Buscar

ANTIGUIDADE E MEDIEVO - Todos os Textos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 378 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 378 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 378 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EA
D
6
Aspectos Gerais da Cultura 
Grega
"A única moeda verdadeiramente boa e pela qual con-
vém trocar todas as restantes é a sabedoria" (PLATÃO, 
FILÓSOFO GREGO).
1. OBJETIVOS
• Identificar e demonstrar alguns aspectos da cultura gre-
ga, tais como sua literatura, seu teatro, sua filosofia, sua 
ciência, sua arquitetura e pintura e sua historiografia.
• Definir os papéis femininos entre os antigos gregos.
2. CONTEÚDO
• Pensamento grego por meio de aspectos da sua cultura: 
manifestações artísticas, historiografia, filosofia, ciências 
e funções femininas na sociedade grega.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
© História Antiga I172
1) Sugerimos que você visite, se puder, em São Paulo, o 
MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP), na ci-
dade universitária. Lá, há peças de cerâmica, entre ou-
tros objetos de arte e da cultura grega.
2) Para adentrar mais no universo do teatro, sugerimos que 
você leia, pelo menos, uma peça de teatro grego. Édipo-
-Rei, de Sófocles, por exemplo, conta-nos a história do 
mito de Édipo, que deu origem a um dos pilares da Psi-
canálise Clássica, o Complexo de Édipo. Você só tem a 
ganhar com mais conhecimento. Leia, também, a obra A 
verdade e as formas jurídicas (Nau Editora), do filósofo 
Michel Foucault; nela, há uma análise das práticas judi-
ciárias na Grécia Antiga por meio do mito de Édipo.
3) Antes de iniciar a leitura desta unidade, é interessante 
você conhecer um pouco da biografia de um dos pensa-
dores cujas ideias norteiam o estudo deste Caderno de 
Referência de Conteúdo.
Danilo Lucas Marcelino
Danilo Lucas Marcelino é ator, graduado em Artes Cênicas pela Universidade 
Federal de Ouro Preto (UFOP). Fez parte do elenco da peça O Amor de Fedra, 
encenada pela Companhia Partículas Elementares.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Estamos iniciando nossa última unidade.
Depois de passarmos por guerras sangrentas, heróis apai-
xonados, deuses vingativos e mitos fantásticos, chegou a hora de 
conhecermos outros aspetos da cultura grega, tais como:
1) artes;
2) filosofia;
3) a visão sobre a História;
4) o estatuto da mulher grega.
Vamos a esse universo cultural grego interessante!
Claretiano - Centro Universitário
173© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
5. ASPECTOS DA ARTE GREGA
A arte é a representação dos aspectos ideológicos e culturais 
de um povo, estando relacionada às suas condições de produção 
material e social. Assim, a arte grega varia conforme seus momen-
tos históricos, mudanças e transformações políticas, econômicas e 
sociais. Todavia, os livros didáticos tendem a retratar a arte grega 
do Período Clássico, quando os gregos atingem o equilíbrio formal 
que se tornou a sua marca.
A seguir, veremos, no Quadro 1, o resumo da Arte por meio 
dos tempos da história grega. É importante que você perceba que 
a arte grega não se limita às características do Período Clássico, so-
frendo transformações conforme as características sociais, econô-
micas e políticas de cada contexto. Outra consideração que deve-
mos fazer é que a divisão em períodos é um instrumento didático 
para facilitar o ensino e a aprendizagem, mas esses períodos e as 
características artísticas de cada um não são tão fixos como pode 
parecer.
Quadro 1 A Arte por meio dos tempos da história grega.
PERÍODO CRONOLOGIA CARACTERÍSTICAS
Arte cretense e 
micênica 45.000-1.220 a.C.
Produção de estátuas de metal e mármore, 
palácios, ourivesaria e tholos (grandes 
templos gregos de plantas circulares). 
Exaltação da aristocracia guerreira nas 
representações. Reprodução de elementos 
marinhos e animais.
Medievo-helênico 
(após as invasões 
dos dórios)
1.220-900 a.C.
Formas modestas de arte decorativa. 
Produção de esculturas em terracota (argila 
modelada).
Período 
Geométrico 900-700 a.C.
Expressão de formas geométricas em 
detrimento das representações figurativas.
Período 
Orientalizante 700-610 a.C.
Devido aos contatos com o Oriente, aparece a 
arte colorida, decorada e grandiosa.
Período Arcaico 610-490 a.C.
Início da arte grega autônoma, sem 
referências orientais. Produção de templos 
e esculturas em pedra. Figura humana 
fortemente representada.
© História Antiga I174
PERÍODO CRONOLOGIA CARACTERÍSTICAS
Período Clássico 490-323 a.C.
Busca de equilíbrio, representações do corpo 
humano de forma dinâmica, procurando a 
beleza ideal.
Período 
Helenístico 323-31 a.C.
Busca de emoção. Arte grandiosa, minimalista 
e rebuscada. Mistura de elementos gregos e 
orientais. Os romanos recriaram peças de arte 
desse período.
Portanto, a arte grega passou por transformações, conforme 
os períodos históricos. Seu traço fundamental foi a incessante bus-
ca por equilíbrio formal – seja na arquitetura e na escultura, seja 
nas demais manifestações – e pela beleza.
O esquema de ordem, taksis, e de racionalização refletiu, 
também, na urbanização, fazendo que as póleis gregas fossem bem 
estruturadas, com ruas paralelas (FUNARI, 2004). Essa concepção 
levou as esculturas a se aproximarem da realidade em tamanho e 
perfeição, no desenho de músculos e traços físicos.
É possível que você se questione sobre as expressões artís-
ticas gregas e sobre nomes de artistas da literatura, da música, da 
arquitetura, da pintura, da cerâmica e do teatro.
Chegou, portanto, o momento de aprofundarmo-nos nesse 
assunto.
Literatura e música
Os gregos desenvolveram a poesia, mas não escreveram ne-
nhum texto literário em prosa. A poesia, em geral, era:
• Épica: conta as façanhas de heróis, tais como os poemas 
de Homero.
• Lírica: hinos dedicados aos deuses. Esse tipo de poesia 
recebeu esse nome por ser cantado com o acompanha-
mento da lira.
No gênero lírico, daremos atenção especial aos poemas elegía-
cos, que tratavam do tema "amor". Arquíloco de Paros, do século 7º 
a.C., foi o primeiro poeta grego a usar a elegia de forma mais pessoal.
Claretiano - Centro Universitário
175© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Alceu e a poetisa Safo criaram seus poemas na Ilha de Lesbos 
(Mar Egeu), por volta do século 6º a.C., e estes foram, mais tarde, adap-
tados pelo romano Horácio para a poesia latina. Há uma discussão so-
bre a poetisa Safo, a primeira de destaque da literatura ocidental. Sabe-
mos que, no mundo grego, as mulheres nunca se dedicavam à poesia, 
a qual era uma atividade exclusivamente masculina. Mas Safo ousou 
poetar. Seus poemas de amor e erotismo eram dedicados a mulheres, 
talvez para se passar por um homem, já que exercia um ofício masculi-
no, ou talvez porque ela realmente gostasse de mulheres. Logo, Safo foi 
considerada homossexual, e a ilha onde ela morou, Lesbos, rendeu seu 
nome ao homossexualismo feminino: o lesbianismo.
A seguir, leia um poema de Safo e repare que é um verso de 
amor em tom erótico para uma mulher.
A Átis ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multifl ores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros.
Da sua pele em minha pele!
[...] 
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...]
Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não (SAFO, 2011).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© História Antiga I176
Outra poetisa conhecida é Corina, escritora lírica do século 
6º a.C., mas há poucos fragmentos de poemas tidos como de sua 
autoria. Ela escreveu sobre lendas de sua terra natal, a Tânagra.
Conforme estudamos na unidade anterior, o poeta Hesíodo, 
que cantavaos mitos gregos, lendas e valores éticos, teve bastante 
destaque.
Outro poeta grego foi Píndaro (século 6º a.C.), que escreveu 
odes e foi discípulo da poetisa Corina.
A música grega não era separada da poesia; os versos, em 
sua maioria, eram feitos para serem cantados. Os principais instru-
mentos musicais eram:
1) a lira;
2) a flauta, tocada, em geral, em pares de músicos;
3) a gaita de foles;
4) a cítara, instrumento utilizado por músicos profissionais 
– uma espécie de lira.
O canto coral também era uma importante manifestação 
musical, sendo utilizado nas festas cívicas e religiosas.
Como nos informa Harvey (1998), os filósofos Platão e Aris-
tóteles criticavam os flautistas, mas a cerâmica atesta, em suas re-
presentações, a existência de escolas de flautistas em Atenas.
Arquitetura, pintura e escultura
A arquitetura sobressaiu na construção de templos e edifí-
cios públicos. Os materiais utilizados eram pedra, mármore e tijolo. 
De estrutura bem simples, sem emprego de arcos nem abóbadas, 
houve três estilos fundamentais na arquitetura, como observare-
mos nas Figuras 1, 2 e 3.
 Dórico: antigo, com coluna sólida e sem base, e capitel 
(pilar de uma coluna, balaústre) liso.
Claretiano - Centro Universitário
177© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Figura 1 Capitel dórico.
• Jônico: leve, com colunas finas, base tripla e capitel em voluta.
Figura 2 Capitel jônico.
• Coríntio: densamente trabalhado, é a combinação dos es-
tilos dórico e jônico.
Figura 3 Capitel coríntio.
© História Antiga I178
O Parthenon, em Atenas, é não só um belo exemplo de ar-
quitetura grega, mas também um templo grego bastante conhe-
cido. Como nos sugere Funari (2004), descrevê-lo torna-se funda-
mental pelos sentimentos que ele causa até hoje e para termos a 
noção de alguns aspectos da arte grega.
O Parthenon (Figura 4) começou a ser construído em 447 
a.C., em mármore e no estilo dórico. Seu comprimento era de 
69,50 metros por 30,86 metros de altura. Dentro, havia a estátua 
da deusa Atena, esculpida por Fídias, e dois cômodos: uma sala 
conhecida como Hekatompedos e outra como Parthenon.
Até o século 5º d.C., o templo permaneceu intacto, trans-
formado em igreja cristã. Com as ocupações turcas na Grécia, du-
rante o final da Idade Média, o templo tornou-se uma mesquita 
turca. Maus tratos e pilhagens destruíram parte do local, e muitas 
de suas peças foram levadas para museus, tais como o Museu Bri-
tânico, na Inglaterra.
Figura 4 Parthenon de Atenas.
Claretiano - Centro Universitário
179© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Os gregos preocupavam-se em representar e privilegiar, nas 
esculturas, o homem e seus movimentos. O nome de destaque 
aqui foi Fídias, contemporâneo de Péricles, e suas inovações em 
Atenas.
Enquanto as estatuárias egípcia e oriental, em geral, representavam 
deuses e reis como formas perfeitas e imóveis, os gregos passaram 
a mostrar os movimentos, músculos, como é o caso da estatuária 
que figurava um atleta (FUNARI, 2004, p. 74).
A pintura grega esteve ligada à escultura. Os gregos utiliza-
ram figuras em relevo e efeitos de luz e sombra.
Cerâmica
A cerâmica é um objeto universal, utilizado pelo homem des-
de sua sedentarização. A arte grega teve difusão por meio das pe-
ças de cerâmica. Nesse caso, não apenas o formato das peças era 
uma obra de arte, mas também os desenhos nelas representados. 
Tais peças constituem os objetos arqueológicos mais estudados 
dos gregos antigos, por serem ricas em decorações de cenas mito-
lógicas e lendárias.
A cerâmica grega tinha dupla função:
• Utilitária: crateras para tomar vinho, vasos para armaze-
nar líquidos e alimentos etc.
• Meio de expressão cultural e social: representações de 
ideais culturais, políticos e sociais dos gregos.
Os objetos de cerâmica grega eram:
• Unguentários: para perfumes e óleos.
• Cântaros e crateras: para beber vinho e outros líquidos.
• Hídrias e ânforas: vasilhas para água e vasilhas de mesa 
como pratos e tigelas.
Os estilos eram:
• Figuras geométricas e representações de animais (Figura 
5): períodos Pré-homérico, Homérico e Arcaico).
© História Antiga I180
• Figuras negras e vermelhas (Figuras 6 e 7): Idade Clássica).
Figura 5 Ânfora ática de figuras geométricas (séc. 8º a.C.). 
Figura 6 Ânfora ática de figuras vermelhas – amazona (mulher guerreira) no cavalo (séc. 
5º a.C.). 
Claretiano - Centro Universitário
181© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Figura 7 Ânfora ática de figuras negras – os sátiros (figuras mitológicas) e Dionísio (séc. 6º 
a.C.). 
Teatro
Você já ouviu falar que foram os gregos quem inventaram 
o teatro? Já viu as famosas máscaras de comédia (máscara com 
expressão alegre) e tragédia (máscara com expressão triste)? Isso 
é o que estudaremos agora.
A palavra "teatro" provém da forma grega theatron e possui 
duas vertentes em grego: o verbo "ver" (theaomai) e o substantivo 
"vista" (thea).
Apesar de os gregos serem conhecidos como os criadores 
do teatro, a arte de representar estava presente no Egito, para 
fins religiosos, aos 3200 anos a.C. Ísis e Osíris, duas das principais 
divindades egípcias, já eram reverenciadas mediante encenações 
teatrais.
A China, em 2205 a.C., também apresentou traços próprios 
de teatro em seus ritos religiosos.
Portanto, cronologicamente, antes que os dramaturgos gre-
gos pudessem fazer florescer a ideia teatral para o mundo, o Egito 
e a China já possuíam rituais com estilo performático (que singu-
© História Antiga I182
lariza o teatro até hoje). Se considerarmos que toda comunicação 
possui um valor teatral, podemos afirmar que até o homem da 
Pré-história representava.
Na Grécia, o teatro surgiu a partir de encenações em cerimô-
nias religiosas, em especial a cerimônia em honra ao deus Dionísio, 
feita em seus templos, na qual os jovens dançavam e encenavam 
em sua homenagem.
Em 534 a.C., o ditador Psístrato, ao governar Atenas, insti-
tuiu um concurso de encenações teatrais. O primeiro vencedor foi 
Thespis, autor e ator conhecido por percorrer as cidades, fazendo 
de seu carro um palco.
Com a popularização da arte teatral, o carro de Thespis foi 
substituído por arquibancadas semicirculares, ao ar livre. A preci-
são com que essas instalações foram construídas revela um inten-
so amor dos gregos pelo teatro.
O fundo dos palcos possuía uma vista panorâmica para a na-
tureza. Apesar de os teatros não possuírem teto e serem predomi-
nantemente ao ar livre (os chamados "teatros de arena"), os gre-
gos, de forma criativa, conseguiam usar tubulações para favorecer 
a acústica. Geralmente, os teatros eram construídos em encostas 
de montanhas e colinas, as quais serviam de suporte para as arqui-
bancadas. Observe a Figura 8.
Claretiano - Centro Universitário
183© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Camarins
(quartos de
vestir)
Entrada da
orquestra
Assentos dos
sacerdotes e
juizes
Altar
Orquestra de
terra batida
( local das 
danças)
Os atores principais se
apresentavam no terraço do
proskenion, usando máscaras e
sapatos com plataforma, para
que pudessem ser vistos pelas
útltimas fileiras do topo. O coro
cantava e dançava na orquestra
Entrada da
orquestra
Terraço do
proskenion
Figura 8 Modelo de um teatro grego. 
Os gregos possuíam dois tipos de textos para as encenações:
• Tragédia: apresentavam aventuras e desventuras de he-
róis, confrontando o homem aos deuses e ao seu destino, 
que ele poderia aceitar ou recusar (BELEBONI, 1996).
• Comédia: uma representação do mundo às avessas (GRI-
MAL, 1978), com a função de fazer rir por meio da sátira 
dos costumes.
Tanto na tragédia quanto na comédia, a ideia não era sim-
plesmente distrair o público, mas fazer críticas sociais, políticas e 
morais, em tons ora trágicos, ora cômicos.
As peças apresentavam um coro (pessoas que contavam a 
história em uníssono ou em várias vozes), narrando os feitos da 
personagem ou das personagens encenadas pelos atores. O coro 
era o intermediário entre a plateia e as personagens.
©História Antiga I184
Os tragediógrafos de destaque na Grécia e suas principais 
obras foram:
• Ésquilo: Prometeu acorrentado.
• Sófocles: Édipo-Rei, Antígona, Electra.
• Eurípides: Medeia, As troianas, Alceste, Ifigênia em Táuri-
da, Ifigênia em Áulis.
O comediógrafo de maior destaque foi Aristófanes, com as 
peças As rãs, As nuvens, A assembleia das mulheres, As vespas, 
Lisístrata, Os cavaleiros, entre outras.
Os atores eram homens e usavam máscaras, conforme o tipo 
da encenação (tragédia ou comédia). Em geral, eram os homens 
da aristocracia que frequentavam as encenações.
As manifestações artísticas eram um privilégio dos aristocra-
tas gregos: eram eles que iam ao teatro, tinham objetos de arte 
em casa e liam os textos literários. Hoje em dia, podemos perceber 
a existência de várias expressões artísticas, como a arte erudita, a 
arte da cultura de massa, o folclore e a arte popular.
6. FILOSOFIA
Você possivelmente já ouviu falar que os gregos foram, tam-
bém, os inventores da Filosofia e do pensamento racional. Talvez 
você esteja se perguntado sobre como, em meio a tantos mitos e 
crenças religiosas, os gregos poderiam ter sistematizado o pensa-
mento racional.
Para estudar a Filosofia e a ciência grega, devemos, a prin-
cípio, ter em mente que a distinção entre o religioso e o científico 
não fazia muito sentido para os gregos, e eles conseguiam, de cer-
ta forma, conciliar as duas coisas.
Os povos de língua grega foram os primeiros a sistematizar a 
ideia sobre o pensamento racional, mas outros povos já possuíam 
formas racionais de explicar alguns fatos.
Claretiano - Centro Universitário
185© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Foram os gregos que criaram a ideia de Filosofia, que, em gre-
go, significa "amigo" (philo) da sabedoria, do conhecimento (sophia).
A ideia central dos primeiros filósofos era desenvolver o pen-
samento racional (logos, em grego). Assim, podemos definir a Filo-
sofia como uma aspiração ao conhecimento racional.
Os gregos instituíram, com seu pensamento filosófico, os 
princípios fundamentais do que conhecemos como razão, ética, 
racionalidade, ciência, política, técnica e arte (CHAUÍ, 2004).
Os primeiros filósofos apareceram na Jônia (Ásia Menor), 
por volta do século 6º a.C. Eram os pensadores da escola de Mile-
to, entre os quais, destacaram-se:
1) Tales de Mileto, aproximadamente 640-546 a.C.;
2) Anaximandro, 610-547 a.C.;
3) Anaxímenes, 550-478 a.C.;
4) Heráclito, 576-480 a.C.
Esses primeiros pensadores se dedicaram, sobretudo, a 
compreender a matéria física do mundo. Eles se perguntavam o 
porquê de os seres nascerem e morrerem, o que eram as doenças, 
como se explicavam os fenômenos da natureza etc.
Outros filósofos importantes foram os sofistas. Estes eram 
itinerantes, isto é, viajavam de cidade em cidade, oferecendo seus 
conhecimentos em conferências pagas que atraíam muitos ho-
mens. Ensinavam como se destacar na vida pública, como ter boa 
oratória e retórica etc.
Após os sofistas, apareceram, na Grécia, três filósofos, que 
são, até hoje, considerados pelos estudiosos como alguns dos ho-
mens mais importantes para o pensamento humano:
 Sócrates (469-399 a.C.): não deixou nada escrito; seus en-
sinamentos foram a nós legados por meio dos escritos de 
seus discípulos Platão e Xenofonte. Criticou as formas de 
conduta política em Atenas, em meio à Guerra do Pelopo-
neso, e, por isso, foi condenado à morte.
© História Antiga I186
 Platão (427-347 a.C.): viveu no auge das lutas políticas 
que conduziram Atenas à democracia e propôs um novo 
modelo de sociedade, governada por sábios filósofos. Foi 
o fundador da Academia, sua escola filosófica em Atenas. 
Parte de suas obras são diálogos, nos quais há troca de 
ensinamentos e questionamentos entre homens.
 Aristóteles (384-322 a.C.): foi tutor de Alexandre, o Gran-
de, e aluno da Academia de Platão. Fundou uma escola em 
Atenas, o Liceu, distanciando-se do idealismo de Platão e 
procurando ser mais prático em suas teorias políticas.
Sócrates e Platão são produtos da Atenas democrática. Aris-
tóteles era macedônico, mas foi acolhido pelos atenienses.
Segundo Funari (2004, p. 690). "Platão e Aristóteles funda-
ram os fundamentos para as formas de pensamento posteriores, 
na própria Antiguidade, mas também na Idade Média, chegando 
aos Tempos Modernos".
7. GREGOS E HISTÓRIA
A palavra história é de origem grega e significa "investiga-
ção", abrangendo qualquer tipo de pesquisa.
Heródoto, embora não utilizasse esse termo, deu à sua in-
vestigação uma ideia precisa de investigação do passado e foi cha-
mado de historiador.
Contudo, a palavra "história" não aparece nas obras dos dois 
autores, Heródoto e Tucídides (GAGNEBIN, 1992), e as ideias de 
ambos sobre a História possuíam um sentido muito diferente do 
que temos hoje.
Heródoto
O grego Heródoto (aproximadamente 484-425 a.C.) é consi-
derado o "pai da História" porque, embora sua concepção de His-
Claretiano - Centro Universitário
187© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
tória seja diferente da dos atuais historiadores, ele ousou fazer um 
relato sobre os fatos além do mundo mítico.
Considerava-se que sua prática de historiador era uma nar-
rativa de fatos contados por uma testemunha que os presenciou 
ou tratava do que ele mesmo viu. Sua ideia de História, portanto, é 
voltada para a oralidade e para a visão.
Tucídides
Tucídides (aproximadamente 460-455 a.C.) é conhecido 
como o primeiro historiador crítico. Sua narrativa não apresenta 
documentos; ele apenas expõe sua conclusão sobre os eventos, 
rejeitando, porém, a memória tratada por Heródoto como fonte 
documental. Sua História não é escrita para o presente, mas para 
ser lida no futuro, como conhecimento sobre o passado. A preocu-
pação de Tucídides estava em narrar as coisas como elas realmen-
te aconteceram, demonstrando possíveis motivações e posiciona-
mentos de ambas as partes envolvidas em suas pesquisas, como é 
o caso de sua obra História da Guerra do Peloponeso, na qual ele 
procura narrar o lado ateniense e, também, o espartano.
Durante tempos, a visão de verdade permaneceu imbricada 
nas narrativas historiográficas. Somente no século 20 é que os his-
toriadores começaram a questionar a veracidade de suas próprias 
narrativas, considerando que a História não é uma ciência exata, ou 
seja, que não podemos provar nada, e sim tirarmos, cada um, nos-
sas próprias conclusões, o que faz da História uma interpretação.
Vale ressaltar que, em português, assim como em diversas 
outras línguas, utilizamos uma só palavra ao tratarmos da Histó-
ria (fatos) e da historiografia (escrita desses fatos, narração dos 
acontecimentos passados). Portanto, tenha atenção para não fazer 
confusão com os dois termos!
A diferença básica entre Heródoto e Tucídides, além das fon-
tes, era:
© História Antiga I188
a) Heródoto: escrevia para resgatar um passado ilustre;
b) Tucídides: escrevia no presente sobre o presente para instruir o 
futuro [...] (GAGNEBIN, 1992, p. 23).
Segundo Jeanne-Marie Gagnebin (1992), a diferença entre Heró-
doto e Homero é que este tratava de relatos míticos, lendas e assuntos 
fantásticos enquanto aquele tratava do que ele ou alguém presenciou.
Para o filósofo Aristóteles, a História seria uma narrativa de me-
nor importância em relação à poesia e teria um compromisso com a 
verdade (assim como para Heródoto). Ainda segundo o pensador:
O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato 
de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso (pois se a 
obra de Heródoto houvesse sido composta em verso, nem por isso 
deixaria de ser uma obra de história, figurando ou não o metro nela). 
Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o 
que poderia ter acontecido. Por tal motivo a poesia é mais filosófica 
e de caráter mais elevado que a história, porque a poesia permanece 
no universal e a história no particular (ARISTÓTELES, 2005).
8. ESTATUTO DA MULHER GREGA
Na Grécia Antiga, assim como na maioriadas sociedades anti-
gas, as mulheres possuíam um status inferior. Em toda a Grécia, a so-
ciedade era predominantemente masculina e de natureza patriarcal.
As mulheres atenienses possuíam um quadro mais amplo de 
submissão, pois estavam voltadas exclusivamente para a procria-
ção e para as atividades domésticas, já que elas passavam a maior 
parte do tempo trancadas dentro de suas casas, no gineceu.
O ideal grego de beleza feminina era o da mulher boa para a pro-
criação: não magra, de pele bem clara, quase pálida, ou seja, aquela que 
não tomava sol e ficava a maior parte do tempo em casa. Funari (2004) 
indica que a timidez era uma qualidade boa para a futura esposa.
A submissão das atenienses foi ironicamente cantada por 
Chico Buarque de Hollanda na música Mulheres de Atenas. Veja, a 
seguir, um trecho dessa canção: 
Claretiano - Centro Universitário
189© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Mulheres de Atenas –––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram fi lhos pros seus maridos os novos fi lhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas (BUARQUE, 2011)
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As mulheres de Esparta, porém, tinham um diferencial: eram 
preparadas fisicamente para uma maternidade sadia, praticando 
exercícios físicos e disputando modalidades esportivas. As espar-
tanas gozavam de certa independência, recebiam treinamento mi-
litar e administravam as terras do marido. Tal fato é explicado, por 
alguns historiadores, como decorrência da ausência constante dos 
homens em Esparta.
Em geral, as gregas da aristocracia aprendiam a ler, mas o 
ofício de escritora esteve restrito a raras mulheres, como Safo e 
Corina, por exemplo.
No casamento, que era uma aliança entre famílias, o noivo 
era alguns anos mais velho do que a noiva. A mulher casava-se 
logo na puberdade; já o homem, por volta dos 30-40 anos.
Após o casamento, a mulher passava a fazer parte da família 
do marido, e seus filhos recebiam o nome da família do pai. A cul-
pa por casamentos inférteis era sempre da mulher, e, nesses casos, 
o casamento poderia ser anulado por justa causa (FUNARI, 2004).
Destacamos que as mulheres tratadas anteriormente eram 
aristocráticas, jovens preparadas para o casamento. Mas na Gré-
cia também havia as mulheres pobres. Estas eram mais livres que 
as aristocratas, necessitavam trabalhar e, em geral, administravam 
seu próprio dinheiro, quando mais velhas.
© História Antiga I190
Entre as mulheres pobres, era comum a prostituição. As 
prostitutas podiam ser:
 Pornai: escravas obrigadas a esse tipo de trabalho.
 Independentes: dançarinas e tocadoras de flautas que 
serviam em banquetes.
 Hetairas ou cortesãs: acompanhantes, mais do que mu-
lheres que prestavam serviços exclusivamente sexuais.
Péricles, importante estadista ateniense, escolheu uma he-
taira para acompanhá-lo ao longo de sua vida: era a cortesã Aspá-
sia de Miletos. Com Aspásia, Péricles teve um filho, que recebeu 
o nome do pai. Embora considerado filho ilegítimo do político por 
sua mãe ser uma cortesã, o garoto recebeu a cidadania ateniense 
no último ano de vida de seu pai (HARVEY, 1998).
Observe a Figura 9, em que a prostituta é representada em 
um vaso grego.
Figura 9 Prostituta representada em um vaso grego (séc. 5º a.C.). 
Claretiano - Centro Universitário
191© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
9. TEXTO COMPLEMENTAR
O texto a seguir foi cedido pelo seu autor, Danilo Lucas Mar-
celino (2007), e trata de uma tragédia grega reescrita na contem-
poraneidade, no qual buscou associar o texto teatral contemporâ-
neo e sua montagem com as ideias do teatro grego, mostrando-nos 
que não estamos tão distantes dos povos estudados.
É interessante ressaltar que O Amor de Fedra possui poucas 
encenações feitas no Brasil, e uma delas ainda é apresentada pela 
Companhia Partículas Elementares, sob direção de Gilson Motta 
e Tania Alice. Essa encenação ganhou o prêmio do MEC/Sesu de 
Minas Gerais, pelo edital Jovens Artistas de 2007.
Vários conceitos cercaram e definiram uma tragédia grega. 
Pensá-los numa recriação contemporânea, reconhecendo o valor 
do trágico na atualidade, tem gerado bastante discussão e sina-
liza marcas para a história do teatro. Citaremos alguns conceitos 
da concepção clássica do trágico, relacionando-os com a sua au-
sência, ou não, na recriação de uma tragédia grega. Nesse caso, 
trabalharemos com a peça O Amor de Fedra, escrita em 1996, pela 
inglesa Sarah Kane, recriação da tragédia Fedra, do escritor roma-
no Sêneca, baseada no mito grego de Fedra.
A escritora Sarah Kane suicidou-se em fevereiro de 1999, aos 
28 anos.
O Amor de Fedra (recriação de uma tragédia grega na 
contemporaneidade) ––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na mitologia grega, Teseu é casado com Fedra (fi lha do rei Minos, de Creta), que 
sofre por ser apaixonada pelo seu enteado, Hipólito. Rejeitada por ele, Fedra 
acusa Hipólito de violentá-la e se mata. Tanto no texto de Sêneca quanto no de 
Sarah Kane, esta lenda está presente. Ela também é mote para a tragédia Hipó-
lito, do grego Eurípedes.
Na recriação feita por Kane, há importantes associações das personagens aos 
fatos contemporâneos. Ela mantém, no seu texto, o sistema hierárquico de reis e 
rainhas do mundo grego cretense: Fedra só integra a família real de Atenas por 
ser esposa de Teseu, numa clara associação à fi gura da Princesa inglesa Diana. 
Embora desprovido de culpa, Hipólito é linchado por ter violentado Fedra. Se na 
tragédia temos os deuses que materializam a decisão do destino e as punições 
© História Antiga I192
para aqueles que cometeram erros, nessa recriação temos a mídia como força 
coerciva à decisão da justiça. Em O Amor de Fedra, Hipólito é estrangulado pela 
fúria da população.
Na encenação de O Amor de Fedra feita pela Cia. Partículas Elementares, for-
mada por estudantes e professores do curso de Artes Cênicas da Universidade 
Federal de Ouro Preto/UFOP, foi criado um coro, com o intuito de fortalecer o 
pensamento de que a mídia consegue agir de modo manipulador.
O coro, nas tragédias gregas, existia como elemento exterior ao confl ito trágico, 
não infl uenciando diretamente na liberdade de ação das personagens.
Contudo, a função do coro é opinar, comentar, aconselhar, criticar e demonstrar 
reação aos atos das personagens.
Se para a sociedade contemporânea a idéia de uma justiça divina é, defi nitiva-
mente, questionável, e a mídia é, para ela, propagadora de fundamentos para 
a organização de idéias e leis, é cabível que haja uma associação da mídia ao 
catastrófi co fi m de O Amor de Fedra, no qual o coro, criado na encenação citada, 
age como um grupo de jornalistas-abutres, caçadores de podridão e manipula-
dores de imagem, que divulgam a carta de Fedra acusando Hipólito de estupro, 
o que provoca a ira da população e gera força para a consumação do destino 
reservado ao herói trágico, que, nesse caso, é Hipólito. Qualquer semelhança 
com o caso da Princesa Diana e a mídia não é coincidência.
Para a concepção clássica do conceito de "trágico", o destino é o poder superior 
com o qual o homem se confronta e pelo qual ele é derrotado. A "liberdade" do 
herói, dentro do seu destino, está ligada a uma fatalidade ou a uma fatalidade 
que ele aceita naturalmente. A sua "falha trágica" (hamartia) é uma junção de 
falha moral e de erro de julgamento, fundadores da ação do herói trágico. Esse 
não pode ser nem muito culpado, nem muito inocente, pois, além de pregar uma 
unilateralidade do destino, enfraqueceria o poder catártico da tragédia.
A "catarse" (cartharsis), que para o fi lósofo grego Aristóteles signifi ca a purga-
ção das paixões através do terror e da piedade, é defi nidora da tragédia e do 
trágico, pois trata-se de um efeito criado sobre o espectador, impressionando-o, 
elevando-o moral e psicologicamente, transformando-o.Portanto, a catarse é o 
ponto alto da peça e uma característica básica da tragédia grega.
Sarah Kane repensa esses itens para poder inseri-los no texto. Ela faz uso da 
linguagem agressiva, da violência, do sexo e da chacina para atingir o espec-
tador atual, que, deveras, convive com isso. Ela desenvolve o herói Hipólito de 
forma antipática, de modo a ser recusado pelo espectador. Ele é gordo e pratica 
atitudes sexuais escusas. Porém, mesmo que este herói tenha recebido atenção 
sexual de Fedra, é acusado de estupro, sem que o espectador se compadeça 
dele. Assim, este espectador poderá sofrer a catarse quando o vir estrangulado 
pela população, numa verdadeira violência proposta pela autora. Uma tragédia, 
de fato.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Como nas unidades anteriores, você terá agora mais um mo-
mento para a realização da autoavaliação. Esta é uma hora importan-
Claretiano - Centro Universitário
193© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
te e necessária, pois você já está se preparando, aqui, para a avaliação 
final e também reforçando seu conhecimento. Não deixe de trocar 
experiências e comentá-las com seus colegas de curso e seu tutor.
1) Sabemos que a arte grega passou por várias transformações conforme os 
períodos históricos que se sucederam. Que busca foi constante entre os ar-
tistas gregos?
2) Depois de estudar que a arte grega era privilégio de poucos, como você 
analisa a relação das camadas desfavorecidas economicamente com a arte 
atual? Como é o consumo da arte no Brasil? Anote suas reflexões no Bloco 
de Anotações.
3) Quais os nomes e as principais características dos três estilos arquitetônicos 
gregos?
4) Quais as funções da cerâmica grega? Pesquise na internet e em livros sobre 
obras de cerâmica grega, preocupando-se em perceber o período de sua 
produção.
5) Quais as funções da comédia e da tragédia no teatro grego? Se possível, pro-
cure um clássico do teatro grego, leia e reflita sobre ele, discutindo, com seu 
tutor e seus colegas de curso, a respeito de sua impressão sobre essa leitura. 
Garantimos que ela lhe será muito agradável e proveitosa!
6) O que você compreendeu sobre o aparecimento da Filosofia na Grécia? 
Como e por que a Filosofia, tal como a concebemos, surgiu na Grécia? Qual 
a influência do contexto da pólis grega nesse aparecimento?
7) Qual a diferença, na concepção de "História", para Heródoto e para Tucídides?
8) Reflita sobre o estatuto da mulher grega e da mulher na atualidade.
11. CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE
Nesta unidade, estudamos alguns aspectos da cultura dos 
gregos. Vimos como a arte grega possui vários períodos, cada um 
com uma característica própria.
Estudamos detalhes da cerâmica, da escultura, da pintura, 
do teatro, da literatura e da arte grega em geral, bem como conhe-
cemos a poetisa Safo e os tipos de representações mais comuns 
nas cerâmicas gregas (figuras geométricas, figuras negras e figuras 
vermelhas).
© História Antiga I194
Além disso, tomamos contato com a concepção de História 
para os gregos, que difere da que temos na atualidade por esta 
estar ligada à verdade e ao testemunho visto e vivido (a memória).
Viajamos rapidamente pela filosofia grega e conhecemos 
seus principais expoentes: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Tratamos da posição de subserviência da mulher entre os 
antigos gregos e vimos, ainda, que havia dois tipos de mulheres: 
as aristocratas, mulheres destinadas ao casamento, e as pobres, 
que possuíam um estatuto mais livre que o das aristocratas.
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o estudo do Caderno de Referência de Conteúdo Histó-
ria Antiga I, pudemos desenvolver alguns conceitos básicos para o 
estudo da História em geral, tais como o de Pré-história, hegemo-
nia, civilização etc.
Tivemos a oportunidade de observar a união cultural, mas 
não política dos gregos, a prática dos aedos, parecidos com repen-
tistas nordestinos, e a riqueza dos poemas homéricos.
Percebemos, também, a força de Alexandre para unir seu im-
pério, não apenas politicamente, mas culturalmente, e, com isso, 
tivemos a oportunidade de repensar nossa atualidade, com suas 
atitudes de repúdio ao diferente e, ao mesmo tempo, inserida na 
globalização.
Além disso, conhecemos como os gregos tratavam as rela-
ções homossexuais de forma diferente de como as tratamos nos 
dias atuais, repensando essa prática no mundo em meio à mudan-
ça de valores e de padrões morais.
Estudou, também, que os gregos praticavam magia e bus-
cavam, com rituais específicos, descobrir o futuro e, talvez, se 
lembrou das propagandas das adivinhas profissionais nas revistas 
modernas.
Claretiano - Centro Universitário
195© U6 - Aspectos Gerais da Cultura Grega
Lemos, ainda, que os gregos tinham uma rica mitologia e 
pensamos, possivelmente, que, embora muito diferentes, nós 
também temos, hoje, nossos mitos e heróis.
Sua prática como docente deve sublinhar aspectos dessa 
modernidade latente, utilizando comparações de atitudes, fatos 
e ocorrências, mostrando a seus futuros alunos que a Antiguida-
de, embora receba esse nome, está mais próxima de nós do que 
imaginamos e que recebemos seu legado, o qual se modificou ao 
longo dos períodos históricos.
Desejamos que todo o conhecimento construído neste es-
tudo não apenas auxilie você como docente, mas que o desperte 
para perceber um mundo repleto de novos significados!
Esperamos que você não pare por aqui, mas que continue 
seus estudos e faça deste Caderno de Referência de Conteúdo ape-
nas o início de sua aprendizagem.
Até mais.
Forte abraço,
Semíramis (nome grego pelo qual esse povo chamava uma 
lendária rainha da Mesopotâmia).
13. E REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 – Capitel dórico. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/b/bd/Korintisk1.png>. Acesso em: 21 nov.2007.
Figura 2 – Capitel jônico. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/2/22/Jonisk1.png>. Acesso em: 21 nov. 2007.
Figura 3 – Capitel coríntio. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/4/43/Grecia_coluna.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2007.
Figura 4 – Parthenon de Atenas. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/3/35/Ac.parthenon5.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2007.
Figura 5 – Ânfora ática de figuras geométricas (séc. 8º a.C.). Disponível em: 
<http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Amphora_lion_700_BC_Staatliche_
Antikensammlungen.jpg>. Acesso em: 15 nov. 2007.
© História Antiga I196
Figura 6 – Ânfora ática de figuras vermelhas – amazona (mulher guerreira) no cavalo 
(séc. 5º a.C.). Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4a/
Amazone_Staatliche_Antikensammlungen_2342_full.jpg>. Acesso em: 15 nov. 2007.
Figura 7 – Ânfora ática de figuras negras – os sátiros (figuras mitológicas) e Dionísio (séc. 
6º a.C.). Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Neck_amphora_
Dionysos_Louvre_F36bis.jpg>. Acesso em: 15 nov. 2007.
Figura 8 – Modelo de um teatro grego. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/
imagens/teatro_anfiteatro.jpg>. Acesso em: 24 set. 2008.
Figura 9 - Prostituta representada em um vaso grego (séc. 5º a.C.). Disponível em: 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Griechen11.jpg>. Acesso em: 31 out. 2007.
Sites pesquisados
BUARQUE, C. Mulheres de Atenas. Disponível em: < http://letras.terra.com.br/chico-
buarque/45150/>. Acesso em: 31 ago. 2011.
SAFO. Poemas. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
ph000390.pdf>. Acesso em: 31 maio 2011.
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Martin Claret, 2005.
BELEBONI, R. Tragédia: o espelho da antiguidade grega. Ensaios de História, Franca, v.1., 
n. 2, 1996, p. 11-18.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004.
FINLEY, M. I. Os gregos antigos. Lisboa: Edições 70, 1984.
FUNARI, P. P. A. Grécia e Roma. Vida pública e vida privada. Cultura, pensamento e 
mitologia. Amor e sexualidade. São Paulo: Contexto, 2004.
GAGNEBIN, J.M. O início da história e as lágrimas de Tucídides. Margem, n. 1, mar. 1992.
GRIMAL, P. O teatro antigo. Lisboa: Edições 70, 1978.
HARVEY, P. Dicionário Oxford de Literatura Clássica. Grega e latina. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 1998.
KANE, S. Phaedra’s love. Londres: Consortium Book Sales & Dist., 2002.
MAE-USP – MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. 
Formas de humanidade. Mediterrâneo: Grécia e Roma (Guia temática para professores 
produzido pelo MAE).
PAVIS, P. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.
PIGNATARI, D. (Org.). 31 poetas, 214 poemas: do Rig-Veda e Safo a Apollinaire. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1996.
ROBERTSON, M. Uma breve história da arte grega. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982.
EA
D
Sociedade e Cultura 
no Império Romano
4
1. OBJETIVOS
• Analisar os aspectos sociais e culturais do Império Romano.
• Compreender a organização social na Roma Imperial.
• Identificar e apresentar aspectos da vida privada, do casa-
mento, da família e da educação dos romanos.
• Estudar os papéis desempenhados pela mulher nessa so-
ciedade e os aspectos gerais da arte romana.
2. CONTEÚDOS
• Organização Social no Império Romano.
• Família e casamento em Roma.
• Aspectos da arte romana.
• Funções femininas na sociedade romana.
© História Antiga II106
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações 
a seguir:
1) É importante que você conheça os documentos escritos 
pelos próprios romanos, para tal, sugerimos a leitura da 
Obra Satyricon de Petrônio. Para enriquecer seus conhe-
cimentos sobre a sociedade romana, assunto que abor-
daremos no decorrer desta unidade, será interessante 
que assista ao filme homônimo à obra supracitada, pro-
duzido pelo diretor Fellini. 
2) Sugerimos, também, a leitura de: FLEMING, M. I. "Poder Polí-
tico e Cultura Material: as vasilhas de metal romanas no con-
texto imperial e nas áreas periféricas da Europa Central e do 
Norte" In: BENOIT, H. FUNARI, P. P. A. (Orgs.). Ética e Política 
no Mundo Antigo. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. 
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Chegamos à quarta unidade de estudos. Após perceber im-
portantes aspectos da política e da economia do Império Romano, 
convidamos você a refletir sobre a sociedade romana, assim como 
sobre alguns aspectos da cultura dos romanos antigos. 
Além da estrutura social romana, um dos objetivos desta uni-
dade é analisar questões cotidianas do mundo romano, como as di-
versões na cidade de Roma e questões mais complexas, como o ca-
samento romano e as funções femininas nessa sociedade patriarcal.
Vamos fazer, juntos, uma viajem pela vida dos romanos, por 
meio de testemunhos da própria época estudados pelos historia-
dores modernos.
5. ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Como os romanos se organizavam socialmente? 
107
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
Pedro Paulo Funari (2004) informa-nos que, embora ocorres-
sem muitas modificações na civilização romana, em tantos séculos 
de história, uma característica básica permaneceu na classificação 
social das pessoas: a questão da cidadania, ou seja, as pessoas 
eram classificadas essencialmente como cidadãos e não cidadãos.
Os cidadãos romanos tinham direitos que não estavam dis-
poníveis para os não cidadãos, como ser eleito para exercer uma 
magistratura. O direito à cidadania foi, durante muito tempo, man-
tido com certos cuidados, mas, aos poucos, ele foi atribuído às po-
pulações ricas do Império. 
Em 212 d.C., o Imperador Caracala estendeu o direito de ci-
dadania a toda população livre do Império Romano. Essa medida 
tinha um caráter puramente econômico, pois o Imperador que-
ria, com isso, aumentar a arrecadação de impostos pagos pelos 
cidadãos. A medida teve, ainda, um caráter de coesão do Império, 
unindo os provinciais aos romanos de Roma ainda mais.
Assim, a classificação das camadas sociais no Império Ro-
mano tinha como base o nascimento e também a propriedade. O 
princípio da hereditariedade era aplicado para determinar a qual 
camada pertencia uma pessoa e, por sua vez, ainda existiam casos 
em que o Imperador Romano conferia o grau de senador ou ca-
valeiro como favor especial, título que era adquirido unicamente 
como direito hereditário (MOKTAR, 1983). 
Dessa maneira, um escravo podia receber a alforria e tornar-
-se um liberto (como eram chamados esses escravos livres), podia 
até chegar a se enriquecer, mas sempre carregaria com ele a má-
cula de um ex-escravo, que mesmo se tornando um liberto não 
poderia se tornar cidadão; curiosamente, seu filho (chamados de 
ingenui) poderia. Mesmo se tornando um liberto enriquecido, se 
ele mantivesse contato com as elites, poderia ter certa ascensão, 
ainda assim não seria considerado cidadão. Um liberto enrique-
cido poderia patrocinar obras públicas e ganhar notoriedade na 
sociedade, mas desde que tivesse por trás de si boas relações com 
a elite de nascimento e de posses econômicas. 
© História Antiga II108
Trimalcião e a obra Satyricon –––––––––––––––––––––––––––
Um dos casos mais interessantes para se conhecer mecanismos básicos da so-
ciedade romana e suas peculiares possibilidades de mobilidade social é o de 
Trimalcião, personagem literária da obra Satyricon, do escritor Petrônio (27 – 66 
d.C.). 
Nessa obra, há uma passagem em que é descrita a biografi a de Trimalcião, um 
escravo liberto que fornece um banquete para vários outros libertos e para quatro 
cidadãos romanos; essa cena em questão, a do banquete de Trimalcião, tornou-
-se muito conhecida.
A passagem é uma sátira exagerada aos costumes da época, como toda a obra, 
que, mesmo assim, nos transmite importantes informações sobre a realidade 
social dos romanos. 
Trimalcião nasceu escravo, mas com a ajuda de seu senhor enriqueceu, sen-
do agraciado em testamento e herdando uma fortuna de valores senatoriais, ou 
seja, uma fortuna de senadores. Com a fortuna, Trimalcião construiu navios e 
começou a trabalhar e, embora os barcos naufragassem, ainda assim ele conse-
guiu preservar sua fortuna.
Trimalcião nos demonstra as formas de ascensão mesmo de ex-escravos, pois 
ele acaba inserindo-se no mesmo grupo social de um homem rico, tendo a condi-
ção de um aristocrata, mas sem contar com a possibilidade de ser eleito. Trimal-
cião ainda tem pretensões de ser um homem erudito e se mostra sempre inte-
ressado em obter conhecimento, fato que não era muito comum entre os libertos 
enriquecidos. Na cena mencionada, os cidadãos que fazem parte do banquete 
riem dos costumes dos libertos enriquecidos, colocando-os como patéticos.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 
Diante dessas considerações, preferimos utilizar o termo ca-
madas sociais ou ordens sociais para definir a sociedade do mundo 
romano. Acreditamos que um termo como classes sociais estaria 
mais ligado a definições modernas de mobilidade social. 
Os termos estamentos ou estados já se ligam a sociedades 
sem mobilidade social, e a sociedade romana apresenta enormes 
peculiaridades. Há autores que classificam a sociedade romana 
em ordens. As ordens seriam agrupamentos de pessoas definidos 
não somente pela sua riqueza, mas pelo reconhecimento social 
advindo, principalmente, do nascimento. 
Foi o Imperador Augusto que dividiu a sociedade romana em 
ordens, conforme a riqueza de cada um. A mais elevada das or-
dens era a Senatorial, como vimos, que possuía uma riqueza de 1 
milhão de sestércios. A equestre possuía 400 mil sestércios. Abai-
xo dessas ordens vinham libertos, clientes e escravos. Assim, uma 
109
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
pessoa podia enriquecer-se, mas não entraria em outra ordem 
propriamente dita, mesmo que por meio de suas relações pudesse 
frequentar os mesmos meios sociais que os de pessoas de ordens 
superiores à dela. 
Havia três importantes ordens no mundo romano: plebeia, 
equestre e senatorial. 
Os plebeus eram cidadãos romanos, porémempobrecidos. 
Os equestres eram a elite com posses suficientes somente para 
serem cavaleiros do exército e, algumas vezes, comerciantes, não 
se ocupando diretamente da política, mas mantendo contato com 
os nobres. Já os senadores eram pessoas de posses elevadas, cujos 
homens participavam do Senado e não praticavam o comércio, 
algo que não lhes oferecia nenhum status social. 
Além dessas ordens, havia ainda a ordem dos agricultores, 
cobradores de impostos (conhecidos como publicanos), pastores e 
os desvalorizados escravos. 
Nas províncias do Império Romano, havia a ordem dos de-
curiões (ordo decorionum), uma ordem senatorial em nível local. 
Havia, ainda, no Império Romano, uma distribuição de títulos 
entre as ordens. Aos membros da família imperial eram distribuí-
dos títulos de nobilissimi; à ordem senatorial, títulos de illustres, 
clarissimi e spectabiles; aos membros da ordem equestre, os de 
perfectissimi e egregii. Existiam, também, os chamados humilio-
res, que eram as pessoas pobres e os escravos (FERREIRA, 1993). 
Como na atualidade, as roupas usadas pelos romanos distin-
guiam as camadas sociais. A roupa dos pobres era bem simples, 
às vezes, rasgada, e eles andavam até descalços. Somente os ricos 
podiam seguir a moda e usar roupas luxuosas. As matronas eram 
preparadas por várias empregadas, ou escravas, antes de saírem; 
elas também tingiam o cabelo, e a cor aloirada era muito popular. 
As mulheres se arrumavam em casa, enquanto os homens, em sa-
lões masculinos. Os cidadãos romanos podiam usar a toga, uma 
© História Antiga II110
enorme manta que cobre a partir dos ombros. As mulheres ricas 
usavam túnicas; as casadas gostavam de vestidos longos (FUNARI, 
1993). 
Os escravos eram distinguidos dos homens livres pelas rou-
pas que vestiam. Os escravos acostumados a fugir eram obriga-
dos a usar uma coleira de bronze com o nome de seu proprietário, 
naturalmente, para serem encontrados mais facilmente; alguns 
ainda recebiam uma marca no rosto feita com ferro em brasa. A 
cabeça raspada também foi usada por um tempo para se distinguir 
um escravo de uma pessoa livre (FERREIRA, 1993). 
Devemos destacar que as elites no Império Romano (as de 
Roma e de suas províncias) tinham uma certa união: elas compac-
tuavam tanto politicamente quanto culturalmente. Um exemplo 
desse pacto cultural era a ideia das elites provinciais adquirirem 
valores e buscarem usar certos padrões culturais das elites roma-
nas, criando uma espécie de identidade comum.
No interessante texto Poder Político e Cultura Material: as 
vasilhas de metal romanas no contexto imperial e nas áreas perifé-
ricas da Europa Central e do Norte (2001), a arqueóloga Maria Isa-
bel D'Agostinho Fleming (USP) trabalha com a ideia de que certo 
tipo de vasilha de metal, usada para servir vinho entre as elites do 
Império, carregava significados iconográficos e integrava a camada 
dominante de Roma com a camada dominante das periferias do 
Império. 
Em geral, ter boas relações no Império era algo de grande va-
lor. Mesmo enriquecido, a pessoa precisava adentrar nas relações 
de amicitia no mundo romano imperial se quisesse receber algum 
reconhecimento na sociedade. De uma maneira geral, a amicitia 
designa relações favoráveis de camaradagem, parentesco e de-
pendência entre indivíduos e grupos políticos, usada para definir 
os laços pessoais entre os cidadãos romanos (VENTURINI, 2006). 
A inserção em círculos de amicitia e em relações familiares era um 
mecanismo primordial da sociedade romana. 
111
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
Diante de todas as considerações que você acabou de ler, 
você deve ter percebido que era muito complicado pensar a so-
ciedade romana como uma pirâmide social estruturada, com ricos 
em cima e pobres embaixo, como comumente os professores en-
sinam nas salas de aula. 
Nesse sentido, o historiador Géza Alföldy (1989) propõe que 
a pirâmide social de Roma seja uma pirâmide não fechada, mas 
que as ordens se intercomuniquem, ou seja, que embora uma 
pessoa seja rica financeiramente ela não pode estar no topo da 
pirâmide social se não tiver relações de poder na sociedade. As 
relações de poder são importantes. Não ter boas relações com a 
elite, significa não conseguir almejar o topo da pirâmide. Dessa 
maneira, inserir-se socialmente na elite é uma conquista. Há ainda 
autores que não propõem o modelo piramidal para a sociedade 
romana imperial, mas o modelo de um móbile, em que o topo do 
móbile é o Imperador, enquanto as pessoas estariam colocadas 
nesse móbile social conforme relações de proximidade ou de dis-
tanciamento do imperador. 
O historiador Moses Finley, na sua obra A Política no Mundo 
Antigo (1995), chegou a defender que durante o Principado Roma-
no não houve política, pois o poder estava personalizado na figura 
do Imperador, que estabelecia redes de amicitia e clientelismo em 
toda sociedade romana e que, dessa forma, tudo estaria direta-
mente ligado ao poder imperial. Essa ideia é ainda muito discutida 
por outros historiadores, aceitando-a ou refutando-a.
Portanto, como percebemos, a sociedade romana não apre-
sentou uma estrutura social muito definida, com seus fatores va-
riáveis de classificação dos indivíduos. 
6. CASAMENTO, FAMÍLIA E EDUCAÇÃO
O casamento romano era um ato privado, não estabele-
cido diante de um juiz, mas apenas um contrato de dote, sem 
© História Antiga II112
obrigação de nenhum tipo de ritual simbólico, embora houves-
se grandes festas públicas nos casamentos dos aristocratas. O 
ato era selado com um contrato de matrimônio e um aperto de 
mãos dos noivos, e eles não se beijavam nesta ocasião, pois não 
era uma união baseada no amor dos noivos (FUNARI, 2004). 
Era comum que, na véspera do casamento, os noivos, ainda 
crianças, pedissem seus brinquedos aos deuses familiares que ha-
viam abençoado sua infância. 
A casa era decorada com flores, enquanto estátuas com 
bustos de ancestrais eram trazidas para a ocasião especial. Rituais 
especiais eram feitos a fim de saber se a união era favorável, bus-
cando saber também qual o dia mais propício para o casamento. 
Os romanos acreditavam muito em presságios.
No dia da cerimônia, havia uma troca de promessas e um 
sacrifício em honra aos deuses (FUNARI, 2004). Não obstante, esse 
ato configurava-se como algo de extrema importância na vida dos 
romanos, principalmente dos homens públicos, que deveriam ofe-
recer a toda sociedade aspectos de uma vida sólida (ROULAND, 
1997). Era um dever de todo cidadão casar e perpetuar o corpo 
cívico. 
Assim, 
A função primeira do casamento romano era a descendência. Em 
latim, o casamento chama-se justum matrimonium ou justae nup-
tiae.. Da palavra matrimonium deriva a palavra mater, mãe, defi-
nindo o casamento como relacionado à fecundidade (ROULAND, 
1997, p. 272). 
O casamento romano acontecia com ou sem o consentimen-
to da mulher, que, geralmente, se casava ao completar 12 anos, 
ou mesmo antes (há registro de casamentos de garotas de até dez 
anos), porém, neste caso, ficava até os 12 anos proibida de manter 
relações sexuais. O amor não era uma condição para o casamento 
e sim uma consequência, algo que poderia vir ou não a acontecer 
ao longo dos anos de convivência.
113
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
Portanto, era o pai ou tutor que estabelecia se a filha se ca-
saria ou não, e com quem ela se casaria. Era uma política comum 
predestinar suas filhas desde crianças, uma vez que a mulher sol-
teira com mais de 18 anos não era bem vista na sociedade.
O casamento (justum matrimonium) era uma prática legal e 
religiosa pela qual a mulher era transferida do poder (potestas) do 
pai para o do marido; isso poderia ocorrer de duas formas prees-
tabelecidas: cum manus (com a mão), quando seu patrimônio era 
passado para o pater potestas da família de seu marido, ou sine 
manus (sem a mão), quando seus bens continuavam sob o poder 
de sua família.Essa segunda forma de casamento, sem transferência de 
bens, parece ter sido estabelecida após a Lex Canuleia, como for-
ma de não permitir a transferência de bens de uma família patrícia 
para uma plebeia.
O dinheiro, as alianças entre famílias e as promessas de he-
rança desempenharam um papel fundamental na conjugação dos 
casamentos das famílias abastadas de Roma, implicando casa-
mentos frágeis e envolvidos em complexas intrigas. Não apenas 
em Roma, mas também nas províncias, os dramas do casamento 
estavam envolvidos com a política, uma vez que era antigo o costu-
me de fazer desses laços formas de consolidação de alianças entre 
famílias envolvidas na política das cidades do Império.
Não só os casamentos dos ricos eram alianças, mas também 
os dos humildes, porém, este segundo grupo não casava por alian-
ças políticas e sim para ajuda mútua no trabalho.
A organização da família romana era semelhante à dos gre-
gos; por sua vez, a ideia de família se diferenciava da nossa con-
cepção moderna.
Para os romanos, tudo o que estava sob o poder do pater-
familias era parte da família, desde escravos, animais, até coisas, 
como a casa e as mobílias, além dos clientes que, como vimos, 
© História Antiga II114
eram pessoas que se ligavam às casas dos aristocratas romanos e, 
de certa forma, faziam parte daquela casa (FUNARI, 2004). 
E a educação dos jovens romanos, como era? 
As crianças pobres desde muito pequenas ajudavam os pais no 
trabalho. A educação familiar tinha como base ensinar as crianças a 
respeitarem seus ancestrais, tradições e costumes (mos maiorum). 
Os meninos ricos estudavam a oratória (para falarem bem 
e exercerem as atividades políticas que lhes caberiam no futuro). 
Alguns dos mais humildes aprendiam, basicamente, a escrever e a 
contar. Era comum que os jovens aristocratas aprendessem bem 
latim e grego, mesmo os das províncias.
Os jovens de posses também estudavam arduamente a re-
tórica e recebiam treinamento militar, resultando dessa educação 
militar muitos militares competentes que trabalharam na expan-
são e na defesa das fronteiras imperiais. 
Mas não apenas de estudos viviam os romanos, havia tam-
bém diversões em Roma e nas províncias. Como eram? 
7. DIVERSÕES ROMANAS
Segundo Funari (1993), as cidades eram o ambiente natu-
ral da vida em sociedade tanto para os romanos da própria Roma 
quanto para os das províncias. Era na cidade que se encontravam 
os modelos culturais a serem seguidos; era na cidade que aconte-
ciam os espetáculos. 
Os romanos ricos patrocinavam muitas reuniões sociais em 
suas casas, tanto em Roma como nas províncias. As refeições eram 
servidas em banquetes que duravam horas, com apresentações de 
músicas e danças.
Além disso, era um costume as visitas matinais entre a elite. 
Passeava-se pelos jardins das casas particulares, passeava-se pela 
Vila Ápia e, também, fora das muralhas da cidade de Roma, onde 
115
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
os ricos romanos andavam com seus cavalos ou liteiras luxuosas 
carregadas por escravos.
Assim, a vida dos ricos romanos era muito intensa, com com-
promissos políticos, passeios, jogos, espetáculos e viagens. 
Uma das diversões preferidas dos romanos ricos eram os banhos. 
As casas mais luxuosas tinham banheiros com água aquecida a lenha. 
Havia, ainda, os banhos públicos. Os mais luxuosos eram co-
nhecidos como termas. As mais antigas termas romanas de que há 
conhecimento datam do século 5º a.C. em Delos e Olímpia; porém, 
as mais conhecidas são as Termas de Caracala, construídas entre 
212 e 217, durante o governo do Imperador romano Caracala e 
famosas pela riqueza de sua decoração. 
Contudo, a mais famosa diversão dos romanos foi, sem dú-
vida, as disputas de gladiadores. Os gladiadores recebiam esse 
nome devido ao nome da espada que usavam, o gládio. 
Mas ainda havia as corridas de bigas, os jogos de dados, o 
teatro e outras atividades.
Os jogos de gladiadores tiveram origem religiosa, baseada 
no costume dos antigos etruscos de sacrificar prisioneiros de guer-
ra para os deuses. Assim, os etruscos colocavam os prisioneiros e 
inimigos para lutar até a morte como uma espécie de sacrifício.
Porém, esse jogo acabou incorporado na cultura romana de 
forma tão forte que passou a ser praticado nas arenas, adquirindo 
a conotação de uma grande diversão popular.
Não só em Roma, mas também nas províncias, havia grandes are-
nas para esses jogos que atraíam um público muito grande, que podia 
se manifestar favoravelmente ou não sobre a morte dos gladiadores. 
Havia torcidas organizadas e a presença de barracas de ven-
dedores em volta dos anfiteatros. Funari (1993) afirma que os tor-
cedores rabiscavam paredes do anfiteatro com o nome de seus 
ídolos, assinalando o número de vitórias que acumulavam. 
© História Antiga II116
No Império Romano, a pessoa do gladiador podia ser degradada 
– embora muitos gladiadores conquistassem fama e riquezas e se 
aposentassem com um belo pecúlio. A figura do gladiador, por ou-
tro lado, era um belo espelho de realização humana, um modelo 
para filósofos e religiosos (GUARNELLO, 2011). 
Um breve exemplo do fascínio que tais jogos causavam aos 
romanos segue no discurso de Santo Agostinho, disposto a seguir. 
Nele, Agostinho trata da descrição sobre seu amigo Alípio, atraí-
do involuntariamente às disputas entre gladiadores em meados 
do século 4° d.C.:
Confi ssões ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Não desejando de modo algum abandonar a vida deste mundo a que o esti-
mulavam seus pais, tinha me precedido em Roma para estudar Direito e lá foi 
vítima, em condições inacreditáveis, de uma paixão igualmente inacreditável pe-
los espetáculos de gladiadores. No início odiava esses espetáculos. Mas alguns 
amigos, companheiros de estudo, que voltavam de um jantar, encontraram-no 
por acaso na rua. Tentou resistir energicamente, mas seus amigos o impeliram 
com uma violência amistosa e o levaram ao anfi teatro, onde nesse dia, ocorriam 
esses jogos cruéis e funestos. Ele lhes dizia: "meu corpo, vocês podem arrastar e 
instalá-lo nas arquibancadas, mas poderão fi xar meus olhos e meu espírito, pela 
força, nesses espetáculos? Estarei como que ausente e triunfarei sobre vocês e 
sobre eles". Essas palavras não impediram seus amigos de levá-lo. Queriam ver 
se conseguiria fazer o que dizia. Chegaram, sentaram-se como puderam, todo 
o anfi teatro ardia com as mais selvagens paixões. Alípio, fechando seus olhos, 
proibiu seu espírito de participar dessas atrocidades. Pena que não tenha tam-
bém abafado seus ouvidos. Pois aturdido pelo grito tonitruante de toda a multidão 
após a queda de um dos gladiadores, foi vencido pela curiosidade e, como se 
estivesse preparado para suportar e desprezar o que fosse que estivesse acon-
tecendo, abriu seus olhos e recebeu em sua alma uma ferida mais severa do que 
o gladiador recebera em seu corpo, e caiu mais miseravelmente que o homem 
cuja queda suscitara o grito. Pois quando viu o sangue, imediatamente sorveu a 
selvageria e não virou o rosto, mas fi xou-se na imagem que via e absorveu a lou-
cura e perdeu seu senso crítico e deleitou-se com a luta criminosa e embebedou-
-se num funesto prazer. Não era mais o homem que tinha ido ao espetáculo, mas 
um membro da multidão, um verdadeiro companheiro daqueles que o haviam 
trazido. Em suma, acompanhou o espetáculo, gritou, ferveu de emoção e saiu 
de tal modo insano que estava pronto, não apenas para acompanhar de novo 
os que o haviam trazido, mas para convencer outros a ir (Agostinho, VI,8. apud 
Guarinello, 2011).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A causa da popularidade imensa desses jogos pode ser encon-
trada na manutenção da ordem que eles representavam, uma vez 
que o Estado e os políticos os patrocinavam (FUNARI, 1993). Outra 
117
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
explicação para tal fato pode ser encontrada na própria paixãopelas 
lutas, imbricada na cultura e na mentalidade dos romanos. 
Em um interessante estudo sobre a violência romana, dando 
especial atenção para os jogos de gladiadores, Norberto Guarinel-
lo (2007) analisa a questão da violência na Roma antiga, desarti-
culando ideias preconcebidas e juízos de valores que permeiam a 
historiografia sobre o tema. O autor ainda busca estabelecer para-
lelos com a violência contemporânea a partir do princípio de que 
a violência não é um conceito preciso, ou seja, a ideia de violência 
e do que é violento variam conforme o período em que ocorre o 
fenômeno considerado violento. Assim, antes de nos assustarmos 
com os jogos de gladiadores romanos e toda a violência que eles 
e outros fenômenos dessa cultura podem nos parecer terem, de-
vemos observar o que era violento para a cultura em questão e 
também analisar aspectos da violência dentro dos nossos próprios 
padrões culturais.
8. FUNÇÕES FEMININAS
A mulher está colocada nas fontes jurídicas romanas como 
um ser fraco, inferior e incapaz de representar alguém além dela 
mesma. 
Nessa perspectiva, a mulher romana deveria sempre estar 
sob uma tutela masculina: do pai (pater potesta) ou de algum tu-
tor quando solteira, ou do marido (potesta maritales) quando ca-
sada. Estes agiam como seus protetores em diversos âmbitos da 
vida pública. Segundo Yan Thomas (1990, p. 129), "o direito ro-
mano fez, portanto, da divisão dos sexos uma questão jurídica", 
tratando-a "não como um pressuposto moral, mas como uma nor-
ma obrigatória".
De maneira geral, o Direito Romano em toda sua evolução e 
diversidade colocava a mulher como uma pessoa inferior natural-
mente, de uma fraqueza biológica que lhe impedia de desenvolver 
© História Antiga II118
atividades intelectuais ou qualquer coisa que extravasasse o âm-
bito do privado. Elas eram consideradas incapazes de ter poder 
sobre uma outra pessoa, de adotar um filho, de gerir sua tutela e 
mesmo de representar uma divindade.
A função principal da mulher romana, assim como da grega 
e da egípcia, era a de garantir a reprodução da espécie e o bom 
ordenamento da vida doméstica; elas tinham, dessa forma, o des-
tino estabelecido pela condição de ser mãe. 
Como temos estudado, a condição da mulher antiga es-
teve ligada à sua condição biológica, ou seja, ao fato de poder 
ser mãe. Atualmente, após verdadeiras lutas, temos percebido 
que as mulheres conseguiram ocupar o mesmo espaço que os 
homens, tanto no mercado de trabalho, como na própria casa, 
pois muitas fazem as funções que outrora eram essencialmente 
masculinas, como manter financeiramente a casa. Quais as van-
tagens e as desvantagens da nova condição da mulher moderna? 
Como você percebe esses novos papeis desempenhados pela 
mulher na atualidade?
As mulheres, em geral, tinham mais de três filhos, arriscando-
-se à morte devido a esse número e às péssimas condições dos par-
tos. As mulheres das camadas mais favorecidas eram educadas para 
a contenção sexual, a fim de privar-se dos riscos dos partos.
Os romanos não tinham o costume de limitar o número de 
filhos, assim, as esposas romanas também aceitavam que seus 
maridos possuíssem amantes, concubinas ou escravas, como uma 
forma de evitarem a gravidez. 
Como nos informa o biógrafo Suêtonio (apud DUBY; PERROT, 
1990), era Lívia, terceira esposa do Imperador Augusto, quem es-
colhia as moças com quem seu marido manteria relações sexuais.
As romanas também usavam de métodos contraceptivos 
como o coito interrompido, lavar-se ou levantar-se rapidamente 
depois do ato sexual e receitas com plantas e ervas. 
119
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
Em relação aos homens, os médicos aconselhavam não ha-
ver contenções sexuais, por isso havia tanta procura de amantes 
(DUBY; PERROT, 1990).
Segundo Aline Rousselle (1990, p. 366): 
O aborto no Mundo Antigo pode ser conhecido por meio de fon-
tes literárias, tratados médicos e textos jurídicos que condenavam 
seus praticantes, tanto a mulher que abortava como a pessoa que 
o administrava.
Como era comum entre os romanos não haver distinção en-
tre veneno e filtros mágicos, a ingestão de poções abortivas era 
tida como um crime de magia maléfica; essas poções eram com-
paradas a venenos.
Mas é preciso distinguir no mundo romano dois tipos de mu-
lheres: as matronas, mulheres casadas ou bem nascidas, prepa-
radas para receberem um dia um marido, e as libertas, escravas, 
concubinas, prostitutas, dançarinas, mulheres que, independente-
mente de exercerem profissões diferentes, pertenciam a estatutos 
sociais diferentes. Muitas vezes, por assumirem uma moral dife-
rente, eram consideradas marginais, recebendo direitos diferentes 
dos das matronas.
As matronas, materfamilias, eram as mulheres livres, consi-
deradas de boa família, casadas ou preparadas para o casamento. 
A elas cabia a responsabilidade do casamento e, por isso, eram 
respeitadas e honradas. A maioria das fontes latinas, quando dão 
alguma informação sobre mulheres, se remetem a essas romanas 
honradas.
A designação jurídica de uma mãe de família, assim como a 
de um pai de família (paterfamilias), dependia do casamento, não 
sendo aplicada necessariamente apenas ao nascer dos filhos; des-
sa forma, com o ato do casamento, uma mulher era considerada 
uma materfamilias e o homem um paterfamilias.
A matrona era protegida pelas leis e decretos do Senado. De-
las eram exigidos, não apenas o recato, mas o cuidado com a casa 
© História Antiga II120
e a educação dos filhos até os sete anos de idade e, também, a 
obrigação de cobrir o rosto ao sair à rua.
O segundo tipo de mulheres incluía mulheres de níveis so-
ciais mais baixos, que, em geral, eram escravas e libertas, as cha-
madas libertinas. Essas mulheres eram consideradas simplesmen-
te "coisas" e estavam entregues a variadas funções incompatíveis 
ao universo da matrona romana, que possuía uma vida restrita ao 
lar e à subserviência do marido.
As mulheres livres aprendiam a dançar, a tocar cítara e flauta 
e não eram mal vistas quando exerciam essas funções, que faziam 
parte de sua própria condição de mulheres da segunda classe, ao 
contrário da matrona, que jamais poderia sair do âmbito privado. 
Elas serviam, ainda, de "válvula de escape" para os problemas fa-
miliares, pois era com elas que os homens vinham se divertir, res-
guardando suas esposas. 
Clódia, mulher de Quinto Cúrcio Metelo, escandalizou os 
costumes conservadores romanos ao sair beijando seus amigos 
em público: "ela era uma apaixonada paladina pelos direitos femi-
ninos", havendo poetas como Catulo que a censuravam (DURANT, 
1971). Casos como esse parecem ter escandalizado a sociedade 
romana.
Mas não era apenas para conter os prazeres masculinos que 
viviam essas mulheres. Muitas eram parteiras, comerciantes, cos-
tureiras, lavadeiras etc. 
Vivendo em pequenos apartamentos nas cidades, em casas 
pobres no campo ou nos bairros afastados, elas, muitas vezes, se 
dedicavam a serviços pesados. Muitas dessas mulheres trabalha-
vam nas casas da aristocracia, como as escravas, as artesãs e as 
libertas empregadas.
As cortesãs, prostitutas de alto luxo, mesmo acumulando ri-
quezas, continuavam fazendo parte desse grupo de mulheres mar-
ginais, pois tinham perdido sua honra ao dedicar-se à prostituição.
121
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
As prostitutas (meretrizes), pobres ou ricas como as corte-
sãs, eram, em geral, escravas, libertas, crianças abandonadas ou 
mulheres livres muito pobres.
As concubinas eram mulheres de diversas posições sociais 
que mantinham relações, geralmente extraconjugais, com um 
mesmo romano e que não se casavam por diversos motivos. Ti-
nham as mesmas funções de uma esposa romana, devendo cum-
plicidade e fidelidade e o direito de separação, caso não fosse uma 
escrava. A idade mínima para as uniões dessas mulheres também 
era de 12 anos e deveriam, assim como as matronas, sair de cabe-
çacoberta à rua.
Muitas vezes, essas mulheres chegavam a se casar, alcançan-
do um nível de matrona, porém continuavam sendo consideradas 
inferiores. O casamento dessas mulheres, diferentemente dos das 
matronas, não visava garantir a reprodução do corpo social de 
cidadãos legítimos, não necessitando seguir os rigores jurídicos, 
uma vez que não se incluíam questões de propriedade nem alian-
ças políticas.
Em relação às práticas religiosas em Roma, John Scheid 
(1990) nos informa que, tanto no espaço público quanto no pri-
vado, os dois âmbitos nos quais se desenrolavam os ritos religio-
sos dos romanos, a mulher era afastada para um segundo plano. 
Considerada pelo Direito Romano como incapaz de representar al-
guém além dela mesma, como vimos, ela estava proibida de repre-
sentar uma divindade. Apesar dessa característica de marginaliza-
ção, a mulher servia de complemento indispensável ao homem, 
no plano religioso.
As partes mais importantes dos cultos, como a matança de 
animais para o sacrifício, o corte, a partilha da vítima, eram tarefas 
exclusivamente masculinas.
No âmbito público, todas as responsabilidades sacerdotais 
eram incumbências masculinas, e mesmo as deusas femininas ti-
nham um homem como representante. As mulheres apareciam 
© História Antiga II122
nesses casos apenas quando eram esposas de um sacerdote, os 
chamados flâmines; assim, caracterizavam-se como flamínicas, 
porém elas estavam sempre sob o jugo de seu marido, que lhes 
delegava funções. 
Exceções de participações femininas no campo religioso po-
dem ser vistas no caso da esposa do rei dos ritos sagrados (rex sa-
crorum) e das Virgens Vestais. A regina sacrorum era a esposa do 
sacerdote de Juno, podendo praticar sacrifícios, mas sua atividade 
estava intimamente relacionada com a do marido, assim como a 
do seu marido estava relacionada com a dela. Para assumir esse 
cargo sacerdotal era preciso estar casado, e se a esposa morresse 
ele perdia sua ocupação como tal. 
As Vestais eram as sacerdotisas da Deusa Vesta. Devemos ter 
em mente o estatuto sexual ambíguo que os romanos atribuíam 
a elas. Assim, a mulher depois de escolhida como uma Vestal era 
vista como de uma natureza intermediária, podendo dispor nor-
malmente de seus bens. Não eram nem libertinas e nem matro-
nas, não podendo ter filhos e mantendo a castidade até os 30 
anos, quando completava seu exercício sacerdotal, mas também 
não eram homens, uma vez que celebravam ritos matronais. Des-
sa maneira, notamos a ambiguidade do seu caráter, em que elas 
ficavam relegadas a uma categoria diferente dentro do imaginário 
dos romanos.
Em relação à política, as mulheres não podiam exercer papeis 
administrativos, porém muitas delas apareceram e se destacaram 
devido ao marido e aos filhos nas tomadas de decisões, como no 
caso de Agripina, a mãe de Nero e de Julia Domna, a esposa de 
Septímio Severo. 
Portanto, como podemos ver, as mulheres romanas sempre 
estiveram subjugadas ao poder e às funções masculinas; embora 
muitas tenham sido respeitadas, sempre apareciam nos bastido-
res do mundo romano.
123
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
9. ARTES
Para alguns historiadores, o final da arte romana e, por con-
seguinte, o início da arte medieval coincidem com a conversão do 
Imperador Constantino ao cristianismo e com a mudança da capi-
tal do Império de Roma para Constantinopla, no ano 330. No en-
tanto, tanto o estilo romano como sua temática pagã continuaram 
representados durante séculos, reproduzidos frequentemente em 
imagens cristãs. 
Tradicionalmente, a arte romana é dividida em dois períodos: 
a) A arte da Roma republicana. 
b) A arte da Roma Imperial (do ano 27 a.C. em diante), 
com subdivisões correspondentes aos imperadores mais 
importantes ou às diferentes dinastias. 
Na época da República, o termo "romano" estava pratica-
mente restrito à arte realizada na cidade de Roma, que conservava 
fortes características etruscas. 
Pouco a pouco, a arte libertou-se de sua herança etrusca, 
graças à expansão territorial e pelo fato de os romanos terem assi-
milado outras culturas, como a grega.
É muito comum lermos nos livros didáticos que a arte ro-
mana tem pouca originalidade, não passando de uma cópia da 
arte grega. Contudo, devemos analisar que, embora baseada em 
modelos gregos, principalmente nas artes plásticas, a arte romana 
teve sim sua originalidade, uma vez que adaptou esses modelos a 
suas necessidades e a seu cotidiano, diferentes das necessidades 
e do cotidiano grego. 
10. LITERATURA
A produção literária dos primeiros cinco séculos da história 
romana é pequena, nos legando apenas textos legislativos, elogios 
fúnebres e poemas satíricos em sua maioria. Após as conquistas e 
© História Antiga II124
o contato de Roma com as culturas grega e oriental aumentam as 
produções.
Alguns importantes nomes do período republicano são: 
Ênio (239-169 a.C.): poeta romano conhecido como "pai da 
poesia latina". Ele escreveu um longo poema intitulado Annales. 
Muitos de seus versos são conhecidos por citações da Eneida, de 
Virgílio. 
Catão (234-139 a.C.): não foi um poeta propriamente, mas 
um orador. Ficou conhecido como Catão, o censor, pela austeri-
dade de seus princípios e pelo combate à helenização da cultura 
romana.
Catulo (84-54 a.C.): pertencia a um grupo de poetas deno-
minados poeta novus. Sua importância é fundamental para carac-
terizarmos esse círculo, uma vez que é de Catulo a única obra que 
possuímos. Seu estilo é lírico e sofreu influências dos gregos Safo 
e Anacreonte. 
A época do governo do Imperador Augusto foi um período 
muito próspero no campo literário, num contexto conhecido como 
Idade de Ouro da Literatura Romana. Augusto incentivou muito 
esse campo artístico: como você estudou, muitos poetas eram fi-
nanciados por ele, Augusto, que, inclusive, tinha um amigo, Mece-
nas, que lhe servia como uma espécie de ministro das artes, pro-
curando por novos talentos. 
No século 16, durante o período do Renascimento Cultural 
europeu, as pessoas que financiavam artistas renascentistas eram 
chamadas de Mecenas em lembrança a esse ministro das artes do 
Imperador Augusto. 
Da época de Augusto, destacam-se os seguintes nomes:
Virgílio (70–19 a.C.): é considerado por muitos como um 
dos mais célebres poetas latinos. Como já estudamos no Tex-
to Complementar da Unidade 1, é ele o autor da Eneida, obra 
125
Claretiano - Centro Universitário
© U4 - Sociedade e Cultura no Império Romano
que narra as aventuras do herói troiano Enéias e o nascimento 
de Roma. Virgílio também compôs as Bucólicas ou Éclogas e as 
Geórgicas. Estes dois livros de poemas narram histórias ligadas 
ao campo, às tarefas campestres e à importância da agricultura. 
Ovídio (43–16 a.C.): ele não fez parte do círculo de poetas 
augustanos, como eram conhecidos esses poetas. A história de 
Ovídio, inclusive, é muito interessante, envolvendo até um exílio 
por motivos até hoje especulados. O tema frequente da poesia 
de Ovídio foi o amor. Suas principais obras foram A arte de amar 
e Metamorfoses (um compêndio literário sobre mitologia greco-
-romana). Ovídio influenciou autores tão diversos como Dante e 
Shakespeare e exerceu grande influência na revitalização da poe-
sia bucólica e mitológica do Renascimento. No ano 8° d.C., o poeta 
Ovídio foi mandado para o exílio em Tomos (atual cidade de Cons-
tância na Romênia). Ele descreve as acusações que o levaram a 
esse resultado como "um poema e um erro", referindo-se ao poe-
ma A Arte de amar, considerado demasiado imoral para padrões 
impostos por Augusto, pois Ovídio ria cinicamente da sociedade 
metropolitana refinada. O erro de que o poeta fala pode estar rela-
cionado com o adultério da neta de Augusto. Conforme nos indica 
Grant (1987, p. 238), "o Imperador talvez suspeitasse que Ovídio 
sabia demais e não se calara sobre o que sabia". A maioria dos his-
toriadores acredita que o envolvimento do poeta nos escândalos 
de Julia

Outros materiais