -2 é- 1) 646 Oliveira e cols. a redução é inicialmente mediada pelo fechamento dos estômatos e posteriormente pela redução da capacidade fotossintética, além de outros fatores (KRAMER; BOYER, 1995; LARCHER, 2004). Rocha e Moraes (1997) confirmaram esta observação usandoS. adstringens, uma espécie que manteve taxas de fotossíntese entre 8 μmol m-2é-1e 11,6 μmol·m-2é-1até o 25º dia de estresse hídrico. As taxas de fotossíntese diminuíram a partir do dia 27 (3,8 μmol m-2é-1) até atingir zero no dia experimental 30. A recuperação total das taxas de fotossíntese ocorreu após 48 horas de irrigação. Calbo e Moraes (2000) estudaramE. oleracea plantas e encontraram valores iniciais de fotossíntese líquida variando entre 3,1 e 5,2 μmol m-2é-1durante 32 dias de estresse. A taxa de fotossíntese então diminuiu, chegando a zero no dia 61 com potencial hídrico de -2,5 MPa; no entanto, esta espécie apresentou uma recuperação lenta apenas retornando aos valores iniciais no 14º dia após a irrigação. Tatagiba et al. (2007) também observaram uma diminuição naEucaliptotaxas de fotossíntese durante a estação seca e um aumento durante o período chuvoso. A restrição hídrica normalmente causa uma diminuição paralela nas taxas de fotossíntese e condutância porque o fechamento dos estômatos leva a uma diminuição no CO2 entrada (TURNER, 1986). Larcher (2004) observou que quando uma diminuição ocorreu o potencial hídrico das folhas, AUSTIN, RB Variação genética na fotossíntese. Revista de Ciências Agrárias, v. 3, pág. 287-294, 1989. CALBO, MER; MORAES, JAPV Efeitos da deficiência de água em plantas deEuterpe olerácea(açaí). Revista Brasileira de Botânica, v. 3, pág. 225-230, 2000. DE MATTOS, EA Perspectivas em ecofisiologia comparativa de alguns tipos de vegetação brasileira: CO foliar2 e H2Ó troca, clorofilaafluorescência e discriminação de isótopos de carbono. In: SCARANO, FR; FRANCO, A. (Ed.).Estratégias ecofisiológicas de plantas xerófitas e anfíbias na região Neotropical. Oecologia brasiliensis. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. v. 1-22. FRANCO, AC; BUSTAMANTE, M.; CALDAS, LS; GOLDSTEIN, G.; MEINZER, FC; KOZOVITS, AR; RUNDEL, P.; CORADIN, VTR Características funcionais das folhas de árvores de savana neotropical em relação ao déficit hídrico sazonal: do úmido ao seco: árvores tropicais em relação à disponibilidade de água.Árvores – Estrutura e Função, v. 3, pág. 326-335, 2005. GALMÉS, J.; MEDRANO, H.; FLEXAS, J. Limitações fotossintéticas em resposta ao estresse hídrico e recuperação em plantas mediterrâneas com diferentes formas de crescimento.Novo Fitologista, v. 1, pág. 81-93, 2007. KRAMER, PJ; BOYER, J. S.Relações hídricas de plantas e solos. San Diego: Academic Press, 1995. LARCHER, W.Ecofiossiologia vegetal. São Carlos: RiMa, 2004. em as taxas fotossintéticas também diminuíram. No entanto, o ponto onde a diminuição começou a afetar as taxas de fotossíntese foi variável de espécie para espécie devido ao genótipo, habitat, condições ambientais e história de cada planta. T. áureaas plantas têm a capacidade de sobreviver por curtos períodos períodos de seca sem qualquer perda na capacidade fotossintética. Essa adaptação está ligada a uma redução na abertura estomática que provoca uma redução nas taxas de transpiração e, consequentemente, nas taxas fotossintéticas. MARENCO, RA; LOPES, NFFisiologia vegetal: fotossíntese, respiração, relações hídricas e nutrição mineral. Viçosa: UFV, 2005. MEDINA, E. Estabelecimento e resistência de mudas em floresta tropical: ecofisiologia do estresse durante os estágios iniciais de crescimento. In: SCARANO, FR; FRANCO, A. (Ed.).Estratégias ecofisiológicas de plantas xerófitas e anfíbias na região Neotropical. Oecologia brasiliensis. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. v. 23-43. PRADO, CHBA; MORAES, JAPV Capacidade fotossintética e massa foliar específica em vinte espécies lenhosas de vegetação de cerrado em condições de campo.Fotossintética , v. 1, pág. 103-112, 1997. Conclusão ROCHA, AMS; MORAES, JAPV Influência do estresse hídrico sobre as trocas gasosas em plantas jovens envasadas eStryphnodendron adstringens(Mart.) Coville. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 1, pág. 43-48, 1997. T. áureadesenvolveu mecanismos para tolerar déficits hídricos temporários, que podem ser considerados ecologicamente relevantes. SILVA, CE; NOGUEIRA, RJMC; AZEVEDO NETO, AD; SANTOS, VF Comportamento estomático e potencial da água da folha em três espécies lenhosas cultivadas sob estresse hídrico.Acta Botânica Brasileira, v. 2, pág. 231-246, 2003. Reconhecimentos Gostaríamos de agradecer ao CNPq pela concessão de bolsas a ambos os autores. Referências SILVA, MAV; NOGUEIRA, RJMC; OLIVEIRA, AFM; SANTOS, VF Resposta estomática e produção de matéria seca em plantas jovens de aroeira submetidas a diferentes regimes hídricos.Revista Árvore, v. 2, pág. 335-344, 2008. ALHO, CJR; GONÇALVES, HCBiodiversidade do Pantanal: ecologia e conservação. Campo Grande: Uniderp, 2005. Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011 Estresse hídrico em vasosTabebuia áureaplantas 647 SOARES, JJ; OLIVEIRA, AKM Os paratudais no Pantanal de Miranda.Revista Árvore, v. 2, pág. 339-347, 2009. TURNER, NC Adaptação aos déficits hídricos: uma perspectiva em mudança.Jornal Australiano de Fisiologia Vegetal, v. 1, pág. 175-190, 1986. SULTAN, SE Plasticidade fenotípica para desenvolvimento, função e história de vida das plantas.Tendências em Ciência Vegetal, v. 5, n. 12, pág. 537-542, 2000. Recebido em 23 de setembro de 2010. Aceito em 5 de janeiro de 2011. TATAGIBA, SD; PEZZOPANE, JEM; REIS, EF; DARDENGO, MCJD; EFFGEN, TAM Comportamento fisiológico de dois clones deEucaliptoa época de seca e chuvosa. Cerne, v. 2, pág. 149-159, 2007. Informações sobre licença: Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução irrestrita em qualquer meio, desde que o trabalho original seja devidamente citado. Acta Scientiarum. Agronomia Maringá, v. 33, n. 4, pág. 641-647, 2011
Compartilhar