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Os Clássicos da Política, Cap.4 “John Locke e o individualismo liberal” (Resumo) As revoluções inglesas Século XVIII: Coroa x Parlamento – Revolução Puritana (crise político-religiosa) o Coroa: dinastia Stuart que defende o absolutismo o Parlamento: burguesia ascendente defensora do liberalismo Após a guerra civil instaurou-se o Protetorado de Cromwell (apoiado no exército e na burguesia puritana) – Inglaterra tornou-se uma grande potência naval e comercial Morte de Cromwell trouxe o antigo conflito de volta e a Restauração (1660-88) da dinastia Stuart o Parlamento dividiu-se em Tories (conservadores) e Whigs (liberais) que se aliaram a Guilherme de Orange para derrubar o absolutismo reinante, o qual recebeu a coroa do Parlamento. Revolução Gloriosa (1688) - triunfo do liberalismo político sobre o absolutismo Bill of Rights (1689) – assegurou a supremacia legal do Parlamento sobre a realeza e instituiu na Inglaterra uma monarquia limitada. John Locke, O individualista liberal Nasceu em 1632 no seio de uma família burguesa da cidade de Bristol. Em 1652 foi estudar em Oxford, formando-se em medicina. Em 1666 se aproximou do lorde Shaftesbury (político liberal, líder dos Whigs e opositor do rei Carlos II no Parlamento), o qual foi seu mentor político e o levou a formação liberal. Defensor da liberdade e da tolerância religiosas e Fundador do empirismo (todo o conhecimento deriva da experiência) e teoria da tábula rasa (a mente é um papel em branco, desprovida de todos os caracteres). Os dois tratados o governo civil Primeiro tratado: refuta Robert Filmer que defende (em sua obra “Patriarca”) o direito divino dos reis como descendentes de Adão, isto é, os monarcas modernos eram descendentes da linhagem de Adão e herdeiros legítimos da autoridade paterna dessa personagem bíblica, a quem Deus outorgara o poder real. Segundo tratado: ensaio sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil. Tese de que nem a tradição nem a força, mas apenas o consentimento expresso dos governados é a única fonte do poder político legítimo. O estado de natureza Homens partem do estado de natureza que, pela mediação do contrato social, realiza a passagem para o estado civil A existência do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade e do Estado. Homens viviam originalmente num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfeita liberdade e igualdade. Era uma situação real e historicamente determinada pela qual passara a maior parte da humanidade e na qual se encontravam ainda alguns povos, como as tribos norte-americanas. Estado de relativa paz, concórdia e harmonia. Homens dotados de razão e desfrutavam da propriedade (a qual incluía: a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano). A teoria da propriedade A propriedade já existe no estado de natureza e é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado. O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Como a terra era comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado natural o homem tornava-a sua propriedade privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros homens. O trabalho era o fundamento originário da propriedade. Sendo assim, o trabalho impunha limitações à propriedade. No início este limite era fixado pela capacidade de trabalho do ser humano. Mas, com o aparecimento do dinheiro/moeda a situação mudou, pois com o dinheiro surgiu o comércio (aquisição de propriedade pelo trabalho e por compra) Trocas de coisas úteis e perecíveis se tornou a troca por algo duradouro (ouro e prata) – isto é, o uso da moeda levou à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens. Assim, a propriedade limitada, baseada no trabalho passa a ser propriedade ilimitada, fundada na acumulação possibilitada pelo advento do dinheiro. O contrato social Apesar do estado de natureza ser relativamente pacífico, ainda podem ocorrer inconvenientes que coloquem os indivíduos num estado de guerra de uns com os outros. Assim, visando superar a possibilidade de inconvenientes, os homens são livremente levados a estabelecer um contrato social para se configurarem como uma sociedade civil. - Pacto de consentimento. A sociedade política/civil é formada por um corpo político único, dotado de legislação, de judicatura e da força concentrada da comunidade. * Seu objetivo principal é a preservação da propriedade (direito inalienável que já possuíam no estado de natureza) e a proteção da comunidade tanto dos perigos internos quanto das invasões estrangeiras. * Direitos naturais inalienáveis estão protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um corpo político unitário. A sociedade política ou civil Livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade: para a entrada na sociedade civil os indivíduos singulares precisão dar seu consentimento unânime (através do contrato). Livre consentimento da comunidade para a formação do governo: escolha de uma determinada forma de governo é feita pelo princípio da maioria (prevalecimento da decisão majoritária e respeito aos direitos da minoria). Proteção dos direitos de propriedade pelo governo: Independente da forma de governo, “todo o governo não possui outra finalidade além da conservação da propriedade". Controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade: Poder legislativo também é escolhido pela maioria (Locke chama este de poder supremo, conferindo-lhe uma superioridade sobre os demais poderes). Dessa forma, o poder executivo (confiado ao príncipe) e o federativo (encarregado das relações exteriores: guerra, paz, alianças e tratados) são subordinados ao legislativo. O direito resistência Tirania: o exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum. Quando o executivo ou o legislativo violam a lei estabelecida e usam da violência de forma contínua sem amparo legal e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a que fora destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania. Assim, entra-se num estado de guerra uns contra os outros, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania. o Este estado de guerra (governantes x governados) configura a dissolução do estado civil, ou seja, a volta ao estado de natureza e a ausência de um árbitro para o conflito. “Esgotadas todas as alternativas, o impasse só pode ser decidido pela força. ” A doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal do poder reconhece ao povo, quando este não tem outro recurso ou a quem apelar para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se da opressão de um governo tirânico como para libertar-se do domínio de uma nação estrangeira. Conclusão O cerne do estado civil são os direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, à liberdade e à propriedade. (Individualismo liberal) Bobbio: através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no consenso, de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de um poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do Estado liberal. Os Clássicos da Política, Cap.6 “Rousseau: da servidão à liberdade” (Resumo) Questionamento da contribuição das ciências e artes (questionamento moral) o Ciências e as artes contribuíram para a corrupção dos costumes, mas podem também contribuir para que a corrupção não seja aumentada. o As ciências e as artespodem muito bem distrair a maldade dos homens e impedi-los de cometer crimes hediondos. o Todas as ciências e as artes tenham feito mal à sociedade "é essencial hoje servir-se delas, como de um remédio para o mal que causaram ou como um desses animais maléficos que é preciso esmagar sobre a mordida". Curriculum de um cidadão de Genebra Nascido em Genebra, em 1712. Vem de uma família mais simples que a de Locke (pai relojoeiro) “Rousseau será sempre avesso aos salões e às cortes. Será um filósofo à margem dos grandes nomes de seu século, mas nem por isso estaria afastado das polêmicas e chegou até a contribuir, a convite de Diderot, para a grande Enciclopédia, com artigos sobre música e economia política. ” O pacto social Propõe o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para a sua libertação. "O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles. Como se deve esta transformação? Eu o ignoro: o que poderá legitimá-la? Creio poder resolver esta questão". Construção da história hipotética da humanidade deixando de lado os fatos. o Fatos reais são bem difíceis de serem verificados, mas a história pode ser construída hipoteticamente e demonstrada através de argumentos racionais. o A história hipotética da humanidade é a que culmina com a legitimação da desigualdade, quando o rico apresenta a proposta do pacto (pacto feito pelas classes dominantes) Pacto: Unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os ambiciosos e assegurar a cada um a posse daquilo que lhe pertence, instituamos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados a conformar-se, que não abram exceção para ninguém e que, submetendo igualmente a deveres mútuos o poderoso e o fraco, reparem de certo modo os caprichos da fortuna. Numa palavra, em lugar de voltar nossas forças contra nós mesmos, reunamo-nos em um poder supremo que nos governe segundo sábias leis, que protejam e defendam todos os membros da associação, expulsem os inimigos comuns e nos mantenham em concórdia eterna. Crítica ao pacto: perpetua a sociedade injusta. o Prejudicam os pobres e beneficiam os ricos; destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram (a partir de “agora) todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria. Apresentar o deverser de toda ação política. Contrato social estabelece as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil. Cláusulas do contrato reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda, pois assim todos tornam-se iguais (com a condição igual a todos, ninguém se interessa pelas “coisas” dos demais) O corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar o modo de funcionamento da máquina política (ninguém é prejudicado). O povo soberano, é ao mesmo tempo parte ativa e passiva, ou seja, é agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis, tem todas as condições para se constituir enquanto um ser autônomo, agindo por si mesmo. o Todas as condições para a realização da liberdade civil o Nestas condições (autonomia) haveria uma conjugação perfeita entre a liberdade e a obediência. Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de liberdade. Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis num clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como partes do poder soberano. Isto é, uma submissão à vontade geral e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. Interesse comum deve se sobrepor aos interesses privados A vontade a representação É a condição primeira de legitimidade da vida política. Este processo da fundação do corpo político, deverá estender-se também para a máquina política em funcionamento. Não basta que tenha havido um momento inicial de legitimidade, é necessário que ela permaneça ou então que se refaça a cada instante. Para que o corpo político se desenvolva, não basta o ato de vontade fundador da associação, é preciso que essa vontade se realize. Os fins da constituição da comunidade política precisam ser realizados. Onde criam-se os mecanismos adequados para a realização desses fins? Corpo administrativo do Estado. Primeiramente deve-se definir o governo, o corpo administrativo do Estado, como funcionário do soberano, como um órgão limitado pelo poder do povo e não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se neste caso com o soberano. Se a administração é um órgão importante para o bom funcionamento da máquina política, qualquer forma de governo que se venha a adotar terá que submeter-se ao poder soberano do povo. Mesmo sob um regime monárquico, segundo Rousseau, o povo pode manter-se como soberano, desde que o monarca se caracterize como funcionário do povo. Tendência do governo a degenerar, por isso necessita vigilância. O governo tende a ocupar o lugar do soberano. Ao invés de submeter-se ao povo, o governo tende a subjugá-lo. Rousseau não admite a representação ao nível da soberania. Uma vontade não se representa. "No momento em que um povo se dá representantes, não é mais livre, não mais existe." O exercício da vontade geral através de representantes significa uma sobreposição de vontades. Ninguém pode querer por um outro. Rousseau reconheceria a necessidade de representantes a nível de governo. Também se necessita de grande vigilância dos representantes, cuja tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam. Para não se perpetuarem em suas funções, seria conveniente que fossem trocados com uma certa frequência. Certa incredulidade quanto à recuperação da liberdade por povos que já a perderam completamente. Sua visão da história é pessimista. A primeira tarefa do legislador é conhecer muito bem o povo para o qual irá redigir as leis. Não existe uma ação política boa em si mesma em termos absolutos. Cada situação exige um tratamento especial. A ação política será mesmo comparada à ação do médico diante do paciente. Seu papel é prolongar a vida ao máximo, mas não poderá impedir que o corpo morra, uma vez que tiver completado o seu ciclo vital. Fazer com que um povo, da servidão, recupere a liberdade, é o mesmo que recuperar a vida de um doente prestes a morrer. Tal façanha, evidentemente, não ocorre todos os dias, mas só mesmo por um milagre. Não se deve, porém, no pensamento político de Rousseau, tomar a exceção como regra de toda prática política. As revoluções são exceções na vida dos povos. Rousseau é visto como patrono da Revolução Francesa de 1789 e o “Contrato Social” como um manual prático/de ação política.
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