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Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 1 Solução e Suspensão Solução: é uma mistura homogênea de substâncias. Ex: plasma (substâncias em um meio aquoso); xampu; urina Suspensão: é uma mistura heterogênea de substâncias. Ex: sangue (plasma e células); água e óleo; água e areia. Embora não exista unanimidade na literatura a respeito da classificação das soluções, vamos adotar um modelo útil para compreender os fenômenos biológicos, sabendo que a natureza é repleta de exceções. Tanto suspensão quanto solução são misturas. Mistura: reunião de duas ou mais substâncias diferentes em um mesmo meio. Homogênea: é a mistura cujos componentes não podem ser fisicamente separados, mantendo a sua integridade original. Heterogênea: é a mistura cujos componentes podem ser separados fisicamente, mantendo a sua integridade original. O sangue é uma suspensão (mistura heterogênea) de plasma e células. Essa mistura pode ser decomposta por decantação, acelerada por uma centrífuga. Ao final do processo de separação, teremos esses dois componentes fisicamente íntegros, os quais, podem ser “remisturados” constituindo o mesmo sangue original. O plasma sanguíneo é uma solução de substâncias em um meio aquoso. Por mais que centrifuguemos o plasma, não conseguimos separar, por exemplo, a albumina (proteína produzida pelo fígado) do restante. Para fazê-lo, precisamos utilizar um processo físico que corrompa a integridade original dos componentes da solução, como por exemplo a Liofilização. Liofilização: um processo no qual se coloca a solução congelada em uma câmara de vácuo, cuja água sólida em baixas pressões se transforma em vapor por sublimação. A albumina e as outras substâncias da solução serão preservadas; porém, a água terá mudado de estado físico (líquido para gás): sua configuração original, então, terá sido corrompida. O plasma sanguíneo é uma solução. Solução: é uma mistura cujos componentes estão tão intimamente associados, que somente um processo que altere o estado original deles poderá decompor a mistura. As misturas gasosas – como o ar, por exemplo – são soluções ou suspensões? São soluções. A única maneira de separarmos os componentes dessa solução é fazendo com que essa mistura gasosa seja submetida a um processo inverso ao da liofilização: coloca-se a mistura em uma câmara que produz uma compressão (um pistão, por exemplo). À medida que a mistura é comprimida a temperaturas muito baixas, os componentes do gás tendem a mudar de fase (liquefação). Como cada tipo de gás se torna líquido sob uma pressão diferente, logo que a pressão Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 2 chega a um determinado valor, certo componente da mistura gasosa se liquefaz. Então, basta abrir a torneira, fazer o líquido escoar para outra câmara e separarmos a mistura. Como o gás mudou de fase, concluímos que essa mistura é uma solução. Misturas gasosas são soluções O plasma sanguíneo puro não é simplesmente uma solução; ele é também uma suspensão, principalmente após uma refeição rica em gordura. O sangue transporta nutrientes gordura é um nutriente. Plasma → transporta gordura (leitoso)→ é uma solução aquosa (base da solução é água) Água e óleo → Não se misturam → não formam solução Suspensão muito fina no plasma (ajuda de proteínas) Quilomícrons: partículas de gordura suspensas no plasma. Conceitos fundamentais das soluções Dissolução: processo de formação de uma solução, no qual os elementos constituintes da solução se misturam. Solvente: substância que promove a dissolução; ou seja, é a substância que dissolve o soluto. Soluto: substância que se dissolve no solvente. Tipos de solução Vamos admitir dois tipos de soluções: as aquosas e as oleosas. 1 – Solução interativa: as aquosas 2 – Solução difusiva: as oleosas Solução interativa: solução na qual os elementos interagem quimicamente entre si (aquosas). A maciça maioria das soluções é interativa. A água é o melhor e mais abundante solvente que existe no universo para formar soluções interativas (solvente universal). Ex: solução água-sal Solução difusiva: solução na qual os elementos interagem entre si em razão do calor, transferindo energia cinética, misturando-se por difusão (oleosas e gasosas). Ex: solução óleo-óleo, solução gás-gás Conclusão: a presença de energia (calor) é determinante para as soluções difusivas, enquanto a afinidade química é determinante para as soluções interativas. Natureza química da molécula de água Por motivos da geometria da molécula, ela ganha a configuração de um poderoso dipolo elétrico (sistema constituído de duas cargas elétricas de sinais contrários, separadas uma da outra por uma ligação química). A molécula da água não tem carga elétrica, não é íon. Apenas os prótons e elétrons se distribuem de modo desigual ao longo da molécula, permitindo que parte dela (átomos de hidrogênio) manifeste uma força elétrica positiva e a outra parte (o oxigênio) manifeste uma força elétrica negativa. As moléculas de água interagem entre si, constituindo as pontes de hidrogênio. Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 3 As moléculas em conjunto formam uma verdadeira “rede de pesca”. O conjunto tem grande mobilidade, o suficiente para configurar um fluido. Na água existe uma resistência à ruptura das pontes de hidrogênio, que pode acontecer quando colocamos o dedo na água. Como as pontes de hidrogênio são forças de interação, para rompê-las devemos exercer uma força que as vença. A força de interação das pontes produz uma gota de água esférica: as moléculas se atraem com tanta força que se aproximam ao máximo e possibilita que certos insetos caminhem sobre a água. Dinâmica de partículas nas soluções Fluidos (líquidos ou gases) → mantêm uma independência→ cinética relativa entre as partículas Solução de água e sódio → as partículas de água e de sódio apesar de interagirem →apresentam uma relativa independência cinética entre si A água pode ir para um lado e o sódio para outro. Existem fenômenos dinâmicos específicos para as soluções, dada a relativa independência cinética entre os solutos e o solvente. SISTEMAS FUNCIONAIS DA CÉLULA Para manutenção da vida da célula, são necessários nutrientes. As substâncias atravessam a membrana celular por: ➢ transporte passivo (difusão e osmose) ➢ transporte ativo Membrana Celular Delgada camada de lipídios, incrustados de proteínas, que circundam cada célula. Difusão Passagem de uma determinada substância de um meio mais concentrado para um menos concentrado. Tudo flui de um ponto onde há excesso para um ponto onde há falta Segunda Lei da Termodinâmica É a tendência de um soluto se espalhar homogeneamente pelo solvente; assim, em uma solução difusiva, seus componentes se espalham homogeneamente um no outro segundo a regra da difusão. Mas, por que a difusão acontece? Podemos explicá-la por meio de modelos diferentes: ❖ Modelo Termodinâmico ❖ Modelo Mecânico Modelo Termodinâmico Nesse caso a difusão está diretamente relacionada com a taxa de cinética que cada tipo de molécula assume em determinada temperatura. Há moléculas que exibem quantidade de movimento diferente, mesmo à mesma temperatura. A massa da molécula é um determinante disso, uma vez que a mesma quantidade de energia rompe a inércia de moléculas de massas diferentes com acelerações distintas. Uma partícula de menor massa, movendo- se mais, libera mais energia. Como os sistemas tendem ao equilíbrio, as partículas que liberam mais energia tendem a se distribuir homogeneamente entre as partículas que liberam menos Biofísica MédicaMaria Eduarda Rodrigues 4 energia, a fim de que o sistema entre em equilíbrio, respeitando a Segunda Lei da Termodinâmica. Do ponto de vista termodinâmico, difusão é o deslocamento de uma partícula com grande energia cinética a regiões de menor energia, até que o sistema se estabilize. Modelo Mecânico O modelo mecânico é o que será utilizado para responder a questões sobre difusão nos processos biológicos, como a circulação. Esse modelo é a consideração da resultante das forças das partículas que se difundem. Em um processo de difusão, a trajetória da partícula é centrífuga (caminho que se afasta de um dado ponto central) em relação ao ponto de máxima concentração de soluto. Logo, uma força norteia cada partícula para longe de sua origem. Essa força é proporcional à energia do sistema, e, quanto maior for a força, maior será a aceleração e mais rápida será a difusão. Gradiente de concentração Diferença de concentração que diminui à medida que a difusão ocorre. Um gradiente de concentração ocorre quando a concentração de partículas é maior em uma área que na outra. No transporte passivo, partículas irão difundir na direção do menor gradiente de concentração, das áreas de maior concentração para áreas de menor concentração, até que elas tenham a mesma concentração. Difusão Simples Na difusão há um deslocamento de soluto, sempre do meio hipertônico para o hipotônico de forma que as soluções fiquem isotônicas. Difusão Facilitada ❖ Ocorre a favor do gradiente de concentração. ❖ Não há gasto de energia. ❖ Envolve a intervenção de proteínas transportadoras. Osmose Osmose nada mais é do que a difusão do solvente. Para haver Osmose em uma solução, é necessária uma barreira impermeável a solutos e permeável a solventes; ou seja, uma membrana semipermeável. Pressão Osmótica É a pressão externa que se faz sobre a solução mais concentrada para impedir que a osmose ocorra. Pressão resultante do deslocamento de solvente por unidade de área da membrana semipermeável. É a força contrária à Osmose. Pressão Osmótica: a pressão capaz de equilibrar a pressão hidrostática. Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 5 Duas soluções integradas por uma barreira semipermeável podem ser classificadas segundo as concentrações de solutos de uma solução em relação à outra. Essa classificação é comparativa. São elas: Solução hipertônica: solução com maior concentração de solutos em relação à outra. Solução hipotônica: solução com menor concentração de solutos em relação à outra. Solução isotônica: solução com igual concentração de solutos em relação à outra. Pressão parcial de um gás Um gás exerce pressão em seu continente; essa pressão é produzida pela força que esse gás exerce sobre a parede por unidade de área da parede, e a causa dessa força é o somatório dos choques das moléculas do gás contra a parede: quanto mais choques, mais pressão. Pressão parcial: Em uma mistura gasosa, é a pressão exercida por cada gás que compõe a mistura. Pressão parcial de um gás misturado em um líquido Os gases muitas vezes estão em suspensão na água. Essa mistura é uma suspensão devido à existência da pressão parcial exercida pelo gás, na mistura, contra a superfície do líquido, de dentro para fora. Abrimos uma garrafa de refrigerante gás sai da mistura e não corrompe a integridade do gás ou do líquido O líquido e o gás são sistemas que se comunicam, a pressão parcial do gás será proporcional à quantidade de gás que escapa do líquido. As moléculas de gás projetam-se contra a superfície do líquido, ricocheteando de volta. A pressão parcial de um gás no líquido é proporcional à concentração do gás no líquido. Coeficiente de solubilidade Medida que indica o quanto uma substância é solúvel em outra. Ao se determinar a relação entre a pressão e a concentração de gases, determina-se um coeficiente numérico de solubilidade para cada gás. Quanto menor esse coeficiente, maior a pressão parcial exercida pelo gás na superfície do líquido. Se o coeficiente de solubilidade de um gás for muito baixo, os choques que suas moléculas produzem contra a superfície do líquido são muito mais fortes, pois o gás apresenta pouca afinidade com o líquido, e, assim, é maior a tendência de o gás escapar para fora desse líquido. Coeficiente de solubilidade dos gases atmosféricos A probabilidade de um gás escapar da mistura é diretamente proporcional à sua Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 6 concentração e inversamente proporcional ao coeficiente de solubilidade. A pressão parcial de um gás é diretamente proporcional à sua concentração e inversamente proporcional ao seu coeficiente de solubilidade. Será que a quantidade de gás dissolvida dentro de um líquido tem relação com a pressão do gás circunvizinho à solução? Sim, a pressão parcial externa de um gás é determinante da concentração desse gás, quando ele está misturado em um líquido. Uma força para cada tipo de gás apontando: Do meio circundante para dentro do líquido Do líquido para o meio circundante O gás entra ou sai do líquido até as forças se equilibrarem, ou seja, até as pressões parciais ficarem iguais dentro e fora do líquido. Se a pressão parcial de um gás, externa ao líquido, baixa em relação à pressão interna, o gás é expelido da mistura. Se a pressão parcial de um gás, externa ao líquido, aumenta em relação à pressão interna, entra gás na mistura. Ocorre uma verdadeira difusão de gases entre meios fluídicos diferentes, que é ponderada pelo coeficiente de solubilidade de cada gás no meio líquido. Entretanto, há muito mais gás carbônico que oxigênio dissolvido livremente no plasma, já que o coeficiente de solubilidade do CO₂ é muito maior (um dos gases mais solúveis da natureza). Então, como o oxigênio é transportado no sangue? Hemoglobina (Hb) Proteína muito complexa Aceptora do O₂ Tensão Superficial Força que existe na superfície de líquidos em repouso, determinada pela coesão entre as moléculas do líquido. Podemos demonstrar em um simples experimento: Sabemos que tanto a água quanto o álcool formam pontes de hidrogênio; porém, na água elas ocorrem em maior frequência, e o efeito delas na água é mais evidente. Vamos pegar um copo de água e um de álcool, colocar um clipe (aço) na superfície de ambos e observar. O clipe afunda no álcool, mas se mantém suspenso na água. As pontes de hidrogênio na água conseguem sustentar o clipe. Detergente Substância que apresenta em sua estrutura molecular uma parte polar e outra apolar. Os detergentes são formados por moléculas anfipáticas (anfifílicas). Ele é um sal de molécula longa, composto por uma cadeia apolar de dezenas de carbonos (cauda) e uma extremidade polar que se liga à água. O detergente é uma molécula mista, híbrida, parte polar e parte apolar moléculas anfifílicas. A parte iônica é hidrofílica, que se liga a moléculas de água. A parte apolar é hidrofóbica, não interage com a água. Molécula anfifílica ao se ligar a uma molécula de água, literalmente desliga essa molécula da rede de pontes de hidrogênio → cai vertiginosamente Tensão superficial da água é reduzida →Molécula tensoativa Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 7 Os alvéolos pulmonares e as moléculas tensoativas Os alvéolos pulmonares são ricos em água; existe uma fina camada de água na sua superfície interna cuja tensão superficial é forte o suficiente para fazer com que o alvéolo se feche e fique todo “amassadinho” (colabamento: fechamento de uma cavidade) →Forte o suficiente para impedir a inspiração A água alveolar está repleta de surfactante:substância tensoativa (como um detergente) que tem por função reduzir a tensão superficial da água na superfície interna dos alvéolos permite que a água se espalhe pela superfície do alvéolo e este seja insuflado tranquilamente durante a inspiração. Surfactante Crianças prematuras O pulmão de fetos de menos de 30 semanas ainda não produz surfactante. Se não for imediatamente tratado com a aplicação de surfactante sintético pelas vias respiratórias, o bebê morrerá por incapacidade de respirar. Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido ou Síndrome da angústia respiratória. Difusão de solutos entre os capilares e os tecidos Pressões que existem no nível capilar A pressão hidrostática (PH) é maior que a pressão oncótica (PO) na extremidade arterial do capilar, criando uma pressão efetiva que tende a levar água do plasma em direção aos tecidos. Pressão oncótica: pressão osmótica determinada pelas proteínas plasmáticas. Na extremidade venosa do capilar a PO supera a PH, tendendo a reabsorver os líquidos dos tecidos em direção capilar. Isso ocorre porque a PH diminui ao longo do trajeto do fluxo capilar, enquanto a PO aumenta. Por que isso ocorre? Ao longo do trajeto do fluxo do capilar a PH diminui, uma vez que há saída de água do capilar em direção ao tecido. Por esse mesmo motivo, o plasma no interior do capilar fica mais concentrado, e a PO aumenta. Importante ressaltar que essas pressões não são importantes para a troca de solutos (O₂, CO₂ e glicose), pois essa troca se dá por difusão, obedecendo a um gradiente de concentração. Fenômeno decisivo para a difusão dos solutos nos capilares a velocidade do fluxo é muito baixa. Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 8 Fluxo lento tempo disponível para difusão. Quanto mais lento é o fluxo, mais eficiente é o processo de difusão. A pressão é decisiva para o deslocamento de solventes, enquanto a velocidade é decisiva para a difusão de solutos.
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