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APOSTILA - DIREITO INTERNACIONAL

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1 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
 
1. DIREITO INTERNACIONAL PÚ-
BLICO 
1.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
Celso D. de Albuquerque Mello
1
, apoiado nos ensina-
mentos de Paul Vinogradoff, afirma que para estudar o 
histórico do DI deve-se levar em consideração as formas 
de organização da sociedade e o divide em: Cidades 
Gregas, Jus Gentium, Republica Cristiana, Relações in-
ternacionais entre os Estados Territoriais e o desenvol-
vimento moderno em si. 
Na Antiguidade Oriental, segundo o mesmo autor, po-
de-se encontrar a existência do DI. O tratado mais anti-
go de que se tem notícia é o do ano 3100 a.C. 
Já na Grécia, segundo Hildebrando Accioly
2
, talvez devi-
do à sua situação geográfica e política, se encontram as 
primeiras instituições conhecidas do direito das gentes. 
Os gregos praticaram diversos institutos do DI: a arbi-
tragem, a necessidade da declaração de guerra, a invio-
labilidade dos arautos, etc. 
Em Roma, as normas de aspecto internacional se desen-
volveram no “jus gentium” e no “jus fetiale”. O “jus 
gentium” era formado pelas normas do direito romano 
que os estrangeiros podiam invocar. Já o “jus fetiale”, 
por sua vez, era o conjunto de normas utilizadas nas 
relações com nações estrangeiras. Este direito era apli-
cado pelo colégio dos feciais e como se pode observar 
era um direito nacional de Roma. Tais normas em sua 
maioria tinham caráter religioso e jurídico. 
Na Idade Média
3
, embora desconhecido o Estado como 
hoje se concebe, mas por força das necessidades de 
comércio, sobretudo o marítimo, os povos cristãos es-
tabeleceram regras, hoje apontadas como as primeiras 
manifestações de um ordenamento internacional. As 
Leis de Rodes, que remontam ao século VII, a Tabula 
Amalphitana, do século X, as Leis de Oléron, no século 
XII, as Leis de Wisby, especialmente, o consulado do 
mar, nos séculos XIII ou XIV, e outras pequenas codifica-
ções de menor importância, constituíram um direito 
marítimo de caráter internacional. 
Só no Renascimento, contudo, com a formação dos 
Estados modernos e o estabelecimento das relações 
diplomáticas, é que realmente começa a existir o direito 
internacional público. Sua evolução foi lenta, até que se 
 
1 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional 
público. Rio de Janeiro: Renovar, 1994. p. 133. 
2 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 
11ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 6. 
3 ACCIOLY, op. cit., p. 7. 
iniciasse o período orgânico, em meados do século XVI. 
Alberico Gentili, com o De jure belli (1588), é o precursor 
de Hugo Grotius, autor dos difundidos tratados. De jure 
belli ac pacis (1625) e Mare liberum (1609), e de Samuel 
Pufendorf, com o De jure naturae et gentium, os dois 
primeiros jusnaturalistas e o último já representante das 
tendências racionalistas da terceira fase do direito in-
ternacional. 
Seguiu-se uma fase eclética, com Christian Wolf, Emme-
rich de Vattel e Georg Friedrich von Martens. O final do 
século XVIII coincidiu com a fase influenciada pelo utili-
tarismo do jurista e filósofo inglês Jeremy Bentham, 
última do período de integração do direito internacional 
O grande acontecimento histórico que marca o início da 
denominada Idade Contemporânea é a Revolução 
Francesa, que no DIP produziu inúmeras repercussões, 
como o princípio das nacionalidades, sobre o qual se 
construiu a unidade política da Itália. 
A imprecisão característica da maioria das regras de 
direito internacional público deu causa, em fins do 
século XVIII, a um movimento para sua codificação, 
mediante a fixação por escrito de disposições geral-
mente reconhecidas. Há poucos documentos interna-
cionais aos quais se atribui valor de direito positivo. São, 
entre outros: o Congresso de Viena, de 1815, sobre a 
hierarquia dos agentes diplomáticos; o Congresso de 
Paris (1856), sobre os princípios jurídicos que regem a 
guerra no mar; e as Convenções de Haia, de 1899 e 
1907. 
No entanto, foi com o final da segunda Guerra Mundial, 
a partir da criação de organismos internacionais, a 
começar com as Nações Unidas, cuja carta foi firmada 
em São Francisco, na data de 26 de junho de 1945, que 
o Direito Internacional Público ganhou destaque no 
contexto internacional. A partir de então o DIP passa a 
ser visto como sistema normativo capaz de instituir 
deveres de cooperação entre os Estados. 
 
1.2 CONCEITO E OBJETO 
Conceitua-se o Direito Internacional Público como a 
disciplina jurídica que estuda o complexo normativo 
das relações de direito público externo. As relações 
interestatais não constituem, contudo, o único objeto 
do DIP: além dos Estados, outras entidades são moder-
namente admitidas como pessoas internacionais, ou 
seja, como capazes de ter direitos e assumir obrigações 
na ordem internacional. 
Tais pessoas, ou são coletividades criadas artificialmen-
te pelos próprios Estados, o que lhes empresta um 
reconhecimento implícito, como as Nações Unidas, a 
Organização dos Estados Americanos (OEA) e entidades 
congêneres, ou são de criação particular, como a Cruz 
 
2 
 
Vermelha Internacional, a Ordem de Malta e outras 
associações reconhecidas, de âmbito internacional. 
Alguns tratadistas reconhecem no próprio indivíduo 
personalidade jurídica internacional, vale dizer, capaci-
dade para ser sujeito de direitos e obrigações interna-
cionais, em determinadas situações. Entre estas cita 
Hildebrando Accioly a do proprietário do navio ou da 
carga, perante o tribunal de presas; as relações entre o 
pirata e o Estado que o persiga; as condições de imuni-
dade do agente diplomático; e a situação dos apátridas. 
Há ainda casos especiais de personalidade internacio-
nal de fato, como o das comunidades beligerantes, 
reconhecidas como tais, cuja atuação incide no âmbito 
do direito internacional público. 
Por outro lado, no entender da Corte Internacional de 
Justiça, órgão jurídico e consultivo da Organização das 
Nações Unidas, o DIP se constitui em fator de organiza-
ção da sociedade, cujas finalidades devem atender pre-
cipuamente: 
- Redução da anarquia das relações internacionais; e 
- Satisfação de interesses comuns dos Estados.
4
 
 
1.3 FONTES 
Constituem fontes do Direito Internacional Público, 
dentre outros, os princípios gerais do direito. Nesse 
sentido, a fonte se confunde com o próprio fundamento 
do sistema jurídico que rege as relações internacionais. 
Em sentido formal, porém, é fonte positiva das regras 
que integram o aludido sistema o acordo das vontades 
dos Estados, expresso nos tratados ou convenções 
internacionais. 
O tratado propriamente dito que representa na ordem 
internacional o que é o contrato na ordem interna pri-
vada, é o ajuste bi ou plurilateral que só vincula juridi-
camente as partes contratadas, sejam estados ou enti-
dades capazes de se obrigarem na ordem internacional, 
e se destina a conciliar vontades divergentes, fazendo-
as convergir numa solução jurídica comum. O tratado-
convenção ou lei internacional é o ajuste multilateral, 
geralmente admitindo adesões, por força do qual vários 
Estados elaboram e promulgam normas de conduta 
internacional para o futuro. São essas convenções que 
integram princípios e regras já trabalhados pelos doutri-
nadores ou costumes estabelecidos, a fonte direta e 
mais importante do direito internacional público. 
Quanto ao costume, mesmo ainda não consubstanciado 
em convenções, é admitido como fonte direta do orde-
namento jurídico internacional, se resulta de prática 
 
4 Amaral, Renata Campetti. Direito internacional público e privado. 
Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006, p. 17. 
geral e uniforme, consagrada por uso antigo e repetido, 
aceito pela consciência universal. 
Indica-se igualmente, como fonte formal do direito 
público internacional, em certos casos, as próprias deci-
sões de órgãos internacionais encarregados de dirimir 
controvérsias,como a Corte Permanente de Justiça 
Internacional, órgão das Nações Unidas, com sede em 
Haia. Tal jurisprudência, contudo, não constitui propri-
amente uma fonte de regras jurídicas, mas apenas um 
meio idôneo de verificação de sua existência e valida-
de. 
Vale referir que o Artigo 38 do Estatuto da Corte Inter-
nacional de Justiça enumera quais sejam as fontes for-
mais do Direito Internacional: 
1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito 
internacional as controvérsias que sejam submetidas, 
deverá aplicar; 
2. As convenções internacionais, sejam gerais ou par-
ticulares, que estabeleçam regras expressamente re-
conhecidas pelos Estados litigantes; 
3. O costume internacional como prova de uma práti-
ca geralmente aceita como direito; 
4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas 
nações civilizadas; 
5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitá-
rios de maior competência das diversas nações, como 
meio auxiliar para a determinação das regras de direi-
to, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. 
6. A presente disposição não restringe a faculdade da 
Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se con-
vier às partes. 
Alguns doutrinadores vêm incluindo os atos unilaterais 
(notificação, renúncia, reconhecimento) e as decisões 
tomadas por Organizações Internacionais como fontes 
do DIP, muito embora não estejam listados no referido 
artigo do Estatuto da Corte Internacional.
5
 
 
 
 
 
 
 
 
5 Importante frisar a existência das chamadas soft law, ou seja, 
normas jurídicas de normatividade de menor grau, em contraposi-
ção às tradicionais normas internacionais que se chamam hard 
law. As primeiras ganham importância na medida crescente da 
atuação da diplomacia multilateral. Nesse sistema, o cumprimen-
to de tais normas é meramente recomendado aos Estados, sem 
qualquer sanção pelo seu não-cumprimento. 
 
3 
 
 LEMBRE-SE: 
 
 
 
 
1.4 TRATADOS 
Tratado é o acordo formal concluído entre os sujeitos 
de Direito Internacional Público – Estados, organismos 
internacionais e outras coletividades – destinado a pro-
duzir efeitos jurídicos na órbita internacional. É um ato 
jurídico complexo que envolve pelo menos duas vonta-
des. Os Estados, sujeitos primários da ordem interna-
cional, são, em geral, os que concluem tratados. Even-
tualmente, os tratados poderão ser concluídos pela 
Santa Sé (Cúpula da Igreja Católica), por um organismo, 
como o Fundo Monetário Internacional – FMI, ou como 
a OIT – Organização Internacional do Trabalho (eles 
próprios, produtos de tratados), ou por uma associação 
regional de Estados, como o MERCOSUL ou a União 
Europeia. 
As Convenções de Viena de 1969 e 1986 estabeleceram 
as normas pelas quais se rege o tratado no Direito 
Internacional Público. Consoante prevê a Convenção de 
Viena, tratado designa um acordo regido pelo direito 
internacional, qualquer que seja a sua denominação. 
Nesse sentido, seria uma designação genérica, onde 
estão abrangidas as expressões: convenção, convênio, 
protocolo, compromisso, etc. 
Contudo, segundo a hierarquia e finalidade específica de 
cada tratado, algumas diferenças têm sido levantadas 
para se estabelecer uma classificação: 
 Convenção: refere-se a tratado multilateral que 
estabelece normas gerais a todos os partícipes, por 
exemplo, Convenção de Viena sobre o Direito dos Tra-
tados, Convenção de Viena sobre Relações Diplomáti-
cas, Convenções da OIT (Organização Internacional do 
Trabalho) etc. 
 Acordo: é empregado para os tratados mais sim-
ples, quase sempre de natureza econômica. Tem ca-
racterísticas técnicas, administrativas. É normalmente 
temporário, por exemplo, acordos que o Brasil fez com 
o FMI (Fundo Monetário Internacional). 
 Protocolo: é um tratado secundário, atrelado a um 
tratado principal. Vem para complementar o tratado 
principal, implementar algumas de suas cláusulas, cor-
rigir os rumos do tratado original para alcançar o obje-
tivo proposto pelos países envolvidos, por exemplo, 
Protocolo de Brasília de 1991, estabelecendo formas 
de solução de controvérsia, em matérias comerciais, e 
consolidando a estrutura do MERCOSUL. 
 Carta, Estatuto: tais nomes são utilizados para re-
presentar o tratado constitutivo das entidades inter-
nacionais, por exemplo, a Carta da ONU (Organização 
das Nações Unidas), a Carta da OEA (Organização dos 
Estados Americanos), a Carta da OIT (Organização In-
ternacional do Trabalho), etc. 
 Concordata: é nome usado exclusivamente para 
tratado de que participe a Santa Sé (Cúpula da Igreja 
Católica). 
 Memorando de entendimento: utilizado para re-
gistrar princípios gerais que orientarão as relações en-
tre as partes, seja no plano político, econômico, cultu-
ral ou em outros. 
 
As fases pelas quais um tratado deve percorrer, no Bra-
sil, para ser incluído no ordenamento jurídico interno, 
nos termos dos arts. 49, I, e 84, VIII, CF, são: 
 Negociação: todo tratado inicia-se com a negocia-
ção, o bilateral, entre dois Estados, com a troca de car-
tas, ou o multilateral, envolvendo mais de dois Esta-
dos, com uma conferência diplomática. 
 Assinatura: os representantes do Estado assinam o 
tratado concluído, autenticando o texto, mas não o-
brigam internacionalmente o Estado por essa assina-
tura. 
 Aprovação Legislativa: fase que vem depois da as-
sinatura. O texto é apreciado pelo Congresso Nacional 
e, se aprovado, encaminhado para a Presidência da 
República, que enviará uma Carta de Ratificação. 
 Ratificação: é o ato unilateral do Estado, copartíci-
pe de um tratado, quando expressa, em definitivo, sua 
vontade perante a comunidade internacional. A ratifi-
cação se dá por meio de um decreto de promulgação. 
 Promulgação: Se dá por meio de Decreto do exe-
cutivo e determina a eficácia jurídica interna do texto 
do tratado. 
 Adesão: tem igual natureza da ratificação e ocorre 
quando, nos tratados unilaterais, um ou outro país, 
que não participou das negociações iniciais, quiser a-
derir ao tratado. 
 
FONTES
Corte
Convenções 
Internacionais
Costume Internacional
Decisões judiciais e 
doutrinárias
Se convir: litídgio ex 
aequo et bono
 
4 
 
Observação: A EC 45 inovou em relação aos tratados, 
eis que, a partir de sua vigência, os tratados e conven-
ções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos 
membros, serão equivalentes às emendas constitucio-
nais. 
 
CAIU NA PROVA! 
 
XXVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO 
Em 14 de dezembro de 2009, o Brasil promulgou a 
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 
1969, por meio do Decreto nº 7.030. A Convenção co-
dificou as principais regras a respeito da conclusão, 
entrada em vigor, interpretação e extinção de tratados 
internacionais. Tendo por base os dispositivos da Con-
venção, assinale a afirmativa correta. 
A) Para os fins da Convenção, “tratado” significa qual-
quer acordo internacional concluído por escrito entre 
Estados e/ou organizações internacionais. 
B) Os Estados são soberanos para formular reservas, 
independentemente do que disponha o tratado. 
C) Um Estado não poderá invocar o seu direito interno 
para justificar o descumprimento de obrigações assu-
midas em um tratado internacional devidamente in-
ternalizado. 
D) Os tratados que conflitem com uma norma impera-
tiva de Direito Internacional geral têm sua execução 
suspensa até que norma ulterior de Direito Interna-
cional geral da mesma natureza derrogue a norma im-
perativa com eles conflitante. 
RESPOSTA: C 
 
CAIU NA PROVA! 
 
XVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO 
Em setembro de 2014, na cidade de São Paulo, foi 
inaugurado o Centro de Referência e Acolhida para 
Imigrantes (CRAI), que é o primeiro do país e tem 
como objetivo oferecer a estrutura de uma casa de 
passagem e auxiliar os imigrantes na adaptação à vida 
na capital paulista, além de darcondições para a 
autonomia de tais imigrantes. Do ponto de vista dos 
Direitos Humanos, essa situação é regulada pela 
Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos 
de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros 
das suas Famílias, adotada pela ONU em dezembro de 
1990 e em vigor desde julho de 2003. Em relação ao 
posicionamento do Estado brasileiro perante essa 
Convenção, assinale a afirmativa correta. 
A) A Convenção não foi ratificada pelo Brasil e, por 
isso, suas normas não produzem efeito jurídico em 
território brasileiro. 
B) A Convenção foi ratificada pelo Brasil e, por isso, 
suas normas podem ser juridicamente exigidas. 
C) A Convenção foi ratificada pelo Brasil, mas não foi 
regulamentada. Por isso, suas normas possuem efeito 
contido no território brasileiro. 
D) A Convenção não foi ratificada pelo Brasil, mas suas 
normas produzem pleno efeito jurídico, uma vez que 
as normas de Direitos Humanos não dependem de 
ratificação para vigorar em território brasileiro. 
RESPOSTA:A 
 
1.5 TRATADOS MENCIONADOS PELO 
EXAME DA ORDEM 
 Convenção da Apostila de Haia (“Convenção 
Relativa à Supressão da Exigência da Legalização 
dos Actos Públicos Estrangeiros”) 
Objetivo de simplificar e facilitar a legalização de docu-
mentos entre 112 países signatários, dentre os quais o 
Brasil. A Convenção se aplica aos atos públicos lavrados 
e apresentados em um dos países signatários. 
São atos públicos: 
- Documentos provenientes de uma autoridade ou de 
um funcionário dependente de qualquer jurisdição do 
país, compreendidos os provenientes do Ministério 
Público, de um escrivão de direito ou de um oficial de 
diligências; 
- Documentos administrativos; 
- Atos notariais; 
- Declarações oficiais como menções de registro, vis-
tos para data determinada e reconhecimento de assi-
natura, inseridos em atos de natureza privada 
A Convenção não se aplica a: 
- Documentos elaborados pelos agentes diplomáticos 
ou consulares; 
- Documentos administrativos relacionados direta-
mente com uma operação comercial ou aduaneira. 
A única formalidade que pode ser exigida para atestar a 
veracidade da assinatura, a qualidade e a autenticidade 
será o selo ou carimbo dado pela autoridade compe-
tente do país donde o documento é originário. Esta 
formalidade não pode ser exigida caso as leis, os regu-
lamentos, os costumes que vigorem no país onde se 
 
5 
 
celebrou o ato afaste, simplifique ou dispense o ato da 
legalização
6
. 
 
 Convenção Interamericana sobre o Desapare-
cimento Forçado de Pessoas 
Firmada pelo Brasil em 10 de junho de 1994, a Conven-
ção foi internalizada pelo Decreto 8.766/16. Por meio 
dela, os Estados Partes, consoante o Artigo I da Conven-
ção, comprometeram-se a: 
- Não praticar, nem permitir, nem tolerar o desapare-
cimento forçado de pessoas, nem mesmo em estado 
de emergência, exceção ou suspensão de garantias 
individuais; 
- Punir, no âmbito de sua jurisdição, os autores, cúm-
plices e encobridores do delito do desaparecimento 
forçado de pessoas, bem como da tentativa de prática 
do mesmo; 
- Cooperar entre si a fim de contribuir para a preven-
ção, punição e erradicação do desaparecimento força-
do de pessoas; e 
- Tomar as medidas de caráter legislativo, administra-
tivo, judicial ou de qualquer outra natureza que sejam 
necessárias para cumprir os compromissos assumidos 
na Convenção. 
Dentre as suas principais disposições, define o conceito 
de desaparecimento forçado como “a privação de li-
berdade de uma pessoa ou mais pessoas, seja de que 
forma for, praticada por agentes do Estado ou por pes-
soas ou grupos de pessoas que atuem com autorização, 
apoio ou consentimento do Estado, seguida de falta de 
informação ou da recusa a reconhecer a privação de 
liberdade ou a informar sobre o paradeiro da pessoa, 
impedindo assim o exercício dos recursos legais e das 
garantias processuais pertinentes”
 7
. 
 
 Convenção de Viena de 1961 
A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 
1961, é o documento fundamental no que se refere às 
relações diplomáticas entre Estados. A Convenção foi a 
compilação de uma estrutura normativa descendente 
do costume e trouxe, entre muitas outras novidades, a 
consagração do princípio de que a missão diplomática 
deve ser entendida em seu conjunto e não isoladamen-
te considerada na figura do embaixador. Assim, a mis-
 
6 Informações extraídas do site do Conselho Nacional de Justiça. 
(Acesso em 23 fev. 2020. Disponível em: < 
http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-
internacionais/convencao-da-apostila-da-haia>). 
7 Decreto nº 8.766/2016 (Acesso em: 23 fev. 2020. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2016/decreto/D8766.htm>). 
são diplomática abrange o chefe da missão, os funcioná-
rios e o pessoal técnico e de serviço. 
Segundo a Convenção, os chefes de missão dividem-se 
em três classes: 
- Embaixadores ou núncios acreditados perante che-
fes de Estado; 
- Enviados, ministros ou internúncios; e 
- Encarregados de negócios, acreditados perante o 
Ministério das Relações Exteriores. 
O grupo de agentes diplomáticos acreditados em um 
mesmo Estado é chamado corpo diplomático, o qual é 
presidido pelo decano, que é o mais antigo agente di-
plomático. A expressão “agente diplomático” engloba o 
chefe da missão e todos os membros do pessoal diplo-
mático. 
Os funcionários diplomáticos são classificados como 
permanentes ou temporários. Permanentes são os que 
atuam permanentemente junto a um governo. Os tem-
porários integram uma delegação em uma conferência 
ou são enviados a uma posse presidencial, por exemplo. 
A missão diplomática permanente, qualificada geral-
mente de embaixada e, por vezes, de legação, é um 
serviço público do Estado acreditante instalado perma-
nentemente no território do Estado acreditador. 
Os agentes são escolhidos pelos Estados, segundo qua-
lidades e condições de idoneidade por eles designados. 
Em regra, os agentes diplomáticos são nacionais do 
país pelo qual são nomeados, contudo, nada impede 
que sejam de outra nacionalidade. 
Ao assumir seu posto, o agente diplomático leva consigo 
dois documentos essenciais: o passaporte diplomático e 
a credencial. A credencial é normalmente uma carta 
assinada pelo chefe de Estado e referendada pelo Minis-
tro das Relações Exteriores. 
 
 Convenção Suplementar sobre a Abolição da 
Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Institui-
ções e Práticas Análogas à Escravatura 
A Convenção, datada de 7 de setembro de 1956 e pro-
mulgada pelo Brasil por meio do Decreto 58.563/66. 
Em suas principais disposições, podemos tratar das 
definições a seguir: 
- “Escravidão”, tal como foi definida na Convenção 
sobre a Escravidão de 1926, é o estado ou a condição 
de um indivíduo sobre o qual se exercem todos ou 
parte dos poderes atribuídos ao direito de proprieda-
de, e “escravo” é o indivíduo em tal estado ou condi-
ção. 
- “Pessoa de condição servil” é a que se encontra no 
estado ou condição que resulta de alguma das institui-
 
6 
 
ções ou práticas mencionadas no artigo primeiro da 
presente Convenção. 
- “Tráfico de escravos” significa e compreende todo 
ato de captura, aquisição ou cessão de uma pessoa 
com a intenção de escravizá-la; todo ato de aquisição 
de um escravo para vendê-lo ou trocá-lo; todo ato de 
cessão, por venda ou troca, de uma pessoa adquirida 
para ser vendida ou trocada, assim como, em geral, 
todo ato de comércio ou transporte de escravos, seja 
qual for o meio de transporte empregado8
8
. 
 
CAIU NA PROVA! 
 
XIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO 
Em dezembro de 2014, a sul-africana Urmila Bhoola, 
relatora especial das Nações Unidas sobre as formas 
contemporâneas de escravidão, declarou que "pelo 
menos 20,9 milhões de pessoas estão sujeitas a for-
mas modernas de escravidão, que atingem principal-
mente mulheres e crianças". A relatora da ONU, para 
fazer tal afirmação, considerouo conceito de escravi-
dão presente na Convenção Suplementar sobre a Abo-
lição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Insti-
tuições e Práticas Análogas à Escravatura adotada em 
Genebra, em 7 de setembro de 1956. Assinale a opção 
que apresenta o conceito de escravidão conforme dis-
posto na referida Convenção: 
A) Estado ou a condição de um indivíduo sobre o qual 
se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao 
direito de propriedade. 
B) Situação em que um indivíduo trabalha em condi-
ções precárias e não recebe seus direitos trabalhistas 
de modo pleno e integral. 
C) Relação em que uma pessoa possui o controle físico 
sobre o corpo de outra pessoa. 
D) Condição por meio da qual uma pessoa se encontra 
psicologicamente constrangida a cumprir as ordens 
que lhe são dadas por terceiros, ainda que tais ordens 
sejam contrárias aos seus interesses. 
RESPOSTA: A 
 
 Convenção sobre os Aspectos Civis do Seques-
tro Internacional de Crianças 
Promulgada pelo Decreto 3.413/00, aplica-se, consoan-
te art. 4, a qualquer criança que tenha residência habi-
tual num Estado Contratante, imediatamente antes da 
 
8 Informações da Câmara dos Deputados. (Acesso em: 
23.fev.2020. Disponível em: 
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-
1969/decreto-58563-1-junho-1966-399220-publicacaooriginal-1-
pe.html>). 
violação do direito de guarda ou de visita. A aplicação da 
Convenção cessa quando a criança atingir a idade de 16 
anos. 
Além disso, define em seu art. 5 o “direito de guarda” 
como o direito relativo aos cuidados com a pessoa da 
criança, e, em particular, o direito de decidir sobre o 
lugar da sua residência e “direito de visita” como o 
direito de levar uma criança, por um período limitado de 
tempo, para um lugar diferente daquele onde ela habi-
tualmente reside. 
 
CAIU NA PROVA! 
 
XIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO 
Para a aplicação da Convenção sobre os Aspectos Civis 
do Sequestro Internacional de Crianças, Lígia recorre à 
autoridade central brasileira, quando Arnaldo, seu ma-
rido, que tem dupla-nacionalidade, viaja para os Esta-
dos Unidos com a filha de 17 anos do casal e não re-
torna na data prometida. Arnaldo alega que entrará 
com pedido de divórcio e passará a viver com a filha 
menor no exterior. Com base no caso apresentado, a 
autoridade central brasileira 
A) deverá acionar diretamente a autoridade central 
estadunidense para que tome as medidas necessárias 
para o retorno da filha ao Brasil. 
B) deverá ingressar na Justiça Federal brasileira, em 
nome de Lígia, para que a Justiça Federal mande acio-
nar a autoridade central estadunidense para que tome 
as medidas necessárias para o retorno da filha ao Bra-
sil. 
C) não deverá apreciar o pleito de Lígia, eis que a filha 
é maior de 16 anos. 
D) não deverá apreciar o pleito de Lígia, eis que o pai 
também possui direito de guarda sobre a filha, já que 
o divórcio ainda não foi realizado. 
D) Condição por meio da qual uma pessoa se encontra 
psicologicamente constrangida a cumprir as ordens 
que lhe são dadas por terceiros, ainda que tais ordens 
sejam contrárias aos seus interesses. 
RESPOSTA: C 
 
 Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polí-
ticos 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi 
aprovado em 16 de dezembro de 1966 pela Assembleia 
Geral das Nações Unidas e está em vigor, e em âmbito 
internacional, desde 23 de março de 1976, tendo sido 
internalizado pelo Brasil por meio do Decreto 592/92. 
 
7 
 
Juntamente com a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (1948) e o Pacto Internacional dos Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais (1966), forma a tríade 
que compõe a Carta Internacional dos Direitos Huma-
nos. Portanto, esse Pacto trata de direitos considerados 
como fundamentais. Pode-se dizer ainda que este Pacto 
estabelece direitos de primeira geração. 
Em seu texto, confere-se especial valor ao direito de 
autodeterminação dos povos, visando a assegurar o 
direito dos povos em definir seus próprios estatutos 
políticos, bem como os caminhos que decidirão percor-
rer para alcançar o desenvolvimento econômico, social 
e cultural. O Pacto traz duas formas de proteção ao 
direito de autodeterminação. Primeiramente, estabele-
ce que os Estados devem respeitar o direito à autode-
terminação dos povos dos outros Estados. Em um se-
gundo momento, refere-se ao povo dentro do próprio 
Estado, ou seja, trazendo o dever de que os governan-
tes, que exercem o controle do Estado de maneira tem-
porária, devem respeitar esse direito do povo nacional, 
sem qualquer tipo de discriminação. 
É inegável que o texto do Pacto visa a uma especial 
proteção das minorias políticas, intentando a dissolu-
ção de qualquer forma discriminatória. Sendo assim, 
estabelece que não poderá haver distinções por motivo 
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política etc., 
dando especial atenção à questão de gênero: estabele-
ce que devem ser asseguradas oportunidades iguais 
para que homens e mulheres gozem de todos os seus 
direitos civis e políticos. 
 
 Convenção Americana de Direitos Humanos 
(“Pacto de San José da Costa Rica”) 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (tam-
bém conhecida como Pacto de San José da Costa Rica) é 
um tratado de direitos humanos que foi assinado pelos 
países-membro da Organização dos Estados Americanos 
(OEA), dentre os quais inclui-se o Brasil, na Conferência 
Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, 
em 22 de novembro de 1969. Sua entrada em vigor se 
deu em 18 de julho de 1978, constituindo-se de base 
para o sistema interamericano de proteção dos Direi-
tos Humanos. Foi internalizada pelo Brasil através do 
Decreto 678/92. 
A Convenção possui especial relevância no ordenamen-
to jurídico brasileiro. Em seus 82 artigos, prevê a exis-
tência de apenas um tipo de prisão civil: a do devedor 
de alimentos. Já a Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988 previa, após o seu nascimento, uma 
outra hipótese de prisão civil: a do depositário infiel 
(art. 5º, LXVII). Ou seja, a partir da internalização da 
Convenção, passou a haver um conflito de normas den-
tro do ordenamento jurídico brasileiro. 
Em 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o 
Habeas Corpus 87.585 e os Recursos Extraordinários 
466.343 e 349.703. Em decisão histórica causou uma 
grande quebra de paradigma, passando a considerar 
inconstitucional a prisão do depositário infiel, adotan-
do a previsão da Convenção Americana de Direitos 
Humanos. Com isso, o Supremo passou a considerar que 
os tratados sobre direitos humanos que tenham sido 
ratificados, mas não tenham sido internalizados pelo 
Brasil com o status de Emenda Constitucional (possibili-
dade trazida pela EC 45/04) passam a ter o status de 
supralegalidade. Isso significa que esses tratados pas-
sam a estar, hierarquicamente, acima da legislação 
infra-constitucional, mas abaixo da Constituição Federal. 
Assim, foi editada, em 2009, a Súmula Vinculante 25, 
consolidando a ilegalidade da prisão do depositário 
infiel.
9
 
 
2. PERSONALIDADE INTERNACIO-
NAL 
2.1 CAPACIDADE DE AÇÃO 
Capacidade de ação nada mais é do que o reconheci-
mento da personalidade jurídica de um determinado 
ente na ordem jurídica internacional. Por exemplo, 
para que um Estado figure como sujeito de direitos e 
obrigações em âmbito internacional, deve ele deter 
independência e soberania, pois não pode manter rela-
ções na comunidade internacional caso encontre-se 
subordinado a outro Estado. 
As organizações internacionais, assim como os Estados, 
também possuem personalidade, independentemente 
da de seus membros. No entanto, sobre a capacidade 
das organizações, entende-se que elas possuem capaci-
dade legal internacional limitada, que decorre funda-
mentalmente das delimitações impostas por seus trata-
dos constitutivos, ou seja, está adstrita aos países que a 
reconhecem e resultam da vontade de seus membros. 
Em relaçãoao indivíduo e sua capacidade frente ao DIP, 
há entendimento majoritário no sentido de que a sua 
capacidade se estende até o limite permitido pelas 
normas internacionais aplicáveis diretamente a ele. 
 
2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS IN-
TERNACIONAIS 
Os sujeitos do Direito Internacional são os Estados – 
sujeitos primários – e os organismos internacionais – 
sujeitos secundários, porque criados pelos Estados. 
 
9 Súmula Vinculante 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, 
qualquer que seja a modalidade de depósito. 
 
8 
 
Por outro lado, são considerados como sujeitos, ainda, 
na ordem internacional: a Santa Sé e o próprio indiví-
duo, com as limitações previstas no direito internacio-
nal, como beneficiário das normas internacionais prote-
tivas. No que se refere ao indivíduo, contudo, há ainda 
controvérsias sobre sua caracterização enquanto sujeito 
de DIP. 
 
2.3 ESTADOS E ORGANIZAÇÕES 
Dentre os sujeitos, na ordem internacional, certamente, 
o Estado é o mais importante. 
Assim, conforme estabelece, igualmente, a Convenção 
Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, 
para ser considerado como tal, um Estado deve possuir 
no mínimo os seguintes elementos: 
 
 
 
A população permanente refere-se ao conjunto de 
indivíduos que habitam o território em determinado 
momento. Não se confunde com a noção de povo, que 
é um conceito que diz respeito ao aspecto social. Esse 
elemento potencializa o princípio da continuidade do 
Estado. 
O território, por sua vez, é o espaço sobre o qual o 
Estado soberano exerce a sua ampla e irrestrita jurisdi-
ção e competências de ordem legislativa e administra-
tiva, sem qualquer concorrência oposta por outro ente 
na ordem internacional. Deve-se referir que um Estado, 
mesmo que não tenha suas fronteiras definidas, pode 
ser reconhecido como ente soberano pela ordem inter-
nacional. 
Por fim, o Governo e a capacidade de manter relações 
com outros Estados dizem estritamente com a sobera-
nia, ou seja, somente será considerado Estado aquele 
ente que não for subordinado, ou seja, aquele que pos-
sui plena e irrestrita capacidade no cenário internacio-
nal. 
Os Estados são classificados, quanto a sua estrutura, em 
simples e compostos: 
 Estados Simples: são aqueles que apresentam um 
poder único e centralizado. São plenamente sobera-
nos e representam um todo homogêneo e indivisível, 
onde não há divisão interna de autonomias. Como e-
xemplo pode-se citar a França. 
 
 Estados Compostos: têm vários poderes em um ter-
ritório considerado. Há a descentralização política – 
ainda que possa haver, também, a administrativa. Há 
várias fontes ou mais do que uma fonte de decisão po-
lítica. É o caso do Brasil. Têm estrutura complexa e di-
videm-se em compostos por coordenação e compos-
tos por subordinação. 
- Compostos por coordenação: São aqueles em que, 
entre um e outro poder, a subordinação é mínima: 
Estado Federal, Confederação de Estados, Uniões de 
Estados e a Commonwealth. 
a) Estado Federal: formado pela união de vários Es-
tados, que perdem a soberania em favor da União 
Federal. A personalidade internacional é da União, 
possuindo esta o direito de convenção – celebrar 
tratados – e o direito de legação – receber e enviar 
diplomatas. Exemplo de Estados Federais: Brasil e 
EUA. 
b) Confederação de Estados: conjunto de Estados 
com finalidades comuns ditadas a partir da associ-
ação. O órgão central da Confederação é a “dieta” 
e suas deliberações são tomadas por unanimidade 
ou maioria qualificada. Como característica, desta-
ca-se o direito de secessão dos Estados que a for-
mam. No passado, por exemplo, tivemos a Confe-
deração dos EUA (1777-1787). 
c) Uniões de Estados: uniões de Estados podem 
ser: união pessoal e união real. A união pessoal re-
sulta de um acaso nas leis de sucessão. O monarca 
de um Estado torna-se soberano de outro em vir-
tude de um fato acidental. Um exemplo ocorreu na 
época de Carlos I da Espanha, coroado imperador 
da Alemanha (1519-1566). Na união real, a identi-
dade do chefe de Estado é desejada e não resulta 
de um fato acidental, mas sim de um ato jurídico 
interno ou internacional. Exemplo, Brasil-Portugal 
(1815). 
d) Commonwealth: formação ímpar, que abrange 
colônias autônomas, colônias da Coroa e territórios 
sob tutela. Não possui personalidade internacional 
e o símbolo dessa união é a Coroa Britânica. A 
Commonwealth possui uma Conferência de Primei-
ros Ministros, que se reúne em Londres sem prazo 
marcado e com objetivo consultivo. 
 
- Compostos por subordinação: São aqueles que se 
subordinam ao outro, de modo a influir na sobera-
nia: Estados vassalos, Protetorado, Estado-cliente, 
Estado-satélite, Estado-exíguo. Tais Estados não mais 
existem na atualidade. 
 
População 
Permanente
Território Governo
Capacidade 
de relação 
com os 
demais 
Estados
 
9 
 
Por outro lado, um Estado pode surgir das seguintes 
situações: 
- Separação de parte da população e território de um 
Estado; 
- Dissolução total de um Estado, não subsistindo sua 
antiga personalidade; 
- Fusão para criação de um estado novo. 
 
IMPORTANTE!! 
O reconhecimento de um Estado é ato unila-
teral. Para que um Estado passe a manter re-
lações internacionais, necessário se faz o seu 
reconhecimento pelos demais Estados existen-
tes. O reconhecimento mútuo é requisito a-
penas para a celebração de tratados bilate-
rais, não de tratados multilaterais. 
 
Ainda, segundo as Convenções de Viena de 1978 e 1983, 
a sucessão de Estados se dá pela substituição de um 
estado (predecessor) por outro (sucessor) nas suas 
responsabilidades internacionais. A sucessão pode 
ocorrer: 
- pela fusão ou agregação de Estados; 
- pela secessão ou desmembramento de Estados; 
- pela transferência territorial. 
Já os organismos internacionais, diferentemente dos 
Estados, são formados por uma associação voluntária 
de sujeitos de Direito Internacional, constituída por ato 
internacional e disciplinada nas relações entre as partes 
por normas de direito internacional, que se realiza em 
um ente de aspecto estável, que possui um ordenamen-
to jurídico interno próprio, por meio do qual realiza as 
finalidades comuns de seus membros mediante funções 
particulares e o exercício de poderes que lhe foram 
conferidos. Características dos organismos internacio-
nais: 
- Não possuem território, nem população. 
- Compreendem apenas um elemento: os órgãos ap-
tos a exercerem as funções que lhes foram estabeleci-
das. 
- As organizações e seus agentes se beneficiam de i-
munidades funcionais. 
- Possuem o direito de cooperar com outras organiza-
ções. 
- A responsabilidade ativa e passiva da organização é 
consequência da participação de fato numa atividade 
internacional. 
- Cada organização tem um direito próprio que define 
os elementos de sua personalidade. 
- Nenhuma organização internacional é soberana, no 
sentido em que os Estados o são; apenas tem atribui-
ções próprias, limites de competência e funcionais de-
terminados em sua carta constitutiva. 
- Em virtude de seu estatuto jurídico, têm capacidade 
de concluir acordos internacionais no exercício de suas 
funções e para realização de seu objeto. 
Dentre as organizações de maior importância, deve-se 
destacar a ONU e a OEA. 
A Organização das Nações Unidas é uma instituição 
internacional formada por 191 Estados soberanos, fun-
dada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a 
segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre 
as nações, promover progresso social, melhores padrões 
de vida e os direitos humanos. Os membros são unidos 
em torno da Carta da ONU, assinada em 26 de junho de 
1945, em São Francisco, que se consubstancia em um 
tratado internacional que enuncia os direitos e deveres 
dos membros da comunidade internacional. 
As Nações Unidas são constituídas por seis órgãos prin-
cipais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o 
Conselho Econômicoe Social, o Conselho de Tutela, o 
Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos 
eles estão situados na sede da ONU, em Nova York, com 
exceção do Tribunal, que se localiza em Haia, na Holan-
da. 
Ligados à ONU há organismos especializados que traba-
lham em áreas tão diversas como saúde, agricultura, 
aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: 
OMS (Organização Mundial da Saúde), OIT (Organização 
Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo 
Monetário Internacional). Estes organismos especializa-
dos, juntamente com as Nações Unidas e outros pro-
gramas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas 
para a Infância, UNICEF), compõem o Sistema das Na-
ções Unidas. 
Os propósitos das Nações Unidas são
10
: 
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, pa-
ra esse fim: tomar, coletivamente, medidas efeti-
vas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de 
agressão ou outra qualquer ruptura da paz e che-
gar, por meios pacíficos e de conformidade com os 
princípios da justiça e do direito internacional, a 
um ajuste ou solução das controvérsias ou situa-
ções que possam levar a uma perturbação da paz; 
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, 
baseadas no respeito ao princípio de igualdade de 
direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar 
outras medidas apropriadas ao fortalecimento da 
paz universal; 
 
10 Disponível em: <www.onu-brasil.org.br>. 
 
10 
 
3. Conseguir uma cooperação internacional para 
resolver os problemas internacionais de caráter 
econômico, social, cultural ou humanitário, e para 
promover e estimular o respeito aos direitos hu-
manos e às liberdades fundamentais para todos, 
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação 
das nações para a consecução desses objetivos 
comuns. 
 
Ainda, consoante o artigo 2º da Carta, a Organização e 
seus membros, para a realização dos propósitos men-
cionados, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 
1. A Organização é baseada no princípio da igual-
dade de todos os seus Membros. 
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para 
todos em geral os direitos e vantagens resultantes 
de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de 
boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo 
com a presente Carta. 
3. Todos os Membros deverão resolver suas con-
trovérsias internacionais por meios pacíficos, de 
modo que não sejam ameaçadas a paz, a seguran-
ça e a justiça internacionais. 
4. Todos os Membros deverão evitar em suas rela-
ções internacionais a ameaça ou o uso da força 
contra a integridade territorial ou a dependência 
política de qualquer Estado, ou qualquer outra a-
ção incompatível com os Propósitos das Nações 
Unidas. 
5. Todos os Membros darão às Nações toda assis-
tência em qualquer ação a que elas recorrerem de 
acordo com a presente Carta e se absterão de dar 
auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Uni-
das agirem de modo preventivo ou coercitivo. 
6. A Organização fará com que os Estados que não 
são Membros das Nações Unidas ajam de acordo 
com esses Princípios em tudo quanto for necessá-
rio à manutenção da paz e da segurança interna-
cionais. 
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autoriza-
rá as Nações Unidas a intervirem em assuntos que 
dependam essencialmente da jurisdição de qual-
quer Estado ou obrigará os Membros a submete-
rem tais assuntos a uma solução. 
 
A Organização dos Estados Americanos (OEA), por sua 
vez, foi criada pela IX Conferência Internacional de 
Estados Americanos (Bogotá, maio de 1948), com base 
em mandato contido na Resolução IX da Conferência 
Internacional Interamericana sobre os Problemas de 
Guerra e Paz (México, 1945). A referida Resolução en-
comendava a reorganização, consolidação e fortaleci-
mento do Sistema Interamericano. Da referida Confe-
rência, emanaram importantes documentos do sistema 
interamericano, como a própria Carta da OEA, o Trata-
do Americano de Soluções Pacíficas, conhecido como 
Pacto de Bogotá, e a Declaração Interamericana de 
Direitos e Deveres do Homem, assinada sete meses 
antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
As principais áreas de atuação da OEA são: 
- Fortalecimento da democracia; segurança hemisféri-
ca; 
- Construção da paz; 
- Promoção e defesa dos direitos humanos; estímulo 
ao comércio entre as nações; 
- Combate às drogas; preservação do meio ambiente; 
- Combate ao terrorismo; 
- Incentivo à probidade administrativa e cooperação 
para o desenvolvimento. 
Destarte, pode-se ainda destacar como sujeitos na or-
dem internacional, os indivíduos e empresas, cujo reco-
nhecimento de sua personalidade jurídica ainda encon-
tra resistência por parte da doutrina, mas que, a partir 
da modernização do DIP, não há como negar que cada 
vez mais vêm recebendo proteção por parte do Direito 
Internacional Público. 
Também vale frisar a participação da Santa-Sé – a cúpu-
la da Igreja Católica – como membro internacional, cuja 
personalidade jurídica fora reconhecida, em 1929, a 
partir dos acordos de Latrão. As relações entre a Igreja e 
os Estados se corporificam por meio de concordatas e o 
vínculo entre as pessoas que residem no Vaticano não 
é de nacionalidade, mas sim de cunho funcional, por 
isso que preservam a sua nacionalidade originária. 
 
3. DIREITOS E DEVERES FUNDA-
MENTAIS DOS ESTADOS 
O Estado, enquanto sujeito do DIP, atua no cenário 
internacional gozando dos direitos e deveres reconheci-
dos pelo direito internacional. Atualmente, não mais se 
discute acerca da igualdade jurídica dos Estados, de 
modo que todos – os mais poderosos e os mais fracos – 
desfrutam, por exemplo, dos direitos reconhecidos na 
Carta das Nações Unidas. 
Dentre os direitos fundamentais dos Estados, ressal-
tamos: 
 Direito à liberdade: confunde-se com a noção de 
soberania, a qual pode ser dividida em soberania inter-
na e soberania externa. A primeira refere-se ao poder 
do Estado com relação às pessoas e coisas que se en-
contram em seu território, também denominada auto-
nomia. Compreende os direitos de organização política, 
 
11 
 
de legislar e de jurisdicionar. Soberania externa é aquela 
atribuída pelo direito internacional e se manifesta a 
partir da liberdade com que o Estado desempenha suas 
relações internacionais. Confunde-se, assim, com o 
conceito de independência. A soberania externa com-
preende os direitos de celebrar tratados, o de fazer 
guerra ou paz, etc. 
 
 Direito de igualdade: o art. 4º da Convenção Paname-
ricana sobre Direitos e Deveres dos Estados (Montevi-
déu, 1933) dispõe que “os Estados são juridicamente 
iguais, gozam dos mesmos direitos e têm a mesma ca-
pacidade no seu exercício”. Os direitos de cada um não 
dependem do poder que tenha para assegurar o seu 
exercício, mas do simples fato de sua existência como 
pessoa de direito internacional. 
De acordo com o direito de igualdade, cada Estado terá 
direito de voto para decisão de questões internacio-
nais, sendo que os votos dos mais fracos têm o mesmo 
valor dos votos dos mais fortes. Além disso, nenhum 
Estado tem o direito de reclamar jurisdição sobre outro 
Estado, de modo que os tribunais de um Estado não têm 
jurisdição sobre outro. 
Esse último princípio, porém, não é absoluto, pois se 
tem entendido que o Estado pode renunciar – tácita ou 
expressamente – à imunidade de jurisdição (por meio 
de tratado, quando propõe ação perante tribunal es-
trangeiro, quando exerce atos de comércio/gestão pe-
rante Estado estrangeiro). Além disso, a jurisprudência 
tem aplicado a renúncia da imunidade de jurisdição em 
ações relativas a questões trabalhistas. A imunidade de 
execução, contudo, é compreendida como absoluta. 
 
CAIU NA PROVA! 
 
XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO 
Questão 23. Em 2013, uma empresa de consultoria 
brasileira assina, na cidade de Londres, Reino Unido, 
contrato de prestação de serviços com uma empresa 
local. As contratanteselegem o foro da comarca do 
Rio de Janeiro para dirimir eventuais dúvidas, com a 
exclusão de qualquer outro. Dois anos depois, as par-
tes se desentendem quanto aos critérios técnicos pre-
vistos no contrato e não conseguem chegar a uma so-
lução amigável. A empresa de consultoria brasileira 
decide, então, ajuizar uma ação no Tribunal de Justiça 
do Estado do Rio de Janeiro para rescindir o contrato. 
Com relação ao caso narrado acima, assinale a afirma-
tiva correta. 
A) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, 
mas deverá basear sua decisão na legislação brasileira, 
pois um juiz brasileiro não pode ser obrigado a aplicar 
leis estrangeiras. 
B) O Poder Judiciário brasileiro não é competente para 
conhecer e julgar a lide, pois o foro para dirimir ques-
tões em matéria contratual é necessariamente o do 
local em que o contrato foi assinado. 
C) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas 
deverá basear sua decisão na legislação do Reino Uni-
do, pois os contratos se regem pela lei do local de sua 
assinatura. 
D) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, 
mas deverá se basear na legislação brasileira, pois, a 
litígios envolvendo brasileiros e estrangeiros, aplica-se 
a lex fori. 
RESPOSTA: C 
 
 Direito de defesa e conservação: prática de medidas 
contra inimigos internos e externos, tais como a expul-
são de estrangeiros nocivos à ordem nacional e a cele-
bração de alianças defensivas. Esse direito, contudo, 
não é absoluto, pois é limitado pelo direito de defesa e 
conservação dos demais Estados. 
 
 Direito ao desenvolvimento: com base nesse princí-
pio, a ONU adotou várias resoluções objetivando a me-
lhoria das condições dos Estados em desenvolvimento, 
como a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento 
– UNCTAD. 
 
3.1 DEVERES DOS ESTADOS 
Para Hans Kelsen, “as normas do direito internacional 
geral impõem deveres sobre os Estados e ao fazê-lo 
conferem direitos aos demais”. E, ainda, “se os deveres 
forem formulados corretamente, a formulação do direi-
to correspondente é supérflua”. 
Passemos, assim, à análise dos deveres dos Estados 
soberanos. 
 
3.1.1 DEVER DE NÃO-INTERVENÇÃO 
Intervenção é a ingerência de um Estado nos negócios 
peculiares, internos ou externos, de outro Estado sobe-
rano com o fim de impor a este a sua vontade. 
A Carta da OEA determina, em seu artigo 18, “nenhum 
Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, 
direta ou indiretamente, nos assuntos internos ou exter-
nos de qualquer outro”. Já a Carta da ONU possui um 
dispositivo bem menos rigoroso, que prevê “todos os 
membros deverão evitar em suas relações internacionais 
a ameaça ou o uso da força contra a integridade territo-
rial ou a independência política de qualquer Estado ou 
outra ação incompatível com os propósitos das Nações 
Unidas” (art. 2, item 4). 
 
12 
 
Alguns Estados, contudo, vêm defendendo o uso do 
instituto da intervenção em defesa dos direitos huma-
nos e do meio ambiente. 
Em regra, não configura intervenção uma ação coletiva 
decorrente de compromisso firmado em tratado, como 
o da ONU, que confere ao Conselho de Segurança pode-
res para adotar as medidas destinadas a manter ou 
restabelecer a paz e segurança internacionais. 
Destacamos, a seguir, algumas espécies de intervenção: 
- Intervenção em nome do direito de defesa e conser-
vação; 
- Intervenção para proteção dos direitos humanos; 
- Intervenção para proteção dos nacionais. 
 
3.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS 
A responsabilidade internacional impõe a todo o Estado 
que der causa a um ato ilícito em desfavor de outro 
Estado o dever de reparar o dano de forma adequada. 
De acordo com a melhor doutrina constituem elemen-
tos essenciais para a apuração da responsabilidade 
internacional: 
- Ato ilícito: para a caracterização do ilícito basta a-
fronta a um princípio geral, uma regra costumeira, um 
dispositivo de tratado em vigor; 
- Imputabilidade: a ação ou omissão deve ser imputa-
da a uma pessoa jurídica inscrita na ordem internacio-
nal. Diz-se indireta quando o Estado responde por ilíci-
to provocado por dependência sua (tutela ou proteto-
rado). A responsabilidade direta do Estado advém 
quando a ação ou omissão decorre de seus órgãos de 
qualquer categoria hierárquica podendo, inclusive, ser 
responsabilizado em razão do exercício indevido de 
competências judiciárias ou legislativas. 
- Dano: para se falar em responsabilidade internacio-
nal deve existir dano. Esse dano não necessariamente 
será de cunho material, ou seja, haverá dano muitas 
vezes destituído de valor econômico. Igualmente, so-
mente o Estado que sofrer o dano estará legitimado a 
pleitear a reparação. 
 
Observação: Há casos em que a ilicitude será excluída, 
como por exemplo, nos casos de legítima defesa levada 
a efeito por um Estado que venha a sofrer um ataque 
armado.
11
 Além dessa excludente a doutrina revela mais 
três causas: 
 
11 Carta da ONU, artigo 51 – “Nada na presente Carta prejudicará 
o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso 
de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações 
Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medi-
- Represálias: compreende atos em si mesmo ilícitos, 
porém justificados como único meio de combate a ou-
tros atos igualmente ilícitos. Só podem ser admitidas 
em face de um ato prévio que constitua infração ao 
direito, contrária a quem as emprega e, se proporcio-
nais à gravidade da infração. Pode acrescer-se ainda, a 
condição de que o ofendido não tenha encontrado um 
meio lícito de impedir a violação de seu direito. 
- Prescrição liberatória: o elemento básico da prescri-
ção liberatória ou extintiva, em matéria internacional, 
é o silêncio do credor durante um espaço de tempo 
mais ou menos longo, sobre o que, a jurisprudência 
arbitral já indicou a necessidade, para aplicação, de 
que seja invocada. 
- Culpa do lesado: considera-se que a responsabilida-
de do Estado pode desaparecer ou ser atenuada, 
quando o comportamento do indivíduo tenha dado 
ensejo ao fato gerador do dano ou tenha fortemente 
contribuído para a ocorrência. 
Nos casos de responsabilidade internacional por lesão 
a um indivíduo, o Estado de origem desse indivíduo 
poderá exercer seu direito de proteção diplomática. 
Nada mais é que o Estado da nacionalidade lesada 
poderá apresentar uma reclamação, via diplomática, 
contra o Estado infrator para obter a devida repara-
ção
12
. Essa outorga de proteção diplomática de um 
Estado a um particular chama-se endosso e tem como 
pressupostos a nacionalidade, ou seja, o Estado que 
confere o endosso deve ser o da nacionalidade do parti-
cular, e o esgotamento dos recursos judiciais locais do 
Estado que praticou a lesão. 
 
4. NACIONALIDADE 
4.1 IMIGRAÇÃO 
Imigrante é a pessoa que sai de seu país e entra em 
outro, temporariamente ou permanentemente, com 
intenção de trabalho ou residência. A imigração em 
geral ocorre por iniciativa pessoal, pela busca de 
melhores condições de vida e de trabalho por parte dos 
que imigram, ou ainda para fugir de perseguições ou 
discriminações por motivos religiosos ou políticos. 
Tais acontecimentos foram os principais motivos dos 
movimentos migratórios ocorridos da Europa e da Ásia 
 
das necessárias para a manutenção da paz e da segurança inter-
nacionais. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse 
direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao 
Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a 
autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao 
Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que 
julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e 
da segurança internacionais”. 
12 AMARAL, op. cit., p. 83. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabalho
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Persegui%C3%A7%C3%B5es&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Discrimina%C3%A7%C3%B5es&action=edit
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Religiosos&action=edit
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADticos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81sia
 
13 
 
para as Américas no século XIX e também no início do 
século XX (muito embora houvesse também o interesse 
na entrada de imigrantes, por razões demográficas ou 
para o “branqueamento” de sua população, por parte 
dos países de acolhimento). Mas pode também ser 
incentivada por países que queiram aumentar o 
tamanho e/ou a qualificação de sua população, como 
ainda fazem, por exemplo, o Canadá e Austrália desde o 
século XX. 
 
4.2 NACIONALIDADE BRASILEIRA 
O direito à nacionalidade apresenta duas facetas. Trata-
se de direito fundamental e de um direito humano.
 
É 
direito fundamental, reconhecido em âmbito interno, 
pois consta do catálogo do Título II de nossa Constitui-
ção. É direito humano, pois se liga ao gênero humano. 
Toda pessoa, então, pelo simples fato de existir, deve 
ter direito a uma nacionalidade, como se encontra 
estabelecido no art. XV da Declaração Universal dos 
Direitos do Homem. Daí o esforço que se tem verificado 
nos últimos anos para reduzir os casos de pessoas sem 
nacionalidade, os denominados apátridas, em virtude de 
conflito negativo de nacionalidades. Como direito fun-
damental, é tratado pelo Direito Constitucional, en-
quanto que, como direito humano, é da alçada do Direi-
to Internacional Público. 
Para alguns autores, a nacionalidade é um vínculo jurí-
dico. Para outros, trata-se de vínculo político. Entretan-
to, parece haver consenso no sentido de ser a nacionali-
dade, a um só tempo, uma ligação jurídica e política 
que se estabelece entre o indivíduo e o Estado. 
A nacionalidade pode ser adquirida por diferentes for-
mas. Levando-se em consideração o critério do tempo, 
pode-se classificar a nacionalidade em duas categorias: 
nacionalidade originária e nacionalidade derivada, esta 
última também chamada de secundária ou, impropria-
mente, adquirida. 
Para a atribuição da nacionalidade originária, aquela 
que se alcança pelo nascimento, pode-se apontar dois 
sistemas legislativos: jus soli e jus sanguinis. Ressalte-
se, contudo, que esses sistemas não são adotados de 
forma inflexível, admitindo-se temperamentos. No 
sistema do jus soli, a nacionalidade originária é obtida 
em virtude do território onde o indivíduo tenha nasci-
do. Pelo sistema do jus sanguinis, a nacionalidade origi-
nária obtém-se de acordo com a dos pais, à época do 
nascimento. Ambos os sistemas são adotados pelo Bra-
sil. 
A nacionalidade derivada ou secundária é alcançada 
por meio da naturalização, hoje predominantemente 
voluntária, embora no passado tenham ocorrido casos 
de naturalização imposta, e por meio do casamento. 
Quando a naturalização ocorre de forma voluntária, o 
naturalizado perde a nacionalidade anterior, constitu-
indo-se manifestação do direito de renúncia, que, em 
algumas legislações, pode ser tácita. No Brasil, segundo 
o art. 12, CF, a aquisição originária da nacionalidade 
(primária, brasileiros natos) se dá nos seguintes casos: 
 
Já a naturalização é forma derivada de aquisição da 
nacionalidade. Sua concessão, em regra, é feita discri-
cionariamente pelo Estado, segundo suas conveniências. 
Desse modo, ainda que preenchidos determinados re-
quisitos, por não haver, em princípio, direito público 
subjetivo à naturalização, pode ao estrangeiro ser ne-
gada a aquisição da nacionalidade brasileira. No Brasil, 
a concessão da naturalização é de competência exclu-
siva do Poder Executivo. Assim a naturalização é um ato 
unilateral e discricionário do Estado no exercício de sua 
soberania, exceto no caso do art. 12, II, “b”, CF. 
 A Constituição, no art. 12, II, não prevê hipóteses de 
nacionalização tácita. Ao contrário do que ocorre com a 
nacionalidade originária, casos de aquisição de naciona-
lidade secundária podem ser definidos por legislação 
infraconstitucional, tendo em vista a expressão “na 
forma da lei”, constante do art. 12, II, “a”. 
Nossa Constituição prevê duas formas de naturalização 
expressa, que depende de manifestação de vontade do 
naturalizando: ordinária (art. 12, II, “a”) e extraordiná-
ria (art. 12, II, “b”): 
Art. 12. II - (...) 
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalida-
de brasileira, exigidas aos originários de países de 
língua portuguesa apenas residência por um ano 
ininterrupto e idoneidade moral; 
Nascidos no Brasil
• ainda que de pais 
estrangeiros, desde 
que estes não 
estejam a serviço 
de seu país
Nascidos no 
estrangeiro, de pai 
brasileiro ou mãe 
brasileira
• desde que 
qualquer deles 
esteja a serviço da 
República 
Federativa do Brasil
Nascidos no 
estrangeiro, de pai 
brasileiro ou mãe 
brasileira
• desde que sejam 
registrados em 
repartição 
brasileira 
competente ou 
venham a residir no 
Brasil e optem, em 
qualquer tempo, 
depois de atingida a 
maioridade, pela 
nacionalidade 
brasileira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9ricas
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XX
http://pt.wikipedia.org/wiki/Austr%C3%A1lia
 
14 
 
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi-
dentes na República Federativa do Brasil há mais 
de quinze anos ininterruptos e sem condenação 
penal, desde que requeiram a nacionalidade brasi-
leira. 
 
Em relação à naturalização ordinária, cabe distinguir 
entre estrangeiros não-originários de países de língua 
portuguesa e originários de países de língua portuguesa. 
Os estrangeiros que não sejam oriundos da Comunida-
de dos países de língua portuguesa, de acordo com o 
art. 65, Lei de Migração, interessados em naturalizar-se 
devem corresponder às seguintes exigências: 
Art. 65. (...) 
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; 
II - ter residência em território nacional, pelo prazo 
mínimo de 4 (quatro) anos; 
III - comunicar-se em língua portuguesa, conside-
radas as condições do naturalizando; e 
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabi-
litado, nos termos da lei. 
 
Entretanto, os estrangeiros originários de países de 
língua portuguesa devem ter apenas: 
- Capacidade civil; 
- Residência por um ano ininterrupto no Brasil; 
- Idoneidade moral, para requererem a nacionalidade 
brasileira. 
As formas de perda da nacionalidade brasileira encon-
tram-se previstas no art.12, § 4º, CF. Assim, perde-se a 
condição de brasileiro pelas seguintes formas: 
- Cancelamento da naturalização (perda-punição) e 
- Naturalização voluntária (perda-mudança). 
Art. 12. (...) 
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do 
brasileiro que: 
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença 
judicial, em virtude de atividade nociva ao interes-
se nacional; 
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária 
pela lei estrangeira; 
b) de imposição de naturalização, pela norma es-
trangeira, ao brasileiro residente em estado es-
trangeiro, como condição para permanência em 
seu território ou para o exercício de direitos civis. 
 
Ocorre cancelamento da naturalização, quando recair 
sobre o naturalizado sentença penal condenatória tran-
sitada em julgado, por ato nocivo ao interesse nacio-
nal. Os efeitos do cancelamento da naturalização não 
retroagem, são ex nunc. 
A segunda hipótese de perda da nacionalidade brasileira 
consiste na naturalização voluntária, que compreende o 
pedido e a aceitação da nacionalidade de outro Estado. 
Contudo, a aceitação de nacionalidade originária conce-
dida por lei estrangeira não importa a perda da naciona-
lidade brasileira, pois a aquisição da nacionalidade do 
outro país não decorre da vontade do indivíduo. Da 
mesma forma, a imposição de naturalização, por lei 
estrangeira, a brasileiro residente no exterior, como 
condição de permanência e de exercício de direitos civis, 
não lhe retira a nacionalidadebrasileira, por faltar vo-
luntariedade. 
Observação: em princípio, não há distinção entre brasi-
leiros natos e naturalizados. As únicas distinções que 
devem existir estão previstas na Constituição, não po-
dendo a lei estabelecer outras (art. 12, § 2º). Os casos 
previstos na Constituição são: extradição (art. 5º, LI), 
cargos (art. 12, § 3º), função (art. 89, VII), direito de 
propriedade (art. 222), e perda da nacionalidade (art. 
12, § 4º, I, e art. 75, Lei 13.445/2017). 
A Lei de Migração admite a reaquisição da nacionalida-
de sob os seguintes termos: 
Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no 
inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal , 
houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a 
causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que decla-
rou a perda revogado, na forma definida pelo ór-
gão competente do Poder Executivo. 
 
4.3 CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRAN-
GEIROS 
Condição jurídica do estrangeiro é o conjunto de direi-
tos que o mesmo goza em determinado país, que não o 
de sua origem, em certa época. É o estado de estrangei-
ro em oposição ao estado de nacional. 
Assim, inúmeras são as Convenções Internacionais que 
dispõe sobre a condição jurídica do estrangeiro, mere-
cendo destaque: 
 Convenção de Havana, de 1928, que dispõe em seu 
artigo 1º: “Os Estados têm o direito de fixar, por meio 
de leis, as condições de entrada e residência dos es-
trangeiros nos seus territórios”; 
 Convenção de Haia, de 1930, que dispõe no seu ar-
tigo 1º: “Cabe a cada Estado determinar por sua legis-
lação quais são os seus nacionais. Essa legislação será 
aceita por todos os outros Estados, desde que esteja 
de acordo com as convenções internacionais, o costu-
 
15 
 
me internacional e os princípios de direito geralmente 
reconhecidos em matéria de nacionalidade”; 
 Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados, 
assinada em Montevidéu, em 1933, que acolheu, em 
seu artigo 9º, o princípio da igualdade entre nacionais 
e estrangeiros. 
Nesse sentido, os direitos que, segundo o Direito Inter-
nacional, devem ser reconhecidos aos estrangeiros são: 
os direitos do homem, ou individuais, isto é, a liberdade 
individual e a inviolabilidade da pessoa humana, com 
todas as consequências daí decorrentes, tais como a 
liberdade de consciência, a de culto, a inviolabilidade do 
domicílio, o direito de comerciar, o direito de proprie-
dade, os direitos civis e de família. 
O ordenamento jurídico brasileiro garante direito e 
atribui deveres aos estrangeiros em seu território, por 
intermédio de vários dispositivos constitucionais e le-
gais. Os direitos e deveres individuais e coletivos são 
assegurados pela Constituição Federal, nos termos do 
art. 5º: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin-
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi-
leiros e aos estrangeiros residentes no País a invio-
labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualda-
de, à segurança e à propriedade, (...) 
 
Por meio deste dispositivo, o estrangeiro goza dos 
mesmos direitos fundamentais que o brasileiro. 
A Constituição garante ainda que nenhum estrangeiro 
será extraditado por crime político ou de opinião (art. 
5º, LII). Entretanto, a própria Constituição Federal esta-
belece algumas restrições à equiparação de direitos 
definida no seu art. 5º. Assim, nega aos estrangeiros o 
direito ao voto (art. 14, § 2º) e impõe limitações à aqui-
sição ou arrendamento de propriedade rural (art. 190). 
Consideram-se estrangeiros aqueles que não possuem a 
nacionalidade brasileira. O tema era regido pelo Estatu-
to do Estrangeiro (Lei 6.815/80, com as alterações trazi-
das pela Lei 6.964/81, e regulamentada pelo Decreto 
86.715/81). Contudo, o Estatuto do Estrangeiro foi 
substituído pela Lei de Migração (Lei 13.445/17), a qual 
entrou em vigor 180 dias após a sua publicação. 
A Convenção Interamericana sobre a condição dos 
estrangeiros, de 1928, prevê, em seu art. 5º: 
Os Estados devem conceder aos estrangeiros do-
miciliados ou de passagem em seu território todas 
as garantias individuais que concedem aos seus 
próprios nacionais e o gozo dos direitos civis es-
senciais, sem prejuízo, no que concerne aos es-
trangeiros, das prescrições legais relativas à exten-
são e modalidades de exercício dos ditos direitos e 
garantias. 
 
Saliente-se, contudo, que nenhum Estado soberano é 
obrigado a admitir estrangeiros em seu território, seja 
em definitivo, seja a título provisório. Entretanto, a 
partir do momento em que se admite o súdito de outro 
país no âmbito espacial de sua soberania, tem o Estado, 
perante ele, deveres resultantes do direito internacio-
nal. 
A Lei de Migração, em suas disposições gerais, deu con-
siderável destaque aos princípios e garantias dos mi-
grantes, novidade em relação ao texto do Estatuto do 
Estrangeiro. Estabelece que a política migratória brasi-
leira é regida pelas diretrizes da universalidade, indivi-
sibilidade e interdependência dos direitos humanos, 
repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quais-
quer formas de discriminação, a não criminalização da 
migração e outras disposições contidas em seu art. 3º, 
chamando atenção para a posição que o Brasil assumiu 
desde as ondas migratórias contemporâneas, à exemplo 
do que ocorre no Haiti. 
O art. 4º, em seguida, traz a lista de direitos garantidos 
aos migrantes, dentre os quais podemos citar o direito 
de sair, de permanecer e de reingressar em território 
nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autori-
zação de residência, de prorrogação de estada ou de 
transformação de visto em autorização de residência; 
direito do imigrante de ser informado sobre as garantias 
que lhe são asseguradas para fins de regularização mi-
gratória e, em suma, a garantia de suas liberdades civis, 
sociais, culturais e econômicas. 
A permissão para que o estrangeiro entre no Brasil se dá 
pela concessão do visto. Conforme o art. 7º da Lei, con-
cede-se o visto por embaixadas, consulados-gerais, 
consulados, vice-consulados e, quando habilitados pelo 
órgão competente do Poder Executivo, por escritórios 
comerciais e de representação do Brasil no exterior. 
Frisa-se que a permissão de entrada em território na-
cional é ato discricionário do Estado, a partir do preen-
chimento de determinados requisitos, de modo que o 
visto “não constitui um direito subjetivo à entrada e 
ainda menos à permanência no território, mas sim uma 
expectativa de direito”. 
O visto de entrada no Brasil poderá ser de temporário, 
de visita, diplomático, oficial ou de cortesia. A figura do 
visto permanente desaparece, e surge a denominada 
autorização de residência. 
Nos vistos de caráter temporário, deve haver expectati-
va de permanência por tempo determinado, quando a 
finalidade for de pesquisa, ensino ou extensão acadêmi-
ca; tratamento de saúde; acolhida humanitária; estudo; 
trabalho; férias-trabalho; prática de atividade religiosa 
ou serviço voluntário; realização de investimento ou de 
atividade com relevância econômica, social, científica, 
tecnológica ou cultural; reunião familiar; atividades 
artísticas ou desportivas com contrato por prazo deter-
 
16 
 
minado. Ainda, há previsão para circunstâncias em que 
o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de 
vistos, e outras hipóteses definidas em regulamento. 
Uma distinção importante, se comparada ao Estatuto do 
Estrangeiro, é que a Lei de Migração concede visto 
temporário a quem venha exercer atividade laboral, 
com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que 
comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa 
jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência 
se o imigrante comprovar titulação em curso de 
ensino superior ou equivalente. A vedação à atividade 
laboral, contudo, permanece quanto ao visto de visita. 
Com relação ao visto de visita, poderá ser concedido ao 
visitante que venha ao Brasil para estada de curta dura-
ção, sem intenção de estabelecer residência, nos casos 
de turismo, negócios, trânsito, atividadesartísticas ou 
desportivas e outras hipóteses definidas em regulamen-
to. 
Por sua vez, os vistos diplomático, oficial e de cortesia 
serão concedidos, prorrogados ou dispensados na forma 
da Lei e de regulamento. 
Algumas limitações são estabelecidas pela Constituição 
Federal no que se refere aos direitos dos estrangeiros 
no Brasil. Dentre elas, destaca-se o fato de que os es-
trangeiros não adquirem direitos políticos (art. 14, § 
2º). Por outro lado, a Emenda Constitucional 19/98, 
tornou-lhes acessíveis os cargos, empregos e funções 
públicas. 
Diversos países, mediante tratado bilateral ou mero 
exercício de reciprocidade, dispensam a prévia aposição 
de um visto nos passaportes de súditos de nações ami-
gas. O ingresso de um estrangeiro com passaporte não-
visado faz presumir que sua presença no país será tem-
porária, mas não pode a dispensa do visto ser interpre-
tada como abertura generalizada à imigração. 
A Constituição Federal concedeu garantias diferencia-
das aos portugueses com residência permanente no 
Brasil, os quais são equiparados aos brasileiros natura-
lizados. Observe-se que o art. 12, § 1º, CF, menciona 
que os portugueses são equiparados a brasileiros natos, 
contudo a concessão de direitos acompanhada da res-
salva “salvo casos previstos nesta Constituição” é ma-
neira típica de prever limitações aos direitos de naturali-
zados. 
O Decreto 70.436/72, que promulgou a Convenção 
sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros 
e Portugueses prevê o direito dos portugueses residen-
tes no Brasil em face dessa equiparação. Observe-se, 
contudo, que os portugueses continuam sendo estran-
geiros, apesar de equiparados. 
 
4.4 DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO, EXTRA-
DIÇÃO E ASILO 
Tendo ingressado no território brasileiro, o estrangeiro 
passa a se submeter às regras de extradição, expulsão e 
deportação. Na deportação e na expulsão a questão é 
administrativa. Há doutrinadores que as chamam de 
“sanções administrativas”. Não há participação do Po-
der Judiciário. No entanto, na extradição, há participa-
ção do Poder Judiciário, sendo a competência do STF 
(art. 102, I, “g”, CF), para o exame de sua legalidade. 
 Deportação: ocorre quando não estão presentes os 
requisitos legais de entrada ou para permanência do 
estrangeiro no país. É, pela definição legal, “medida 
decorrente de procedimento administrativo que consiste 
na retirada compulsória de pessoa que se encontre em 
situação migratória irregular em território nacional”. 
Assim, caso o estrangeiro não se retire do país no prazo 
determinado pelas autoridades – não inferior a 60 dias, 
podendo ser prorrogado, por igual período, por despa-
cho fundamentado e mediante compromisso de a pes-
soa manter atualizadas suas informações domiciliares – 
ocorrerá sua saída compulsória, ou seja, sua deporta-
ção. 
Geralmente ocorre com aqueles estrangeiros que en-
traram de forma irregular (clandestinamente) ou cuja 
estada tenha se tornado irregular por excesso de prazo 
ou trabalho remunerado, no caso de turistas. No Brasil, 
a Polícia Federal tem competência para promover a 
deportação de estrangeiros, quando entenderem que 
não é o caso de regularizar sua documentação. 
Ao contrário da expulsão, o estrangeiro deportado 
poderá retornar ao país, desde que atenda às condi-
ções legais para tanto. A deportação se assemelha à 
expulsão uma vez que não poderá ser promovida em 
casos em que a extradição não é admitida pela lei bra-
sileira. Além disso, ambos são atos discricionários, ou 
seja, o Estado não é obrigado, mas detém a faculdade 
de expulsar e deportar o estrangeiro, nos termos da 
legislação brasileira. 
A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos 
em relações contratuais ou decorrentes da lei brasilei-
ra. Ressalta-se que os procedimentos conducentes à 
deportação devem respeitar o contraditório e a ampla 
defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. 
Outrossim, a saída voluntária de pessoa notificada para 
deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de 
deportação para todos os fins. 
 
 Expulsão: decorre de ato do próprio Estado no qual se 
encontra o estrangeiro. O expulso não tem destino de-
terminado, embora só o Estado patrial do expulso tenha 
o dever de recebê-lo quando indesejado alhures. No 
Brasil, a expulsão poderá ocorrer nos casos de crime de 
 
17 
 
genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra 
ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatu-
to de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, 
promulgado pelo Decreto 4.388/02; ou crime comum 
doloso passível de pena privativa de liberdade, conside-
radas a gravidade e as possibilidades de ressocialização 
em território nacional. 
A expulsão pressupõe tramitação de um inquérito pe-
rante o Ministério da Justiça, cabendo ao Ministro da 
Justiça decidir acerca da expulsão, materializando-a por 
meio de portaria, conforme delegação de competência 
contida no Decreto 3.447/00. 
Não há que se falar em análise do mérito do juízo go-
vernamental por parte do Judiciário, mas sim de contro-
le de legalidade do ato. A expulsão não poderá ocorrer 
em hipóteses em que a extradição de um estrangeiro é 
inadmitida pelo direito pátrio. Além disso, não será 
expulso o estrangeiro casado há mais de cinco anos 
com brasileiro ou que possui, sob sua guarda e depen-
dência econômica, um filho brasileiro. 
Não é à toa que dispõe a Lei de Migração que a expulsão 
não se verificará quando: 
a) a medida configurar extradição inadmitida pela le-
gislação brasileira; 
b) o expulsando: 
- tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou 
dependência econômica ou socioafetiva ou tiver 
pessoa brasileira sob sua tutela; 
- tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, 
sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou 
legalmente; 
- tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, 
residindo desde então no País; 
- for pessoa com mais de 70 anos que resida no País 
há mais de 10 anos, considerados a gravidade e o 
fundamento da expulsão. 
O art. 22 da Convenção Americana de Direitos Humanos 
(Pacto de San José de Costa Rica), em seu § 8º prevê 
que 
Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso 
ou entregue a outro país, seja ou não de origem, 
onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal este-
ja em risco de violação em virtude de sua raça, na-
cionalidade, religião, condição social ou de suas o-
piniões políticas. 
 
Essa regra não consta da CF/88 e nem de leis nacionais. 
Por outro lado, o §9º proíbe a expulsão coletiva de 
estrangeiros. 
Expulsão não é banimento e não é desterro. Banimento 
também é retirada compulsória do território nacional, 
mas refere-se a nacionais. Desterro, por sua vez, é o 
isolamento do nacional dentro do território nacional. 
 
 Extradição: A extradição é a medida de cooperação 
internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado 
pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa 
sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou 
para fins de instrução de processo penal em curso, 
consoante o art. 81 da Lei de Migração. O Supremo 
Tribunal Federal é o órgão competente para decidir 
originariamente sobre a legalidade do pedido de ex-
tradição formulado pelo Poder Executivo do Estado 
estrangeiro ao Governo Brasileiro. 
A sua materialização decorre: 
- da existência de um Tratado; ou 
- com base no Princípio da Reciprocidade. 
O tratado de extradição não cria o direito, mas enumera 
os crimes que dão ensejo a ele. Para que haja extradi-
ção é preciso que o crime cometido esteja tipificado no 
ordenamento jurídico brasileiro, ainda que com outro 
nome. 
A extradição pressupõe sempre: 
- a existência de dois Estados soberanos; 
- a similitude do tipo penal; 
- a existência de processo penal, em andamento ou 
findo, no país de origem; 
- a existência de crime comum (crimes de opinião ou 
políticos não ensejam a extradição). 
- ter sido o crime cometido no território do Estado re-
querente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis 
penais

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