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Metodologia da Pesquisa Aula 02 - O problema científico Introdução O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação objetiva alcançar uma qualificação teórica e metodológica dos graduandos (BOAVENTURA, 2009, p. 20). Sua elaboração exige um cuidadoso processo de pesquisa que se inicia com a definição do tema, sua delimitação, investigação bibliográfica, atendendo às orientações da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Em nossa disciplina, vamos refletir sobre esse importante momento para a sua formação, com destaque em uma postura reflexiva, crítica e criadora, sem descuidar de uma especulação filosófica, concernente à Ética na construção de um pensamento científico com autoria. A disciplina objetiva, assim, fornecer instrumentos capazes de conduzi-lo por caminhos seguros para o rigor científico requerido pela universidade. Nesse sentido, o ponto de partida para a tarefa começa pelo tema Pesquisa. Objetivos ➢ Reconhecer que a escolha de um tema para pesquisa não deve ser ao acaso; ➢ Identificar os critérios que auxiliam a delimitação do tema; ➢ Escolher o tema para o trabalho de conclusão de curso e elaborar seu mapa conceitual. Como começar uma pesquisa? Inicia-se uma pesquisa pela escolha do tema. Para tanto é preciso uma série de cuidados e, nesse sentido, é importante observar que independente da área de saber, todos enfrentam desafios parecidos: escolher um tema para pesquisar não é fácil! O tema representa o objeto da pesquisa. Por objeto, entende-se aquilo que é pensado, que será investigado (LALANDE, 1993). Assim, deve ser mais restrito que o assunto, faz parte dele. Isso mostra que o assunto é mais amplo e abrangente que o tema (LEITE, 2008, p. 190). Acrescente-se, também, que o tema precisa ser específico para que as respostas, ao final da pesquisa, sejam igualmente específicas Por isso, costuma-se dizer que a primeira e fundamental fase de qualquer pesquisa é a definição do que vai ser pesquisado. Logo, a escolha do tema não deve ser apressada (SANTOS; MOLINA; DIAS, 2007). Nesta tarefa requer-se habilidade teórico-crítica, ou seja, conhecer e dominar os conceitos, as abordagens e os autores relevantes para a pesquisa como um pressuposto importante para a escolha do tema. Há uma recomendação neste caso: Ler tanto quanto o tempo permita sobre o seu tema pode-lhe dar ideias não somente sobre a pesquisa que outros têm feito, mas também sobre sua abordagem e seus métodos (BELL, 2008, p. 57). Do tema ao objeto de pesquisa! Quando se pretende construir um objeto de pesquisa, deve-se transformar o assunto em tema e este num objeto de investigação delimitado e preciso. Se por hipótese, um pesquisador desejar investigar o assunto violência. Deve-se indagar a que tipo de violência se refere, pois há muitas possibilidades. Poderá investigar tal assunto sob o enfoque teórico, mas deverá escolher as teorias, os autores, por exemplo. Metodologia da Pesquisa Podemos investigá-la sob o ponto de vista social, jurídico, psicológico, filosófico etc. Se preferir direcionar sua pesquisa para um estudo empírico precisará delimitar a um caso concreto, descrevendo-o minuciosamente. Assim, conseguirá transformar um tema em um verdadeiro objeto de pesquisa. Poderá pesquisar, por exemplo, os aspectos da violência doméstica contra adolescentes na realidade fluminense e suas relações com as condições sociais e econômicas das famílias moradoras nas comunidades carentes. Temos aqui um tipo específico de violência: a violência doméstica. Acrescente-se que a pesquisa pretende focalizar adolescentes na realidade fluminense e, em comunidades carentes. A partir de um tema específico poderemos alcançar respostas específicas. Imagine que um pesquisador pretende investigar o tema liderança. Para tanto, deverá transformá-lo num objeto de pesquisa, porque falar tudo o que sabe sobre liderança não caracteriza seu trabalho como um trabalho científico. E mais. O tema é muito amplo e fatalmente haverá omissões. Após as leituras necessárias poderá investigar como a liderança autoritária compromete a motivação dos funcionários da Empresa XYZ. Observe que delimitou a um tipo específico de liderança e sua influência em determinada empresa. A partir de agora pense no assunto que você gostaria de pesquisar. Lembre-se: originalidade não é pré- requisito. E que critérios devem ser considerados para a escolha do tema? O TEMA DEVE SER ESPECÍFICO! O autor do tema deve ser, nas palavras de Umberto Eco, “a maior autoridade viva sobre o assunto”. Não se assuste, mas é preciso conhecer e dominar o assunto escolhido, pois um tema mal delimitado eliminará qualquer possibilidade de uma contribuição inovadora. Segundo Welber Oliveira Barral (2010, p. 38), com um tema muito amplo, o pesquisador fará, no máximo, a revisão bibliográfica do tema, ou seja, um “fichamento”: uma listagem aborrecida de “fulano disse”, “beltrano falou” que não trará novidade à matéria. Não se esqueça! Um tema amplo possibilita omissões; Um tema específico dará mais segurança ao pesquisador; O TEMA DEVE SER ACESSÍVEL! Um tema acessível significa que as fontes devem ser examinadas pelo pesquisador. Como sugestão, observamos que: “(a) não se pode fazer uma pesquisa sobre tema cujas fontes primárias estejam em idioma estrangeiro; (b) se a pesquisa for sobre a obra de um autor estrangeiro, deve-se ler no original; (c) algumas disciplinas dependem mais da literatura estrangeira na revisão bibliográfica” (BARRAL, 2010, p. 39-40). Imagine que alguém resolva fazer uma pesquisa original sobre a estrutura familiar entre os ianomâmis. Provavelmente, não encontrará literatura disponível sobre o assunto. Neste caso, vale indagar: teria disponibilidade para viver por algum tempo numa reserva indígena? Que resposta daria?E se um pesquisador decidir realizar uma pesquisa sobre o novo código civil húngaro. Metodologia da Pesquisa Teremos aqui um grande problema: ele não domina a língua húngara. Certamente, não terá acesso às fontes primárias mais importantes para desenvolver o seu tema. A NECESSIDADE DE QUE O TEMA SEJA EXEQUÍVEL NO PRAZO ESTIPULADO! Um erro comum é acreditar que um trabalho inovador poderá ser feito em poucos dias. Um trabalho científico exige tempo para pesquisar as fontes, ler a bibliografia, refletir, escrever, revisar, corrigir. Nesse sentido, o pesquisador deve estar atento ao prazo determinado por sua instituição de ensino e “não ceder à tentação de mudar de tema ao longo da pesquisa” (BARRAL, 2010, p. 39-40). A ESCOLHA DO TEMA TAMBÉM DEVE CONSIDERAR AS EXIGÊNCIAS INSTITUCIONAIS! O curso pode ter linhas de pesquisa específicas, dentro das quais devem se encaixar os trabalhos realizados pelos alunos. Esse direcionamento temático é relevante porque reflete na disponibilidade de um orientador, ou seja, um professor que domine o tema, e possa, assim, auxiliá-lo ao longo da pesquisa (BARRAL, 2010, p. 39-40). SUGERE-SE QUE O TEMA SEJA ATUAL E CONTROVERTIDO! Um tema histórico pode ser interessante se há a necessidade de se esclarecer um problema atual. O conhecimento das experiências passadas, certamente, contribui para a compreensão da atualidade, bem como poderá minimizar eventuais erros. Todavia, há algumas dificuldades num tema histórico, principalmente no que tange ao acesso às fontes. A escolha de um tema do momento – também traz riscos e dificuldades. Algumas recomendações podem ser feitas também para se identificar temas atuais: conversas com o orientador e outros pesquisadores, participação em congressos na área de interesse e leitura de periódicos atualizados (BARRAL, 2010, p. 43). A APTIDÃO PARA O TEMA, O INTERESSE PESSOAL E A MATURIDADE INTELECTUAL! Entende-se por aptidão, a facilidade de aprendizado de uma determinada área de conhecimento. E neste ponto, é bom recomendar que “será mais fácil ao estudante dedicar-se a uma área de conhecimentopara a qual tenha aptidão, para a qual demonstre facilidade de aprendizado e entusiasmo para conhecer mais”. Deve-se tomar muito cuidado para não ser seduzido pela simpatia a professores, palestrantes, e não a temas (BARRAL, 2010, p. 43). Possivelmente, o trabalho será árduo se o estudante não tiver maturidade intelectual para enfrentar os desafios do tema escolhido. Essa maturidade se adquire com o tempo e com horas de leitura e análise. Não se pode aguardar a inspiração chegar, pois não há atalhos ou fórmulas mágicas para elaboração de um trabalho. A recomendação é a seguinte: o estudante deve se esforçar para compatibilizar o tema escolhido com o seu interesse pessoal. Segundo Antônio Carlos Gil (2010, p. 1), há razões de ordem intelectual e de ordem prática que determinam uma pesquisa. Welber Oliveira Barral (2010, p. 43), ilustra, com muita propriedade, o critério da maturidade intelectual, a partir de um exemplo interessante: Imagine um pesquisador que apresentou um excelente projeto, sobre a caracterização do crime na obra de Michel Foucault, sobre quem havia lido apenas um artigo. Ora, Foucault é um autor difícil, com obras extremamente densas, que demandam prévias leituras, para conhecer termos e conceitos criados pelo próprio autor. E isso não era possível no prazo que o pesquisador tinha à disposição, e que não lhe permitiria desenvolver a maturidade necessária à compreensão do tema. Metodologia da Pesquisa De um modo geral, os autores em metodologia da pesquisa observam que o envolvimento com a pesquisa exige a disposição para a aprendizagem de CONCEITOS e TEORIAS da área de saber escolhida pelo estudante. À medida que o estudante se insere nessa tarefa, vai adquirindo mais autonomia intelectual para produzir uma pesquisa. As atividades acadêmicas, tais como elaboração de resumos, resenhas, pesquisa bibliográfica, relatórios, seminários e fichamento de textos contribuem para a ideia de atividade científica, a partir de três elementos, a saber: adquirir conhecimentos, criar novos conhecimentos e comunicá-los à comunidade científica através de um trabalho de conclusão de curso. A atividade científica, nesse sentido, envolve criticidade, rigor, disciplina e sistematicidade no manejo do objeto da pesquisa. Uma dica! Procure elaborar um mapa conceitual sobre o tema da sua pesquisa. Podemos dizer que mapa conceitual é uma representação gráfica de um conjunto de conceitos que se relacionam dentro de um tema. Neste mapa, inserimos conceitos e observamos as relações que guardem entre si. As relações entre os conceitos são especificadas através de frases/palavras de ligação nos arcos que unem os conceitos. As frases/palavras de ligação têm funções estruturantes e exercem papel fundamental na representação de uma relação entre dois conceitos. Muitos denominam o mapa conceitual como um BRAINSTORM, expressão em língua inglesa que denota “tempestade de ideias”. Vamos ver um exemplo? Observe que o tema central é Tempos Modernos. Na tentativa de delimitar o tema, o pesquisador relacionou o conceito aos termos: filme, crescimento populacional, violência etc. Usou palavras de ligação tais como: facilitou, aumenta, ampliou, modifica etc. Siga este exemplo! Sempre que se inicia uma pesquisa, há muitas informações que precisam ser selecionadas, organizadas e classificadas. É preciso pensar nas questões-chave que envolvem o seu tema, as principais teorias, como foram aplicadas e desenvolvidas, bem como as principais críticas que foram elaboradas em relação ao tema escolhido. Com o mapa conceitual você terá um quadro contendo os pontos centrais que envolvem o seu tema, ou seja, elabora um esboço de estrutura teórica. Metodologia da Pesquisa Atividade: Agora que você já compreendeu que a escolha de um tema envolve cuidados imprescindíveis, com base nos critérios sugeridos: Elabore uma lista de temas possíveis para sua pesquisa; Decida-se por um tema desta lista; Formule uma lista de questões que envolvem o tema escolhido; Certifique-se de que tem clareza sobre os conceitos, teorias e autores que trabalham o tema selecionado; Elabore um mapa conceitual; Separe a bibliografia pertinente (pelo menos cinco referências) e inicie a tarefa de fichamento. Realize as tarefas acima listadas no seu bloco de notas.
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