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ANATOMIA SISTÊMICA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Parte I Conteúdo teórico e prático Conceitos anatômicos Terminologia anatômica Aparelho Locomotor Sistema Nervoso Órgãos dos sentidos Tegumento Comum Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 2015 Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS CONCEITOS E TERMINOLOGIA 1. CONCEITOS Toda forma de organismo tem, em vários níveis de percepção, um material com que é construído (estrutura) e uma forma de organizar este material (arquitetura), para que ele possa ter dimensões e características (forma) que facilitem no desempenho de sua função. Observar essas etapas da construção corpórea faz parte da função da anatomia. Desta forma, ANATOMIA é o ramo da ciência que estuda a forma, estrutura e arquitetura dos organismos. A palavra Anatomia é de origem grega e significa “cortar em partes” (ANA = em partes / TOMEIN = cortar). Este termo provém do início do estudo anatômico macroscópico, onde as estruturas eram dissecadas e observadas diretamente. Com o crescimento do conhecimento anatômico, divisões e novos termos foram introduzidos para designar áreas específicas e seus respectivos métodos de estudo. Porém, todas estas divisões continuam ligadas à forma, estrutura e arquitetura, sendo, portanto, englobadas em uma área comum denominada Morfologia. Desta forma, o termo Anatomia tornou-se referência ao estudo morfológico macroscópico. 1.1 Divisões da anatomia – Áreas da morfologia As áreas relacionadas com o estudo da forma, estrutura e arquitetura corpórea que integram a morfologia são: Macroscópica: observação direta, ou seja, a “olho nu” da forma, estrutura ou arquitetura. É a parte da morfologia que recebe, hoje, a denominação de Anatomia. Microscópica (citologia e histologia): observação com auxílio de equipamentos de aumento de imagem; Embriológica: estudo do desenvolvimento do indivíduo limitado às fases iniciais, quando são formados os tecidos e órgãos; Ontogênica: estudo do desenvolvimento total do indivíduo, de sua formação até a sua morte; Filogênica: estudo da história ancestral das espécies, as modificações evolutivas que ocorreram com estas. Pode-se, ainda, dizer que a morfologia pode ser descrita de maneira comparada ou especial. Comparada: descrição e comparação das estruturas dos animais, estabelecendo os critérios para a sua classificação zoológica; Especial: descrição anatômica de uma única espécie; Assim, a Anatomia Veterinária é responsável por estudar a morfologia macroscópica dos animais domésticos, descrevendo-a de maneira comparada. Nota 1: São considerados animais domésticos aqueles que não vivem mais em ambientes naturais e tiveram seu comportamento alterado pelo convívio com o homem. São considerados animais silvestres (ou selvagens) todos os animais que vivem ou nascem em um ecossistema natural - como florestas, rios e oceanos. Existem animais silvestres nativos (brasileiros) e exóticos (de outros países). O médico veterinário é responsável pelos animais utilizados para companhia, trabalho ou produção pelo ser humano. Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 2 1.2 Métodos de estudo Existem três métodos de estudo para organizar as formas de abordagem ao se estudar a anatomia: Anatomia Sistêmica: estuda os sistemas e aparelhos do corpo, os quais são formados por órgãos, que têm origem e características similares, associados para realizarem determinadas funções. Anatomia Topográfica: preocupa-se diretamente com a forma e as relações de todos os órgãos existentes em uma determinada parte ou região do organismo; Anatomia Aplicada: considera os fatos anatômicos e suas relações com os ramos práticos. Nota1: Células → Tecidos → Órgãos → Sistemas → Aparelhos Nota 2: Os sistemas estudados são: tegumentar, ósseo, articular, muscular, respiratório, circulatório sanguíneo, linfático, digestório, urinário, genital masculino, genital feminino, nervoso, endócrino e sensorial. 1.3 Técnicas anatômicas Algumas técnicas de preparo de material são usuais no estudo da anatomia, como a fixação de cadáveres por formol e sua posterior dissecação. Desta forma, é importante o conhecimento destas para um bom entendimento das peças anatômicas. Formolização: injeção e submersão de peças e cadáveres em solução aquosa de formol para a sua preservação. Dissecação: separação ordenada das estruturas. Maceração: processo de retirada dos “tecidos moles” que envolvem as partes rígidas do corpo. Diafanização: tornar translúcidos os tecidos de uma região ou órgão, para que seja visível a marcação de uma determinada estrutura. Corrosão: retirada progressiva por meio de substância específica (ácido ou base) dos tecidos de uma região ou órgão, para que seja visível a marcação de uma determinada estrutura, geralmente vasos e ductos. Criodesidratação: conservação da peça por sucessivos processos de congelamento e descongelamento e, consequentemente, progressiva desidratação tecidual. 2. TERMINOLOGIA ANATÔMICA 2.1. Princípios de construção corpórea dos vertebrados De uma maneira geral, a formação inicial do corpo dos vertebrados segue algumas regras de desenvolvimento que são importantes para o entendimento das relações corpóreas. Dentre estes princípios, quatro serão citados por sua importância neste momento. Zigomorfismo ou Antimeria: refere-se à formação do corpo do animal respeitando uma simetria bilateral, que permite sua divisão em antímeros. Os antímeros (direito e esquerdo) são unidades morfológicas de formação, homólogas, que dividem o corpo dos vertebrados em duas metades aparentemente iguais (simétricas). A simetria tende a diminuir com o progredir da filogênese e da ontogênese. Pode-se dizer que os vertebrados não apresentam uma simetria bilateral perfeita, mas sim uma assimetria interna e uma aparente simetria externa. Metamerismo: refere-se à formação do corpo do animal respeitando uma sequência de repetição de segmentos transversais, denominados metâmeros. Os metâmeros são Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 3 unidades morfológicas de formação, homólogas, que se sucedem no sentido crânio- caudal, sendo separadas por planos transversais paralelos e consecutivos. A metameria tende a diminuir com o progredir da filogênese e da ontogênese. Tubulação ou Paquimeria: refere-se à formação do corpo do animal respeitando um padrão de distribuição em um tubo dorsal e outro ventral, que alojam órgãos vitais para o animal. Estes tubos são denominados de paquímeros e são unidades morfológicas, heterólogas, sendo o ventral esplâncnico (aloja vísceras) e o dorsal neural (aloja o sistema nervoso central). Estratificação: refere-se à formação do corpo do animal respeitando a disposição em camadas sucessivas denominadas de estratos. 2.2 Nomenclatura Anatômica Veterinária Para padronizar os termos anatômicos empregados em todo o mundo, foi editada em 1968 a primeira Nomina Anatomica Veterinaria, que tem como princípios básicos: Cada estrutura deve ser designada por um único termo; Cada termo deve estar em latim na lista oficial, mas os anatomistas de cada país estão livres para traduzir os termos oficiais do latim para a língua de ensino; Cada termo deve ser, dentro do possível, o mais curto e simples; Os termos devem ser fáceis de ser lembrados e devem possuir, acima de tudo, valores instrutivos e descritivos; Estruturas que estão muito relacionadas topograficamente devem possuir nomes similares; Os adjetivos diferenciais devem ser geralmente opostos; Os termos derivados de nomes próprios (epônimos) não devem ser usados. As abreviaturas anatômicas também são padronizadas.Algumas estão descritas a seguir. a. – artéria (aa. – artérias) m. – músculo (mm. – músculos) n. – nervo (nn. – nervos) r. – ramo (rr. – ramos) gl. – glândula (gll. – glândulas) lig. – ligamento (ligg. – ligamentos) ggl. – gânglio (ggll. – gânglios) 2.3. Conceitos para a descrição do corpo dos animais domésticos Posição anatômica Para padronizar a descrição do corpo dos animais, estabeleceu-se uma posição fundamental de descrição anatômica para os quadrúpedes, a posição de estação: “O animal está de pé, com os quatro membros estendidos e firmemente apoiados ao solo, o pescoço está encurvado para cima, formando um ângulo de cerca de 145º com o dorso, a cabeça se mantém mais ou menos ereta num plano horizontal, de modo que as narinas estejam voltadas para frente e os olhos para o horizonte”. Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 4 2.4 Divisão primária do corpo dos animais domésticos O corpo dos animais divide-se em cinco partes fundamentais: cabeça, pescoço, tronco (tórax, abdome e pelve), membros (torácicos e pélvicos) e cauda (Figura 1). Estas regiões podem ser subdivididas de acordo com termos próprios ou com base na parte óssea, sendo necessário o conhecimento prévio do esqueleto para seu bom entendimento (Figuras 1 e 2). A cabeça, o pescoço e o tronco, por serem formados pelos tubos ou paquímeros dorsal e ventral, contem os órgãos vitais para a vida do animal. Desta forma, os membros são considerados estruturas apendiculares, já que não contém órgãos vitais e se ligam ao tronco. As estruturas apendiculares estão ligadas ao “eixo vital corpóreo” por raízes ou cinturas. São considerados, também, estruturas apendiculares, a cauda, o pavilhão auricular e alguns segmentos de tratos sistêmicos. Figura 1. Divisão regional primária do corpo dos animais. 1- Cabeça; 2- Pescoço; 3- Tronco; 4- Tórax; 5- Abdome; 6- Pelve; 7- Membro torácico; 8- Membro pélvico; 9- Cauda. Figura 2. Divisão regional dos membros. A.- Membro torácico; B- Membro pélvico; 1- Cintura torácica; 2- Braço; 3- Antebraço; 4- Mão; 5- Dedo; 6- Cintura pélvica; 7- Coxa; 8- Perna; 9 – Pé; 10- Dedo. 3 A B Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 5 2.5 Planos de delimitação, Planos de secção e Eixos Os planos de delimitação e secção indicam os pontos de referência externo e interno, respectivamente, para a descrição do corpo do animal. Os eixos fornecem informações sobre direção e sentido no corpo do animal. Planos de delimitação (Figura 3): são aqueles que passam rente ou tangente à superfície do corpo do animal. Existem seis planos de delimitação, sendo dois horizontais e quatro verticais. - Plano dorsal: tangente à superfície dorsal do animal; - Plano ventral: tangente à superfície ventral do animal; - Plano cranial: tangente à cabeça do animal; - Plano caudal: tangente à cauda do animal; - Plano lateral direito: tangente à superfície do antímero direito do animal; - Plano lateral esquerdo: tangente à superfície do antímero esquerdo do animal. Planos de secção (Figuras 4 e 5): cortam o corpo do animal e estão paralelos a dois planos de delimitação. Os planos de secção baseiam-se nos princípios de construção corpórea. - Planos horizontais (ou frontais): planos que cortam o animal paralelamente aos planos dorsal e ventral. Baseiam-se nos paquímeros; - Planos transversais: planos que cortam o animal paralelamente aos planos cranial e caudal. Além disso, os planos transversais caracterizam-se por atravessar perpendicularmente o eixo corpóreo longitudinal. Baseiam-se nos metâmeros; - Planos sagitais ou paramedianos: planos que cortam o animal paralelamente aos planos laterais direito e esquerdo. O plano sagital que passa exatamente no meio do animal dividindo-o em dois antímeros (lados) é denominado Plano Sagital Mediano ou mediano. Baseiam-se nos antímeros. Figura 3. Planos de delimitação em quadrúpedes. Figura 4. Planos de secção em quadrúpedes. Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 6 Figura 5. Planos de secção em quadrúpedes relacionados aos princípios de construção corpórea. Eixos (Figura 6): são linhas imaginárias que ligam pontos de planos de delimitação paralelos. - Eixo longitudinal: linha imaginária que liga os planos cranial e caudal, fornecendo o comprimento do animal e os sentidos crânio-caudal e caudo-cranial; - Eixo sagital: linha imaginária que liga os planos dorsal e ventral, fornecendo a altura do animal e os sentidos dorso-ventral e ventro-dorsal; - Eixo transversal: linha imaginária que liga os planos laterais direito e esquerdo, fornecendo a largura do animal e os sentidos latero-lateral direito e latero-lateral esquerdo. Nota: Os membros, como estrutura apendicular, apresentam o eixo longitudinal disposto de sua raiz até seu ponto de apoio. Desta forma, o plano transversal do membro fica perpendicular a seu eixo longitudinal. Figura 6. Eixos corpóreos em quadrúpedes. 2.6 Termos indicativos de posição e direção (Figuras 7 e 8) Para facilitar a descrição das diferentes partes do corpo faz-se uso de terminologias precisas baseadas nos pontos de referências (planos e eixos). Lateral, Medial, Intermédio e Mediano: são termos designados para indicarem a posição de um órgão ou estrutura em relação ao plano sagital mediano (PSM) e os planos laterais. Se uma estrutura está mais próxima ao PSM que outra a ser analisada ela é medial e a outra lateral. Quando uma determinada estrutura se encontra entre a lateral e a medial ela é intermédia e se estiver ao mesmo nível do PSM ela é mediana. Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 7 Dorsal, Ventral e Médio: quando as estruturas estão voltadas para os planos dorsal e ventral são ditas dorsal e ventral, respectivamente e uma estrutura entre estas é média. Cranial, Caudal, Médio e Rostral: quando as estruturas estão mais próximas dos planos cranial e caudal são ditas cranial e caudal, respectivamente, e uma estrutura entre estas é média. O termo rostral é utilizado em substituição a cranial para estruturas localizadas na cabeça, a fim de evitar inconveniências durante a descrição anatômica. Proximal, Distal e Médio: termos utilizados para estruturas apendiculares (membros, cauda, pavilhão auricular...), em relação a sua raiz ou inserção. Quando uma estrutura está mais próxima da raiz é dita proximal e quando mais afastada é dita distal, uma estrutura entre estas é média. Palmar e Plantar: estruturas da mão (dos ossos do carpo para distal) que estão voltadas para o solo são denominadas palmares e as do pé (dos ossos do tarso para distal), plantares. O termo utilizado para as partes contrárias a estas é dorsal, em ambos os membros, portanto os termos dorsais e palmares são usados para as faces da mão e dorsais e plantares para as faces dos pés. Axial e Abaxial: são termos utilizados para as espécies cujo eixo funcional do membro passa entre o 3º e 4º dedos. A face do dedo voltada para o eixo é denominada axial e a oposta abaxial. Externo e Interno: geralmente utilizados para designar as regiões de cavidades e órgãos ocos. Superior e Inferior: são termos muito utilizados em anatomia humana e pouco em anatomia veterinária, exceto para algumas estruturas da cabeça. Ex. pálpebra superior e inferior. Figura 6. Termos indicativos de posição e direção. A- Vista lateral; B- Vista transversal. A B Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 8 Figura 7. Termos indicativos de posição e direção paraos membros. A- Vista lateral; B- Vista dorsal dos dedos (3º e 4º) de um bovino. A B Anatomia Sistêmica – Conceitos e Terminologia Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 9 ROTEIRO PRÁTICO: TERMINOLOGIA ANATÔMICA Identifique nos esqueletos a divisão do corpo dos animais: cabeça, pescoço, tronco (tórax, abdome e pelve), membros (torácicos e pélvicos) e cauda. Identifique nos esqueletos a divisão dos membros torácicos (cintura torácica, braço, antebraço e mão) e pélvicos (cintura pélvica, coxa, perna e pé). Observe os esqueletos do Laboratório e veja se os mesmos estão corretamente na posição de descrição anatômica dos quadrúpedes. Descreva a posição anatômica. Identifique em um esqueleto a os planos de delimitação (dorsal, ventral, cranial, caudal, lateral direito e lateral esquerdo), os planos de secção (planos horizontais, transversais, sagitais e sagital mediano) os eixos corpóreos (longitudinal, transversal e sagital). Com auxílio do quadro abaixo, utilize os temos indicativos de posição e direção para evidenciar estruturas no corpo do animal. Termo indicativo Ponto de referência Lateral – Intermédio – Medial Pl. lateral e Pl. sagital mediano Mediano Exatamente no Pl. sagital mediano Dorsal – Ventral Pl. dorsal e Pl. ventral Cranial – Caudal Pl. cranial e Pl. caudal Proximal – Distal Raiz de uma estrutura apendicular Palmar – Plantar Face da mão (palmar) e do pé (plantar) voltadas para o solo Axial – Abaxial Face dos dedos Externo – Interno Órgãos com cavidade Superior – Inferior Estruturas da face Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 10 APARELHO LOCOMOTOR O aparelho locomotor engloba todos os sistemas encarregados da sustentação, progressão e movimento corporal. Desta forma, pode-se dizer que sua função prioritária é o trabalho mecânico de deslocamento do animal no ambiente. De maneira específica, a ação do movimento se deve aos músculos esqueléticos, já que estes apresentam propriedades de contração e relaxamento. Porém, a maioria destes músculos se insere no esqueleto, o qual proporciona, pelas articulações, a formação de alavancas para a locomoção. Portanto, se distingue uma parte ativa do aparelho locomotor, formada pelo sistema muscular, e uma parte passiva, composta pelo sistema ósseo e pelo sistema articular. Assim, o estudo do aparelho locomotor será feito, na sequência, pela descrição dos sistemas ósseo, articular e muscular. SISTEMA ÓSSEO 1. CONCEITO E FUNÇÕES O estudo do sistema ósseo é feito pela osteologia. O termo osteologia deriva da palavra grega osteon que significa ossos e logos que se refere a uma determinada parte do conhecimento. Assim, pode-se definir o SISTEMA ÓSSEO como o conjunto de ossos que forma a arquitetura de sustentação corpórea e uma das partes passivas do aparelho locomotor. Em sentido mais amplo, a osteologia também analisa as formações intimamente relacionadas ou ligadas com os ossos que formam o esqueleto. Considera-se que o esqueleto é o conjunto formado pelas junções (junturas ou articulações) das estruturas rígidas e semirrígidas do corpo (ossos, cartilagens e ligamentos estruturais) que se interligam para formar o arcabouço (arquitetura de sustentação) do corpo dos animais. No estudo da anatomia comparada animal, esqueleto é definido como os elementos necessários para sustentar e apoiar os tecidos “moles”, a fim de consolidar a forma do corpo e protegê-lo. Podem ser atribuídas as seguintes funções para o sistema ósseo: Sustentação e conformação do corpo dos animais: por serem estruturas rígidas, os ossos sustentam as partes moles do corpo e, quando articulados formam o esqueleto que fornece a arquitetura de forma do corpo; Sistema de alavancas para a locomoção: forma, quando articulado, uniões fixas o móveis que promovem pela a ação muscular alavancas que permitem o deslocamento do corpo do animal no ambiente; Proteção de órgãos vitais: alguns ossos, por serem rígidos, englobam e protegem órgãos vitais; Armazenamento de íons (principalmente, Ca e P): o cálcio e o fósforo são íons importantes para o metabolismo do animal. Assim, a mineralização do tecido ósseo é feita, principalmente, com esses dois elementos para que haja um reservatório de onde esses íons possam ser retirados em situação de emergência, garantindo o Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 11 metabolismo do animal. O controle da entrada e saída de Ca e P nos ossos é regulada pela ação hormonal; Guarnece a medula óssea: os ossos guardam em seu interior a medula óssea, que é o tecido responsável pela produção de células sanguíneas. Nota 1: Alguns autores consideram os dentes como parte integrante do esqueleto por ele ser uma estrutura rígida do corpo, porém dente não faz parte do sistema ósseo, ou seja, dente não é osso. Os dentes são formados por um tecido específico que, assim como os ossos, também são mineralizados; porém não tem nenhuma das função direta ou indireta que é atribuída aos ossos. Os dentes fazem parte da arquitetura de mastigação e, portanto, são integrantes do aparelho digestório. 2. CARACTERÍSTICAS 2.1 Divisão do esqueleto O número de ossos pode variar de acordo com a idade do animal (animais jovens tem mais ossos, já que ocorre a fusão de alguns no animal adulto), genética (espécie, raça e variação individual), sexo e biótipo. Quando se observa o esqueleto dos animais, é possível dividi-lo de acordo com a formação corpórea em: Esqueleto axial: é á parte do esqueleto que está relacionado com o eixo corpóreo. Compreende os ossos da cabeça, coluna vertebral e porção lateral e ventral do tórax; Esqueleto apendicular: é a parte do esqueleto que está relacionada com os membros torácicos e pélvicos e suas raízes ou cinturas; Esqueleto visceral: é a parte do esqueleto que está dentro de um órgão sem se ligar ao esqueleto axial ou apendicular. Pode-se distinguir alguns ossos que se desenvolvem em determinados órgãos como os ossos do pênis do cão, do coração do boi e hióide das aves. 2.2 Classificação dos ossos quanto à forma De acordo com a forma, os ossos são classificados em: Ossos Longos: são aqueles que possuem seu eixo longitudinal (comprimento) maior que as outras dimensões. Estes ossos têm, em geral, forma cilíndrica e ocorrem nos membros. Têm como funções principais a sustentação e a formação de alavancas para a locomoção. Um osso longo apresenta duas extremidades, denominadas de epífises, e um corpo, denominado de diáfise. A diáfise possui no seu interior uma cavidade, o canal medular onde se aloja a medula óssea. Ossos Planos: são aqueles que apresentam uma das dimensões muito menor que as demais. Estes ossos têm forma achatada e ocorrem principalmente na cabeça e em áreas de grande fixação muscular. Têm como principais funções a proteção e a formação de grandes superfícies para a fixação muscular. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 12 Ossos Curtos: são aqueles em que as três dimensões são aproximadamente iguais. Têm como função a proteção contra choques, ou seja, a dissipação de forças. Ossos Irregulares: são aqueles que não apresentam forma definida, podendo ter partes características de ossos longos, planos e curtos, sendo que cada região desempenha a sua função típica. Ossos Pneumáticos: são aqueles que apresentam uma ou mais cavidades de volume variável, revestidas de mucosas e contendo ar no seu interior, sendo estas cavidades denominadas de seios. Ocorrem nos ossos da cabeça dos mamíferos e na maioria dos ossos dasaves. Estes ossos têm a capacidade de diminuir seu peso sem alterar sua resistência. Os ossos pneumáticos são uma subclassificação das formas citadas anteriormente (ex. osso longo e pneumático). Ossos sesamóides: são um tipo de osso curto que está na proximidade de tendões e articulações, dissipando a pressão do primeiro sobre o segundo. 2.3 Contornos e acidentes ósseos A superfície dos ossos apresenta áreas irregulares, com saliências e depressões, que são denominadas de acidentes ósseos. Os acidentes ósseos servem, na maioria das vezes, como superfície de articulação, ponto de inserção de tendões e ligamentos ou, ainda, são impressões deixadas pelo contato com outros órgãos. As saliências articulares proeminentes são denominadas côndilo, cabeça, capítulo, tróclea ou dente. Saliências ósseas que se prestam à inserção de tendões ou ligamentos recebem diferentes denominações, tais como túber, tubérculo, tuberosidade, maléolo, trocânter, processo e epicôndilo. As saliências lineares são denominadas linha, crista, espinha e promontório. Áreas lisas e planas na superfície óssea, articulares ou não, são conhecidas como asa, tábula, ramo ou lâmina. Depressões, articulares ou não, são denominadas cavidades, fossas, fossetas ou fóveas. Fissura, incisura, sulco, colo, arco e canal são termos que indicam os vários tipos de depressões não articulares encontradas nos ossos. Um orifício no osso é denominado forame e, geralmente, dá passagem a um vaso sanguíneo e/ou a um nervo. 2.4 Estrutura e arquitetura óssea (Figura 1) Os ossos encontram em sua composição: tecido ósseo, tecido conjuntivo de revestimento, vasos e nervos. Tecido ósseo Os ossos são formados de tecido ósseo, no qual predomina a substância intercelular. Desta forma, as células ósseas ficam em uma matriz orgânica, representada Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 13 por fibras elásticas e colágenas, e em uma matriz inorgânica, formada por sais inorgânicos, principalmente fosfato de cálcio. A proporção de matriz orgânica e inorgânica é, aproximadamente, de 1 para 2. As fibras colágenas, na matriz calcificada, conferem resistência e elasticidade ao tecido e os sais são responsáveis pela rigidez do osso. Desta forma, quando há a alteração na proporção, os ossos podem se apresentar quebradiços ou flexíveis. O tecido ósseo possui dois tipos de arquitetura (organização), a substância compacta e a substância esponjosa. A substância compacta é a mais externa, apresentando lamelas de distribuição concêntrica em camadas justapostas. A substância esponjosa é a mais interna e apresenta-se em forma de lâminas ou trabéculas ósseas entrelaçadas, formando uma estrutura semelhante a uma esponja, sendo que os espaços formados são preenchidos por medula óssea. Essa organização da substância esponjosa ocorre para dissipar as forças sofridas pelo osso, dispondo-se de acordo com as solicitações mecânicas. Embora a forma externa dos ossos e sua arquitetura sejam determinadas por fatores hereditários para cada espécie, os tecidos ósseos permanecem modeláveis durante toda a vida do animal. Ele continua um processo de transformação e reconstrução, mostrando extensa adaptabilidade biológica como, por exemplo, em resposta a mudanças funcionais. Um exemplo da plasticidade do tecido ósseo é sua habilidade em rearranjar a estrutura da substância esponjosa depois de uma fratura, mudança de solo ou peso, ajustando-se, por si mesmo, às mudanças de condição de tensão e pressão. Forças de pressão e tensão podem também causar ou, principalmente, aumentar a formação de tuberosidades, processos, sulcos, depressões ou canais na superfície óssea, que são os acidentes ósseos. Tecido conjuntivo de revestimento: periósteo e endósteo O periósteo é uma membrana fibrosa de camada dupla que envolve externamente os ossos, exceto nas superfícies articulares, onde as áreas de encaixe são revestidas por cartilagem articular. A camada interna do periósteo tem capacidade osteogênica, ou seja, é capaz de produzir tecido ósseo, já a camada externa é responsável pela proteção direta do osso. A função osteogênica do periósteo é reativada no reparo de uma fratura. O endósteo é a camada fina de tecido conjuntivo que reveste as trabéculas da substância esponjosa e a cavidade medular dos ossos longos. Vasos sanguíneos e nervos Os ossos recebem um grande suprimento sanguíneo, pois são formados por um tecido ativo com capacidade de sofrer transformações para atender as solicitações mecânicas, como mudanças de peso e apoio. O osso recebe um conjunto de vasos sanguíneos, sendo a principal a artéria nutrícia. Os vasos sanguíneos entram nos ossos através dos forames nutrícios. Os ossos recebem inervação sensitiva (captação de estímulos), porém seu comando é feito por hormônios. Os nervos alcançam o osso acompanhando os vasos sanguíneos, e a maior distribuição dos nervos sensitivos ocorre no periósteo. Nota 2: Os tecidos com alta atividade recebem alto suprimento sanguíneo, pois precisam de grande quantidade de nutrientes para seu metabolismo. Os vasos sanguíneos podem ser artérias, que conduzem o sangue para os tecidos, ou veias, que drenam o sangue dos tecidos. Nota 3: As atividades corpóreas são controladas direta ou indiretamente pelo sistema nervoso. Para enviar uma “ordem” para um órgão, o sistema nervoso precisa receber um estímulo (inervação sensitiva), interpretá-lo e enviar um comando (inervação Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 14 motora). Alguns órgãos não recebem comandos diretos do sistema nervoso e são controlados por hormônios. Figura1. Corte longitudinal de um osso longo evidenciando a arquitetura óssea. 2.5 Desenvolvimento e crescimento dos ossos O esqueleto fetal é formado do mesoderma, a partir de um esboço cartilagíneo ou diretamente fibroso. Devido a sua formação, costumam-se designar de ossos membranosos os que se desenvolve em tecido fibroso (ossificação intramembranosa) e de ossos cartilaginosos os que se formam em tecido cartilagíneo (ossificação endocondral). Normalmente, os ossos planos se formam em tecido fibroso e os demais em tecido cartilagíneo. Os ossos cartilaginosos podem apresentar vários centros de ossificação e, consequentemente, de crescimento no indivíduo jovem. Os ossos membranosos crescem pela multiplicação e ossificação de seu tecido periférico. Os ossos longos possuem algumas características especiais que devem ser consideradas. Após o nascimento, os ossos longos permanecem com pelo menos dois pontos de cartilagem para a osteogênese, que ficam interpostos entre as epífises e a diáfise. Estes pontos são responsáveis pelo crescimento em comprimento dos ossos longos e são denominados de cartilagem epifisial. O crescimento em largura dos ossos longos é realizado pela camada interna do periósteo. A porção de transição entre a epífise e a diáfise é denominada de metáfise, que representa a área de deposição de tecido ósseo jovem. Com o avançar da idade e o fim do crescimento, a cartilagem epifisial se ossifica e as epífises se fundem a diáfise. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 15 3. COMPOSIÇÃO (Figura 2) Figura 2. Esqueleto de um equino. 3.1 Esqueleto apendicular Membro torácico Cintura torácica: escápula (presente em todas as espécies), clavícula (presente em algumas espécies) e coracóide (presente em algumas espécies); Braço: úmero; Antebraço: rádio e ulna; Mão: ossos do carpo, ossos do metacarpo, falanges proximais, falanges médias, falanges distais, sesamóides proximais e sesamóides distais. Membro pélvico Cintura pélvica: osso coxal, composto pelos ossos ílio, pube e ísquio; Coxa: fêmur e patela (transição entrefêmur e tíbia); Perna: tíbia e fíbula; Pé: ossos do tarso, ossos do metatarso, falanges proximais, falanges médias, falanges distais, sesamóides proximais e sesamóides distais. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 16 Características O esqueleto apendicular é representado pelos ossos dos membros. Embora os membros torácicos e pélvicos não sejam homólogos, eles possuem uma organização e segmentação semelhantes, com uma correspondência precisa de partes análogas. As bases ósseas dos membros podem ser divididas em uma cintura ou raiz, uma coluna e uma extremidade. Nos dois pares de membros a cintura consiste de três ossos. A cintura do membro torácico pode compreender a escápula, a clavícula e o coracóide. A presença ou ausência desses ossos está relacionada à capacidade de movimento entre o membro e o tronco, sendo que espécies que realizam movimentos maiores possuem mais ossos em sua cintura torácica para aumentar o ângulo articular. Já a cintura pélvica consiste do ílio, o pube e o ísquio. Esses ossos se fundem após o nascimento, formando o osso coxal, para aumentar a estabilidade da região no animal adulto. A coluna dos membros é composta de dois segmentos, um elemento proximal, que inclui os ossos do braço (úmero) e coxa (fêmur) e um elemento distal, compreendendo os ossos do antebraço (rádio e ulna) e perna (tíbia e fíbula). A extremidade dos membros compreende as mãos, nos membros torácicos, e os pés, nos membros pélvicos. Inclui no sentido próximo-distal para os membros torácicos e pélvicos, respectivamente, o carpo e o tarso, o metacarpo e o metatarso e as falanges, que formam os dedos ou dígitos. Segundo a parte da mao e/ou pé com a que o animal se apoia no solo, pode-se classificá-los em: Plantígrados: animais que apoiam toda a região de mão e/ou pé (autopódio) no solo (Ex. primatas, urso). Digitígrados: animais que apoiam toda a região dos dedos (acropódio) no solo (Ex. caninos e felinos). Ungulados: animais que apoiam apenas a falange distal no solo (Ex. ruminantes, suínos e equinos). De acordo com o desenvolvimento dos dedos, os animais podem ser classificados em três grupos: Artiodátilos: animais que possuem o 3º e 4º dedos mais desenvolvidos (Ex. bovinos, suínos, ovinos, caprinos, caninos e felinos). Perissodátilos: animais que possuem o 3º dedo mais desenvolvido (Ex. equino). Atípicos: animais que possuem o 1º e/ ou o 2º dedos mais desenvolvidos (Ex. primatas superiores, homem – pé). Durante a evolução, algumas espécies quadrúpedes aumentaram o eixo longitudinal dos membros como uma forma de aumentar sua velocidade e se apresentam, hoje, com um menor apoio no solo. Associado a estas mudanças, o número de dedos também reduziram nas mãos e nos pés. No equino, a mais extrema forma é vista, quando somente o 3º dedo é conservado. Em ruminantes dois dedos permanecem totalmente desenvolvidos (3º e 4º), enquanto em suínos e carnívoros 4 permanecem (do 2º ao 5º), sendo que os dois dedos médios (3º e 4º) são mais longos. A redução progressiva no número de dedos faz com que haja uma simplificação para levantar o membro do chão. Isto também reduz o tamanho da superfície de relação total de associação de atrito, mas ocasiona um aumento na distribuição do peso em cada dedo. Dessa maneira, revestimentos específicos se desenvolvem na extremidade dos dedos (falange distal). Normalmente, observam-se unhas revestindo a falange distal de plantígrados, garras em digitígrados e cascos em ungulados. Este processo filogênico de elevação do membro do solo diminuiu a mobilidade do antebraço, de plantígrados para ungulados, para que o mesmo tivesse maior estabilidade e permitisse um maior equilíbrio para o animal. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 17 Os ossos correspondentes dos membros torácicos e pélvicos dos mamíferos domésticos diferem no seu sentido de posicionamento e na angulação de suas junções, somente os dígitos tem a mesma distribuição em ambos os membros. Devido à extremidade cranial corpórea apresentar um peso maior (pescoço e cabeça), há um deslocamento do eixo gravitacional corpóreo cranialmente, o que caracteriza, funcionalmente, o membro torácico como uma coluna de suporte mais eficiente que o membro pélvico. Assim, observa-se que o membro pélvico tem uma angulação maior que a do membro torácico, o que o ajuda a realizar a propulsão do corpo. 3.2 Esqueleto axial Tronco, pescoço e cauda Coluna vertebral: vértebras cervicais, vértebras torácicas; vértebras lombares, vértebras sacrais (após fusão, osso sacro); vértebras caudais ou coccígeas; Região lateral do tórax: costelas; Região ventral do tórax: esterno. Cabeça Região dorsal: nasal, frontal, parietal, occipital, incisivo, maxilar, lacrimal, zigomático, temporal, palatino, pterigoide, esfenoide, vômer, etmoide e rostral (no suíno); Região ventral: mandibular e hioide. Características A parte óssea do esqueleto axial é representada pelas vértebras, costelas, esterno e ossos da cabeça. A maioria dos ossos axiais possui distribuição mediana e formação representativa de metâmeros. De uma maneira geral, o esqueleto axial forma o eixo ou região central de sustentação corpórea e de acomodação dos órgãos. Engloba o paquímero dorsal e ventral, protegendo, portanto, o sistema nervoso central e os órgãos vitais para o animal. Pode-se atribuir algumas funções diretas para o esqueleto axial como: formação do eixo mediano corpóreo que sustenta as estruturas apendiculares; manutenção do equilíbrio durante o movimento; transmissão do impulso do movimento; suporte para os órgãos do tronco; proteção do sistema nervoso central e dos órgãos das cavidades corpóreas. A coluna vertebral é formada pela união de segmentos ósseos transversais repetitivos irregulares, as vértebras, que estão presentes do pescoço até a cauda do animal. As vértebras estão unidas, formando um canal para alojar a medula espinhal, porém sua articulação permite pequenos movimentos dorsais (arco da vértebra) com acomodação ventral (corpo da vértebra). A somatória desses movimentos limitados entre cada vértebra propicia um movimento maior de toda a coluna vertebral. Algumas espécies, como a canina e a felina possuem uma coluna vertebral mais flexível e, consequentemente, mais móvel. Outras espécies, como a equina e bovina, possuem uma coluna vertebral mais rígida para aumentar a estabilidade do eixo corpóreo, devido ao seu tipo de apoio no solo (ungulados) e peso corpóreo. Durante a passada, o animal realiza um movimento contrário entre cabeça-pescoço e membros torácicos para manter o equilíbrio. Nos animais que possuem uma coluna vertebral mais flexível, como os caninos e felinos, esta funciona como o principal limitante da passada, funcionado como uma haste móvel, que pode possibilitar a ultrapassagem dos membros torácicos pelos membros pélvicos durante o movimento de velocidade. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 18 As vértebras ocupam uma posição mediana dorsal, formando uma cadeia longitudinal de curvatura variável. Três curvaturas principais são reconhecidas na coluna vertebral: Curvatura cefálico-cervical: de forma convexa dorsalmente, entre a cabeça e o pescoço; Curvatura cérvico-torácica: de forma côncava dorsalmente, entre o pescoço e o tórax; Curvatura tóraco-lombar: de forma convexa dorsalmente, entre o tórax e o abdome. Em carnívoros, ainda há uma curvatura sacral, de forma convexa dorsal. A maior ou menor acentuação destes contornos da coluna vertebral variam com a postura, a espécie e a raça. Em geral, as vértebras da região torácica caudal e abdominal apresentam-se num plano mais horizontal. A inclinação ventral das vértebras torácicas craniais é mascarada no animal vivo pela altura dos processosespinhosos. Em algumas espécies, mais notavelmente no cavalo, os processos são tão longos, que o contorno desta parte do osso fica elevado, constituindo a cernelha. De acordo com suas características morfológicas e de distribuição regional, pode- se diferenciar cinco grupos de vértebras na coluna vertebral: cervicais, torácicas, lombares, sacrais e coccígeas (caudais). O número de vértebras que compõem cada região é mais ou menos constante para cada espécie, no entanto, podem ocorrer variações individuais. O número de vértebras dos animais domésticos pode ser expresso pelas fórmulas vertebrais descritas a seguir: Equino: C7 T18 L6 S5 Ca17-20 Bovino: C7 T13 L6 S4-5 Ca18-20 Ovino: C7 T13 L6-7 S4 Ca18-20 Caprino: C7 T13 L6 S4 Ca11-13 Suíno: C7 T14-15 L6-7 S4 Ca20-23 Canino: C7 T13 L7 S3 Ca20-23 As costelas formam o arcabouço da parede torácica, protegendo os órgãos da cavidade torácica e parte dos órgãos craniais abdominais. Articulam-se dorsalmente com as vértebras torácicas e ventralmente com as cartilagens costais. O número de costelas corresponde ao número de vértebras torácicas e o espaço formado entre elas é denominado de espaço intercostal. As primeiras costelas unem-se diretamente ao esterno por meio das cartilagens costais, sendo denominadas por isto de costelas verdadeiras ou esternais. As demais são chamadas de costelas falsas ou asternais, porque não se prendem diretamente ao esterno e sim as cartilagens costais craniais adjacentes, formando o arco costal. Em alguns animais podem ocorrer costelas que apresentam suas extremidades ventrais livres, sendo denominadas por este motivo de costelas flutuantes. O esterno constitui a parede óssea ventro-mediana do tórax. É formado por segmentos ósseos denominados estérnebras, as quais estão unidas por cartilagens interesternebrais. Apresenta uma extremidade cranial, uma extremidade caudal e um corpo. Os ossos da região da cabeça formam um conjunto de encaixe perfeito de ossos pares simétricos ou medianos, formando uma arquitetura de proteção para o encéfalo e parte inicial dos tratos respiratório e digestório. Os ossos da cabeça são planos ou irregulares, sendo que alguns ainda são pneumáticos, os quais possuem seios (espaços) em seu interior que estão relacionados com o trato respiratório. Os elementos ósseos desenvolvem-se a partir de centros independentes de ossificação e, no animal jovem, se encontram separados por tecido fibroso ou cartilagem. Esta separação facilita a passagem do feto pela cavidade pélvica da mãe durante o parto. Após o crescimento do animal, a maioria das junturas dos ossos da cabeça sofre um processo progressivo de ossificação (sinostose). Este processo é longo, podendo Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 19 jamais estar completo, fazendo com que grande parte dos limites ósseos sejam perceptíveis mesmo em crânios de animais adultos. Considerando o esqueleto ósseo da cabeça como uma unidade, três formações são tidas como ponto de referência: a órbita óssea, onde está guarnecido o bulbo do olho; o palato ósseo, que forma a face dorsal da cavidade oral; e o arco zigomático, na porção dorso-caudo-lateral da cabeça. Além disso, o esqueleto da cabeça é dividido, didaticamente, em uma porção rostral à órbita óssea, denominada de esplancnocrânio, e em uma parte caudal a órbita óssea denominada de neurocrânio. O esplancnocrânio relaciona-se com as partes dos tratos respiratório e digestório e o neurocrânio com o encéfalo. Na maioria dos animais domésticos, a parte facial do crânio (esplancnocrânio) é maior do que a parte neural (neurocrânio). Entretanto, a proporção varia entre as espécies, raça e idade. Estas variações podem implicar na formação dentária e nas aplicações da parte clínica e cirúrgica. Nos bovinos, a porção dorso-caudal da cabeça encontra-se expandida lateralmente e pode dar sustentação aos cornos. Nas demais espécies domésticas, há um estrangulamento desta região, caracterizando um formato afunilado. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 20 ROTEIRO PRÁTICO: SISTEMA ÓSSEO ESTRUTURAS GERAIS Verifique a divisão do esqueleto em: axial, apendicular e esplâncnico. Identifique, em ossos isolados, a classificação dos ossos quanto à forma: longos, planos, curtos, irregulares, pneumáticos e sesamóides. Estude agora as formações da estrutura e a arquitetura óssea. Identifique em cortes longitudinais de ossos longos o tecido ósseo. Observe que o tecido ósseo se organiza em substância compacta e substância esponjosa. A substância compacta (1) representa a arquitetura contínua e sólida que está na parte mais externa dos ossos, envolvendo a substância esponjosa (2), que representa a arquitetura porosa ou trabecular do tecido ósseo. Os ossos longos possuem em seu interior um espaço denominado canal medular (3), que aloja a medula óssea (4). A medula óssea também ocupa os espaços formados pela substância esponjosa em todos os ossos. Revestindo externamente o tecido ósseo encontra-se o periósteo (5) e internamente o endósteo (6). Em um segmento de osso longo jovem seccionado longitudinalmente, identifique as formações relacionadas com o crescimento desse, que são a cartilagem epifisial (7) e a metáfise (8). OSSOS ARTICULADOS Identifique, em um esqueleto articulado e com o auxílio da marcação abaixo, os ossos componentes do corpo do animal. Cintura torácica e Membro torácico (Cl) Clavícula * (Ul) Ulna (FgD) Falange distal (Co) Coracóide * (Cp) Carpos (SP) Sesamóides proximais (Es) Escápula (MC) Metacarpos (SD) Sesamóide distal (Um) Úmero (FgP) Falange proximal (Ra) Rádio (FgM) Falange média * Ossos ausentes nos animais domésticos. Cintura pélvica e Membro pélvico (Cx) Coxal (Pt) Patela (FgP) Falange proximal (Il) Ílio * (Ti) Tíbia (FgM) Falange média (Is) Ísquio * (Fi) Fíbula (FgD) Falange distal (Pu) Pube * (Ts) Tarso (SP) Sesamóides proximais (Fe) Fêmur (MT) Metatarso (SD) Sesamóide distal * Ossos que formam o osso coxal. Coluna vertebral e Região torácica (VC) Vertebras cervicais (VS) Vértebras sacrais (osso sacro) (At) Atlas (1ª vértebra cervical) (VCo) Vértebras coccígeas ou caudais (Ax) Áxis (2ª vértebra cervical) (Cos) Costelas (VT) Vértebras torácicas (Es) Esterno (VL) Vértebras lombares Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 21 Cabeça (Na) Nasal (In) Incisivo (Te) Temporal (Vo) Vômer (Fr) Frontal (Mx) Maxilar (Pl) Palatino (Et) Etmóide (Pr) Parietal (La) Lacrimal (Pt) Pterigóide (Md) Mandibular (Oc) Occipital (Zi) Zigomático (Ef) Esfenóide (Hi) Hióide (Ro) Rostral (suíno) OSSOS DESARTICULADOS Identifique, agora, os ossos desarticulados. Observe a descrição e a posição de cada osso, seguindo o roteiro a seguir. Faça a anatomia comparada de cada osso em relação às espécies domésticas. Após reconhecer as faces dos ossos, tente distinguir se o osso estudado faz parte do antímero direito ou esquerdo. Durante o estudo dos ossos desarticulados, observe os acidentes ósseos e reconheça formas que são denominadas de côndilo, cabeça, tróclea, túber, tubérculo, tuberosidade, trocânter, epicôndilo, linha, crista, espinha, asa, tábula, ramo, cavidades, fossas, fóveas, fissura, incisura, sulco, colo, arco, canal e forame. Esses acidentes podem servir como ponto de referência para o reconhecimento das faces e extremidades dos ossos e, consequentemente, de seu posicionamento no corpo. Assim, na descrição das faces e extremidades dos ossos, serão marcados (*), quando presentes, acidentes ósseos que são referência. Para ossos longos, observe que as extremidades correspondem às epífises proximais e distais. Já o corpo corresponde à diáfise. Asabreviaturas utilizadas serão: - Para as regiões dos ossos: face (F), extremidade (E), ângulo (A), margem (M) e corpo (C). - Para as posições dos ossos: cranial (Cr), caudal (Ca), dorsal (Dr), ventral (Vr), lateral (Lat), medial (ML), mediano (Mn), proximal (Pr), distal (Di), palmar (Pa), plantar (Pl) e médio (M). Cintura torácica e Membro torácico Clavícula (Cl): estabelece a união entre a escápula e o esterno, encontrando-se desenvolvida nos animais que realizam movimentos complexos com os membros torácicos, como caçar, subir em árvores e nadar. Dos animais domésticos, os carnívoros possuem uma clavícula rudimentar, representada por uma pequena placa oval cartilagínea, localizada cranialmente no ombro, na parte média do músculo braquiocefálico, sendo mais desenvolvida em gatos do que em cães. Em equinos, ruminantes e suínos, cujos membros torácicos realizam movimentos menos elaborados, no lugar da clavícula encontra-se apenas uma intersecção fibrosa no músculo braquiocefálico. Em aves, as clavículas são ossos delgados e semelhantes a hastes que estão ventralmente fundidas em uma lâmina achatada. Coracóide (Co): nos homens e nos animais domésticos, o osso coracóide está reduzido ao processo coracóide da escápula (acidente ósseo). Nas aves, este osso é desenvolvido e está direcionado ventro-caudalmente para articular-se com o esterno. Escápula (Es): é um osso plano que se situa lateralmente na parte crânio-dorsal do tórax, onde é mantida em união com o tronco por uma estrutura muscular, sem formar uma articulação convencional. Distalmente, articula-se com o osso úmero, formando a base da raiz do membro torácico. A escápula é prolongada dorsalmente por uma Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 22 porção não ossificada, a cartilagem da escápula (CEs), que aumenta a área para a fixação muscular. A cartilagem da escápula varia em tamanho nos diferentes animais domésticos e se torna cada vez mais calcificada e, portanto, mais rígida com a idade. A escápula é levemente triangular, embora menos no cão e no gato do que nas outras espécies domésticas. Apresenta como regiões próprias de descrição uma face lateral (espinha), uma face medial, uma margem cranial (tubérculo, na sua parte distal), uma margem caudal, uma margem proximal, um ângulo cranial, um ângulo caudal e um ângulo distal (cavidade). Úmero (Um): é um osso longo que se articula proximalmente com a escápula e distalmente com o rádio e a ulna. Dirige-se obliquamente, de sentido crânio-proximal para caudo-distal. Apresenta como regiões próprias de descrição uma extremidade proximal (cabeça e tubérculos), uma extremidade distal (côndilo), um corpo e suas respectivas faces lateral (crista), face medial (tuberosidade) face cranial e face caudal (fossa, na parte distal). Rádio (Ra): é o mais volumoso e cranial dos ossos do antebraço. Articula-se proximalmente com o úmero e distalmente com os ossos do carpo e caudo- lateralmente com a ulna Apresenta como regiões próprias de descrição uma extremidade proximal (cabeça), uma extremidade distal (tróclea), um corpo e suas respectivas faces lateral, face medial, face cranial e face caudal. Ulna (Ul): é o osso caudo-lateral do antebraço. Apresenta uma extremidade proximal, uma extremidade distal e um corpo. Sua extremidade proximal é mais desenvolvida que o restante. O corpo da ulna possui um desenvolvimento e uma relação com o rádio variada entre as espécies domésticas. Bovinos, equinos e suínos não possuem mobilidade na junção rádio-ulnar, já os carnívoros domésticos apresentam um pequeno grau de movimento entre estes ossos. Os pontos onde a ulna e o rádio não se unem são chamados de espaços interósseos. Nos equinos, a ulna se estende somente até o terço médio do rádio, apresentando-se fundida ao rádio e formando apenas um espaço interósseo. Os bovinos apresentam o corpo da ulna completo com três áreas de contato com o rádio que se encontram fundidos, formando dois espaços interósseos. Os suínos apresentam a ulna bem desenvolvida, sendo mais longa e consideravelmente mais pesada do que o rádio, ao qual se encontra fixada pelo ligamento interósseo. Nos caninos e felinos, a ulna é bem desenvolvida e cruza a superfície caudal do rádio médio-lateralmente, não se fundindo ao rádio. Carpo (Cp): a região do carpo é constituída de ossos curtos dispostos em uma fileira proximal, que se articula com as extremidades distais do rádio e da ulna, e uma fileira distal, que se articula a extremidade proximal dos metacarpos. Possui uma face dorsal, convexa e uma face palmar, ligeiramente côncava e irregular. A fileira proximal pode apresentar os ossos radial do carpo (CpR), intermédio do carpo (CpI), ulnar do carpo (CpU)e acessório do carpo (CpA). A fileira distal pode apresentar os ossos cárpico 1 (Cp1), cárpico 2 (Cp2), cárpico 3 (Cp3) e cárpico 4 (Cp4). Observe a distribuição dos ossos do carpo (sentido medial-lateral) nas espécies domésticas. - Equino: radial do carpo - intermédio do carpo - ulnar do carpo - acessório do carpo cárpico 1 (pode estar ausente) - cárpico 2 - cárpico 3 - cárpico 4 - Bovino: radial do carpo - intermédio do carpo - ulnar do carpo - acessório do carpo cárpico 2 e 3 - cárpico 4 - Suíno: radial do carpo - intermédio do carpo - ulnar do carpo - acessório do carpo cárpico 1 - cárpico 2 - cárpico 3 - cárpico 4 - Canino: intermediorradial do carpo - ulnar do carpo - acessório do carpo cárpico 1 - cárpico 2 - cárpico 3 - cárpico 4 Metacarpo (MC): são ossos longos que apresentam uma extremidade proximal (base), uma extremidade distal (tróclea) e um corpo com sua face dorsal, face palmar, face lateral e face medial. Sua extremidade proximal apresenta faces Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 23 articulares com o carpo e sua extremidade distal sustenta um dedo, sendo que os animais domésticos podem ter até cinco metacarpos. - Equino: metacárpico 3 é o único desenvolvido. Os metacárpicos 2 e 4 são rudimentares e se encontram associados à face palmar do metacárpico 3. - Bovino: os metacárpicos 3 e 4 são desenvolvidos e encontram-se fundidos. O metacárpico 5 é rudimentar. O metacárpico 3 e 4 apresenta, nas suas faces dorsal e palmar, os sulco longitudinais dorsal e palmar, respectivamente, que são um vestígio da fusão destes ossos. - Suínos: os metacárpicos 2, 3, 4 e 5 são desenvolvidos, sendo os metacárpicos 3 e 4 maiores que os demais. - Caninos: os metacárpicos 1, 2, 3, 4 e 5 estão presentes, sendo o metacárpico 1 rudimentar e o 3 e 4 os maiores. Falanges (Fg): os animais domésticos apresentam três falanges (proximal, média e distal) em cada dedo, sendo que suas faces palmares se relacionam com os ossos sesamóides. A falange proximal e a falange média apresentam uma extremidade proximal (base), uma extremidade distal (cabeça) e um corpo. A falange distal está modificada, de acordo com o tipo de apoio, nos diferentes animais domésticos. - Equino: dedo 3. - Bovino: o dedo 3 e o dedo 4 são desenvolvidos, já o dedo 2 e o dedo 5 são rudimentares. - Suíno: possui os dedos 2, 3, 4 e 5 desenvolvidos, sendo os dedos 3 e 4 os mais desenvolvidos e que apoiam no solo. Os dedos 2 e 5, apesar de apresentarem as três falanges, não tocam o solo e são denominados de paradígitos. - Canino: possui os dedos 1, 2, 3, 4 e 5 desenvolvidos, sendo que o dedo I não toca o solo e, geralmente, apresenta apenas duas falanges. Sesamóides (S): cada dedo possuem, em sua superfície palmar, dois sesamóides proximais e um sesamóide distal. Os sesamóides proximais situam-se na face palmar da articulação metacarpo-falângica, já o sesamóide distal situa-se na face palmar da articulação interfalângica distal. Nos caninos o sesamóide distal pode permanecer cartilaginoso. Estes também podem apresentar ossos sesamóides na facedorsal das articulações metacarpo-falângicas (sesamóides dorsais). O osso sesamóide distal de equinos é chamado de navicular (termo zootécnico). Cintura pélvica e Membro pélvico Osso coxal (Cx): é um osso irregular formado pela união dos ossos ílio (Il), ísquio (Is) e pube (Pu), sendo que a fusão completa entre estes ossos ocorre no animal adulto. O ílio situa-se cranialmente, o ísquio caudalmente e o pube medianamente. Ossos coxais direito e esquerdo se unem ventro-medianamente por uma juntura cartilagínea fibrosa denominada sínfise pélvica. A sínfise pélvica é formada pela união ventro-mediana dos ossos pube e ísquio nos animais domésticos. Em animais com postura bípede, a tendência é a união ocorrer apenas entre os ossos pube. Já nas aves, não ocorre a fusão entre os coxais direito e esquerdo. Ventro-lateralmente, a união entre os ossos ílio, ísquio e pube forma uma concavidade denominada acetábulo para o encaixe do osso fêmur. - Ílio: apresenta uma asa (As) e um corpo. A asa é a porção mais larga do ílio e possui uma face glútea (FGlu), voltada dorsal ou lateralmente, e uma face sacropélvica (FSp), voltada ventral ou medialmente. A asa do ílio fica em uma direção mais transversal no bovino e equino e mais sagital nos suínos e caninos. - Pube: é o menor do três ossos, sendo constituído por um ramo cranial (RCr), um ramo caudal (RCa) e um corpo. O ramo cranial dirige-se crânio-lateralmente e termina Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 24 no acetábulo. O ramo caudal é contínuo com o ísquio. O corpo é a região onde o ramo cranial e o ramo caudal se unem. Isquio: apresenta um ramo (R), um corpo e uma tábula (Tb). O ramo do ísquio é a porção mais medial e está unido medianamente com o ramo do pube do antímero oposto para formar a parte caudal da sínfise pélvica. O corpo destaca-se do ramo e dirige-se lateralmente para o acetábulo. A tábula é a porção plana e caudal. Fêmur (Fe): é um o osso longo que se articula proximalmente com o osso coxal e distalmente com a tíbia, a fíbula e a patela. Encontra-se em uma disposição oblíqua de sentido caudo-proximal para crânio-distal. Apresenta como regiões de descrição uma extremidade proximal (cabeça), uma extremidade distal (côndilo) e um corpo com sua respectiva face lateral (fossa, na parte distal), face medial, face cranial (tróclea, na parte distal) e face caudal. Patela (Fe): é um osso sesamóide que se dispõe cranialmente na articulação entre os ossos fêmur e tíbia, sustentando a passagem do tendão do músculo quadríceps femoral. A patela possui um formato mais oval em suínos e carnívoros e triangular em equinos e ruminantes. Possui face proximal (base), face distal (ápice), face caudal (articular) e face cranial (cutânea). Tíbia (Ti): é um osso longo de formato triangular em sua porção proximal, que se articula proximalmente com o fêmur e distalmente com o tálus (osso do tarso). Está situado crânio-medialmente em relação à fíbula. Apresenta uma extremidade proximal, uma extremidade distal (cóclea) e um corpo. A região proximal do corpo é trifacetada (formato triangular), por isso descreve-se nesta uma face lateral, uma face medial e uma face caudal, que são limitadas por uma margem cranial (tuberosidade), uma margem lateral (relacionada com a fíbula) e uma margem medial. A parte distal do corpo assume um formato mais areddondado, apresentando as faces características dos ossos longos dos membros (lateral, medial, cranial e caudal). Fíbula (Fi): localiza-se caudo-lateralmente à tíbia, sendo mais delgada que essa. Apresenta uma extremidade proximal (cabeça), uma extremidade distal (maléolo) e um corpo. O corpo da fíbula apresenta diferentes níveis de desenvolvimento nos animais domésticos. Em bovinos, o corpo está ausente, já que seu esboço embrionário cartilagíneo não sofre ossificação, formando apenas um cordão fibro-cartilagíneo. Em equinos, o corpo da fíbula estende-se até o terço médio da tíbia, formando apenas um espaço interósseo na perna. Em carnívoros, o corpo da fíbula é desenvolvido, sendo que sua parte distal encontra-se unida à tíbia, sem formar um espaço interósseo. Em suínos, a fíbula é desenvolvida e forma o espaço interósseo contínuo na perna. Tarso (Ts): é formado por um conjunto de ossos dispostos em três fileiras. Proximalmente, o tarso articula-se com a tíbia e, distalmente, com o metatarso. Os ossos do tarso articulam-se entre si e, portanto, apresentam várias faces articulares. O conjunto dos ossos társicos possui para descrição uma extremidade proximal, uma extremidade distal, uma face lateral, uma face medial, uma face dorsal e uma face plantar. A fileira proximal é constituída de dois ossos relativamente grandes, o tálus (TsT) (medial) e o calcâneo (TsC) (lateral). A fileira média compreende o osso central do tarso (TsCe) e a parte proximal do társico quarto. A fileira distal pode apresentar os ossos társico 1 (Ts1), társico 2 (Ts2), társico 3 (Ts3) e társico 4 (Ts4). Observe a distribuição dos ossos do carpo (sentido medial-lateral) nas espécies domésticas. - Equino: tálus – calcâneo – central társico 1 e 2 – társico 3 – társico 4 - Bovino: tálus – calcâneo – centroquarto társico 1 – társico 2 e 3 - Suíno: tálus – calcâneo – central társico 1 – társico 2 – társico 3 – társico 4 Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 25 - Canino: tálus – calcâneo – central társico 1 – társico 2 – társico 3 – társico 4 Metatarso (MT): são muito semelhantes ao metacarpos, porém os ossos metatársicos são comparativamente maiores e possuem uma forma mais circular em um corte transversal. São ossos longos que apresentam uma extremidade proximal (base), uma extremidade distal (tróclea) e um corpo com sua face dorsal, face palmar, face lateral e face medial. Sua extremidade proximal apresenta faces para a articulação com o tarso e sua extremidade distal sustenta um dedo. - Equino: metatársico 3 é desenvolvido. Os metatársicos 2 e 4 são rudimentares e se encontram associados à face plantar do metatársico 3. - Bovino: os metatársicos 3 e 4 são desenvolvidos e encontram-se fundidos. O metatársico 2 é rudimentar. O metatársico 3 e 4 apresenta, nas suas faces dorsal e palmar, os sulcos longitudinais dorsal e palmar, respectivamente, que são um vestígio da fusão destes ossos. - Suíno: os metatársicos 2, 3, 4 e 5 são desenvolvidos, sendo os metatársicos 3 e 4 maiores que os demais. - Canino: os metatársicos 1, 2, 3, 4 e 5 estão presentes, sendo o metatársico 1 rudimentar e o 3 e 4 os maiores. Falanges (Fg): as características das falanges dos dígitos do membro pélvico são similares as do membro torácico, porém algumas diferenças devem ser comentadas. Os equinos apresentam falanges um pouco menores comparativamente ao membro torácico. Os caninos não apresentam o dedo 1 desenvolvido na maioria dos indivíduos. Porém, em algumas raças, especialmente cães de grande porte, um sexto dedo mais medial pode estar presente. Este dedo representa uma variação da espécie, sendo que, quando presente, não se articula com o metatarso, estando inserido apenas por tecido fibroso. Sesamóides (S): são semelhantes aos descritos para o membro torácico. Coluna vertebral e Região torácica Vértebras (V): todas as vértebras têm uma composição básica comum, que mostra adaptações nas regiões corpóreas, de acordo com a função local. Cada vértebra apresenta para descrição um corpo e um arco (Ar), com um processo espinhoso (mediano-dorsal) e um processo transverso (lateralmente). O corpo da vértebra é a parte da vértebra que dá resistência à coluna vertebral, sendo uma parte curta do osso, de característica cilíndrica. Os corpos das vértebras são unidos por uma cartilagem fibrosa denominada disco intervertebral. O arco da vértebra localiza-se dorsalmente ao corpo. Internamente, observa-se um espaçoformado pelas vértebras denominado de canal vertebral, que aloja e protege a medula espinhal. O canal vertebral apresenta um diâmetro variável, sendo sua maior mensuração na região do atlas, o que permitir extensos movimentos nessa região; reduz no áxis, alargando-se na junção das regiões cervical e torácica para acomodar o alargamento cervical da medula espinhal. Além desse ponto, estreita-se e novamente se amplia na região lombar para acomodar o alargamento lombar da medula espinhal. O diâmetro do canal vertebral diminui rapidamente caudalmente ao segundo segmento sacral, deixando de ser completo, aproximadamente, na quarta vértebra caudal. A união entre os arcos das vértebras podem formar dorsalmente aberturas, os espaços interacuais, que são utilizados na clínica para acessar o canal vertebral. A união de duas vértebras permite a formação de uma abertura, o forame intervertebral, para a passagem dos nervos espinhais. - Vértebras Cervicais (VC): embora o comprimento do pescoço varie muito, os mamíferos possuem sete vértebras cervicais, com exceção da preguiça, peixe-boi e Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 26 tamanduá. A primeira e a segunda vértebra cervical facilitam a movimentação livre da cabeça e, por virtude de sua função especializada, possuem forma diferente das demais. A primeira vértebra cervical é denominada de Atlas (At), é uma vértebra atípica, desprovida de corpo e processo espinhoso. A segunda vértebra cervical também apresenta modificações e é denominada de Áxis (Ax), sendo a mais longa das vértebras cervicais e caracteriza-se pelo dente ou processo odontóide que se projeta cranialmente do corpo. - Vértebras Torácicas (VT): as vértebras torácicas juntamente com os pares de costelas e o esterno, formam o limite ósseo da cavidade torácica. Caracterizam-se por possuir fóveas para articulação com as costelas, processos espinhosos desenvolvidos e processos transversais curtos e grossos. - Vértebras Lombares (VL): a mobilidade das vértebras é progressivamente reduzida no sentido crânio-caudal. As vértebras lombares são ainda mais firmemente ancoradas, para dar a região a estabilidade necessária para a transmissão dos impulsos de locomoção do membro pélvico para o corpo, e providenciar um ponto de fixação para a parede abdominal, a qual tem que suportar o peso dos órgãos abdominais. As vértebras lombares caracterizam-se por apresentarem um processo transversal bastante desenvolvido. - Vértebras Sacrais (VS): as vértebras sacrais não possuem mobilidade devido à necessidade de estabilidade biomecânica da região. A ossificação dos discos intervertebrais e a união de outras partes das vértebras levam a fusão das vértebras sacrais, formando o osso sacro. Em carnívoros esta fusão é completada com 1,5 ano de idade, em ruminantes com 3 ou 4 anos e em equinos com 4 ou 5 anos. O sacro articula-se cranialmente com a última vértebra lombar, caudalmente com a primeira vértebra coccígea e lateralmente com o osso do quadril. - Vértebras Coccígeas ou Caudais (VCo): nos animais domésticos, o número de vértebras coccígeas varia consideravelmente, não somente em diferentes espécies, mas também de raça para raça. As vértebras da raiz da cauda apresentam todas as características da vértebra típica, mas, em sentido distal, estas características são gradualmente perdidas e os processos começam a desaparecer, assim como o canal vertebral, sendo que as últimas têm forma de cilindro. Costelas (Cos): são constituídas de uma extremidade dorsal, uma extremidade ventral e um corpo com suas face lateral, face medial, margem cranial e margem caudal. Esterno (Es): é formado pela união de segmentos ósseos denominados esternébras (Esb). Apresenta uma extremidade cranial (manúbrio do esterno - EsM), uma extremidade caudal (processo xifóide - EsX) e um corpo. Cabeça Osso Nasal (Na): encontra-se na porção dorso-rostral da cabeça, formando a parede dorsal da cavidade nasal. Lateralmente, cada osso nasal está unido aos ossos maxilar e lacrimal e caudalmente com o osso frontal. Osso Frontal (Fr): nos equinos, suínos e caninos, encontra-se em uma posição média da face dorsal da cabeça, Em bovinos, dispõe-se dorso-caudalmente, estendendo-se até a face caudal da cabeça, podendo formar o acidente ósseo de sustentação do corno. Situa-se em uma posição média aos ossos nasal e parietal. Osso Parietal (Pr): encontram-se na face dorsal, caudalmente ao osso frontal nos animais domésticos, com exceção dos bovinos, onde este osso fica na face caudal da cabeça. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 27 Osso Occipital (Oc): está situado na face caudal do crânio, estendendo-se ventralmente. Relaciona-se dorso-rostralmente com o osso parietal e ventro- rostralmente com o osso esfenóide. O osso occipital possui como regiões de descrição as partes basilar, laterais e escamosa. A parte basilar encontra-se ventralmente, na base do crânio, relacionado-se diretamente com o osso esfenóide. As partes laterais situam-se lateralmente ao forame magno e limitam-se com os ossos temporais. A parte escamosa situa-se dorsalmente às partes laterais e forma o suporte da face caudal da cabeça. Osso Incisivo (In): situa-se rostralmente à maxila, formando a base óssea do extremo rostral do palato ósseo. Sustentam os dentes incisivos superiores nos animais domésticos, com exceção dos ruminantes, que não apresentam estes dentes. Articula- se com os ossos nasal, maxilar e vômer. Osso Maxilar (Maxila) (Mx): está situado na face latero-rostral e ventro-rostral da cabeça. Articula-se com a maioria dos ossos do esplancnocrânio e com os ossos frontal e temporal. O osso maxilar sustenta os dentes pré-molares e molares superiores. Osso Zigomático (Zi): situa-se caudo-dorsalmente à maxila, formando parte da parede rostro-ventral da órbita óssea. Osso Lacrimal (La): é um pequeno osso intercalado entre os ossos nasal e frontal, dorsalmente, e maxila e zigomático, ventralmente. Forma parte da parede rostro-dorsal da órbita óssea. Osso Temporal (Te): forma a maior parte da parede latero-caudal do crânio. Situa-se entre os ossos occipital (caudalmente), parietal (dorsalmente), frontal (rostralmente) e esfenóide (ventralmente). Articula-se também com a mandíbula e o osso hióide. Consiste de três partes de descrição: a escamosa (dorsalmente), a timpânica (ventralmente à porção escamosa, fazendo parte da formação da orelha) e a petrosa (lateralmente). Osso Palatino (Pl): está situado na parte caudal do palato ósseo. Articula-se com os ossos maxilar, pterigóide, esfenóide, vômer, etmóide, frontal e lacrimal. Apresenta uma porção horizontal e outra perpendicular. Osso Pterigóide (Pt): possui um formato laminar e dispõe-se na porção ventro-medial, entre os ossos esfenóide e palatino. Osso Esfenóide (Es): é um osso único e mediano situado na face ventro-caudal da cabeça. Relaciona-se com os ossos occipital, temporal, pterigóide vômer e palatino. Possui três regiões para descrição: basi-esfenóide (caudal), pré-esfenóide (rostral) e asa do esfenóide (lateral). Osso Etmóide (Et): situa-se rostralmente ao esfenóide e projeta-se dorso- rostralmente, participando da formação da cavidade nasal. Possui uma estrutura complexa e apresenta quatro partes para descrição: lâmina cribiforme (de direção transversal), dois labirintos (lateralmente) e a lâmina perpendicular (de direção sagital). Osso Vômer (Vo): é um osso mediano que participa da formação da parte ventral do septo nasal. É composto de uma fina lâmina para encaixe da lâmina perpendicular do osso etmóide e da cartilagem do septo nasal. Osso Mandibular (Mandíbula) (Md): forma toda a porção ventral do esqueleto da cabeça. Suporta os dentes inferiores e articula-se com a porção escamosa do osso temporal. Consiste de três partes de descrição: um corpo(projeção rostral), um ângulo (ponto de mudança de direção do corpo) e um ramo (projeção dorsal). Os ossos do antímero direito e esquerdo se fundem com a idade e, usualmente, são descritos como um único osso. Nos bovinos, esta fusão não é completa mesmo na idade avançada. Osso Rostral (Ro): é um osso presente apenas em suínos que está localizado na extremidade rostral da face, compondo a formação estrutural do nariz externo. Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Ósseo Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 28 Osso Hióide (Hi): é um osso que se encontra entre a cabeça e o pescoço, medialmente a mandíbula, unindo-se caudo-dorsalmente com o processo estilóide do osso temporal, rostro-ventralmente com a língua e caudo-ventralmente com a laringe. Um grande número de músculos se inserem no osso hióide. Possui os seguintes segmentos: basi-hióide (dispõe-se transversalmente e de sua margema rostral projeta- se o processo lingual); tireo-hióide (projeta-se do basi-hióide e dirigem-se caudalmente para se articular com a cartilagem tireóidea da laringe); cerato-hióide (projeção dorsal que se articula com o epi-hióide); epi-hióide (pequeno segmento ósseo em forma de “L”, que se dispõe entre o cerato-hióide e o estilo-hióide); estilo- hióide (dirige dorso-caudalmente para se prender no processo estilóide do osso temporal). Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Articular Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 29 SISTEMA ARTICULAR (ARTROLOGIA/ SINDESMOLOGIA) 1. CONCEITO E FUNÇÕES Os segmentos ósseos e cartilagíneos do corpo são unidos por tipos diferentes de materiais para proporcionar estabilidade, flexibilidade ou capacidade de movimento ao esqueleto. Cada união dos segmentos do esqueleto é chamada de juntura ou articulação. Assim, o sistema articular pode ser definido como o conjunto de articulações ou junturas, ou seja, o conjunto de formações que unem as partes rígidas e semi- rígidas (ossos e cartilagens) do corpo dos animais para formar o esqueleto. O estudo das junturas do corpo dos animais é chamado de artrologia (do latim, articulare – junta de ossos, e do grego, arthron – juntura). Outro termo que se refere às junturas é sindesmologia, que significa estudo dos ligamentos, sendo, portanto, menos abrangente que a artrologia. Podem ser atribuídas as seguintes funções para o sistema articular: União dos segmentos do esqueleto; Fornecer, em alguns casos, capacidade de movimento entre os segmentos do esqueleto; Fornecer estabilidade às uniões ósseas e cartilagíneas; Permitir o movimento ou a estabilidade necessária para a locomoção (sistema passivo para a locomoção). 2. CLASSIFICAÇÃO DAS JUNTURAS As junturas podem ser classificadas de acordo com vários fatores, porém a mais referenciada é aquela que se relaciona com o tipo de tecido interposto entre as superfícies articulares, pois as demais classificações são relacionadas a essa. Classificações das junturas quanto à: Tipo de tecido interposto: o material que realiza a união entre os segmentos articulares pode ser tecido fibroso, cartilagíneo ou líquido sinovial, o que as classifica em junturas fibrosa, cartilagínea ou sinovial, respectivamente; Nota 1: os segmentos do esqueleto podem ser unidos por músculos, este tipo especial de juntura é denominado de sinsarcose. A maioria dos animais domésticos apresenta uma sinsarcose entre a cintura torácica e o tronco. Outros animais, que necessitam de um maior grau de movimento entre o membro torácico e o tronco, apresentam uma junção sinovial nesta região, que inclui um maior número de ossos (ex. primatas – escápula e clavícula e aves – escápula, clavícula e coracóide). Proximidade: as superfícies articulares podem estar unidas fixamente pelo tecido interposto (continuidade) ou apresentar um espaço entre elas que permite o seu deslizamento (contiguidade), desta forma as junturas podem ser classificadas em contínuas ou contíguas. Nota2: As junturas imóveis e as semimóveis (em alguns casos) podem sofrer um processo progressivo de ossificação denominado de sinostose. Este processo é importante para a estabilidade de algumas regiões (ex. ossos rádio e ulna em equinos e bovinos). Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Articular Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 30 Mobilidade: as uniões podem permitir movimentos, acomodá-los (movimentos elásticos) ou não permiti-los, isto permite classificá-las em móveis, semimóveis (ou semifixas) e fixas (ou imóveis), respectivamente; Formas das superfícies articulares: a área de contato dos segmentos do esqueleto que se articulam podem se encaixar perfeitamente ou não, assim as junturas podem ser classificadas em concordantes (encaixe pelas formas opostas das superfícies) e discordantes (encaixe auxiliado por outras estruturas articulares); Número de segmentos: dois ou mais segmento do esqueleto podem se unir para formar uma juntura, desta forma estas podem ser classificadas em simples (dois segmentos) ou compostas (mais que dois segmentos). 3. CARACTERÍSTICAS 3.1 Junturas Fibrosas São aquelas em que o meio de união interposto entre os segmentos articulares é tecido conjuntivo fibroso. São junturas fixas, contínuas, localizadas em locais que necessitam de estabilidade para a sustentação ou proteção corpórea. As junturas fibrosas, geralmente, sofrem sinostose. Três tipos de junturas fibrosas são reconhecidos: Sindesmose: possui uma grande quantidade de tecido fibroso interposto que pode formar um ligamento interósseo. Ocorrem em regiões que as ligações ósseas são mais extensas e necessitam de estabilidade para a sustentação corpórea (ex. entre os ossos rádio e ulna de equinos, bovinos e suínos). Sutura: tem menos tecido fibroso que as sindesmoses e ocorrem na maioria dos ossos da cabeça (ex. entre os ossos frontal e nasal). As suturas podem ser divididas de acordo com a forma das superfícies articulares em: Plana: linha de junção reta; Serreada: junção por dentículos engrenados entre as superfícies articulares; Escamosa: superfícies articulares se encaixam em forma de bisel, escama; Folheada: a superfície articular de um dos ossos se encaixa numa fissura ou reentrância do outro osso; Esquindelese: uma superfície tem forma de crista e se aloja na superfície em forma de fenda (“calha”) do outro osso. Nota 3: No feto, a quantidade de tecido conjuntivo fibroso entre as superfícies articulares é maior, o que confere aos ossos do crânio fetal um certo grau de flexibilidade. Após o nascimento, ocorre um processo de ossificação progressivo das suturas (sinostose), que causa a perda da mobilidade dos ossos e, em muitos casos, dos seus limites. Gonfose (juntura falsa): entre os dentes e os alvéolos dentários. A gonfose é considerada uma juntura falsa porque os dentes não se caracterizam como osso ou cartilagem. 3.2 Junturas Cartilagíneas São aquelas em que o meio de união interposto entre os segmentos articulares é tecido cartilagíneo. São junturas semifixas, contínuas, localizadas em regiões que possuem baixo movimento local e que precisam de estabilidade, sendo que estas junturas apenas acomodam elasticamente o movimento sem permitir o deslizamento das Anatomia Sistêmica – Aparelho Locomotor / Sistema Articular Profa. Dra. Patrícia Orlandini Gonçalez 31 superfícies articulares. As junturas cartilagíneas podem sofrer sinostose, principalmente em animais mais velhos. Segundo a natureza histológica da cartilagem de união, classificam-se dois tipos de juntura cartilagínea: Sincondrose: juntura cartilagínea constituída por cartilagem hialina (ex. entre as estérnebras do corpo do osso esterno); Sínfise: juntura cartilagínea constituída por cartilagem fibrosa (ex. entre os ossos coxais – sínfise pélvica). Nota
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