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Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 1 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Transtornos de Ansiedade Os transtornos de ansiedade estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Eles podem ser vistos como uma família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia e (5) transtorno de ansiedade generalizada Ansiedade normal Todo mundo experimenta ansiedade. Ela é caracterizada mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado ou em pé por muito tempo A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça. O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve ser diferenciado da ansiedade. **Medo: resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; **Ansiedade: resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou conflituosa Pode ser difícil fazer essa distinção, porque o medo também pode ser devido a um objeto inconsciente, reprimido, interno, deslocado para outro objeto no mundo exterior Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa que tem qualidades salva- vidas e adverte sobre ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual; e, por fim, sobre ameaças à unidade ou integridade Essa preparação é acompanhada por aumento da atividade somática e autonômica controlada pela interação dos sistemas nervosos simpático e parassimpático Estresse e Ansiedade Se um acontecimento é percebido ou não como estressante depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o ego Uma pessoa cujo ego esteja funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; se o ego não estiver funcionando adequadamente e o desequilíbrio resultante continuar por tempo suficiente, o indivíduo experimentará ansiedade crônica. Se o desequilíbrio for externo, entre as pressões do mundo e o ego do indivíduo, ou interno, entre os impulsos (p. ex., agressivos, sexuais ou dependentes) e a consciência, ocorrerá um conflito. Os conflitos de causas externas costumam ser interpessoais, enquanto os de causas internas são intrapsíquicos ou intrapessoais. Sintomas de Ansiedade A experiência da ansiedade apresenta dois componentes: a percepção das sensações fisiológicas (como palpitações e suor) e a percepção do estar nervoso ou assustado. Um sentimento de vergonha pode aumentar a ansiedade – “os outros perceberão que estou assustado”. A maioria das pessoas fica atônita ao verificar que os outros não se dão conta de sua ansiedade ou, se o fazem, não apreciam sua intensidade. Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 2 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Além dos efeitos motores e viscerais, a ansiedade afeta o pensamento, a percepção e o aprendizado. Tende a produzir confusão e distorções da percepção, não apenas do tempo e do espaço, mas também das pessoas e dos significados dos acontecimentos. Essas distorções podem interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a memória e perturbar a capacidade de fazer relações Os indivíduos ansiosos ficam predispostos a selecionar certos aspectos de seu ambiente e subestimar outros em seu esforço para provar que se justifica considerar sua situação aterradora. Se, de maneira equivocada, justificam seu medo, aumentam a ansiedade pela resposta seletiva e estabelecem um círculo vicioso de ansiedade, percepções distorcidas e ansiedade aumentada. Se, como alternativa, se tranquilizam por meio de pensamentos seletivos, a ansiedade apropriada pode ser reduzida, e eles podem deixar de tomar as precauções necessárias. Ansiedade Patológica Epidemiologia O Estudo Americano de Comorbidade (National Comorbidity Study) relatou que 1 em cada 4 pessoas satisfaz o critério diagnóstico de pelo menos um transtorno de ansiedade e que há uma taxa de prevalência em 12 meses de 17,7%. As mulheres (com prevalência durante a vida de 30,5%) têm mais probabilidade de ter um transtorno de ansiedade do que os homens (prevalência durante a vida de 19,2%). Por fim, sua prevalência diminui com o status socioeconômico mais alto. Contribuições das ciências psicológicas Teorias sobre as causas da ansiedade impresso Transtorno do Pânico Um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente é conhecido como transtorno de pânico. A ansiedade é caracterizada por períodos distintos de medo intenso que podem variar de vários ataques durante um dia a apenas poucos ataques durante um ano. Os pacientes com o transtorno apresentam-se com uma série de condições comórbidas, mais comumente agorafobia, que se refere a medo ou ansiedade em relação a lugares dos quais a saída poderia ser difícil. A ideia do transtorno de pânico pode Breve História. ter suas raízes no conceito da síndrome do coração irritável, que o médico Jacob Mendes DaCosta (1833- 1900) observou em soldados na Guerra Civil Americana. A síndrome incluía muitos sintomas psicológicos e somáticos. Em 1895, Sigmund Freud introduziu o conceito de neurose de ansiedade, consistindo em sintomas psicológicos e somáticos agudos e crônicos. Epidemiologia A prevalência de transtorno do pânico ao longo da vida está na variação de 1 a 4%, com a prevalência em 6 meses de aproximadamente 0,5 a 1,0%, e de 3 a 5,6% para ataques de pânico As mulheres têm três vezes mais probabilidade de serem afetadas do que os homens O único fator social identificado como contribuindo para o desenvolvimento desse transtorno é história recente de divórcio ou separação O transtorno costuma surgir na idade adulta jovem – a idade média de apresentação é em torno dos 25 anos Dos pacientes com transtorno de Comorbidade. pânico, 91% têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico. Cerca de um terço das pessoas com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo maior antes de seu início; e em torno de dois terços experimentam transtorno de pânico pela primeira vez durante ou após o início de depressão maior Entre aquelas com a condição, 15 a 30% também têm transtorno de ansiedade social ou fobia social, 2 a 20% têm fobia específica, 15 a 30% têm transtorno de ansiedade generalizada, 2 a 10% têm TEPT, e até 30% têm TOC Etiologia Fatores Biológicos Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 3 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Uma interpretação é a de que os sintomas estão relacionados a uma série de anormalidades biológicas na estrutura e na função do cérebro. Evidências consideráveis indicam que a regulação anormal dos sistemas noradrenérgicos também está envolvida na fisiopatologia do transtorno Foi relatado que o sistema nervoso autônomo de alguns pacientes exibe aumento do tônus simpático, adapta-se lentamente a estímulos repetidos e responde de maneira excessiva a estímulos moderados **Os principais sistemas de neurotransmissores implicados são os da norepinefrina, da serotonina e do GABA. A disfunção serotonérgica é bem evidente no transtorno de pânico Essas respostas podem ser causadas por hipersensibilidade pós-sináptica a serotonina no transtornode pânico. Evidências pré-clínicas sugerem que a atenuação da transmissão GABAérgica inibidora local na amígdala basolateral, no mesencéfalo e no hipotálamo pode desencadear respostas fisiológicas semelhantes a ansiedade. Os dados biológicos conduziram a um foco no tronco cerebral (em particular nos neurônios noradrenérgicos do locus ceruleus e nos neurônios serotonérgicos dos núcleos da rafe mediana), no sistema límbico (possivelmente responsável pela geração da ansiedade antecipatória) e no córtex pré-frontal (possivelmente responsável pela geração de esquiva fóbica). . As substâncias Substâncias indutoras do pânico indutoras de pânico (por vezes denominadas panicogênicas) induzem ataques na maioria dos pacientes com transtorno de pânico e em uma proporção muito menor de indivíduos sem o transtorno ou sem história de ataques de pânico. As substâncias indutoras de pânico chamadas de respiratórias causam estimulação respiratória e mudança no equilíbrio acidobásico. Elas incluem dióxido de carbono (misturas de 5 a 35%), lactato de sódio e bicarbonato As substâncias indutoras de pânico respiratórias podem atuar inicialmente nos barorreceptores cardiovasculares periféricos e retransmitir seus sinais por aferentes vagais para o núcleo do trato solitário e, a seguir, para o núcleo paragigantocelular da medula. A hiperventilação em pacientes com transtorno de pânico pode ser causada por um sistema de alarme pelo qual o aumento das concentrações de Pco2 e de lactato cerebral ativa de forma prematura o2 um sensor fisiológico de asfixia. Presume-se que as substâncias neuroquímicas indutoras de pânico afetem diretamente sobretudo os receptores noradrenérgicos, serotonérgicos e GABAérgicos do SNC. . Envolvimento patológico dos Imagens Cerebrais lobos temporais, em particular o hipocampo e a amígdala De maneira específica, transtornos de ansiedade e ataques de pânico estão associados com vasoconstrição cerebral, que pode resultar em sintomas do SNC, como tonturas, e em sintomas do sistema nervoso periférico que podem ser induzidos por hiperventilação e por hipocapnia. Fatores Genéticos Vários estudos verificaram que os parentes em primeiro grau de pacientes com transtorno de pânico têm um risco 4 a 8 vezes maior para o transtorno do que os parentes em primeiro grau de outros pacientes psiquiátricos Fatores Psicossociais O pânico como tendo origem em uma defesa malsucedida contra impulsos provocadores de ansiedade. O que era anteriormente uma leve ansiedade-sinal se torna um sentimento esmagador de apreensão, junto com sintomas somáticos Muitos pacientes descrevem os ataques surgindo do nada, como se não houvesse fatores psicológicos envolvidos, mas a exploração psicodinâmica com frequência revela um gatilho psicológico claro para o ataque de pânico. Embora os ataques de pânico sejam neurofisiologicamente correlacionados com o locus ceruleus, seu início costuma estar associado a fatores ambientais ou psicológicos. Os pacientes têm uma incidência mais alta de acontecimentos de vida estressantes (sobretudo perdas) nos meses anteriores ao início do transtorno de pânico do que indivíduos-controle. Além disso, os pacientes normalmente experimentam mais tensão sobre os acontecimentos da vida do que os controles. Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 4 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Cerca de 60% das mulheres com ataques de pânico apresentam história de abuso sexual, comparadas com 31% daquelas com outros transtornos de ansiedade. Diagnóstico Ataques de pânico Um ataque de pânico é um período súbito de intenso medo ou apreensão que pode durar de minutos a horas Ataques inesperados ocorrem a qualquer momento e não estão associados a um estímulo situacional identificável, mas não precisam se apresentar dessa forma. Em pacientes com fobia social e específica, eles costumam ser esperados ou indicados por um estímulo específico reconhecido. Alguns não se encaixam com facilidade na distinção entre inesperado e esperado, sendo referidos como ataques de pânico predispostos por situações. Eles podem ou não ocorrer quando um paciente é exposto a um gatilho específico, ou podem ocorrer tanto imediatamente após exposição quanto após uma considerável demora. Transtorno do Pânico Impresso a parte (DSM-5) Diagnóstico diferencial Características Clínicas Com frequência, o primeiro ataque de pânico é completamente espontâneo, embora muitos possam estar relacionados com excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional moderado O ataque com frequência começa com um período de 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte e tragédia iminentes. Os pacientes em geral não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e ter problemas para se concentrar. Os sintomas físicos costumam incluir taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora. É possível experimentar depressão ou despersonalização durante um ataque. Os sintomas podem desaparecer de forma rápida ou gradual. Entre Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 5 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT os ataques, os pacientes podem manifestar ansiedade antecipatória de terem um novo ataque Preocupações somáticas de morte por problemas cardíacos ou respiratórios podem ser o principal foco da atenção do indivíduo durante os ataques. Eles podem acreditar que as palpitações e a dor no peito indicam que estão para morrer A hiperventilação pode produzir alcalose respiratória e outros sintomas. A antiga recomendação de respirar dentro de um saco de papel às vezes ajuda, porque reduz a alcalose Sintomas depressivos com Sintomas associados. frequência estão presentes no transtorno de pânico, e em alguns pacientes, um transtorno depressivo coexiste com o transtorno de pânico Além da agorafobia, outras fobias e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) podem coexistir com o transtorno de pânico Tratamento Os dois tratamentos mais eficazes são a farmacoterapia e a terapia cognitivo-comportamental. As terapias familiar e de grupo podem ajudar os indivíduos afetados e suas famílias a ajustarem-se ao transtorno e às dificuldades psicossociais que ele possa ter precipitado Farmacoterapia Alprazolam e paroxetina são os dois medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento do transtorno de pânico A venlafaxina é aprovada pela FDA para o tratamento do transtorno de ansiedade generalizada e pode ser útil no transtorno de pânico combinado com depressão Uma abordagem conservadora é iniciar o tratamento com paroxetina, sertralina, citalopram ou fluvoxamina no transtorno de pânico isolado. Se o controle rápido de sintomas graves for desejado, um tratamento breve com alprazolam deve ser iniciado junto com o ISRS, seguido pela redução gradativa da utilização do benzo diazepínico. Na utilização de longo prazo, a fluoxetina é um agente eficiente para o transtorno de pânico com depressão comórbida O clonazepam pode ser prescrito para pacientes que antecipam uma situação em que pode ocorrer pânico (0,5-1 mg conforme necessidade). . Todos Inibidores seletivos da recaptação de serotonina os ISRSs são eficientes para o transtorno de pânico. A paroxetina e a paroxetina CR têm efeitos sedativos e tendem a acalmar os pacientes de imediato O citalopram, o escitalopram, a fluvoxamina e a sertralina são as seguintes mais bem toleradas. Benzodiazepínicos. Esses agentes têm o início de ação mais rápido contra o pânico, por vezes na primeira semana, e podem ser utilizados por períodos longos sem o desenvolvimento de tolerância aos efeitos antipânico. O alprazolam tem sido o mais utilizadopara o transtorno de pânico Alguns pacientes utilizam bem zodiazepínicos quando se defrontam com um estímulo fóbico podem ser razoavelmente empregados como primeiro agente para o tratamento do transtorno de pânico enquanto a dose de um medicamento serotonérgico estiver sendo titulada lentamente para uma dose terapêutica. Após 4 a 12 semanas, o uso dos benzodiazepínicos pode ser reduzido pouco a pouco (ao longo de 4 a 10 semanas), enquanto o medicamento serotonérgico é continuado. **Benzodiazepínico traz potencial de dependência Atualmente, Medicamentos tricíclicos e tetracíclicos. os ISRSs são considerados os agentes de primeira linha para o tratamento de transtorno do pânico. Entretanto, dados mostram que entre os medicamentos tricíclicos, a clomipramina e a imipramina são os mais eficazes no tratamento desse transtorno. O benefício clínico completo necessita de dosagens totais, que podem não ser atingidas por 8 a 12 semanas Os medicamentos tricíclicos não são tão utilizados quanto os ISRSs, porque, em geral, têm efeitos adversos mais graves nas doses mais altas necessárias para o tratamento eficaz do transtorno Os IMAOs parecem Inibidores da Monoaminoxidase. ter menos probabilidade de causar estimulação excessiva do que os ISRSs e os tricíclicos, mas podem requerer doses totais por pelo menos 8 a 12 semanas para serem eficazes. Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 6 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT . Se os pacientes Falta de resposta ao tratamento deixam de responder a uma classe de medicamentos, outra deve ser tentada. A combinação de um ISRS ou um tricíclico e um benzodiazepínico ou de um ISRS e lítio ou um medicamento tricíclico pode ser tentada. **Duração da Farmacoterapia. Uma vez eficaz, o tratamento farmacológico, em geral, deve continuar por 8 a 12 meses Terapia Cognitiva Os dois focos principais da terapia cognitiva para transtorno de pânico são a instrução sobre as falsas crenças do paciente e a informação sobre os ataques de pânico. O primeiro ponto se concentra na tendência do paciente a interpretar de forma equivocada sensações corporais leves como indicativos iminentes de ataque de pânico, tragédia ou morte. O segundo inclui explicações de que, quando os ataques de pânico ocorrem, são de tempo limitado e não ameaçam a vida Agorafobia Agorafobia refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil Acredita-se que o medo de ter um ataque de pânico em um lugar público do qual a fuga seria angustiante e difícil é que cause a agorafobia. Breve História. O termo agorafobia foi criado em 1871 para descrever a condição de pacientes que temiam se aventurar sozinhos em lugares públicos. O termo é derivado das palavras gregas agora e phobos, que significam “medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão”. Epidemiologia De acordo com o DSM-5, pessoas com mais de 65 anos têm uma taxa de prevalência de agorafobia de 0,4%, mas isso pode ser uma estimativa baixa Embora os estudos de agorafobia no contexto psiquiátrico tenham relatado que pelo menos três quartos dos pacientes afetados também têm transtorno de pânico, estudos de agorafobia em amostras da comunidade revelaram que até metade dos pacientes tem agorafobia sem transtorno de pânico Diagnóstico e Características clínicas **Diagnóstico DSM-5 impresso Os critérios diagnósticos do DSM-5 para agorafobia estipulam um medo ou uma ansiedade acentuados em relação a pelo menos uma situação de dois ou mais de cinco grupos de situações: (1) utilizar transporte público (p. ex., ônibus, trem, carros, aviões), (2) estar em um espaço aberto (p. ex., parque, shopping center, estacionamento), (3) estar em um espaço fechado (p. ex., lojas, elevadores, cinemas), (4) estar no meio de uma multidão ou ficar em pé em uma fila, ou (5) ficar sozinho fora de casa. O medo ou a ansiedade devem ser persistentes e durar pelo menos seis meses Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 7 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Indivíduos com agorafobia evitam de forma rígida situações nas quais seria difícil obter ajuda. Eles preferem estar acompanha dos por um amigo ou familiar em ruas movimentadas, lojas super lotadas, espaços fechados (p. ex., túneis, elevadores) e veículos fechados (p. ex., metrô, ônibus, aviões). Pessoas gravemente afetadas podem se recusar a sair de casa Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial para agorafobia inclui todos os transtornos clínicos que possam causar ansiedade ou depressão. O diagnóstico diferencial psiquiátrico inclui transtorno depressivo maior, esquizofrenia, transtorno da personalidade paranoide, transtorno da personalidade esquiva e transtorno da personalidade dependente. Tratamento Farmacoterapia . Estes são os agentes com início de Benzodiazepínicos ação mais rápido contra pânico. Alguns pacientes os utilizam conforme necessário quando se defrontam com um estímulo fóbico. Alprazolam e lorazepam são os mais frequentemente prescritos Os efeitos colaterais mais comuns são tontura e sedação leves, que costumam ser atenuados pelo tempo ou pela mudança da dose. **Os benzodiazepínicos não devem ser utilizados em combinação com álcool, porque podem intensificar seus efeitos . Foi Inibidores seletivos da recaptação de serotonina demonstrado que os ISRSs ajudam a reduzir ou prevenir recaídas de várias formas de ansiedade, incluindo agorafoba As principais vantagens dos antidepressivos ISRSs incluem seu melhor perfil de segurança na superdosagem e carga de efeitos colaterais mais tolerável. Os efeitos colaterais comuns da maioria dos ISRSs são distúrbio do sono, sedação, vertigem, náusea e diarreia; muitos desses efeitos adversos melhoram com o uso continuado . Embora os Medicamentos tricíclicos e tetracíclicos ISRSs sejam considerados os agentes de primeira linha para o tratamento de transtornos de pânico com ou sem agorafobia, os medicamentos tricíclicos clomipramina e imipramina são os mais eficazes no tratamento desses transtornos Psicoterapia As defesas adaptativas são Psicoterapia de apoio. encorajadas e fortalecidas, e as mal-adaptativas são desencorajadas. O terapeuta auxilia no teste de realidade e pode oferecer conselho em relação ao comportamento. . Nessa psicoterapia, o Psicoterapia orientada ao insight objetivo é aumentar o desenvolvimento de insight do paciente a respeito dos conflitos psicológicos, que, se não resolvidos, podem se manifestar como sintomas comportamentais . Nessa terapia, o pressuposto Terapia comportamental básico é o de que a mudança pode ocorrer sem o desenvolvimento de insight psicológico das causas subjacentes. . Ênfase é em confrontar e examinar Terapia Cognitiva situações que evocam ansiedade interpessoal e depressão leve associada. . A medida que se identificam com os Terapia Virtual avatares em sessões virtuais repetidas, eles são capazes de dominar sua ansiedade por meio de descondicionamento Fobia específica O termo fobia refere-se a um medo excessivo de objeto, circunstância ou situação específicos. A fobia específica é um medo intenso e persistente de um objeto ou de uma situação. O diagnóstico de fobia específica requer o desenvolvimento de ansiedade intensa, mesmo a ponto de pânico, quando da exposição ao objeto temido Epidemiologia As fobias são um dos transtornos mentais mais comum nos Estados Unidos, onde se estima que Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 8 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT aproximadamente 5 a 10% da população seja afetada por esses transtornos perturbadores e, às vezes, incapacitantes. A prevalência ao longo da vida de fobia específica é de cerca de 10%. É o transtorno mais comum entre as mulheres e o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas dos transtornosrelacionados a substâncias. Sua prevalência em seis meses é de 5 a 10 por 100 pessoas A idade de pico para o início das fobias do tipo ambiente natural e do tipo sangue-injeção-ferimentos é dos 5 aos 9 anos, ainda que possa ocorrer mais tarde. No entanto, a idade de pico para o início das fobias do tipo situacional (exceto para medo de altura) é mais alta, em torno dos 20 anos Os objetos e as situações temidos nas fobias específicas (listadas em frequência descendente de aparecimento) são animais, tempestades, altura, doença, ferimento e morte. Etiologia Em geral, uma tendência não específica de experimentar medo ou ansiedade forma a cortina de fundo; quando um evento específico (p. ex., dirigir) é associado a uma experiência emocional (um acidente), o indivíduo fica suscetível a uma relação emocional permanente entre dirigir ou veículos e medo ou ansiedade. A experiência emocional por si só pode decorrer de um incidente externo, como acidente de trânsito, ou de um incidente interno, mais comumente um ataque de pânico. Outros mecanismos de associação entre o objeto e as emoções fóbicas incluem a modelagem, na qual o indivíduo observa a reação de outros (p. ex., um dos genitores), e a transferência de informação, na qual a pessoa é ensinada ou advertida . As fobias específicas tendem a Fatores Genéticos ocorrer em famílias. A incidência familiar do tipo sangue-injeção-ferimentos é particularmente alta. Estudos relataram que de dois terços a três quartos das pessoas afetadas têm pelo menos um parente em primeiro grau com fobia específica do mesmo tipo Diagnóstico **Impresso DSM-5 Diagnóstico diferencial As condições médicas não psiquiátricas que podem resultar no desenvolvimento de uma fobia incluem uso de substâncias (em particular alucinógenos e simpatomiméticos), tumores do SNC e doenças cerebrovasculares A esquizofrenia também está no diagnóstico diferencial de fobia específica, porque os pacientes que a apresentam podem ter sintomas fóbicos como parte de suas psicoses. Entretanto, diferentemente dos pacientes com esquizofrenia, aqueles com fobia têm consciência da irracionalidade de seus medos e não apresentam a qualidade bizarra e os outros sintomas psicóticos que acompanham a esquizofrenia. No diagnóstico diferencial de fobia específica, os médicos devem considerar transtorno de pânico, agorafobia e transtorno da personalidade esquiva Características Clínicas As fobias são caracterizadas pelo desencadeamento de ansiedade grave quando as pessoas são expostas a situações ou objetos específicos ou mesmo quando antecipam a exposição às situações ou aos objetos. A exposição ao estímulo fóbico ou sua antecipação quase invariavelmente resultam em um ataque de pânico em indivíduos suscetíveis O principal achado no exame do estado mental é a presença de um medo irracional e egodistônico de uma situação, uma atividade ou um objeto específicos; os pacientes são capazes de descrever como evitam o Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 9 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT contato com a fobia. Com frequência, é encontrada depressão no exame do estado mental, a qual pode estar presente em até um terço de todos os casos. Tratamento . O tratamento mais estudado Terapia comportamental e mais eficaz As características fundamentais do tratamento bem sucedido são: (1) compromisso do paciente com o tratamento; (2) problemas e objetivos identificados com clareza; e (3) estratégias alternativas disponíveis para lidar com os sentimentos. Um método desenvolvido por Joseph Wolpe. Nesse método, o paciente é exposto em série a uma lista predeterminada de estímulos que provocam ansiedade, graduada em uma hierarquia do menos ao mais assustador. Por meio do uso de medicamentos antiansiedade, hipnose e instrução de relaxamento muscular, os pacientes são ensinados a como autoinduzir um repouso mental e físico. Após terem dominado essas técnicas, eles são ensinados a utilizá las para induzir relaxamento quando em contato com o estímulo que provoca ansiedade Outras técnicas comportamentais utilizadas mais recentemente envolvem exposição intensiva ao estímulo fóbico tanto por meio da imaginação quanto por meio de dessensibilização in vivo. . A decisão de aplicar Psicoterapia orientada ao insight as técnicas de terapia psicodinâmica orientada ao insight deve se basear não na presença de sintomas fóbicos isoladamente, mas em indicações positivas da estrutura do ego e dos padrões de vida do paciente para a utilização desse método de tratamento. Essa abordagem capacita o paciente a compreender a origem da fobia, o fenômeno do ganho secundário e o papel da resistência, bem como o incentiva a procurar formas sadias de lidar com os estímulos provocadores de ansiedade . Os pacientes são expostos ou Terapia Virtual interagem com o objeto ou a situação fóbicos na tela do computador . A hipnose, a terapia Outras modalidades terapêuticas de apoio e a terapia familiar podem ser úteis no tratamento dos transtornos fóbicos. Transtorno de Ansiedade social (fobia social) O transtorno de ansiedade social (também referido como fobia social) envolve o medo de situações sociais, incluindo aquelas que envolvem escrutínio ou contato com estranhos. As pessoas com transtorno de ansiedade social temem se embaraçar em situações sociais Elas podem ter medos específicos de realizar determinadas atividades, como comer ou falar na frente dos outros, ou podem experimentar um medo vago e inespecífico de “embaraçar-se”. Epidemiologia Vários estudos relataram uma prevalência ao longo da vida variando de 3 a 13% para transtorno de ansiedade social. A prevalência em seis meses é de aproximadamente 2 a 3 por 100 pessoas Em estudos epidemiológicos, as mulheres são afetadas com mais frequência do que os homens, mas, em amostras clínicas, o inverso A idade de pico de início para transtorno de ansiedade social é na adolescência, embora seja comum dos 5 aos 35 anos Etiologia Pelo menos algumas pessoas com transtorno de ansiedade social podem ter exibido inibição comportamental durante a infância. Fatores neuroquímicos Especificamente, a utilização de antagonistas dos receptores ß adrenérgicos – por exemplo, proprano lol – para as fobias de desempenho (p. ex., falar em público) levou ao desenvolvimento de uma teoria adrenérgica para essas fobias. Pacientes com fobias de desempenho podem liberar mais norepinefrina ou epinefrina, tanto central como perifericamente, do que pessoas não fóbicas, ou podem ser sensíveis a um nível normal de estimulação adrenérgica Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 10 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT Portanto, alguma evidência sugere uma disfunção dopaminérgica no transtorno de ansiedade social Fatores Genéticos Parentes em primeiro grau de pessoas com transtorno de ansiedade social têm cerca de três vezes mais probabilidade de ser afetados com a condição do que parentes em primeiro grau de indivíduos sem transtornos mentais. Diagnóstico e características clínicas **Diagnóstico DSM-5 impresso Estudos da comunidade sugerem que cerca de um terço de todas as pessoas se considera muito mais ansiosa do que outras em situações sociais. Além disso, essas preocupações podem parecer particularmente aumentadas durante certos estágios do desenvolvimento. Essa ansiedade apenas se torna transtorno de ansiedade social quando ela impede um indivíduo de participar de atividades desejadas ou causa sofrimento acentuado durante elas Os sintomas associados com transtorno de ansiedade social geralmente envolvem rubor, tensão muscular e ansiedade em relação a escrutínio. Diagnóstico diferencial O transtorno de ansiedade social precisa ser diferenciado do medo adequado e da timidez normal. As considerações diagnósticasdiferenciais para esse transtorno são agorafobia, transtorno de pânico, transtorno da personalidade esquiva, transtorno depressivo maior e transtorno da personalidade esquizoide. Tratamento Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis no tratamento do transtorno de ansiedade social. Alguns estudos indicam que a utilização de ambas produz resultados melhores do que cada tratamento isoladamente Os medicamentos eficazes no tratamento do transtorno de ansiedade social incluem 1) ISRSs, 2) os benzodiazepínicos, 3) venlafaxina e 4) buspirona. A maioria dos médicos considera os ISRSs o tratamento de primeira linha para pacientes com formas de transtorno de ansiedade social mais generalizada Os benzodiazepínicos alprazolam e clonazepam também são eficazes nesse transtorno Em casos graves, tem sido relatado o tratamento bem- sucedido com IMAOs irreversíveis, como a fenelzina, e também com os reversíveis, como a moclobemida e a brofaromina O tratamento do transtorno de ansiedade social associado com situações de desempenho muitas vezes envolve a utilização de ß- antagonistas adrenérgicos um pouco antes da exposição a um estímulo fóbico. Os dois compostos mais amplamente utilizados são atenolol, 50 a 100 mg administrados cerca de 1 hora antes do desempenho, ou propranolol, 20 a 40 mg. Outra opção para ajudar na ansiedade de desempenho é um benzodiazepínico de ação relativamente curta ou intermediária, tal como lorazepam ou alprazolam. Transtorno de Ansiedade Generalizada A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa a ameaça que prepara o organismo para fuga ou luta. Pessoas que parecem ansiosas com tudo, entretanto, têm a probabilidade de serem classificadas com transtorno de ansiedade generalizada. Este é definido como ansiedade e preocupação excessivas com vários eventos ou atividades na maior parte dos dias durante um período de pelo menos seis meses. A preocupação é difícil de controlar e está associada com sintomas somáticos, como tensão muscular, irritabilidade, dificuldade para dormir e inquietação. Ela é difícil de controlar, é subjetivamente perturbadora e compromete áreas importantes da vida da pessoa Epidemiologia O transtorno de ansiedade generalizada é uma condição comum; estimativas razoáveis para sua prevalência de um ano variam de 3 a 8%. A proporção de mulheres para homens com o transtorno é de aproximadamente 2 para 1, mas a Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 11 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT proporção de mulheres para homens que está recebendo tratamento hospitalar para o transtorno é de 1 para 1. A prevalência ao longo da vida é próxima de 5%, com o estudo Epidemiological Catchment Area (ECA; Área de Captação Epidemiológica) sugerindo uma prevalência de até 8%. O transtorno, em geral, começa no fim da adolescência ou início da vida adulta, embora seja comum ver casos em adultos mais velhos. Talvez 50 a 90% dos pacientes com transtorno de ansiedade generalizada tenham outro transtorno mental. Até 25% dos pacientes experimentam, por fim, transtorno de pânico **O transtorno de ansiedade generalizada é diferenciado do transtorno de pânico pela ausência de ataques espontâneos. Etiologia A causa do transtorno de ansiedade generalizada não é conhecida Fatores Biológicos Embora se saiba que os benzodiazepínicos reduzem a ansiedade, o flumazenil e as ß- carbolinas induzem-na Alguns pesquisadores se comcentraram no lobo occipital, que tem a concentração mais alta de receptores benzodiazepínicos no cérebro. Outras áreas do cérebro que têm sido, por hipótese, envolvidas nesse transtorno são os gânglios da base, o sistema límbico e o córtex frontal. Visto que a buspirona é um agonista no receptor 5-H T1A de serotonina, existe a hipótese de que a regulação do sistema da serotonina no transtorno de ansiedade generalizada seja anormal. Fatores psicossociais De acordo com a escola cognitivo-comportamental, indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada respondem de forma incorreta e imprecisa aos perigos percebidos. Isso é gerado pela atenção seletiva a detalhes negativos no ambiente, por distorções no processamento de informações e por uma visão global negativa sobre a própria capacidade de enfrentar os problemas. A escola psicanalítica postula a hipótese de que a ansiedade é um sintoma de conflitos inconscientes não resolvidos. Diagnóstico **Diagnóstico DSM-5 impresso O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por um padrão de preocupação e ansiedade frequentes, persistentes, desproporcional ao impacto do acontecimento ou da circunstância que é o foco da preocupação. Características clínicas As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação contínuas e excessivas acompanhadas por tensão ou inquietação motora. A ansiedade é excessiva e interfere em outros aspectos da vida da pessoa. Esse padrão deve ocorrer na maioria dos dias por pelo menos seis meses. A tensão motora manifesta-se mais comumente como tremor, inquietação e cefaleias. Tratamento O tratamento mais eficaz para transtorno de ansiedade generalizada provavelmente seja um que combine psicoterapia, farmacoterapia e abordagens de apoio. Psicoterapia As principais abordagens terapêuticas ao transtorno de ansiedade generalizada são a cognitivo- comportamental, a de apoio e a orientada ao insight A maioria dos pacientes experimenta uma redução acentuada da ansiedade quando lhes é dada a oportunidade de discutir suas dificuldades com um médico preocupado e empático. Se os médicos descobrem situações externas que sejam provocadoras de ansiedade, podem ser capazes – sozinhos ou com o auxílio do paciente e da família – de modificar o ambiente e, assim, reduzir as pressões estressantes. De acordo com a perspectiva psicanalítica, a ansiedade, às vezes sinaliza, uma perturbação inconsciente que merece investigação. A ansiedade pode ser normal, adaptativa, mal-adaptativa, muito intensa ou muito leve, dependendo das circunstâncias. Farmacoterapia Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 12 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT A decisão de prescrever um ansiolítico a pacientes com transtorno de ansiedade generalizada em raros casos deve ser tomada na primeira visita. As três principais opções de medicamentos a serem consideradas para o tratamento desse transtorno são os benzodiazepínicos, os ISRSs, a buspirona e a venlafaxina. Embora o tratamento medicamentoso do transtorno de ansiedade generalizada seja, às vezes, considerado uma intervenção de 6 a 12 meses, alguma evidência indica que ele deve ser a longo prazo, talvez por toda a vida. Cerca de 25% dos pacientes têm uma recaída no primeiro mês após a interrupção do tratamento, e 60 a 80% a têm ao longo do ano seguinte Os benzodiazepínicos têm sido os Benzodiazepínicos. medicamentos de escolha no transtorno de ansiedade generalizada. Podem ser prescritos conforme necessário, de modo que os pacientes tomem um benzodiazepínico de ação rápida quando se sintam particularmente ansiosos. A abordagem alternativa é prescrevê-los por um período limitado, durante o qual abordagens psicossociais são implementadas. O diagnóstico, os sintomas-alvo e a duração do tratamento devem ser definidos, e a informação, compartilhada com o paciente. O tratamento para a maioria das condições de ansiedade dura de 2 a 6 semanas, seguidas por 1 a 2 semanas de redução gradativa da utilização do medicamento antes de sua interrupção. A utilização de um benzodiazepínico com uma meia- vida intermediária (8 a 15 horas) pode evitar alguns efeitos adversos A buspirona é um agonista parcial dos Buspirona. receptores 5-H T1A e pode ser mais eficaz em 60 a 80% dos pacientes com transtorno de ansiedadegeneralizada A maior desvantagem da buspirona é que seus efeitos levam de 2 a 3 semanas para se tornarem evidentes, em contraste com os efeitos ansiolíticos quase imediatos dos benzodiazepínicos. Uma abordagem é iniciar o uso de ambos os grupos ao mesmo tempo e, então, reduzir de forma gradual a utilização dos benzodiazepínicos até a retirada, após 2 a 3 semanas, momento em que a buspirona deve ter atingido seus efeitos máximos A venlafaxina é eficaz no tratamento de Venlafaxina. insônia, má concentração, inquietação, irritabilidade e tensão muscular excessiva associadas com o transtorno de ansiedade generalizada. É um inibidor não seletivo da recaptação de três aminas biogênicas– serotonina, norepinefrina e, em menor grau, dopamina . Os Inibidores seletivos da recaptação de serotonina ISRSs podem ser eficazes especialmente para pacientes com depressão mórbida. A desvantagem maior dos ISRSs, sobretudo da fluoxetina , é que eles podem aumentar a ansiedade de forma transitória e causar estados agitados. Por essa razão, os ISRSs sertralina, citalopram ou paroxetina são escolhas melhores para pacientes com transtorno de alta ansiedade É razoável iniciar o tratamento com sertralina, citalopram ou paroxetina em associação com um benzodiazepínico e, então, reduzir gradualmente o uso do benzodiazapínico após 2 a 3 semanas CAPS Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 13 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. Os CAPS (centro de atenção psicossocial), assume um papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados, fazendo o direcionamento local das políticas e programas de saúde mental: desenvolvendo projetos terapêuticos e comunitários, dispensando medicamentos, encaminhando e acompanhando usuários que moram em residências terapêuticas, assessorando e sendo retaguarda para o trabalho dos ACS e ESF no cuidado domiciliar. O CAPS foi criado oficialmente a partir da portaria GM 224/92 e eram definidos como “unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional”. O que é um CAPS? Ele é um lugar de referencia e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicose, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. O objetivo do CAPS é oferecer atendimento a população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os CAPS visam: Prestar atendimento em regime de atenção diária; Gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clinico eficiente e personalizado; Promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm a responsabilidade de organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território; Dar suporte e supervisionar a atenção a saúde mental na rede básica, PSF, PACS; Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área; Coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território; Manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos para sua saúde mental. Os CAPS devem contar com espaço próprio e adequadamente preparado para atender a sua demanda específica, sendo capazes de oferecer um ambiente continente e estruturado. Quem pode ser atendido no CAPS Aquelas que apresentem intenso sofrimento psíquico, que lhes impossibilita de viver e realizar seus projetos de vida. São, preferencialmente, pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, pessoas com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos relacionados as substancias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes com transtornos mentais. Tipos de CAPS CAPS I e CAPS II São CAPS para atendimento diário de adultos, em sua população de abrangência, com transtornos mentais severos e persistentes. CAPS III São CAPS para atendimento diário e noturno de adultos, durante 7 dias da semana, atendendo a população de referencia com transtornos mentais severos e persistentes. CAPSi CAPS para infância e adolescência, para atendimento diário a crianças e adolescentes com transtornos mentais. Incluem-se nessas categorias os portadores de autismo, psicoses, neuroses graves e todos aqueles que, Módulo de Psiquiatria Tutoria 2 14 Carolina Lucchesi | Medicina UNIT por sua condição psíquica, estão impossibilitados de manter ou estabelecer os laços sociais. CAPSad CAPS para usuários de álcool e drogas, para atendimento diário a população com transtornos decorrentes do uso e dependência de substancias psicoativas, como álcool e outras drogas. Esse tipo de CAPS possui leitos de repouso com a finalidade exclusiva de tratamento de desintoxicação. O CAPSad devem oferecer atendimento diário a pacientes que fazem um uso prejudicial de álcool e outras drogas, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução continua. Possibilita ainda intervenções precoces, limitando o estigma associado ao tratamento.
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