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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ECOLOGIA GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2 CONTEXTO HISTÓRICO DA ECOLOGIA .............................................................. 5 2.1 Definições modernas da ecologia ....................................................................... 6 3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA .............................................................. 9 4 DIFERENTES ECOSSISTEMAS DENTRO DA BIOSFERA ................................. 12 4.1 Níveis tróficos nos ecossistemas ...................................................................... 15 5 CONCEITOS BÁSICOS, HISTÓRICO, DOMÍNIO E RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS ................................................................................................................. 16 5.1 Biodiversidade como fenômeno histórico ......................................................... 19 5.2 Relação entre os processos ecológicos e atributos físicos e químicos do meio ambiente.................................................................................................................... 22 6 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE ECOSSISTEMAS (CADEIAS E TEIAS TRÓFICAS, FLUXO DE ENERGIA E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS) ....................... 26 6.1 Comunidades e níveis tróficos .......................................................................... 26 6.2 Modelos de transferência de energia ................................................................ 30 6.3 Ciclo de nutrientes ............................................................................................ 33 7 DESENVOLVIMENTO DE ECOSSISTEMAS: SUCESSÃO ECOLÓGICA ........... 36 7.1 Fases da sucessão ecológica ........................................................................... 37 8 INTERAÇÕES ECOLÓGICAS .............................................................................. 42 8.1 Tipos de interações entre consumidores e recursos ......................................... 42 8.2 Interações dos indivíduos da comunidade ........................................................ 44 8.3 Diferença entre mutualismo e interações não benéficas .................................. 45 2 9 USO DO HABITAT, TEORIA DE NICHO ECOLÓGICO E ASPECTOS BIOCULTURAIS HUMANOS ..................................................................................... 46 9.1 Teoria do Nicho Ecológico ................................................................................ 47 9.2 Aspectos bioculturais humanos ........................................................................ 48 9.3 Visão e atitudes do homem para com a natureza: paradigmas ........................ 49 10 FATORES ECOLÓGICOS (CLIMÁTICOS, FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA E EDÁFICOS) ............................................................................................................... 50 10.1 Principais fatores que interferem no clima ........................................................ 50 10.2 Relação entre fatores físicos e correntes de ar/ água ....................................... 53 10.3 Características da água .................................................................................... 55 10.4 Mudanças físicas do solo e a influência na distribuição de organismos ........... 56 10.4.1 Mudanças físicas no solo ............................................................................. 58 11 HOMEM E AMBIENTE: DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE 59 11.1 Extinções em massa e papel do homem .......................................................... 60 11.2 As grandes ondas de extinção provocadas pelo homem .................................. 62 11.3 Desenvolvimento Sustentável ........................................................................... 63 11.4 Estratégias utilizadas pelos ecólogos ............................................................... 65 11.5 Como promover o desenvolvimento sustentável? ............................................ 65 12 ECOLOGIA E ACONTECIMENTOS ATUAIS ................................................... 69 12.1 Gases de efeito estufa ...................................................................................... 69 12.2 Poluição ............................................................................................................ 70 12.3 Queimadas e desmatamento ............................................................................ 71 13 PRINCIPAIS QUESTÕES AMBIENTAIS NO BRASIL E NO MUNDO .............. 72 13.1 Principais causas da problemática ambiental ................................................... 74 13.2 Ações para minimizar e evitar impactos ambientais negativos ......................... 76 3 14 RECURSOS FLORESTAIS .................................................................................. 77 14.1 Ecologia da vegetação ...................................................................................... 78 14.2 Proteção florestal integrada e seus componentes ............................................ 79 14.3 Métodos de conservação da biodiversidade e dos recursos naturais em florestas......................................................................................................................80 15 ECONOMIA VERDE ............................................................................................ 83 15.1 Importância e benefícios da Economia Verde .................................................. 84 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CONTEXTO HISTÓRICO DA ECOLOGIA A ecologia é a ciência que procura entender os organismos e suas relações com o meio ambiente, as populações, as comunidades, os ecossistemas e a biosfera (LOPES, 2006). As raízes da ecologia levam aos estudos ligados à história natural, algo que, em essência, é tão antigo quanto o homem. Os egípcios e os babilônios, por exemplo, já aplicavam métodos ecológicos para combater as pragas que assolavam suas culturas de cereais no vale do rio Nilo e na Mesopotâmia (PINTO-COELHO, 2007). A palavra ecologia foi criada há mais de 100 anos pelo biólogo e naturalista alemão Ernst Heinrich Haeckel (1834-1919), que uniu dois termos gregos: oikos, que significa “casa”, e logos, que significa “estudo”. Logo, a ecologia é a ciência que estuda as “causas naturais”, ou seja, os diversos ambientes da natureza, incluindo as relações dos seres vivos entre si e com o ambiente. Em outras palavras, a ecologia examina as conexões na natureza — a casa para a vida na Terra (MILLER, 2008). Comosurgiu a ecologia? A ecologia é de interesse prático desde o início da história da humanidade. Na sociedade primitiva, todos os indivíduos necessitavam conhecer seu ambiente, ou seja, entender as forças da natureza, as plantas e os animais ao seu redor para sobreviver. De acordo com Pinto-Coelho (2000) e Begon, Townsend e Harper (2011), a ecologia foi definida pela primeira vez em 1866, por Ernst Haeckel, um entusiasta e influente discípulo de Charles Darwin. Segundo ele, a ecologia era “a ciência capaz de compreender a relação do organismo com o seu ambiente”. Fonte: https://beduka.com/ 6 Charles Darwin, nascido em 1809 na Inglaterra, foi um grande naturalista e autor da importante obra de biologia intitulada A Origem das Espécies. Em 1831, embarcou em um navio e, durante cinco anos, coletou e observou diversas formas de vida ao redor do mundo, compreendendo melhor as mudanças ocorridas nas espécies. O naturalista também coletou fósseis e fez observações geológicas que mostraram a “evolução” que as espécies sofreram ao longo do tempo (SANTOS, 2018). É importante traçar a interface de Darwin com ecologia. O darwinismo foi um dos movimentos que alavancou a relação entre organismos (principalmente competição) como a principal forma de seleção natural. Mesmo anteriormente ao nome ecologia, a ideia já existia. Darwin era apaixonado pela natureza e escreveu diversas obras sobre a seleção natural e sexual das espécies. Porém, mesmo que ainda não houvesse uma definição ou conhecimentos suficientes para ecologia, muitos pesquisadores foram construindo aos poucos sua definição. Por exemplo, Charles Darwin e Thomas mudaram a ideia platônica de que a natureza sempre esteve em “equilíbrio perfeito” (visão aristotélica) e a base para essa mudança de pensamentos está nos seguintes fatos: Muitas espécies foram extintas no decorrer dos tempos (por exemplo, os dinossauros); Existe competição causada por pressão populacional; A seleção natural e a luta pela existência são mecanismos evidenciáveis na natureza. 2.1 Definições modernas da ecologia Apesar de seu desenvolvimento rápido, a ecologia ainda pode ser considerada uma “ciência relativamente jovem”, pois ainda não existe uma fundamentação teórica totalmente rígida (PINTO-COELHO, 2000). De maneira geral, a ecologia procura responder a três perguntas básicas, sendo estas: 1. Onde estão os organismos? 2. Em quantos indivíduos ocorrem? 3. Por que eles estão lá (ou não estão)? 7 A ecologia e a economia estão relacionadas de certa forma. Porém, existem outras ciências relacionadas à ecologia, as quais são apresentadas na figura a seguir: Interação entre a ecologia e outras ciências Fonte: Pinto-Coelho (2000. p. 13) Em relação aos enfoques da ecologia moderna, de acordo com Pinto-Coelho (2000), existem duas categorias, sendo estas: 1. Enfoque descritivo (história natural): consiste em levantamentos da fauna e da flora (essa ciência também é denominada de taxonomia). Dado o seu caráter essencialmente descritivo, há riscos de que a pesquisa se feche em si mesma, tornando-se redundante, sem atingir resultados objetivos. 2. Enfoque experimental: baseia-se em testes de hipóteses por meio de uma abordagem experimental que pode conter experimentos tanto de laboratório quanto conduzidos no campo. Embora rígido sob o ponto de vista científico, tal enfoque pode, muitas vezes, levar a um excessivo distanciamento da realidade. Na área da ecologia são estudados os processos, as dinâmicas e as interações entre todos os seres vivos de um ecossistema. As interações ecológicas são caracterizadas pelo benefício de ambos os seres vivos (harmônicas) ou pelo prejuízo 8 de um deles (desarmônicas) e podem ocorrer entre seres da mesma espécie (intraespecíficas) ou espécies diferentes (interespecíficas). Relações intraespecíficas harmônicas: sociedade (organização de indivíduos da mesma espécie) e colônia (agrupamento de indivíduos da mesma espécie com graus de dependência entre si). Relações intraespecíficas desarmônicas: as quais podem ser: canibalismo e competições. São relações entre espécies iguais, porém há um prejuízo para pelo menos um dos lados. Canibalismo: um animal mata e se alimenta de outro da mesma espécie. Competição intraespecífica: indivíduos da mesma espécie competem por um ou mais recursos que, na maioria das vezes, não estão disponíveis em quantidade suficiente no ecossistema. Relações interespecíficas harmônicas: mutualismo (ou simbiose), protocooperação, inquilinismo (ou epibiose) e comensalismo. Relações interespecíficas desarmônicas: amensalismo (ou antibiose), herbivorismo, predatismo, parasitismo e esclavagismo intra e interespecífico. Ou seja, a ecologia tem como objeto de estudo as relações entre os organismos e o ambiente envolvente. É importante definir meio ambiente em ecologia. Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural e que incluem a vegetação, os animais, os micro-organismos, o solo, as rochas, a atmosfera e os fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente também compreende recursos e fenômenos físicos, como ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo. (STEIN, 2018) Fonte: https://beduka.com/ 9 A questão central em ecologia é determinar as causas da distribuição e da abundância de organismos. Isso pode ser avaliado em nível da comunidade e em nível das populações, por isso, a ecologia pode também ser dividida segundo seu objeto central de estudo: Autoecologia: ecologia de populações. Sinecologia: ecologia de comunidades. Por razões históricas e metodológicas, bem como por limitação de conhecimentos, o estudo ecológico esteve inicialmente restrito ao estudo de associações de plantas ou de animais, como segue: Ecologia vegetal: apresenta o problema da restrição a apenas um nível trófico. Ecologia animal: neste caso, os produtores autótrofos não são considerados. 3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA A ecologia busca compreender a importância de cada espécie na natureza e a necessidade de preservar os vários ambientes naturais que a Terra abriga. Barsano e Barbosa (2013) descrevem que não são apenas a fauna e a flora que merecem cuidados: há outros fatores que também devem ser observados visando ao equilíbrio da natureza, entre eles o espaço físico, a temperatura e a localização. O termo biodiversidade (ou diversidade biológica) refere-se à riqueza e à variedade de plantas e animais que são encontrados nos mais diferentes ambientes. As plantas, os animais e os microrganismos fornecem alimentos, remédios e boa parte da matéria- prima industrial consumida pelo ser humano. Para melhor compreensão do mundo vivo, a biologia, a ecologia e muitas outras áreas utilizam níveis de organização biológica em seus estudos. As estruturas biológicas organizam-se hierarquicamente desde o nível de organização mais baixo até ao nível de organização mais elevado, ou seja, da célula até a biosfera. Os níveis mais elevados (acima do nível “população”) são frequentemente referidos como organização ecológica. De acordo com Begon (2007), Townsend, Begon e Harper (2010), Cain, Bowman e Hacker (2011) e Nicolau (2017), cada nível de organização biológica é 10 composto, principalmente, pelas unidades estruturais do nível organizacional imediatamente inferior, somado a um aumento da complexidade organizacional. Um conceito básico associado à organização biológica é o da emergência, ou surgimento, de caraterísticas e funções novas nos níveis organizacionais sucessivamente mais elevados, não presentes nos níveis de organização mais baixos. Isso significa que, na hierarquia, os níveis sucessivamente mais elevados apresentam caraterísticase funções novas, que resultam do respectivo aumento de complexidade. Assim, teoricamente, uma alteração na organização da estrutura biológica de um nível inferior acarreta alterações na organização das estruturas biológicas superiores — por exemplo, alterações na estrutura de um átomo conduzem, ou podem conduzir, a alterações na organização biológica de níveis superiores, indo da célula para o organismo até a biosfera. Os níveis de organização biológica são uma das melhores formas de delimitar a ecologia moderna, segundo Odum e Barrett (2015). Hierarquia dos níveis de organização biológica. Fonte: Adaptada de Odum e Barrett (2015). Os níveis de organização biológica iniciam pela célula, a qual é definida como a unidade básica, estrutural e funcional da vida. Ela é a menor unidade dos níveis de organização biológica que se classifica como ser vivo. Alguns seres vivos são constituídos por uma única célula (seres unicelulares como bactérias, fungos, algas, 11 entre outros), e outros são constituídos por conjuntos de células (seres multicelulares, como animais, plantas e o homem), conforme ressalta Nicolau (2017). Os tecidos são formados pela união de células especializadas. Eles estão presentes em apenas alguns organismos multicelulares, como as plantas e os animais. Quando organizados e juntos, os tecidos formam os órgãos, que são formados por vários tipos de tecidos — por exemplo, o coração é formado por tecido muscular, sanguíneo e tecido nervoso (nervos). Já os sistemas, por sua vez, são formados pela união de vários órgãos que trabalham em conjunto para desempenhar determinada função corporal — por exemplo, o sistema digestivo, que é formado por vários órgãos como boca, estômago, intestinos, entre outros. O conjunto de órgãos que constituem um ser vivo é denominado organismo. As características principais dos organismos são a capacidade de extrair energia a partir de nutrientes, de se adaptar às mudanças ambientais e de se reproduzir. A ecologia se preocupa de forma ampla, mas não total, com os níveis de sistema além do organismo. O termo população, originalmente cunhado para um grupo de pessoas, foi ampliado para incluir grupos de indivíduos de qualquer tipo de organismo. A população corresponde ao conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que ocorrem juntos em uma mesma área geográfica no mesmo intervalo de tempo (LOPES, 2006; ODUM; BARRETT, 2015). Já a comunidade (também denominada biocenose ou biota), inclui todas as populações que ocupam uma certa área. Sobre a comunidade atuam vários fatores físicos, químicos e geológicos do ambiente, como a luz, a umidade, a temperatura, os nutrientes, o solo e a água. Esses são os componentes abióticos, enquanto que os seres vivos são os componentes bióticos. A comunidade e o ambiente não vivo (abiótico) funcionam juntos, que eles correspondem ao ecossistema — também denominado biocenose ou biogeocenose em algumas bibliografias. Em relação à paisagem, ela se refere à área heterogênea composta de um agregado de ecossistemas em integração, que se repetem de maneira similar por toda a sua extensão. Uma bacia hidrográfica é um bom exemplo de unidade de paisagem, porque geralmente tem limites naturais identificáveis. O bioma designa uma área geográfica onde são encontradas flora, fauna e condições climáticas especificas. Em outras palavras, biomas são um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e que 12 podem ser identificados em nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria. A biosfera se refere ao conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, a camada da Terra que contém seres vivos. Parcelas da biosfera de diferentes tamanhos podem ser consideradas ecossistemas, desde que haja intercâmbio de matéria e de energia entre os elementos abióticos e bióticos. Dessa forma, pode-se considerar ecossistema uma pequena lagoa ou um oceano inteiro. A biosfera toda pode ser vista como um grande ecossistema. Embora a distribuição dos organismos no planeta não seja homogênea, pois depende de fatores abióticos que variam de região para região, em linhas gerais, os limites da biosfera podem ser definidos com base nos regimes extremos de ocorrência de seres vivos: cerca de 7 mil metros de altitude, onde voam algumas aves migratórias, e por volta de 11 mil metros de profundidade nos oceanos, onde se encontram bactérias e alguns animais (LOPES, 2006). Fonte: https://www.capasdelatierra.org/biosfera/ 4 DIFERENTES ECOSSISTEMAS DENTRO DA BIOSFERA Antes de começarmos a falar dos diferentes ecossistemas encontrados na biosfera, é necessário entender e compreender o significado de biosfera. A biosfera é a camada do planeta Terra onde existe vida. Ela varia de 5 km a 18 km de espessura. Essa camada é comparativamente fina em relação ao diâmetro total do planeta, que tem aproximadamente 13.000 km. 13 A biosfera refere-se ao conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, a camada da Terra que contém seres vivos. Parcelas da biosfera de diferentes tamanhos podem ser considerados ecossistemas, desde que haja intercâmbio de matéria e de energia entre os elementos abióticos e bióticos. Dessa forma, pode-se considerar ecossistema uma pequena lagoa ou o oceano inteiro. A biosfera toda pode ser vista como um grande ecossistema. Embora a distribuição dos organismos no planeta não seja homogênea, pois depende de fatores abióticos que variam de região para região, em linhas gerais, os limites da biosfera podem ser definidos com base nos regimes extremos de ocorrência de seres vivos: cerca de 7 mil metros de altitude, onde voam algumas aves migratórias, e por volta de 11 mil metros de profundidade nos oceanos, onde se encontram bactérias e alguns animais (LOPES, 2006). Os ecossistemas são classificados basicamente em dois tipos: ecossistemas aquáticos e ecossistemas terrestres. Estes são muito semelhantes entre si, porém, a diferença básica é a presença ou não de água, o que faz com que abriguem formas de vidas diferentes, embora algumas espécies possam migrar de um ecossistema a outro. O ecossistema aquático tem duas subdivisões: a) Ecossistema marinho: esse ecossistema abrange os mares e os oceanos e todos os seres vivos que vivem em águas salgadas. É mais estável que o ecossistema terrestre e de água doce, já que a salinidade não sofre muitas alterações, ficando quase sempre em torno de 3,5% e as temperaturas das correntes marinhas variam pouco. A luz solar penetra até 200 metros de profundidade. Essa estabilidade favorece a vida nesse hábitat marinho. b) Ecossistema de água doce: é muito importante para a manutenção de muitos seres vivos, já que muitos animais e plantas dependem do curso dos rios para sobreviver. Nos rios vivem muitos anfíbios, peixes e uma grande variedade de animais invertebrados aquáticos. Em relação aos ecossistemas terrestres, estes são divididos em diferentes biomas. A distribuição dos biomas terrestres e seus tipos de vegetação e fauna estão estreitamente ligados ao clima, uma vez que são as diferentes condições de temperatura e incidência de luz solar nas várias regiões do planeta que facilitam ou impedem a existência de qualquer tipo de vida. Desse modo, praticamente, a cada clima corresponde um bioma, marcado por uma determinada composição faunística. 14 Em um mesmo bioma, pode-se encontrar vários ecossistemas. (LOPES, 2006). Alguns dos principais biomas terrestres encontrados são: Montanhas: nas grandes altitudes (acima de 3.000 metros), as montanhas não apresentam vegetação. A cobertura vegetal, que alcança de 2.500 a 3.000 metros, é composta de plantas orófilas (que apresentam umavegetação rasteira); os campos alpinos, com cerca de 200 espécies, se adaptaram às baixas temperaturas e à seca. Esse bioma aparece nas grandes cadeias montanhosas, como os Andes, as montanhas rochosas, os Alpes, entre outros. Florestas: podem ser divididas em quatros subgrupos: florestas tropicais, florestas temperadas, florestas coníferas e savanas. Todos esses tipos apresentam uma grande população de árvores e níveis médios a altos de chuvas. Todas são habitadas por uma grande diversidade de animais e podem ter um clima úmido ou seco. As florestas tropicais, por exemplo, têm um clima quente e com muita chuva, enquanto as florestas temperadas têm as quatro estações do ano bem definidas e a intensidade de chuvas é moderada. Pradarias: caracterizado por apresentar uma vegetação herbácea (rasteira), recebendo o nome de pradaria na América do Norte e de pampas na América do Sul (Brasil e Argentina), onde o clima é mais úmido. Estepe: esse bioma é seco, frio e com vegetação rasteira. Geralmente, as estepes estão na faixa de transição entre o deserto e a floresta, longe da influência marítima e perto de barreiras montanhosas. São encontradas principalmente nos EUA, na Mongólia, na Sibéria, no Tibete e na China. Desertos: as temperaturas do deserto apresentam grandes amplitudes térmicas, podendo atingir 50 °C durante o dia e cair para -1 °C à noite. São ecossistemas que não têm muitos habitantes e recebem menos de 25 cm de chuva durante todo ano, tornando-se o lar para plantas capazes de sobreviver nesse tipo de ambiente. Cactos são bastante encontrados nos desertos, porque são capazes de armazenar água. Os solos são sempre muito pobres, pedregosos ou arenosos. Tundras: formada há cerca de 10 mil anos, a tundra é o bioma mais jovem da Terra. Sua área de ocorrência é a região próxima ao oceano Glacial Ártico: Alasca, norte do Canadá, Groelândia, norte da Rússia e norte da Escandinávia. A tundra tem ecossistemas cuja composição botânica é influenciada pelas condições dos solos e do clima. O solo fica congelado a maior parte do ano e a estação mais quente dura 15 mais ou menos 60 dias, sendo que a temperatura mais alta não ultrapassa 10 °C. Esse é o bioma mais frio do mundo, e é basicamente um deserto gelado, pois apresenta pouca precipitação durante o ano. Savana: são formações típicas de regiões de clima tropical, com uma estação chuvosa e outra seca. Localizam-se entre o bioma da floresta tropical e o dos desertos. Existem vários tipos diferentes de savanas, sendo que as mais conhecidas são as africanas. Esse tipo de bioma apresenta dois “andares” de vegetação tropófila: um mais alto, formado por árvores, e outro mais baixo, composto de gramíneas. Em território nacional, são seis os grandes biomas brasileiros (continentais). Amazônia; Cerrado; Caatinga; Mata Atlântica; Pantanal; Pampa. Fonte: https://www12.senado.leg.br/ 4.1 Níveis tróficos nos ecossistemas Os organismos que compõem um ecossistema (tanto aquático como terrestre) podem ser agrupados de acordo com suas necessidades alimentares. (LOPES, 2006). 16 Grupos de organismos que apresentam tipo semelhante de nutrição constituem um nível trófico (do grego trofos, que significa “alimento”). Os níveis tróficos, de acordo com Amabis e Martho (1997), são: Produtores: o primeiro nível trófico é sempre ocupado por seres fotossintetizantes, ou seja, algas, plantas e alguns tipos de bactérias. Esses organismos são chamados de produtores, pois são os responsáveis pela produção de todo alimento que mantém o ecossistema. O segundo nível trófico é ocupado pelos herbívoros, animais que se alimentam de plantas. Eles são chamados de consumidores primários, uma vez que se alimentam diretamente dos produtores. Os animais carnívoros que se alimentam de animais herbívoros são consumidores secundários, sendo que estes constituem o terceiro nível trófico. O quarto nível trófico é formado pelos consumidores terciários, ou seja, animais carnívoros que se alimentam de animais carnívoros, assim sucessivamente. Decompositores: são em geral micro-organismos (bactérias e fungos) que obtêm alimento por meio da decomposição da matéria orgânica dos cadáveres de outros seres vivos. Tanto os produtores como os consumidores, quando morrem, servem de alimento aos decompositores. Os micro-organismos decompositores permitem a reciclagem dos materiais presentes nos cadáveres, liberando-os para serem aproveitados por outros seres vivos. 5 CONCEITOS BÁSICOS, HISTÓRICO, DOMÍNIO E RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS Desde que a vida surgiu, há mais de 3,5 bilhões de anos, os seres vivos vêm diversificando-se e adaptando-se às mudanças ocorridas em nosso planeta. Essa capacidade de adaptação permitiu-lhes colonizar os mais variados ambientes na Terra. Ou seja, os seres vivos se adaptam ao ambiente durante as gerações pelo processo de seleção natural. Essa adaptação ocorre ao longo de muitas gerações, a escala temporal do tempo evolutivo. Mas você sabe quais são os fatores que determinam a distribuição de determinada espécie em determinado local do globo terrestre ou como surgiu a vida na Terra? Para a Ecologia, o meio ambiente é o panorama animado ou inanimado em que se desenvolve a vida de um organismo. No meio ambiente, existem vários fatores 17 externos que têm uma influência no organismo. A Ecologia tem como objeto de estudo as relações entre os organismos e o ambiente que os envolve. Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural e inclui toda a vegetação, os animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. O meio ambiente também compreende recursos e fenômenos abióticos, como, por exemplo, ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo. Segundo Dajoz (1983), a Ecologia sempre foi confundida com outras disciplinas vizinhas, como a Etologia, que é a ciência dos costumes ou do comportamento. A confusão entre essas duas disciplinas deve-se, essencialmente, ao fato de que o comportamento de um animal (objeto da Etologia) não pode manifestar-se senão em um meio determinado e com relação a esse. Para melhor compreender a diferença entre Ecologia e Etologia, vamos a um exemplo: uma colmeia de abelhas é objeto de estudo da Etologia, que analisa o comportamento das abelhas; mas a relação da colmeia com o ambiente, num modo geral, é objeto de estudo da Ecologia. A Ecologia também é confundida com a Biogeografia, que é a ciência que estuda a distribuição dos seres vivos na natureza. A distribuição dos animais tem causas atuais (como, por exemplo, climáticas) — logo, de ordem ecológica —, mas também causas antigas, de ordem paleogeográfica. A Ecologia, por si só, dificilmente irá explicar completamente a distribuição de uma espécie (DAJOZ, 1983). De modo geral, Ecologia é definida como o estudo científico das interações entre organismos e seu ambiente. Porém, existem outras definições aceitáveis para essa disciplina, como, por exemplo, o estudo científico das interações que determinam a distribuição (localização geográfica) e a abundância dos organismos (CAIN; BROWMAN; HACKER, 2018). Dessa forma, percebe-se que a Ecologia é extremamente ampla, de modo que os ecólogos estudam as interações na natureza em muitos níveis de organização biológica. Cain, Browman e Hacker (2018) mencionam que as interações na natureza formam a base para a primeira de oito máximas ecológicas, uma vez que nunca é possível fazer somente uma coisa. Essa máxima sugere que todas as ações têm múltiplos efeitos, pois os eventos são interligados na natureza, ou seja, as espécies são conectadas umas às outras. A seguir, veja algumas das principais máximas ecológicas: 18 “Nunca é possível fazer somente uma coisa”:os organismos interagem uns com os outros e com o seu ambiente físico. Dessa forma, os eventos, na natureza, são interligados, e o que afeta um organismo acaba afetando outros organismos ou lugares. “Tudo vai parar em algum lugar”: não há um lugar “remoto” no qual os resíduos indesejáveis desaparecem. “Nenhuma população consegue crescer indefinidamente”: há limites para o crescimento e a utilização de recursos de cada população — inclusive, a do ser humano. “Não há almoço grátis”: a energia e os recursos de um organismo são finitos, o influxo crescente em uma função (como a reprodução) resultará em uma compensação, na qual haverá uma perda para outras funções (como o crescimento). “A evolução é importante”: os organismos mudam ou evoluem ao longo do tempo, e a evolução é um processo contínuo, uma vez que os organismos enfrentam continuamente novos desafios frente às mudanças tanto do meio abiótico quanto do biótico. “O tempo é importante”: os ecossistemas mudam com o tempo. Quando vemos o mundo como o conhecemos, é fácil esquecer como os eventos do passado moldaram nosso presente e como nossas ações atuais podem afetar o futuro. “O espaço é importante”: as condições ambientais abióticas e bióticas podem mudar drasticamente de um lugar para o outro, às vezes, ao longo de distâncias muito curtas. “A vida seria impossível sem interações entre as espécies”: as espécies dependem uma das outras e competem entre si para a obtenção de energia, recursos e hábitat. Rodrigues (2005) ressalta que os processos pelos quais os ecossistemas alcançam e mantêm o estado de equilíbrio dinâmico representado pelo clímax resultam da interação mútua de um crescente número de componentes da estrutura adicionados durante a sucessão ecológica, sob a influência reguladora dos fatores ecológicos — que são todos os condicionantes do ambiente passíveis de agir diretamente sobre um organismo em, ao menos, uma fase de seu ciclo de vida. Os fatores ecológicos atuam das seguintes formas: Douglas Marcelino Realce 19 Eliminando espécies dos territórios nos quais as condições climáticas e físico-químicas não sejam favoráveis, influindo na distribuição e repartição geográfica dos organismos e na configuração dos biomas. Modificando as taxas de fecundidade e mortalidade dos organismos, agindo na densidade das populações. Favorecendo, ou não, a manutenção de modificações adaptativas, influenciando o próprio curso da evolução biológica. De acordo com Reece et al. (2015), uma ideia errônea e comum sobre a evolução das espécies é acreditar que os indivíduos evoluem. É verdade que a seleção natural atua nos indivíduos: cada combinação de características de um organismo afeta a sua sobrevivência e seu sucesso reprodutivo em comparação a outros indivíduos, mas afeta populações, e não organismos. 5.1 Biodiversidade como fenômeno histórico O termo biodiversidade (também denominado diversidade biológica em algumas bibliografias) é utilizado para definir a riqueza e a variedade de plantas e animais que são encontrados nos mais diferentes ambientes do planeta Terra. As plantas, os animais e os microrganismos fornecem alimentos, remédios (na forma de substâncias secretadas por eles) e boa parte da matéria-prima industrial consumida pelo ser humano. César e Sezar (2002) mencionam que pode existir entre 5 milhões e 30 milhões de espécies espalhadas pelo planeta Terra, pois muitos ambientes ainda não foram explorados. Esses milhões de espécies apresentam diferenças entre si, como cores, formas, tamanhos, tipos de nutrição, respiração, reprodução e adaptações a diferentes funções. Estima-se que a Terra tenha 4,5 bilhões de anos e que a vida começou a surgir há, aproximadamente, 3,5 bilhões de anos. Essa forma de vida inicial eram organismos com células muito simples, as bactérias. Porém, ao longo da história dos seres vivos — a qual está bem documentada por meio de estudos de fósseis e rochas —, houve épocas de explosão de biodiversidade, com o surgimento de novos grupos, e outras, ao contrário, de grandes extinções, com o desaparecimento de muitos grupos que chegaram a ser dominantes na Terra. Douglas Marcelino Realce 20 Em cada uma dessas extinções, provavelmente, milhões de espécies desapareceram, criando condições para a evolução de outras. (RODRIGUES, 2005). No Quadro a seguir, apresenta-se um pequeno resumo do tipo de vida vegetal e animal que surgiu ao longo dos anos no planeta Terra. ANOS DECORRIDOS DESDE O INÍCIO DO PERÍODO ATÉ OS DIAS ATUAIS VIDA VEGETAL VIDA ANIMAL 10 mil Aumento no número de plantas herbáceas Civilizações humanas. 3 milhões Extinção de muitas espécies de plantas. Extinção dos grandes mamíferos. 63 milhões Domínio do ambiente terrestre pelas angiospermas. Domínio do ambiente terrestre por mamíferos, aves, insetos, irradiação dos mamíferos, primeiros homens. 135 milhões Domínio das angiospermas, declínio das gimnospermas. Apogeu e desaparecimento dos dinossauros; segunda grande irradiação dos insetos; primeiros primatas. 181 milhões Predomínio das gimnospermas, como as cicas e coníferas. Dinossauros grandes, especializados, mais abundantes. Aparecimento dos primeiros mamíferos e das primeiras aves 230 milhões Domínio do ambiente terrestre pelas gimnospermas e samambaias; diminuição dos musgos. Aparecimento dos primeiros dinossauros e de répteis semelhantes a mamíferos 280 milhões Evolução das gimnospermas e angiospermas. Expansão dos répteis, declínio dos anfíbios 345 milhões Era das grandes florestas de gimnospermas e suas precursoras, musgos e samambaias Período denominado Idade dos Anfíbios; primeira grande irradiação de insetos; aparecimento dos primeiros répteis. 21 405 milhões Expansão das plantas terrestres; primeiras florestas de musgos e samambaias. Período denominado Idade dos Peixes; aparecimento dos primeiros vertebrados terrestres e dos anfíbios. 425 milhões Primeiras plantas vasculares, algas e fungos. Aparecimento dos primeiros artrópodes adaptados a respirar em meio terrestre; aumento do número de peixes 500 milhões Invasão do ambiente terrestre pelas plantas Invertebrados marinhos diversificados, os corais; aparecimento dos primeiros vertebrados aquáticos, os peixes 600 milhões Invasão do ambiente terrestre pelas plantas. Invertebrados marinhos diversificados, trilobitas; aparecimento de animais com esqueleto. 1,5 bilhão Algas marinhas abundantes. Procariontes abundantes. 2,5 bilhão Surgimento de pluricelulares acelomados e celomados, protistas eucariontes e fungos. 4,5 bilhão Surgimento de bactérias anaeróbias e fotossintéticas; formação da Terra e do restante do sistema. Fonte: César e Sezar (2002, p. 19). Mas como surgiram os primeiros seres vivos? Os cientistas imaginam que moléculas orgânicas formadas na atmosfera eram arrastadas pelas chuvas para a superfície, acumulando-se em poças e lagoas que se formavam nas depressões da crosta terrestre. Essa acumulação (que ocorreu durante milhões de anos), provavelmente, transformou muitos lagos da primitiva Terra em verdadeiras sopas orgânicas. À medida que esses lagos secavam, as moléculas orgânicas concentravam-se. Isso, aliado ao calor e à intensa radiação que atingia a mistura, deve ter provocado reações químicas entre elas, originando novos tipos de substâncias (AMABIS; MARTHO, 1997). Para analisar e estudar as espécies de animais/vegetais que habitaram a Terra ao longo das mais diferentes eras, é fundamental analisar os fósseis, que são definidos como os restos preservados de organismos antigos. A partir dos fósseis, é possível obter informações sobre a forma corporal (morfologia) de organismos que 22 viveram há muito tempo, assim como sobre onde e de queforma eles viveram. Porém, para entender os padrões de mudança evolutiva, deve-se entender, também, como a vida se modificou ao longo do tempo (SADAVA et al., 2009). Sadava et al. (2009) mencionam, ainda, que boa parte da história da Terra (inclusive da biodiversidade) está gravada nas rochas. As rochas e a sua composição, tanto química quanto na distribuição dos fósseis nela presentes, fornecem dados importantes para análise da biodiversidade do passado. As eras geológicas subdividem-se em: Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica. Elas representam cada uma das grandes divisões do tempo geológico do planeta Terra. 5.2 Relação entre os processos ecológicos e atributos físicos e químicos do meio ambiente No que se refere ao meio ambiente, ainda não existe uma resposta 100% unânime sobre sua definição, pois esse termo pode apresentar diferentes conceitos, de acordo com seus componentes. Porém, deve-se ter em mente que meio ambiente é o conjunto de todas as coisas vivas e não vivas. Por exemplo, segundo o Art. 3º da Lei nº. 6.938/1981, meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL, 1981). Cada espécie pertence a um determinando ecossistema, fazendo parte de uma biocenose (conjunto de comunidades ecológicas) ou comunidade e podendo sofrer distintos efeitos, como: Fatores bióticos: interação entre os seres vivos (predação, cadeia alimentar, relações ecológicas, entre outros). Fatores abióticos: elementos não vivos do ambiente que afetam os organismos vivos da biota. Esses elementos podem ser físicos ou químicos. Os fatores físicos constituem o clima, determinado principalmente pela radiação solar que chega à Terra, e a temperatura, que influencia outros aspectos climáticos, como a umidade relativa do ar e a pluviosidade. Os fatores químicos, como os nutrientes minerais e os ciclos biogeoquímicos (do nitrogênio, do oxigênio, do carbono), são importantes para garantir a sobrevivência dos organismos e manter o equilíbrio dos ecossistemas. 23 Porém, o ambiente físico também pode ser definido como o lugar onde os organismos vivem, os recursos que lhes estão disponíveis e as taxas nas quais suas populações podem crescer. Dessa forma, o conhecimento do ambiente físico é essencial para compreender todos os fenômenos ecológicos, desde o resultado das interações entre bactérias e fungos até as trocas de dióxido de carbono entre biosfera e atmosfera (CAIN; BROWMAN; HACKER, 2018). Se as condições físicas de um local não permitem que uma espécie sobreviva e se reproduza, a espécie não será encontrada nesse local. De acordo com Reece et al. (2015), os principais fatores abióticos que interferem nos processos ecológicos são: Temperatura: é um fator de grande importância e está diretamente relacionado a variações do fator luz, uma vez que a redução ou o aumento do fotoperíodo tem influência na temperatura. A temperatura ambiente é um fator importante na distribuição das espécies devido ao seu efeito sobre os processos biológicos. As células podem romper-se se a água que elas contêm congelar (temperaturas inferiores a 0º C), e a proteína da maioria dos seres vivos desnatura em temperaturas superiores a 45º C. Além disso, poucas espécies podem manter o metabolismo ativo sob temperaturas muito altas ou muito baixas, embora adaptações extraordinárias permitam que algumas espécies vivam fora do intervalo de temperatura habitável por outras formas de vida. Água: pode ser encontrada em três estados da matéria, na forma sólida (gelo, neve), na forma líquida (chuva, água) e na forma de vapor (vapor de água na atmosfera). Todos os serem vivos necessitam da água no planeta Terra para sobreviver. A seguir, veja alguns exemplos das funções da água: é um elemento construtivo da fotossíntese das plantas e dos organismos; funciona como um solvente para os nutrientes do solo; é um condutor de energia (muito utilizado em hidroelétricas); é um meio de transporte (como na navegação, em canais de drenagem); por meio da água, ocorre a regularização da energia no balanço energético da Terra. Salinidade: a concentração de sal na água do ambiente afeta o balanço de água dos seres vivos pela osmose. Luminosidade: a luz do sol absorvida pelas espécies fotossintetizantes fornece a energia que governa a maioria dos ecossistemas, e a escassez de luz pode 24 limitar a distribuição dos seres vivos fotossintetizantes. Nas florestas, por exemplo, a sombra das folhas da copa das árvores torna a competição pela luz muito intensa, particularmente para as plântulas que crescem no estrato inferior da floresta. Nos ambientes aquáticos, a maior parte da fotossíntese ocorre relativamente próximo à superfície, uma vez que cada metro de profundidade de água absorve seletivamente cerca de 45% da luz vermelha e cerca de 2% da luz azul que passa através dela. O excesso de luz também pode limitar a sobrevivência dos seres vivos. A atmosfera é mais fina e absorve menos radiação ultravioleta nas elevações mais altas. Dessa forma, há maior probabilidade de que os raios solares danifiquem o DNA e as proteínas em ambientes alpinos. Os seres vivos que vivem nesses ambientes são expostos a altos níveis de radiação ultravioleta. Além disso, enfrentam outros desafios, como temperaturas de congelamento e ventos fortes, que aumentam a perda de água e inibem o seu crescimento. Clima: quatro fatores abióticos — temperatura, precipitação, luminosidade e vento — são os principais componentes do clima. Os fatores climáticos, principalmente a temperatura e a disponibilidade de água, têm grande influência na distribuição dos seres vivos terrestres. Rochas e solo: o pH, a composição mineral e a estrutura física das rochas e do solo limitam a distribuição de plantas e, consequentemente, dos animais que se alimentam delas, contribuindo para o mosaico encontrado nos ecossistemas terrestres. Especificamente falando dos solos, Lima, Lima e Melo (2007) apresentam os principais fatores que interferem na formação desses, como: Clima: exerce influência sobre a formação dos solos (intemperismo), principalmente, devido às precipitações (chuvas) e à variação de temperatura. Por exemplo, em regiões de clima quente e úmido, a ação do intemperismo é mais intensa e rápida, pois temperaturas mais elevadas aceleram a velocidade das reações químicas (que provocam a decomposição das rochas). A umidade, por sua vez, reage com os minerais presente nas rochas, produzindo ácidos, os quais provocam a corrosão das rochas. Material de origem: a rocha que dá origem ao solo é chamada de rocha matriz, ou seja, o material de origem é a matéria-prima a partir da qual os solos se desenvolvem, podendo ser de natureza mineral (rochas ou sedimentos) ou orgânica 25 (resíduos vegetais). Dependendo do tipo de material de origem, os solos podem ser arenosos, argilosos, férteis ou pobres. Cabe ressaltar que uma mesma rocha pode originar solos muito diferentes, pois depende da variação dos demais fatores de formação. Relevo: o formato desigual do relevo favorece a distribuição irregular da água das chuvas, do calor e da luz. Dependendo do tipo de relevo (plano, inclinado ou abaciado), a água da chuva pode entrar no solo (infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão) ou acumular-se (formando banhados). Presença de organismos: os organismos que vivem no solo, como vegetais, minhocas, insetos, fungos, bactérias, entre outros, exercem grande influência na formação dos solos, pois, além de seus corpos serem fonte de matéria orgânica, atuam, também, na transformação dos constituintes orgânicos e minerais. A vegetação exerce influência na formação do solo pelo fornecimento de matéria orgânica,na proteção contra a erosão pela ação das raízes fixadas no solo, assim como as folhas evitam o impacto direto da chuva. Ao se decompor, a matéria orgânica libera ácidos que também participam da transformação dos constituintes minerais do solo. (LIMA; LIMA; MELO, 2007) Tempo: para a formação do solo, é necessário determinado tempo para a atuação dos processos que levam à sua formação. O tempo que um solo leva para se formar depende do tipo de rocha, do clima e do relevo. Solos desenvolvidos a partir de rochas mais fáceis de serem intemperizadas formam-se mais rapidamente em comparação com aqueles cujo material de origem é uma rocha de difícil alteração. Fonte: http://feelhomecare.com.br/ 26 6 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE ECOSSISTEMAS (CADEIAS E TEIAS TRÓFICAS, FLUXO DE ENERGIA E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS) A cadeia alimentar é uma trilha ou uma sequência de nutrientes que relaciona espécies diferentes em uma comunidade por meio da alimentação. Numa cadeia alimentar, a energia e os nutrientes passam de um organismo para outro. As cadeias alimentares raramente contêm mais de seis espécies, pois a quantidade de energia transferida diminui a cada etapa, ou nível trófico. Os componentes das cadeias são divididos, de maneira simplificada, em produtores, consumidores e decompositores. Parte da matéria orgânica sintetizada pelos produtores é consumida como fonte de energia para o metabolismo do próprio organismo produtor, porém, outra parte é incorporada e fica disponível para os heterótrofos do ecossistema. A cada nível trófico seguinte, parte da matéria orgânica é usada no metabolismo dos organismos desse nível, outra parte é eliminada como resíduo e somente uma fração é incorporada e disponível como alimento para o próximo nível. (BRASIL, 1981). 6.1 Comunidades e níveis tróficos Os níveis tróficos são a maneira utilizada pela ecologia para organizar os organismos que compõem uma cadeia alimentar, na qual ocorre transferência de massa e energia entre indivíduos ou populações. Os componentes dessas cadeias podem ser divididos, de maneira simplista, em três grandes grupos: os produtores, os consumidores e os decompositores. O consumidor primário se alimenta do produtor, o consumidor secundário come o consumidor primário, o consumidor terciário alimenta-se do secundário e assim sucessivamente. Lembrando: Consumidores primários: ocupado pelos herbívoros, ou seja, animais que se alimentam de plantas, alimentando-se dos produtores. Consumidores secundários: composto pelos carnívoros, animais que se alimentam de animais herbívoros. Consumidores terciários: animais carnívoros que se alimentam de animais carnívoros, e assim sucessivamente. 27 A fonte primária de energia para a vida na Terra é o sol. O sol tem a importante função de manter aquecido o planeta e é a fonte de energia luminosa usada na fotossíntese. Essa energia é convertida em matéria orgânica pelos autótrofos fotossintetizantes e consumida pelos demais seres vivos (OLIVEIRA JUNIOR; SILVA, 2014). Os organismos autótrofos de um ecossistema formam, por definição, o primeiro nível trófico, que é o produtor. O principal meio de obtenção de energia pelos autótrofos é a fotossíntese, sendo que, na ecologia, os autótrofos são também chamados de produtores, pois estes são os sintetizadores da matéria orgânica consumida pelos demais organismos do ecossistema. Os heterótrofos são divididos em consumidores e decompositores. Os animais herbívoros, que são consumidores primários, formam o segundo nível trófico. Um ecossistema pode existir sem consumidores, mas não pode se manter sem produtores e decompositores. Se não há decompositores, haverá acúmulo de matéria orgânica, degradação ambiental e posterior morte dos seres vivos. Os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros (consumidores secundários) formam o terceiro nível trófico. Os animais carnívoros que se alimentam de animais carnívoros (consumidores terciários) formam o quarto nível trófico, e assim por diante. Os decompositores ocupam o último nível de transferência de energia entre organismos de um ecossistema. Formam um grupo especial, nutrindo-se de elementos mortos, excretas, restos de animais e vegetais provenientes de diferentes níveis tróficos, degradando tanto produtores como consumidores. O Quadro a seguir apresenta os níveis tróficos de forma resumida. Componentes estruturais bióticos dos ecossistemas Nível trófico Autótrofo = produtor 1° Heterótrofo Consumidor 2° 3° 4° 5° Uma das formas mais tradicionais de estudar a ecologia trófica está na identificação das rotas alimentares dentro dos ecossistemas. A literatura ecológica demonstra que existem basicamente cinco formas de se representar essas interações, 28 no entanto, apenas as três primeiras são de interesse neste capítulo, uma vez que são as mais utilizadas: Cadeias alimentares; Teias tróficas; Pirâmides energéticas; Matrizes tróficas; Fluxos trófico-dinâmicos. Quanto à cadeia alimentar, podemos dizer que é uma relação alimentar entre produtores, consumidores e decompositores, em que a energia flui entre esses indivíduos a partir dos seres autotróficos, que, por meio da fotossíntese ou quimiossíntese, são capazes de transformar a matéria inorgânica em orgânica, sendo está incorporada à cadeia a partir do momento em que um indivíduo se alimenta de outro. A cadeia alimentar começa com plantas, algas e também alguns tipos de bactérias e protozoários, que são seres vivos produtores. (STEIN, 2018) A cadeia alimentar é uma trilha ou sequência de alimentos que relaciona espécies diferentes em uma comunidade. Numa cadeia alimentar, a energia e os nutrientes passam de um organismo para outro. Ou seja, cadeia alimentar é a sequência linear, não ramificada, em que um ser vivo serve de alimento para o outro, desde o produtor até os decompositores. Exemplo: Planta Vaca Homem Decompositores As cadeias alimentares raramente contêm mais de seis espécies, pois a quantidade de energia transferida diminui a cada etapa, ou nível trófico. O fluxo de energia ao longo de uma cadeia alimentar é sempre unidirecional, no sentido dos produtores para os decompositores, e nunca no sentido inverso. (STEIN, 2018) Fonte: https://ascadeiasalimentares.weebly.com/ 29 Nos ecossistemas se estabelecem muitas cadeias alimentares, que se entrelaçam formando uma rede ou teia alimentar. Ela representa as várias maneiras em que a energia contida no alimento flui pela comunidade ecológica. De acordo com Barsano, Barbosa e Viana (2014), teia alimentar são as muitas relações alimentares que os animais desenvolvem dentro do ecossistema. Por exemplo, o homem, como um ser onívoro, pode alimentar-se tanto de vegetais quanto de animais, não se limitando a um único nível trófico, ou seja, alimenta-se de animais consumidores primários, secundários ou terciários. A teia alimentar pode ser definida como o conjunto de cadeias alimentares. Uma comunidade de seres vivos pode conter centenas ou mesmo milhares de espécies. Cada espécie participa, em geral, de diferentes cadeias alimentares, sendo que estas se interligam para formar as teias alimentares. A cadeia alimentar é uma sequência linear teórica e teia alimentar é uma representação mais fiel da natureza, em que as cadeias alimentares se conectam ou se sobrepõem, formando redes alimentares. Os principais atributos de uma dada teia alimentar, segundo menciona Pinto- Coelho (2011), são: a) Número de espécies na rede (S): número total de espécies presentes numa dada rede. b) Densidade de ligações (D): número de ligações tróficas associadas a cada espécie presente na rede. c) Espécie trófica: conjunto de espécies que compartilham o mesmo conjunto de presas ou são atacadaspelo mesmo predador. d) Predador de topo: espécie que não é predada por nenhum predador na rede em que se alimenta. e) Espécies basais: organismos que não se alimentam de nenhuma outra espécie. Em geral, são produtores primários. f) Ciclos tróficos: ocorrem quando um organismo A se alimenta do organismo B, que, por sua vez, se alimenta do organismo C, que se alimenta do organismo A. g) Conectância: número de interações tróficas realizadas dividido pelo número de interações tróficas possíveis. 30 h) Nível trófico: número de ligações tróficas entre uma dada espécie na rede e a espécie basal a ela associada, podendo haver uma espécie que ocupe simultaneamente mais de um nível trófico. i) Onívoro: organismo que se alimenta em dois ou mais níveis tróficos diferentes. j) Compartimentos: ocorre quando existe um grupo com fortes interações tróficas, podendo haver, em uma dada rede, certo paralelismo trófico, ou seja, a existência de vários compartimentos relativamente independentes entre si. Fonte: https://www.tutorbrasil.com.br/ 6.2 Modelos de transferência de energia Para os ecólogos, a energia pode ser definida como a capacidade de executar trabalho. O comportamento da energia é descrito pelas seguintes leis: a primeira lei da termodinâmica, ou lei da conservação da energia, que estabelece que a energia pode ser transformada de uma forma para outra, mas não pode ser criada nem destruída. A segunda lei da termodinâmica, ou lei da entropia, pode apresentar diferentes interpretações, mas, de modo geral, nenhum processo envolvendo transformação de energia ocorrerá espontaneamente, a menos que haja a degradação da energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa (ODUM; BARRETT, 2006). 31 Os conceitos fundamentais da termodinâmica, delineados no parágrafo anterior, são os mais importantes das leis naturais e se aplicam a todos os sistemas biológicos e ecológicos. Sem nenhuma exceção, é possível transgredir essas leis da física. Qualquer sistema da humanidade ou da natureza que não esteja em conformidade com tais conceitos está condenado (ODUM; BARRETT, 2006). Para representar a quantidade de energia armazenada em um determinado nicho ecológico, utiliza-se as denominadas pirâmides ecológicas. Estas são representações gráficas da contribuição relativa dos vários níveis tróficos, por meio dos quais se transfere matéria e flui energia no ecossistema. Existem três tipos de pirâmides: as de energia, biomassa e número. Na pirâmide de energia, conforme indicado na Figura abaixo, uma vez que a fonte primária de energia dos ecossistemas terrestres é o sol, fica claro que toda a energia entra pelos vegetais fotossintetizantes para, daí, distribuir-se para os demais níveis. Os vegetais, portanto, funcionam como conservadores de energia, que transformam energia luminosa em energia química, por meio do processo de fotossíntese. Fonte: Adaptada de Shutterstock Analisando a Figura anterior, é possível obter algumas conclusões, como: A quantidade de energia disponível diminui à medida que é transferida de um nível trófico para outro. Em um ecossistema, a matéria é cíclica, a energia não. Quanto mais afastados estamos dos produtores, menor é a quantidade de energia disponível em um ecossistema. A matéria apresenta um ciclo e a energia apresenta um fluxo. 32 Amabis e Martho (2006) comentam que essa perda de energia de um nível trófico para outro ocorre por dois aspectos. Em primeiro lugar, parte da energia contida no alimento não é aproveitada (digerida) e é consequentemente eliminada como fezes. Em segundo lugar, um organismo precisa constantemente gastar parte do alimento que ingere (ou fabrica) como combustível para suas atividades. Logo, quando respiram, plantas e animais estão queimando alimento para obter energia. Assim, essa energia é perdida na forma de calor e irradiada para fora do ecossistema. A biomassa é expressa em termos de quantidades de matéria orgânica por unidade de área, em um dado momento. A forma da pirâmide de biomassa também pode variar dependendo do ecossistema. De modo geral, a biomassa dos produtores é maior que a de herbívoros, que é maior que a de carnívoros. Nesses casos, a pirâmide apresenta o ápice voltado para cima. Isso ocorre nos ecossistemas terrestres, em que os produtores apresentam grande porte. As pirâmides de biomassa representam o total da soma das massas dos indivíduos que participam de cada nível trófico de uma cadeia alimentar. Quando se fala em comparação de biomassa, geralmente se usa a chamada massa seca, isto é, a massa total menos a massa de água do organismo. O uso da massa seca em vez da massa fresca é útil, pois há diferença em relação à proporção em massa de água entre os seres vivos e essa diferença pode distorcer a análise quantitativa de matéria orgânica incorporada (OLIVEIRA JUNIOR; SILVA, 2014). Às vezes, a pirâmide de biomassa apresenta-se invertida, como pode ocorrer nos oceanos e nos lagos, em que os produtores são pequenos e rapidamente consumidos pelos consumidores primários. Exemplos de pirâmide de biomassa direta (a) e de pirâmide de biomassa inversa (b) Fonte: Adaptada de Shutterstock A pirâmide de números indica o número de indivíduos em cada nível trófico. Por exemplo, em um campo, 5 mil plantas são necessárias para alimentar 300 gafanhotos, que servirão de alimento a apenas uma ave, conforme indicado na Figura abaixo: 33 Exemplo de pirâmide de número. Fonte: Adaptada de Shutterstock Percebe-se pela Figura anterior que é necessário um grande número de produtores para alimentar poucos herbívoros, que, por sua vez, servirão de alimento para um número ainda menor de carnívoros. Ao contrário das pirâmides de energia, as pirâmides de número podem ser invertidas, ou seja, não necessariamente a pirâmide de números precisa ter o ápice para cima. Por exemplo, em uma floresta, uma única árvore pode sustentar um grande número de herbívoros. Nesse caso, a pirâmide terá a forma inversa. Exemplo de pirâmide de número invertida. Fonte: Adaptada de Shutterstock. De modo geral, nos ecossistemas, enquanto a energia tem de ser reposta continuamente pelo sol, a matéria disponível na Terra tem de ser constantemente reutilizada para a manutenção da vida. Logo, enquanto a energia flui unidirecionalmente, a matéria é reciclada, e cada elemento químico apresenta um ciclo característico (AMABIS; MARTHO, 2006), conhecidos como ciclos biogeoquímicos. 6.3 Ciclo de nutrientes Os compostos orgânicos nos seres vivos são constituídos por cerca de 25 elementos químicos diferentes. Os seres vivos suprem constantemente esses elementos vitais absorvendo nutrientes. Os elementos, depois de assimilados pelos 34 produtores, são transformados e devolvidos ao ambiente por meio da ação dos microrganismos decompositores. Cada elemento segue um trajeto diferente, chamado de ciclo de nutrientes, ou ciclo mineral. Algumas partes de um ciclo ocorrem rapidamente, outras podem durar milhares de anos. (STEIN, 2018) Um ciclo de nutrientes é o movimento de matéria orgânica e inorgânica de forma a torná-la utilizável novamente para a produção de matéria viva. O processo é regulado por microrganismos que decompõem a matéria em nutrientes minerais. Ciclos de nutrientes ocorrem dentro dos ecossistemas – sistemas interligados, cuja matéria e os fluxos de energia são trocados entre os organismos na forma de alimentação. De modo geral, pode-se definir nutriente como sendo um elemento necessário para o crescimento de algum organismo. Definido o termo, é possível afirmar que os nutrientes são elementos químicos essenciais para a manutenção de estruturas e de processos vitais. Existem três grandes grupos para os nutrientes: Construtores: carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio(H) e nitrogênio (N). Macronutrientes: enxofre (S), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), cloro (Cl) e sódio (Na). Micronutrientes: ferro (Fe), manganês (Mn), boro (B), zinco (Zn), cobre (Cu) e Molibdênio (Mo). Ferreira (2015) descreve que um dos principais pré-requisitos para a evolução e a manutenção da vida na Terra são os ciclos biogeoquímicos. Por se tratar de um processo natural, ocorre a reciclagem de vários elementos, em diferentes formas químicas, do meio ambiente para os organismos vivos, e depois fazem o processo contrário, ou seja, trazem esses elementos dos organismos para o meio ambiente, como o ciclo do carbono. Em relação ao ciclo do carbono, todos os seres vivos têm carbono na sua composição. O gás carbônico (CO2) da atmosfera é absorvido pelas plantas e bactérias para realizar a fotossíntese e quimiossíntese. Sintetizam compostos orgânicos, como os carboidratos, que formam parte de seus tecidos. Os animais usam os carboidratos na respiração, que devolve o CO2 para a atmosfera. Esta última é a etapa mais rápida do ciclo do carbono. Amabis e Martho (2006) ressaltam que, algumas vezes, o retorno do carbono para a atmosfera é demorado, podendo levar milhões de anos para ocorrer. É o caso Douglas Marcelino Realce Douglas Marcelino Realce 35 dos compostos de carbono que não foram atacados pelos decompositores e se transformaram, no subsolo, em carvão, turfa e petróleo. Estes contêm o carbono que fora antes parte de seres vivos. Por milhões de anos, os restos de seres vivos se transformaram em fósseis ricos em combustíveis. Quando um combustível fóssil é queimado, libera carbono na atmosfera e, dessa forma, o homem tem restituído à atmosfera, na forma de CO2, átomos de carbono que ficaram fora de circulação durante milhões de anos, provocando impactos ambientais como o aquecimento global. Em se tratando do ciclo do nitrogênio, os seres vivos não podem existir sem esse macronutriente, o qual compõe as proteínas e os ácidos nucleicos. A atmosfera tem cerca de 80% de nitrogênio gasoso, mas somente as bactérias utilizam o nitrogênio nesse estado. Todos os outros seres vivos têm de usar compostos de nitrogênio, como os nitratos. O nitrogênio chega a outros seres vivos por meio das plantas que absorvem esses nitratos pelas raízes. Os animais obtêm nitrogênio ao se alimentar de plantas ou de outros animais que comeram plantas. Quando os seres vivos morrem, o nitrogênio volta para a atmosfera por desnitrificação. (STEIN, 2018). Fonte: Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004, p. 12). O ciclo global da água responde pela maior movimentação de uma substância química pela superfície terrestre. A água, em estado líquido, é por excelência um dos elementos mais importantes na manutenção e na caracterização da biosfera. A água é a substância mais abundante sobre a crosta terrestre, cobrindo em torno de 70% 36 dela (ADUAN; VILELA; REIS JÚNIOR, 2004). A Figura anterior apresenta os principais estoques e fluxos do ciclo global de água em km³ e km³/ano. Em um ecossistema, o elemento oxigênio aproveitado pelos seres vivos provém de três fontes principais: gás oxigênio (O2 ), gás carbônico (CO2 ) e água (H2 O), conforme ressaltam Amabis e Martho (2006), Odum (2004) e Townsend, Begon e Harper (2011). O O2 é captado por plantas e animais e utilizado na respiração. Nesse processo, átomos de oxigênio combinam-se com átomos de hidrogênio, liberados pela decomposição das moléculas orgânicas respiradas, formando a água. A água ingerida pelos seres vivos, ou aquela que foi produzida na respiração e em outras reações vitais, pode ser eliminada por meio da transpiração ou da excreção de suor e urina. Parte dela, porém, é empregada como reagente em reações químicas, de modo que seus átomos de oxigênio voltam a fazer parte de moléculas orgânicas. A decomposição dos cadáveres, pelos decompositores, leva à liberação do elemento oxigênio na forma de CO2 e H2 O. O oxigênio presente no CO2 poderá voltar a fazer parte de moléculas orgânicas por meio da fotossíntese. Dessa forma, em seu ciclo pelos ecossistemas, os átomos do elemento oxigênio passam continuamente pelas formas de CO2, de H2 O, de O2 e de moléculas orgânicas. Os seres vivos utilizam o fósforo para produzir muitos compostos. As plantas o absorvem do solo na forma de fosfato e o transfere para os demais seres vivos. Os fosfatos finalmente são levados pela água e se acumulam em sedimentos, que formam as rochas, após milhões de anos. 7 DESENVOLVIMENTO DE ECOSSISTEMAS: SUCESSÃO ECOLÓGICA A sucessão ecológica é um dos mais antigos e fundamentais conceitos em ecologia. Compreender sua importância e dinâmica é vital para os profissionais da área ambiental. Ao longo do tempo, o desenvolvimento do ecossistema, mais conhecido como sucessão ecológica, envolve mudanças na repartição da energia, na estrutura das espécies e nos processos da comunidade. Em outras palavras, a sucessão num ecossistema pode ser descrita como uma evolução em direção a uma grande diversidade e, consequentemente, a um grande número de nichos ecológicos. 37 Segundo Schorn (2005), as comunidades (junção de vários indivíduos de espécies de plantas e animais em um determinado espaço) são como superorganismos e a sucessão é a maturação dessa comunidade ao longo do tempo, até o estágio denominado clímax. Mas o que é sucessão ecológica? A troca gradativa de espécies em uma determinada comunidade recebe o nome de sucessão. Se uma faixa de terra está sem vegetação, esta não fica exposta por muito tempo. Logo, as plantas e, posteriormente, os animais começam a ocupá-la. Com o passar do tempo, as espécies nessa nova comunidade vão mudando. As primeiras a chegar são substituídas à medida que se instalam espécies diferentes. A sucessão se dá até que a comunidade se desenvolva em uma comunidade estável, chamada de comunidade clímax. A expressão sucessão ecológica é usada para descrever processos de alteração nos ecossistemas sobre várias escalas, como temporal, espacial ou vegetacional. Ou seja, sucessão é o processo ordenado de mudanças em um determinado ecossistema, resultando na modificação do ambiente físico pela comunidade biológica (ROSARIO, 2010). A sucessão vegetal, entendida como um processo de auto-organização ou amadurecimento do ecossistema, direciona-se da simplicidade para a complexidade organizacional, de formas de vida mais simples para mais complexas e diversificadas (SCHORN, 2005). 7.1 Fases da sucessão ecológica Existem, basicamente, três tipos de sucessão ecológica, sendo estas: 1. Sucessão degradativa: é aquela que ocorre em uma escala de tempo relativamente curta, com ocorrência em qualquer matéria orgânica morta (exemplo: animais ou plantas em decomposição). Normalmente, diferentes espécies aparecem e desaparecem, à medida que a degradação da matéria orgânica utiliza alguns recursos e torna outros disponíveis. Outra característica da sucessão degradativa é que ela é um processo finito, uma vez que o recurso pode ser totalmente mineralizado ou metabolizado. 38 2. Sucessão alogênica: sucessão em que o processo de substituição de espécies ocorre como resultado de mudanças externas (incêndios, tempestades e processos geológicos) ou forças geofísico-químicas 3. Sucessão autogênica: ocorre em ambientes recém-criados, geralmente decorrentes de processos biológicos que modificam condições e recursos. Essa sucessão pode ser dividida em duas formas distintas, sucessão primária e sucessão secundária. Especificamente falando da sucessão autogênica, está passa por três fases distintas, sendo estas: Comunidade pioneira (ou ecese). Comunidade secundária (também denominada intermediária ou seral). Comunidade clímax. A Figura a seguir apresenta um esquema mostrando como o ocorre o processo de sucessõesecológicas primária e secundária. Fonte: Adaptada de Oliveira Junior e Silva (2004, p. 659). De acordo com Townsend, Begon e Harper (2011), a sucessão primária (também denominada de ecese) é decorrente da capacidade de uma espécie pioneira de se reproduzir em uma nova área. Frequentemente demoram centenas de anos para ocorrerem, sendo que ocorre em ambientes que não têm estabelecimento de organismos, ou seja, áreas que ainda não foram povoadas ou, então, que os seres foram eliminados, por diferentes motivos. Derrames de lava causados por erupções vulcânicas, substratos expostos pela retração de uma geleira e dunas de areia recém- formados são exemplos de sucessão primária, conforme indicado na Figura a seguir: 39 Exemplos de ambientes que estão passando por sucessão primária. Fonte: (a) Denis Kichatof; (b) Been there YB; (c) Thijs Peters / Shutterstock.com As espécies pioneiras são aquelas primeiras espécies que aparecem colonizando áreas onde antes não existiam seres vivos, como algas que colonizam rochas nuas. Geralmente, as espécies são autótrofas ou mantêm relação ecológica harmônica com seres autótrofos (como bactérias autótrofas, gramíneas, líquens, dentre outros). A comunidade pioneira é formada por espécies capazes de viver em ambientes inóspitos. A presença dessas espécies modifica o microambiente, produzindo alterações de fatores abióticos e bióticos no ecossistema em formação. Com isso, abrem caminho para que outras espécies se estabeleçam no local, com o surgimento de novos nichos ecológicos (OLIVEIRA JUNIOR; SILVA, 2004). Na sucessão secundária ocorrem mudanças em determinada área, após a destruição parcial de uma comunidade. Essa destruição pode ocorrer em uma pequena área de floresta nativa, após a queda de uma árvore, ou em vários hectares, em razão de uma cultura agrícola abandonada. Dessa forma, a sucessão secundária ocorre em um ambiente total ou parcialmente destruído, porém, que já foi anteriormente ocupado por outra comunidade biológica. Exemplos de ambientes que estão passando por sucessão secundária. Fonte: (a) Rich Carey; (b) Vladimir Melnikov/Shutterstock.com. Embora degradado, esse ambiente oferece condições mais favoráveis à ocupação de novas comunidades, o que torna a colonização das espécies pioneiras mais rápida, uma vez que as sementes e os esporos permanecem no solo. Essa destruição pode ocorrer tanto por fenômenos naturais (ventos, chuvas, etc.) como em razão da ação humana, que, por sinal, é a mais representativa. 40 É importante mencionar e apresentar o conceito de espécie oportunista (ou espécies fugitivas), pois estão sempre “correndo” de um lugar para outro, sendo que essas espécies se servem rapidamente de novas oportunidades. As espécies oportunistas, em geral, são pequenas e têm um ciclo de vida curto (por exemplo, algas azuis, musgos, capim, dentre outras). Essas características fazem com que elas se espalhem rapidamente e se apoderem de novos ambientes antes de outras espécies. Porém, quando as outras espécies conseguem se estabelecer, as oportunistas costumam ficar espremidas. Quando um determinado ecossistema sofre degradação (como queimadas ou desmatamento), ocorre o fenômeno conhecido como sucessão ecológica. Por exemplo, após uma floresta ser totalmente destruída, diferentes espécies irão ocupar a área em diferentes períodos. Essas espécies podem ser divididas em: Colonizadoras: são as gramíneas ou demais plantas de pequeno porte, com esporos ou sementes transportadas pelos ventos. Pioneiras (P): são as primeiras a aparecerem em uma clareira recente. São espécies cujas sementes necessitam da luz solar direta para germinarem. Normalmente, são de tamanho médio e transportadas por longas distâncias por animais, principalmente pássaros e morcegos. Apresentam dormência e alta longevidade. A regeneração natural ocorre principalmente a partir do banco de sementes existentes no solo. A plântula necessita de luz para desenvolvimento e apresenta pouca reserva. A planta jovem apresenta rápido crescimento e competição por luz. São espécies de rápido crescimento, regeneração precoce, com produção contínua de sementes, e ciclo de vida curto, podendo atingir de 5 a 8 m de altura. São modificadoras do ambiente após a germinação e o desenvolvimento, propiciando condições para germinação e desenvolvimento das espécies secundárias e climácicas. De acordo com Amabis e Martho (2006), as espécies pioneiras, ao ocuparem um ambiente, acabam por modificá-lo, geralmente tornando suas condições mais propícias ao desenvolvimento de seres vivos. O material orgânico e os nutrientes se acumulam no solo, contribuindo para aumentar sua fertilidade. Secundárias (S): também conhecidas como oportunistas de clareira, têm sementes geralmente aladas e de curta longevidade natural, necessitando de períodos secos para sua dispersão anemocórica (disseminação de sementes de uma planta pela ação dos ventos), porém, também podem apresentar dispersão zoocórica 41 (dispersão de sementes por animais). As sementes não apresentam dormência e têm condições de germinarem à sombra da mata, muitas vezes formando banco de plântulas sob o dossel. As plântulas recém-germinadas apresentam pouca reserva e o desenvolvimento delas é estimulado com o surgimento de clareira. Algumas bibliografias dividem as espécies secundárias em inicial e tardia. Nas espécies caracterizadas como inicial, o crescimento é mais rápido, a madeira é leve e não toleram sombra, sendo o tempo para primeira reprodução de 5 a 10 anos. Já nas espécies secundárias tardias, o crescimento é de médio a rápido, a madeira normalmente é dura, são intolerantes à sombra no estágio juvenil e a idade da primeira reprodução é entre 10 e 20 anos (MORAES et al., 2012). Climácicas (C): com uma grande quantidade de nutrientes, todas as condições e todos os recursos ideais e uma fauna já associada ao local, outras espécies muito mais exigentes, com ciclo de vida longo e melhores competidoras, se estabelecem: as espécies clímax. Elas dependem da umidade no solo e também de uma ampla gama de nutrientes para que suas sementes germinem. As sementes das espécies clímax geralmente são grandes e protegidas por uma camada grossa de tecido que evita a perda de água e dificulta a predação por pequenos insetos. Enquanto as pioneiras e secundárias são pouco exigentes, competidoras inferiores e investem em sementes pequenas que são facilmente dispersadas por vento e água, as espécies clímax são competidoras superiores, mais exigentes e dependem geralmente da fauna para dispersar suas sementes, que são grandes e associadas a frutos. Os frutos nessas espécies são fundamentais, é por meio deles que a maioria é dispersada. Especificamente falando das florestas secundárias, estas são classificadas de acordo com o estágio de regeneração. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 1994), por meio da Resolução nº 29, de 7 de dezembro de 1994, define estas em: Estágio inicial de regeneração: surge logo após o abandono do solo. Este estágio, geralmente, dura entre 6 e 10 anos, dependendo do grau de degradação do solo e do entorno. A altura média da vegetação não ultrapassa 4 m. Estágio médio de regeneração: este estágio pode ocorrer entre 6 e 15 anos depois do abandono do solo. As árvores podem atingir o comprimento de 12 m. A diversidade aumenta, mas ainda há predominância de espécies de árvores pioneiras. 42 Estágio avançado de regeneração: inicia-se geralmente depois de 15 anos e pode levar de 60 a 200 anos para alcançar novamente o estágio semelhante à floresta primária (floresta intocada ou aquela em que a ação humana não provocou significativas alterações das suas características originais de estrutura e de espécies). A diversidade aumenta gradualmente à medida que o tempo passa e
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