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i GERENCIAMENTO PELO LADO DA DEMANDA EM ÁREAS RESIDENCIAIS Nina Bordini Braga Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Walter Issamu Suemitsu, Dr.Ing Co-Orientadora: Rita Cavaliere, MSc Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 ii GERENCIAMENTO PELO LADO DA DEMANDA EM ÁREAS RESIDENCIAIS Nina Bordini Braga PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA ELETRICISTA. Examinado por: ___________________________________________________ Prof. Walter Issamu Suemitsu, Dr.Ing ___________________________________________________ Engª. Rita Cavaliere, MSc ___________________________________________________ Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL FEVEREIRO DE 2014 iii Braga, Nina Bordini Gerenciamento pelo lado da demanda em áreas residenciais/ Nina Bordini Braga. - Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014. XI, 64 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Walter Issamu Suemitsu, Dr.Ing Co-Orientadora: Rita Cavaliere, MSc Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Elétrica, 2014. Referências Bibliográficas: p. 56. 1. Introdução. 2. Análise do Consumo de Energia Elétrica. 3. Gerenciamento pelo Lado da Demanda em Áreas Residenciais. 4. Redes Elétricas Inteligentes. 5. Conclusão e Sugestão de Trabalhos Futuros. 6. Referências Bibliográficas. I. Suemitsu, Walter Issamu II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Elétrica. III. Gerenciamento pelo lado da demanda em áreas residenciais. iv Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. Gerenciamento pelo lado da demanda em áreas residenciais Nina Bordini Braga Fevereiro de 2014 Orientador: Walter Issamu Suemitsu, Dr.Ing Co-Orientadora: Rita Cavaliere, MSc Curso: Engenharia Elétrica. Medidas de eficiência energética surgiram na década de oitenta, logo após o choque do petróleo, visto que o modelo de planejamento energético foi colocado em risco. Dentre tais medidas, o Gerenciamento pelo Lado da Demanda (GLD) se destacou, pois este colabora para uma operação mais segura e econômica, uma vez que reduz a demanda máxima, proporcionando assim a postergação da expansão com novas usinas, redes de transmissão e distribuição de energia. Dessa forma, o Gerenciamento pelo Lado da Demanda tornou-se uma ferramenta importante de planejamento para muitas concessionárias de eletricidade. Este trabalho analisa o papel do GLD orientado às residências, destacando o papel dos consumidores e do governo para o desempenho da sua implantação discute seu estado atual de aplicação no Brasil. O presente trabalho discute a estrutura para a incorporação do GLD, apresentando ideias sobre como tais programas podem ser implementados e monitorados. Neste aspecto as redes elétricas inteligentes são ressaltadas, ao permitir a geração de informações mais detalhadas e em tempo real, analisando-se ainda, os desafios para sua implantação e possíveis soluções para tal. Palavras-chave: Gerenciamento pelo lado da demanda (GLD), Redes Elétricas Inteligentes, Consumo, Curva de Carga, Demanda Máxima. v Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Electrical Engineer. Demand Side Management in Residential Areas Nina Bordini Braga February/2014 Advisors: Walter Issamu Suemitsu, Dr.Ing Rita Cavaliere, MSc Course: Electrical Engineering Energy efficiency measures have emerged in the eighties, after the oil price shock, since the model of energy planning was jeopardized. Among these measures, the Demand Side Management (DSM) stood out, as this contributes to a safer and more economical operation, since it reduces the maximum demand, thus providing the postponement of expansion with new power plants, transmission and energy distribution. Thus the Demand Side Management has become an important planning tool for many electricity utility. This work examines the role of DSM oriented-residential, highlighting the role of consumers and government for the performance of its implementation, discusses its current state of implementation in Brazil. It provides a framework for incorporating presenting ideas about how such programs can be implemented and monitored. In this respect the smart grid are highlighted by allowing the generation of more detailed information in real time, analyzing the challenges to its implementation and possible solutions. Keywords: Demand side management (DSM), Smart Grids, consumption, load curve, Maximum Demand vi DEDICATÓRIA À minha família, pelo apoio incondicional, pelo suporte, educação, amor e carinho. vii AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Washington Luiz de Oliveira Braga e Maria da Conceição Bordini Braga e aos meus irmãos, Carolina Bordini Braga, Ana Beatriz Bordini Braga, Luiz Daniel Bordini Braga e Augusto Cesar Bordini Braga por todo apoio e carinho incondicional durante esses anos. Ao meu orientador, Prof. Walter Issamu Suemitsu, e a minha Co-Orientadora, Eng.ª Rita Cavaliere, pela oportunidade e comprometimento, ensinamentos e dedicação excepcional durante o desenvolvimento desse trabalho. A amiga que fiz na faculdade e levarei para a vida, Mayara Cagido, pelo companheirismo e amizade, motivando meu desenvolvimento como aluna. Ao meu namorado, Rodrigo Mazza Guimarães, pelo amor, carinho, apoio e companheirismo que me proporciona a cada dia. Agradeço aos amigos que também acompanharam ao longo desta longa caminhada e de alguma forma contribuíram pra minha formação pessoal e profissional. A Deus, por ter me iluminado ao longo de minha trajetória acadêmica. viii ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 1.1. Objetivo ............................................................................................................. 3 1.2. Metodologia ....................................................................................................... 3 1.3. Estrutura do Trabalho ........................................................................................ 4 2. ANÁLISE DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL .................. 5 2.1. Considerações Gerais ......................................................................................... 5 2.1.1. Classificação dos consumidores ................................................................. 7 2.1.2. Consumo de Energia Elétrica nas Regiões do Brasil ................................. 7 2.2. Consumo de Energia nas Edificações Residenciais ........................................... 9 2.2.1. Curva de Carga de aparelhos elétricos .......................................................9 2.2.2. Participação dos Eletrodomésticos no consumo Residencial ................... 10 2.3. Estrutura Tarifária: Horário de Ponta e Fora de Ponta .................................... 10 2.4. Curva de Carga ................................................................................................ 11 2.4.1. Curva de Carga Residencial ..................................................................... 12 2.4.2. Curva de Carga Industrial: ........................................................................ 12 2.4.3. Curva de Carga Comercial ....................................................................... 13 2.4.4. Curva de Carga de Iluminação Pública .................................................... 13 2.5. O Problema do Período de Ponta ..................................................................... 14 2.6. Conclusão ......................................................................................................... 14 3. GERENCIAMENTO PELO LADO DA DEMANDA EM ÁREAS RESIDENCIAIS ............................................................................................................. 16 3.1. Definição de Gerenciamento pelo Lado da Demanda ..................................... 16 3.2. Objetivos do GLD ............................................................................................ 17 3.3. Tipos de programas de GLD ............................................................................ 17 3.3.1. O GLD Indireto; ....................................................................................... 18 3.3.2. O GLD direto permitindo o controle direto da carga; .............................. 18 3.4. Estratégias para moldar a curva de carga ......................................................... 19 3.5. Impactos do GLD sobre a Sociedade e os Consumidores Residenciais .......... 21 3.6. Critérios analisados pelos consumidores na implementação de programas de GLD 22 3.7. Gerenciamento pelo lado da demanda e tarifação dinâmica ............................ 23 3.8. Estrutura Tarifária ............................................................................................ 23 3.8.1. Modalidades Tarifárias ............................................................................. 24 3.8.2. Bandeira Tarifária ..................................................................................... 27 3.9. Eficiência Energética ....................................................................................... 28 3.9.1. Principais Mecanismos de Promoção à Eficiência energética e Conservação no Brasil. ........................................................................................... 29 3.9.2. Críticas e Considerações ........................................................................... 37 3.10. Ações de GLD no Brasil .............................................................................. 37 3.11. Desafios para a Implantação do GLD no Brasil. .......................................... 38 3.11.1. Falta de Informação dos Consumidores ................................................ 38 ix 3.11.2. Questões sobre a aceitação do consumidor ........................................... 38 3.11.3. Restrições financeiras dos consumidores.............................................. 39 3.11.4. Desinteresse Governamental. ................................................................ 39 3.12. Aplicações Residenciais de GLD Baseada em Smart Grid .......................... 39 3.13. Conclusão ..................................................................................................... 40 4. REDES ELÉTRICAS INTELIGENTES ................................................................ 41 4.1. Características das Redes Inteligentes ............................................................. 42 4.2. Componentes das Redes Elétricas Inteligentes X Rede Elétrica Atual ........... 43 4.3. Tecnologias e Infraestrutura para a Viabilização das Redes Elétricas Inteligentes ................................................................................................................. 44 4.4. Motivadores para a implantação das Redes Elétricas Inteligentes no Brasil e no Mundo ......................................................................................................................... 45 4.5. Projetos Pilotos de Redes Elétricas Inteligentes no Brasil .............................. 46 4.6. Desafios para a implantação da REI no Brasil................................................. 49 4.7. Conclusão ......................................................................................................... 50 5. CONCLUSÃO E SUGESTÃO DE TRABALHOS FUTUROS ............................ 52 5.1. Conclusão ......................................................................................................... 52 5.2. Sugestão de Trabalhos Futuros ........................................................................ 54 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 55 ANEXO I - Aplicação de Unidade de Gerenciamento de Energia local (LEMU) 59 Aplicação de Unidade de Gerenciamento de Energia local (LEMU) ........................ 59 Algoritmo do Gerenciamento da Energia ................................................................... 63 x SUMÁRIO DE FIGURAS Figura 1. Consumo de energia elétrica na rede [8] ........................................................... 6 Figura 2. Detalhamento do consumo energético nas diferentes regiões do Brasil. Fonte. [8] ..................................................................................................................................... 8 Figura 3 Gráfico de consumo nas regiões do Brasil em [GWh] - adaptado de [8]. ......... 8 Figura 4 Curva de Carga de Eletrodomésticos. Fonte: [10]. .......................................... 10 Figura 5. Participação dos eletrodomésticos no consumo residencial em nível Brasil. Fonte: [10]. ..................................................................................................................... 10 Figura 6. Curva de Carga típica. Fonte:[17] . ................................................................. 11 Figura 7. Curva de Carga Residencial Típica. Fonte [17]. ............................................. 12 Figura 8. Curva de Carga Industrial Típica. Fonte [17]. ................................................ 13 Figura 9. Curva de Carga Comercial Típica. Fonte [17]. ............................................... 13 Figura 10. Curva de Carga de Iluminação Pública Típica. Adaptado de [17]. ............... 14 Figura 11: Possibilidades do GLD: Fonte [6]. ................................................................ 19 Figura 12. Comparativo entre a Tarifa Branca e a Tarifa Convencional. Fonte:[30]. .... 25 Figura 13. Selo Procel [2] ............................................................................................... 31 Figura 14. Exemplo de Etiqueta utilizada em refrigeradores. Fonte:[36] ...................... 34 Figura 15. A interação entre os diferentes domínios das redes Elétricas Inteligentes. Fonte:[48]. ...................................................................................................................... 44 Figura 16. Motivadores Regionais das REI. Adaptado de: [4]. ...................................... 46 Figura 17. Projetos Piloto de REI no Brasil. Adaptado de [49]. .................................... 47 Figura 18. a) Representação esquemática da localização LEMU na casa ou aplicação residencial. b) Conexão LEMU á rede pública. Fonte: Adaptado de [44]. .................... 60 Figura 19. Descrição do hardware LEMU e suas conexões. Fonte: Adaptado de[44]. .. 63 Figura 20. O algoritmo do gerenciamento da energia. Fonte:[44]. ................................ 63 xi SUMÁRIO DE TABELAS Tabela1. Classes de Consumidores Fonte:[9].................................................................. 7 Tabela 2. Principais resultados energéticos das ações da Eletrobrás Procel em 2012 - Adaptado de [33]. ........................................................................................................... 30 Tabela 3. Indicadores de resultados das ações da Eletrobrás Procel em 2012 - Adaptado de [33]. ............................................................................................................................ 30 1 Capitulo 1 1. INTRODUÇÃO Em março de 1973, houve o primeiro choque do petróleo que marcou o início de uma nova era da economia mundial. Em razão disso, a aplicação de medidas de eficiência energética passou a ser alvo de intenso estudo, visto que o modelo de planejamento energético em vigor foi colocado em risco. Neste cenário, o Gerenciamento pelo Lado da Demanda (GLD) tornou-se uma ferramenta importante de planejamento para muitas companhias de eletricidade. Juntamente com as políticas de proteção ao meio ambiente, o GLD pode ser um instrumento eficaz contra o uso ineficiente e irracional de energia. Uma das maneiras mais modernas e utilizadas no mundo para conter a expansão do consumo sem comprometer qualidade de vida e desenvolvimento econômico tem sido o estímulo ao uso eficiente (Eficiência Energética). No Brasil, no que trata à energia elétrica, esse estímulo tem sido aplicado desde 1985, quando o Ministério de Minas e Energia (MME) criou o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), de âmbito nacional e coordenado pela Eletrobrás [1]. O Procel visa promover o uso eficiente da energia elétrica, combatendo o desperdício e reduzindo os custos e os investimentos setoriais. Dentro desta iniciativa do governo federal, foi elaborado o Selo Procel, que orienta o consumidor na compra de produtos, sinalizando aqueles com melhores níveis de eficiência energética. Também estimula o desenvolvimento tecnológico de produtos mais eficientes e, como consequência, a preservação ambiental [2]. Um dos modelos de eficiência energética que tem sido objeto de pesquisa e projetos experimentais atualmente é o Gerenciamento pelo Lado da Demanda (GLD). Suas ações apresentam-se como uma eficiente alternativa de otimização na utilização 2 dos recursos disponíveis, sendo necessária uma abordagem de longo prazo, com análise de custo x benefício e a economia proporcionada pela postergação da expansão com novas usinas e redes de transmissão e distribuição de energia. As soluções que o GLD proporciona para atuação junto ao mercado consumidor colaboram para uma operação mais segura e econômica, uma vez que reduzem a demanda máxima e as taxas de retomada de carga durante o dia [3]. O modelo de rede elétrica inteligente, conhecido como Smart Grid, viabiliza e otimiza a implantação do sistema de Gerenciamento pelo Lado da Demanda. Smart Grid pode ser entendido como a rede que utiliza avançada tecnologia digital para coordenar e monitorar o transporte de eletricidade em tempo real com fluxo de energia e de informações bidirecionais entre o sistema de fornecimento de energia e o cliente final [4], que são funções importantes para o GLD. As vantagens das Redes Elétricas Inteligentes são diversas, começando pelo combate à ineficiência energética, uma vez que as concessionárias terão um maior controle sobre os “caminhos” da eletricidade até a casa do cliente [5]. Além disso, como o Smart Grid possibilita monitoramento em tempo real, no qual se permite que a distribuidora saiba remotamente, a quantidade da energia que está sendo consumida em cada domicílio, tanto a empresa fornecedora quanto os clientes terão como acompanhar de maneira mais próxima e frequente o consumo. Isso fará com que as pessoas tenham maior controle sobre seus gastos com o consumo de energia e a concessionária conheça melhor os hábitos dos seus clientes. A tecnologia também permitirá que sejam estabelecidas tarifas diferenciadas conforme o período do dia e conforme o consumo. O principal ponto de discussão sobre a instalação de Smart Grids no Brasil é que, com todas essas inovações, a implantação do serviço demanda grandes investimentos por parte das concessionárias de energia, que precisam incorporar http://www.sinonimos.com.br/traslado/ 3 sistemas de telecomunicações em suas estruturas para dar conta do desenvolvimento desses processos. Este talvez seja o principal obstáculo para a implantação do sistema no País, onde as relações custo-benefício ainda não se mostram equilibradas [5]. 1.1. Objetivo Este trabalho tem como objetivo apresentar de forma direta e concisa os principais requisitos e métodos desenvolvidos no Gerenciamento pelo Lado da Demanda (GLD) em áreas residenciais, destacando os grandes desafios para a implementação do mesmo no Brasil e as possíveis soluções para tal. 1.2. Metodologia A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa bibliográfica, visto que ela oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos problemas já conhecidos, como também possibilita explorar áreas onde os mesmos ainda não se concretizaram suficientemente. Possibilita também que um tema seja analisado sob novo enfoque ou abordagem, produzindo novas conclusões. O tema abordado foi o Gerenciamento pelo Lado da Demanda em Áreas Residenciais, e em sua pesquisa bibliográfica foram consultadas acervos da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) entre outras. Os materiais utilizados para a elaboração deste trabalho são de livre acesso, consultados por meio de livros, artigos, páginas na Internet e teses. O material bibliográfico foi primeiramente examinado com leitura dinâmica e, posteriormente, estudado detalhadamente. 4 1.3. Estrutura do Trabalho Além do presente capítulo, que mostrou um breve contexto do trabalho, principais objetivos e sua justificativa, estruturou-se o mesmo com mais cinco capítulos. No segundo capítulo, foram analisados o consumo de energia elétrica no Brasil, sua curva de carga e os esforços para manter a ponta do sistema elétrico Brasileiro em atividade. O terceiro capítulo está centrado na definição do Gerenciamento pelo Lado da Demanda e nas soluções que o GLD proporciona para atuação junto ao mercado consumidor residencial. Foram apresentadas as possibilidades e algumas experiências no Brasil de Gerenciamento pelo Lado da Demanda. Já no quarto capítulo do trabalho é definido o conceito de Smart Grid associado à noção de uma avançada infraestrutura de medição para prover o gerenciamento pelo Lado da Demanda. Finalizando, o quinto e sexto capítulos apresentam respectivamente as conclusões do trabalho e a referência bibliográfica, além de um anexo sobre aplicação de Smart Grid. 5 Capítulo 2 2. ANÁLISE DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL Este capítulo tem como finalidade, descrever e analisar o consumo de energia elétrica no Brasil e em suas diferentes regiões, tendo como foco o setor residencial, que é um dos principais contribuintes para o pico do sistema. Portanto, é fundamental conhecer diferentes usos finais nas residências, tais como aquecimento, refrigeração ou iluminação, que contribuem para a curva de carga no momento do pico, descrevendo ainda a problemática do período de ponta para o sistema elétrico. 2.1. Considerações Gerais O Gerenciamento pelo Lado da Demanda é o planejamento e a implementação, que envolve ações das concessionárias destinadas a influenciar nos consumidores de forma a produzir alterações desejadas na curva de carga [6]. Portanto para sua análise é necessário conhecer o perfil de consumo das regiões de atuação,assim sendo, nesse capítulo será analisado o consumo de energia elétrica do Brasil. O consumo de energia é um dos principais indicadores do desenvolvimento econômico e do nível de qualidade de vida de qualquer sociedade. Ele reflete tanto o ritmo de atividade dos setores industrial, comercial e de serviços, quanto a capacidade da população para adquirir bens e serviços tecnologicamente mais avançados, como automóveis (que demandam combustíveis), eletrodomésticos e eletroeletrônicos (que exigem acesso à rede elétrica e pressionam o consumo de energia elétrica) [1]. O crescimento econômico do País tem requerido um aumento na disponibilidade e fornecimento de insumos energéticos. Nesse cenário, a energia elétrica apresenta uma participação ascendente ao longo dos anos. A presença da energia elétrica nos mais diversos setores da economia fez com que a mesma adquirisse grande importância, e o seu consumo racional tornou-se crucial para manter e assegurar a oferta [7]. 6 De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética [8], o crescimento do consumo de energia elétrica na rede no ano de 2012 foi liderado pelos setores de comércio e serviços (+7,9%) e residencial (+5,0%), que juntos, somaram 185 TWh, representando cerca de 43% do total consumido. A consulta a esta edição mostra que em 2012 foram consumidos 448,1TWh através da rede de distribuição, valor 3,5% acima do consumido em 2011 e com um consumo per capita de 2.545 kWh, como mostra na Figura 1. Figura 1. Consumo de energia elétrica na rede [8] Em 2020, estima-se que o consumo de energia elétrica será 61% superior ao ano de 2010, atingindo 730TWh. A indústria nacional tem importante papel nessa expansão, sendo responsável por 138TWh dos 277TWh adicionais de consumo de eletricidade nesse período [8]. 7 2.1.1. Classificação dos consumidores No Brasil, as unidades consumidoras são classificadas em dois grupos tarifários: Grupo A (alta tensão) e Grupo B (baixa tensão). O agrupamento é definido, principalmente, em função do nível de tensão em que são atendidos e também, como consequência, em função da demanda (kW) [9]. Tabela 1. Classes de Consumidores Fonte:[9]. Nível de Tensão Tipo de Consumidor B1 Residencial B2 Rural B3 Poder Público B4 Iluminação Pública A1 Geral em 230 kV A2 Geral em 138 kV A3 Geral em 69 kV A4 Geral em 13,8 kV A classe de consumidores a ser estudada neste trabalho é a de nível de tensão B1, que segundo a ANEEL, é caracterizado por unidades consumidoras atendidas em tensão inferior a 2,3 kV, a qual corresponde a consumidores residenciais. 2.1.2. Consumo de Energia Elétrica nas Regiões do Brasil O Brasil é um país de dimensões continentais, com grandes defasagens socioeconômicas. As regiões do Brasil apresentam intensas diferenças, seja no clima, na cultura, no tipo de colonização, no desenvolvimento industrial e agropecuário, na disponibilidade de recursos minerais ou nas políticas governamentais de cada estado da federação [10]. Em razão, disso o consumo de energia elétrica se distingue em cada região do Brasil, como é mostrado na Figura 2 e na Figura 3. 8 Figura 2. Detalhamento do consumo energético nas diferentes regiões do Brasil. Fonte. [8] Figura 3 Gráfico de consumo nas regiões do Brasil em [GWh] - adaptado de [8]. 29.049 75.610 30.718 235.237 77.503 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 Consumo de Energia nas Regiões do Brasil [GWh] Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul 9 Como podemos inferir da Figura 3 a região Sudeste representa 52,5% do consumo total brasileiro, seguida da região Sul com 17,2%, da região Nordeste com 16,9%, da região Centro-Oeste com 6,9% e por último da região Norte com 6,5%. 2.2. Consumo de Energia nas Edificações Residenciais Segundo [11] atualmente o consumo energético residencial no Brasil representa cerca de 26% do total da energia elétrica consumida no país, perdendo apenas para o setor Industrial, que representa aproximadamente 43%. Dessa forma o setor residencial tem grande destaque para programas de conservação da energia e no nosso estudo especificamente de Gerenciamento pelo Lado da Demanda em áreas residenciais. O consumo residencial de energia é considerado como o consumo realizado pelos usuários em suas unidades residenciais para os fins específicos de funcionamento de seus equipamentos elétricos e para o funcionamento do domicílio como um todo, não devendo ser consideradas as atividades comerciais que alguns consumidores realizam [12]. 2.2.1. Curva de Carga de aparelhos elétricos Pelo fato do setor residencial ser um dos principais contribuintes para a ponta de carga do sistema, torna-se importante conhecer o comportamento dos diferentes aparelhos eletroeletrônicos nos usos finais das residências, tais como aquecimento, refrigeração ou iluminação, como contribuem para a curva de carga no momento do pico e também em outras horas do dia [13], como mostrado na Figura 4. 10 Figura 4 Curva de Carga de Eletrodomésticos. Fonte: [10]. 2.2.2. Participação dos Eletrodomésticos no consumo Residencial Na Figura 5 é mostrada a participação dos eletrodomésticos mais importantes no consumo médio domiciliar, em nível Brasil. Esta mostra que o chuveiro elétrico, a geladeira, o condicionamento ambiental e as lâmpadas, conferem maior peso no consumo final de energia elétrica da classe residencial. Figura 5. Participação dos eletrodomésticos no consumo residencial em nível Brasil. Fonte: [10]. 2.3. Estrutura Tarifária: Horário de Ponta e Fora de Ponta A resolução ANEEL 456/2000, depois complementada pela Resolução ANEEL 090/2001, definiu horário de ponta e fora de ponta da seguinte forma [14]: 11 Horário de Ponta (P) É o período definido pela concessionária e composto por três horas diárias consecutivas, exceção feita aos sábados, domingos, terça feira de carnaval, sexta feira da paixão, “corpus Christi”, dia de finados e os demais feriados definidos por lei federal, considerando as características do seu Sistema Elétrico. Horário Fora de Ponta (F) Período composto pelo conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta. 2.4. Curva de Carga De acordo com [15] a curva de carga é o registro horário, em um período diário, das demandas de capacidade, podendo ser, excepcionalmente para período semanal, mensal ou anual. A curva de Carga típica é mostrada na Figura 6, ela é o “somatório” das curvas de cargas típicas: residencial, comercial, industrial e de iluminação pública, que serão descritas a seguir, segundo [16]. Figura 6. Curva de Carga típica. Fonte:[17] . 12 2.4.1. Curva de Carga Residencial A curva de carga residencial tem crescimento ao longo do dia, acentuando seu crescimento a partir das 17:00 horas, visto que é o horário a partir do qual as pessoas começam a retornar para suas residências após o trabalho/escola. Seu pico (consumo máximo) ocorre por volta das 20:00 horas, período em que há maior uso dos eletrodomésticos e principalmente dos chuveiros elétricos, como mostra a Figura 7. Seu formato típico é dado apenas em dias úteis e desconsiderando finais de novelas, jogos importantes etc. Pois nesses casos há uma queda brusca de consumo no início dos mesmos e aumento na demanda de energia no intervalo da novela ou do jogo. Figura 7. Curva de Carga Residencial Típica. Fonte [17]. 2.4.2. Curva de Carga Industrial: No consumo industrial, a demanda média flutua em torno de um determinado valor no horário fora de ponta com uma acentuada queda no horário de ponta (período de maior carregamento do sistema). No período de ponta, a tarifa de energia e demanda elétrica são mais caras para os consumidores industriais, dessa forma seu consumotende a cair e volta ao término do horário de ponta, como mostrado na Figura 8. 13 Figura 8. Curva de Carga Industrial Típica. Fonte [17]. 2.4.3. Curva de Carga Comercial Para a curva de carga comercial, a demanda é bastante elevada durante o horário comercial, tendo seu pico por volta das 19h, quando todos os sistemas de iluminação desse setor estão ligados. Há um ligeiro declínio na hora do almoço, após o horário comercial, há redução da demanda, em virtude do fechamento dos estabelecimentos comerciais, como mostrado na Figura 9. Figura 9. Curva de Carga Comercial Típica. Fonte [17]. 2.4.4. Curva de Carga de Iluminação Pública Caracteriza-se por demandar energia constante durante a noite/madrugada e por não demandar energia durante o período diurno, quando há iluminação natural. A mesma é bastante influenciada pela adoção do horário de verão, visto que, se desloca o 14 momento em que a iluminação pública é acionada, estimulando a redução na demanda de energia no período de pico. Sua forma típica é mostrada na Figura 10. Figura 10. Curva de Carga de Iluminação Pública Típica. Adaptado de [17]. 2.5. O Problema do Período de Ponta O sistema elétrico é projetado para o atendimento de uma dada potência, no caso a ponta. Desta forma, paga-se um alto preço, pela expansão do sistema elétrico para a utilização de energia elétrica por um curto tempo. Durante todo o tempo do período fora de ponta, uma fração do investimento feito satisfaria as necessidades dos consumidores. Consequentemente, subtrair consumo de energia da ponta significa uma melhor utilização das instalações e o adiamento de novos investimentos, problemas sociais e ambientais, revertendo em menores custos de energia para o consumidor [18]. 2.6. Conclusão Neste capítulo foi traçado o perfil de consumo de energia elétrica do Brasil, com foco no setor residencial, mostrando a participação dos eletrodomésticos no consumo de energia, a curva de carga de cada segmento e a problemática do período de ponta. Foi possível observar que o consumo de energia elétrica brasileiro não é uniforme, concentrado principalmente na região Sudeste, representando 52,5% do consumo total, os outros 47,5% estão distribuídos, de maneira diferenciada, pelas quatro 15 regiões restantes. Essa discrepância está associada a uma série de questões históricas, incluindo o grau de urbanização, o desenvolvimento industrial e as políticas governamentais de cada estado da federação. No que diz respeito aos eletrodomésticos, aqueles que conferem maior peso no consumo final de energia elétrica da classe residencial são o chuveiro elétrico, a geladeira e aparelhos de condicionamento ambiental. Desse modo, o Sudeste é a região que mais contribui para o pico da curva de carga entre o horário de 18h às 21h e os eletrodomésticos que mais contribuem no consumo médio domiciliar são, o chuveiro elétrico, a geladeira e aparelhos de condicionamento ambiental. Tais informações são de extrema importância para a aplicação do GLD no Brasil, consequentemente para o atual trabalho, na medida em que, o princípio básico do GLD é deslocar a demanda dos horários de pico para os horários fora de pico, portanto é necessário conhecer o perfil de consumo das regiões de atuação. 16 Capítulo 3 3. GERENCIAMENTO PELO LADO DA DEMANDA EM ÁREAS RESIDENCIAIS Nesse capitulo será apresentada a conceituação de Gerenciamento pelo Lado da Demanda com foco para aplicação em consumidores residenciais e as ferramentas necessárias para a compreensão e análise deste. Analisa-se ainda, neste capítulo, o objetivo de programas de GLD, os tipos, seus impactos sobre a sociedade e sobre os consumidores residenciais, os critérios analisados, as estratégias para moldar a curva de carga e a atual à estrutura tarifária Brasileira. Também serão apresentados, de forma crítica, os principais mecanismos de promoção de eficiência energética e as possíveis ações de GLD no Brasil, destacando-se os grandes desafios para a implantação deste no país. 3.1. Definição de Gerenciamento pelo Lado da Demanda O Gerenciamento pelo Lado da Demanda, GLD (DSM, do inglês Demand Side Management) é o planejamento e a implementação, que envolvem ações das concessionárias destinadas a influenciar os consumidores de forma a produzir alterações desejadas na curva de carga. Estas atividades englobam: Gerenciamento de carga, conservação estratégica, eletrificação, geração de energia pelo lado do consumidor, substituição de equipamentos obsoletos por mais eficientes e estratégias para o crescimento da participação no mercado. Para que a capacidade da implementação seja bem sucedida, deve haver um equilíbrio das necessidades de serviços públicos junto ao cliente [6]. O GLD permite um uso mais eficaz dos recursos existentes, incluindo os ambientais, tornando possível postergar ou até mesmo cancelar a construção de novas usinas geradoras e as correspondentes instalações de transmissão e distribuição para escoamento da energia elétrica, possibilitando assim uma significativa economia [19]. 17 Em razão disso, os programas de Gerenciamento pelo Lado da Demanda assumem uma importância adicional para o Setor Elétrico Brasileiro, visto que são uma reação ao impasse: mercado consumidor que se expande sem que haja recursos disponíveis para novos investimentos a médio e curto prazo [20]. Dessa forma, programas de GLD trazem benefícios para a sociedade em geral: as concessionárias de energia elétrica têm mais uma alternativa no planejamento da matriz energética, os consumidores têm suas despesas com energia reduzidas e a sociedade usufrui com a melhor utilização dos recursos disponíveis, acarretando em menos agressão ao meio ambiente. 3.2. Objetivos do GLD Segundo [21], os objetivos do Gerenciamento pelo Lado da Demanda são: Melhorar a confiabilidade da rede; Reduzir picos de consumo e a demanda total de energia; Deslocamento de carga quando o sistema estiver operando próximo à capacidade de geração. Aumentar a eficiência energética melhorando o balanceamento da rede; Gerenciar os gastos com energia; Proporcionar um maior controle dos equipamentos; Favorecer a geração distribuída; Aumentar a utilização e o fator de carga das unidades geradoras; 3.3. Tipos de programas de GLD Os programas de Gerenciamento pelo Lado da Demanda podem ser divididos em duas categorias; o GLD direto, no qual a concessionária determina as cargas a serem desconectadas ou reduzidas, conforme condições especificadas em um contrato de interrupção com o consumidor, ou ainda o GLD indireto onde o próprio consumidor 18 remaneja sua demanda em resposta a sinais de preço gerados pela concessionária [22]. Segue abaixo a descrição de cada um. 3.3.1. O GLD Indireto; São programas que não permitem o controle direto da carga. Esses programas provocam alterações na curva de carga mediante mudanças induzidas nos hábitos de consumo de energia elétrica [23], como exemplo, as tarifas variáveis no tempo, incentivando os clientes a consumirem em horários fora de ponta; programas de educação do consumidor, procurando ensinar o cliente como conservar a energia; programas envolvendo publicidade e marketing para estimular os consumidores a conservar a energia e programas governamentais dando descontos em aparelhos modernos, mais eficientes que consomem menos energia elétrica. 3.3.2. O GLD direto permitindo o controle direto da carga; O controle de carga direto, DLC (do ingles, Direct load control), permite que a concessionária controle remotamente o funcionamento de determinados aparelhos, podendo ligar/desligar aparelhos específicos, fora e durante os períodos de pico de demanda e eventos críticos. O DLC é baseado em um acordo facultativo entre a concessionária e o cliente, onde este queparticipa do programa recebe uma compensação na conta de energia elétrica, ou seja, a conta de luz é reduzida [24]. As aplicações mais comuns são em ar condicionado, aquecedores de água e bombas de piscina, classificados como aparelhos “interruptíveis”, podendo ser pausado e religado. Equipamentos “não-interruptíveis”, como máquinas de lavar e máquinas de lavar louça, precisam ser operados continuamente e não se aplicam a uma política baseada em DLC [25]. No Brasil ainda não há programas de controle direto de carga, e ainda são poucos significativos os esforços para sua implantação. Já nos Estados Unidos, a 19 implantação de DLC, em 2012, foi a estratégia com maior impacto na redução de picos de demanda de consumo, reafirmando sua eficácia [26]. 3.4. Estratégias para moldar a curva de carga O GLD proporciona para atuação junto ao mercado consumidor uma operação mais segura e econômica, uma vez que reduzem a demanda máxima e as taxas de retomada de carga durante o dia [3]. Nesse cenário, existem seis estratégias para moldar a curva de carga, mostradas na Figura 11 e descritas abaixo: conservação estratégica, crescimento estratégico da carga, curva de carga flexível, deslocamento de carga, preenchimento de vales e redução do pico [6]. Figura 11: Possibilidades do GLD: Fonte [6]. i) Conservação estratégica (strategic conservation): As concessionárias adotam programas para incentivar o uso eficiente de energia elétrica, a fim de reduzir a demanda não somente no horário de ponta, mas durante as 20 outras horas do dia. Isso pode reduzir o custo médio de combustível e postergar a necessidade para adição futura de capacidade de transmissão, geração e distribuição. ii) Crescimento estratégico da carga (strategic load growth): É proporcionado por meio do incentivo a adoção de tecnologias baseadas em eletricidade para substituir equipamentos ineficientes baseados em combustíveis fósseis ou para melhorar a produtividade do consumidor e sua qualidade de vida. Isso reduz o custo médio de serviço ao distribuir custos fixos sobre uma base maior de vendas de energia, além de beneficiar todos os consumidores. iii) Curva de carga flexível (flexible load shape): Conceito relacionado à confiabilidade. No planejamento futuro, que deve englobar o estudo da oferta e da demanda, a carga poderá ser flexível se forem dadas aos consumidores opções de qualidade do serviço, que variam conforme o preço. Este programa envolve carga não interrompível, gerenciamento integrado da energia e aparelhos individuais de controle. iv) Deslocamento da carga (load shifting): Esta técnica de gerenciamento de carga incentiva os consumidores a deslocarem o consumo de energia elétrica do horário de pico para o horário fora do pico. Desse modo, essa técnica combina os efeitos do corte de ponta e do preenchimento de vale. É feito por meio de incentivos financeiros, impondo tarifas elevadas no horário de pico, com tarifas mais baixas nos momento de menor carregamento do sistema, impulsionando assim a transferência de carga para esses horários. v) Preenchimento de vales (valley filling): Este método incentiva o cliente a consumir mais energia elétrica durante períodos em que a concessionária gera energia a custos mais baixos. Sua consequência pode ser a redução dos custos de serviço por distribuir os custos fixos de capacidade 21 sobre uma base maior de venda de energia e também por diminuir custos médios de combustível. vi) Rebaixamento de pico (peak clipping): Uma das formas mais clássicas de gerenciamento de carga. Ele é definido como a redução da carga de ponta, conseguido geralmente através do controle direto de carga (desligamento de aparelhos através das concessionárias) e pela tarifação horária. Este método pode reduzir os custos da concessionária, visto que a necessidade de operar suas unidades de geração mais caras é reduzida e também por postergar investimentos na expansão da capacidade de geração, transmissão e distribuição. 3.5. Impactos do GLD sobre a Sociedade e os Consumidores Residenciais Segundo [23] os programas de GLD geralmente afetam o uso da demanda e energia dos consumidores com auxílio de quatro recursos: Promovendo alterações nas instalações e nos aparelhos de energia elétrica; Incentivar o consumidor a reformar instalações elétricas antigas e comprar aparelhos mais modernos e eficientes. Alterando o modo de uso dos aparelhos existentes; Através de programas de controle direto de determinadas cargas por conta da concessionária, em que tais cargas são desligadas, automaticamente, a intervalos regulares durante o dia, resultando descontos na conta de luz do consumidor, ou ainda, modificações sugeridas nas residências dos usuários, propondo isolamentos adicionais ou janelas mais apropriadas à conservação ambiental. Mudando os hábitos dos consumidores em relação à utilização da energia elétrica; Mudanças nos hábitos dos consumidores, por meio de programas educativos e campanhas de marketing. 22 Tarifas variáveis no tempo; O uso de tarifas variando ao longo do dia procura sinalizar aos consumidores que o custo de produção da energia não é uniforme, existindo períodos no qual ele é mais caro (horário de ponta) e horas no qual é mais barato (fora de ponta). Desse modo, esta estrutura tarifária procura incentivar o cliente a consumir mais energia elétrica fora do horário de ponta, em que a tarifa é mais barata. 3.6. Critérios analisados pelos consumidores na implementação de programas de GLD Os consumidores julgam os seguintes itens ao analisarem os possíveis impactos de programas de GLD que lhes são ofertados [23]; Incentivos oferecidos para sua adesão; Para aderir ao programa os consumidores precisam de incentivos que venham de encontro aos seus interesses. Como por exemplo, a redução do custo tarifário ao adotar programas de controle direto de cargas. O grau de severidade dos programas; Nesse caso o programa é avaliado de acordo com sua severidade, isto é, não será aceito pelos clientes se levar a cortes extremos de eletricidade, como exemplo: em dias de verão, aparelhos de ar condicionado serem desligados por várias horas. As modificações no estilo de vida que podem ser ocasionadas pelo programa; Se o programa afetar demasiadamente o estilo de vida dos consumidores, ele pode não ser aceito. Considerações estéticas; Procura-se verificar se os equipamentos a serem instalados, como equipamentos para controle direto da carga, alterarão a estética e a arquitetura das residências. 23 Serviços oferecidos aos consumidores; Verifica-se o nível de comunicação com a concessionária, o padrão e a qualidade das instalações, dos equipamentos, e do atendimento em caso de manutenção. 3.7. Gerenciamento pelo lado da demanda e tarifação dinâmica Uma das maiores preocupações do setor regulado de energia elétrica é a busca por padrões de consumo que sejam capazes de administrar, de forma consciente e no curto prazo, os picos de consumo, ao mesmo tempo em que, sem reduzir o bem-estar propiciado pelo uso de energia, reduzam a demanda futura de longo prazo. O instrumento regulatório à disposição para balancear esses objetivos é a tarifa, que incentivadas são provavelmente o instrumento mais relevante em muitos programas de GLD. O gerenciamento das tarifas pelo lado da demanda é uma das ferramentas que pode promover um uso mais racional dos recursos [27]. Recentemente a estrutura tarifária brasileira sofreu intensas mudanças, a fim de alcançar tais objetivos. A seguir será descrita a estrutura tarifária brasileira atual, destacando a tarifa branca, que demonstra tal mudança. 3.8. Estrutura Tarifária Estrutura Tarifária é a forma como os diversos tipos de consumidores pagam pelo uso da energia elétrica, divididos por subgrupos e modalidades detarifas de acordo com horas de uso, nível de tensão e localização [28]. É quase impossível tratar do tema Gerenciamento pelo Lado da Demanda sem falar sobre Tarifas. Em praticamente todos os programas, uma modalidade especial é criada ou algum tipo de incentivo é dado aos participantes. 24 3.8.1. Modalidades Tarifárias Como o atual trabalho se restringe para áreas residenciais, focaremos na estrutura tarifária para o grupo B1. Sobre as modalidades tarifárias para o grupo B, a proposta consiste de duas modalidades tarifárias, descritas segundo a [29]: Modalidade Tarifa convencional: Monômia 1 , com um preço de consumo de energia em R$/MWh sem distinção horária. A modalidade convencional já vem sendo aplicada. Modalidade Tarifa branca: Monômia, com três preços de consumo de energia em R$/MWh, de acordo com os postos tarifários. 3.8.1.1.Tarifa Branca Segundo a ANEEL, ainda em 2014 os consumidores terão acesso à Tarifa Branca. Ela é uma nova opção de tarifa que sinaliza aos consumidores a variação do valor da energia conforme o dia e o horário do consumo. A mesma será oferecida para as instalações em baixa tensão (127, 220, 380 ou 440 Volts). A proposta da tarifa branca é incentivar os clientes a deslocarem o consumo dos períodos de ponta para aqueles em que a distribuição de energia elétrica tem capacidade ociosa, nos quais a tarifa é mais barata, reduzindo o valor da fatura no fim do mês e a necessidade de ampliação da rede da distribuidora para atendimento do horário de pico. A tarifa branca será facultativa, e caso o cliente não pretenda modificar seus hábitos de consumo, a tarifa convencional continuará disponível [30]. A Tarifa Branca funcionará da seguinte forma: Nos dias úteis, o valor Tarifa Branca varia em três horários: ponta, intermediário e fora de ponta. Na ponta e no 1 Conforme estabelecido na resolução 414/2010 da ANEEL tarifa Monômia é a tarifa de fornecimento de energia elétrica constituída por preços aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa e consumidor residencial é definido como unidade consumidora com fim residencial e baixa renda, com regulamento específico. 25 intermediário (das 17h às 18h e das 22h às 23h), a energia é mais cara. Fora de ponta, é mais barata. Nos finais de semana e feriados nacionais, o valor é sempre fora de ponta como é mostrado na Figura 12. Figura 12. Comparativo entre a Tarifa Branca e a Tarifa Convencional. Fonte:[30]. De acordo com a ANEEL é importante que o consumidor, antes de optar pela Tarifa Branca, conheça seu perfil de consumo e a relação entre a Tarifa Branca e a Tarifa Convencional. A Tarifa Branca não é recomendada se o consumo for maior nos períodos de ponta e intermediário e não houver possibilidade de transferência do uso dessa energia elétrica para o período fora de ponta. Quanto mais o consumidor deslocar seu consumo para o período fora de ponta e quanto maior for a diferença entre essas duas Tarifas, maiores são os benefícios da Tarifa Branca. Segundo a ANEEL foram propostas as seguintes regras na audiência Pública nº 43/2013: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/dspListaDetalhe.cfm?attAnoAud=2013&attIdeFasAud=764&id_area=13&attAnoFasAud=2013 http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/dspListaDetalhe.cfm?attAnoAud=2013&attIdeFasAud=764&id_area=13&attAnoFasAud=2013 26 A adesão será uma opção do consumidor, e a solicitação deverá ser atendida pela distribuidora em até 30 dias; A opção pela modalidade tarifária Branca poderá ser exercida por todos os titulares de unidades atendidas em baixa tensão, exceto aquelas classificadas como iluminação pública ou que façam uso do sistema de pré-pagamento; A adesão de uma nova ligação, no caso de o consumidor querer iniciar o fornecimento com aplicação da modalidade tarifária Branca, deve ser atendida pela distribuidora dentro dos prazos definidos pela Resolução Normativa nº 414/2010 (máximo de 5 dias em área urbana e 10 dias em área rural); O consumidor poderá retornar à Tarifa Convencional a qualquer tempo, devendo ser atendido pela distribuidora em até 30 dias. Na hipótese desse retorno à Convencional, uma nova adesão à Tarifa Branca só seria possível após o decurso de 180 dias; Os custos relativos ao medidor e à sua instalação são de responsabilidade da distribuidora; eventuais custos para alterações no padrão de entrada da unidade consumidora competem ao solicitante; O consumidor poderá solicitar um medidor com funcionalidades adicionais, devendo porém arcar com a diferença de preço desse equipamento em relação ao medidor normal; A fatura deverá discriminar os valores de consumo em cada período (ponta, fora de ponta e intermediário); Os descontos da Tarifa Social devem ser concedidos de forma progressiva, observados os respectivos períodos em que tenha ocorrido o consumo e aplicados os descontos da faixa de consumo seguinte somente quando ultrapassado o limite máximo de consumo da faixa anterior. 27 3.8.2. Bandeira Tarifária Além da Tarifa Branca, o sistema tarifário brasileiro sofrerá outra mudança, o sistema de Bandeiras Tarifárias, que será válida a partir de 2015. O sistema possui três bandeiras: verde, amarela e vermelha e segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as bandeiras funcionam como um “semáforo de trânsito”, indicando se a energia custará mais ou menos, em função das condições de geração de eletricidade e se refletirão em diferença de tarifa para o consumidor. Bandeira verde: condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre nenhum acréscimo; Bandeira amarela: Indica um sinal de atenção, pois as condições de geração estão menos favoráveis. A tarifa sofre acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos; Bandeira vermelha: Indica que a situação anterior está se agravando, isto é, condições mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 3,00 para cada 100 kWh consumidos. As Bandeiras Tarifárias não representaram um custo a mais na conta de luz, e sim, são apenas uma forma diferente de indicar um custo que consta na conta, que geralmente passa despercebido pelos consumidores. Atualmente, os custos com compra de energia pelas distribuidoras são incluídos no cálculo de reajuste das tarifas dessas distribuidoras e são repassados aos consumidores um ano depois de ocorridos, quando a tarifa reajustada passa a valer. Com as bandeiras, haverá a sinalização mensal do custo de geração da energia elétrica que será cobrada do consumidor, com acréscimo das bandeiras amarela e vermelha [31]. Essa sinalização concede ao consumidor a oportunidade de adaptar seu consumo de energia elétrica, gerenciando melhor o mesmo e reduzindo o valor da conta de luz. O 28 público alvo das Bandeiras Tarifárias serão todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional (SIN), de alta e baixa tensão. 3.9. Eficiência Energética A eficiência energética é uma importante ferramenta no atendimento à demanda, ela entrou em pauta mundial a partir de 1970 com o choque do petróleo, no qual o uso das reservas de recursos fósseis obteve um aumento expressivo em seu custo. Como resultado constatou-se que dado serviço poderia ser realizado com um gasto de energia reduzido e, portanto com reduzidos impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos. Hábitos de consumo e aparelhos começaram a ser considerados em termos da conservação da energia, tendo sido apresentado que diversas iniciativas que resultam em maior eficiência energética são economicamente viáveis, isto é, o custo da implantação de tais iniciativas é menor do que o custo de produzir a energia cujo consumo é poupado. Recentemente, a eficiência energética ganhou nova motivação, a preocupação com a questão das mudanças climáticasdecorrentes do aquecimento global do planeta, no qual à produção e o consumo de energia tem uma significativa participação. Desse modo, é justificado destacar a eficiência energética quando se analisa a oferta e o consumo de energia. Essa preocupação se fundamenta mesmo em um país como o Brasil, em que apresenta uma matriz energética em que sua maioria está associada a energias renováveis [32]. Além disso, a eficiência no uso da energia é uma importante ferramenta no atendimento da demanda, contribuindo para a segurança energética, para a modicidade tarifária, para a competitividade da economia e para a redução das emissões de gases de efeito estufa [32]. 29 3.9.1. Principais Mecanismos de Promoção à Eficiência energética e Conservação no Brasil. Diversas iniciativas de eficiência no uso da energia e conservação de energia vêm sendo empreendidas há mais de 20 anos no Brasil. Seguem abaixo os principais e em seguida serão abordados com mais detalhes. O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL): Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997; Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000; O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE); O Programa de apoio a Projetos de Eficiência Energética (PROESCO): Lei de nº 10.295/2001, de 17 de outubro de 2001(regulamentada pelo Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro de 2001); Política de banimento gradativo das lâmpadas incandescentes por faixa de potência por meio da Portaria Interministerial MME/MCTI e MDIC, nº 1.007/2010. 3.9.1.1.O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL). O PROCEL foi criado em 1985, coordenado pelo MME e executado pela Eletrobrás e tem por objetivo promover o uso eficiente da energia elétrica e combater o seu desperdício. O mesmo é constituído por diversos subprogramas, dentre os quais se destacam ações nas áreas de iluminação pública, industrial, saneamento, educação, edificações, prédios públicos, gestão energética municipal, informações, desenvolvimento tecnológico e divulgação, são eles: Procel GEM - Gestão Energética Municipal. Procel Sanear - Eficiência Energética no Saneamento Ambiental. Procel Educação - Informação e Cidadania. Procel Indústria - Eficiência Energética Industrial. 30 Procel Edifica - Eficiência Energética em Edificações. Procel EPP - Eficiência Energética nos Prédios Públicos. Procel Reluz - Eficiência Energética na Iluminação Pública e Sinalização Semafórica. Procel Selo - Eficiência Energética em Equipamentos. Procel Info - Centro Brasileiro de Informação de Eficiência Energética Segundo [33] estima-se que em 2012 o Procel tenha alcançado um resultado de economia de energia de aproximadamente 9 bilhões de kWh. Esse resultado equivale aproximadamente a 2 % do consumo total de energia elétrica no Brasil no ano de 2012. Além disso, estima-se que o Procel foi responsável por uma redução de demanda na ponta de 3.458 MW. Os principais resultados energéticos alcançados pelo Procel são apresentados na Tabela 2, e na Tabela 3 mostra alguns indicadores da economia de energia obtida no ano. Tabela 2. Principais resultados energéticos das ações da Eletrobrás Procel em 2012 - Adaptado de [33]. RESULTADO Total Energia Economizada (Bilhões de kWh) 9,097 Redução de Demanda de Ponta (MW) 3.458 Usina Equivalente (MW)³ 2.182 Emissão de CO2 Equivalente Evitada (mil tCO2e) 624 Tabela 3. Indicadores de resultados das ações da Eletrobrás Procel em 2012 - Adaptado de [33]. INDICADOR Total Economia em relação ao consumo total de energia elétrica no Brasil (%) 2,03 Economia em relação ao consumo residencial de energia elétrica no Brasil (%) 7,74 31 Número de residências que poderiam ser atendidas com a economia de energia, durante 1 ano (milhões) 4.8 De acordo com [33] os resultados energéticos alcançados pelo Programa se devem principalmente ao Selo Procel. O mesmo foi criado através do Decreto Presidencial de 8 de Dezembro de 1993 e caracteriza-se como um dos subprogramas do Procel. O selo Procel tem como objetivo orientar o consumidor, indicando os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética, promovendo dessa forma, a redução do consumo e consequentemente uma maior economia na conta de energia elétrica. Para que um aparelho contenha o Selo Procel, o qual é mostrado na Figura 13, é necessário ser submetido a testes em laboratórios que confirme sua atuação em eficiência. Figura 13. Selo Procel [2] No decorrer dos anos, o Selo vem colaborando para um aumento dos índices de eficiência energética de diversos equipamentos, estimulando a fabricação e a comercialização de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente. Além de promover uma redução significativa do consumo de energia elétrica no país [33]. 32 3.9.1.2. Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997. A Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, restabelece os princípios e objetivos da “Política Energética Nacional” que define, em seu artigo 1º, o aproveitamento racional das fontes de energia, os quais visarão aos seguintes objetivos: proteção ao meio ambiente, promoção da conservação de energia, utilização de fontes alternativas de energia, dentre outros assuntos. Esta lei instituiu o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE. Entre outras competências, o CNPE deve “Promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos do País”. Para o exercício de suas atribuições, o “CNPE contará com o apoio técnico dos órgãos reguladores do setor energético”, onde vemos uma premissa para a atuação de Agências Reguladoras como ANEEL(Agência Nacional de Energia Elétrica) e ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) [34]. 3.9.1.3. Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000. A Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000, estabelece a aplicação do montante de 0,5% da receita operacional líquida – ROL – das concessionárias distribuidoras de energia elétrica em projetos de eficiência energética voltados ao uso final. A mesma também estipula os percentuais mínimos para investimento em pesquisa e desenvolvimento do setor pelas concessionárias do setor de energia elétrica. Os investimentos são aplicados em programas das próprias empresas, ou através do FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, além de parcela destinada ao MME para estudos e pesquisas de planejamento da expansão do sistema energético, assim como os de viabilidade indispensável ao aproveitamento dos potenciais hidrelétricos e de inventário. Em 28 de março de 2007, a Lei nº 11.465 alterou os incisos I e III do caput do art. 1º da Lei 9.991, de 24 de julho de 2000, prorrogando, até 31 de dezembro de 2010, 33 a obrigação de as concessionárias e permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica aplicarem, no mínimo 0,50% (cinquenta centésimos por cento) de sua receita operacional líquida em programas de eficiência energética no uso final. Segundo [35] a finalidade desses programas é evidenciar a relevância de ações de eficiência energética e de combate ao desperdício de energia elétrica, maximizando os benefícios da energia economizada e da demanda evitada. Busca-se, assim, o desenvolvimento de novas tecnologias e a inserção de hábitos racionais de uso da energia elétrica na sociedade. 3.9.1.4. O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Inmetro, visa prover informações aos consumidores, através de etiquetas informativas, com o objetivo de alertar o consumidor quanto à eficiência energética de alguns dos principais eletrodomésticos nacionais. Também, permite que os clientes avaliem e administrem melhor o consumo de energia dos equipamentos eletrodomésticos, selecionando produtos de maior eficiência emrelação ao consumo, possibilitando economia nos custos de energia. De acordo com [36] de forma geral, o PBE funciona da seguinte forma: os produtos são ensaiados em laboratórios e recebem etiquetas com faixas colorida. No caso da eficiência energética, a classificação vai da mais eficiente (A) à menos eficiente (de C até G, varia com o produto), onde entende-se que os mais eficientes utilizam melhor a energia, têm menor impacto ambiental e custam menos para funcionar, pesando menos no bolso. A etiqueta mostrada na Figura 14 [36] é um exemplo utilizado em refrigeradores. Cada linha de eletrodoméstico possui sua própria etiqueta, apresentando as características técnicas de cada produto. 34 Figura 14. Exemplo de Etiqueta utilizada em refrigeradores. Fonte:[36] Dessa forma, o programa incentiva a melhoria contínua do desempenho dos ele- trodomésticos, buscando otimizar o processo de qualidade dos mesmos. Isso estimula a competitividade do mercado, visto que a tendência é que os fabricantes procurem atingir níveis de desempenho melhores em relação à avaliação anterior, fabricando produtos cada vez mais eficientes. 3.9.1.5.O Programa de apoio a Projetos de Eficiência Energética (PROESCO) A necessidade crescente de zelar pelo Meio Ambiente e o amadurecimento do setor de eficiência energética brasileiro mostrou que era necessário criar mecanismos que facilitassem o financiamento dos projetos e contratos de performance elaborados pelas Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ESCOS) [37]. Dentro deste cenário, em 19 de Maio de 2006, foi criado pelo BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, MME – Ministério das Minas e 35 Energia com auxílio técnico da ABESCO: o PROESCO, programa destinado a financiar projetos de eficiência energética. O Programa busca auxiliar a execução de projetos que comprovadamente auxiliaram para a economia de energia, os principais focos de ação são em iluminação, otimização de processos, ar comprimido e motores. A área de financiamento concebe também os usuários finais de energia, com interesse de financiar a compra de equipamentos mais eficientes [35]. 3.9.1.6. Lei de nº 10.295/2001, de 17 de outubro de 2001(regulamentada pelo Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro de 2001). Conhecida como a “Lei de Eficiência Energética”, a Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001, (regulamentada pelo Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro de 2001), estabelece o procedimento para a adoção de “Os níveis máximos de consumo de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no País, bem como as edificações construídas, serão estabelecidos com base em indicadores técnicos e regulamentação específica a ser fixada nos termos deste Decreto, sob a coordenação do Ministério de Minas e Energia” [38]. A Lei prevê, ainda, a evolução dos níveis por meio de programa de metas, específico para cada equipamento. São estabelecidos prazos diferenciais para fabricação e importação, e para comercialização. Já foram regulamentados os índices mínimos para motores elétricos trifásicos, lâmpadas fluorescentes compactas, refrigeradores e congeladores, condicionadores de ar, fogões e fornos a gás, e aquecedores de água a gás [38]. De acordo com [35], a implementação da Lei de Eficiência Energética tem como objetivo promover transformações estruturais no mercado dos equipamentos consumidores de energia. Disponibilizando com ela, para o mercado consumidor, 36 produtos com inovações tecnológicas induzidas pela eficiência energética. O estabelecimento dos níveis máximos de consumo específico de energia e a evolução dos Programas de Metas possibilitam, na prática, o desenvolvimento e implementação de tais avanços. A mesma também beneficia diretamente o meio ambiente, visto que, pela adoção de equipamentos eficientes livres de gases que agridem a camada de ozônio, ou com a redução da emissão de gases de efeito estufa. Por último, devemos levar em consideração que a economia de energia proporcionada pela implementação da Lei evitará significativos investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia, no horizonte de longo prazo. 3.9.1.7. Política de banimento gradativo das lâmpadas incandescentes por faixa de potência por meio da Portaria Interministerial MME/MCTI e MDIC, nº 1.007/2010. A substituição das lâmpadas incandescentes por outros modelos será gradativa até 2016, quando elas devem ser retiradas do mercado, segundo a Portaria Interministerial MME/MCTI e MDIC, nº 1.007/2010. As lâmpadas Incandescentes se caracterizam por converter a energia em luz e calor, o que faz com que consuma mais que as fluorescentes. Segundo [39], desde o dia 30 de junho de 2012, os modelos de lâmpadas incandescentes de 150W e 200W não podem mais ser produzidas ou importadas. Em julho de 2013 foi a vez das lâmpadas de 100W e 75W e no ano seguinte deixam de ser comercializadas as de 60W. As últimas a deixarem o mercado serão as de 40W e 25W. Segundo a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, uma lâmpada incandescente de 60W ligada 4 horas por dia, pode resultar em 7,2 kWh de consumo no final do mês. Na comparação, uma lâmpada fluorescente compacta equivalente proporciona uma economia de 75%, ou seja, este resultado pode cair para 37 1,8 kWh/mês. Os resultados podem variar por conta da frequência de utilização e a potência de cada tipo de lâmpada. 3.9.2. Críticas e Considerações Apesar do êxito e da importância de muitas dessas ações dos programas de eficiência energética no Brasil, existe ainda um grande potencial de melhorias do uso final de eletricidade. De acordo com Sergio Bajay, pesquisador da Unicamp, o Brasil avançou pouco em termos de eficiência energética em relação a outros países. De acordo com o especialista, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) promove acordos com federações de indústrias, mas não existem metas pré-estabelecidas nem mecanismos de medição e verificação, restringindo e dificultando a sua ação no país [40]. É importante também que o Brasil caminhe no sentido de promover a independência entre a coordenação do Procel e as empresas energéticas, devido ao conflito entre o objetivo principal destas empresas (auferir o lucro) e o esforço nacional para economia de energia. Além disso, as concessionárias tem a visão de supridor, não a de consumidor, o que dificulta um posicionamento neutro [41]. 3.10. Ações de GLD no Brasil A maioria das ações de GLD no Brasil estão veiculadas com os programas conservação e eficiência energética citados acima, principalmente com o PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Recentemente alguns projetos pilotos de Redes Inteligentes com foco em GLD estão sendo implantados em diversas regiões do Brasil, são eles; Arquipélago de Fernando de Noronha (CELPE) - Ilha de Fernando de Noronha/PE, Cidade Inteligente Búzios (Ampla/Endesa Brasil) - Cidade de Búzios/RJ, Smart Grid Light (Light) - 38 Cidade do Rio de Janeiro/RJ, Smart Grid (AES Eletropaulo) - São Paulo/SP, InovCity (EDP Bandeirantes) - Cidade Aparecida/SP, Fazenda Rio Grande - Curitiba (Copel)/PR. Estes serão detalhados no capítulo seguinte. Destaca-se ainda, como impulsionador para o GLD no Brasil, a alteração na estrutura tarifária para o consumidor residencial (B1), com a criação da modalidade de tarifa branca abordada no item 3.8.1.1, visto que a esta incentiva os clientes a consumirem em horários fora da ponta, reduzindo significativamente a curva de carga. 3.11. Desafios para a Implantação do GLD no Brasil. As ações de GLD no Brasil ainda são pouco significativas, se comparados com países mais desenvolvidos. Descreve-se alguns desafios para a implantação deste no país. 3.11.1. Falta de Informaçãodos Consumidores A sociedade brasileira tem pouco conhecimento do GLD, seus benefícios diretos, principalmente no que se refere ao consumidor final. Os consumidores, em sua grande maioria, não têm informação ou habilidade técnica suficiente para avaliar as possibilidades e as vantagens que uma dada tecnologia pode lhe proporcionar. Além disso, para a grande maioria dos consumidores é um assunto de pouca prioridade. As despesas com energia são, para a maioria dos usuários, parte pequena do orçamento de despesas e vistas como custos fixos. Há pouca difusão de conhecimento das oportunidades, poucos textos didáticos e cursos de formação que difundam os conceitos de conservação e economia de energia, inclusive na formação básica de profissionais em áreas relevantes [42]. 3.11.2. Questões sobre a aceitação do consumidor A implantação de programas de GLD quase sempre demanda uma participação efetiva do consumidor, seja pela autorização para efetuar mudanças, seja por meio de 39 uma mudança de hábitos. Conseguir a plena adesão dos consumidores nem sempre é possível, especialmente no segmento residencial, onde muitos consumidores não abrem mão de certos confortos da vida moderna [20]. 3.11.3. Restrições financeiras dos consumidores Equipamentos mais eficientes são normalmente os mais modernos, consequentemente os mais caros. Ainda que tenha consciência das vantagens econômicas de fazer o investimento inicial, o consumidor pode ter dificuldade em ter acesso a um crédito ou apenas consegui-lo a juros elevados [42]. 3.11.4. Desinteresse Governamental. Ainda há pouco envolvimento de autoridades no desenvolvimento de incentivos para propulsionar o GLD, como por exemplo, na implantação do Smart grid. Sua implantação no Brasil está se dando de forma lenta, devido a falta de incentivos do governo. Esse assunto será melhor abordado no capítulo 4. 3.12. Aplicações Residenciais de GLD Baseada em Smart Grid Além de ser o setor que mais contribui para pico da curva de demanda no Brasil, o setor residencial apresenta maiores possibilidades para gerenciamento, principalmente por ser a carga inelástica [43]. Dessa forma sistemas de gerenciamento de energia estão sendo integrados com aplicações residenciais, a fim de otimizar o consumo de energia nas casas e apoiar os usuários residenciais na modelagem da sua curva de demanda de energia, com o objetivo de economizar a energia, reduzir a conta de luz e também controlar a energia consumida por ligar/desligar os diferentes aparelhos da área residencial de acordo com exigências da rede, uma vez que os picos de demanda de energia tem impactos negativos e aumentam o custo de produção de energia [44]. 40 Diferentes sistemas de gerenciamentos de energia vêm sendo estudados e propostos, visto que permitem a comunicação bidirecional entre geradores e consumidores de energia e proporcionam aos consumidores informações sobre os seus padrões de consumo de energia e favorecendo a adotar um comportamento eficiente de energia. Um exemplo de aplicação de GLD em áreas residenciais baseada em Smart Grid encontra-se no Anexo I. Neste é apresentado segundo [44] um sistema de apoio à decisão, com base no armazenamento de energia inteligente (Unidade de Gerenciamento de Energia Local - LEMU), que é capaz de gerenciar a energia elétrica e os dispositivos domésticos inteligentes de uma casa, com o objetivo de otimizar o consumo local de energia. 3.13. Conclusão Em vista dos argumentos apresentados no atual capítulo, foi possível perceber os inúmeros benefícios que o GLD traz à sociedade em geral, na medida em que tem como objetivo reduzir a demanda máxima, proporcionando a postergação da expansão com novas usinas, redes de transmissão e distribuição de energia. Deste modo, colabora com uma operação mais segura e econômica, além de ser um instrumento eficaz contra o uso ineficiente e irracional de energia. Contudo, apesar dos inúmeros benefícios relacionados ao Gerenciamento pelo Lado da Demanda, suas ações no Brasil ainda são pouco significativas se comparados com países mais desenvolvidos, visto que, ainda há grandes desafios a serem superados. Dessa forma, para que haja um expressivo desenvolvimento do GLD no País é necessário um maior incentivo do governo, promovendo a instalação de uma Rede Inteligente sólida e uma significativa conscientização dos consumidores residenciais por meio de programas educacionais e campanhas de marketing. 41 Capitulo 4 4. REDES ELÉTRICAS INTELIGENTES As Redes Elétricas Inteligentes (REI ou Smart Grid em inglês) fornecem as ferramentas necessárias para tornar rentável e conveniente o Gerenciamento pelo Lado da Demanda, por isso é um tema de extrema importância para o atual trabalho. A expressão Smart Grid deve ser entendida mais como um conceito do que uma tecnologia ou equipamento específico [45]. Ela carrega a ideia de uma rede que utiliza avançada tecnologia digital para coordenar e monitorar o transporte de eletricidade em tempo real, com fluxo de energia e de informações bidirecionais entre o sistema de fornecimento de energia e o cliente final, o que possibilitará a implantação de estratégias de otimização e controle da rede de forma muito mais eficiente que as atualmente em uso, diminuindo o uso clandestino (popularmente chamados “gatos”). Atualmente é um tema alvo de amplo estudo e discussão no cenário mundial. Intensos investimentos estão sendo aplicados em projetos que utilizam tecnologias relacionadas às redes elétricas inteligentes, em especial para viabilizar o Gerenciamento pelo Lado da Demanda, por meio dos estudos de geração distribuída, dos medidores inteligentes e da tecnologia da informação e gerenciamento de dados. No cenário das Redes Elétricas Inteligentes os usuários residenciais são esperados a desempenhar um papel fundamental na melhoria da eficiência da rede, através da adoção de mecanismos inteligentes para o gerenciamento da demanda de energia. Com o Smart Grid uma enorme quantidade de dados é disponibilizado aos usuários, como informações em tempo real sobre o valor da energia consumida. Ao mesmo tempo, os consumidores têm a possibilidade de enviar dados para a rede, permitindo, um feedback sobre o consumo de energia de cada aparelho da casa. Todos estes dados podem ser usados por mecanismos do Gerenciamento Pelo Lado da http://www.sinonimos.com.br/traslado/ 42 Demanda, que suportam usuários residenciais na construção do seu perfil de demanda de energia. Esses mecanismos tem o objetivo de reduzir não só a conta de energia, mas também o uso eficiente da energia em si. Por meio do Smart Grid será possível ligar/desligar um dispositivo de acordo com requisitos da rede elétrica, deslocando-se o pico da energia, ou, mais genericamente, alterando o comportamento de consumo das famílias, de intermitente para programáveis, através da definição de um perfil de demanda de energia para o dia seguinte e, em seguida, respeitando-o "em tempo real" durante o dia. Esta será uma verdadeira revolução no que diz respeito à abordagem social da energia e exigirá uma integração efetiva dos componentes TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) para a rede de energia para tornar-se viável e confortável para o usuário final [46]. A implementação da REI possibilita uma gama de novos serviços, abrindo a possibilidade de novos mercados. Desta forma, a REI se apresenta como uma das fortes tendências de modernização do sistema elétrico em vários países [4]. 4.1. Características das Redes Inteligentes Segundo [47] algumas das características geralmente atribuídas à Redes Inteligentes são: Auto recuperação: capacidade de automaticamente detectar, responder, analisar e restaurar falhas na rede; Tolerância a Ataques Externos: capacidade de mitigar e resistir a ataques físicos e cyber-ataques; Fortalecimento
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