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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. FREITAS, Vinícius Adriano. Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação. Vinícius Adriano de Freitas. Maringá - PR.: UniCesumar, 2021. 200 p. “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Filosóficos 3. Históricos. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração André Morais de Freitas Design Educacional Giovana Vieira Cardoso Revisão Textual Meyre Barbosa e Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Andre Luis Azevedo da Silva Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 370.9 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-321-6 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Head de Produção de Conteúdo Franklin Portela Correia Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Supervisora de Produção de Conteúdo Daniele C. Correia Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Vinícius Adriano de Freitas Sou o Professor Vinícius Adriano de Freitas, mestre em Educação pela Universi- dade Estadual de Maringá (2016). Cursei Especialização em Filosofia: Teorias do Conhecimento pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) (2011), instituição na qual também me graduei em Pedagogia (2008) e em Filosofia (2015). Estou cursan- do o Doutorado em Educação (iniciado em 2018) pela UEM. Sou docente da rede municipal de ensino da cidade de Cianorte-PR e professor Assistente do Curso de Pedagogia da UEM, Campus Regional de Cianorte (CRC). Atuo principalmente com os seguintes temas: Ensino, Aprendizagem, Formação de Professores, Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, Alfabetização, Linguística, Metodologia da Pesquisa, Filosofia Moderna, Filosofia Contemporânea e Teoria Crítica da Sociedade. Para maiores informações, consulte na Plataforma Lattes o meu currículo: http:// lattes.cnpq.br/5865292371225852. Você também pode consultar o Orcid: https:// orcid.org/0000-0002-4922-9565. https://orcid.org/0000-0002-4922-9565 https://orcid.org/0000-0002-4922-9565 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Caro(a) leitor(a), este livro objetiva levar você a refletir sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação. Ser professor é ter profissionalismo para atingir um objetivo maior: tornar possível que o edu- cando se desenvolva e aprenda. Contudo, desenvolvimento e aprendizagem são processos complexos. A epistemologia – também chamada ‘teoria do conhecimento’-, ao longo da história da filosofia, buscou estudar, entre outras questões, como é que o ser humano aprende e, a partir disso, construiu-se aquilo que atualmente chamamos de educação. A disciplina “Fundamentos históricos e filosóficos da educação” vem oferecer encaminhamentos para que você, docente em formação, construa as bases para sua reflexão durante o exercício da profissão docente. Questionamentos como: (i) o que ensino, (ii) para quem ensino, (iii) para que eu ensino, (iv) como facilitar o processo de aprendizagem, (v) quais estratégias de ensino posso utilizar etc. fazem parte do processo de construção da identidade profissional para a docência. Trataremos a educação a partir de seus fundamentos históricos e filosóficos por meio da exposição de filósofos, historiadores e pensadores que, com suas teorias, buscaram proble- matizar acerca da educação no Ocidente. Contudo, não se trata apenas da educação escolar. Quando se aborda a educação com base em concepções teóricas e filosóficas, estar-se-á a lidar com questões mais amplas. “Fundamentos históricos e filosóficos da educação” vem propor que, constantemente, o docen- te, um profissional em constante formação, coloque em questão suas crenças, valores, opiniões, conhecimentos sobre os processos de ensino e de aprendizagem em sala de aula. Direta ou indiretamente, a educação está sempre lidando com questões mais amplas como: sociedade, políticas educacionais, concepções de desenvolvimento e aprendizagem, abordagens históricas e concepções filosóficas. Pensando nisso, o livro está organizado em cinco unidades. Na Unidade 1, intitulada “História, Filosofia e Educação”, analisa-se os princípios da filosofia e a periodização usual (filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contem- porânea), buscando relacionar esses saberes com a identidade do ‘ser’ professor. Na Unidade 2, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação nos períodos antigo e me- dieval”, o enfoque é compreender como se organizou a formação humana tanto do ponto de vista filosófico quanto pedagógico nas épocas ‘antiga’ e ‘medieval’. Para a educação, o fato mais importante desse período foi o surgimento da universidade, no século XIII. D A D I S C I P L I N AA P R E S E N TA Ç Ã O Na Unidade 3, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no período moderno”, o objetivo principal é compreender como se construíram as bases para a pedagogia moderna: racionalismo, empirismo e criticismo. Buscaremos ver como se deu o surgimento da escola nos moldes que conhecemos hoje, tendo comoprincipais representantes no campo da educação: (i) Rousseau, como filósofo da educação e (ii) Comenius, como ‘fundador’ da didática moderna. A Unidade 4 busca analisar o dilema atual: época contemporânea ou pós-moderna? Intitulada “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no período contemporâneo”, tem como objetivo refletir sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação do século XX e até os dias atuais. A Unidade 5, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no Brasil”, tem o propósito de explicitar os fundamentos das ideias pedagógicas que têm tido destaque ao longo da história da educação em nosso país: (i) a Pedagogia Jesuítica; (ii) a Pedagogia Nova; (iii) a Pedagogia Tec- nicista; (iv) a Pedagogia Histórico-Crítica; e (v) Paulo Freire como teórico brasileiro que trouxe importantes reflexões acerca da função da educação em nosso país e no mundo, buscando propor que educandos e educadores reflitam sobre si (autorreflexão) e sobre os fundamen- tos históricos e filosóficos da educação de sua concepção de mundo, sociedade, escola etc. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO HISTÓRIA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO 10 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NOS PERÍODOS ANTIGO E MEDIEVAL 50 80 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE 112 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO 150 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 186 CONCLUSÃO GERAL 1 HISTÓRIA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Fundamentos históricos e filo- sóficos na formação de professores, para quê? • Principais áreas de estudo da filosofia: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política • Períodos na História Geral: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea • Períodos da História da Filosofia: Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea • Platão: um marco para a história da educação. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a importância dos fundamentos históricos e filosóficos da educação. • Identificar as prin- cipais áreas de estudo da filosofia e seus respectivos objetos de estudo. • Compreender a periodização como estratégia de compreensão dos diferentes períodos da história geral. • Distinguir os diferentes períodos da História da Filosofia. • Compreender Platão como marco para a história da educação no mundo ocidental. PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas INTRODUÇÃO Olá, estudante, seja bem-vindo(a)! Este estudo tem como objetivo principal formar professores com qualidade. O(a) estudante de cursos de licencia- tura tem como um dos fundamentos de sua formação a compreensão da interdisciplinaridade que há entre história, filosofia e educação. Este enten- dimento nos permite refletir sobre a função social da escola na época atual. A filosofia se consolidou como área do conhecimento na Grécia ainda na Antiguidade. Ela teve momentos altos e baixos, mas, afinal, como ela surgiu? Para que a presença da história e da filosofia em cursos de formação de professores? Diante das questões levantadas, nesta unidade, buscaremos: (i) escla- recer o porquê de estudar os fundamentos históricos e filosóficos da edu- cação em cursos de licenciatura; (ii) evidenciar que a filosofia tem objetos específicos de conhecimento; (iii) compreender, em caráter introdutório, os períodos na História Geral; (iv) compreender, também em caráter in- trodutório, os períodos da História da Filosofia e (v) evidenciar o projeto de Platão em relação à educação. Ao longo da história, a filosofia teve diferentes significados. Diante dis- so, nesta primeira unidade (Unidade 1), concentramo-nos na compreensão do seu surgimento, ou seja, uma introdução à filosofia; sempre buscando: (i) por um lado, explicitar a história e a filosofia como áreas do conheci- mento; (ii) por outro lado, integrar as três áreas do conhecimento: história, filosofia e educação. U N ID A D E 1 12 1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS NA formação de professores, para quê? Olá, estudante! Ao longo desta aula, o objetivo é compreender o porquê da presença (i) da história, (ii) da filosofia e (iii) da educação no curso de formação de professores. Vamos conversar um pouco sobre os elementos da figura acima: o professor está em pé em uma sala de aula que dispõe de um quadro-negro. Ele está com um livro na mão esquerda e um giz branco na mão direita. Provavelmente irá iniciar a exposição de um conteúdo de uma aula aos estudantes. De certa forma, os quatro elementos descritos – professor, quadro-negro, giz e livro – formam um ícone que representa a ação do docente e a sala de aula nos dias atuais. Vamos pensar: há outras formas de organizar a sala de aula que se distingue do que ve- mos na imagem? pensando juntos A figura que abre este capítulo será objeto de nossa reflexão histórica e filosófica: (i) por que ensinar?, (ii) qual o melhor ambiente para o ensino?, (iii) quem é o educando?, (iv) por que a aula expositiva?, (v) o que o professor ensina?, (vi) como ensinar?, (vii) por que escrever na lousa?, (viii) como avaliar a aprendizagem?, (ix) o livro didático é necessário para uma aprendizagem de qualidade?, (x) qual a relação entre forma e conteúdo nos processos de ensino e de aprendizagem durante a escolarização? U N IC ES U M A R 13 O conteúdo programático deste tópico busca efetivar que você, futuro pro- fessor, tenha a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentes da educação, situadas em determinados momentos histórico-filosóficos. Esses conhecimentos são importantes para a formação docente e para a posterior atuação profissional, pois contribuem para ampliar e complementar o pensar e o agir do professor. Direta ou indiretamente, questões filosóficas fazem parte do cotidiano huma- no. Estamos realizando o exercício filosófico quando paramos para refletir sobre o que é melhor para nossa vida. Assim sendo, o ato de filosofar decorre do fato de que sujeitos racionais e sensíveis (o ser humano) são capazes de dar sentido às coisas (filosofia da vida, da existência). Contudo, a filosofia do especialista em filosofia é diferente: ocupa-se com o rigor de conceitos filosóficos (o que pressupõe intimidade com a história da filosofia). No entanto, é necessário fazer uma observação: o pensar do filósofo não é melhor nem superior ao dos “cidadãos comuns”; apenas é diferente. A experiência filosófica está presente no dia a dia da profissão docente, porque problemas filosóficos fazem parte dos processos de ensino e de aprendizagem, ou seja, no seu dia a dia, o docente se questiona: (i) o que é conhecer?, (ii) tudo é passível de conhecimento?, (iii) por que alguns educandos têm mais facilidade para aprender?, (iv) para que é necessário aprender? etc. O estudo da filosofia é essencial, porque não se pode pensar em nenhum ser humano que não sejasolicitado a refletir e agir (ARANHA; MARTINS, 1993). Quer dizer, cada ser humano tem uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política e, então, tende a atuar filosoficamente em todos os contextos, seja (i) no sentido de manter ou (ii) modificar as maneiras de pensar e agir. explorando Ideias A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica. Assim, mediante à filosofia, a “expe- riência vivida” é transformada em “experiência compreendida”, isto é, em um saber a respeito dessa experiência. Em última análise, cabe à filosofia fazer a crítica da cultura. Conforme argumentam Aranha e Martins (1993, p.28), “só assim será possível desvelar as formas de dominação que se ocultam sob o convencionalis- mo, a alienação e a ideologia”. U N ID A D E 1 14 Conforme Stigar (2010), a palavra “filosofia” acaba dando origem ao “filósofo”. “ Em sua origem na Grécia antiga a palavra ‘filósofo’ designava uma pessoa que sempre está em busca da sabedoria, ou seja, ‘amante da sabedoria’ [...](STIGAR, 2010, p. 29). Dessa forma, em sua origem, a filosofia “ [...] era a atividade do homem sábio, ou seja, do amigo do saber (filo + sophia = amor à sabedoria). O filósofo é um conhecedor de tudo, de todas as coisas, o sophós, o sábio (STIGAR, 2010, p. 29). Por que, então, o trabalho docente é filosófico? Porque o trabalho docente é episte- mológico, isto é, lida diretamente com o saber, o conhecimento humano. Envolve constante reflexão sobre o agir didático-metodológico, que, por sua vez, tem três processos que envolvem aspectos históricos e filosóficos: (i) o ensino, (ii) a aprendi- zagem e (iii) o desenvolvimento humano. Epistemologia ou teoria do conhecimento é uma área da filosofia que busca ex- plicar: “o que é conhecimento?” e “como ocorre o processo de conhecer?”. Atualmente, além da filosofia, a psicologia e a pedagogia trabalham com a epistemologia. A Filosofia da Educação é um campo que direciona e, ao mesmo tempo, pro- blematiza sobre a prática pedagógica e a formação humana. Vejamos a explicação dada por Luckesi (1994, p. 21) a respeito da relação entre a educação e a filosofia da educação: “ A educação é uma prática humana direcionada por uma determi-nada concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com uma pedagogia, que nada mais é que uma concepção filosófica da educação. Tal concepção ordena os elementos que direcionam a prática educacional. Filosofia, do grego “Φιλοσοφία”, “filosofia”, é uma palavra que, traduzindo para a língua portuguesa, significa “amor à sabedoria”. conceituando U N IC ES U M A R 15 É importante ficar claro que, historicamente, a educação “[...] não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social” (LUCKESI, 1994, p. 30-31), ou seja, a educação sempre tem uma finalidade específica, de acordo com o momento histórico no qual está situada. Os problemas abordados pela filosofia da educação estão ligados aos sujeitos (professor, estudante, tutor, pedagogo, padre etc.) e aos objetos (lápis, livro didático, caderno, computador etc.), bem como a relação entre eles dentro do sistema educacional. Conforme Luckesi (1994, p. 32), nas relações entre filosofia e educação só há duas alternativas: “ [...] ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. Retomando a questão, o que induz o educador a filosofar é a sua constante refle- xão acerca dos sujeitos e dos objetos com os quais lida profissionalmente. Dito de outro forma, o que leva o educador a filosofar “ [...] são os problemas (entendido esse termo com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso trabalho (SAVIANI, 2000, p. 23). Dessa forma, o exercício filosófico possibilita que as pessoas, diante dos proble- mas, respondam com reflexão e não com ideias prontas. E, diante dos problemas que a realidade educacional apresenta ao educador, a reflexão filosófica se faz necessária. U N ID A D E 1 16 2 PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política Há um consenso entre nós, humanos, que aquilo que traz influência sobre nós – (i) os sujeitos e (ii) os objetos – dispõe de características tão complexas que, para nos apropriarmos disso, passou-se a categorizar que se exige diferentes tipos de conhecimento. Observe o quadro a seguir: Conhecimento Popular Conhecimento Científico Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo Reflexivo Contingente Racional Inspiracional Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Verificável Verificável Não verificável Não verificável Falível Falível Infalível Infalível Inexato Aproximadamente exato Exato Exato Quadro 1 – Os tipos de conhecimento Fonte: adaptado de Ferrari (1974). U N IC ES U M A R 17 Figura 1 - A morte de Sócrates Descrição da Imagem: “A morte de Sócrates” por Jacques Louis David de 1787. Pintura neoclássica francesa, óleo sobre tela. Sócrates, filósofo grego clássico, prestes a beber cicuta venenosa como o preço de manter a defesa de suas ideias. A imagem é um dos símbolos da filosofia ocidental. Afinal, o que distingue estes níveis de conhecimento? Vejamos. O conhecimento empírico diz respeito ao conhecimento imediato, àquilo que nossos sentidos nos repassam imediatamente. Contudo, ao longo da história da filosofia, houve um problema levantado: até que ponto podemos confiar no conhecimento imediato? Um exemplo: por meio da visão, observando o céu, vemos o Sol girando em torno da Terra. Entretanto, por meio do conhecimento científico, sabe-se atual- mente que, ao contrário, é a Terra que gira em torno do Sol. Em outras palavras, às vezes, o conhecimento imediato (empírico) nos engana. No entanto, não se pode desprezar o conhecimento empírico. Apesar de ele ser o imediato, muitas vezes, é verdadeiro e, de certa forma, uma das maneiras de se obter conhecimento é por meio da empiria, ou seja, da experiência imediata. O conhecimento científico diz respeito aos saberes obtidos por meio da ciência. Utiliza-se o método científico para a obtenção de conhecimentos confiá- veis e exatos. Por meio da ciência, certos saberes foram contestados. Por exemplo, atualmente, sabe-se que a saúde não é apenas uma questão de “sorte”, mas de ques- U N ID A D E 1 18 tões referentes à genética, do acesso ao sistema de saúde (enfermagem, medicina, farmácia, fisioterapia etc.), da alimentação, da prática de exercícios físicos entre outros. Assim sendo, de certa forma, o conhecimento científico é muito mais sistematizado e exato que o conhecimento empírico. O conhecimento filosófico tem origem em reflexões que o ser humano faz a partir de questões que levanta no ato de pensar. Contudo, o pensamento filosófico exige um certo rigor. Dito de outra forma, o conhecimento filosófico fica ao nível da linguagem, da lógica, da argumentação e da escrita, mas não é testável, ou seja, não é empírico. Quanto ao conhecimento teológico ou religioso, este também se baseia em questões estritamente relacionadas à crença em entidades que, no geral, não se pode ter experiência (no sentido científico). Assim, tem por base a fé religiosa para dar fundamentos ao conhecimento. Por exemplo, para analisaraquilo que chamamos de “vida”, há quatro formas diferentes de a conhecermos: (i) popular, isto é, diz respeito ao conceito de “vida” que ouvimos no dia a dia (empírico); (ii) científico, refere-se aos conhecimentos que uma ciência como a “biologia” busca documentar de maneira clara e objetiva a definição de “o que é vida”; (iii) o filosófico, por não ser verificável, resume-se à palavra e ao diálogo, ou seja, diz respeito à sabedoria que se busca expressar por meio do raciocínio lógico acerca do conceito de “vida”; por fim, o conhecimento mais aprofundado diz respeito aos estudos de ordem (iv) religiosa, isto é, refere-se à definição atribuída a seres e entidades sobrenaturais – com as quais não se pode ter um contato imediato, porque estão para além da experiência pos- sível – à vida (por exemplo, no cristianismo se diz que a origem da vida veio de um sopro dado por um ser semelhante a nós humanos). quadro-resumo Em outras palavras, a questão não é qual tipo de conhecimento é mais importan- te. O que está em evidência são os níveis de conhecimento diferentes: empírico, científico, filosófico e teológico. A figura a seguir busca sistematizar a discussão desenvolvida até aqui. U N IC ES U M A R 19 Figura 2 - Níveis de conhecimento Fonte: adaptada de Cervo, Bervian e Silva (2007). Ao longo da história, estes diferentes tipos e/ou níveis de conhecimento tiveram diferentes graus de importância: na Antiguidade, valorizava-se o conhecimento filosófico; na Era Medieval, priorizou-se o conhecimento teológico; na Moderni- dade, o conhecimento científico ganhou status; na Contemporaneidade, tem-se oscilado entre o conhecimento científico e o empírico. A partir do que foi teorizado até aqui, você também já deve ter percebido que, além de cada tipo de conhecimento lidar com características específicas do objeto de conhecimento, cada tipo de conhecimento apresenta limitações quan- do é posto em prática. Em outras palavras, cada tipo de conhecimento tem seus métodos e áreas de estudo que lhe são próprios. Apesar da particularidade dos diferentes níveis de conhecimento, pode-se dizer que os quatro níveis de conhecimento têm suas fronteiras. Estes limites acabam definindo as áreas de estudo. Descrição da Imagem: O conhecimento tem origem na relação do sujeito com o objeto em diferentes níveis. O CONHECIMENTO E SEUS NÍVEIS • Níveis do Conhecimento Sujeito Conhecimento Objeto Empírico Cientí�co Filosó�co Teológico U N ID A D E 1 20 A epistemologia, do grego “episteme” (conhecimento) + “logia” (estudo), ou seja, “estudo do conhecimento” ou “teoria do conhecimento” lida com a crença, a justi- ficação e o conhecimento. Segundo Losee (2001), os próprios filósofos praticantes da ciência frequentemente discordam sobre seu objeto de estudo. Losee (2001) adota a posição que distingue fazer ciência de pensar sobre como se faz ciência. A epistemologia é, então, “[...] uma disciplina [...] que se debruça sobre o pensar sobre como se faz ciência (a realidade ou a natureza estaria no plano zero e a Física, como ciência, seria o plano 1 – uma descrição da realidade)” (OSTER- MANN; CAVALCANTI, 2011, p. 9, grifo dos autores). Nessa posição, a epistemologia procura respostas a questões do tipo: ■ Como é obtido e validado o conhecimento científico? ■ Existe um método da Ciência? Se afirmativo, qual é esse método? ■ Em que circunstâncias se dá o abandono de uma teoria e a sua substitui- ção por outra? ■ Qual é o estado cognitivo das leis e princípios científicos? ■ É possível se estabelecer um critério de demarcação? (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 9). Para os racionalistas, o paradigma de conhecimento é a matemática e a lógica. Dessa forma, “ o pensamento racionalista defenderá como princípio inquestioná-vel da verdade científica e da formação da inteligência do homem, a evidência racional, não derivada da experiência ou contato com os objetos, mas de conteúdos mentais, manifestados no homem desde sua origem no mundo (PEREIRA; LIMA, 2017, p. 68). Ao focarmos no conhecimento filosófico, verifica-se que, na relação sujeito-objeto, ele lida com cinco áreas: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política. pensando juntos U N IC ES U M A R 21 Para os empiristas, é a ciência que depende da experiência. Defende, portanto, que a “experiência sensível” é o “[...] ponto de partida para a construção de con- clusões legítimas, abstrações e generalizações” (PEREIRA; LIMA, 2017, p. 68). A metafísica ou “ontologia” trata da realidade, do ser, do nada e da verdade. A palavra vem do grego antigo “μετα”, ou seja, “metà”, que significa “depois de”, “além de tudo”; e “Φυσις”, isto é, “physis”, “natureza” ou “físic”, quer dizer, examina a natureza fundamental da realidade. Esta área da filosofia pressupõe um “mundo transcendente”, isto é, a existência de seres (manifestados ou não) “[...] que não podem ser apreendidos por nossos sen- tidos, pelo raciocínio lógico ou por qualquer dos métodos disponibilizados por nossas ciências” (SECCO, 2013, p. 64). Por exemplo, a alma, enquanto objeto de estudo da metafísica, jamais será objeto de estudo do conhecimento científico, porque carece de existência, ou seja, não se faz presente no espaço nem no tempo; está para além do mundo físico (por isso metafísica, para além da física). A ética trata do certo e do errado; do bem e do mal. Pode-se dizer que a ética diz respeito a uma teoria da moral, sendo, então, a “filosofia da moral”, ou seja, o estudo racional sobre a experiência moral dos seres humanos. Ética é, portanto, o campo da filosofia que se preocupa com a definição de o que é bom e o que é mau. Por outro lado, a moral, embora tenha certa relação com a ética, é um campo diferente. Conforme escreve Foucault (1984, p. 26), moral “ [...] é um conjunto de valores e regras de ação propostas aos indivíduos e aos grupos por intermédio de aparelhos pres-critivos diversos, como podem ser a família, as instituições educativas, as Igrejas, etc. A estética, ou “filosofia da arte”, trata do belo. Na língua grega, aesthesis diz respei- to à nossa capacidade de receber impressões sensíveis dos objetos que nos cercam, nossa capacidade de sermos afetados, através dos sentidos, por esses objetos. A filosofia política trata da vida em sociedade. O termo política é derivado da língua grega antiga “πολιτεία”, isto é, “politeía”, é a área que, quando estudada pela filosofia, refere-se ao campo do conhecimento que tem como objeto princi- pal a pólis, ou seja, na língua portuguesa, a cidade. “Como conduzir a vida cole- tiva?” e “como melhorar a convivência com os outros na cidade?” são as questões centrais da política enquanto campo de estudos da filosofia. U N ID A D E 1 22 Neste quadro de áreas de estudo da filosofia, como surge a “filosofia da educação”? Assim, no que diz respeito aos níveis de conhecimento, tanto a “filosofia da educação” e como a “pedagogia” lidam com os quatro níveis – o conhecimento popular, o científico, o filosófico e o religioso. Quanto aos campos de estudo da filosofia, tanto a “filosofia da educação” como a “pedagogia” trabalham com eles: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política. Áreas de estudo da filosofia e seus objetos de estudo Epistemologia: questões sobre conhecimento. Metafísica: tempo, espaço, Deus, causa e realidade. Ética: bom e mau. Estética: arte e beleza. Filosofia política: liberdade, justiça e poder. Fonte: adaptado de Robinson e Groves (2012, p. 4). quadro-resumo anotações U N ID A D E 1 24 3 PERÍODOS NA HISTÓRIA GERAL: PRÉ-HISTÓRIA, IDADE ANTIGA, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea Você já se perguntou: qual o motivo da divisão da história em períodos? A gros- so modo, as divisões têm origens metodológicas e pedagógicas, ou seja, buscam facilitar o estudo da história. A divisão da história em três períodos– (i) antigo, (ii) medieval e (iii) mo- derno – foi consagrada pelo pedagogo alemão Christoph Keller, chamado em latim de “Cellarius” (nascimento em 22 de novembro de 1638 e falecimento em 4 de junho 1707). Embora a divisão “antiga-medieval-moderna” da história tenha sido usada anteriormente por estudiosos italianos renascentistas, Cellarius, por meio de sua obra História Universal dividido em um período antigo, medieval e Nova ajudou a popularizar estes três períodos. Depois dele, essa divisão tripartite se tornou padrão. A Pré-História diz respeito ao período anterior à invenção da escrita. Trata- -se de uma época na qual o ser humano começa a viver em comunidade. Contudo, a questão de ser a escrita o “divisor de águas” entre pré-história e história, confor- me afirmam Rosa e Zingano (2013, p. 33), atualmente é uma ideia questionável: “ Por muito tempo a Pré-História foi definida como o período que vai desde o aparecimento do homem (mais ou menos três milhões de anos a.C.) até a invenção da escrita (mais ou menos quatro mil anos a.C.). Atualmente, os historiadores discutem este conceito, pois, ainda que uma civilização não tenha desenvolvido a escrita, não significa que ela não tenha sua própria história. http://en.wikipedia.org/wiki/Renaissance U N IC ES U M A R 25 No que diz respeito à formação (educação) na Pré-História, de certa forma ela estava diretamente ligada à sobrevivência humana. Como não havia distinção entre ciência e magia, as pessoas agiam por instinto e, então, os saberes que iam sendo internalizados eram, depois, transmitidos dos mais velhos para os mais jovens sobretudo por meio da oralidade (diálogo). A Idade Antiga ou Antiguidade é o primeiro período da história propria- mente dita. Tem como marco inicial o desenvolvimento da escrita, fato ocorrido cerca de 4000 anos a.C. Tradicionalmente, considera-se que a Idade Antiga se encerra com a queda do Império Romano do Ocidente, no ano 476 d.C. A Idade Média é o período que tem início em 476 d.C. e vai até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453 d.C.). São destaques da Idade Média: (i) Alta Idade Média; (ii) Feudalismo (iii) Baixa Idade Média; (iv) Cultu- ra Medieval e (v) Formação das Monarquias Nacionais. O Período Medieval é marcado pelo domínio da religião, sobretudo pela Igreja Católica. A Idade Moderna é o período da História que vai de 1453 até 1789 (ano no qual ocorre a Revolução Francesa). Nesse período, podemos destacar: (i) ex- pansão marítima europeia; (ii) revolução comercial e o mercantilismo; (iii) co- lonialismo europeu na América; (iv) périplo africano; (v) renascimento cultural; (vi) reforma protestante e contrarreforma; (vii) absolutismo e (viii) iluminismo. Conforme indica Araújo (2007, p. 25), a modernidade se caracteriza “ [...] pela antitradição, pela derrubada das convenções, dos costumes e das crenças, pela saída dos particularismos e entrada no universa-lismo, ou ainda pela entrada da idade da razão. Mas, muitas combi- nações do moderno e do tradicional podem ainda ser encontradas nos cenários sociais concretos. Como afirma Habermas (2002, p. 5), a modernidade, que faz jus ao conceito de “modernização”, se refere “ [...] a um conjunto de processos cumulativos e de reforço mútuo: à formação de capital e mobilização de recursos; ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento da produtividade do trabalho; ao estabelecimento do poder político centralizado e à formação de identidades nacionais; à expansão dos direitos de participação político, das formas urbanas de vida e da formação escolar formal; à secularização de valores e normas etc. U N ID A D E 1 26 Modernidade é, portanto, “sinônimo de sociedade moderna ou civilização indus- trial e está associada a um conjunto de atitudes perante o mundo [...]” (ARAÚJO, 2007, p. 26), como a predominância da ideia de que o mundo “ [...] é passível de transformação pela intervenção humana; um com-plexo de instituições econômicas, em especial a produção industrial e a economia de mercado; toda uma gama de instituições políticas, como o Estado nacional e a democracia de massa; a primazia e a centralidade do indivíduo e não, do grupo como sujeito de direitos e de decisões; o primado da subjetividade; o pluralismo e a ideo- logia; a concepção linear de história; a realimentação mútua entre ciência e tecnologia, com a hegemonia de sua racionalidade própria; o predomínio cada vez maior do simbolismo formal de cunho nu- mérico-matemático (informática); a pesquisa e industrialização em níveis diversos de qualidade técnica (transformadora, inovadora, criadora); a burocratização e a organização política da sociedade (ARAÚJO, 2007, p. 26-27). A Idade Contemporânea diz respeito ao período que tem início em 1789 e chega até os dias atuais. O termo “contemporâneo” vem do latim contemporaneus e quer dizer “o que coincide com o tempo”. O conceito contemporâneo é usado como sinônimo de “atual”, “atualidade”. A época contemporânea se refere ao período de consolidação do capitalismo como modo de produção. Refere-se também à globalização da economia, con- forme Moreira e Kramer (2007): “ A expressão [globalização] refere-se à maciça presença, no mundo de hoje, de instituições transnacionais, cujas decisões interferem nas opções políticas que se fazem no âmbito de qualquer Estado-nação. Designa também o efeito de processos econômicos, entre os quais se incluem processos de produção, consumo, comércio, fluxo de capitais e interdependência monetária. Em outros momentos, a pa- lavra corresponde à difusão do discurso neoliberal, crescentemente hegemônico e visto como inevitável. Ainda em outros, associa-se ao surgimento de novas tecnologias da informação e da comunicação que socializam saberes e, em certo grau, padronizam os significados atribuídos ao mundo, à vida, à sociedade, à natureza. Finalmente, U N IC ES U M A R 27 em muitos casos, o termo corresponde às mudanças decorrentes de regras globais, formuladas por organismos como o Fundo Monetá- rio Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BURBULES; TORRES, 2000 apud MOREIRA; KRAMER, 2007, p. 1039). Contudo, há uma problemática com relação à denominação da época atual: con- temporaneidade ou pós-modernidade? Embora ambos os termos se refiram à época atual, a pós-modernidade tem uma perspectiva bem distinta em relação ao tempo presente. Conforme indica Adelman (2009, p. 187), o “pós-moderno” diz respeito à “ [...] fase histórica do capitalismo tardio e seu ‘reflexo’ no pensamen-to - também é representado como deterioração [...], triunfo final de uma sociedade capitalista, sem mais capacidade de manter uma oposição política e cultural autêntica. Pré-história: do surgimento do ser humano ao ano 4000 a.C. 1. Idade Antiga: do ano 4000 a.C. ao ano 476 d.C. 2. Idade Média: do ano 476 ao ano 1453. 3. Idade Moderna: do ano 1453 ao ano 1789. 4. Idade Contemporânea: do ano 1789 aos dias atuais. quadro-resumo Diante do exposto, a seguir buscaremos relacionar os períodos da história geral com os períodos da história da filosofia. U N ID A D E 1 28 4 PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA: filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contemporânea Geralmente a periodização da história da filosofia é feita a partir de uma corre- lação com os períodos da história: (i) filosofia antiga; (ii) filosofia medieval; (iii) filosofia moderna e (iv) filosofia contemporânea. Tradicionalmente, a Filosofia Antiga é dividida em três épocas: (1) período pré-socrático ou cosmológico, (2) período socrático ou antropológico e (3) período helenístico ou greco-romano. Estas três fases na história da filosofia antiga aconteceram, sobretudo, em Atenas e, depois, em Roma. Vejamos as ca- racterísticas deste período de acordo com “ o período pré-socrático ou cosmológico, em que a filosofia se ocupa principalmente com a origem do mundo e as causas das transfor-mações da natureza; o período socrático ou antropológico,ocorrido entre o final do Sé- culo V até o final do Século IV a.C., cujas figuras principais são Sócrates, Platão e Aristóteles, em que o objeto de estudo da filosofia passa a ser o homem, sua vida política e moral, e sua capacidade de conhecer as coisas; e o período helenístico ou greco-romano, entre o final do Século III a. C até o Século II d. C, quando começa a consolidar-se a supremacia da visão cristã, sobretudo com o pensamento de Santo Agostinho. Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coletivas para a vida humana e se começa a introduzir uma saída individual, U N IC ES U M A R 29 consolidando-se uma nova ética e uma política que deixa de ser vista como boa. É o período em que predominam as doutrinas dos estoicos, dos epicuristas e dos céticos. Neste período, as doutrinas filosóficas helenísticas deixaram de ter sua sede em Atenas, e Roma passara a ser o lugar em que tais doutrinas continuaram consoli- dando-se e modificando-se (ASSMANN, 2014, p. 35, grifo do autor). Do ponto de vista epistemológico – da teoria conhecimento –, no período pré- -socrático, já se investigava a natureza de maneira racional, ou seja, a filosofia surge por meio de um “desligamento” entre o mítico (fundamentado em deuses) e o filosófico (fundamentado na racionalidade humana). Neste sentido, os dois principais filósofos pré-socráticos são Heráclito e Parmênides. Heráclito (544-484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia. Seu principal propósito foi compreender a multiplicidade do real. Para ele, o ser é múltiplo, não apenas no sentido de multiplicidade das coisas, mas também no sentido de oposições internas. Aranha e Martins (2009, p. 150) explicam o pensamento de Heráclito explicitando que, para ele, o que mantém o “ [...] fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois ‘a guerra é pai de todos, rei de todos’. É da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. O dinamismo de todas as coisas pode ser representado pela metáfora do fogo, expresso visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir: ‘o fogo eterno e vivo, que ora acende e ora se apaga, Com relação a Parmênides (540-470 a.C.), que viveu em Eleia, cidade do sul da Magna Grécia, Aranha e Martins (2009) conceituam que sua teoria filosófica influenciou de maneira decisiva no pensamento ocidental. Para Parmênides, o ser é único, imutável, infinito e imóvel. Dessa forma, cabe explicitar que sua teoria se contrapõe à filosofia de Heráclito, de que uma coisa poder ser e não ser ao mesmo tempo. Todavia, Parmênides não nega a existência do movimento, porém, considera que este processo existe apenas no mundo sen- sível, mas a percepção deste movimento pelos sentidos é ilusória, sendo apenas o mundo inteligível o verdadeiro. No período socrático ou antropológico, investigam-se as questões hu- manas, tais como a ética, os comportamentos e conhecimentos humanos. Este período se estende do final do século V a.C. ao final do século IV a.C. U N ID A D E 1 30 No período helenístico ou greco-romano, acompanham-se as transforma- ções da cultura grega, que passa a fazer parte do Império Romano. Mais tarde, surge o cristianismo, que influencia no desenvolvimento posterior. Este período se estende do final do século III a.C. até o século VI depois de Cristo. Na transição da antiguidade para o período medieval, na época da chamada “filosofia patrística” – elaborada por padres da Igreja, por isso a palavra “patrísti- ca” –, é um período em que a preocupação principal é com as questões religiosas, tais como (a) a criação do mundo, (b) o pecado original, (c) a ressurreição dos mortos, avançando, assim, para temas mais complexos de caráter moral como (d) consciência, (e) livre-arbítrio e (f) as relações entre fé e razão. Este período se estende do século I até o século VII d.C. A Filosofia Medieval foi fortemente influenciada pelos pensamentos de Platão e Aristóteles, abrangendo também pensadores árabes, judeus e europeus. Este período se estende entre o século VIII e o século XIV. Na maior parte da Europa, a Idade Média durou mil anos. É um período muito longo se comparado com a Antiguidade (cinco a seis séculos, dependendo da região), que o precedeu, e a Idade Moderna (três séculos). Uma ideia que causou intenso debate durante o desenvolvimento da Filosofia Medieval foi a questão dos universais. O universal é a ideia e a essência comum a todas as coisas. Esta problemática teve início com as questões formuladas por Por- fírio de Tiro (234-305). O questionamento deste pensador acerca dos “predicáveis” geralmente é sistematizado da seguinte forma: (a) são os predicáveis realidades subsistentes em si mesmas? Ou (b) consistem apenas em simples conceitos men- tais? Se são os predicáveis realidades subsistentes em si mesmas (a), são corpóreas? U N IC ES U M A R 31 Descrição da Imagem: A Acrópole de Atenas, Grécia, com o Templo Parthenon no topo da colina durante um pôr-do-sol de verão, é um dos símbolos mais conhecidos da capital grega. Figura 3 - Acrópole de Atenas (x) ou incorpóreas? (y). Se a resposta entre (x) e (y) for a de que são corpóreas (a), são separadas das coisas sensíveis (I) ou subsistem nas coisas corpóreas e delas dependem (II)? As principais soluções apresentadas para estas perguntas foram (i) o realismo, (ii) o realismo moderado, (iii) o nominalismo e (iv) o conceptualismo. “ Para os realistas, como Santo Anselmo (séc. XI) e Guilherme de Champeaux (séc. XIII), o universal tem realidade objetiva (são res, ou seja, “coisa”). Essa posição é claramente influenciada pela teoria das ideias de Platão. O realismo moderado é representado no século XIII por Tomás de Aquino. Como aristotélico, afirma que os universais só existem formal- mente no espírito, embora tenham fundamento nas coisas. Para os nominalistas, como Roscelino (séc. XI), o universal é apenas o que é expresso em um nome. Ou seja, os universais são palavras, sem nenhuma realidade específica correspondente. A tendência no- minalista reapareceu com algumas nuanças diferentes no século XIV com o inglês Guilherme de Ockam, franciscano que representa a reação à filosofia aristotélico-tomista. A posição conceptualista é intermediária entre o realismo e o nomina- lismo e teve como principal defensor Pedro Abelardo (séc. XII), grande mestre da polêmica. Para ele, os universais são conceitos, entidades mentais, que existem somente no espírito (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 162, grifo das autoras). U N ID A D E 1 32 A Filosofia Moderna valoriza principalmente a reflexão como ponto de partida do raciocínio filosófico. Na Filosofia Moderna, defende-se que tudo o que deseja- mos conhecer pode ser transformado em uma ideia clara, formulada pelo intelecto. Neste período, que se estende do século XVII até o século XVIII, a percepção de realidade dá origem à ciência moderna, a qual tem início com René Descartes. “Pai da filosofia moderna” e matemático, de fato, Descartes merece o lugar de destaque. Primeiro, “[...] por ter buscado com afinco um método em todos os ramos da investigação humana [...]” (SCRUTON, 1981, p. 35), segundo, “[...] por ter introduzido na filosofia [...], muitos dos conceitos e argumentos que desde então têm servido de fundamento”, argumenta Scruton (1981, p. 35). Contudo, o teórico adverte que, a tradição de dizer que Descartes deu início à filosofia moderna, “[...] não deve induzir-nos a erigir uma barreira intransponível [...]” (SCRUTON, 1981, p. 20). “ Embora o pensamento de Descartes tenha mudado de forma radical o método filosófico, grande parte de seu conteúdo não mudou. Por-tanto, não deveríamos surpreender-nos caso se possa demonstrar que algum argumento filosófico moderno foi antecipado pelos pen- sadores medievais, nas diversas tentativas que eles empreenderam no sentido de reconciliar a religião e a filosofia ou de separá-las. Por fim, a filosofia nos dias atuais, a chamada Filosofia Contemporânea,vol- ta-se para os problemas referentes ao avanço técnico-científico. Devemos nos lembrar de uma sociedade que nos últimos 200 anos sofreu uma série de mudan- ças radicais como, por exemplo, a ascensão da burguesia ao poder, duas Guerras Mundiais e ameaças de extinção da vida na Terra. Este período se estende de meados do século XIX aos dias atuais. Nietzsche, filósofo alemão, é considerado o pensador que deu início à Filoso- fia Contemporânea. Crítico da modernidade, Nietzsche representa, na verdade, uma crítica à filosofia e à sua história. Com base em outros critérios, é possível elaborar outras formas de perio- dização da filosofia. González Porta (2003), por exemplo, organiza a história da filosofia conforme quadro a seguir : U N IC ES U M A R 33 Período filosófico Correspondência ao período histórico Grandes nomes Disciplina- chave Conceito- chave 1. Período metafísico Época antiga, me- dieval e início da moderna Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino Metafísica (ontologia) Ser 2. Período epistemo- lógico (ou transcen- dental) Época moderna Descartes, Kant Episte- mologia, Teoria transcen- dental Verdade, objetivida- de, validez 3. Período semântico- -hermenêu- tico Época contempo- rânea Husserl, Dilthey, Heidegger, Frege, Wit- tgenstein Teoria da significa- ção, Feno- menologia, Herme- nêutica, Semântica (análise lógica da linguagem) Signi- ficado, semânti- ca: análise lógica da linguagem Quadro 2 – A história da filosofia a partir de seus problemas Fonte: adaptado de Porta (2003). Diante do exposto no decorrer desta unidade, fica evidente a importância da pe- riodização da história da filosofia. Contudo, como mostra o quadro apresentado, existem outras formas de organizá-la. Assim sendo, a periodização não pode ser usada como critério determinante para compreender a filosofia, a filosofia da educação, os filósofos, os problemas filosóficos, a pedagogia etc. U N ID A D E 1 34 5 PLATÃO: UM MARCO PARA A HISTÓRIA DA educação Ao longo da história da humanidade, o processo educativo passou (e tem passa- do) por constantes mudanças. Neste contexto, evidenciam-se “pedaços” de cultu- ras antigas em nossa educação contemporânea. Como afirma Marrou (2015, p. 4), “a história da educação na Antiguidade não pode deixar indiferente nossa cultura moderna; ela retraça as origens diretas de nossa própria tradição pedagógica”. De fato, muito do que ocorre na educação aqui no Brasil, desde o “descobrimento” até os dias atuais, é uma herança das culturas europeias. “Somos grego-latinos; o essencial da nossa civilização veio da deles; isto é verdadeiro, em um grau emi- nente, para nosso sistema de educação”, diz Marrou (2015, p. 4). Antes dos gregos e dos romanos, diversos povos já haviam se preocupado com educação. Contudo, não se tratava de uma escolarização institucionalizada, isto é, de uma formação organizada por uma instituição ou pelo Estado, tampouco situada em prédios próprios e/ou coordenada por profissionais especializados (os docentes). Conforme indica Mariano (2012, p. 62), nas sociedades primitivas, “[...] os mais velhos eram os responsáveis por transmitir para os mais novos os ensinamentos necessários para a sobrevivência em suas sociedades [...]”, isto é, os conhecimentos “[...] de caça e pesca; as artes da guerra; os rituais religiosos; lendas e histórias de seu povo”. U N IC ES U M A R 35 Academia de Atenas “Em geral as fontes indicam que a Academia foi fundada por ele [Platão] em 387 a.C., em Atenas, e subsistiu por mais de 9 séculos, até 529, fechada por um Editum do imperador Justiniano”. Fonte: Wermann e Machado (2016, p. 8). conceituando “ Tais formas de educação, no entanto, não se encaixam no que com-preendemos hoje por educação institucionalizada, e muito menos no que entendemos por sistema educacional ou ensino, que envolve hierarquias, normas, leis de regência e controle aplicadas às escolas, aos colégios, às universidades de um determinado país, estado ou cidade (MARIANO, 2012, p. 62, grifo da autora). A educação, como conhecemos hoje, teve como marco o filósofo Platão – nas- cimento em 427 a.C. em Atenas (Grécia) e falecimento em Atenas (Grécia) 347 a.C. Foi ele o pensador que fundou a Academia de Atenas, escola que tinha o nome do herói Academos. Descrição da Imagem: Na imagem, a Academia de Atenas e a Biblioteca Nacional de Atenas, Grécia. Da direita para a esquerda, a imagem apresenta sete prédios, com cores variando entre o bege e o cinza. O destaque é o primeiro prédio, no qual há, no telhado, uma bandeira da Grécia que tem as seguintes características: nove listras horizontais iguais alternando de azul com o branco. Na bandeira, há também um quadrado azul no canto superior esquerdo, contendo uma cruz branca. Na frente do prédio que tem a bandeira, há um gramado verde com uma passarela cercada de árvores pequenas (baixas). Figura 4 - Academia de Atenas U N ID A D E 1 36 Há uma relação entre o conhecimento e a felicidade? “A filosofia de Platão tem em seu cerne um projeto sistemático de esclarecimento dos homens e combate à ignorância, fonte de todos os males da humanidade. Para ele, não há felicidade sem sabedoria”. (Vladimir Chaves dos Santos) pensando juntos Platão, ao problematizar sobre a educação e a pedagogia, nos fornece um im- portante retrato do problema da educação na Grécia de seu tempo. Conforme Pagni ([2020], p. 13), o filósofo buscava uma pedagogia (Paideia) justa, isto é, uma educação “[...] que fosse capaz de corrigir as distorções produzidas por poetas e sofistas e de colocar os cidadãos no caminho reto”. Uma das questões que seria necessário era um lugar para os estudos - a Academia, propriamente dita. Na Academia, Platão propõe que se ensine por meio do logos, isto é, da fala ou da palavra humana. São elas as fontes do conhecimento verdadeiro. Em outras palavras, em oposição aos mitos (mitologia grega), o filósofo propõe a razão, ou seja, a ciência. Ela surge como “[...] negação do mitos, enquanto fala sem justificativa e sem autoria, e da afirmação do logos, a fala que tem razão e autor” (SANTOS, 2009, p. 15, grifo do autor). Os conceitos, fonte do conhecimento universal e científico, não se obtêm de seres imaginários (mitos), mas por meio da própria lógica, da discussão, do discurso racional que nós humanos dispomos por meio de nossa linguagem. U N IC ES U M A R 37 Elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní- sio Teixeira (INEP), é um Glossário que a Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do INEP disponibilizou aos professores, estudantes, gestores, dirigentes, pesquisadores e estudiosos da educação. Coordenado pela Professora Marília Morosini (PUCRS), o trabalho foi concebido e produ- zido por integrantes da Rede Sulbrasileira de Investigadores da Educação Superior (RIES), ampliando e consolidando empreendimento anterior mate- rializado na Enciclopédia de Pedagogia Universitária, publicada em 2003 pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e pela Ries. conecte-se Assim, Platão “[...] lançou as bases para a ideia de que a emancipação e a reali- zação do homem se dão por meio do conhecimento; daí, a necessidade de uma educação pública, custeada pela sociedade” (SANTOS, 2009, p. 11), bases da pedagogia moderna. Estas reflexões platônicas influenciaram por séculos a edu- cação e a cultura ocidental, conforme veremos nas próximas unidades. “De acordo com o ideal pedagógico de Platão, a educação escolar deveria ser universal, pública e destinar-se a formar o carácter do indivíduo de harmonia com os valores tradi- cionais e ideais da cidade. Concebeu por isso um modelo de educação dividido em duas etapas fundamentais: a primeira, consagrada à apropriação das virtudes morais básicas, por meio do exercício e da habituação mimética; a segunda, dedicada à aquisição das chamadas virtudes superiores da justiça e da sabedoria,mediante uma radical conversão da vida dos sentidos a dos valores ideais. Ciente de que educar é introduzir ordem e har- monia na conduta humana, Platão não dispensou os valores tradicionais da [...] [paideia] arcaica, mas soube acrescentar-lhes algumas virtudes pedagógicas que a sua filosofia da educação teorizou”. Fonte: Alexandre Júnior (1995, p. 491-492). explorando Ideias Para fechar esta unidade, apresenta-se, a seguir, um quadro no qual está sistema- tizada uma síntese das características dos três primeiros períodos da história da filosofia: (i) Idade Antiga, (ii) Idade Média e (iii) Idade Moderna, com base em sete conceitos: (1) ideia básica, (2) seres humanos, (3) verdade, (4) saber mais importante, (5) trabalho, (6) política e ética e (7) história. http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/489875 U N ID A D E 1 38 Períodos históricos IDADE ANTIGA (século V a.C. – IV d.C) IDADE MÉDIA (século V d.C – XVI) IDADE MODERNA (século XVI – XX) Questões filosóficas Ideia básica (razão última) PHYSIS: razão da natureza Agir é contemplação. Valem os princípios. DEUS: razão de Deus Agir é contempla- ção. Valem os princí- pios. HOMEM: razão do homem Natureza a dominar. Agir é fabrica- ção. Prevale- cem os resulta- dos. Seres humanos Servos da natureza Livres e escravos. Servos de Deus Iguais entre si e irmãos da natu- reza. Senhores de si (eu sou), da natureza e de Deus Livres e iguais pela razão. Verdade Adequação do sujeito ao objeto Objetivismo. Adequação do sujeito ao objeto Objetivismo. Construção (Kant) ou representação Subjetivismo. Saber mais importante Mito e Filosofia Con- templação da nature- za – Ócio. Teologia Contem- plação de Deus – Fé. Ciência e Tecnologia Produção hu- mana. Fruto do trabalho. U N IC ES U M A R 39 Períodos históricos IDADE ANTIGA (século V a.C. – IV d.C) IDADE MÉDIA (século V d.C – XVI) IDADE MODERNA (século XVI – XX) Questões filosóficas Trabalho Atividade de escravos (negativo) Castigo devido ao pecado (negativo) Ação autocria- dora Homem – senhor de si e da natureza (positivo). Política e ética Atividade natural Só na pólis se realiza a ética. Cidade dos ho- mens Separação entre política e moral. Política = mal. Atividade artifi- cial Política: mal necessário (e passageiro). Se- paração entre ética e política. História Fisiológica Eterno retorno do mesmo. Teológica Início e fim em/ com Deus. Antropológica Início com ho- mem. Progres- so (processo). Quadro 3 - Esquema da História da Racionalidade Ocidental Fonte: adaptado de Assmann (2014, p. 56, grifo do autor). U N ID A D E 1 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta unidade, buscou-se responder o porquê da presença dos funda- mentos históricos e filosóficos da educação na formação de professores. Agora já se pode explicitar a justificativa: o trabalho docente é histórico, filosófico, edu- cativo e pedagógico. Abordou-se os diferentes níveis/tipos de conhecimento. Vale relembrar: o conhecimento empírico (popular), o conhecimento científico, o conhecimento filosófico e o conhecimento religioso (teológico) têm similaridades e diferenças. Buscou-se trazer à tona o problema de que é possível analisar um mesmo objeto ou fenômeno sob diferentes questões, métodos e perspectivas. Diante do problema do conhecimento, definiu-se que a pedagogia é a ciência da educação. De certa forma, todo professor é um “especialista em pedagogia” em uma determinada área do saber. Mediante a união entre “história”, “filosofia” e “educação”, estamos a construir os fundamentos históricos e filosóficos da educa- ção. Ficou claro que o campo da filosofia que mais contribuições traz à educação é a epistemologia, pois lida diretamente com o problema do conhecimento. Ao longo de duas seções, o nosso enfoque foi o estudo da periodização: pri- meiramente, a periodização da história; depois, vimos a periodização da filosofia. Por meio da cronologia, busca-se facilitar a compreensão de ciclos presentes ao longo da história. Por fim, encerramos esta unidade com exposição de Platão como um marco na história da educação. Platão defende que todo o conhecimento está presente no próprio sujeito, mas, para realizar plenamente o potencial que o sujeito tem, é necessário o acesso à educação pública. 41 na prática 1. A respeito da filosofia e da “experiência filosófica”, analise as sentenças a seguir: I - A experiência filosófica está presente no dia a dia da profissão docente porque problemas filosóficos fazem parte dos processos de ensino e de aprendizagem. II - A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica. III - O conhecimento filosófico tem origem em reflexões que o ser humano faz a par- tir de questões que levanta no simples ato de pensar. Contudo, o pensamento filosófico exige um certo rigor. IV - Filosofia, do grego “Φιλοσοφία”, “filosofia”, é uma palavra que, traduzindo para a língua portuguesa, significa “amor à sabedoria”. Assinale a única alternativa que contempla todas as alternativas que estão corretas. a) I, II, III e IV. b) I, II e III, apenas. c) I e II, apenas. d) I e IV, apenas. e) II e III, apenas. 2. A divisão da história em três períodos foi consagrada pelo pedagogo alemão Chris- toph Keller, chamado em latim de “Cellarius” (nascimento em 22 de novembro de 1638 e falecimento em 4 de junho 1707). Depois dele, essa divisão se tornou pa- drão. Contudo, na época atual, incluiu-se um quarto período. Assim, hoje, divide-se a história em quatro períodos. Assinale a única alternativa que contempla a ordem correta de periodização da história. a) 1°) Era Medieval, 2°) Antiguidade, 3°) Época Contemporânea e 4°) Era Moderna. b) 1°) Idade Contemporânea, 2°) Idade Antiga, 3°) Idade Média e 4°) Idade Moderna. c) 1°) Idade Antiga, 2°) Idade Média, 3°) Idade Moderna e 4°) Idade Contemporânea. d) 1°) Idade Média, 2°) Idade Moderna, 3°) Idade Contemporânea e 4°) Idade Antiga. e) 1°) Idade Antiga, 2°) Época Contemporânea, 3°) Era Antiga e 4°) Época Moderna. 42 na prática 3. Leia o texto que tem como tema central a periodização da história da filosofia: “A História da Filosofia, como toda divisão cronológica, é uma opção arbitrária de quem estabelece os pontos de ruptura para justificar as separações entre um período e ou- tro. É claro que esta ‘arbitrariedade’ está sustentada em algum princípio que permite aproximações entre temas, características e proposições dos autores. Neste caso, as periodizações da História da Filosofia devem ser buscadas nos critérios de quem as fez, mais do que nas relações dos próprios filósofos, que ao escreverem e muitas vezes dialogando com textos de antepassados não estavam preocupados em pertencer a um período específico. As caracterizações de um determinado período são úteis para uma sistematização didática, mas como toda caracterização, ao mesmo tempo em que dá identidade e especificidade ao período que está sendo caracterizado, também serve para simplificar e reduzir um determinado pensamento ao período em que ele surge. Falar de características do pensamento filosófico de uma época é uma forma de encobrimento das diversidades que existem, mas ao mesmo tempo, a procura por estas características nos auxiliam na identificação da abordagem filosófica. Dialogando entre uma caracteri- zação geral e as particularidades de cada filósofo, a periodização que fazemos a seguir parte de algumas das principais obras de História da Filosofia e se aproxima das divisões clássicas da própria História [...]” (FREITAS NETO, J. A; KARNAL, L. O ensino de filosofia na escola pública do Estado de São Paulo. São Paulo: SEE, s/d, p. 24-27). Tradicionalmente, divide-se a história da filosofia em quatro períodos. Assinale a única alternativa que contempla a ordem correta de periodização da história da filosofia: a) 1°) FilosofiaMedieval, 2°) Filosofia Antiga, 3°) Filosofia Contemporânea e 4°) Filosofia Moderna. b) 1°) Filosofia Contemporânea, 2°) Filosofia Antiga, 3°) Filosofia Medieval e 4°) Filosofia Moderna. c) 1°) Filosofia Antiga, 2°) Filosofia Medieval, 3°) Filosofia Moderna e 4°) Filosofia Contemporânea. d) 1°) Filosofia Moderna, 2°) Filosofia Medieval, 3°) Filosofia Contemporânea e 4°) Filosofia Antiga. e) 1°) Filosofia Antiga, 2°) Filosofia Contemporânea, 3°) Filosofia Antiga e 4°) Filosofia Moderna. 43 na prática 4. Observe o quadro que busca sistematizar os níveis/tipos de conhecimento: 1. Conhecimento _____________ 2. Conhecimento _____________ 3. Conhecimento _____________ 4. Conhecimento _____________ Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo Reflexivo Contingente Racional Inspiracional Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Verificável Verificável Não verificável Não verificável Falível Falível Infalível Infalível Inexato Aproximadamen- te exato Exato Exato Fonte: adaptado de Ferrari (1974). Observe que o quadro está incompleto (linha 1). Com base nas características dos di- ferentes tipos/níveis de conhecimento, complete-o na linha abaixo da palavra “conhe- cimento”. Assinale a única alternativa que apresenta as palavras que contemplam os diferentes níveis/tipos de conhecimento. a) 1. conhecimento histórico; 2. conhecimento evidente; 3. conhecimento contem- plativo; 4. conhecimento espiritual. b) 1. conhecimento teológico; 2. conhecimento metafísico; 3. conhecimento artís- tico; 4. conhecimento histórico. c) 1. conhecimento epistemológico; 2. conhecimento metafísico; 3. conhecimento positivo; 4. conhecimento evidente. d) 1. conhecimento moderno; 2. conhecimento falso; 3. conhecimento verdadeiro; 4. conhecimento duvidoso. e) 1. conhecimento popular; 2. conhecimento empírico; 3. conhecimento filosófico; 4. conhecimento teológico. 44 na prática 5. “[...] Qual a relação entre Filosofia e Educação? Afinal, a Filosofia é necessária para a Educação? Por que o educador deve filosofar? Vamos responder começando com outras perguntas: É importante refletir sobre qual ser humano se quer formar? É importante refletir para que educar? É importante analisar os valores que devem orientar a prática educativa? [...] [a filosofia da educação é importante] porque a reflexão filosófica não pode ser negligenciada pelo educador. E o que induz o edu- cador a filosofar? Segundo Saviani (2000, p. 23): ‘O que leva o educador a filosofar são os problemas (entendido esse termo com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso trabalho’. (SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 13. ed. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 23). Assim, o exercício filosófico possibilita que as pessoas diante dos problemas respondam com reflexão e não com ideias prontas. E, diante dos problemas que a realidade educa- cional apresenta ao educador, este não deve abrir mão da reflexão filosófica.” (Disponí- vel em: http://unipvirtual.com.br/material/RECUPERACAO/EAD/FILOSOFIA_EDUCACAO/ geral_pdf.pdf. Acesso em: 11 fev. 2020). Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, REDIJA um texto dissertativo-argumentativo sobre a Filosofia da Educação, contemplando os seguintes aspectos: a) A conceituação do termo “Filosofia da Educação”. b) A caracterização dos problemas abordados pela Filosofia da Educação. 45 aprimore-se Vamos acompanhar o trecho de um diálogo, autoria de Platão, no qual Sócrates e Teeteto dialogam sobre “o que é conhecimento”. Durante a conversa, Sócrates compara sua função à de sua mãe, uma parteira: a parteira faz nascer filhos; o mes- tre (o filósofo) faz “nascer” ideias. Desde ponto de vista, Sócrates dá início à proble- mática: a função do professor não é fornecer o conhecimento pronto e acabado, mas conduzir o educando à descoberta. [...]. Sócrates — E nunca ouviste falar, meu gracejador, que eu sou filho de uma parteira famosa e imponente, Fanerete? Teeteto — Sim, já ouvi. Sócrates — Então, já te contaram também que eu exerço essa mesma arte? Teeteto — Isso, nunca. Sócrates — Pois fica sabendo que é verdade; porém não me traias; ninguém sabe que eu conheço semelhante arte, e por não o saberem, em suas referências à minha pessoa não aludem a esse ponto; dizem apenas que eu sou o homem mais esquisito, do mundo e que faço confusão no espírito dos outros. A esse respeito já ouviste dizerem alguma coisa? Teeteto — Ouvi. Sócrates — Queres que te aponte a razão disso? Teeteto — Por que não? Sócrates — Basta refletires no que se passa com as parteiras, para apanhares facilmente o que desejo assinalar. Como muito bem sa- 46 aprimore-se bes, não servem para exercer o ofício de parteira as mulheres que ainda concebem e dão à luz, mas apenas as que se tornaram incapa- zes de procriar. Teeteto — Perfeitamente. [...]. Sócrates — Eis aí a função das parteiras; muito inferior à minha, Em verdade, não acontece às mulheres parirem algumas vezes falsos fi- lhos e outras vezes verdadeiros, de difícil distinção. Se fosse o caso, o mais importante e belo trabalho das parteiras consistiria em decidir entre o verdadeiro e o falso, não te parece? Teeteto — Sem dúvida. VII Sócrates — A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das par- teiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. Porém a grande superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verda- deiro. Neste particular, sou igualzinho às parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me assacam, de só interrogar os outros, sem nunca apresentar opinião pessoal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedo- ria. E a razão é a seguinte: a divindade me incita a partejar os outros, porém me impede de conceber. Por isso mesmo, não sou sábio não havendo um só pensamento que eu possa apresentar como tendo sido invenção de minha alma e por ela dado à luz. Porém os que tratam comigo, suposto que alguns, no começo pa- 47 aprimore-se reçam de todo ignorantes, com a continuação de nossa convivência, quantos a divindade favorece progridem admiravelmente, tanto no seu próprio julgamento como no de estranhos. O que é fora de dúvi- da é que nunca aprenderam nada comigo; neles mesmos é que des- cobrem as coisas belas que põem no mundo, servindo, nisso tudo, eu e a divindade como parteira. E a prova é o seguinte: Muitos desco- nhecedores desse fato é que tudo atribuem a si próprios, ou por me desprezarem ou por injunções de terceiros, afastam-se de mim cedo demais. O resultado é alguns expelirem antes do tempo, em virtude das más companhias, os germes por mim semeados, e estragarem outros, por falta da alimentação adequada, os que eu ajudara a pôr no mundo, por darem mais importância aos produtos falsos e enga- nosos do que aos verdadeiros, com o que acabam por parecerem ignorantes aos seus próprios olhos e aos de estranhos. [...]. Fonte: Platão ([2020], on-line)1. 48 eu recomendo! Dicionário de Filosofia da Educação Autor: Christopher Winch e John Gingell Editora: Contexto Sinopse: composto por 252 páginas, o “Dicionário de Filosofia da Educação” é um excelente instrumento de trabalho para es- tudantes e professores se aproximarem de termos e temas do campo da Filosofia da Educação. Oferece um panorama claro e instigante que orienta o leitor por meio de termos e conceitos necessáriospara a “Filosofia da Educação”. Organiza e torna acessíveis os fundamentos, sempre em linguagem atraente e a partir de uma ótica atual. São mais de 150 conceitos des- critos e analisados. Além disso, há referências cruzadas e um detalhado índice re- missivo que servem como meio para levar mais a fundo a exploração do assunto. livro A República Autor: Platão Editora: La Fonte Sinopse: um só livro não seria o suficiente para demonstrar os principais pensamentos do filósofo. Por isso, depois de sua cria- ção, a obra foi dividida em 10 partes, sendo elas ainda subdividi- das em capítulos. Comentário: A República é o mais longo trabalho escrito por Platão e, certamente, o mais estudado. A República não é um tratado sobre a educação, mas a educação tem uma função fundamental na realização da cidade ideal ou justa. A proposta de Platão é: por meio da educação, alcançar-se-ia a república, na qual todos os ci- dadãos teriam os mesmos direitos e deveres. A formação, por meio da educação, seria o meio para se alcançar a sociedade harmônica, enfim, a felicidade humana. livro 49 eu recomendo! Linha do tempo da História: Geral e do Brasil Ano: 2019 Sinopse: vídeo no qual o Professor Colombo aborda a História Geral e do Brasil por periodização (linha do tempo): pré-história, Idade Antiga, Idade Mé- dia, Idade Moderna e Idade Contemporânea. conecte-se Web: https://www.youtube.com/watch?v=n1sw6IhKXQ0 2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA educação nos períodos antigo e medieval PROFESSORES Me. Vinícius Adriano de Freitas PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Platão e os princípios para a for- mação humana na “Alegoria da Caverna” • Aristóteles e a formação humana • Agostinho e a filosofia cristã • Filosofia da Educação no Período Medieval: Tomás de Aquino. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Reconhecer as contribuições de Platão aos fundamentos históricos e filosóficos da educação no mun- do ocidental. • Reconhecer as contribuições de Aristóteles aos fundamentos históricos e filosóficos da educação no mundo ocidental. • Compreender os fundamentos históricos, filosóficos e pedagógicos da educação em Agostinho. • Compreender os fundamentos históricos, filosóficos e pedagógicos da educação em Tomás de Aquino. INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), na Unidade 1, nossos estudos acerca dos Funda- mentos Históricos e Filosóficos da Educação foram em caráter abrangente e introdutório. A partir desta seção – Unidade 2 –, passaremos a abordar e a problematizar com maior profundidade os fundamentos históricos e filosóficos da educação por períodos. O enfoque desta unidade são os períodos antigo e medieval. No entanto, você pode questionar: mas já havíamos estudado filósofos do Período Antigo (Antiguidade). Sim, você tem razão: já havíamos intro- duzido o estudo dos paradigmas da educação em Platão. Entretanto, con- vém retomar porque, neste período, um fato importante ocorreu: a época posterior, isto é, o Período Medieval, manteve seus fundamentos nos dois principais pensadores gregos: Platão e Aristóteles. Mais especificamente, a Idade Média, período que vai de 476 d.C. a 1453 d.C., apesar dos avanços no campo da cultura, da arte, da ciência e da filosofia, manteve o platonismo e o aristotelismo como base, mas com uma diferença importante: as obras dos filósofos gregos foram reinterpretadas com base no cristianismo. Por um lado, Agostinho formulou boa parte de sua filosofia cristã com base no estoicismo, no platonismo e no neoplatonismo. Por outro lado, To- más de Aquino, embora tenha sido influenciado por Agostinho, construiu suas ideias e obras com base em Aristóteles. Unir a fé com a razão ou, em outras palavras, o cristianismo e com a filosofia aristotélica, foi o propósito de Tomás de Aquino. Os fundamentos históricos e filosóficos do Período Medieval são mar- cados pelo conhecimento religioso, sobretudo pela Igreja Católica. Diante do exposto, a Unidade 2 dispõe de quatro planos de estudos: (i) Platão e os princípios para a formação humana na “alegoria da caverna”; (ii) Aristóteles e a formação humana, (iii) Agostinho e a filosofia cristã e (iv) Tomás de Aquino: a união entre fé e razão. U N ID A D E 2 52 1 PLATÃO E OS PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO HUMANA NA “ALEGORIA DA CAVERNA” Ao buscarmos os fundamentos históricos e filosóficos da educação na Antigui- dade, a primeira questão a esclarecer é que a educação escolar, em sociedades centradas em regimes de escravidão, predominantes na época, era um direito dos cidadãos, porém os escravos não faziam parte do grupo: cidadãos eram os sujeitos livres. Os gregos têm sua origem a partir de três povos, a saber, os cretenses, os aqueus e os dóricos. Os poemas de Homero, principalmente a Ilíada e a Odisseia, e os de Hesíodo, a Teogonia e Os trabalhos e os dias, são considerados os escritos mais antigos, capazes de nos permitir compreender a vivência dos gregos no início de sua civilização. “ O mundo grego foi pródigo em tendências educacionais, mas os ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles prevaleceram, sem dúvida, sobre os demais pensadores daquela época. Duas cidades- -estado rivalizavam-se: Esparta e Atenas. Elas representavam dois paradigmas de organização social, duas concepções de educação. Esparta, uma sociedade guerreira, glorificava, sobretudo, os heróis guerreiros. Defendia uma educação totalitária, uma educação mili- tar e cívica repressiva, em que todos os interesses eram sacrificados à razão do Estado. Atenas, uma cidade-estado democrática, nos mol- des daquela época, usava o processo educativo como um meio para que o indivíduo alcançasse o conhecimento da verdade, do belo e do bem (PALMA FILHO, [2020], p. 1, grifo do autor). U N IC ES U M A R 53 Os pensadores anteriores a Sócrates, chamados de “filósofos da natureza” ou “pré-socráticos” – Tales (640-546 a.C.), Anaximandro (610-547 a.C.), Anaxímenes (585-528 a.C.), Pitágoras (580-497 a.C.), Xenófanes (580-475 a.C.), Parmênides (530-475 a.C.), Zenão (480-430 a.C.), Heráclito (540-470 a.C.), Empédocles (492- 432 a.C.), Leucipo (500-420 a.C.) e Demócrito (470-380 a.C.), por exemplo – em- bora tenham sido importantes, são poucos estudados por dois motivos: primeiro, porque é denso (são muitas ideias diferentes); segundo porque são de difícil acesso, “[...] uma vez que restam, quando muito, fragmentos de suas obras e citações fei- tas por aqueles que os sucederam” (COSTA, 2009a, p. 37). Além disso, como diz a própria terminologia, estes pensadores buscaram investigar a natureza, não o ser humano. O estudo da humanidade tem início de maneira filosófica somente a partir de Sócrates. Sócrates é o primeiro grande pensador a influenciar no desenvolvimento do pensamento educacional na Antiguidade. Defende que o primeiro passo a ser dado para o conhecimento da verdade é ir em direção ao autoconhecimento, ou seja, conhecer a si próprio. De certa forma, o pensador propõe a nós humanos o “pensar por si próprio” como condição para uma verdadeira ciência, uma filosofia autêntica. Neste sentido, surgem os conhecidos ditos socráticos: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”. No entanto, a filosofia de Sócrates incomodou as autoridades de seu tempo, sendo, então, condenado à morte por envenenamento (morto em 399 a.C.). Então, vem o questionamento: qual é, porém, o “perigo” de seu método? “ Ele começa pela fase ‘destrutiva’, a ironia, termo que em grego significa ‘perguntar, fingindo ignorar’. Diante do oponente, que se diz conhece-dor de determinado assunto, Sócrates afirma inicialmente nada saber. Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até que o outro reconhe- ça a própria ignorância (ou desista da discussão). A segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, ‘parto’), foi assim denominada em homenagem à sua mãe, que era parteira. Segundo Só- crates, enquanto ela fazia parto de corpos, ele ‘dava à luz’ ideias novas. Após destruir o saber meramente opinativo (a dóxa),
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