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LÍNGUA-PORTUGUESA-E-LITERATURA-BRASILEIRA-II

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1 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 3 
2.1 Um pouco de história ....................................................................... 16 
3.1 O Romantismo e suas gerações no Brasil: Primeira geração ......... 29 
3.2 Segunda geração ............................................................................ 31 
3.3 Terceira geração ............................................................................. 32 
4 O REALISMO CONTEMPORÂNEO E A ESCOLA REALISTA DO 
SÉCULO XIX .................................................................................................... 36 
5 REALISMO / NATURALISMO ......................................................... 37 
5.1 O problema do Real – conhecimento e experiência ........................ 38 
5.2 Realismo e Naturalismo: a distinção na literatura brasileira ............ 41 
6 TEMPOS MODERNOS E MODERNISMO NO BRASIL .................. 45 
7 MODERNISMO E LITERATURA MODERNA BRASILEIRA ........... 47 
7.1 Modernismo e crítica literária........................................................... 51 
8 MODERNISMO: A CONTRIBUIÇÃO DE OSWALD DE ANDRADE 54 
8.1 O antropófago Mário de Andrade .................................................... 60 
9 PÓS-MODERNISMO E LITERATURA ............................................ 63 
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – 
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida 
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz 
alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a 
mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas 
ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso 
da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e 
à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
4 
 
2 OS PRIMEIROS PASSOS DO ROMANTISMO NO CONTEXTO 
BRASILEIRO 
 
 
Fonte: portuguescompleto.com.br 
O Romantismo é, sem dúvida, ao lado do Modernismo, o mais 
importante momento literário no Brasil. E isto se deve ao fato de que é com ele 
que a literatura adquire sua autonomia, pois, até então, ela estava ligada, 
colonialmente, à literatura portuguesa, embora possuísse características 
brasileiras, conforme estudado na aula passada a partir do pensamento de 
Afrânio Coutinho (2008). É significativo o fato de Antonio Cândido dar por 
encerrada sua história da literatura brasileira, denominada Formação da 
literatura brasileira (1997), 
Para Ferreira (2012), construir uma literatura nacional fazia parte do 
projeto nacionalista, que surgiu no início do século XIX e levou o país à 
independência em 1822. A literatura romântica surgiu num momento político 
extremamente importante, incorporando os ideais de uma nação livre e 
independente. Por isso foi tão rica e exuberante, com muitos poetas e 
prosadores que exaltavam a natureza e o homem brasileiros. Para avaliar 
devidamente uma obra romântica é preciso não perder de vista o momento 
político em que surgiu. 
 
 
 
 
5 
 
De acordo com foi no período do Romantismo que o Brasil floresceu 
enquanto nação independente e buscou alçar voo em áreas distintas, entre 
estas, está literária, pois até então, tudo que era produzido no Brasil era 
“exportado” da Europa de forma que a produção acontecia em terras 
brasileiras, porém os temas e formas de composição das obras literárias eram 
inspirados em padrões europeus. O verbete romantismo, junto com o próprio 
movimento artístico e filosófico que posteriormente levaria o seu nome, seria de 
origem Inglesa ou francesa. Apalavra seria oriunda destes países e eram 
designadas as narrativas do início do século XII, narrativas que eram de feitos 
heroicos, aventura e amor. Somente pela análise etimológica do próprio nome, 
já seria possível notar que o que fosse de origem romântica não poderia ser 
clássico, pois segundo “Já a etimologia do termo indigita o gosto das tradições 
medievais e cultura folclórica”. (Schlegel, apud :Coutinho, 2004, p .4).Ou seja, 
não estava ligada á tradições e ritos da aristocracia. 
Ainda de acordo com Ferreira (2012), a literatura, enquanto forma de 
arte acompanha toda a dinâmica social e acontecimentos do plano político, 
filosófico e econômico são retratados em obras de seus respectivos períodos, 
pois esta arte secular e tão sublime além de poder representar de forma 
artística e simbólica as experiências da vida humana, também retrata o que 
acontece na sociedade onde nasce a respectiva obra literária. O século XIX foi 
marcado por acontecimentos que de certa forma mudaram o curso político do 
velho e do novo mundo. A revolução francesa foi um marco que impulsionou o 
Romantismo e colocou a baila a nova classe que seria então a dominante, a 
burguesia. Para Ferreira (2012), esse novo movimento filosófico e literário que 
surgira na Inglaterra, na Alemanha e depois se espalhara pela Europa culminou 
no Brasil, sobretudo, n´um sentimento de nacionalismo e de independência, 
pois nessa época, o Brasil ainda era colônia de Portugal. Apesar de, no 
Arcadismo ter surgido os primeiros sinais de insatisfação com a situação de 
submissão á coroa Lusitana, foi no Romantismo que a esse sentimento 
antilusitano se consolidou. 
Mesmo com Inconfidência Mineira, e obras de cunho satírico, como 
Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, a colônia ainda continuava sob- 
forte domínio de Portugal. A grande quantidade de impostos que os brasileiros 
 
 
 
 
6 
 
pagavam aos nobres portugueses também foi fato que contribuiu mais ainda 
para com a insatisfação da colônia portuguesa, com isso, seria natural que o 
desejo de emancipação aos poucos aparecesse. Ferreira (2012). 
É no Arcadismo que a figura do índio começa a aparecer pela primeira 
vez, ainda não como herói tão nobre como veremos nas representações 
românticas, entretanto como simples nativo elemento da terra Apesar de o 
Brasil ter tido uma boa produção durante o arcadismo, tudo o que se produziu 
aqui era considerado artificial e superficial, visto que apesar de alguns 
escritores serem brasileiros, os temas eram puramente estrangeiros, o que 
rendeu também ao Neoclassicismo-forma como o Arcadismo também era 
conhecido- títulos de não muitos honrosos, muito do que era produzido era 
considerado artificial, resultado do puro convencionalismo árcade. 
Seria possível lançar um questionamento: Se a literatura é produzida no 
Brasil, por qual motivo ela não seria genuinamente brasileira? Ora, pois, muitos 
desses questionamentos e colocações dos intelectuais que aqui viviam 
estavam ligados também a questões políticas e sociais, pois se o Brasil, na 
condição de colônia, dependia de Portugal, nossa literatura não poderia ser 
livre e soberana se olharmos por esse prisma. Com toda a turbulência que a 
Revolução Francesa causou naquela época, pois o absolutismo estava 
declinando e o liberalismo ascenderia com a tomada de poder pela burguesia. 
A família Real, em 1808 vem para a sua Colônia mais desenvolvida, o Brasil, 
fato este que, de certa forma fora decisivo para o desenvolvimento da então 
colônia á emancipação desta que seria uma jovem nação. 
O Romantismo se manifesta como um movimento artísticoe filosófico 
que aparece no fim do século XIII e no começo do século XIX. Essa nova 
estética e ideais que é trazida é uma reação á estética e a filosofia iluminista, a 
qual embasou o Neoclassicismo, movimento anterior á era romântica. O 
Neoclassicismo, ou Arcadismo como também era conhecido, teve início no 
Brasil com a publicação de Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 
1768. Foi no período de produção neoclássica que começou a surgir os 
primeiros sentimentos anseio por liberdade, o que deslanchou no movimento 
da Inconfidência Mineira, visto que Minas Gerais foi o principal cenário no qual 
os poetas árcades viveram e descreveram em suas obras. 
 
 
 
 
7 
 
No Brasil, o Romanticismo não chegou e se consolidou de forma direta. 
Antes da era romântica o nosso país passou por um período de transição: O 
Pré-romantismo. Essa época de transição que ocorreu em 1808-1836, entre o 
fim do apogeu da estética clássica e dos padrões árcades foi importante para 
que os ideais e os valores românticos depois se consolidassem e 
corroborassem de forma mais incisiva á formação dessa nova era, a era 
nacional na nossa literatura. O pré-romantismo descreve um estado de coisas 
que ainda são um prolongamento das ideias do século XIII, mas 
contraditoriamente prenuncia a fisionomia na nossa literatura. O Pré-
romantismo no Brasil teve uma adjetivação oriunda da influência a da 
colaboração dos franceses na nossa nação, por isso, pode-se chamar essa 
época de Pré-romantismo Franco-Brasileiro. 
 “O Pré-romantismo é um corpo de tendências, temas, ideias, sem 
construir doutrina literária homogênea, com remanescentes clássicas 
e arcádicas, e elementos novos” (COLTINHO, 2004, apud 
FERREIRA, 2012, p. 4). 
Tal denominação não foi dada por acaso, dada á importância que os 
alguns franceses tiveram na formação da nossa literatura, a contribuição deles 
não ficou só no plano literário, mas também em estudos naturalistas e 
históricos da jovem nação que acabara de sair dos domínios portugueses. 
Dentre estas figuras que corroboraram ao desenvolvimento da nossa literatura, 
está o Francês Ferdinand Denis. Em 1826 Denis publica sua primeira obra no 
Brasil: RESUMÈ DE L´HISTTORIE LITERARIE DU BRÉSIL , que falaria sobre 
nossa literatura. 
“Denis foi o primeiro a traçar um esboço de visão histórica das 
manifestações literárias do Brasil colônia e sugerir a projeção de uma 
literatura brasileira”. (COLTINHO, 2004, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
Outro francês que produziu em terras brasileiras na época do pré-
romantismo foi Teodoro Taunay, membro da uma família que faria história 
dentro da nossa literatura com outros filhos Ilustres. Teodoro escreveu Os 
Índios Brasileiros (1830) obra que fala dos nossos nativos e da nobreza deles 
diante das adversidades oriundas do processo de colonização. Segundo 
Candido (2004), Teodoro Contribuiu ao sugerir aos brasileiros a importância da 
 
 
 
 
8 
 
poética da independência. Edouard Corbiére foi também outra figura importante 
nessa época de transição da nossa literatura, pois em Èlègies Bréseiliennes 
(1823) ele fala sobre a coragem dos índios brasileiros que preferiam a morte á 
escravidão. Teria sido talvez, esse o precursor do indianismo posteriormente 
na era romântica. 
No Brasil, o Romantismo teve início em 1836 com a publicação de 
Suspiros Poéticos, de Gonçalves de Magalhães, que poderia ser considerado o 
patrono do romantismo brasileiro devido a sua contribuição e atuação na 
produção desse período. O senso de relativismo colocado por Magalhães foi 
primordial ao desenvolvimento e concretização do movimento no Brasil. 
O período romântico brasileiro rendeu frutos na poesia, na prosa e no 
teatro. A poesia desse período, atendia, é claro aos ideais colocados em pauta 
pela ação revolucionária do Romantismo em oposição às formas e temas 
clássicos. 
Saindo da perspectiva clássica e aristocrática, esses novos moldes 
deixavam o poeta livre para criar e as formas outras canonizadas e retomadas 
pelo Arcadismo, - soneto, ode etc.- deixam de vigorar. 
“Quanto à forma, nenhuma ordem seguiu; exprimindo as ideias como 
elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração...”. 
(CANDIDO, 2004, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
 Nos primeiros manifestos dos primeiros periódicos e revistas notava-se 
todo o sentimento de liberdade política, social, filosófica, o que refletiria 
diretamente na produção literária. Magalhães foi um dos escritores que 
encabeçaram essa primeira fase da poesia romântica, qual ficaria conhecida 
como nacionalista graças ao espírito patriótico o ufanismo. 
Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar imóvel 
e tranqüilo, como o colono sem ambição e sem esperança. O germe 
da civilização, depositado em teu seio pela Europa, não tem dado ainda 
todos os frutos que deveria dar, vícios radicais têm tolhido o seu 
desenvolvimento. Tu afastaste do teu colo a mão estranha que te 
sufocava, respira livremente, respira e cultiva as ciências, as artes, as 
letras, as indústrias, e combate tudo o que entrevá-las pode. (DAUVIM 
ET ́FONTAINE, LIBRARIES, 1836, apud FERREIRA, 2012, p. 4). 
A poética romântica pode ser considerada simples e singela, mas 
não é por acaso, pois já que a palavra de ordem era liberdade, o poeta 
 
 
 
 
9 
 
romântico não estava preso ás formas fixas e clássicas outrora vigentes. É na 
simplicidade e melancolia-sentimento muito comum em obras românticas –que 
a Canção do Exílio(1843),de Gonçalves Dias, que a escreveu quando estava 
exilado na África,torna-se um símbolo do romantismo no Brasil, pois tal 
poema e estrutura simples e fácil compreensão. Tamanha importância dessa 
obra reflete-se no fato de que alguns nos seus versos depois foram 
incorporados ao nosso hino Nacional. 
Canção do Exílio 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá, 
As aves que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá, 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá (...) (DIAS IN:COUTINHO, 2004, apud FERREIRA, 
2012, p. 5). 
O sentimento de nacionalismo e o amor á pátria é algo presente 
nesse poema de Gonçalves e tal sentimento de apreço pela nação 
estende-se em outras obras. Os elementos da natureza brasileira são 
exaltados e a melancolia junto ao sentimento de saudade acentuam mais 
ainda a simples composição poética consagrando-a na poética romântica e 
nacionalista.Gonçalves Dias, de certo modo, na era romântica, fora o primeiro 
indianista, visto que antes, o Padre José de Anchieta já descrevera os nativos 
locais como bons selvagens, o padre que também era dramaturgo já incluía os 
índios em suas obras do período Barroco, porém, para o índio ser 
catequizado, o que na verdade era um aculturamento, o nativo 
precisaria estar inserido no contexto de civilidade europeu. 
O indianismo Gonçalviano, foi o primeiro a descrever o índio de 
forma heroica sem pagar tributos á estética e valores europeus.Gonçalves 
Dias foi o primeiro a fazer o binômio indianismo-Romantismo. No poema 
épico I-juca-Pirama(1848)que em Tupy significa “digno de morte” ou “aquele 
que há de morrer”, Gonçalves retrata toda a dignidade e valentia de um 
 
 
 
 
10 
 
indígena que se recusa a lutar e pede para não morrer após ser 
capturado pelos Timbiras, tribo inimiga, que após o pedido de soltura, 
acaba libertando-o por julgá-lo covarde. O valente guerreiro quer voltar á sua 
tribo para cuidar do seu pai que era doente e cego, no entanto,a após voltar 
á sua tribo de origem, o nobre guerreiro obedecendo ao pedido do velho 
pai, para não parecer covarde, volta a tribo inimiga paralutar e lavar 
sua honra que ficara em cheque após todo o ocorrido. O próprio poema I-
Juca-Pirama além ressaltar o valor da figura do nativo brasileiro, nos dá 
um exemplo de musicalidade e fluência da poesia romântica. Musicalidade 
essa que poderia até nos remeter a rituais indígenas devido ao ritmo 
cadenciado e compassado do poema Canto de Morte: 
Meu canto de morte, 
Guerreiros, ouvi: 
Sou filho das selvas, 
Nas selvas cresci; 
Guerreiros, descendo 
Da tribo tupi. 
Da tribo pujante, 
Que agora anda errante 
Porfado inconstante, 
Guerreiros, nasci: 
Sou bravo, sou forte, 
Sou filho do Norte; 
Meu canto de morte, 
Guerreiros ouvi (...) (DIAS, 1997, apud FERREIRA, 2012, p. 6). 
Concebendo a era romântica como puramente burguesa e composta 
por aspectos contraditórios, é possível notar que o romantismo mantem 
certa unidade em alguns aspectos, porém em outros, ele é dualista, tendo 
como maior exemplo os autores da geração “Ultrarromântica”, a qual era 
pessimista e desacreditava nos ideais patrióticos. Contudo, no romantismo, 
o indianismo foi o movimento marcado pela idealização da figura do nativo 
que se manteve estável tanto na poesia quanto na prosa. Dentre todos 
os escritores da era romântica no Brasil, um dos mais notáveis, quiçá o 
mais importante de todos seria José Martiniano de Alencar Júnior, ou 
simplesmente José de Alencar. Esta cearense que nasceu em 1829, em 
Mecejana, um lugarejo na periferia de Fortaleza, foi o primeiro a criar um 
programa de identidade nacional a partir da literatura, apesar de também ter 
 
 
 
 
11 
 
sido jurista, filósofo do direito e político.Com apenas um ano de idade, Alencar 
muda-se para o Rio de Janeiro acompanhando os seus pais, pois o seu 
pai acabara de ser eleito senador do Império do Brasil. Porém a moradia 
na capital fluminense demorou pouco tempo, porquanto oito anos de idade o 
jovem voltou a morar na capital cearense quando o seu pai foi eleito 
governador daquele estado. Foi no período de sua infância que Alencar 
conviveu com a natureza exuberante daquele lugar. Foi com o conhecimento 
das leituras e peças de grandes obras francesas que, Alencar, morando na 
cidade de São Paulo, enquanto estudava direito tornou-se um ambicioso e 
promissor escritor pronto a estrear nas letras da jovem nação. Em 1854, 
após formar-se em direito Alencar vai morar na capital fluminense e 
começa a escrever no rodapé de um jornal. Desse episódio é possível notar a 
interação da imprensa com o público leitor e perceber a contribuição desse 
veículo midiático para com a formação do público ledor, pois foi com a 
impressão dos folhetins, tipo de publicação “importada” da França que 
grandes obras da nossa literatura começaram a publicar no Brasil. Foi na 
intenção de atrair leitores aos jornais que Alencar começou a escrever 
esses romances que eram um tipo de brinde aos leitores do jornal. 
Em 1857, Alencar lança em forma de folhetins O Guarany, romance 
considerado um dos maiores representantes do indianismo. Pois a trama 
contava a história de Pery, um nobre índio brasileiro e Cecília, a qual era 
chamada de Cecy, uma bela moça que descendia de europeus. Teria sido, 
talvez, o folhetim, um tipo de precursor das nossas novelas, visto que a 
técnica narratológica dos folhetins que fora inspirada em narrativas 
francesas, fora aplicada de forma genial por Alencar, pois no final de um 
capítulo ele sempre deixava algo despertando a curiosidade de quem lia para o 
próximo. 
Com o Romantismo, pois, nasceu a novelística brasileira e suas 
primeiras manifestações pertencem, hoje, ao domínio pouco 
acessível da arqueologia literária: de consulta difícil muitas vezes 
impossível, já não figuram nem mesmo nos estudos 
especializados, nos quais não deveriam faltar, pela contribuição 
que, como inauguradores da forma prestaram ao 
desenvolvimento do nosso romance. (DIAS, 1997, apud FERREIRA, 
2012, p. 7). 
 
 
 
 
12 
 
Em O Guarani, trama alencariana, é possível notar como o a figura 
do indígena brasileiro é exaltada e mostrada de forma magistral pelo autor. 
O romance de Peri e Ceci poderia ser uma metáfora, do que seria a 
aproximação do velho mundo, que estava representado na figura de Ceci, 
que ás vezes agia de forma contraditória quantos aos seus sentimentos por 
Peri, enquanto o guerreiro indígena poderia representar o novo mundo, e 
toda a nobreza dos seus habitantes. No desenrolar do romance, Peri sempre é 
visto pelo narrador como um figura nobre que se sacrifica para ceder ao que 
seria caprichos de Ceci, que certa vez pede que o valente índio desça até 
um penhasco cheio de serpentes para resgatar um lencinho dela. Nessa 
trama Alencariana é possível notar a genialidade do autor, pois de forma 
magistral ele relata o episódio que Peri, pensando que seria devorado por uma 
tribo inimiga, ingere o veneno de uma cobra que picara Ceci, e com 
isso, a tribo que supostamente o devoraria, morreria envenenada. Ou 
seja, Alencar o canibalismo dos indígenas brasileiros fora superado pelo 
heroísmo de Peri, pois a figura do herói da nação não poderia ser canibal. O 
indianismo deu origem ao que ficou conhecido como o “mito do bom-
selvagem”, mito esse que trouxe a baila questões filosóficas relacionadas ao 
discurso de Jean-Jacques Rousseau, pois este grande pensador do século 
XIII dizia que todo homem nasceria bom, mas seria corrompido pela 
sociedade, partindo desse postulado, o índio seria um ser sem a corrupção 
trazida pela colonização, portanto, a figura do índio era vista como um convite 
a um retorno ás formas primitivas da natureza humana as quais estaria 
livres da corrupção .Além promover o índio ao título de “herói nacional” 
esses romances também discorriam sobre o nosso processo de 
colonização e, no caso do O Guarani, como a figura do índio sempre tem 
vantagens pelo seu conhecimento da natureza e no fim da narrativa, Peri salva 
Ceci e os dois saem flutuando numa palmeira que o índio arranca livram-se de 
um dilúvio. 
O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante da 
virgem um ninho de castos rubores e lânguidos sorrisos: os lábios 
abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo. A 
palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia... E sumiu-se no 
horizonte. (ALENCAR, 2012, apud FERREIRA, 2012, p. 7). 
 
 
 
 
13 
 
Apesar de a prosa romântica fosse basilarmente apoiada em fatos 
ficcionais, os romances que produzidos em terras brasileiras da época do 
romantismo foram subdivididos por temáticas. Entre as narrativas que eram 
produzidas, ou direcionadas na corte, levava-se o nome de “romances urbanos, 
e o que era produzido ou direcionado nas províncias, ou seja nos interior ou 
nas partes menos desenvolvidas naquela época eram chamados de 
“romances; regionalistas, ou históricos. Nessas narrativas era possível notar 
como a vida no pais era vislumbrada na filosofia e na estética do um 
socialismo utópico, pois a vida e as paisagem eram descritas e idealizadas 
pela, e para a nova classe que surgia, a burguesia. 
Dentre esses romances aqui produzidos, os urbanos era o tipo de 
narrativa na qual, basicamente, retratava-se o cotidiano da burguesia nos 
grandes centros urbanos, naquela época, as cidades do Rio de Janeiro 
e São Paulo. Nesse tipo de narrativa destacou-se A moreninha(1844), de 
Joaquim Manoel de Macedo. Essa narrativa de enredo e estrutura 
simples foi considerada pela críticauma obra simples e ingênua. Dentro 
dos moldes românticos, a trama retratava a vida cotidiana da burguesia 
em meados no século XIX e evidenciava as discussões sobre o amor e os 
casamentos arranjados naquela época. Mas, como em boa parte das obras 
românticas, sempre havia um final feliz por parte dos protagonistas, os 
quais se apaixonam na infância e depois se reencontram e tem um digno de 
uma trama romântica. A importância desse tipo de narrativa á sociedade era 
notável, pois naquela época, a literatura e leitura, serviriam como um 
“manual de bons costumes”, ou seja, esta arte retrataria o que seria um 
ideal de sociedade e famílias exemplares. Um grande exemplo do 
patriarcalismo que era refletido na literatura poderia ser Lucíola (1862), de 
Alencar. A trama narra a história de uma mulher do baixo meretrício que 
conhece Paulo, com quem tem um filho e no fim da história ela morre e é 
reclusa da sociedade por conta do pecado que cometera, o adultério. A morte 
da protagonista simboliza “o castigo merecido” que uma cortezã teria de ter 
naquela sociedade, afinal, seria inaceitável que uma mulher de conduta 
abominável tivesse um final feliz. 
 
 
 
 
14 
 
Em outra vertente, mas inda dentro da proposta do nacionalismo, 
os romances regionalistas tiveram uma função notável dentro do que se 
propunha: Divulgar os costumes e regiões ainda desconhecidas por grande 
maioria dos leitores daquela época. O sentimento de apreço pelas origens 
ainda é o mesmo, não obstante nos romances regionalistas, o autor parte do 
nacional, para o regional. Esse tipo de romance também trouxe a baila 
uma questão que iria de encontro a postulados da filosofia romântica, pois o 
romance regionalista foca mais em questões e descrições do coletivo , ao invés 
de aprofundar-se na subjetividade do próprio autor, visto que a 
subjetividade era um dos traços mais marcantes das obras românticas, 
demonstrando-nos mais uma vez as contradição desse período literário 
O romance regionalista, na literatura universal, nasceu da atividade 
da estética romântica como possível fruto da reação contra o 
subjetivismo exagerado, cujo epifenômeno era a hipertrofia do eu. 
(COUTINHO, 2004, apud FERREIRA, 2012, p.9). 
De acordo com Ferreira (2012), dentre vários escritores da prosa 
regionalista, Visconde de Taunay, descendente de franceses, é uma das 
figuras mais notórias, pois Inocência (1972), considerado a sua obra prima, o 
qual fora traduzido para quase todas as línguas modernas, fora um dos 
romances desse tipo que mais se destacou na época. Essa narrativa conta 
uma história de amor que se passa no interior do Brasil e mostra com tom 
romântico e realista as cores daquele lugar e daqueles costumes até então 
inéditos na literatura. Além de físico, matemático engenheiro e geógrafo, 
Taunay também era militar e foi nas expedições militares ele assimilou a 
cultura, a linguagem, os hábitos e tudo de mais singular que a região “norte”, 
como era conhecida, tinha de singular. Nesse conciso percurso de estudo 
sobre o período romântico, além de falar da poesia e da prosa, é necessário 
ressaltar também a importância do teatro romântico, pois foi nele e na literatura 
oral que os nossos romances de ficção tiveram sua obra arquitetônica. Na era 
romântica brasileira o teatro também contribuiu de firma significativa para 
com a formação da autonomia da nossa cultura. Apesar de não ter tradição 
teatral no Brasil, foi na época do romantismo que o teatro renovou e inovou 
o pouco desenvolvimento que as artes cênicas tinham no pais. Junto com a 
 
 
 
 
15 
 
literatura a dramaturgia brasileira também trouxe a proposta de inovar e sair 
dos moldes clássicos. Houve rompimento nos tríade que compunha o 
teatro: Tempo espaço e ação. As cenas tiveram a dinâmica modificada, 
elas aconteciam em lugares diversos e com recursos antes não 
utilizados, tais como animais que subiam no palco. Os textos eram mais 
voltados para temas sociais e retratava o cotidiano da burguesia. 
José de Alencar também escreveu peças para o tetro, mas não se 
enveredou muito na dramaturgia, uma das obras, talvez a melhor, intitulava-
se O demônio familiar (1858) uma comédia feita em quatro atos de 
costumes leves. A trama narra a história de um escravo que quer casar 
os patrões com parceiros mais abonados e acaba sendo o capeta da trama. O 
castigo que ele recebe é a alforria. Fica a ideia de que o negro tem de ser 
tutelado. Vale lembrar que o autor era um aristocrata rural. 
Outro grande autor brasileiro que contribuiu para com a produção 
teatral foi Álvares de Azevedo, este ultrarromântico que também sofrera 
influência da cultura gótica europeia, pouco antes de morrer de tuberculose 
escreveu Macário (1852). A narrativa rela a história de um homem que após 
sonhar com Satã, faz uma viagem ele pelo mundo e discute sobre vários temas 
com a figura-mor do mal. 
Apesar de não ter contribuído com temas nacionalistas, esta obra de 
Azevedo incorpora uma das características fortes da geração ultrarromântica, o 
satanismo e a atração pela obscuridade da vida. Mas, não é possível falar da 
fundação da dramaturgia brasileira sem falar de Gonçalves de Magalhães, 
fundador do conservatório de Dramaturgia em 1843 e autor da primeira obra do 
teatro brasileiro. 
Antônio José ou o poeta e a inquisição (1838) a peça teve como 
principal protagonista João Caetano, o primeiro grande ator brasileiro que 
organizou e encenou a peça na praça da constituição no Rio de Janeiro em 13 
de março de 1838, e foi bem recebido pelo público e crítica teatral, pela 
coragem de abordar este tema na época em questão, pois era baseada nos 
últimos dia de vida de um autor português, João Antônio da Silva, 
também conhecido como “o judeu”, que era um autor lusitano. Pode 
parecer incoerente, por conta do sentimento antilusitano aflorado no 
 
 
 
 
16 
 
romantismo brasileiro, Magalhães ter escrito uma peça sobre um escritor 
português, mas o sentimento nacionalista da crítica daquela época levou em 
consideração o fato de a peça ter sido escrita por um brasileiro e em terra 
brasileira. 
2.1 Um pouco de história 
No início do século XIX, quando D. João VI embarcou com a corte para 
o Brasil, o projeto de civilizar a ex-colônia se tornou uma necessidade, para 
tanto, houve uma sucessão de transformações concretas na cidade sede da 
corte, Rio de Janeiro, logo após sua chegada. Além disto, várias expedições 
estrangeiras chegaram ao país com o intuito de explorar as características do 
novo reino. Acompanhando a Missão Artística Austríaca, o botânico alemão 
Carl Friedrich Philipp Von Martius ficou conhecido não apenas por seu trabalho 
de pesquisa, mas, sobretudo como vencedor do concurso para a escrita da 
história do Brasil pelo IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro). O texto 
de von Martius (1845), Como escrever a história do Brasil, traçava a formação 
da história brasileira a partir das três raças: branco, índio e negro. 
O pesquisador estabeleceu uma maneira singular de dar a nacionalidade 
brasileira uma gênese baseada na miscigenação, creditando ao branco, no 
entanto, toda a força para o nascimento desta nova nação: “que o português se 
apresenta como o mais poderoso e essencial motor” (MARTIUS, 1845, p. 382) 
e atribuindo um papel proeminente na metáfora simbólica ao sangue 
português: “o sangue português em um poderoso rio deverá absorver os 
pequenos confluentes das raças índia e etiópica” (MARTIUS, 1845, p. 383). No 
entanto, apesar do destaque à figura do português, Martius (1845), ao mesmo 
tempo em que não fez maiores discussões acerca dos povos de origem 
africana, mostrou inquietação sobre a faltade entendimento acerca dos povos 
indígenas. Para ele, saber de onde vêm estes povos, como vivia antes da 
chegada dos brancos e, ainda, conhecer mais sobre sua cultura, era relevante 
para o desenvolvimento das relações com o homem civilizado. 
 
 
 
 
17 
 
O autor chegou a propor ao IHGB um dicionário com os termos das 
línguas indígenas, enfatizando a importância de se conhecer mais a história 
dos povos autóctones brasileiro: 
 
Como documento mais geral e mais significativo deve ser 
considerada a língua dos índios. Pesquisas nesta atualmente tão 
pouco cultivada esfera não podem jamais ser suficientemente 
recomendadas, e tanto mais que as línguas americanas não cessam 
de achar-se continuamente em uma certa fusão, de sorte que 
algumas delas em breve estarão inteiramente extintas. Muito há que 
dizer sobre este objeto; mas como devo supor que poucos 
historiógrafos brasileiros se ocuparão com estudos linguísticos, deixo 
à parte este assunto: aproveito, porém esta ocasião de exprimir o 
meu desejo que o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro designasse 
alguns linguistas para a redação de dicionários e observações 
gramaticais sobre estas línguas, determinando que estes fossem ter 
com os mesmos índios (MARTIUS, 1845,apud FIGUEIREDO, 2020, 
p. 80). 
A preocupação de Von Martius se insere no processo de construção 
social da ideia de nação brasileira. Esse contexto apontava para a importância 
do conhecimento da cultura autóctone e suas especificidades e, sobretudo, do 
aproveitamento das línguas destes povos, como lembra a historiadora Lília 
Moritz Schwarcz (1999) em As barbas do imperador. Mesmo o conhecimento 
acerca dos indígenas sendo ínfimo, à temática reverberava na literatura, com 
os escritores utilizando até mesmo os antigos dicionários dos jesuítas, para 
entremear nas estrofes poéticas termos das línguas indígenas. 
O pensamento do cientista alemão influenciou o romantismo nacional na 
medida em que alguns elementos são característicos da gênese romântica 
literária. A importância do texto de van Martius está justamente em sua 
recepção e reverberação, como confirma Maria Ligia Coelho Prado (2001, p. 
130) no artigo O Brasil e a distante América do Sul, pois “fundou uma linhagem 
interpretativa da História do Brasil, copiada à exaustão em manuais escolares, 
em artigos de jornais, em discursos políticos”. A visão do país alimentada por 
referências que se mantinham presentes e continuaram repercutindo no 
imaginário coletivo. 
Outro ponto que chama atenção em relação ao início do romantismo em 
território nacional diz respeito ao tratamento dado aos povos de origem 
 
 
 
 
18 
 
africana. Bernardo Ricúpero (2004) em O romantismo e a ideia de nação no 
Brasil (1830 – 1870) reflete sobre como o posicionamento frente a estes povos 
foi escamoteado, lembrando o silêncio em relação à escravidão. Enquanto os 
precursores do romantismo nacional fizeram do indígena o principal assunto, e 
mais que isso “um herói”, como lembra Nelson Werneck Sodré (1995, p. 264) 
em História da literatura brasileira, o negro foi legado ao esquecimento 
intencional. 
Em uma sociedade escravista, a figura indígena correspondia “ao 
quadro das relações sociais dominantes” (SODRÉ, 1995, p. 267), ao passo que 
evidenciar a figura do negro, seria negar o quadro destas relações. A posição 
ocupada pelos indivíduos de origem africana na literatura era aquela imposta 
pelo papel que ocupavam enquanto força de trabalho: 
O negro não podia ser tomado como assunto, e muito menos como 
herói, não porque, segundo escreveu um estudioso moderno, 
refletindo a ideia generalizada de sua classe, fosse submisso, 
passivo, conformado, em vez de altivo, corajoso, orgulhoso, dado que 
não podia ser senão assim, submetido que estava ao regime de 
escravidão – mas porque representava a última camada social, 
aquela que só podia oferecer o trabalho e para isso era até 
compelida. Numa sociedade escravocrata, honrar o negro, valorizar o 
negro, teria representado uma heresia. Não chegaria a ocorrer aos 
escritores do tempo, oriundos da classe dominante, e nem teria tido o 
romantismo, posto nesses termos, afinidade alguma com o mundo 
dos leitores, também recrutado naquela classe (SODRÉ, 1995, apud 
FIGUEIREDO, 2020, p. 81). 
Esta situação de escamoteamento da condição de sofrimento imposta 
aos povos de origem africana não se perpetuou durante todo romantismo, 
alguns nomes insurgiram neste contexto acentuando o problema da 
escravidão, como Tobias Barreto, Castro Alves, Joaquim Nabuco, a precursora 
do posicionamento feminino sobre os problemas sociais, Nísia Floresta 
Brasileira Augusta, e ainda a escritora e professora maranhense Maria Firmina 
dos Reis, autora de Úrsula (1859), considerado o primeiro romance 
abolicionista escrito por uma mulher no Brasil (MENDES, 2007). Dentro do 
estilo circundante de seu tempo, a autora elabora um enredo em que consegue 
trazer aspectos aceitos pela literatura romântica, permeado pelo amor da 
protagonista e do mocinho branco, mas, também inova, ao denunciar os maus 
tratos dados aos escravizados de seu país, dando voz aos personagens 
 
 
 
 
19 
 
negros, deixando que estes demonstrem toda a sua humanidade. Assim, a 
autora rompe com o discurso racista hegemônico perpetrado no ocidente por 
muitos séculos, principalmente na literatura, em que a ótica nacional era emitir 
ideais das classes dominantes. 
Portanto, mesmo se ajustando aos interesses da elite nacional desde 
sua fundação, o romantismo brasileiro era uma via de mão dupla da realidade. 
Isto porque, não se prendeu somente à recepção dos cânones marcados pela 
dependência dos modelos europeus, mas por meio de alguns escritores e 
escritoras, tentou ultrapassar o horizonte da visão emotiva e se assentar na 
leitura analítica da realidade, mesmo no que se refere ao tema indianista. 
Neste sentido, está à poesia aguda de Sousândrade, como lembra 
Haroldo de Campos (2001, p. 226) em uma análise de o Guesa Errante (1874-
1877), do referido poeta maranhense: 
Se o indianismo em nossa poesia romântica acabou resultando numa 
apologética artificiosa e decorativa do “bom selvagem”, nobre e 
heróico, em Sousândrade a temática indígena tomou inflexão diversa. 
Em primeiro lugar, a forma de seu longo poema não é afetada pela 
obsolescência daquela adotada seja por Gonçalves de Magalhães em 
A Confederação dos Tamoios (1856), seja por Gonçalves Dias no 
inacabado (e superior) Os Timbiras (1857), mas é, antes, fruto de 
uma inovadora mistura de gêneros, sob a tônica da “narrativa de 
viagem” [...]. Em segundo lugar, o poema não é exclusivamente 
brasileiro, mas “transamericano” (com um breve interlúdio na África, 
Canto VII, apenas iniciado). Essa singularidade já se define na 
eleição do protagonista, o novo Guesa, o poeta errante [...] gue 
equivale a “casa”, sendo, pois, guesa o “sem casa”, condição essa de 
“desterro” e orfandade com a qual o poeta maranhense se 
identificava inclusive biograficamente. (AROLDO, 2001, apud 
FIGUEIREDO, 2020, p. 83). 
Sousândrade propõe um modo diferente de representar o indígena em 
relação aos seus contemporâneos, somado à busca por uma construção 
representativa do povo americano, não apenas do povo brasileiro. A definição 
de elementos que reproduzam um espaço ainda não transformado pela 
colonização americana é uma das imagens que aparece em Guesa errante. 
O americanismo ou o “instinto de americanidade”, como nomeia o 
pesquisador Luiz Roberto Velloso Cairo (2009) no estudo A condição 
americana da nossa identidade é outro tema presente em muitos textos 
românticos brasileiros, na medida em que se observa o sentido de 
 
 
 
 
20 
 
pertencimento continental nestas publicações da época. A aproximação das 
composições brasileiras com textos publicados na América hispânica delineia 
os matizes que marcam o espaço compartilhado desta americanidade. 
Exemplo destes textos é a antologia poética escritapor autores de vários 
países americanos lembrados por Cairo (2009): 
América poética, Colección escojida de composiciones en verso, 
escritas por americanos en el presente siglo é uma delas. Organizada 
pelo crítico argentino Juan María Gutiérrez, esta antologia teve sua 
primeira edição em fascículos, publicados entre fevereiro de 1846 e 
junho de 1847 pela Imprensa de El Mercurio, de Valparaíso, no Chile, 
e a segunda edição, já no formato de livro, em 1866, publicado pela 
Imprensa de Mayo, de Buenos Aires. América poética reúne poemas 
de 53 poetas, sendo catorze da Argentina, onze do México, cinco do 
Chile, cinco do Uruguai, quatro de Cuba, três da Bolívia, três da 
Colômbia, três do Peru, três da Venezuela, um do Equador e um da 
América Central, e constitui a primeira coletânea sistemática de 
poesia americana em língua espanhola e busca sintetizar ‘a 
progressiva ascensão da inteligência americana’, conforme aponta o 
crítico José Enrique Rodó, no ensaio ‘Juan María Gutiérrez 
(Introducción a un estudio sobre literatura colonial)’. (CAIRO, 2009, 
apud FIGUEIREDO, 2020, p. 84). 
Estas produções concentravam “o claro desígnio de traçar uma nova 
cartografia poética de um território profundamente comovido pelas revoluções 
políticas” (CHIAROTTI, 2013, p. 8, tradução nossa). O que se pode apreender 
é que as trajetórias culturais e políticas estavam intimamente ligadas à ideia de 
cooperação entre os países da América hispânica com seus ideais de 
independência. A figura de destaque neste quadro é Simón Bolívar que, além 
de promover ativamente a independência de países latino-americanos, 
conclamava a necessária distância entre a América e a Europa, nos sentidos 
político, social e cultural. 
A ruptura almejada pelas literaturas americanas em relação às europeias 
era condição de fundação de um arcabouço literário nacional. No Brasil, a 
dificuldade maior estava no distanciamento com a metrópole portuguesa, já 
que, de acordo com Schwarcz (1999), a independência de 1822 e sua 
concretude permeada por acordos intercontinentais em um contexto americano 
republicano não era fácil, pois se mantinha o regime monárquico herdado do 
colonizador. Nesta condição, a aproximação com a cultura portuguesa 
continuava, a ponto do autor lusitano Almeida Garret (1826) unificar a literatura 
 
 
 
 
21 
 
portuguesa e a brasileira. Precursor do romantismo em Portugal com Camões 
(1825), e sempre lembrado pela forte influência que exercia sobre os literatos 
da primeira fase romântica brasileira, o escritor, em seu Bosquejo da história da 
poesia e língua portuguesa, uma introdução ao Parnaso Lusitano – seleção de 
poesias de autores portugueses antigos e modernos – aproxima as literaturas e 
comenta a partir de aspectos ufanistas, a maneira com que os poetas 
brasileiros deveriam construir seus textos: 
E agora começa a literatura portuguesa a avultar e enriquecer-se com 
as produções dos engenhos brasileiros. Certo é que as majestosas e 
novas cenas da natureza naquela vasta região deviam ter dado a 
seus poetas mais originalidade, mais diferentes imagens, expressões 
e estilo, do que neles aparece: a educação europeia apagou-lhes o 
espírito nacional; parece que receiam de se mostrar americanos; e 
daí lhes vem uma afetação e impropriedade que dá quebra em suas 
melhores qualidades (GARRET, 1826, apud FIGUEIREDO, 2020, p. 
85). 
Interessante notar que o autor subtrai a nacionalidade da literatura 
brasileira e a apresenta como deficiente. Em sua concepção, o elemento 
necessário de uma poesia que trouxesse o frescor da arte dos trópicos e ainda 
oficializasse a nacionalidade, deveria estar voltado para a natureza 
circundante. E se “a nossa literatura colonial manteve aqui tão viva quanto lhe 
era possível à tradição literária portuguesa”, como escreve José Veríssimo 
(1915, p. 04), foi somente a partir do XIX que o distanciamento em relação ao 
colonizador começou a ser sentido e a conquista da liberdade literária tão 
sonhada pôde ser concretizada. Por isso, a “representação da nacionalidade, 
sintetizada na expressão da cor local” como esclarece Regina Zilberman (2001, 
p. 34) era tão importante para independência da literatura brasileira. 
Outras atitudes também foram necessárias para ajudarem a demarcar o 
cânone da literatura brasileira. Nesse sentido, os estudos histórico-literários 
com suas propostas nacionalizantes, muitas delas de críticos estrangeiros, se 
enquadravam neste contexto, e a partir de 1833, surgiram periódicos que 
expressavam uma tentativa de conscientização crítica da atividade literária do 
país. Os que tiveram maior repercussão foram a Revista da sociedade 
filomática e Niterói divulgado na atmosfera das manifestações pré-românticas, 
além de Minerva brasiliense já em pleno romantismo. 
 
 
 
 
22 
 
É na efervescência do ideário pré-romântico nacional que os jovens 
brasileiros residentes na França – Francisco de Sales Torres Homem, Manuel 
de Araújo Porto Alegre e Gonçalves de Magalhães – lançaram a revista Niterói 
(1836) em Paris. Com o lema “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil”, a força da 
publicação assentava-se nas ideias de Ferndinad Denis, que chamava atenção 
para os temas que deveriam gravitar em torno da natureza, dos costumes 
locais e do indígena. 
Este contexto evidenciou-se já no primeiro número com o ensaio de 
Magalhães intitulado História da literatura do Brasil. 
Em seu ensaio sobre a “História da Literatura do Brasil”, estampado 
no primeiro número da revista, trabalhado por um conjunto de 
influências de época, entre os quais, desde logo, as dos já referidos 
visitantes europeus das Américas (mas também, por aquelas que 
Madame de Staël, sob a batuta de seu mentor Schlegel, difundira 
com ressonância em De l´Alemagne, 1813), Magalhães tentou 
expressar, por assim dizer, a ideologia do romantismo brasileiro; o 
jovem poeta extraiu elementos do ideário desses autores e os fundiu 
“medíocre, mas fecundamente, para uso nosso”. (CAMPOS, 2001, 
apud FIGUEIREDO, 2020, p. 88). 
Assim, neste texto, Gonçalves de Magalhães (1836) tentou construir 
tangencialmente um quadro da arte nacional, no qual expunha a potencialidade 
da arte escrita. Para tanto, o ensaio falando da importância da literatura para 
seu povo, como o desenvolvimento literário estava ligado a ideias sublimes e 
como sua representação conseguiu reunir filosofia, heroísmo, beleza e paixão, 
um reflexo da própria inteligência. O autor recebeu as concepções românticas 
de Staël e divulgou os elementos necessários para a construção de uma arte 
poética própria de uma nação, para tanto, apoiou-se na figura do gênio: 
O aparecimento de um grande homem é uma época para a história, e 
semelhante a uma joia preciosa, que só possuímos quando a 
podemos possuir, o grande homem jamais se apresenta quando nós 
não o merecemos. Ele existe no meio de nós sem ser conhecido, sem 
se conhecer a si mesmo, como ouro nas entranhas da terra, e só 
espera que o desencavem para adquirir seu valor. Empreguemos os 
meios necessários e nós possuiremos grandes homens. Se é 
verdade que a paga anima o trabalho, a recompensa do Gênio é a 
glória, e segundo o belo pensamento de Staël (MAGALHÃES, 1836, 
apud FIGUEIREDO, 2020, p. 88). 
A ideia do gênio era inerente ao contexto romântico, sendo assim, 
Gonçalves de Magalhães (1836) que foi construindo um percurso histórico da 
 
 
 
 
23 
 
literatura brasileira, enfatizando a necessidade da construção de uma literatura 
própria desvinculada dos padrões da metrópole e embasada nos valores 
nacionais, problematizando a necessidade e a dificuldade do surgimento de um 
gênio no Brasil: 
E poder-se-á com razão acusar o Brasil de não ter produzido gênios 
de mais súbito quilate? Mas que povo escravizado pode cantar com 
harmonia, quando o retinido das cadeias, e o ardor das feridas sua 
existência torturam? Que colono tão feliz, inda com o peso sobre os 
ombros, e curvado para a terra, o voz ergueu nomeio do universo, e 
gravou seu nome nas páginas da memória? Quem não tendo o 
conhecimento de sua existência, e só de cenas de miséria rodeado, 
pôde soltar um riso de alegria, e exalar o pensamento de sua 
individualidade? (MAGALHÃES, 1836, apud FIGUEIREDO, 2020, p. 
89). 
A cisão decisiva com Portugal poderia se dar por meio da criatividade 
inovadora do gênio. E considerando que: “a genialidade não se aprende. O 
gênio nasce. É uma força elementar, como a Natureza que o criou, e a 
Natureza lhe inspira seus sentimentos e seus versos”, como confirma Otto 
Maria Carpeaux (1985, p. 158) em Prosa e ficção do romantismo, o Brasil teria, 
devido à sua natureza exuberante, todas as condições necessárias para o 
nascimento de um gênio “autêntico”. Acompanhado de um sentimento 
antilusitano, Magalhães (1836, p. 150), o colonizado, em evidente oposição ao 
pensamento de Almeida Garret, o colonizador, reitera o aspecto da cor local e 
a importância da independência para o novo país: 
O Brasil então não podia mais viver de baixo da tutela de uma 
metrópole, que de suas riquezas se nutria, e o pertencia reduzir ao antigo 
estado de colônia. Necessário era a Independência; todos a desejavam, 
impossíveis eram sufocar o grito unânime dos corações brasileiros ávidos de 
liberdade, e de progresso. 
Dentro dos aspectos próprios da nação para despertá-lo de sua 
literatura, estava à figura que apareceu como possível inspiração para os 
poetas brasileiros. A interrogativa de Magalhães (1836) se construiu de 
maneira provocativa, instigando a imaginação dos artistas. Apontou o indígena 
como possível detentor de todo ideal poético necessário para o 
desenvolvimento grandioso da literatura brasileira: “Uma questão se levanta, e 
requer ser aqui tratada, questão toda concernente ao país, e aos seus 
 
 
 
 
24 
 
indígenas. Pode o Brasil inspirar a imaginação dos Poetas? E seus indígenas 
cultivaram por ventura a poesia?” (MAGALHÃES, 1836, p.153). 
O poeta nascido no Brasil ainda possuía uma especificidade, pois “o 
poeta brasileiro não é guiado pelo interesse, e só o amor mesmo da poesia, e 
de sua pátria o arrasta”. (MAGALHÃES, 1836, p. 143). Ele não precisaria imitar 
as coisas de fora, tudo o que necessitava estava em sua nação. Por isso, outra 
condição para se construir uma literatura realmente nacional, na visão de 
Gonçalves de Magalhães (1836, p. 141), era o conceito de pátria, pois “quando 
a ideia de pátria apareceu aos poetas, começaram eles a invocá-la para objeto 
de seus cânticos”. 
A partir de noções de patriotismo, autonomia e religiosidade, os artistas 
brasileiros buscavam uma arte que expressasse a identidade do seu país. Em 
um ambiente preso ao neoclassicismo, como observa Schwarcz (1999), o 
desejo de reforma até mesmo intelectual, somado ao tom provocativo, porém 
moderado do grupo fundador de Niterói ajudou na recepção do manifesto. Com 
isso, percebe-se que os poetas nacionais responderam positivamente aos 
questionamentos de Magalhães e muitos passaram a aplicar as ideias 
manifestas em Niterói e a literatura brasileira foi sendo construída dentro do 
quadro de especificidades do novo mundo, especialmente o tema indígena, 
que era colocado em um lugar de inspiração poética. 
Dentre os que adotaram conscientemente o ideal pensado por 
Magalhães está Joaquim Norberto de Sousa, como comenta Antônio Candido 
em Formação da literatura brasileira (1997, p. 329): “a exemplo de Magalhães, 
assinala a capacidade poética dos índios e chega a considerá-los iniciadores 
da nossa literatura”. Norberto mantinha estreita ligação com o Gonçalves de 
Magalhães, além dos literatos Porto Alegre, Francisco Adolfo de Varnhagen, 
Joaquim Manuel de Macedo e Gonçalves Dias, que também formavam o grupo 
fundador e perpetuador do IHGB. De acordo com Schwarcz (1999, p. 201), 
com o mecenato de D. Pedro II, e sua entrada na instituição, o romantismo “se 
transforma em projeto oficial, em verdadeiro nacionalismo, e como tal passa a 
inventariar o que deveriam ser as ‘originalidades locais’”. 
Na década de 1840, outro que ainda continuava o pensamento de 
Magalhães era Santiago Nunes Ribeiro (1843). Considerado portador de um 
 
 
 
 
25 
 
senso crítico com maior argumentação teórica, e também pertencente ao 
IHGB, escreveu para a Revista Minerva Brasiliense de 1843 a 1845. Em seus 
embates, dava ênfase ao nexo entre as letras e os contextos histórico-
geográficos. Em seu ponto de vista: 
Não é princípio incontestável que a divisão das literaturas deva ser 
feita invariavelmente segundo as línguas, em que se acham 
consignadas. Outra divisão mais filosófica seria a que atendesse ao 
espírito, que anima à idéia que preside aos trabalhos intelectuais de 
um povo, isto é, de um sistema, de um centro, de um foco de vida 
social. Este princípio literário e artístico é resultado das influências, do 
sentimento, das crenças, dos costumes e hábitos peculiares a um 
certo número de homens, que estão em determinadas relações e que 
podem ser muito diferentes entre alguns povos, embora falem a 
mesma língua (RIBEIRO, 1843, FIGUEIREDO, 2020, p. 91). 
Santiago Nunes Ribeiro (1843) discordava da divisão das literaturas por 
meio das línguas. Confirmou a similitude entre a língua falada no Brasil e em 
Portugal, no entanto, apontou especificidades atribuídas a aspectos sociais, 
geográficos e culturais. O ensaísta também colocou o povo como o motivo 
principal para uma produção artística, pois o povo, em sua concepção, seria 
aquele que manifestava por meio de suas relações a própria representação da 
arte. 
O Brasil visto a partir do prisma de suas riquezas naturais, apresentava 
todas as condições para desenvolver uma literatura singular. A língua, mesmo 
sendo traço do colonizador europeu, não era empecilho para a proliferação da 
arte que representava uma nacionalidade nativa. A nação tornou-se, então, 
como na visão de Benedict Anderson (2015) em Comunidades imaginadas, 
“objeto de aspiração consciente” e a literatura assumiu a incumbência de 
transformar o país em uma comunidade idealizada, portanto uma “invenção 
sem patente, e seria impossível registrá-la. Pôde ser copiada por mãos muito 
diversas, e às vezes inesperadas” (ANDERSON, 2015, p. 107). 
Assim, todo o contexto romântico era justamente a representação de 
uma nação, uma única linguagem. Os novos parâmetros academicistas 
buscados pelos grupos à frente dos manifestos românticos expressavam as 
novas tendências com o uso de seu material de trabalho: a literatura. Para 
tanto, a literatura e seu estilo de escrita precisavam se adequar ao estilo 
romântico, que passou a se caracterizar pela naturalização, pela liberdade, 
 
 
 
 
26 
 
pela aproximação com suas próprias aspirações para conceber o tipo de 
nacionalidade imaginada. 
3 O ROMANTISMO NO BRASIL SUA FASE INICIAL 
Em terra brasileira o romantismo se desenvolve diante do grande conflito 
que busca o aprimoramento para a formação da identidade do país com os 
surgimentos das diferentes culturas locais e com as influências europeias. 
De acordo com Coutinho (2002, p. 22-25), o romantismo brasileiro se 
inicia diante de grandes divergências nas idealizações e produções das obras 
literárias, mas foi possível integrar com unidade em torno de um mesmo 
objetivo, expandir com uma literatura brasileira, com as inovações românticas. 
Um momento de junção de novas ideias, “o Romantismo brasileiro tem muito 
de seu a fusão que realizou do momento pessoal ao momento coletivo”. O 
individualismo existente entre escritores posteriormente dá lugar ao coletivo e 
culmina com uma estética romântica melhor definida e engajada. Este período 
que se desenvolve com grande entusiasmo tem como aspectos importantes “o 
literário e o artístico, o político e o social, envolvendo gêneros variados como a 
poesia lírica, o romance, o drama, o jornalismo, a eloquência, o ensaio a 
crítica”. Todas as inovações estavam voltadaspara as questões do 
aprimoramento do movimento literário, o improviso, a inspiração a 
espontaneidade faziam parte deste grande circulo de transformações, a 
liberdade de expressão, a liberdade política, a autonomia ganha força em 
diferentes setores da sociedade, características próprias do Romantismo. 
De acordo com Coutinho (2001, p. 152-153), posteriormente à 
introdução do Romantismo na Europa vai se desencadeando uma sequência 
de difusões do movimento enquanto um sistema inovador na literatura, 
chegando ao Brasil com algumas diferenças em relação ao movimento ocorrido 
no contexto europeu após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. No 
entanto, a introdução do Romantismo no Brasil tem como referência o início da 
história política brasileira como um país independente, fato que se desenvolveu 
 
 
 
 
27 
 
em meados do século XIX, com os conflitos que tiveram origem na invasão de 
Napoleão Bonaparte em Portugal. 
 Ainda de acordo com Coutinho (2001, p. 154-156), diante do grande 
movimento que se expande na Europa intensificando as transformações 
sociais, culturais, que culmina com a queda do regime monárquico, a Coroa 
Portuguesa (D. João VI) e boa parte de seus aliados instalam-se no Brasil, 
mais precisamente no Rio de Janeiro, no ano de 1808. Com estes 
acontecimentos, o Brasil, ainda vivia a condição de colônia de Portugal, mas 
posteriormente com a conquista da independência, inicia um novo período, 
estruturando melhor as organizações locais em diferentes frentes, 
desenvolvendo e garantindo as ações não somente na literatura. Estes fatores 
foram importantes porque veio trazer o progresso local que cresceu na fase 
inicial o avanço e o aprimoramento da indústria, bem como a relação comercial 
dentro e fora do país, interferindo no ensino local e implantando o nível 
superior, difundindo assim a cultura social no Brasil. 
Conforme as mudanças foram se desenvolvendo inicialmente, em uma 
região que tinha muito a ser construindo nas culturas sociais de um povo e até 
mesmo nas estruturas comerciais e políticas, envolvendo todo território 
brasileiro a presença de D. Pedro II que residia no Brasil, foi um momento 
importante nesta fase inicial. Os movimentos se intensificam, o pensar e o agir 
das pessoas se repercutem fazendo melhor compreender a leitura da 
realidade, o que, posteriormente, traz resultados positivos para a construção 
ideológica de uma das maiores escola literária, o Romantismo, que apresenta 
características culturais e sociais diferentes em terras brasileiras. 
Sobre essas questões, afirma Coutinho (2001), a respeito do 
desenvolvimento romântico na colônia de Portugal e posteriormente no Brasil: 
O progresso geral do país durante a fase da permanência da Corte 
portuguesa (1808-1821), imediatamente seguida pela independência 
(1822), teve indisputável expressão cultural e literária. O Rio de 
Janeiro tornou-se, além da sede do governo, a capital literária e, com 
a liberdade de prelos, desencadeou-se intenso movimento de 
imprensa por todo o país, em que se misturavam a literatura e a 
política numa feição bem típica da época. (COUTINHO, 2001, apud 
RODOVALHO, 2010, p. 16). 
 
 
 
 
28 
 
O Romantismo no Brasil torna-se um símbolo na criação literária, 
buscando a aproximação da realidade brasileira, evitando assim a simples 
imitação dos moldes clássicos estrangeiros. Considerando que o Romantismo 
é a, força de expressão artística de um povo, a exemplo do que já aconteceu 
na Europa os grandes movimentos como a Revolução Industrial e Revolução 
Francesa, que molda um novo estilo de homem, mais crítico, livre para pensar 
e inovar na literatura que antes era contemplação de poucos. 
Um pouco diferente, mas também com expressões literárias inovadoras 
surgiu no Brasil, ainda colônia de Portugal e posteriormente vice-reino, uma 
literatura própria em um ambiente propício para a criação e a inovação, 
expressando assim as primeiras manifestações culturais do País através da 
literatura. 
Segundo Coutinho, (2001, p.176-177), o Romantismo é um movimento 
que se identifica com o ambiente brasileiro. Os poetas que iniciaram a literatura 
aqui no Brasil souberam valorizar o ambiente local, a natureza e a pátria, com 
uma predisposição que lança com criticidade um futuro posicionamento 
brasileiro, fugindo das idealizações clássicas. 
[...] o Romantismo é das nossas glórias maiores e mais brasileiras, 
visto ter tido manifestações que só entre nós seriam possíveis, 
porque trouxe representações da natureza e da alma humana, e não 
de alguma vista através de livros; porque então, como nunca, os 
acontecimentos sociais e políticos refletiram-se fundamente na poesia 
e sofreram por sua vez a poderosa e benéfica reação desta. (MURICI 
apud. COUTINHO, 2001, p. 177). 
Posicionando assim, Coutinho (2001), considera o desenvolvimento do 
Romantismo no Brasil a partir de 1808, momento de transição da condição de 
para posteriormente Brasil independente, como nada jamais visto. A literatura 
brasileira ganha características próprias de acordo com o entusiasmo que 
desperta na inovação dos escritores, que, nos versos livres, expressam a glória 
maior de um povo que olha o horizonte com sede de construção do saber 
poético na forma mais natural possível. Diante do grande entusiasmo, surge o 
Romantismo brasileiro, configurando, a partir deste momento, a existência de 
uma literatura própria que promove a consciência no conteúdo original e na 
forma mais completa na difusão da poética nacional. 
 
 
 
 
29 
 
Com um olhar um pouco mais amplo, Bosi (2003, p. 11-13) afirma que: 
Inicialmente o Brasil de hoje era considerado colônia de Portugal, 
portanto objeto de uma cultura, já desenvolvida. E diante das 
primeiras ações tudo que se pretendia a princípio era o carrear de 
bens materiais para fora da colônia, ou seja, a verdadeira exploração 
das riquezas para o mercado externo (Portugal) principalmente, 
incluindo produtos do tipo vegetal e mineral. E a conquista para sair 
deste espaço do não ser objeto explorado, para ser sujeito de sua 
história, desenvolveram muitas lutas, e este foi um processo lento 
porque dependia do aprimoramento cultural de seu povo para o 
enfrentamento dos desequilíbrios desta fase inicial. (BOSSI, 2003, 
apud RODOVALHO, 2010, p. 18). 
Mas o Romantismo no Brasil ganha entusiasmo a partir das influências 
de D. Pedro II, que contribuiu muito para a consolidação da cultura nacional. 
Expandindo o desenvolvimento nas pesquisas, analisando o passado histórico 
e os acontecimentos, procurando nos vestígios locais, e observando os nativos, 
redescobrindo as imagens, implantando instituições de ensino que culminaram 
com a ampliação do público leitor e o aumento na publicação de obras que 
serviram como referencial teórico para o início da historiografia e a linguagem 
literária do Brasil. 
Considerando as ideias de Coutinho (2001) e Bosi (2003) sobre a 
iniciação literária no Brasil, é possível caracterizar que este é um período 
bastante crítico sendo que as especulações, o aproveitar das riquezas, e até 
chegar ao posicionamento mais elaborado para a formação cultural linguística 
de um povo o amadurecimento com o olhar voltado para a pátria. 
3.1 O Romantismo e suas gerações no Brasil: Primeira geração 
Segundo Coutinho (2001, p. 157-158), posteriormente à fase inicial, 
considerada como pré-romantismo, período que ainda não tinha uma definição 
apropriada para as obras literárias no território brasileiro (1808-1836), 
posteriormente ao Brasil colônia, inicia-se a primeira geração do Romantismo 
brasileiro com uma visão nacional e revolucionária. Quem melhor se destacou 
no inicio da era romântica foi Gonçalves de Magalhães, sendo o responsável 
pela criação de uma literatura nacional ainda não existente, uma vez que o que 
se prevalecia até aquele momento era as correntes portuguesas, ou seja, a 
 
 
 
 
30 
 
literatura brasileira aindanão tinha os méritos de uma visão própria. Nas 
palavras de Afrânio Coutinho, “o nosso primeiro homem de letras, e quem 
iniciou a carreira literária entre nós, Domingues José Gonçalves de Magalhães 
(1836), o visconde de Araguaia.” (COUTINHO, 2001, p.159). 
Este por sua vez é o introdutor da ideia romântica no Brasil, prevendo o 
mesmo uma transformação no estilo poético brasileiro, vendo o índio como um 
marco para a transformação da literatura brasileira. 
[...] a sua atitude intencionalmente revolucionaria, de renovação total 
da literatura brasileira, expressa no manifesto com que lançam a 
revista Niterói (1836); a intenção antilusa, com a indicação de 
transferir para a França a fonte de inspiração literária e artística, de 
onde, aliás, simbolicamente lançou a revista e o seu livro Suspiros e 
Poetas e Saudades (1836); a preferência dada ao tema do 
indianismo, tudo justifica a posição de introdutor do Romantismo que 
detém Gonçalves de Magalhães na literatura brasileira. (COUTINHO, 
2001, apud RODOVALHO, 2010, p. 20). 
É possível constatar, deste modo, que a atuação de Gonçalves de 
Magalhães se limitou mais à introdução da literatura no Brasil, destacando o 
índio como puro e natural, para introduzir a escola romântica no Brasil. 
Conforme Bosi (2003, p. 97-99), Gonçalves de Magalhães é inicialmente 
o incentivador da literatura no Brasil, desenvolvendo uma poesia ainda 
arcádica. Porém, com as viagens pela Europa, o escritor desenvolve estudos 
que terminam influenciando suas idéias sobre o Romantismo. 
Vivendo na Europa, mas com lembranças recentes da Colônia de 
Portugal, posteriormente Brasil, Magalhães lança definitivamente em Paris uma 
de suas obras que introduz o romantismo no Brasil, Suspiros Poéticos e 
Saudades, de 1836. Cheio de entusiasmo, com as inovações românticas lança 
pouco tempo depois a revista Niterói, que também retrata em tese um pouco 
das transformações brasileiras, sendo produzida por um grupo de escritores 
que idealizavam e seguiam estilos idênticos aos estilos de Magalhães. 
Segundo o crítico, o trabalho desenvolvido pelo grupo segue um padrão 
pouco inovador, com influências de Lamartine e Masone, tendo como 
pensamento ideológico romper com os padrões clássicos mitológicos pagãos. 
De acordo com Bosi (2003, p. 104-105), quem realmente se 
comprometeu com uma literatura mais crítica e brasileira, com menor influência 
 
 
 
 
31 
 
europeia foi Gonçalves Dias, o poeta brasileiro mais original do século XIX. Um 
conhecedor da realidade brasileira, isso lhes proporcionou uma produção de 
obras que não se comparavam aos estilos anteriores porque se aproximava 
muito da realidade local, com visão originalmente brasileira. O índio nativo 
neste território brasileiro teve seus privilégios de estar sempre presente em 
suas publicações, por que este índio brasileiro figura real e não apenas 
idealização, ele conheceu muito bem desde sua infância e os tratava em suas 
obras como substância poética e não apenas como um acessório, para o 
enriquecimento de estilo poético. Suas obras apresentavam estilo inovador, 
suas preferências que envolviam as observações eram inspiradas na vida 
cotidiana da pátria residente Brasil, se destacou com diferentes obras primas 
como Canção do Exílio e I Juca Pirama que fazem parte das discussões 
literárias até os dias atuais. 
3.2 Segunda geração 
De acordo com Bosi (2003, p. 109-110), a “segunda geração romântica” 
se desenvolve com uma ideologia de extremo subjetivismo sofrendo as fortes 
influências de Lord Byron e a Musset. Toda construção poética desenvolvida se 
volta para os pensamentos emotivos que trouxeram sérias consequências para 
a vida pessoal dos poetas, “alguns poetas adolescentes, mortos antes de 
tocarem a plena juventude, darão exemplo de toda uma temática emotiva de 
amor e morte, dúvidas e ironia, entusiasmo e tédio”. 
 Conforme Coutinho (2002, p. 139), essa geração de poetas passa a ser 
conhecida como geração “mal do século”, justamente por sua poesia 
pessimista e decadente, pela influência da tristeza, pela ansiedade, pelo delírio 
desenfreado e sem visão para a vida em sociedade, e pela valorização da 
morte. Um dos escritores que se destaca neste estilo de poesia seria Joaquim 
de Souza Andrade (Sousândrade) e posteriormente se destaca Álvares de 
Azevedo. 
Com todo subjetivismo ultrarromântico que Azevedo desenvolve seus 
poemas, Coutinho (2002, p. 142) descreve o modo de vida que o poeta 
devaneia o sentimentalismo, tédio e desencanto, constantes fugas da 
 
 
 
 
32 
 
realidade, o prolongamento das dores, o proibido e o obscuro, em suas 
produções literárias, “Absurdo no pensamento da morte, só se preocupava com 
o lado noturno: as sombras, o crepúsculo, à noite, os túmulos”. Introduzindo a 
poesia decadentista com uma visão ou sonho e as emoções, tendo a figura 
feminina (mulher) como algo a ser idealizado e não concretizado na vida real, 
enxergando aos olhos do sobrenatural são fortes características deste estilo 
poético que faz parte da escola romântica e contribuiu para desperta-lo a novas 
idealizações. 
3.3 Terceira geração 
De acordo com Bosi (2003), a terceira geração da poesia romântica foi 
caracterizada por versos sociais e libertários que refletiam as questões que 
envolviam o Brasil Império. Essa geração sofreu as influências de Victor Hugo, 
poeta que também desenvolveu uma poesia política e social. 
 Coutinho, por sua vez, assinala o fato de que o grupo de poetas 
brasileiros posterior a 1860 desenvolveu um novo estilo: 
Romantismo liberal e social: intensa impregnação política social, 
nacionalista ligada às lutas pelo abolicionismo (especialmente depois 
de 1866) e um lirismo intimista e amoroso, por influencia de Victor 
Hugo tende para um lirismo de metáforas arrebatadas e ousadas, que 
se batizou (Capistrano de Abreu) de poesia “Condoreira” ou 
“condoreirismo”. (COUTINHO, 2001, apud RODOVALHO, 2010, p. 
21). 
Na visão do crítico, trata-se de uma poesia que veio movendo com o 
silêncio de uma sociedade que se acomodava ao sistema de privilégios de 
poucos. 
Com poucas divergências em suas abordagens, Bosi e Coutinho 
consideram a poesia condoreira como inovadora, surgindo com um novo 
conceito na realidade daquela época. Da mesma forma, ambos reconhecem 
Castro Alves como um dos mais representativos e inovadores poetas na 
literatura da terceira geração romântica. 
De acordo com Luiz Henrique Silva de Oliveira (2007, p. 46), ainda muito 
jovem Castro Alves já despertava atenções em suas produções “colegiais”, e 
 
 
 
 
33 
 
sempre gostava de recitar seus poemas em público e no Ginásio Baiano 
(1861). O ambiente propício para declamar e conduzir as denúncias contra as 
ações da classe dominante. Alves sempre olhando as condições em que 
encontravam os oprimidos, defendia a abolição e a República. Com estes atos, 
muitas outras pessoas passaram a adotar a ideia fortalecendo ainda mais a 
inovação do jovem poeta. 
Exemplificando as atitudes de Alves, assim comenta Oliveira (2007, p. 
46- 47), “o poema recitado pelo aluno Antônio de Castro Alves no “Outeiro que 
teve lugar no Ginásio Baiano a 3 de julho de 1861”, foi um momento de grande 
repercussão; 
Se o índio, o negro africano, 
 E mesmo o perito Hispano 
Tem sofrido servidão; Ah! 
Não pode ser escravo quem nasceu no solo bravo 
Da brasileira região! (ALVES, 1997, apud RODOVALHO, 2010, p. 
22). 
Posicionando assim com seu estilo inovador o jovem sai em defesa do 
índio, do negro e o mais extraordinário acontece em seu quinto verso “solo 
bravo” não só em defesa dos oprimidos, mas o reconhecimento da pátria. O 
solo fértil para se construir uma nação estava habitado por portugueses que a 
princípio tenta escravizar os índios, projeto que não prosperou, porque os 
nativos tinham facilidade para se deslocar na floreta. E posteriormente às 
tentativas com os índios, é a vez do negro, que tirado a força da Áfricae trazido 
para o Brasil, vira mão-de-obra com facilidade uma vez que pouco reagia 
contra ao sistema. Por estes e outros motivos, Alves ganha às expressões de 
poeta condor justamente porque soube enfrentar a realidade fazendo aquilo 
que outros de seu Ginásio Baiano não fizeram. 
A sua estreia coincide com o amadurecimento de uma situação nova 
a crise do Brasil puramente rural o lento mais firme crescimento da 
cultura urbana, dos ideais democráticos e, portanto o despertar de 
uma repulsa pela moral do senhor – e- servo, que poluía as fontes da 
vida familiar e social no Brasil – Império. (BOSI, 2003, apud 
RODOVALHO, 2010, p. 22). 
Castro Alves, enquanto representante desta geração, é visto como 
inovador, apresentando uma nova linguagem poética. Sua obra rompe com o 
 
 
 
 
34 
 
silêncio existente sobre os negros escravos e expõe um problema social que se 
desenvolvia na colonização do país, distinguindo-se assim da literatura 
clássica, que voltava o olhar para o índio, o amor e as diferentes culturas 
urbanas. 
Como afirma Bosi (2003, p.120), as palavras do poeta Castro Alves são 
abertas para a realidade de uma nação que sobrevive à custa da escravidão, 
como pode ser observado nos seguintes versos do poema “Navio negreiro”: 
E existe um povo que a bandeira empresta 
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. 
Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 
 
Auriverde pendão de minha terra, 
 Que a brisa do Brasil beija a balança, 
Estandarte que a luz do sol encera 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu, que da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança, 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha! (ALVES, 2005, RODOVALHO, 
2010, p. 22). 
A indignação de Castro Alves faz dele uma nova voz na poesia 
brasileira, envolvida com o povo e rompendo com um dogma impregnado nas 
classes mais privilegiadas. Deste modo, deixa de se restringir aos simples 
sentimentos individuais, despertando para novos temas, mais abrangentes, 
como a igualdade de direitos e a luta de classes, diferenciando-se assim dos 
demais poetas. Fazendo uma denúncia dos acontecimentos “existe um povo 
que a bandeira empresta/ P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia” a bandeira o 
símbolo nacional manchada pela conivência que encobriam os problemas da 
escravidão. 
Segundo Bosi (2003, p. 120-121), a poesia social de Castro Alves 
também apresenta uma nova imagem sobre a mulher, considerando-a como 
aquela que está próxima da figura sensual, enquanto os demais poetas viam a 
 
 
 
 
35 
 
mulher como algo a ser idealizado. Castro Alves ocupa assim um lugar 
diferenciado, comparando aos demais poetas, no que diz respeito ao olhar para 
a natureza, à linguagem inovadora e a critica social sobre o sistema implantado 
mesmo depois da independência do Brasil. 
Na visão de Coutinho (2002, p. 04-21) O movimento romântico surge 
como um amplo movimento internacional com características próprias que vai 
se constituindo gradativamente com seus diferentes escritores. No Brasil seria 
difícil limitar momentos diferenciados nas características românticas, mas fica 
compreendido o pré-romantismo (1808-1836), período de transição, e 
construção e definição literária no país. Posteriormente outro período 
compreendido como Romantismo oficial no Brasil (1836-1860). Este foi o 
período em que se desenvolvem as três principais gerações românticas: A 
Primeira Geração com a introdução de Gonçalves de Magalhães, e o 
Indianismo de Gonçalves dias, seguindo a Segunda Geração com a poesia 
byroniana ou satânica, (Byron), na representação do mais influente, Álvares de 
Azevedo, com o forte subjetivismo. E finalmente, a Terceira Geração que tem 
como principal representante, Castro Alves com seus usados poemas 
representando forte critica social, que surgem nas aulas do Ginásio Baiano. 
As três gerações que se desenvolvem no Romantismo são frutos do 
amplo movimento que se estende diante das diferentes transformações sociais, 
culturais e políticas em nosso país, promovendo uma literatura a ser explorada 
e contemplada em suas diferentes áreas de conhecimento humano. 
 
 
 
 
36 
 
4 O REALISMO CONTEMPORÂNEO E A ESCOLA REALISTA DO 
SÉCULO XIX 
 
Fonte: virusdaarte.net 
A literatura latino-americana recente, na qual se insere a obra 
Passaporte, representa uma volta ao realismo, com forte repercussão na 
linguagem literária e na expressão artística. Não apenas a questão 
representativa é trabalhada, mas todo o aspecto performático da comunicação, 
como se vê na forma, na cor, no tamanho do livro, na distribuição dos textos, 
além da formatação das páginas de Passaporte, que em tudo imita um 
passaporte de verdade. Segundo Karl Erik Schollhammer: 
Outra perspectiva emerge hoje na literatura e em certas experiências 
artísticas, reivindicando a presença do real na obra não apenas na 
temática, mas, por exemplo, por meio da acentuação de suas 
qualidades materiais, afetivas e estético-expressivas e firmando um 
compromisso com a criatividade técnica e artística, à procura da 
criação literária de efeitos de realidade (SCHOLLHAMMER, 2011, 
OLIVEIRA, 2019). 
 
 
 
 
37 
 
5 REALISMO / NATURALISMO 
 
Fonte: figuradelinguagem.com 
A distinção entre Realismo e Naturalismo coloca, ainda hoje, problemas 
fundamentais. Os debates que envolveram importantes teóricos marxistas por 
volta dos anos 30 colaboraram de maneira decisiva para a crítica da 
posteridade. Naqueles idos, o interesse acerca do tema Literatura e Revolução, 
e o que deveria ser a estética própria de uma sociedade marcada pelos 
pressupostos da socialização do trabalho e do fim da opressão, colocava em 
xeque as produções soviéticas, que pareciam assumir, nos dizeres de Lukács, 
o tom e o esquematismo das “mal vistas” obras naturalistas. 
Muito do debate produzido neste período contribuiu para um maior 
entendimento das estéticas Realista e Naturalista. No nosso caso, por entender 
a atualidade de tal questão, buscaremos compreender o quanto o Realismo e o 
Naturalismo se manifestaram enquanto concepção literária aqui no Brasil 
(mesmo não se estabelecendo, à época, confrontos tão explícitos ou 
programáticos) e, para isso, utilizará como ponto de partida basicamente três 
romances representativos do período: Memórias Póstumas de Brás Cubas e 
Quincas Borba, de Machado de Assis, e O Cortiço, de Aluísio Azevedo. A partir 
dessas obras, nos apoiaremos, principalmente, no aparato crítico de Geogy 
Lukács (figura central, à época, na delimitação deste problema). 
 
 
 
 
38 
 
5.1 O problema do Real – conhecimento e experiência 
De início, pode-se dizer que há uma necessidade comum que se 
estrutura enquanto centro da diferenciação entre Realismo e Naturalismo: 
ambos possuem uma espécie de comprometimento com o real. 
Esse “comprometimento com o real assume formas diferenciadas em 
ambas estéticas”. Ao abandonarem, não de maneira brusca e uniforme, a visão 
de mundo romântica (aquela assentada num polo oposto – o da “realidade 
intangível, não captável, que foge às palavras”), o Realismo e o Naturalismo, 
cada um a seu modo, buscaram ora compreender os “processos lógicos e 
interligados” que movem os personagens e ações, ora descrever os 
“fenômenos da trama” tal como se apresentam. Neste polo ocorre mesmo nas 
elaborações em primeira pessoa, o desejo por vezes explícito de maior 
“compreensão” da realidade, com uma ligação maior ao universo objetivo, 
material. Em todo este conjunto de concepções, que de início configuravam-se 
como que mais voltados a um antirromantismo que a um realismo propriamente 
dito, há a preocupação com certa “impessoalidade” diante da elaboração 
poética. Entretanto, antes que o raciocínio aponte

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