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SEÇÃO XI ► CAPÍTULO 128 Cuidados pré-concepcionais Aldo Ciancio Brian W. Jack Aspectos-chave ► Os cuidados pré-concepcionais (CPCs) estão divididos em vários domínios, entre eles: planejamento familiar, condição socioeconômica, disparidades em acesso a serviços de tratamento para os riscos triados nestes encontros terapêuticos. ► Os riscos genéticos e familiares, assim como a inclusão da paternidade consciente e a falta de suporte financeiro e marital influenciam nos CPCs. ► Deve-se dar atenção à condição nutricional da paciente, pois a suplementação vitamínica e a imunização são aspectos importantes, bem como o manejo adequado de doenças infecciosas que alteram o desfecho perinatal. ► O papel do médico de família e comunidade é fundamental na consulta pré-concepcional, pois aborda promoção, prevenção e intervenção clínicas eficazes. ► O CPC deve ser realizado centrado na pessoa, com base em evidência e abordagem sistêmica. Caso clínico Letícia, 31 anos, auxiliar administrativa, tem um emprego que julga estressante, pois trabalha no departamento de recursos humanos de uma grande loja no centro de uma metrópole, que está reduzindo o número de colaboradores por redução de custos. Já foi casada e agora está separada. Apresentou muita tristeza e ansiedade nesse período, teve episódios de pânico e foi atendida no serviço de urgência com palpitações, apresentando outros sintomas somatoformes, como fraqueza e dispepsia nos atendimentos ambulatoriais. Ela sempre teve muita autonomia e se sente culpada pela separação, sendo que isso gerou sintomas compulsivos. Letícia teve um episódio depressivo unipolar grave e foi tratada com antidepressivos, inclusive um da classe dos tricíclicos. Embora sabendo dos efeitos colaterais, seus problemas de saúde mental, sedentarismo e à sua compulsão alimentar, a levaram a mais sedentarismo e a ganho de peso, sendo que antes ela frequentava a academia quatro vezes por semana. Ela é acompanhada em um serviço de atenção primária à saúde (APS) por uma equipe multiprofissional, há mais de 15 anos. Nesse período, fez acompanhamento terapêutico com psicóloga e nutricionista, em grupo e individualmente. Seu trabalho não lhe dá tempo para ter uma alimentação sadia. Ela melhorou da depressão e, motivada, começou a cursar a faculdade de pedagogia, que, no momento, não está frequentando por dificuldades financeiras. Letícia não tem filhos, mas adora crianças e sonha com a maternidade. É afetuosa, gentil e muito apegada ao seu gato de estimação, que vive no quintal da casa. Avaliando seus antecedentes familiares, nega hipotireodismo e/ou história de defeitos congênitos na família. Utilizando o genograma, soube-se que seu pai e uma tia sofrem de diabetes melito tipo 2 (DM2) e hipertensão arterial sistêmica. Seu pai já apresenta comorbidades, pois faz uso de álcool e tem dificuldade de aderir ao tratamento ambulatorial e medicamentoso. Tem um primo de primeiro grau que era etilista e se suicidou. Ela agora está em um relacionamento sério, como expõe em uma rede social virtual, vivendo maritalmente com Michael há quase 1 ano, um rapaz de 29 anos que mora no mesmo bairro e tem fama de ser infiel. Michael é operador de máquinas, tem boa aparência e é muito sedutor e carismático. Ele frequenta a academia diariamente e está em seu pleno vigor físico e sexual. Michael já viveu em outro Estado e está desempregado no momento devido à finalização das obras de um estádio de futebol que fica na mesma região. Tem uma filha de 9 anos que se chama Paula e vive com a mãe (ela teve de mover uma ação na justiça para que ele provesse alimentos para a menina). Michael frequenta um barzinho, onde bebe no máximo duas cervejas, que fica próximo da casa deles. Ele diz que está apaixonado e deseja muito um filho com ela. Letícia vem à consulta querendo emagrecer e, para isso, quer uma receita de sibutramina, pois descobriu que a medicação está novamente disponível no mercado. Ela diz que nunca esteve tão feliz em sua vida e que a única coisa que a incomoda é uma ardência ao urinar, com corrimento e prurido vaginal sem odor fétido há 2 semanas. Nega febre. Pelo prontuário, ela não faz o exame de colpocitopatogia oncótica há mais de 3 anos, e fez recentemente um teste de gravidez por meio da dosagem de gonadotrofina coriônica humana (hCG) urinária. No momento, não está usando nenhum método contraceptivo e também não faz uso de preservativo. Questionada sobre o uso de álcool, responde que todos os finais de semana, junto com Michael, toma várias doses de tequila. Ela acha que está bebendo demais e se sente incomodada porque sua mãe já falou que beber faz mal à saúde. Durante o exame físico, a pressão arterial é de 140/90 mmHg, e o índice de massa corporal, 31,7. A medida de sua cintura é de 90 cm. Não apresenta alteração à palpação da tireoide. Ao exame pélvico, ela se apresenta com corrimento vaginal característico sugestivo de candidíase vaginal e não tem dor ao movimento do colo uterino. Teste seu conhecimento 1. Com base no caso descrito, o que se pode considerar? a. Não existe função do médico, nem da equipe na prevenção primária da concepção b. É uma oportunidade de prevenção secundária c. O uso do genograma na pré-concepção é inoportuno d. Os CPCs são fundamentais na redução de riscos para concepção 2. Embora contemple muitos riscos para ambos, qual é a maior preocupação com relação a este casal? a. Início do pré-natal tardio b. Prevenção de violência doméstica c. Planejamento familiar d. Mortalidade materna 3. Qual é a frequência aproximada de gravidez não desejada no Brasil e no mundo? a. Menos de 20% b. Entre 25-40% c. Entre 40-65% d. Acima de 65% 4. Que exames laboratoriais são recomendados para este casal com risco para gravidez não planejada? a. Dosagem sérica de ácido fólico b. Teste de tolerância oral à glicose c. Colpocitopatologia oncótica, se não foi feita, e sorologias para doenças infectocontagiosas, com condutas e tratamento eficazes em casos positivos (toxoplasmose, veneral disease research laboratory (VDRL), anti-HIV e sorologias para hepatite B, rubéola) d. Dosagem sérica de β-hCG no primeiro trimestre 5. Dentro do contexto deste caso específico, você referenciaria para quais serviços: a. Cuidados em gestação de alto risco b. Elaboração de um projeto terapêutico para família, junto com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), para assegurar que o caso esteja orientado com relação a protocolos multiprofissionais e multicêntricos deste contexto c. Centro de Atenção Psicossocial (CAP) e Centro de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (CAPS-AD) d. Hospital geral, para avaliação com teste-rápido, rede cegonha e conselho tutelar. Respostas: 1D, 2C, 3C, 4C, 5B O tema1,2 deste capítulo tem ganhado cada vez mais destaque, agora não somente pelo Centers for Disease Control, equivalente ao serviço de vigilância em saúde do Ministério da Saúde (MS) e que continua com sua missão há mais de uma década.3–6 Porém, são relevantes aqui dois aspectos: primeiro, a realização de uma assembleia geral da Organização das Nações Unidas abordando o problema e sugerindo políticas públicas de saúde e disponibilizando recursos e evidências sobre o tema, uma vez que 40% das gestações no mundo não são planejadas.7 Estudo realizado no Sul do Brasil evidencia que 65% das gestações não foram planejadas.8 Nesse sentido, citam-se algumas políticas de vanguarda nacionais, como o Caderno de atenção básica 32, revisado em 2013, que agora possui um capítulo sobre CPCs. Recentemente, uma política da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) acrescenta ácido fólico na farinha até 2018.9 Alguns recursos também estão disponíveis, inclusive no site da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade desde 2014.10 O segundo aspecto diz respeito à Agência de Qualidade em Pesquisa e Saúde, também dos EUA, que acrescentou, em seu último guia de recomendações,11 a suplementação de ácido fólico, com evidência A, em mulheres que desejam engravidar. Assim, o tema merece ainda maior atenção, pois, apesar das informações disponíveis, um estudo nacional mostra que metade dos médicos e enfermeiras ainda não relacionam a importância da consulta pré-concepcional com a prevenção de deformidades congênitas.12 O reconhecimento global em relação à evidência robusta de que grande parte das gestações não foi planejada gerou um esforço conjunto para a realização de intervenções eticamente aceitáveis e clinicamente eficazes neste momento crítico do ciclo de vida do casal. O CDC disponibiliza um site interativo, também em espanhol, informando mulheres e homens sobre esta fase do planejamento familiar.5 Enfim, existe a busca de um desfecho favorável nos CPCs, ou seja, o nascimento de um ser humano saudável. Do que se trata O CPC, embora considerado um novo paradigma, é objeto de estudo há mais de 20 anos nos EUA, que investem em pesquisas para identificar os riscos associados a desfechos desfavoráveis na gravidez. No Brasil, o aconselhamento e a educação em saúde são ferramentas nucleares na prática do médico de família e comunidade. Por isso, a inserção, de forma responsável, dos CPCs como prática assistencial será um grande avanço na prevenção, em todos os níveis de atenção, no que se refere à saúde da mãe e da criança, contribuindo com o desfecho favorável da gravidez. Cuidados pré-concepcionais Os CPCs podem contribuir significativamente para que casais se preparem antes da concepção e para que optem por decisões mais acertadas. Os objetivos dos CPCs são:13 ● Assegurar que a mulher e seu parceiro estejam em condições biopsicossociais saudáveis antes da concepção. ● Assegurar que a mulher e seu parceiro tenham conhecimento e acesso a todo tipo de informação sobre os riscos que podem ter desfechos negativos na gravidez, possibilitando mudanças de comportamento e eventuais tratamentos. ● Reduzir a chance de uma gravidez não desejada.13 Fatores associados a desfechos desfavoráveis na gravidez, como condições médicas, comportamentos pessoais e riscos psicossociais, podem ser identificados e monitorados antes da concepção; no entanto, os cuidados médicos tornam-se limitados quando a mulher só recorre a eles já grávida. Todos os médicos de família devem estar familiarizados com as necessidades pré- concepcionais, considerando o potencial de gestação como parte do cuidado de saúde para homens e mulheres em idade reprodutiva, além de acessar, avaliar e discutir o estado atual de saúde da mulher e possíveis implicações em uma gravidez. A atenção à saúde dos pais prospectivamente, antes que eles concebam, é uma extensão natural da clínica da medicina de família, e o médico deve dispor de suas habilidades e conhecimentos de prevenção de doenças e promoção à saúde para casais em idade reprodutiva.14 Todo médico de família pode aplicar os CPCs, independentemente de acompanhar o pré-natal e/ou o parto: ele pode ser efetivamente ofertado como parte da atenção primária à saúde (APS) e integrar os encontros clínicos rotineiros, como manutenção de saúde na escola, no trabalho e em exames pré-matrimoniais, consultas de planejamento familiar e testes negativos de gravidez.15 Nessas consultas, o médico de família deve abordar o tabagismo, a dieta e a nutrição, além de ressaltar a importância de iniciar o pré-natal cedo e de que um planejamento familiar eficaz pode clarificar as escolhas sobre estilo de vida, educação e comportamentos, que podem afetar a decisão de ficar grávida. A educação sobre a paternidade responsável e a sexualidade deve compor a atividade do médico de família, pois os homens devem estar envolvidos e preparados para a paternidade, e a avaliação de riscos deve encorajá-los a apoiarem suas parceiras, a fim de diminuir riscos reprodutivos. Promoção à saúde A promoção à saúde se aplica a todas as mulheres em idade reprodutiva como um componente importante no CPC, consistindo no aconselhamento e na educação do planejamento familiar. A intervenção clínica pré-concepcional implica melhorar a saúde materna ou infantil por meio de imunizações (Quadros 128.1 e 128.2) Além disso, estimula comportamentos saudáveis, permitindo que a mulher escolha o momento de engravidar: a gravidez não desejada ou não planejada está associada com demora do início do pré-natal e com comportamentos que aumentam o risco de desfechos desfavoráveis no nascimento.16 Nesses casos, as intervenções devem ocorrer antes da concepção, incluindo a opção de prorrogar a gravidez ou de não ter a criança. O aconselhamento inclui disponibilizar todas as informações sobre riscos clínicos, comportamentos de riscos, prevenções, tratamentos e programas assistenciais. O aconselhamento sobre práticas sexuais saudáveis e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs; ver Cap. 140), incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), é imprescindível antes da concepção, assim como orientar sobre evitar medicamentos teratogênicos e encontrar regimes alternativos durante a gravidez. Também é importante informar e auxiliar mulheres que trabalham fora sobre riscos ocupacionais e exposição a toxinas ambientais, além de disponibilizar informações sobre direitos legais como trabalhadoras grávidas e opções para cuidar dos filhos. O CPC deve enfatizar a importância do início precoce do cuidado pré-natal. Quadro 128.1 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por promoção à saúde Componente potencial Qualidade da evidência Planejamento familiar e plano de vida de reprodução A Atividade física C Condição do peso A Ingestão de nutrientes A Folato A Imunizações A Uso de substâncias A (tabaco) A (álcool) Infecções sexualmente transmissíveis B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Quadro 128.2 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por imunização Componente potencial Qualidade da evidência Papilomavírus humano B Hepatite B A Varicela B Sarampo, rubéola e caxumba A Influenza C Difteria, coqueluche e tétano B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Avaliação de riscos O CPC deve identificar os riscos clínicos, reprodutivos, familiares, a história psicossocial e nutricional, os riscos comportamentais e as exposições maternas. A integralidade dessa avaliação proporciona ao médico de família identificar riscos que podem ser modificados e evitar um desfecho desfavorável na gravidez, antes da concepção. A avaliação pré-concepcional inclui a história, o exame físico e alguns exames laboratoriais. ▲ Figura 128.1 Riscos pré-concepcionais. IST, infecção sexualmente transmissível; HIV, vírus da imunodeficiência humana. A Figura 128.1 mostra os riscos pré-concepcionais com a porcentagem de todos os riscos identificados em um teste de gravidez negativo, em um estudo. A figura demonstra a importância de uma avaliação pré-concepcional integral (nessa avaliação integral, o risco pré-concepcional foi identificado em mais de 90% das mulheres).18,19 História reprodutiva Toda avaliação pré-concepcional inclui a discussão sobre a menstruaçãoda mulher, a história sexual, contraceptiva e obstétrica (Quadro 128.3). Uma história de desfechos em gestações anteriores deve incluir o número e o tempo de cada gravidez prévia e a presença de complicações, como morte fetal, prematuridade e pós-datismo, crescimento intrauterino restrito (CIUR), macrossomia, hemorragias, cesarianas, DM gestacional (DMG), ou, então, hipertensão induzida pela gravidez. O fato de já ter amamentado e a história de contracepção fornecem informações importantes para o aconselhamento futuro. História de doenças infecciosas Todo médico de família deve fornecer rastreamento pré-concepcional, diagnóstico e educação de aconselhamento para HIV a todas as mulheres em idade reprodutiva (Quadro 128.4). Mulheres com diagnóstico positivo para HIV devem ser informadas sobre os riscos de transmissão vertical para a criança e a morbimortalidade associada, além de orientações sobre contracepção. As mulheres que optaram pela gravidez com HIV necessitam de orientação acerca dos tratamentos disponíveis, na tentativa de prevenir a transmissão vertical, bem como sobre a importância do cuidado pré-natal precoce. Quadro 128.3 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por história reprodutiva Componente potencial Qualidade da evidência Parto prematuro prévio A Cesariana prévia A Abortamento prévio A Natimorto prévio B Anomalias uterinas B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Quadro 128.4 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por doenças infecciosas Componente potencial Qualidade da evidência Vírus da imunodeficiência humana A Hepatite C C Tuberculose B Toxoplasmose C Citomegalovírus C Listeriose C Parvovírus C Malária C Gonorreia B Clamídia A Sífilis A Vírus herpes simples B Bacteriúria assintomática D Doença periodontal D Vaginose bacteriana D (mulheres sem prematuros) C (mulheres com prematuros) Estreptococo do grupo B D Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 A transmissão perinatal de HIV tornou-se a principal causa de doença e morte (85% das mulheres em idade reprodutiva). Existem aproximadamente 7 mil nascimentos por ano em mulheres infectadas pelo HIV nos EUA. Na falta de tratamento, o risco de infecção perinatal é entre 15 a 40% e varia de acordo com fatores maternos, como antigenemia CD8 e CD4, contagem de linfócitos e inflamação da membrana placentária. Sessenta e cinco a 70% das transmissões verticais ocorrem durante o trabalho de parto e o nascimento. Os fatores associados ao aumento de transmissão de riscos incluem: amamentação, uso de eletrodos no escalpe fetal, ruptura prematura de membranas, alta carga viral e contagem de CD4.20 As limitações desses estudos incluem mulheres que tinham doenças leves, mas não receberam tratamento prévio e os efeitos a longo termo que não eram conhecidos. As recentes recomendações favorecem o uso de regime de multifármacos para as mulheres com infecção por HIV (ver Cap. 261).21 Hepatites A cada ano nos EUA, mais de 300 mil pessoas, principalmente adultos jovens, são infectadas pelo vírus da hepatite B21; 6 a 10% dos adolescentes e pacientes adultos desenvolvem o estado de ser um portador crônico (ver Cap. 175). Estima-se que 16.500 nascimentos ocorrem com mulheres infectadas pelo vírus da hepatite B a cada ano nos EUA. Sem a disponibilidade da vacina, aproximadamente 4.300 recém-nascidos (RNs) por ano adquirem hepatite B de suas mães.22 A hepatite B adquirida durante a infância progride para doença crônica ou doença crônica ativa, ou infecção persistente, em mais de 95% dos casos. Essas infecções podem levar à morte precoce durante a idade adulta devido à cirrose ou a um hepatoma, em 25 a 50% dos casos.23 As mulheres suscetíveis à hepatite B, seja por contato sexual com pessoas infectadas, usuárias de drogas intravenosas, prostitutas, mulheres institucionalizadas e asiáticas do sudeste,24 devem ser testadas para evidenciar a infecção por hepatite B prévia ou em andamento e vacinadas antes da concepção. O MS recomenda rastreamento para hepatite B e C para o casal no período pré-concepcional. O vírus da hepatite C21 aumenta o risco de desenvolver cirrose e carcinoma hepatocelular: mulheres infectadas pelo vírus devem ser aconselhadas e informadas de que a rota mais fácil de transmissão é por meio de sangue infectado e seus derivados, e que o risco de transmissão perinatal atualmente é estimado entre 3 a 4%. No Brasil, é importante salientar que o Caderno de atenção básica sobre rastreamento da mulher adulta em idade reprodutiva não refere que o rastreamento de hepatites deve ser realizado a cada 10 anos, como recomendado em outros países. No entanto, ele é realizado na consulta de pré-natal. Toxoplasmose Aproximadamente um terço das mulheres, nos EUA, possuem anticorpos para toxoplasmose. As mulheres correm o risco de ter uma infecção durante a gravidez, resultando em uma infecção congênita. Estudos prospectivos realizados nos EUA estabeleceram uma incidência de toxoplasmose congênita de 1,1 para cada mil nascidos vivos. Das crianças nascidas de mães que apresentaram toxoplasmose durante a gravidez, 80% foram gravemente afetadas, o restante foi afetado com doença leve ou infecção subclínica; contudo, existem riscos de sequelas tardias, como coriorretinite, retardo mental e perda da acuidade auditiva. Efeitos fetais mais graves são mais prováveis quando a mãe é infectada no primeiro ou no segundo trimestre da gestação. O teste para imunidade ao Toxoplasma gondii medindo os anticorpos de imunoglobulina G fornece aos médicos as informações necessárias para melhor direcionar as orientações e aconselhamentos para as mulheres, sobretudo para aquelas com alto índice de adquirir toxoplasmose. Mulheres que já estão imunes podem ser tranquilizadas, pois não correm o risco de serem infectadas durante a gravidez. Mulheres suscetíveis devem ser aconselhadas, antes da gravidez, sobre como preparar e cozinhar alimentos, como carnes e verduras, e a evitar contato com fezes ressecadas de gatos, as quais são fontes dos protozoários da toxoplasmose no seu ciclo vital e podem infectar humanos.25,26 A frequência dos limites da infecção subclínica valoriza ou evidencia a importância do teste da toxoplasmose, pois a infecção no adulto é normalmente subclínica. Assim, o teste pré-concepcional pode ajudar o médico a identificar se há infecção aguda durante a gravidez ou infecção por Toxoplasma gondii. Há evidências de que mulheres que se submetem ao tratamento durante a gravidez convertem ou reduzem problemas neonatais. Os testes de anticorpos feitos durante a gravidez e que revelam infecção por toxoplasmose em mulheres que tiveram testes negativos antes da gravidez indicam que a infecção ocorreu durante a gestação. A ausência dessas informações pré-concepcionais pode dificultar a interpretação dos níveis obtidos durante a gravidez, e o diagnóstico tardio inviabiliza o tratamento no momento certo. Embora, em nosso país, a frequência de contaminação por toxoplasmose em humanos e animais seja elevadíssima para padrões americanos,27 uma amostra populacional de gestantes demonstrou que metade daquela população já tinha soropositividade para toxoplasmose.28 Portanto, não é irrelevante citar fatores que podem prevenir sua contaminação: usar luvas quando fizer jardinagem, não comer carne crua ou malcozida e lavar bem utensílios domésticos, frutas e verduras. Para os amantes de gatos, é recomendado mantê-lo saudável e cuidar ao manejarsua caixa de dejetos.29 Rubéola A infecção pelo vírus da rubéola21 durante a gravidez, particularmente durante as 16 primeiras semanas, pode resultar em aborto espontâneo ou morte fetal. Além disso, a criança pode nascer com a síndrome da rubéola congênita (ver Cap. 263, Doenças exantemáticas na criança). A incidência de rubéola foi reduzida em mais de 90% desde 1969, quando a vacina foi aprovada;15 no entanto, pesquisas sorológicas em várias populações ainda revelam que 10 a 20% das mulheres, durante a gravidez, não têm evidências sorológicas de imunidade a ela. O rastreamento pré-concepcional e a vacinação antes da gravidez podem prevenir a síndrome da rubéola congênita. A vacina deve ser dada, sem necessidade de teste, a mulheres que não foram testadas previamente, que não tenham recebido as duas doses da vacina sarampo, rubéola e caxumba (MMR) e que não estejam grávidas. Como a vacina contém o vírus vivo, existe um risco teórico de infecção intrauterina em caso de concepção após 3 meses. Não há comprovação de defeitos congênitos relacionados com concepções ocorridas logo após a vacinação. Catapora ou varicela A disponibilidade de vacina contra varicela, mais conhecida como catapora, e a rara ocorrência da síndrome da varicela congênita e a gravidade da doença em crianças nascidas de mulheres infectadas durante a gravidez, sugere que realizar a imunização pré-concepcional em mulheres sem história prévia de varicela pode ser um grande benefício (ver Cap. 263, Doenças exantemáticas na criança). Mulheres em idade reprodutiva, sem história prévia de varicela, podem receber duas doses da vacina, desde que não estejam grávidas e que sejam devidamente orientadas a evitar a concepção durante um mês após serem vacinadas.30 Vaginose bacteriana A vaginose bacteriana (VB) (ver Cap. 135, Corrimento vaginal) tem sido associada ao nascimento de crianças com baixo peso,31 sendo que o tratamento, ainda durante a gravidez, reduz o risco de parto prematuro.32 Há benefícios ao diagnosticar e tratar mulheres com VB antes da concepção, como nos casos de infecção tipo bacteriúria assintomática; a recorrência pode limitar o valor da detecção pré-concepcional. Exposição a teratogênicos O acesso aos hábitos rotineiros nos ambientes de casa e do trabalho pode identificar exposições associadas a consequências reprodutivas adversas, mas que podem ser reduzidas no período pré-concepcional. Os efeitos de produtos químicos em uso ocupacional para a gravidez são desconhecidos, no entanto, metais pesados e solventes orgânicos têm sido implicados em uma variedade de distúrbios reprodutivos. É prudente educar as mulheres, antes e depois da concepção, sobre os possíveis riscos e quais são os fatores de potencial teratogênico de qualquer químico ou agente ambiental aos quais estão expostas (Quadro 128.5).33 Medicamentos O médico de família deve perguntar sobre o uso de medicamentos prescritos e não prescritos e prover informações sobre as escolhas mais seguras (Quadro 128.6). O cuidado pré-natal precoce deve ser aconselhado para mulheres que querem monitoramento cuidadoso de medicamentos durante a gravidez. A modificação pré-concepcional de regimes terapêuticos, incluindo a eliminação de fármacos que têm efeitos teratogênicos, como o lítio, a isotretinoína, os antagonistas do ácido fólico e os anticonvulsivantes, pode reduzir os riscos fetais. Por exemplo, a isotretinoína, usada no tratamento para a acne, é altamente teratogênica, causando defeitos craniofaciais, malformações no sistema cardiovascular e no sistema nervoso central e defeitos do timo.34 Entre os fetos que sobrevivem até as 20 primeiras semanas, a taxa de malformação é de 23%. Por ano, é estimado que 4.000 mulheres, entre 15 a 44 anos, usam esse tipo de substância, porém mais de 65 mil mulheres em idade reprodutiva recebem essa prescrição.35 Em alguns casos, no aconselhamento pré-concepcional para mulheres que aceitam adiar ou evitar a gravidez, há medicações alternativas que podem ser prescritas ou dosagens reduzidas (p. ex., mulheres que requerem anticoagulantes devem ser orientadas a substituírem por heparina antes da concepção). No Brasil, tem-se a opção de consultar o site do Serviço Nacional de Agentes Teratogênicos,36 que traz informações sobre o tema. O aplicativo Epocrates® para smartphones, em sua versão gratuita, também oferece a opção de pesquisa sobre a segurança de medicamentos. Quadro 128.5 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por exposição ambiental Componente potencial Qualidade da evidência Mercúrio B Chumbo C Perigos do solo e da água B Local de trabalho B Lar A Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Quadro 128.6 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por medicação Componente potencial Qualidade da evidência Prescrição A Medicação sem necessidade de prescrição A Suplementos dietéticos A Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 História médica Os CPCs incluem a detecção e o controle de algumas condições médicas específicas (Quadro 128.7). Avanços na efetividade de tratamentos médicos e aumento da taxa de gravidez em mulheres acima de 30 anos resultaram, também, no aumento da frequência de mulheres com doenças crônicas decidindo conceber. Nos casos de doenças preexistentes, o CPC deve incluir uma avaliação para identificar possíveis riscos para a mulher e para a criança, bem como aconselhamento sobre evitar, prorrogar ou não conceber. Quadro 128.7 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por condições clínicas Componente potencial Qualidade da evidência Diabetes melito A B (adultos com sobrepeso e obesidade) Doença da tireoide A Fenilcetonúria A Distúrbios convulsivos A Hipertensão A Artrite reumatoide A Lúpus eritematoso sistêmico B Doença renal B Doenças cardiovasculares B Trombofilia C (mulheres que não utilizam varfarina) B (mulheres que utilizam varfarina) Asma B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Doença cardiovascular Doenças cardiovasculares, incluindo hipertensão (ver Cap. 157, Prevenção primária e secundária para doenças cardiovasculares), são as condições crônicas mais comuns entre mulheres em idade reprodutiva. Algumas dessas condições são de grande importância para a gravidez, como a doença reumática ou os defeitos congênitos cardíacos, ou seja, a avaliação de sua presença e de sua gravidade pode ajudar no aconselhamento da mulher sobre o potencial impacto da gravidez na sua saúde. Para algumas mulheres, cirurgia corretiva é indicada antes da concepção. Mulheres que têm algum tipo de defeito cardíaco congênito podem se beneficiar de aconselhamento genético.22 Dados mostram que mulheres com hipertensão referida têm maior chance de aderir à mudança no estilo de vida durante a pré-concepção.37 Diabetes melito O controle melhorado da glicose materna e o monitoramento fetal anteparto têm reduzido significativamente a taxa de mortalidade durante as gestações complicadas por diabetes insulinodependente (ver Cap. 178). Hoje, a principal causa de mortalidade perinatal durante a gravidez complicada por DM1 é a malformação congênita grave (o risco na população geral é entre 2 e 3%, ao passo que essas malformações são observadas em aproximadamente 10% das gestações complicadas por DM insulinodependente). Mesmo que, potencialmente, cada sistema de órgãos possa ser afetado, as anormalidades características incluemagenesia sacral, efeitos complexos cardíacos, espinha bífida e anencefalia. Essas malformações ocorrem durante um período crítico da organogênese fetal, aproximadamente de 5 a 8 semanas após a última menstruação.38 A taxa de malformações congênitas em crianças nascidas de mulheres com DM insulinodependente é significativamente reduzida quando elas mantêm um controle rigoroso de sua glicose sanguínea durante a organogênese, o que foi demonstrado por pelo menos seis estudos clínicos.39 Mulheres com níveis de hemoglobina glicada normal têm menores riscos de conceberem crianças com malformação congênita, o que aumenta em 25% naquelas com níveis mais altos. A prevenção desse tipo de malformação, por meio do CPC, pode economizar cerca de 2.500 reais por parto.40 Epilepsia O risco de ocorrerem malformações graves, pequenas anomalias ou alterações dismórficas é duas a quatro vezes maior nas mulheres com epilepsia e que recebem tratamento com fármacos antiepiléticos, se comparado ao risco de mulheres sem epilepsia (ver Cap. 230). Mulheres com epilepsia idiopática sem convulsões, por 2 anos ou mais, e com um eletrencefalograma normal devem passar um período sem a medicação antes de tentar uma gravidez. A hora adequada deve ser percebida para monitorar esses resultados, pois uma convulsão hipoxêmica cedo na gestação pode ter sérias consequências. Medicações como ácido valproico, fenitoína e fenobarbital têm sido associadas a defeitos no tubo neural. Se anticonvulsivantes são necessários durante a gravidez, e a mulher pretende ficar grávida, a medicação menos tóxica deve ser iniciada antes da gravidez e ajustada frequentemente para manter os níveis séricos em um nível mais baixo efetivo.41,42 Doença médica tratada Mulheres com história de doenças médicas tratadas com êxito também podem estar vulneráveis durante a gravidez. Por exemplo, mulheres com problemas de tireoide que tiveram ablação para doença de Graves podem ter, ainda, anticorpos estimulantes da tireoide e induzir à tireotoxicose em seus fetos.43 Mulheres com hipotireoidismo devem ser tratadas antes da gravidez.44 Mulheres com história de trombocitopenia imune também têm um risco de hemorragia em seus fetos. Mulheres com história de embolia pulmonar têm risco de recorrência durante a gravidez e, se optarem por engravidar, devem iniciar um pré-natal muito cedo e avaliação obstétrica monitorada durante a gravidez.45 Para algumas mulheres, a avaliação cuidadosa da natureza de ida e vinda da sua doença permite que o médico faça um aconselhamento sobre qual é o momento adequado para a gravidez. Por exemplo, mulheres com lúpus eritematoso sistêmico podem ser monitoradas pela presença de hormônios anticardiolipina associados com alto risco de perdas no terceiro trimestre. Essas mulheres podem se beneficiar ao engravidarem no momento em que sua doença está em remissão, incluindo a inexistência desses anticorpos ou depois da terapia supressiva.46,47 História genética familiar O momento ideal para a investigação genética, a identificação do risco genético e o aconselhamento é antes da concepção (Quadro 128.8) (ver Cap. 35, Abordagem familiar). O aconselhamento pré-concepcional genético deve ser oferecido para pacientes com indicações específicas, como mulheres em idade materna avançada, história familiar de doenças genéticas ou uma gravidez previamente afetada. O rastreamento de carreadores em pacientes heterozigotos para algumas condições genéticas (e, portanto, com um risco aumentado a conceber uma criança com esse tipo de doença) é de significância especial, porque torna relevante o aconselhamento antes que a primeira gravidez seja afetada. Quadro 128.8 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por história familiar e genética Componente potencial Qualidade da evidência Todos os indivíduos B Etnia B História de família B Gestação anterior C Outras variantes genéticas B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Distúrbios comuns para esse tipo de rastreamento genético incluem: a doença de Tay-Sachs para pessoas do leste europeu ou de ancestrais franco-canadenses; beta-talassemia para aqueles de origem mediterrânea ou do sudoeste asiático, índio-paquistanês ou ascendência africana; alfa-talassemia para pessoas descendentes do sudeste asiático; anemia falciforme para descendentes africanos;48 e fibrose cística para aqueles pacientes com história familiar da doença.49 A história familiar apresentará outros riscos, como doenças genéticas, a doença do X frágil ou a síndrome de Down. O aconselhamento genético e um teste genético são imprescindíveis quando os dois membros do casal são afetados por doenças genéticas ou têm um parente afetado, pois esclarece quais os riscos e, se necessário, quais exames diagnósticos devem ser feitos, como amostras de células pilosas ou amniocentese, no início da gravidez. O rastreamento proporciona ao casal várias opções de como fazer o melhor planejamento, mais tempo para decidir se devem ou não conceber, adotar uma criança ou, ainda, fazer inseminação artificial, fertilização in vitro, além de poder alterar o gerenciamento clínico da gravidez e do RN. Para casais com riscos identificados após a concepção, a única opção é o aborto induzido. Prevenção de defeitos do tubo neural A consulta pré-concepcional deve incluir aconselhamento nutricional para assegurar que todas as mulheres em idade reprodutiva tenham em suas dietas uma quantidade adequada de ácido fólico. Existem evidências, nos EUA, de que a administração de suplementação de ácido fólico antes da concepção e durante o primeiro trimestre da gravidez pode prevenir grande proporção de espinha bífida e anencefalia. A chance de uma mulher ter uma criança com defeito do tubo neural foi associada a baixos níveis de folato nas células sanguíneas em uma relação contínua dose-resposta. Esse achado sugere que pode ser possível identificar e suplementar mulheres com baixos níveis de ácido fólico e prevenir defeitos dos tubos neurais.50 Em 1991, um ensaio clínico controlado feito com mulheres que tiveram crianças com defeitos do tubo neural confirmou que 4 mil doses de 4 mg de ácido fólico antes e durante o início da gravidez reduziram em 71% a incidência de defeitos nos tubos neurais.51 Esse estudo não descreveu benefícios em doses mais baixas de ácido fólico, no entanto, outros estudos sugerem que doses menores também podem resultar em reduções semelhantes e também demonstraram que, entre mulheres que não tiveram gravidezes com defeitos do tubo neural, a administração do ácido fólico pode reduzir, substancialmente, o número desses defeitos.52 O serviço público americano recomenda que todas as mulheres em idade reprodutiva ou que são capazes de engravidar devem consumir 0,4 mg de ácido fólico por dia, com o propósito de reduzir o risco de ter uma gravidez afetada por espinha bífida ou outra doença de defeitos do tubo neural. Os efeitos de altas doses ainda não são bem conhecidos, mas podem complicar o diagnóstico de deficiência de vitamina B12. O cuidado deve ser feito para que o consumo de folato seja de 1 mg por dia.53 Implementando esse tipo de recomendação, pode-se prevenir em até 60% os defeitos congênitos do nascimento.54 Nutrição O estado nutricional (Quadro 128.9)55 de uma mulher na concepção tem efeitos profundos no desfecho reprodutivo. Na consulta pré-concepcional, uma história dietética completa inclui hábitos alimentares, estilo de vida, uso de suplementos, vitaminas e minerais,alergias alimentares, conhecimento sobre uma boa alimentação e disponibilidade de alimentos (ver Cap. 76, Orientações essenciais em nutrição). A intolerância à lactose deve ser identificada, e a adequação do cálcio dietético, avaliado. Em casos de diagnósticos para bulimia, anorexia ou hipervitaminose, o médico de família deve referenciar para tratamentos emocionais/psíquicos; mulheres com riscos nutricionais devem receber intervenções nutricionais individualizadas, possivelmente com a ajuda de um nutricionista. Quadro 128.9 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por nutrição Componente potencial Qualidade da evidência Suplementos dietéticos C Vitamina A B Ácido fólico A Multivitaminas A Vitamina D B Cálcio A Ferro A Ácidos graxos essenciais B Iodo A Sobrepeso A Desnutrição A Transtornos alimentares A Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 A avaliação pré-concepcional do estado nutricional deve identificar mulheres que estão com peso baixo ou sobrepeso para desenvolvimento de planos de gerenciamento. Mulheres com peso baixo e que ganham pouco peso durante a gravidez estão em maior risco de ter morbidade e mortalidade fetal e neonatal. No outro extremo, a obesidade pronunciada é associada com DMG, com defeitos de tubo neural, hipertensão, crianças macrossômicas, parto prolongado e distocia de ombro.56 ● Cálcio: a recomendação do consumo de cálcio para toda mulher grávida ou mulheres adolescentes varia entre 1.200 e 1.500 mg por dia, mas a média de consumo relatada está entre 600 a 700 mg por dia, o que é insuficiente para disponibilizar uma boa regulação da pressão durante a gestação.5.É adequado recomendar que toda mulher em idade reprodutiva consuma um nível adequado de cálcio.58 ● Vitamina A: a dose alimentar definida para mulheres é de 700 RAEs de vitamina A por dia. Atualmente, apenas 1 a 2 % consomem mais de 3.000 RAEs (= 10 mil unidades internacionais) de vitamina A por dia. Evidências em humanos sugerem que o consumo de mais de 3.000 RAEs por dia resulta em problemas cranianos e defeitos neurais.59 ● Fenilcetonúria: crianças nascidas de mulheres com fenilcetonúria clássica, com níveis de fenilalanina maiores do que 20 mg/dl, têm muita chance de ter microcefalia e retardo mental, bem como risco maior de doenças congênitas cardíacas e CIUR. Restrições dietéticas que podem resultar em menores níveis de fenilalanina materna durante as primeiras semanas de gestação podem reduzir o risco de malformações fetais.60,61 Fatores psicossociais A avaliação de riscos pré-concepcionais proporciona a identificação de riscos relacionados com fatores pessoais, sociais e características psicológicas (Quadros 128.10 e 128.11) (ver Cap. 75, Estratégias comportamentais de motivação aplicadas a mudanças de hábitos de vida voltadas para a saúde, e Cap. 79, Sexualidade e diversidade). Riscos de natureza pessoal, como falta de recursos financeiros adequados, baixa renda, habitação inadequada, falta de assistência médica, dificuldades de comunicação, problemas ou dificuldades no planejamento familiar ou no início do pré-natal, podem ser detectados. Os riscos psicológicos que podem ser identificados por um profissional sensível incluem: falta de preparo para a gravidez, falta de apoio pessoal, dificuldade de resolver seus próprios problemas, estresse alto, ansiedade e condições psiquiátricas. Avaliar também o trabalho físico exagerado, os exercícios e outras atividades. Vítimas de violência doméstica devem ser identificadas pré-concepcionalmente, pois têm mais chance de serem abusadas durante a gravidez (ver Cap. 82, Abordagem à violência doméstica). Quadro 128.10 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por condições psiquiátricas Componente potencial Qualidade da evidência Depressão/ansiedade B Doença bipolar B Esquizofrenia B Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Quadro 128.11 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por riscos psicossociais Componente potencial Qualidade da evidência Recursos financeiros inadequados C Acesso aos cuidados da saúde C Físico/abuso sexual C Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Até 25% das pacientes obstétricas abusadas fisicamente o são durante a gravidez, e esses ataques podem resultar em separação da placenta, hemorragia anteparto, fraturas fetais, ruptura do útero, do baço e do fígado e trabalho de parto prematuro. Toda mulher deve ter acesso às informações disponíveis na comunidade, recursos sociais e judiciais e um planejamento para lidar com parceiros abusivos.62 Implementar um programa de CPC integral para muitas mulheres inclui barreiras de acesso ao cuidado médico. Nesses casos, as barreiras devem ser identificadas, e o desenvolvimento de uma relação pessoal com o médico de família antes da gravidez pode, com muito sucesso, acabar com muitos desses impedimentos.63 A avaliação pré-concepcional deve incluir a avaliação do suporte social e da função familiar. O médico de família pode avaliar o suporte social disponível e ajudar a identificar problemas potenciais, como violência doméstica, dificuldades na paternidade e outros estresses que podem afetar a gravidez e o cuidado da criança. Comportamentos de alto risco Questionamentos relacionados ao estilo de vida pessoal e social da paciente para identificar comportamentos (ver Quadro 128.12) que podem comprometer o desfecho reprodutivo (p. ex., o tabagismo; (ver Capítulo 242), contribui para a resolução de muitos problemas obstétricos, como parto prematuro, CIUR, descolamento de placenta, placenta prévia e aborto espontâneo. Quadro 128.12 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por exposição dos pais Componente potencial Qualidade da evidência Álcool B Tabaco A Substâncias ilícitas C Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 Há cada ano, produtos relacionados ao tabaco são responsáveis por uma estimativa de 61 mil crianças nascidas com baixo peso, representando 11 a 21%, e 14 mil crianças que necessitam de internação na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Estima-se que o uso do tabaco também é responsável por causar entre 1.900 e 4.000 mortes infantis por distúrbios perinatais e de 1.000 a 2.200 por síndrome da morte súbita infantil.64 Mesmo assim, 25% das mulheres grávidas nos EUA fumam e continuam fumando, alegando não saberem dos riscos.14,65 A intervenção pré-concepcional provê informações sobre os benefícios da cessação do tabagismo, bem como os benefícios para as crianças, que, muitas vezes, são a motivação para as mães pararem de fumar. Essa motivação é muito valiosa para aquelas mulheres que necessitaram de várias tentativas antes de pararem. Uso do álcool O uso do álcool (ver Cap. 243) antes da gravidez pode ter consequências devastadoras para o feto. A síndrome alcoólica fetal (SAF) é mais comum do que a síndrome de Down e a espinha bífida e, agora, é sabidamente a principal causa de retardo mental.66 O álcool é um teratogênico que causa dano fetal, retardo de crescimento, anomalia nos órgãos, problemas neurossensoriais e retardo mental. Em um estudo com 85 mulheres, só 55% ouviram falar da SAF, e menos de 25% sabiam sobre riscos de defeitos congênitos.14 Não foi estabelecido um nível seguro para uso do álcool durante a gravidez: os efeitos adversos podem começar cedo, antes mesmo de a mulher saber que estágrávida. É estimado que 11% das mulheres que bebem de 30 a 60 mL de álcool durante o primeiro trimestre têm bebês com características consistentes dos efeitos pré-natais do álcool.67 Todas as mulheres em idade reprodutiva devem receber informações acuradas sobre as consequências do uso do álcool durante a gravidez, e as mulheres com esse problema devem ser identificadas e educadas quanto aos riscos do consumo, e esforços devem ser feitos para ajudá-las a parar. Uso de substâncias O uso de cocaína, de heroína e de outras substâncias (ver Cap. 244) durante a gravidez pode levar ao aborto espontâneo, à prematuridade, ao descolamento de placenta, ao crescimento intrauterino restrito, às anomalias congênitas e a mortes fetal ou neonatal.68,69 Estima-se que de 10 a 15% das mulheres usam cocaína, heroína, metadona, anfetaminas, fenciclidina ou maconha durante a gravidez.70 Uma avaliação cuidadosa para identificar o uso de substâncias ilegais pode ser parte da avaliação pré-concepcional. O uso recreacional pode não ser considerado problema pela mulher, e ela pode não saber que os perigos do uso ocasional acontecem no primeiro trimestre da gravidez (p. ex., o uso de cocaína no primeiro trimestre da gravidez, antes mesmo de a mulher saber que está grávida, é associado a problemas congênitos mesmo que ela interrompa o consumo no restante da gravidez).71 O CPC deve prover informação e educação sobre os riscos do uso ocasional de drogas. O médico de família, quando identificar mulheres usuárias de cocaína e outras substâncias, deve encorajá-las a se absterem e a usarem o controle efetivo de contraceptivos até que o uso de substâncias tenha sido efetivamente tratado. Exames físicos e testes laboratoriais Os CPCs devem incluir todos os cuidados preventivos apropriados para a idade da mulher, incluindo exames físicos e testes laboratoriais. Elementos importantes do exame físico incluem a pressão arterial e o pulso, o peso, a altura, o exame pélvico e das mamas. Testes laboratoriais devem ser oferecidos a todas as mulheres na avaliação pré-concepcional e incluem: testes sorológicos para rubéola, exames de urina, para detectar proteína ou glicose, determinação da hemoglobina (Hb), do hematócrito (Ht), para detectar anemia ferropriva, antígeno de superfície para hepatite B, teste de HIV e rastreamento toxicológico para drogas ilícitas. No Brasil, uma Portaria exige a solicitação dos seguintes exames durante o pré-natal: glicemia, tipagem ABO-Rh, VDRL, glicemia de jejum e Hb/Ht.72 Devido à epidemia de sífilis no Brasil,73 é aconselhável solicitar o VDRL no período pré-concepcional em todas as mulheres e seus parceiros. Deve ser feito o exame de Papanicolau, pois, assim, a displasia cervical pode ser detectada e tratada antes da concepção, o que é mais seguro do que durante a gravidez. Para mulheres em grupos de alto risco, podem ser oferecidos outros testes laboratoriais, incluindo gonorreia, sífilis, clamídia e rastreamento para VB, para que a infecção possa ser tratada antes da concepção. Os exames laboratoriais também podem incluir títulos de anticorpos para toxoplasmose e rastreamento para as hemoglobinopatias, doenças de Tay-Sachs e cariótipos parentais anormais para mulheres selecionadas. Um teste de derivado proteico purificado deve ser feito em áreas em que a tuberculose é prevalente e, quando detectado, o tratamento deve, necessariamente, começar antes da gravidez. Vale mencionar que um grupo de pesquisadores e especialistas dos CPCs percebeu que os testes pré-concepcionais para mulheres com vírus herpes simples e citomegalovírus podem ser úteis.74 Intervenções Um programa completo de CPC inclui o acompanhamento integral pelo médico de família e comunidade. Para serem mais efetivos, os serviços de integração devem estar mais disponíveis e coordenados para a comunidade: a coordenação do cuidado médico e dos serviços comunitários, como os de enfermagem, visitadores, assistentes sociais, conselheiros em saúde mental, entre outros, assim como o NASF75 podem contribuir significativamente com o cuidado integral e coordenado da mulher em seus problemas médicos e riscos psicossociais.76 Muitas influências culturais e sociais, incluindo comportamento e valores oriundos de casa, das escolas, das igrejas, dos pares e da mídia, contribuem para a decisão de homens e mulheres, na adolescência e nos primeiros anos da idade adulta, no que se refere à sexualidade e a ter filhos. O CPC, com sucesso, identifica mulheres com vários riscos e, assim, recursos podem ser direcionados para as que mais necessitam. Infelizmente, mulheres em risco social, ou com um risco aumentado para um desfecho desfavorável na gravidez, encontram, algumas vezes, barreiras para obterem esses serviços médicos, incluindo aconselhamento pré-concepcional. Na Estratégia Saúde da Família, esses casos podem ser discutidos por toda a equipe, como o envolvimento do NASF e a avaliação dos recursos disponíveis para auxiliar na redução de riscos materno-infantis. O Brasil tem grande potencial para demonstrar que esse conceito é uma mudança importante e significativa. Muitas das intervenções necessárias, de fato, já fazem parte inclusive do Programa Nacional de Imunização, como a vacinação para pailomavírus humano.20,76 Para identificar mulheres com maiores necessidades de assistência e aconselhamento, o médico de família deve ofertar o CPC nos postos de saúde e em ambientes mais vulneráveis, como em abrigos femininos e prisões.74 Grupos especializados em revisão sistemática encontraram poucas evidências na utilização do CPC, embora admitam que sejam necessários mais ensaios clínicos.75 Atualmente, existem intervenções eficazes realizadas nos últimos anos nos EUA e na Europa.77 O Quadro 128.13 reproduz a influência do CPC em populações vulneráveis, dados que os autores não citaram, mas que acreditam ter relevância em um contexto sociocultural diverso como o brasileiro. Quadro 128.13 | Qualidade da evidência conforme sistema GRADE para intervenção clínica pré-concepcional para melhorar a saúde materna ou infantil por populações especiais Componente potencial Qualidade da evidência Mulheres com deficiências B Imigrantes e refugiados B Neoplasias A Homens A Fonte: Adaptado de Jack e colaboradores.17 REFERÊNCIAS ► CAPÍTULO 129 Contracepção Hamilton Lima Wagner Patrícia Pamella Ferreira de Souza Aspectos-chave ► Para a contracepção, não há contraindicação específica para a idade, quando avaliada isoladamente. ► Devem-se verificar sempre comorbidades, fatores de risco, medicamentos em uso. ► Exames laboratoriais e de imagem não são necessários para iniciar contracepção, se houver condições clínicas favoráveis. ► Ao médico, cabe a orientação adequada sobre os benefícios e os riscos dos métodos contraceptivos, incluindo taxas de falha, deixando a pessoa livre para escolher. ► O médico de família deve sempre abordar a importância do uso de preservativos, independentemente do uso de outros métodos, para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Caso clínico 1 Cláudia, 15 anos, estudante. Solicita orientação sobre contracepção, pois iniciou vida sexual. Pede sigilo, pois não quer que os pais saibam. História de epilepsia, descoberta há 1 ano, sob controle com uso de ácido valproico. Caso clínico 2 Paula, 35 anos, tabagista 10 cigarros/dia, com três filhos. Deseja retomar uso de pílula combinada, pois iniciou novo relacionamento e não se sente segura com o coito interrompido (método que está utilizando). Seu companheiro atual não tem filhos e, apesar de já ser mãe de três filhos, Paula achaque poderá ter mais. História de enxaqueca sem aura há 10 anos. Caso clínico 3 Mariana, 25 anos, operária, vem à consulta pedindo esterilização – “não quero mais ser mãe”. Teve um primeiro casamento aos 15 anos, no qual teve três filhos, e um segundo relacionamento aos 21, quando teve mais um filho. Atualmente, Mariana está solteira e tem certeza de que não quer mais filhos. Alega que, quando o casamento não funciona, as crianças ficam com a mãe e que não tem condições de cuidar de mais crianças. Quando exposto à paciente que um novo relacionamento poderia demandar mais filhos, ainda assim ela reafirma sua certeza. Teste seu conhecimento 1. Com relação ao Caso clínico 1, assinale a alternativa correta. a. Deve-se solicitar a presença do responsável legal para a consulta b. Está contraindicada contracepção hormonal combinada c. O uso de métodos naturais costuma ser bem aceito nesta faixa etária d. É papel do médico de família abordar sobre prevenção de ISTs na consulta de contracepção 2. Sobre o Caso clínico 2, quais são os limites da contracepção hormonal combinada? a. Enxaqueca com aura é contraindicação absoluta b. Tabagista ≥ 15 cigarros/dia e ≥ 35 anos é contraindicação absoluta c. Alteração da libido é uma das complicações possíveis dos contraceptivos combinados d. Todas estão corretas 3. Em relação ao Caso clínico 3, quais indicações estão corretas para a contracepção definitiva? a. O desejo da paciente prevalece sobre paridade e idade b. Ter mais de três filhos e relação estável há mais de três anos c. Ter mais de 25 anos ou dois filhos vivos d. Passar por avaliação com psicólogo que dê laudo favorável 4. Sobre o dispositivo intrauterino, podemos afirmar: a. O dispositivo intrauterino (DIU) T Cu 380, após ser inserido, tem duração de 5 anos b. O método só pode ser utilizado em mulheres que já tiveram filhos c. Não é necessária a retirada do DIU se a mulher desenvolver doença inflamatória pélvica d. É obrigatório o seguimento periódico com ultrassonografia após inserção do DIU para avaliar sua localização Respostas: 1D, 2D, 3C, 4C Do que se trata O tema reprodução, em particular a contracepção, é muito prevalente dentro do cenário da atenção primária à saúde (APS). É papel fundamental do médico de família e comunidade orientar pacientes e familiares sobre os diferentes modos de contracepção disponíveis e permitir que a família decida o método mais apropriado aos seus interesses. A saúde contraceptiva é um direito fundamental garantido em lei. A partir dos 12 anos, todo adolescente tem direito à contracepção, independentemente da presença ou autorização dos responsáveis, de acordo com o estatuto da criança e do adolescente. Do mesmo modo, a legislação brasileira cria normas adequadas para a definição de quando e como esterilizar. É possível dividir contracepção em métodos hormonais, métodos químicos, métodos de barreira, métodos naturais de controle da fertilidade, métodos definitivos e contracepção de emergência. Cada uma das alternativas oferece uma série de opções. Contracepção hormonal A contracepção hormonal pode ser feita com a combinação de estrogênios e progestagênios ou com progestagênios isolados. Há vários métodos para a administração desses hormônios e várias combinações disponíveis. O estrogênio é um hormônio sexual feminino por excelência, que induz o desenvolvimento de caracteres sexuais femininos e o crescimento endometrial. Contudo, suas ações ocorrem em todo o organismo. Os hormônios estrogênios naturais são o estradiol e o estriol. Eles levam ao aumento do trofismo de órgãos genitais femininos, bem como ao aumento e turgor de mamas. Atuam também no sistema nervoso central, estimulando um comportamento mais expansivo e exuberante. Ao se utilizar estrogênio nos contraceptivos, lança-se mão de produtos sintéticos muito mais potentes do que os estrogênios naturais, como o etinilestradiol – 1.000 vezes mais potente do que o estradiol, o enantato de estradiol e o valerato de estradiol. A maioria dos contraceptivos orais combinados, assim como o adesivo transdérmico e o anel vaginal de hormônio usam, no Brasil, etinilestradiol. Os injetáveis combinados apresentam enantato de estradiol ou valerato de estradiol, aumentando a sua meia-vida. Os efeitos colaterais dos estrogênios devem ser conhecidos, pois são fatores importantes na escolha do método. Eles estão associados ao aumento do risco de tromboembolia venosa,1 presença de enxaqueca e alterações lipídicas. Além disso, podem provocar mudanças no humor,2 náuseas e alterações da libido. Há uma extensa gama de progestagênios disponíveis no mercado: a maior parte é derivada da 19-nortestosterona, alguns da progesterona e mais recentemente surgiu o análogo da espironolactona3 (Figura 129.1). Os progestagênios mais modernos apresentam efeitos antiandrogênicos, o que diminui os efeitos colaterais de pele (Tabela 129.1). ▲ Figura 129.1 Organograma das progestinas sintéticas. A combinação de estrogênio e de progastogênio varia de contraceptivo para contraceptivo, exigindo uma compreensão por parte do médico do que se está usando e qual é o seu objetivo. Alguns estudos demonstram menores níveis de segurança para doenças tromboembólicas com os combinados com progestagênios antiandrogênicos.4 O uso prolongado de estrogênios parece estar associado com o aumento de neoplasias de mama – havendo familiares de primeira geração com a patologia, esse risco chega a aumentar quase cinco vezes. Por outro lado, o uso de contracepção hormonal diminui a prevalência de neoplasias de ovário e de endométrio.5 Como médico de família e comunidade, não se deve perder o foco nas alterações comportamentais que podem advir do uso de contracepção hormonal. O uso de estrogênios – e contraceptivos com predominância de ação estrogênica – pode levar à irritabilidade, e o uso prolongado, à diminuição da libido. O predomínio de ação progestogênica pode levar ao aumento de sensibilidade e a ganho de peso (e em alguns, à base apenas de progesterona, pode desencadear quadros de melancolia e excepcionalmente depressão). Contraceptivos com ação antiandrogênica podem interferir mais intensamente na libido. Contracepção química O método químico mais efetivo é o DIU de cobre, que atua inibindo a movimentação dos espermatozoides, mas depende de tolerância das pacientes à presença do metal – cerca de 20% das pacientes apresentarão intolerância de maior ou menor grau ao dispositivo devido à reação ao cobre.6 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não é indicada a inserção do DIU na presença de cervicite ou de doença inflamatória pélvica (DIP), e o desenvolvimento das ISTs após o DIU inserido não implica necessidade de remoção do dispositivo, a infecção podendo ser tratada com o DIU in loco.7 Existem também no mercado espermaticidas, como o nonoxinol, em apresentação de geleia, supositórios ou esponjas. Devido à baixa efetividade como contraceptivo, geralmente é usado como complemento de métodos de barreira. Tabela 129.1 | Ações dos progestagênios Progesta-gênio Ação Progestogênica Antigonadotrófica Estrogênica Antiestrogênica Progesterona + + – + Clormadinona + + – + Acetato de ciproterona + + – + Medroxiprogesterona + + – + Nomegestrol + + – + Noretisterona + + + + Linestrenol + + + + Levonorgestrel + + – + Norgestimato + + – + Dienogeste + + ± ± Gestodeno + + – + Desogestrel + + – + Drospirenona + + – + Contracepção de barreira Há diversos métodos de barreira, iniciando pelos preservativos – masculino e feminino –, os quais têm a vantagem adicional de prevenirem ISTs, além da contracepção. Comosão métodos que interferem com a prática sexual, é fundamental em sua prescrição o conhecimento sobre a motivação e sobre como é usado, fazendo parte do ato sexual. Menos difundido em nosso meio, há o diafragma, também um método de barreira que, quando usado com espermaticida, oferece um nível de proteção muito próximo do contraceptivo hormonal oral. Como é um método que exige manipulação genital e um razoável conhecimento da anatomia feminina, ele exige um pouco de paciência para explicar à paciente, de forma adequada, o modo de usá-lo. Além da colocação pré-coital, devendo permanecer pelo menos 12 horas após a relação, o diafragma também pode ser usado banho a banho, oferecendo à paciente a possibilidade de colocá-lo em maior privacidade e não interferir com a prática sexual – neste modo de usar, aplicar a dose de espermaticida antes da relação. Uma vez colocado de forma adequada, ele não se desloca com as atividades cotidianas. Entre os métodos de barreira há ainda o capuz cervical, mas atualmente está em desuso devido à baixa efetividade e ao risco de DIP e de sepse. Métodos naturais Os chamados métodos naturais são executados pelo conhecimento do período fértil da paciente. O primeiro é feito usando o método do ritmo – ou tabelinha –, que se baseia na duração da segunda fase do ciclo menstrual, em torno de 14 dias. A fórmula a ser aplicada é diminuir 17 do menor ciclo menstrual e 11 do maior ciclo menstrual; com isso, tem-se uma janela em que o coito deve ser evitado. Será tão mais seguro quanto mais regular a duração do ciclo menstrual da paciente. O segundo se baseia no controle do muco cervical, que apresenta a característica da finlância (ou ductilidade): quanto maior a finlância do muco, mais fértil a paciente se encontra. Regra geral, finlância menor do que 2 cm significa período não fértil, e finlância maior do que 2 cm sugere proximidade com o período fértil. A melhor maneira de se obter uma informação apropriada é por meio do controle do muco por três ciclos, oferecendo uma orientação mais personalizada, por haver uma variabilidade individual. O terceiro método natural é o coito interrompido, o qual depende de um bom controle do parceiro masculino. O casal deve ser orientado a buscar a satisfação da mulher previamente, para evitar disfunção sexual, e o homem não deve chegar muito próximo do momento da ejaculação antes de retirar o pênis da vagina. O quarto método baseia-se no controle térmico da paciente. A temperatura corporal da mulher fica reduzida em torno de 0,5°C 24 horas antes da ovulação e fica elevada em torno de 0,5°C da média após a ovulação. Esse método é mais apropriado para se descobrir o período fértil e auxilia na concepção. A combinação da tabelinha, com o controle do muco e o controle térmico forma o chamado método sintotérmico, que aumenta a eficiência, mas exige casais altamente motivados. Contracepção definitiva Casais que não desejam filhos podem pleitear a esterilização de um dos cônjuges. Segundo a legislação brasileira, pessoas com 25 anos ou dois filhos vivos, não estando em período gestacional, nem nos 2 meses seguintes ao parto, são elegíveis para a esterilização. A esterilização masculina é mais simples, podendo ser feita ambulatorialmente, e deve ser a preferida, se houver consentimento do homem. Como regra geral, o principal problema da esterilização, além do risco cirúrgico, é o fator emocional. Assim, a melhor opção é sempre feita com o indivíduo mais estável emocionalmente do casal, a fim de se evitarem arrependimentos e disfunções sexuais. Contracepção de emergência A contracepção de emergência é utilizada após uma relação desprotegida, podendo ser feita por meio de uma dose alta de progesterona, ou mesmo pela inserção de um DIU. Como é um método pós-coital, há um risco maior de falhas e alguns efeitos colaterais previsíveis da dose alta de hormônios. O que fazer Anamnese O médico de família e comunidade se encontra em um lugar estratégico para auxiliar as famílias que desejam planejar suas vidas, e que em particular demandam sobre contracepção. Como visto, as opções são muitas, e para cada item há inúmeras variáveis a serem consideradas. O primeiro passo é não simplificar ou minimizar – é só uma receita de contraceptivo –, pois é necessário ouvir a demanda entendendo o que a pessoa pensa e espera. O passo seguinte é orientá-la sobre o leque de possibilidades e explorar melhor as escolhas prévias apresentadas: um cuidado fundamental é não colocar as nossas escolhas e preferências na vida do indivíduo, mas auxiliá-lo a fazer escolhas adequadas. É preciso reconhecer que todo método, usado de forma ideal, tem um índice de falha e que no uso geral esse índice tende a ser maior. É sempre interessante debater a tabela de eficiência com a paciente (Tabela 129.2). Tabela 129.2 | Tabela de eficiência dos métodos contraceptivos Contraceptivo Uso consistente e correto Uso típico e rotineiro Nenhum 85 85 Oral combinado 0,3 8 Oral de progesterona 0,3 10 Injetável combinado 0,5 3 Injetável de progesterona 0,2 3 Implante de progesterona 0,05 0,05 Anel vaginal combinado 0,3 9 Adesivo cutâneo combinado 0,3 9 DIU de cobre 0,6 0,8 DIU de progesterona 0,2 0,2 Preservativo masculino 2 15 Preservativo feminino 10 21 Espermicidas 18 28 Diafragma 6 12 Capuz cervical 9 40 Tabelinha 9 25 Coito interrompido 4 27 Muco cervical 4 14 Laqueadura tubária 0,5 0,5 Vasectomia 0,1 0,15 Fonte: World Health Organization.7 A OMS criou uma tabela de classificação de indicação de contraceptivos (Tabela 129.3), em que os medicamentos são classificados como seguros para o caso em tela (C1), provavelmente seguros (C2), provavelmente inseguros para o caso em tela (C3), ou contraindicados para esta situação (C4). Na prática, significa que alguns pacientes podem usar com bom nível de segurança, alguns podem usar com monitoração, outros só devem usar com supervisão e alguns ainda têm um risco exagerado para lançar mão de determinado método. A realidade do serviço em que se trabalha – ou seja, o acesso mais fácil ou difícil dos pacientes às consultas – pode reduzir a opção, levando o médico a considerar 1 e 2 como indicação para a utilização de um método; analogamente, 3 e 4 não devem ser usados se a monitoração é difícil. Exame físico O exame ginecológico, incluindo o citopatológico, não é mandatório para iniciar a contracepção. Muitas vezes, as mulheres fogem do consultório devido ao medo do exame, e uma recusa não contraindica o início de qualquer método. O médico de família e comunidade deve ouvir os anseios e orientar a pessoa sobre cuidados e acompanhamento, deixando-a livre para suas escolhas. Quando a escolha de um método implicar manipulação genital, orienta-se a exclusão de doenças do trato genital, em particular ISTs. Orienta-se a aferição da pressão arterial antes de se iniciar o método contraceptivo hormonal combinado. Exames complementares Não há necessidade de exames laboratoriais e de imagem previamente ao início da contracepção, salvo pacientes com alguma patologia intercorrente ou, ainda, com algum fator de risco identificado. Conduta proposta Considerando todos esses dados, a consulta propriamente dita inicia-se com o desejo da paciente e a exploração do seu conhecimento prévio sobre contracepção. Deve-se reconhecer a existência de situações que possam modificar ou restringir a escolha de um contraceptivo e fornecer informação em uma linguagem acessível sobre os diferentes métodos, frisando eventuais restrições em função da situação clínica da paciente. Erros mais frequentemente cometidos ► Não considerar as restriçõesapresentadas na Tabela 129.3. ► Não respeitar as preferências do indivíduo e não considerar a opinião do parceiro. ► Não apresentar as taxas de falha (Tabela 129.2). ► Exigir exames complementares independentemente da condição clínica da pessoa. Atividades preventivas e de educação Orientações sobre vantagens, desvantagens e riscos associados à contracepção escolhida devem ser sempre realizadas na atenção primária, ou seja, a escolha do método deve contemplar a satisfação da paciente, efetividade e segurança do método e a aderência em longo prazo. A realização de grupos sobre planejamento familiar é uma boa forma de trabalhar o assunto, fortalecendo também o vínculo. Incluir sempre na consulta sobre contracepção uma orientação sobre prevenção de ISTs. Papel da equipe multiprofissional O enfermeiro pode realizar aconselhamento e prescrição de contraceptivo seguindo os protocolos do serviço em que atua. REFERÊNCIAS 1. Stegeman BH, de Bastos M, Rosendaal FR, van Hylckama Vlieg A, Helmerhorst FM, Stijnen T, et al. Different combined oral contraceptives and the risk of venous thrombosis: systematic review and network meta-analysis. BMJ. 2013;347:f5298. Tabela 129.3 | Grau de recomendação dos contraceptivos Condições ACO Anel vaginal Adesivo Injetável mensal PP Injetável trimestral Implante Idade < 40 = 1 ≥ 40 = 2 < 40 = 1 ≥ 40 = 2 1 < 18 e > 45 = 2 18-45 = 1 1 Pós-parto Amamentando < 6 semanas ≥ 6 sem a < 6 meses ≥ 6 meses 4 3 2 4 3 2 2 1 1 3 1 1 2 1 1 Não amamentando < 21 dias 21-42 dias > 42 dias 3 2 1 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Tabagismo Idade < 35 anos Idade ≥ 35 anos < 1 5 cigarros/d ≥ 15 cigarros/d 2 3 4 2 2 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Hipertensão Controlada Não controlada 140-159/90-99 ≥ 160/100 3 3 4 3 3 4 1 1 2 2 2 3 1 1 2 Enxaqueca I C I C I C I C I C s/ aura 2 3 2 3 2 2 2 2 idade < 35 anos idade ≥ 35 anos c/aura 3 4 4 4 3 4 4 4 1 2 1 2 2 3 2 2 2 3 2 2 2 3 Obesidade 2 2 1 1 1 Diabetes melito Sem doença vascular Nefropatia/retinopatia/neuropatia > 20a de duração 2 3/4* 3/4* 2 3/4* 3/4* 2 2 2 2 3 3 2 2 2 Tromboembolia venosa/tromboembolia pulmonar História prévia Quadro agudo Emanticoagulação História familiar 4 4 4 2 4 4 4 2 2 3 2 1 2 3 2 1 2 3 2 1 Anticonvulsivantes Fenitoína/ carbamazepina/ barbitúrico/ topiramato Lamotrigina 3 3 2 3 3 1 2 1 2 1 *Avaliar de acordo com a gravidade do problema. ACO, anticoncepcional combinado oral; PP, pílula de progesterona; I, iniciar; C, continuar; DIU, dispositivo intrauterino; Cu, cobre. Fonte: Adaptada de World Health Organization.7 2. Faculty of Sexual and Reproductive Healthcare. United Kingdom medical eligibility criteria for contraceptive use (UKMEC 2016). 2016 [capturado em 06 fev. 2018]. Disponível em: https://www.fsrh. org/documents/ukmec-2016/fsrh-ukmec-full-book-2017.pdf 3. Vigo F, Lubianca JN, Corleta HE. Progestógenos: farmacologia e uso clínico. Femina. 2011;30(3). 4. Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine; Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. Combined hormonal contraception and the risk of venous thromboembolism: a guideline. Fertil Steril. 2017;107(1):43-51. ► CAPÍTULO 130 Infertilidade Raul Miguel Alles Gustavo Carvalho e Silva Aspectos-chave ► A infertilidade é clinicamente definida como a incapacidade de conceber um filho ou de levar uma gravidez a termo após 1 ano de relacionamento sexual regular e sem utilização de contraceptivos.1 ► Apesar da variação das taxas de incidência conforme a região, estima-se que, em todo o mundo, aproximadamente 1 em cada 10 casais sofra de infertilidade.2 ► As doenças do trato genital feminino são responsáveis por 50% dos casos.3 ► A infertilidade masculina afeta 10% dos casais em idade reprodutiva no mundo e, em muitos casos, pode ser tratada.4 ► É importante a coordenação do cuidado, enfatizando o aspecto psicoemocional, componente essencial para que os casais possam, primeiramente, normalizar sua vivência para, em seguida, ter uma melhor compreensão das exigências inerentes aos processos que terão de enfrentar e tomar decisões mais informadas.5 Caso clínico 1 Cláudia, 25 anos, vem à consulta relatando estar há pouco mais de 1 ano casada com Jader, sem uso de anticoncepcional oral (ACO) e tentando engravidar, sem o conseguir. Gostaria de encaminhamento a serviço especializado. Na anamnese relata que, logo após a relação sexual, vai ao banheiro realizar ducha vaginal. O médico de família e comunidade a orienta sobre o mecanismo da concepção e a aconselha a deixar de lado a ducha vaginal, bem como pede que retorne em cerca de 6 meses caso não engravide. Passado 1 mês, Cláudia retorna relatando achar estar grávida, devido ao atraso menstrual. Solicitado teste de gravidez, resulta positivo. Inicia o pré- natal com o médico de família e comunidade. Após o nascimento da criança, mantém a puericultura com o médico de família. Caso clínico 2 Marisa, 29 anos, casada com Jonas, vem à consulta de revisão ginecológica. Na anamnese, relata não estar conseguindo engravidar e que já tenta há 5 anos. Ao exame ginecológico, à palpação abdominal se denota massa abdominal até a altura do umbigo. Vendo a expressão do médico, Marisa diz que já sabe que é um mioma, mas que nunca quis operar e nem o quer. Após o exame físico, pela opção em conjunto com a paciente, esta é referenciada a serviço especializado em infertilidade. Vendo a expressão cética do médico, ao sair da consulta, Marisa diz: “Em 1 ano, estarei trazendo meu filho aqui para lhe mostrar, sem ninguém cortar o meu ventre”. Passado 1 ano, ao chegar ao posto de saúde, o médico de família e comunidade encontra a mulher com um carrinho de bebê e com uma criança dentro. Marisa diz: “Não falei? E não cortaram meu ventre”. Caso clínico 3 Rodolfo, 45 anos, casado com Marluci, 30 anos, dona de casa, procura atendimento para buscar atestado médico de que esteja apto a realizar adoção. Ao ser perguntado do motivo da adoção, relata que está casado há cerca de 1 ano, é aposentado por invalidez devido à limitação visual (20% da visão), a qual resultou de hidrocefalia (tratada e mantendo acompanhamento anual). Relata que até gostariam de ter filhos não adotivos, mas por sua doença ficaram receosos. Para a adoção, só faltava levar o atestado (já tinham todos os outros documentos e as avaliações necessárias). O médico de família e comunidade fornece o atestado e esclarece que teriam de ver se realmente haveria contraindicação para gerarem filhos. Passados cerca de 6 meses, retorna o casal, relatam que desistiram da adoção (apesar de terem tido tudo avalizado para tal), pois, após segunda opinião, viram que não teriam riscos maiores para conceber, e a esposa estava gestante e gostaria de iniciar o pré-natal. Hoje, consultam com o médico de família o pai, a mãe e o Rodrigo, já com 9 anos de idade. Caso clínico 4 Paulo, 45 anos, vai à consulta de rotina para fazer exames e obter atestado de saúde. Relata que não tem conseguido ter filhos. Está na fila de adoção. Realizado o exame físico e solicitados exames de revisão, posteriormente ele retorna com os exames normais. É fornecido, então, o atestado de saúde. Cerca de 2 meses depois, retorna muito contente, pois conseguiu realizar adoção – “Passou a realmente se sentir pai”, conforme suas palavras. Teste seu conhecimento 1. Qual aspecto é importante na abordagem da infertilidade na atenção primária à saúde? a. Abordagem centrada na pessoa b. Consultas com enfermeira(o) c. Abordagem multiprofissional e de prevenção d. Todas as anteriores 2. Ao se avaliar um casal infértil, quando se faz uma abordagem custo-efetiva, a fim de solicitar o menor número
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