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Introdução Desde os primeiros passos da humanidade interagindo com a natureza por meio de fenômenos físicos, químicos, biológicos, médicos, entre outros, sempre foi muito comum nossos antepassados associarem tais fenômenos às mitologias, divindades e crenças ou cultura religiosa sem quaisquer questionamentos que, atualmente, faríamos. Provavelmente, se um indivíduo tivesse acesso a uma nova ciência ou conhecimento completamente transformador cujos fundamentos científicos não compreendêssemos, muitos de nós apontariam o detentor desse conhecimento como uma divindade, mesmo conhecendo os critérios científicos. Não seria possível distinguir essa ciência desconhecida de um fenômeno sobrenatural ou associado ao sentimento religioso de cada um que o experimentasse. Como podemos distinguir ciência de crenças? Uma questão mais delicada ainda é se nossa ciência preenche os requisitos do método científico sem comprometer suas conclusões com crenças ideológicas, culturais ou religiosas, acreditando serem conhecimentos científicos. Na verdade, ainda precisamos estudar, refletir e aprimorar habilidades para compreendermos a metodologia científica. Não vamos abordar questões religiosas, apenas discutir a metodologia científica do que chamamos método científico. Discutiremos o que é ciência e apresentaremos um pouco de nossa história filosófica e científica. Filosofia da Grécia Antiga Tradição filosófica ocidental A tradição filosófica surgiu na Grécia Antiga, período classificado entre os anos 700 a.C. e 250 d.C. O primeiro filósofo grego a propor a racionalidade e o pensamento livre como formas de compreender os fenômenos universais da natureza foi Tales de Mileto (624-546 a.C.). Sua metafísica ia contra à mitologia grega, tradição oral milenar que explicava a origem do universo e seus mais diversos fenômenos por meio de divindades religiosas e mitológicas, numa tradição dogmática incontestável até então. Os filósofos pré-socráticos — Tales, Anaximandro (610-546 a.C.), Anaxímenes (588-524 a.C.) e Pitágoras (570-495 a.C.) — acreditavam que se pudéssemos compreender os fenômenos da natureza e do universo preferencialmente por meio da matemática, de forma racional e lógica, estaríamos livres dos caprichos dos deuses mitológicos e mais próximos da verdade universal. Devemos a essa escola e seus filósofos o nascimento do pensamento científico ocidental. Vejamos, agora, um pouco sobre as principais contribuições dos filósofos da Grécia Antiga. Filósofos da Grécia Antiga Tales de Mileto (624-546 a.C.) propôs que a água fosse a matéria-prima do cosmo e há relatos históricos de que ele teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Infelizmente, nenhum dos seus escritos foi minimamente conservado, mas sabemos que sua escola introduziu avanços nas ciências como a matemática, em particular na geometria, e na previsão de melhores colheitas a partir da observação dos fenômenos climáticos, o que diverge totalmente das anteriores súplicas aos deuses. Pitágoras (570-495 a.C.), provável discípulo de Anaxímenes, avançou nas ideias racionais. Propôs que poderíamos compreender o cosmo e suas relações através da matemática como modelo ideal do pensamento filosófico metafísico. Pitágoras acreditava que somente a matemática seria imortal. Devemos a ele os conhecimentos da geometria, álgebra, trigonometria, Teorema de Pitágoras e a compreensão dos fundamentos matemáticos na música, com os harmônicos e as divisões em oitavas. Heráclito (535-475 a.C.) sugeriu o eterno fluxo dos contrários (dia e noite, quente e frio etc.), apresentando a ideia de equilíbrio e de conservação. Parmênides (515-445 a.C.) acreditava na unicidade do Universo e que todos os fenômenos derivavam da mesma origem, conceito amplamente buscado entre os físicos contemporâneos. Demócrito (460-371 a.C.) e Leucipo (século V a.C.) introduziram a atomística e afirmaram que, além de átomos, nada mais existe. Segundo eles, existiria um número infinito de átomos, mas que a combinação deles seria finita, o que explicaria o número limitado de substâncias. Empédocles (490-430 a.C.) apresentou o conceito dos quatro elementos, ao qual chamou de quatro raízes da matéria: fogo, água, ar e terra. Sócrates (469-399 a.C.) considerado o fundador da filosofia ocidental, introduziu um método de argumentação que acreditava ser infalível para desvendar os mistérios da existência, a dialética. Sua preocupação principal era a vida e o modo de viver; não estava interessado em respostas definitivas, mas em desvendar profundamente os conceitos humanos. Seu método dialético é a base do pensamento científico moderno. Praticamente, não deixou nenhuma obra registrada, pois acreditava que a linguagem escrita não favorecia o debate e o confronto dialético. Quase tudo o que sabemos sobre Sócrates é por meio dos diálogos de Platão. Platão (427-347 a.C.) nos apresentou o pensamento socrático. Fundou a Academia, escola filosófica em Atenas, para propagar o método de Sócrates e a sua própria filosofia das formas perfeitas, ideais e imutáveis. A razão seria capaz de explicar todos os fenômenos universais e humanos, reforçando a base da filosofia grega. Ele pregava que estamos presos no mundo dos sentidos ilusórios e que, para reconhecermos a verdade das coisas, devemos racionalmente compreender o ideal perfeito. A filosofia de Platão alcançou o mundo islâmico medieval e contribuiu com as fundações do Racionalismo do século XVII, o período renascentista. Sua concepção é considerada a base da filosofia ocidental moderna pela quantidade e profundidade dos temas sobre os quais escreveu. Para exemplificar suas ideias das formas perfeitas e de como somos frágeis na compreensão da verdade por meio dos sentidos, ele nos apresentou a parábola da caverna. Saiba mais Imagine uma caverna na qual todos estão aprisionados e amarrados desde o nascimento. Só podem olhar uma parede à sua frente. Uma chama brilhante atrás dos prisioneiros ilumina os objetos e todas as formas. Os prisioneiros só podem ver as sombras dos objetos projetadas na parede. Essas sombras são as experiências dos prisioneiros por meio dos sentidos. Se algum prisioneiro se desamarrar, verá os objetos como são na verdade, mas depois de toda uma vida em aprisionamento, talvez não consigam compreender e se voltem fascinados para a chama e novamente para as sombras na parede, sua única realidade. Conclusão: a verdade só pode ser alcançada pela razão, pelo mundo das ideias, não por nossos sentidos, opiniões e por experiências de sombras. Aristóteles (384-322 a.C.) estudou na Academia de Atenas, foi aluno de Platão, de quem recebeu grande influência, mas discordava da filosofia das formas porque acreditava ser possível, observando a natureza, encontrar a verdade sobre os fenômenos. A partir das experiências com o mundo, compreenderíamos as qualidades universais de que falava Platão. Essa abordagem de Aristóteles é um dos pilares das ciências modernas, a obtenção do conhecimento pela experiência, buscando racionalmente a verdade. Fundou sua escola em Atenas, o Liceu. Sua abordagem inicial se deu nos campos da botânica e da zoologia. Aristóteles introduziu um método lógico e sistemático de seleção dos reinos animal, vegetal e mineral, conhecido por silogismo. Também foi o autor da classificação básica das ciências. Seu pensamento, apesar de imperfeições nos campos da ética atual (não rejeitava a escravidão) e da astronomia, provocou uma revolução na filosofia e nas ciências. Além disso, Aristóteles foi o instrutor (preceptor) de Alexandre, o Grande. Com a morte de Alexandre, veio o declínio da Grécia Antiga e o início do período helenístico, com a ascensão de Roma. Atenção! A divergência de Aristóteles em relação a Platão, deu origem a duas linhas filosóficas no século XVII, os racionalistas (platônicos) e os empiristas (aristotélicos). Eratóstenes (276-194 a.C.) obteve um incrível feitocientífico, a medida da circunferência da Terra por meios geométricos e experimentais: • Ele posicionou hastes verticalmente durante o solstício (o dia mais longo do ano) nas cidades de Syene (atual Assuã) e Alexandria. • Quando ele observou a sombra projetada no solo em Alexandria, quando em Syene o Sol estava exatamente sobre a haste e, portanto, sem sombra projetada no solo, obteve o ângulo de inclinação formado entre dois raios de circunferência, partindo do centro do planeta até as duas cidades. • Ele obteve, dessa forma, o perímetro médio da Terra. Arquimedes (287-212 a.C.), famoso pelo Princípio de Arquimedes e pelo Princípio do empuxo da mecânica dos fluidos, há mais de dois mil anos, foi o primeiro filósofo-cientista a seguir o que chamamos atualmente de Método Científico.