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Este trabalho propõe realizar uma síntese das ideias propostas pelo físico Thomas Kuhn, na obra A estrutura das Revoluções Científicas, sobretudo nas suas contribuições no campo dos estudos históricos. Primeiramente cabe fazer uma breve digressão a respeito do contexto de publicação da obra a fim de inseri-la historicamente num debate levantado na década de 60 pela comunidade científica. Este livro é uma grande análise sobre História da Ciência. Com a sua célebre obra, Kuhn, físico de formação, estabelece um marco na epistemologia da ciência ao empunhar os conceitos “paradigma” e “mudança de paradigma”. A obra foi publicada pela primeira vez como seu projeto de monografia e logo depois como livro pela editora da Universidade de Chicago, cabe destacar também que esta obra está embebida num ambiente altamente dominado por sociólogos que estudam o interacionismo simbólico e o realismo crítico, tendo como ponto de partida essas questões, podemos inserir historicamente a obra e contextualizá-la na produção historiográfica pertinente ao período. Falar em inovações epistemológicas, quebra de paradigma, Revoluções Científicas e paradigmas da ciência sem localizar Kuhn no debate é impraticável hoje dentro da História da Ciência. Sua obra inovou e levantou debates muito contemporâneos sobre a historicidade do conhecimento científico e o estudo sobre o “progresso” da ciência. Cabe destacar, que como pesquisador da ciência normal encontramos nos seus escritos um forte teor positivista, ou seja, ele não deixa de romper com o paradigma positivista e evolucionista do século XIX. Mas embebido nas inovações epistemológicas do século XX, e mais especificamente dos anos 60 na Universidade de Chicago, encontramos nas entrelinhas de seu capítulo nove, o debate da interpretação (fenomenologia) e sobretudo de visões de mundo diferentes de acordo com o paradigma utilizado pelo cientista em sua pesquisa. Em seus escritos, repletos de exemplos, comparações e metáforas, uma das utilizadas para entender do que se trata as Revoluções Científicas e os paradigmas conflitantes, Kuhn as compara com as revoluções políticas. Como tais, segundo Kuhn, tal qual as revoluções políticas, em que os indivíduos escolhem entre duas instituições conflitantes e em competição, a escolha entre paradigmas demonstra ser uma escolha entre modos incompatíveis da vida humana. Segundo suas próprias palavras, “consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não- cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior. 1 Um aspecto interessante a ser explorado é como essas revoluções científicas ou quebra de paradigmas acontecem. Segundo esta análise, elas derivam das crises e lacunas deixadas das 1 KUHN, Thomas. A natureza e a necessidade das Revoluções Científicas. In: A estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Editora Perspectiva. p.125. concepções ou paradigmas anteriores. Partindo dessa análise, Kuhn denomina três fenômenos que podem ou não produzir uma nova teoria. O primeiro, quando já bem explicados pelos paradigmas existentes, não produzem o ponto de partida – as crises e lacunas - para construção de novas teorias. O segundo, aqueles cuja natureza pode ser indicada pelos paradigmas existentes, mas cujos detalhes só podem ser entendidos com uma articulação maior entre teorias. Já o terceiro fenômeno, é quando esses esforços de articulação teórica fracassam e fazem aparecer essas crises, denominadas por Kuhn como anomalias. Seu traço característico é a recusa obstinada de serem assimiladas aos paradigmas existentes e a partir disso há um rompimento e surgimento de um novo paradigma. Perpassando esta questão, há também a defesa do paradigma pelas comunidades científicas em conflito, em que cada grupo usa seu próprio paradigma para argumentar em favor deste mesmo paradigma. Para isso são usadas técnicas argumentativas utilizáveis e pertinentes aos grupos que constituem a comunidade científica ou comunidades, caso escolha separá-las também de acordo com seu paradigma. Partindo agora para uma análise dos paradigmas científicos como produto de seu próprio tempo e inovações, técnicas e métodos também fruto do seu próprio tempo, podemos entender as inovações epistemológicas e como elas mudam o campo do trabalho e visão de mundo do cientista, seja ele das ciências normais ou das ciências humanas. Segundo Kuhn, a maneira de olhar os fenômenos são características de seu paradigma, inseridas em seu espaço e tempo histórico. Esse tipo de perspectiva é muito interessante de ser trabalhada, tendo em vista que incorpora as inovações pertinentes a teoria einsteiniana do relativismo. Para concluir, retomo a perspectiva defendida por Kuhn, que bem caracteriza a História da Ciência. Onde cada fato histórico, cada virada de paradigma, é produto de seus próprios questionamentos, sua própria maneira de ver o mundo, que conduzem a novos questionamentos e produzem maneiras diferentes de conduzir o conhecimento científico, epistemologicamente falando. Bibliografia: KUHN, Thomas. A estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978.
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