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PAPER, IMPORTÂNCIA DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS

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ROBSON SOARES LOPES
A IMPORTÂNCIA DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS NA VILA DE MUPI-TORRÃO – CAMETÁ/PA EM TEMPOS DA COVID-19
 
CAMETÁ-PA
2021
A IMPORTÂNCIA DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS NA VILA DE MUPI-TORRÃO – CAMETÁ/PA EM TEMPOS DA COVID-19
RESUMO
	O presente trabalho visa mostrar a importância dos quintais agroflorestais na vila de Mupi-Torrão, tendo como base as famílias que residem na vila e como às mesmas estão conseguindo enfrentar a pandemia causada pela COVID-19. O trabalho foi realizado através de um questionário que foi aplicado no dia 20/08/2021 na vila citada anteriormente, o mesmo teve como foco dá visibilidade aos quintais dos moradores da vila, ressaltando o que os moradores plantam como eles colhem e para onde vedem e buscando sempre dá ênfase à importância dos quintais para a vida das pessoas que ali residem. Vale ressaltar que o questionário foi aplicado de maneira única com perguntas feitas diretamente aos agricultores e tendo todos os cuidados possíveis de distanciamento social e higienização, conforme recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais, Agricultura Familiar, Agroecologia.
THE IMPORTANCE OF AGROFORESTRY BACKYARDS IN THE VILLAGE OF MUPI-TORRÃO - CAMETÁ/PA IN COVID-19'S TIMES
ABSTRACT
	This work aims to show the importance of agroforestry yards in the village of Mupi-Torrão, based on the families that reside in the village and how they are managing to face the pandemic caused by COVID-19. The work was carried out through a questionnaire that was applied on 20/08/2021 in the village mentioned above. It focused on giving visibility to the backyards of villagers, highlighting what residents plant, how they harvest and where to sell and seeking always emphasizes the importance of backyards for the lives of people who reside there. It is noteworthy that the questionnaire was applied in a unique way with questions asked directly to farmers and taking all possible precautions for social distancing and hygiene, as recommended by the WHO (World Health Organization).
Key words: Agroforestry Systems, Family Agriculture, Agroecology.
Sumário
INTRODUÇÃO	8
MATERIAIS E METODOS	9
RESULTADOS E DISCURSÃO	10
CONSIDERAÇÕES FINAIS	14
REFERÊNCIAS	15
INTRODUÇÃO
Quintais agroflorestais são áreas de produção, localizados próximo da casa, onde se cultiva uma variedade de espécies agrícolas e florestais. Essa prática é encontrada em todas as regiões tropicais do mundo e tem como característica principal a grande diversidade de produção, tais como: alimentos e ervas medicinais, fibras e outros produtos de uso na propriedade durante todo ano (Dubois, 1996).
Os quintais se constituem em Sistemas Agroflorestais (SAF’s), na prática esses ditos quintais buscam manter o equilíbrio de forma ecologicamente natural, configurando-se em uma alternativa para a melhoria da segurança alimentar e consequentemente influencia de forma direta na renda adicional das famílias e é nesse contexto que se insere o questionário aplicado na vila de Mupi-Torrão. Esse projeto busca a introdução de alternativas agroecológicas ressaltando de que forma as famílias da vila estão se adaptando com esse novo momento pelo qual o mundo tá enfrentando[footnoteRef:1]. Na Amazônia, os quintais agroflorestais com espécies bem adaptadas às condições da região, contribuem nas necessidades de subsistência da família, tendo um papel importante na alimentação e na saúde dos moradores do espaço rural (ROSA, et al.1998; FREITAS, 2004). [1: Refiro-me a pandemia causada pelo vírus da COVID-19.] 
Os nossos agricultores/ribeirinhos na maioria das vezes não se dão conta dos serviços ambientais que prestam a todos, pois eles cuidam das florestas, e consequentemente colhem os benefícios que vem em forma de alimentos saudáveis, fonte de renda e a captura de carbono que é muito importante no sentido de reduzir a pegada ecológica do setor agrícola, responsável por cerca de 30% de todas as emissões antropogênicas de GEE’s (STRATE et al. 2020).
O objetivo deste trabalho é analisar a experiência agroecológica nos quintais agroflorestais desenvolvida na vila de Mupi-Torrão, mostrando como a vila vem encarando os desafios causados pela pandemia da COVID-19. Desta forma, as informações do presente trabalho podem-se disseminar como forma de conhecimentos e contribuir para práticas mais sustentáveis no País.
MATERIAIS E METODOS
O presente estudo foi realizado na Vila de Mupi-Torrão, localizada no município de Cametá na mesorregião do nordeste Paraense.
Para a elaboração do estudo foi utilizado o Diagnostico Rural Participativo (DRP) com as famílias que residem na Vila, esta metodologia é formada por um conjunto de técnicas e métodos de ação participativa, o qual permite obter informações qualitativas e quantitativas em pouco tempo, ou seja, o trabalho se deu a partir de entrevistas para a obtenção das informações sobre os quintais agroflorestais da Vila de Mupi-Torrão. Durante as entrevistas, foram aplicados questionários semiestruturados seguindo todos os protocolos de distanciamento e higienização que a OMS (Organização Mundial da saúde) exige. Os questionários semiestruturados foram aplicados em 20 propriedades, localizadas na Vila de Mupi-Torrão em Cametá-PA. O formulário conteve perguntas abertas e fechadas, sobre diversos assuntos referentes aos cultivos e como eles estão enfrentando essa pandemia da Covid-19.
Os dados coletados foram digitados em planilha de Excel (2013) para serem analisados e comparados com as literaturas existentes relacionados ao tema e o embasamento teórico foi constituído a partir de artigos científicos, teses e dissertações de autores da área aqui trabalhada.
RESULTADOS E DISCURSÃO
Como ressaltado anteriormente, o presente trabalho foi elaborado através da aplicação de um questionário realizado na Vila de Mupi-Torrão. No referido questionários constavam as seguintes perguntas:
	1. Quantas pessoas moram na propriedade?
	2. Quais produtos agrícolas você tem em seu quintal agroflorestal?
	3. Quais você comercializava?
	4. No período de pandemia quais os produtos do seu quintal serviram como alimentos para vocês? E para venda?
	5. Com a pandemia onde você vendeu seus produtos? Nos mesmos locais ou mudou?
	6. Com a pandemia as suas vendas, teve perda?
	7. Como esta sua renda com a pandemia? Como era antes (só da agricultura ou tem outra)?
	8. Nesse período o trabalho na agricultura aqui na propriedade parou, continuou ou aumentou?
	9. Quantas pessoas trabalham na agricultura aqui da residência?
	10. Para você, o que a agricultura ou seu quintal agrícola representa?
	11. Para você sua produção agrícola ajudou ou não nesse período de pandemia?
	12. Qual a maior dificuldade com a pandemia?
	13. O que mudou com a pandemia com relação às práticas na produção e comercialização?
	14. Você conhece alguma política pública voltada aos pequenos produtores rurais devido à pandemia? Como é o acesso a essas políticas públicas?
	15. Você teve algum membro de sua família infectado pelo covid-19? Qual a gravidade? Foram hospitalizados? Houve perdas?
	16. Sobre o atendimento ao covid-19, você procurou: Posto de saúde, UPA, ou Hospitais? Você fez o teste rápido para detectar o covid-19?
	17. Você conhece algum produtor rural que foi infectado?
	18. Alguém de sua família já foi vacinado?
	19. Você participa de algum programa do governo federal (PAA- Programa de Aquisição de Alimento, PNAE- Programa Nacional de Alimentação Escolar), ou Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)?
	20. A prefeitura ajudou em alguma coisa (tipo realizando feiras, comprando sua produção, ações solidárias, cestas básicas, auxílio financeiro, disponibilização de equipamentos de segurança e higienização de equipamentos agrícolas)?
	21. Quais produtos você possui ou fabrica em sua propriedade para a venda?
	22. Você usou alguma planta medicinal no tratamento contra covid-19? Qual planta? E como você usava (a forma)?
Com base nas 22 perguntasacima o trabalho foi ganhando forma e direcionamento, de acordo com os resultados, nas casas visitadas residiam de 2 a 10 pessoas e os produtos agroflorestais existentes nos quintais no momento da aplicação do questionário eram: Arruda, Arroz, Abacaxi, Abiu, Araçá, Açaí, Bacaba, Bacuri, Banana, Coco, Castanha, Caju, Café, Canarana, Cana-de-açúcar, Capim-santo, Erva-cidreira, Feijão de corda, Gengibre, Goiaba, Ingá, Inajá, Jambo, Manjericão, Maxixe, Manga, Piquiá, Pimenta-do-reino, Pimentinha, Tangerina, Tucumã, Urucum e Uxi. Dos 33 produtos encontrados nos quintais agroflorestais da Vila de Mupi-Torrão 17 deles são comercializados de forma direta e os 16 restantes não são comercializados de forma direta, porém os mesmos fazem parte do dia-a-dia dos moradores e são de suma importância para outros fins, tais como, alimentos e para produtos medicinais.
No que tange ao questionário aplicado na Vila, percebeu-se que quase 99% dos entrevistados continuaram com as suas vendas nos mesmos locais e nas mesmas formas de como eram realizadas antes da pandemia, a maioria dos entrevistados faziam suas vendas na própria vila, outra forma de venda eram realizadas através dos atravessadores e a outra forma era feita diretamente na cidade de Cametá-PA. Dentre as vinte pessoas entrevistadas nove relatou que houve perda nas vendas de seus produtos, dez disseram que as vendas continuaram de forma normal e uma pessoa ressaltou um aumento em suas vendas no período da pandemia. Outro ponto que merece destaque é em relação às formas de enfretamento à pandemia, com base no questionário apenas oito pessoas tinham outra forma de ganho, e isso de certa forma ajudou no período de pandemia e as outras doze pessoas entrevistadas disseram que não tinham outra forma de se sustentar a não ser com os produtos agrícolas existentes em seus quintais, vale ressaltar que das vinte pessoas entrevistadas quatro tiveram que parar o trabalho na agricultura e dezesseis tiveram que encontrar meios para dar continuidade ao trabalho na agricultura.
No que diz respeito ao envolvimento dos moradores das casas da vila de Mupi-Torrão nos quintais agroflorestais o número de pessoas da família que se encontram envolvidas nos quintais é bem extensa. Na maioria das casas visitadas mais de 50% das pessoas trabalham de forma direta na agricultura de sua residência, lembrando que os outros 50% trabalham indiretamente na agricultura da residência, ou seja, é perceptível que o número de pessoas da família envolvida na agricultura de sua residência é bem elevado. A partir desse ponto já temos uma base do quão é importante à agricultura ou o quintal agrícola para as famílias que residem na vila, algumas pessoas entrevistadas denominaram a agricultura como; fonte de renda, subsistência, sustento e base familiar. Lembrando que 100% das pessoas que foram entrevistadas disseram que a produção agrícola ajudou e muita na subsistência das mesmas desde o começo da pandemia causada pelo vírus da COVID-19, vale ressaltar que o vírus trouxe varias mudanças não só no âmbito local, mas também em âmbito mundial e fizeram com que as pessoas se readaptassem e procurassem novos meios para darem prosseguimento em suas vidas.
Quando os entrevistados foram perguntados se conheciam alguma política pública voltada aos pequenos produtores rurais devido à pandemia ou se participavam de algum programa do governo federal como o PAA, PNAE ou PRONAF, absolutamente todos disseram não ter conhecimento e muito menos como é o acesso a essas políticas públicas ou mesmo não sabiam como ingressar nesses programas. Outro ponto que merece destaque é em relação à presença do vírus da COVID-19, sua disseminação e as suas consequências para os moradores deste local de estudo. Muitos produtores rurais foram infectados pelo vírus e durante o tratamento muitos utilizaram alguma planta medicinal para combater o vírus, tais como; mastruz, ortiga, folha de algodão etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Desde o começo do estudo deu para notar a diversidade de espécies encontradas nos quintais agroflorestais das casas da vila de Mupi-Torrão, isso indica uma produção diversificada e constituem uma alternativa de alimentação e meios de medicação que contribui na renda das famílias, principalmente nesse período de pandemia causada pelo vírus da COVID-19. Ter entendimento do quanto é importante os quintais agroflorestais para a vida dessas pessoas é contribuir para formas de conservação, segurança alimentar e consequentemente influencia de forma direta na renda adicional das famílias. Para essas famílias, quintais agroflorestais é fonte de renda, subsistência, sustento, base familiar e através desses pontos percebemos uma produção de alimentos saudáveis, com grande diversidade nutricional e que promove serviços ecossistêmicos, colaborando para a agroecologia e consequentemente para a saúde de nosso planeta.
Os quintais agroflorestais trazem benefícios e serviços para todos e isso amplia a ótica de como necessitamos de políticas públicas que incentivem os produtores, baseados na conservação dos ecossistemas, o consumo e a comercialização, de forma que estejam acessíveis para todos e não restrito a grupos específicos. Em suma, programas como o PAA, PNAE e principalmente o PRONAF precisam de uma maior expansão de maneira que possam alcançar a sociedade de maneira geral.
REFERÊNCIAS
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DUBOIS, J. C. Aplicabilidade. In: MONTOYA VILCAHUAMAN, L. J; RIBASKI, J;
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