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EXITUS 5 TEMA: CRIMES DE TRÂNSITO 1 – PROCEDIMENTO Os crimes previstos no CTB não têm um procedimento especial e seu artigo 291, “caput”, determina a aplicação das normas gerais do CP, CPP e, no que couber, a Lei 9099/95. Com relação à Lei 9099/95, entende-se que poderá ser aplicada integralmente apenas aos crimes de trânsito cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos. Excepcionalmente, alguns institutos da Lei 9099/95 eram estendidos a crimes cuja pena, na época, superava o patamar de definição de infração de menor potencial ofensivo. Isso era disposto no antigo Parágrafo Único do art. 291, CTB, que permitia a aplicação aos crimes de trânsito de lesões corporais culposas (art. 303, caput e Parágrafo Único, CTB), embriaguez ao volante (art. 306, CTB) e participação em competição não autorizada (racha) (art. 308, CTB), dos institutos da composição civil de danos (art. 74, Lei 9099/95), da transação penal (art. 76, Lei 9099/95) e da representação (art. 88, Lei 9099/95). Esse tratamento excepcional passou somente a ter maior relevância quanto ao crime de embriaguez ao volante (art. 306, CTB) e Lesões corporais culposas com aumento de Pena (art. 303, Parágrafo Único, CTB), cuja pena máxima do primeiro é de 3 anos e da segunda ultrapassa dois anos devido à aplicação do aumento, pois nos casos de lesões corporais culposas simples (art. 303, caput, CTB) e racha (art. 308, CTB), tornaram-se efetivamente infrações de menor potencial, cujas penas máximas não passavam de 2 anos (vide nova redação do artigo 61 da Lei 9099/95 e Lei 10.259/01). Não obstante, hoje, em vista da Lei 12.971/14, o artigo 308, CTB também não é mais de menor potencial, pois sua pena máxima foi elevada a 3 anos. Também é importante a necessidade de representação como condição de procedibilidade para as Lesões corporais culposas do trânsito. Por óbvio não se aplicava a necessidade de representação (art. 88 da Lei 9099/95) aos crimes dos artigos 306 e 308, CTB, que têm como sujeito passivo a coletividade. Dessa forma, havia no CTB certos crimes para os quais havia aplicação total da Lei 9099/95. Também havia caso (artigo 306) para o qual era prevista uma aplicação parcial. Por fim, no caso do homicídio culposo no trânsito (art. 302), não há possibilidade de aplicação da Lei 9099/95. Atualmente, com a Lei 11.705/08, somente há aplicação excepcional da Lei 9099/95 às lesões culposas no trânsito com aumento de pena (vide artigo 291, § 1º. e 2º., CTB). No mais se aplica somente aos crimes de trânsito com penas máxima abstratas de dois ou menos anos. IMPORTANTE Ocorre que a Lei 11.705/08 alterou sensivelmente esse quadro (novos parágrafos 1º. e 2º. do art. 291, CTB: -Não mais menciona o art. 306, CTB, de modo que a ele não se aplica mais nenhum instituto da Lei 9099/95, tirante a Suspensão Condicional do Processo (art. 89, da Lei 9099/95), que não é específico de infrações de menor potencial. -Não mais menciona o art. 308, CTB, e este se torna de médio potencial com pena máxima de 3 anos por força da Lei posterior 12.971/14. -Agora o § 1º. Somente menciona a extensão de alguns institutos sobreditos da Lei 9099/95 às lesões corporais culposas do trânsito. Note-se, porém, que certamente refere-se tal extensão somente aos casos de lesões culposas do trânsito com aumento de pena (art. 303, Parágrafo Único, CTB), vez que as lesões culposas do trânsito simples (art. 303, caput, CTB), já são, naturalmente, infrações de menor potencial ofensivo, pois que sua pena máxima não ultrapassa 2 anos, sendo-lhes aplicável a Lei 9099/995 “in totum”, por força do art. 291, “caput”, CTB, e não devido ao seu § 1º. -Mesmo nos casos de lesões culposas com aumento de pena, não haverá a extensão quando ocorrer alguma das hipóteses limitativas do artigo 291, § 1º., I, II e III, CTB. Essa é uma mudança importante, já que antes a extensão se dava aos crimes que mencionava sem nenhuma condição especial. -OBS. IMPORTANTE: É preciso atenção ao § 2º. do art. 291, CTB. Agora não há mais dúvida: mesmo nos casos de extensão, somente os institutos dos arts. 74,76 e 88 da Lei 9099/95 serão aplicados. O crime, porém, deverá ser apurado em Inquérito Policial, sendo possível a prisão em Flagrante e o feito será distribuído para o Juízo Comum, que ficará encarregado de aplicar os institutos sobreditos da Lei 9099/95. 2 – SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO DA HABILITAÇÃO OU PERMISSÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR Com a previsão expressa dessa penalidade nos crimes do CTB, o art. 47, III, CP foi revogado, não tendo mais aplicação prática. Isso porque: a)O art. 57, CP, limita a aplicação do art. 47, III, CP aos casos de crimes culposos de trânsito e, para estes, já há previsão da mesma pena no CTB; b)Nos casos dos artigos 304, 305, 309, 310, 311 e 312, em que tal pena não é prevista no CTB, também não há como aplicar o art. 47, III, CP, vez que este se limita aos crimes culposos de trânsito (art. 57, CP), sendo tais crimes todos dolosos. A estes crimes a aplicação da suspensão ou proibição somente ocorrerá em casos de reincidência específica em crimes de trânsito (art. 296, CTB). Nestes casos a reincidência não poderá ter efeito de agravante (“bis in idem”) (art. 61, I, CP). OBS. IMPORTANTE – A Lei 11.705/08 alterou a redação do art. 296, CTB – mantém a aplicação da pena de suspensão para os casos de reincidentes específicos em crimes de trânsito, mas agora, o que era uma faculdade do juiz se transformou numa obrigação. A nova redação é imperativa, dizendo que o juiz aplicará a referida penalidade e não que poderá aplicar. -A reincidência específica vale para qualquer crime do código de trânsito, não precisando ser exatamente o mesmo crime. Por ex. vale homicídio culposo com embriaguez ao volante. -O Juiz tem que mencionar a pena na sentença, ela não é automática. Se não mencionar e transitar em julgado o condenado não será prejudicado por essa sanção. Por isso, cabe ao MP interpor embargos de declaração e/ou apelação nos casos em que o juiz deixar de aplicar a referida penalidade. - Outro aspecto relevante quanto ao presente tema é que a sanção de suspensão sobredita não poderá ser aplicada em casos de condenações por crimes de trânsito que já a prevêem como pena principal no preceito secundário dos tipos penais. Nesses casos, de que são exemplos os artigos 302, 303, 306, 307 e 308, CTB, a reincidência atuará como “circunstância agravante preponderante”, nos termos do artigo 61, I, CP. Nos demais casos, em que os crimes de trânsito não prevêem a penalidade em destaque de forma principal (artigos 304, 305, 309, 310, 311 e 312, CTB), o Juiz deverá aplicar a suspensão, sendo que nessas circunstâncias a reincidência não poderá ser utilizada como agravante genérica de acordo com o artigo 61, I, CP, para evitar “bis in idem”. 3 – EFEITO EXTRAPENAL DA CONDENAÇÃO POR CRIME DE TRÂNSITO Nos termos do art. 160, CTB, a condenação por crime de trânsito tem o efeito automático (independente de menção na sentença) de obrigar o condutor a submeter-se novamente a todo o procedimento para habilitação para poder voltar a dirigir legalmente. 4 – SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO CAUTELAR (ART. 294, CTB) Trata-se de medida preventiva, devendo estar presentes os requisitos da prova do crime e de indícios suficientes de autoria (art. 312, CPP). Quanto à motivação, reduz-se à “garantia da ordem pública”. NOVA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO CAUTELAR: Cautelar semelhante foi prevista pela Lei 13.804/19, com a criação do artigo 278 – A e, especificamente, seu § 2º., CTB (Lei 9.503/97). É possível que o juiz, no caso de prisão em flagrante por crimes de receptação, descaminho e contrabando, sendo o suspeito condutor de veículo automotor, tendo agido usando o veículo para as práticas criminosas, venha a suspender, em decisão motivada, sua permissãopara dirigir ou CNH ou mesmo proibir a obtenção de permissão, acaso não seja habilitado. Neste caso, a lei prevê que a cautelar poderá ser decretada de ofício pelo Juiz ou mediante requerimento do Ministério Público ou representação da Autoridade Policial. Tratando-se de lei posterior à Lei 12.403/11, entende-se que o decreto de ofício se sobrepõe à norma do artigo 282, § 2º., CPP, embora seja isso de duvidosa constitucionalidade. Afinal, o artigo 282,§ 2º., CPP veio a lume exatamente para evitar a atuação “ex ofício” do Juiz na fase investigatória. A cautelar, porém, somente poderá ser imposta se houver necessidade para a garantia da ordem pública, isso em qualquer fase da investigação ou da ação penal. Frise- se que o artigo 278 –A, “caput” prevê a cassação da habilitação e a proibição de obter habilitação pelo prazo de 5 (cinco) anos, quando o infrator for condenado com trânsito em julgado pelos crimes de receptação, descaminho ou contrabando, usando veículo automotor. Não obstante, agora não se trata de cautelar, mas de efeito secundário imperativo da condenação. Esse condenado, poderá voltar a habilitar-se, passado o período de cinco anos, desde que se submeta a todos os exames necessários para a primeira habilitação. Isso está disposto no artigo 278 – A, § 1º., CTB, para impedir a ocorrência de pena de caráter perpétuo, o que seria inconstitucional. Obs. Recurso da Decisão que Defere ou Indefere – Recurso em Sentido Estrito (art. 581, CPP c/c art. 294, Parágrafo Único, CTB). 5 – MULTA REPARATÓRIA (ART. 297, CTB) 5.1 – NATUREZA JURÍDICA a)Pena – Entendimento criticado porque se fosse seria inaplicável, uma vez que não é prevista nos tipos penais (preceito secundário), infringindo, destarte, o Princípio da Legalidade. b)Efeito secundário extrapenal da condenação (Posição Predominante). Obs. 1 – Trata-se não do efeito genérico de toda condenação penal quanto à obrigação de reparar o dano (art. 91, I, CP), mas de efeito específico porque só previsto para os casos do CTB. Obs. 2 – Também não é efeito automático porque depende de menção expressa na sentença e determinação de seu valor pelo juiz. Obs. 3 – a “Multa Reparatória” não deve ser confundida com a “pena pecuniária de multa” prevista expressamente em alguns tipos penais do CTB. Obs. 4 – A “Multa Reparatória” paga não impede o complemento da indenização no Juízo Cível, mas deve ser descontada nessa ocasião (art. 297, § 3º, CTB). Obs. 5 – Quando o § 2º do art. 297 diz que se aplicam à execução da multa reparatória as regras dos artigos 50 a 52, CP, isso se refere somente ao procedimento, vez que quem deverá promover a execução será o próprio interessado e não a Procuradoria Fiscal ou o MP. Obs. 6 – Segue-se o rito das execuções fiscais (Lei 6.830/80), nos termos do art. 51, CP e a competência é da Vara da Fazenda Pública. 6 – AGRAVANTES GENÉRICAS São previstas no art. 298, I a VII, CTB. Valem algumas observações: a)I – Com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros. Obs. 1 – Não se aplica ao Homicídio Culposo e à Lesão Corporal Culposa porque nesses casos aplica-se o concurso formal (art. 70, CP). Obs. 2 – Somente se aplica aos crimes de perigo de trânsito. b)II – Veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas. Obs. – Somente se aplica se quem falsificou ou adulterou foi terceiro, porque se foi o próprio autor, haverá concurso material com o artigo 311, CP. c)III – Sem possuir CNH ou permissão para dirigir. Obs. 1 – Não se aplica aos crimes de Homicídio Culposo e Lesão Corporal Culposa porque já é prevista como causa de aumento de pena. Obs. 2 – Também não se aplica ao art. 309, CTB porque já constitui o crime. Obs. 3 – Também não se aplica ao art. 310, CTB porque o autor não conduz o veículo. d)IV – Com permissão para dirigir ou CNH diversa da categoria necessária para o veículo. Valem as mesmas observações anteriores, pois essa situação eqüivale à inabilitação. e)V – Cuidados especiais violados devido a profissão ou atividade de transporte de cargas ou passageiros. Obs. 1 – Nos casos de HC e LCC, se o crime é cometido no exercício de profissão ou atividade de transporte de passageiros, afasta-se a agravante porque já é prevista causa de aumento de pena. Obs. 2 – Mas, se for o caso de transporte de cargas, aplica-se a agravante também aos casos de HC e LCC porque o aumento trata de transporte de passageiros somente. f)VI – Adulteração do veículo que prejudique a segurança. Obs. Nos crimes de HC e LCC não será aplicada se for apurado que a adulteração configurou a imprudência que caracteriza a culpa. A aplicação da agravante nestes casos configuraria “bis in idem”. g)VII – Faixa de Pedestres Obs. Não cabe nos casos de HC e LCC porque já é prevista como causa de aumento de pena. 7 – PRISÃO EM FLAGRANTE A prisão em flagrante é vedada nos crimes de HC e LCC do trânsito quando o autor prestar socorro à vítima. 8 – DOS CRIMES 8.1 – HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 302, CTB) Atentar para a diferenciação para com o Homicídio Culposo do CP (art. 121, § 3º, CP). -Art. 302, CTB – Autor na direção de veículo automotor (ver definição no anexo do CTB), no trânsito viário. Obs. Quanto à questão do trânsito viário, ver opinião em contrário de Fernando Capez. Ele afirma que não há necessidade que seja no trânsito viário, pois que o tipo penal não menciona isso, como fazem outros crimes do próprio CTB. -Art. 121, § 3º, CP – Aplicação residual. - AUMENTOS DE PENA – Art. 302, Parágrafo Único, I a IV, CTB. O inciso V (embriaguez) foi revogado pelo artigo 9º. da Lei 11.705/08. Havia uma qualificadora prevista no §2º. do artigo 302, mas esta foi revogada pelo artigo 6º. da Lei 13.281/16. Era o caso do homicídio culposo com embriaguez ou racha, mas a pena era a mesma do caput apenas mudando para reclusão (absurdo). Em boa hora foi revogado. Entretanto, a Lei 13.546/17 voltou a prever a ebriedade como exacerbação penal, desta feita como “qualificadora” – artigo 302, § 3º., CTB. “§ 3º. Se o agente conduz o veículo automotor sob influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – reclusão de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”. Diminui a relevância da discussão acerca de “dolo eventual” e “culpa consciente”, embora não impeça, em qualquer caso concreto o reconhecimento do primeiro. Apenas reforça a regra geral de prevalência da culpa consciente. Também acaba a discussão acerca da absorção do artigo 306 CTB ou concurso. Agora, obviamente, é absorvido, senão caracterizaria “bis in idem”. IMPORTANTE: Embora o Código Penal, em seu artigo 44, I, estabeleça a possibilidade de penas substitutivas ou alternativas para crimes culposos em geral, no caso do homicídio culposo e da lesão corporal culposa do CTB, qualificados pela embriaguez é vedada essa substituição, isso pela Lei 14.071/20, que entra em vigor em 12 de abril de 2021, embora tenha sido publicada antes, pois houve “vacatio legis”, a qual altera o CTB, inserindo um artigo 312 – B. 8.2 – LESÃO CORPORAL CULPOSA (ART. 303, CTB) Também necessário o mesmo cuidado e as mesmas regras para a distinção dos casos do CP (art. 129, § 6º, CP). Obs. 1 – Perdão Judicial (art. 121, § 5º, CP e art. 129, § 8º, CP) – segundo entendimento francamente predominante aplica-se aos casos do CTB. Obs. 2 – Os crimes de HC e LCC absorvem eventuais crimes de perigo com eles conexos (ex. arts. 306, 308, 309, 310 e 311, CTB). No caso do Obs. 3 – As causas de aumento são previstas no art. 302, Parágrafo Único, I a IV, CTB, tanto para o HC como para a LCC (ver art. 303, § 1º., CTB – obs. O antigoParágrafo único se transforma em § 1º. por força da Lei 13.546/17). Note-se que o inciso V foi incluído pela Lei 11275/06, mencionando aumento para o caso da prática dos crimes de LCC e HC quando o condutor esteja embriagado ou sob efeito de entorpecentes, mas foi revogado pelo artigo 9º. da Lei 11.705/08. No entanto, agora a embriaguez volta à LCC no trânsito como “qualificadora”, desde que a vítima sofra lesões graves ou gravíssimas. Se ocorrer lesão leve discute-se o concurso com o artigo 306, CTB (prevalece, nesse caso específico, o concurso). Vide alterações da Lei 13.546/17. “§2º. A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência do álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima”. IMPORTANTE: Embora o Código Penal, em seu artigo 44, I, estabeleça a possibilidade de penas substitutivas ou alternativas para crimes culposos em geral, no caso do homicídio culposo e da lesão corporal culposa do CTB, qualificados pela embriaguez é vedada essa substituição, isso pela Lei 14.071/20, que entra em vigor em 12 de abril de 2021, embora tenha sido publicada antes, pois houve “vacatio legis”, a qual altera o CTB, inserindo um artigo 312 – B. OBS. Lembrar que tem o problema do “e” na LCC, então para a vedação basta a embriaguez ou também tem que haver lesões graves???? Outra questão: e se não houver embriaguez, mas sim lesões graves? Há impedimento???? ALGUMAS QUESTÕES NOVAS COM A LEI 13.546/17: 1)No HC não se fala em alteração da capacidade psicomotora, mas apenas na influência de álcool. É necessária ou não a alteração? A doutrina se divide, mas a tendência é a de que seja necessária, porque caso contrário perde a motivação a qualificadora, tornando-se um exemplo de responsabilidade penal objetiva. 2)A qualificadora da LCC exige que haja embriaguez “e” (mais, conjuntamente) lesão grave ou gravíssima. No caso de lesão leve, mesmo com embriaguez, não há a qualificadora, vindo à tona a discussão sobre concurso com o artigo 306, CTB, prevalecendo a tese do concurso e não a da absorção. Porém, pode haver a defesa pela doutrina de que mesmo com lesões leves, a embriaguez, por si só, leva à qualificação. Isso, porém, parece não se sustentar, dado o uso da conjunção aditiva “e” na redação do artigo 303, § 2º., CTB. 8.3 – OMISSÃO DE SOCORRO NO TRÂNSITO (ART. 304, CTB) Obs.1 – Crime próprio – só pode ser cometido pelo condutor de veículo envolvido em acidente com vítima. Então cometem o crime do art. 135, CP (Crime Comum): -Outros condutores de veículos não envolvidos no acidente; -Pessoas que não estão conduzindo veículos automotores. Obs. 2 – O crime só de aplica ao condutor envolvido no acidente, mas que não foi o seu causador. Isso porque se o foi responderá por HC ou LCC com aumento de pena (ver art. 302, Parágrafo Único, III, CTB). Obs. 3 – Não cabe tentativa, pois se trata de crime omissivo próprio. Obs. 4 – Art. 304, Parágrafo Único – Necessário muito cuidado em sua interpretação, sob pena de gerar situações absurdas. 8.4 – FUGA DO LOCAL DO ACIDENTE (ART. 305, CTB). Obs. 1 – CRÍTICAS SOBRE A CONSTITUCIONALIDADE NA DOUTRINA a)Princípio da Ampla Defesa – direito de não produzir prova contra si mesmo. b)Violaria a vedação da prisão civil por dívida. Ambas objeções não vêm sendo acatadas pela maioria da doutrina e pela jurisprudência. Em 14.11.2018 o STF julgou o artigo 305, CTB constitucional, ponderando com os princípios básicos da solidariedade e de uma sociedade justa (votação não unânime 7 a 4) . Obs. 2 – CRIME PRÓPRIO – Condutor do veículo que tenha dado causa a um acidente e se evada do local. Além disso só é sujeito ativo aquele condutor que foi o causador do acidente, pois só ele poderá ser responsabilizado pela conduta. Obs. 3 – CONCURSO a)Possível com os crimes de HC e LCC normalmente (somente a omissão de socorro é prevista como aumento de pena e não a fuga). b)Também possível o concurso com os artigos 306 ou 308, CTB quando há danos materiais a terceiros e o agente foge para evitar a responsabilidade civil. 8.5 – EMBRIGUEZ AO VOLANTE (art. 306, CTB) – Ver nova redação dada pela Lei 12.760/12 – Ver meus artigos no SITE ATUALIDADES DO DIREITO – BLOG SARAIVA/LFG (www.atualidadesdodireito.com.br/eduardocabette/ ) : (“Lei 12.760/12: A Nova Lei Seca”, em coautoria com Francisco Sannini Neto e “Nova Lei Seca (Lei 12.760/12: Perigo Abstrato ou Perigo Concreto”). Obs. 1 – Discussão quanto à natureza jurídica do crime: a)Crime de perigo abstrato b)Crime de perigo concreto c)Crime de Lesão ou de dano (Bem jurídico: Segurança Viária) – Doutrina: Damásio E. de Jesus, Fernando Capez, Victor Eduardo Rios Gonçalves. d)Crime de Perigo abstrato (artigo 306,§ 1º., I, CTB) e Crime de Perigo concreto (artigo 306, § 1º., II, CTB). e)Crime de “Perigo Abstrato de Perigosidade Real” (Leonardo de Bem e Luiz Flávio Gomes) – o perigo seria exigido, mas não a uma ou a um grupo determinado de pessoas. Confusão com os conceitos de crime de perigo comum e crime de perigo individual. IMPORTANTE: Ver conflitos entre os artigos 306, CTB ; 39 da Lei 11.343/06 (Tóxicos); Arts. 34 e 35, LCP e Art. 132, CP. Obs. 2 – Quando o agente está embriagado ou sob influência de álcool? Antes da Lei 11.705/08, a questão era assim abordada: http://www.atualidadesdodireito.com.br/eduardocabette/ Quando seu estado gere perigo na direção de veículo. Duas orientações: a)Critério do antigo art. 276, CTB – concentração de 0,6 g/l de álcool no sangue; b)Avaliação do estado do motorista no caso concreto. (Entendimento predominante na época, mesmo porque a constatação pode dar-se não só pelo exame toxicológico, como também pelo exame clínico e por aparelho de ar alveolar – “bafômetro” ou etilômetro). Com o advento da Lei 11.705/08 e a nova redação do art. 306 CTB: -O crime se perfaz com a simples constatação de concentração de 0,6 g/l de álcool no sangue do motorista ou que ele dirige sob a influência de outras substâncias psicoativas que causem dependência. (Obs. A concentração equivalente no etilômetro é de 0,3 mg/l de álcool no ar alveolar do pulmão). -O tipo penal não mais exige a criação de “dano potencial à incolumidade de outrem” (vide discussão supra sobre a natureza do crime). -O novo artigo 276, estabelece, para fins administrativos que qualquer concentração de álcool ou substâncias psicoativas impede o motorista de dirigir. Ver margens de tolerância no Decreto 6488/08. -Comprovação do crime através do teste do etilômetro, exame toxicológico do sangue e complementação pelo exame clínico de embriaguez. Outros meios mencionados no artigo 277, CTB, são referentes somente ao âmbito administrativo e não criminal. Com o advento da Lei 12.760/12 e a novíssima redação do artigo 306, CTB -A lei praticamente retoma no “caput” o critério da direção sob “influência do álcool ou outras substâncias psicoativas que determinem dependência e façam com que o condutor fique com a capacidade psicomotora alterada (retorno à situação anterior à Lei ’11.705/08). -Porém essa capacidade alterada deve ser aferida por dois meios alternativos, segundo o § 1º. do artigo 306, CTB a)Concentração igual ou superior a 6 decigramas por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligramas de álcool por litro de ar alveolar; OU b)Sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. -Revitaliza-se o exame clínico de embriaguez, já que a forma de comprovação da alteração pode ser feita sim pelo etilômetro e exame de sangue, mas não mais somente por eles. -O artigo 306, CTB a partir da Lei12.760/12 é norma penal em branco? Há quem entenda que sim, mas o mais correto parece ser que não, devido ao constante nos §§ 2º. e 3º. do mesmo dispositivo que já regulam as matérias da forma de verificação da alteração psicomotora no caso do inciso II e as equivalências dos testes de alcoolemia no caso do inciso I. Obs. 3 – CONCURSO a)Casos de HC e LCC – Absorção, pois a embriaguez é o elemento da qualificadora do HC criada pela Lei 13.546/17 e elemento da qualificadora da LCC criada pela mesma lei em casos de lesões graves ou gravíssimas. Mas, no caso de lesão leve, discute-se sobre concurso ou absorção, prevalecendo o concurso. b)Casos de falta de habilitação: prevalece o art. 306 e a falta de habilitação entra como agravante genérica, nos termos ao art. 298, III, CTB. 8.6 – VIOLAÇÃO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO IMPOSTA (ART. 307, CTB) Obs. 1 – Entende-se que essa violação só se refere à penalidade imposta judicialmente e não se aplica àquelas impostas administrativamente. Isso porque o Parágrafo Único do art. 307, CTB fala em “condenado”. Obs. 2 – Aquele que tem habilitação suspensa administrativamente e dirige recebe apenas a penalidade administrativa de cassação da CNH (art. 263, I, CTB). Obs. 3 – Não se aplica a agravante genérica da reincidência (art. 61, I, CP) porque constituiria “bis in idem”, uma vez que o agente necessariamente já é condenado por crime de trânsito anterior com imposição da suspensão ou proibição como pena judicial. Obs. 4 – Parágrafo Único do art. 307 – omissão na entrega da permissão ou CNH. É discutível a constitucionalidade desse crime, pois segundo Capez “eqüivaleria a punir alguém por delito autônomo pelo fato de não ter se apresentado à prisão para iniciar o cumprimento da pena”. O prazo previsto para a entrega da CNH é de 48 h., nos termos do art. 293, § 1º, CTB. 8.7 – RACHA (ART. 308, CTB) Obs. 1 – Espectadores e passageiros também respondem pelo crime como partícipes (art. 29, CP). Obs. 2 – CONCURSO a)Absorção pela LCC ou concurso, prevalecendo o concurso. Agora se a lesão for grave, qualificado com reclusão, de 3 a 6 anos nos termos do artigo 308, § 1º., CTB – Lei 12.971/14), a lesão é que é absorvida como qualificadora. b)Prevalece o art. 308 sobre o art. 309, CTB, sendo que a falta de CNH entra como agravante genérica (art. 298, III, CTB). c)Em caso de morte, crime qualificado com pena de reclusão, de 5 a 10 anos (artigo 308, § 2º., CTB – Lei 12.971/14) Obs. A Lei 13.546/17 alterou a redação do artigo 308, “caput”, CTB, acrescentando as condutas de participar na via pública de “exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente”. 8.8 – FALTA DE CNH (ART. 309, CTB) Obs. 1 – Exame de saúde vencido é mera infração administrativa, não configurando o crime. Obs. 2 – CNH suspensa – art. 307, CTB (no caso de suspensão judicial, sendo suspensão administrativa, trata-se de mero ilícito administrativo, com penalidade de cassação). Obs. 3 – CNH de categoria diversa do veículo – art. 309, CTB. Obs. 4 – CNH cassada – art. 309, CTB. Obs. 5 – CNH falsa – Art. 309, CTB em concurso material com o art. 304, CP. Obs. 6 – Ciclomotores – exigem autorização e não CNH, de modo que sua condução desautorizada é mera infração administrativa e não configura o art. 309, CTB. Obs. 7 – Indivíduo habilitado que somente não porta o documento – infração administrativa. Obs. 8 – Art. 32, LCP – Entende-se de forma predominante que foi derrogado pelo art. 309, CTB. Dessa forma só se aplica aos casos de embarcações a motor em águas públicas. Hoje, portanto, somente será crime dirigir veículo automotor sem CNH, gerando perigo. A conduta de apenas dirigir veículo automotor sem CNH, mas não gerando perigo é fato atípico, configurando mero ilícito administrativo. Obs. 9 – Trata-se de crime de mão própria, que não admite co – autoria, mas apenas participação. Note-se, porém, que quem entrega veículo a pessoa inabilitada não responde em concurso com o art. 309, CTB, mas por crime autônomo (art. 310, CTB). Obs. 10 – CONCURSO a)Absorção por HC e LCC. b)Nos casos de Racha (art. 308), embriaguez ao volante (art. 306) e velocidade incompatível (art. 311) – entra como agravante genérica (art. 298, III, CTB). 8.9 – ENTREGA DE VEÍCULO A PESSOA NÃO HABILITADA (ARTIGO 310, CTB) Obs. 1 – A consumação não se dá com a entrega do veículo, mas sim com a sua colocação em movimento pela pessoa que o recebe. Obs. 2 – O que ocorre se a pessoa que recebe o veículo comete outro crime de trânsito (ex. HC ou LCC)? Dois entendimentos: a)Responde o que entregou pelo crime culposo e o art. 310 é absorvido. b)Responde ele somente pelo art. 310, CTB, pois a entrega não configura conduta culposa (predominante). A responsabilização pelo crime culposo de terceiro configuraria modalidade de responsabilidade objetiva. Obs. 3 – Crime de Perigo Abstrato – Súmula 575, STJ: “Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo”. 8.10 – EXCESSO DE VELOCIDADE EM DETERMINADOS LOCAIS (ART. 311, CTB) Obs. 1 – A velocidade inadequada em locais não arrolados no artigo constitui mera infração administrativa. Obs. 2 – Outras manobras perigosas diversas da “velocidade incompatível” constituirão a contravenção de “direção perigosa” (art. 34, LCP). Obs. 3 – Sempre é necessária para configurar o crime a “grande concentração de pessoas”, mesmo perto de hospitais, escolas etc. Obs. 4 – O crime do art. 311, CTB é absorvido pelo HC e LCC. Eventual infração ao art. 309, CTB entrará como agravante genérica (art. 298, III, CTB). 8.11 – FRAUDE NO PROCEDIMENTO APURATÓRIO (ART. 312, CTB) Obs. 1 – Prevalece sobre o crime de fraude processual (art. 348, CP) pelo Princípio da Especialidade. Obs. 2 – Aplica-se aos casos de acidentes de trânsito com vítima. Nos casos de acidentes sem vítima, permanece em aplicação o art. 347, CP.
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