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1 DIREITO INTERNACIONAL 1. DIREITO INTERNACIONAL PÚ- BLICO 1.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA Celso D. de Albuquerque Mello 1 , apoiado nos ensina- mentos de Paul Vinogradoff, afirma que para estudar o histórico do DI deve-se levar em consideração as formas de organização da sociedade e o divide em: Cidades Gregas, Jus Gentium, Republica Cristiana, Relações in- ternacionais entre os Estados Territoriais e o desenvol- vimento moderno em si. Na Antiguidade Oriental, segundo o mesmo autor, po- de-se encontrar a existência do DI. O tratado mais anti- go de que se tem notícia é o do ano 3100 a.C. Já na Grécia, segundo Hildebrando Accioly 2 , talvez devi- do à sua situação geográfica e política, se encontram as primeiras instituições conhecidas do direito das gentes. Os gregos praticaram diversos institutos do DI: a arbi- tragem, a necessidade da declaração de guerra, a invio- labilidade dos arautos, etc. Em Roma, as normas de aspecto internacional se desen- volveram no “jus gentium” e no “jus fetiale”. O “jus gentium” era formado pelas normas do direito romano que os estrangeiros podiam invocar. Já o “jus fetiale”, por sua vez, era o conjunto de normas utilizadas nas relações com nações estrangeiras. Este direito era apli- cado pelo colégio dos feciais e como se pode observar era um direito nacional de Roma. Tais normas em sua maioria tinham caráter religioso e jurídico. Na Idade Média 3 , embora desconhecido o Estado como hoje se concebe, mas por força das necessidades de comércio, sobretudo o marítimo, os povos cristãos es- tabeleceram regras, hoje apontadas como as primeiras manifestações de um ordenamento internacional. As Leis de Rodes, que remontam ao século VII, a Tabula Amalphitana, do século X, as Leis de Oléron, no século XII, as Leis de Wisby, especialmente, o consulado do mar, nos séculos XIII ou XIV, e outras pequenas codifica- ções de menor importância, constituíram um direito marítimo de caráter internacional. Só no Renascimento, contudo, com a formação dos Estados modernos e o estabelecimento das relações diplomáticas, é que realmente começa a existir o direito internacional público. Sua evolução foi lenta, até que se 1 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 1994. p. 133. 2 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 11ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 6. 3 ACCIOLY, op. cit., p. 7. iniciasse o período orgânico, em meados do século XVI. Alberico Gentili, com o De jure belli (1588), é o precursor de Hugo Grotius, autor dos difundidos tratados. De jure belli ac pacis (1625) e Mare liberum (1609), e de Samuel Pufendorf, com o De jure naturae et gentium, os dois primeiros jusnaturalistas e o último já representante das tendências racionalistas da terceira fase do direito in- ternacional. Seguiu-se uma fase eclética, com Christian Wolf, Emme- rich de Vattel e Georg Friedrich von Martens. O final do século XVIII coincidiu com a fase influenciada pelo utili- tarismo do jurista e filósofo inglês Jeremy Bentham, última do período de integração do direito internacional O grande acontecimento histórico que marca o início da denominada Idade Contemporânea é a Revolução Francesa, que no DIP produziu inúmeras repercussões, como o princípio das nacionalidades, sobre o qual se construiu a unidade política da Itália. A imprecisão característica da maioria das regras de direito internacional público deu causa, em fins do século XVIII, a um movimento para sua codificação, mediante a fixação por escrito de disposições geral- mente reconhecidas. Há poucos documentos interna- cionais aos quais se atribui valor de direito positivo. São, entre outros: o Congresso de Viena, de 1815, sobre a hierarquia dos agentes diplomáticos; o Congresso de Paris (1856), sobre os princípios jurídicos que regem a guerra no mar; e as Convenções de Haia, de 1899 e 1907. No entanto, foi com o final da segunda Guerra Mundial, a partir da criação de organismos internacionais, a começar com as Nações Unidas, cuja carta foi firmada em São Francisco, na data de 26 de junho de 1945, que o Direito Internacional Público ganhou destaque no contexto internacional. A partir de então o DIP passa a ser visto como sistema normativo capaz de instituir deveres de cooperação entre os Estados. 1.2 CONCEITO E OBJETO Conceitua-se o Direito Internacional Público como a disciplina jurídica que estuda o complexo normativo das relações de direito público externo. As relações interestatais não constituem, contudo, o único objeto do DIP: além dos Estados, outras entidades são moder- namente admitidas como pessoas internacionais, ou seja, como capazes de ter direitos e assumir obrigações na ordem internacional. Tais pessoas, ou são coletividades criadas artificialmen- te pelos próprios Estados, o que lhes empresta um reconhecimento implícito, como as Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e entidades congêneres, ou são de criação particular, como a Cruz 2 Vermelha Internacional, a Ordem de Malta e outras associações reconhecidas, de âmbito internacional. Alguns tratadistas reconhecem no próprio indivíduo personalidade jurídica internacional, vale dizer, capaci- dade para ser sujeito de direitos e obrigações interna- cionais, em determinadas situações. Entre estas cita Hildebrando Accioly a do proprietário do navio ou da carga, perante o tribunal de presas; as relações entre o pirata e o Estado que o persiga; as condições de imuni- dade do agente diplomático; e a situação dos apátridas. Há ainda casos especiais de personalidade internacio- nal de fato, como o das comunidades beligerantes, reconhecidas como tais, cuja atuação incide no âmbito do direito internacional público. Por outro lado, no entender da Corte Internacional de Justiça, órgão jurídico e consultivo da Organização das Nações Unidas, o DIP se constitui em fator de organiza- ção da sociedade, cujas finalidades devem atender pre- cipuamente: - Redução da anarquia das relações internacionais; e - Satisfação de interesses comuns dos Estados. 4 1.3 FONTES Constituem fontes do Direito Internacional Público, dentre outros, os princípios gerais do direito. Nesse sentido, a fonte se confunde com o próprio fundamento do sistema jurídico que rege as relações internacionais. Em sentido formal, porém, é fonte positiva das regras que integram o aludido sistema o acordo das vontades dos Estados, expresso nos tratados ou convenções internacionais. O tratado propriamente dito que representa na ordem internacional o que é o contrato na ordem interna pri- vada, é o ajuste bi ou plurilateral que só vincula juridi- camente as partes contratadas, sejam estados ou enti- dades capazes de se obrigarem na ordem internacional, e se destina a conciliar vontades divergentes, fazendo- as convergir numa solução jurídica comum. O tratado- convenção ou lei internacional é o ajuste multilateral, geralmente admitindo adesões, por força do qual vários Estados elaboram e promulgam normas de conduta internacional para o futuro. São essas convenções que integram princípios e regras já trabalhados pelos doutri- nadores ou costumes estabelecidos, a fonte direta e mais importante do direito internacional público. Quanto ao costume, mesmo ainda não consubstanciado em convenções, é admitido como fonte direta do orde- namento jurídico internacional, se resulta de prática 4 Amaral, Renata Campetti. Direito internacional público e privado. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006, p. 17. geral e uniforme, consagrada por uso antigo e repetido, aceito pela consciência universal. Indica-se igualmente, como fonte formal do direito público internacional, em certos casos, as próprias deci- sões de órgãos internacionais encarregados de dirimir controvérsias,como a Corte Permanente de Justiça Internacional, órgão das Nações Unidas, com sede em Haia. Tal jurisprudência, contudo, não constitui propri- amente uma fonte de regras jurídicas, mas apenas um meio idôneo de verificação de sua existência e valida- de. Vale referir que o Artigo 38 do Estatuto da Corte Inter- nacional de Justiça enumera quais sejam as fontes for- mais do Direito Internacional: 1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar; 2. As convenções internacionais, sejam gerais ou par- ticulares, que estabeleçam regras expressamente re- conhecidas pelos Estados litigantes; 3. O costume internacional como prova de uma práti- ca geralmente aceita como direito; 4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; 5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitá- rios de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direi- to, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. 6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se con- vier às partes. Alguns doutrinadores vêm incluindo os atos unilaterais (notificação, renúncia, reconhecimento) e as decisões tomadas por Organizações Internacionais como fontes do DIP, muito embora não estejam listados no referido artigo do Estatuto da Corte Internacional. 5 5 Importante frisar a existência das chamadas soft law, ou seja, normas jurídicas de normatividade de menor grau, em contraposi- ção às tradicionais normas internacionais que se chamam hard law. As primeiras ganham importância na medida crescente da atuação da diplomacia multilateral. Nesse sistema, o cumprimen- to de tais normas é meramente recomendado aos Estados, sem qualquer sanção pelo seu não-cumprimento. 3 LEMBRE-SE: 1.4 TRATADOS Tratado é o acordo formal concluído entre os sujeitos de Direito Internacional Público – Estados, organismos internacionais e outras coletividades – destinado a pro- duzir efeitos jurídicos na órbita internacional. É um ato jurídico complexo que envolve pelo menos duas vonta- des. Os Estados, sujeitos primários da ordem interna- cional, são, em geral, os que concluem tratados. Even- tualmente, os tratados poderão ser concluídos pela Santa Sé (Cúpula da Igreja Católica), por um organismo, como o Fundo Monetário Internacional – FMI, ou como a OIT – Organização Internacional do Trabalho (eles próprios, produtos de tratados), ou por uma associação regional de Estados, como o MERCOSUL ou a União Europeia. As Convenções de Viena de 1969 e 1986 estabeleceram as normas pelas quais se rege o tratado no Direito Internacional Público. Consoante prevê a Convenção de Viena, tratado designa um acordo regido pelo direito internacional, qualquer que seja a sua denominação. Nesse sentido, seria uma designação genérica, onde estão abrangidas as expressões: convenção, convênio, protocolo, compromisso, etc. Contudo, segundo a hierarquia e finalidade específica de cada tratado, algumas diferenças têm sido levantadas para se estabelecer uma classificação: Convenção: refere-se a tratado multilateral que estabelece normas gerais a todos os partícipes, por exemplo, Convenção de Viena sobre o Direito dos Tra- tados, Convenção de Viena sobre Relações Diplomáti- cas, Convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) etc. Acordo: é empregado para os tratados mais sim- ples, quase sempre de natureza econômica. Tem ca- racterísticas técnicas, administrativas. É normalmente temporário, por exemplo, acordos que o Brasil fez com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Protocolo: é um tratado secundário, atrelado a um tratado principal. Vem para complementar o tratado principal, implementar algumas de suas cláusulas, cor- rigir os rumos do tratado original para alcançar o obje- tivo proposto pelos países envolvidos, por exemplo, Protocolo de Brasília de 1991, estabelecendo formas de solução de controvérsia, em matérias comerciais, e consolidando a estrutura do MERCOSUL. Carta, Estatuto: tais nomes são utilizados para re- presentar o tratado constitutivo das entidades inter- nacionais, por exemplo, a Carta da ONU (Organização das Nações Unidas), a Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos), a Carta da OIT (Organização In- ternacional do Trabalho), etc. Concordata: é nome usado exclusivamente para tratado de que participe a Santa Sé (Cúpula da Igreja Católica). Memorando de entendimento: utilizado para re- gistrar princípios gerais que orientarão as relações en- tre as partes, seja no plano político, econômico, cultu- ral ou em outros. As fases pelas quais um tratado deve percorrer, no Bra- sil, para ser incluído no ordenamento jurídico interno, nos termos dos arts. 49, I, e 84, VIII, CF, são: Negociação: todo tratado inicia-se com a negocia- ção, o bilateral, entre dois Estados, com a troca de car- tas, ou o multilateral, envolvendo mais de dois Esta- dos, com uma conferência diplomática. Assinatura: os representantes do Estado assinam o tratado concluído, autenticando o texto, mas não o- brigam internacionalmente o Estado por essa assina- tura. Aprovação Legislativa: fase que vem depois da as- sinatura. O texto é apreciado pelo Congresso Nacional e, se aprovado, encaminhado para a Presidência da República, que enviará uma Carta de Ratificação. Ratificação: é o ato unilateral do Estado, copartíci- pe de um tratado, quando expressa, em definitivo, sua vontade perante a comunidade internacional. A ratifi- cação se dá por meio de um decreto de promulgação. Promulgação: Se dá por meio de Decreto do exe- cutivo e determina a eficácia jurídica interna do texto do tratado. Adesão: tem igual natureza da ratificação e ocorre quando, nos tratados unilaterais, um ou outro país, que não participou das negociações iniciais, quiser a- derir ao tratado. FONTES Corte Convenções Internacionais Costume Internacional Decisões judiciais e doutrinárias Se convir: litídgio ex aequo et bono 4 Observação: A EC 45 inovou em relação aos tratados, eis que, a partir de sua vigência, os tratados e conven- ções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucio- nais. CAIU NA PROVA! XXVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO Em 14 de dezembro de 2009, o Brasil promulgou a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969, por meio do Decreto nº 7.030. A Convenção co- dificou as principais regras a respeito da conclusão, entrada em vigor, interpretação e extinção de tratados internacionais. Tendo por base os dispositivos da Con- venção, assinale a afirmativa correta. A) Para os fins da Convenção, “tratado” significa qual- quer acordo internacional concluído por escrito entre Estados e/ou organizações internacionais. B) Os Estados são soberanos para formular reservas, independentemente do que disponha o tratado. C) Um Estado não poderá invocar o seu direito interno para justificar o descumprimento de obrigações assu- midas em um tratado internacional devidamente in- ternalizado. D) Os tratados que conflitem com uma norma impera- tiva de Direito Internacional geral têm sua execução suspensa até que norma ulterior de Direito Interna- cional geral da mesma natureza derrogue a norma im- perativa com eles conflitante. RESPOSTA: C CAIU NA PROVA! XVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO Em setembro de 2014, na cidade de São Paulo, foi inaugurado o Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), que é o primeiro do país e tem como objetivo oferecer a estrutura de uma casa de passagem e auxiliar os imigrantes na adaptação à vida na capital paulista, além de darcondições para a autonomia de tais imigrantes. Do ponto de vista dos Direitos Humanos, essa situação é regulada pela Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias, adotada pela ONU em dezembro de 1990 e em vigor desde julho de 2003. Em relação ao posicionamento do Estado brasileiro perante essa Convenção, assinale a afirmativa correta. A) A Convenção não foi ratificada pelo Brasil e, por isso, suas normas não produzem efeito jurídico em território brasileiro. B) A Convenção foi ratificada pelo Brasil e, por isso, suas normas podem ser juridicamente exigidas. C) A Convenção foi ratificada pelo Brasil, mas não foi regulamentada. Por isso, suas normas possuem efeito contido no território brasileiro. D) A Convenção não foi ratificada pelo Brasil, mas suas normas produzem pleno efeito jurídico, uma vez que as normas de Direitos Humanos não dependem de ratificação para vigorar em território brasileiro. RESPOSTA:A 1.5 TRATADOS MENCIONADOS PELO EXAME DA ORDEM Convenção da Apostila de Haia (“Convenção Relativa à Supressão da Exigência da Legalização dos Actos Públicos Estrangeiros”) Objetivo de simplificar e facilitar a legalização de docu- mentos entre 112 países signatários, dentre os quais o Brasil. A Convenção se aplica aos atos públicos lavrados e apresentados em um dos países signatários. São atos públicos: - Documentos provenientes de uma autoridade ou de um funcionário dependente de qualquer jurisdição do país, compreendidos os provenientes do Ministério Público, de um escrivão de direito ou de um oficial de diligências; - Documentos administrativos; - Atos notariais; - Declarações oficiais como menções de registro, vis- tos para data determinada e reconhecimento de assi- natura, inseridos em atos de natureza privada A Convenção não se aplica a: - Documentos elaborados pelos agentes diplomáticos ou consulares; - Documentos administrativos relacionados direta- mente com uma operação comercial ou aduaneira. A única formalidade que pode ser exigida para atestar a veracidade da assinatura, a qualidade e a autenticidade será o selo ou carimbo dado pela autoridade compe- tente do país donde o documento é originário. Esta formalidade não pode ser exigida caso as leis, os regu- lamentos, os costumes que vigorem no país onde se 5 celebrou o ato afaste, simplifique ou dispense o ato da legalização 6 . Convenção Interamericana sobre o Desapare- cimento Forçado de Pessoas Firmada pelo Brasil em 10 de junho de 1994, a Conven- ção foi internalizada pelo Decreto 8.766/16. Por meio dela, os Estados Partes, consoante o Artigo I da Conven- ção, comprometeram-se a: - Não praticar, nem permitir, nem tolerar o desapare- cimento forçado de pessoas, nem mesmo em estado de emergência, exceção ou suspensão de garantias individuais; - Punir, no âmbito de sua jurisdição, os autores, cúm- plices e encobridores do delito do desaparecimento forçado de pessoas, bem como da tentativa de prática do mesmo; - Cooperar entre si a fim de contribuir para a preven- ção, punição e erradicação do desaparecimento força- do de pessoas; e - Tomar as medidas de caráter legislativo, administra- tivo, judicial ou de qualquer outra natureza que sejam necessárias para cumprir os compromissos assumidos na Convenção. Dentre as suas principais disposições, define o conceito de desaparecimento forçado como “a privação de li- berdade de uma pessoa ou mais pessoas, seja de que forma for, praticada por agentes do Estado ou por pes- soas ou grupos de pessoas que atuem com autorização, apoio ou consentimento do Estado, seguida de falta de informação ou da recusa a reconhecer a privação de liberdade ou a informar sobre o paradeiro da pessoa, impedindo assim o exercício dos recursos legais e das garantias processuais pertinentes” 7 . Convenção de Viena de 1961 A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961, é o documento fundamental no que se refere às relações diplomáticas entre Estados. A Convenção foi a compilação de uma estrutura normativa descendente do costume e trouxe, entre muitas outras novidades, a consagração do princípio de que a missão diplomática deve ser entendida em seu conjunto e não isoladamen- te considerada na figura do embaixador. Assim, a mis- 6 Informações extraídas do site do Conselho Nacional de Justiça. (Acesso em 23 fev. 2020. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes- internacionais/convencao-da-apostila-da-haia>). 7 Decreto nº 8.766/2016 (Acesso em: 23 fev. 2020. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2016/decreto/D8766.htm>). são diplomática abrange o chefe da missão, os funcioná- rios e o pessoal técnico e de serviço. Segundo a Convenção, os chefes de missão dividem-se em três classes: - Embaixadores ou núncios acreditados perante che- fes de Estado; - Enviados, ministros ou internúncios; e - Encarregados de negócios, acreditados perante o Ministério das Relações Exteriores. O grupo de agentes diplomáticos acreditados em um mesmo Estado é chamado corpo diplomático, o qual é presidido pelo decano, que é o mais antigo agente di- plomático. A expressão “agente diplomático” engloba o chefe da missão e todos os membros do pessoal diplo- mático. Os funcionários diplomáticos são classificados como permanentes ou temporários. Permanentes são os que atuam permanentemente junto a um governo. Os tem- porários integram uma delegação em uma conferência ou são enviados a uma posse presidencial, por exemplo. A missão diplomática permanente, qualificada geral- mente de embaixada e, por vezes, de legação, é um serviço público do Estado acreditante instalado perma- nentemente no território do Estado acreditador. Os agentes são escolhidos pelos Estados, segundo qua- lidades e condições de idoneidade por eles designados. Em regra, os agentes diplomáticos são nacionais do país pelo qual são nomeados, contudo, nada impede que sejam de outra nacionalidade. Ao assumir seu posto, o agente diplomático leva consigo dois documentos essenciais: o passaporte diplomático e a credencial. A credencial é normalmente uma carta assinada pelo chefe de Estado e referendada pelo Minis- tro das Relações Exteriores. Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Institui- ções e Práticas Análogas à Escravatura A Convenção, datada de 7 de setembro de 1956 e pro- mulgada pelo Brasil por meio do Decreto 58.563/66. Em suas principais disposições, podemos tratar das definições a seguir: - “Escravidão”, tal como foi definida na Convenção sobre a Escravidão de 1926, é o estado ou a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao direito de proprieda- de, e “escravo” é o indivíduo em tal estado ou condi- ção. - “Pessoa de condição servil” é a que se encontra no estado ou condição que resulta de alguma das institui- 6 ções ou práticas mencionadas no artigo primeiro da presente Convenção. - “Tráfico de escravos” significa e compreende todo ato de captura, aquisição ou cessão de uma pessoa com a intenção de escravizá-la; todo ato de aquisição de um escravo para vendê-lo ou trocá-lo; todo ato de cessão, por venda ou troca, de uma pessoa adquirida para ser vendida ou trocada, assim como, em geral, todo ato de comércio ou transporte de escravos, seja qual for o meio de transporte empregado8 8 . CAIU NA PROVA! XIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO Em dezembro de 2014, a sul-africana Urmila Bhoola, relatora especial das Nações Unidas sobre as formas contemporâneas de escravidão, declarou que "pelo menos 20,9 milhões de pessoas estão sujeitas a for- mas modernas de escravidão, que atingem principal- mente mulheres e crianças". A relatora da ONU, para fazer tal afirmação, considerouo conceito de escravi- dão presente na Convenção Suplementar sobre a Abo- lição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Insti- tuições e Práticas Análogas à Escravatura adotada em Genebra, em 7 de setembro de 1956. Assinale a opção que apresenta o conceito de escravidão conforme dis- posto na referida Convenção: A) Estado ou a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao direito de propriedade. B) Situação em que um indivíduo trabalha em condi- ções precárias e não recebe seus direitos trabalhistas de modo pleno e integral. C) Relação em que uma pessoa possui o controle físico sobre o corpo de outra pessoa. D) Condição por meio da qual uma pessoa se encontra psicologicamente constrangida a cumprir as ordens que lhe são dadas por terceiros, ainda que tais ordens sejam contrárias aos seus interesses. RESPOSTA: A Convenção sobre os Aspectos Civis do Seques- tro Internacional de Crianças Promulgada pelo Decreto 3.413/00, aplica-se, consoan- te art. 4, a qualquer criança que tenha residência habi- tual num Estado Contratante, imediatamente antes da 8 Informações da Câmara dos Deputados. (Acesso em: 23.fev.2020. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960- 1969/decreto-58563-1-junho-1966-399220-publicacaooriginal-1- pe.html>). violação do direito de guarda ou de visita. A aplicação da Convenção cessa quando a criança atingir a idade de 16 anos. Além disso, define em seu art. 5 o “direito de guarda” como o direito relativo aos cuidados com a pessoa da criança, e, em particular, o direito de decidir sobre o lugar da sua residência e “direito de visita” como o direito de levar uma criança, por um período limitado de tempo, para um lugar diferente daquele onde ela habi- tualmente reside. CAIU NA PROVA! XIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO Para a aplicação da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, Lígia recorre à autoridade central brasileira, quando Arnaldo, seu ma- rido, que tem dupla-nacionalidade, viaja para os Esta- dos Unidos com a filha de 17 anos do casal e não re- torna na data prometida. Arnaldo alega que entrará com pedido de divórcio e passará a viver com a filha menor no exterior. Com base no caso apresentado, a autoridade central brasileira A) deverá acionar diretamente a autoridade central estadunidense para que tome as medidas necessárias para o retorno da filha ao Brasil. B) deverá ingressar na Justiça Federal brasileira, em nome de Lígia, para que a Justiça Federal mande acio- nar a autoridade central estadunidense para que tome as medidas necessárias para o retorno da filha ao Bra- sil. C) não deverá apreciar o pleito de Lígia, eis que a filha é maior de 16 anos. D) não deverá apreciar o pleito de Lígia, eis que o pai também possui direito de guarda sobre a filha, já que o divórcio ainda não foi realizado. D) Condição por meio da qual uma pessoa se encontra psicologicamente constrangida a cumprir as ordens que lhe são dadas por terceiros, ainda que tais ordens sejam contrárias aos seus interesses. RESPOSTA: C Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polí- ticos O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi aprovado em 16 de dezembro de 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas e está em vigor, e em âmbito internacional, desde 23 de março de 1976, tendo sido internalizado pelo Brasil por meio do Decreto 592/92. 7 Juntamente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), forma a tríade que compõe a Carta Internacional dos Direitos Huma- nos. Portanto, esse Pacto trata de direitos considerados como fundamentais. Pode-se dizer ainda que este Pacto estabelece direitos de primeira geração. Em seu texto, confere-se especial valor ao direito de autodeterminação dos povos, visando a assegurar o direito dos povos em definir seus próprios estatutos políticos, bem como os caminhos que decidirão percor- rer para alcançar o desenvolvimento econômico, social e cultural. O Pacto traz duas formas de proteção ao direito de autodeterminação. Primeiramente, estabele- ce que os Estados devem respeitar o direito à autode- terminação dos povos dos outros Estados. Em um se- gundo momento, refere-se ao povo dentro do próprio Estado, ou seja, trazendo o dever de que os governan- tes, que exercem o controle do Estado de maneira tem- porária, devem respeitar esse direito do povo nacional, sem qualquer tipo de discriminação. É inegável que o texto do Pacto visa a uma especial proteção das minorias políticas, intentando a dissolu- ção de qualquer forma discriminatória. Sendo assim, estabelece que não poderá haver distinções por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política etc., dando especial atenção à questão de gênero: estabele- ce que devem ser asseguradas oportunidades iguais para que homens e mulheres gozem de todos os seus direitos civis e políticos. Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pacto de San José da Costa Rica”) A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (tam- bém conhecida como Pacto de San José da Costa Rica) é um tratado de direitos humanos que foi assinado pelos países-membro da Organização dos Estados Americanos (OEA), dentre os quais inclui-se o Brasil, na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em 22 de novembro de 1969. Sua entrada em vigor se deu em 18 de julho de 1978, constituindo-se de base para o sistema interamericano de proteção dos Direi- tos Humanos. Foi internalizada pelo Brasil através do Decreto 678/92. A Convenção possui especial relevância no ordenamen- to jurídico brasileiro. Em seus 82 artigos, prevê a exis- tência de apenas um tipo de prisão civil: a do devedor de alimentos. Já a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 previa, após o seu nascimento, uma outra hipótese de prisão civil: a do depositário infiel (art. 5º, LXVII). Ou seja, a partir da internalização da Convenção, passou a haver um conflito de normas den- tro do ordenamento jurídico brasileiro. Em 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o Habeas Corpus 87.585 e os Recursos Extraordinários 466.343 e 349.703. Em decisão histórica causou uma grande quebra de paradigma, passando a considerar inconstitucional a prisão do depositário infiel, adotan- do a previsão da Convenção Americana de Direitos Humanos. Com isso, o Supremo passou a considerar que os tratados sobre direitos humanos que tenham sido ratificados, mas não tenham sido internalizados pelo Brasil com o status de Emenda Constitucional (possibili- dade trazida pela EC 45/04) passam a ter o status de supralegalidade. Isso significa que esses tratados pas- sam a estar, hierarquicamente, acima da legislação infra-constitucional, mas abaixo da Constituição Federal. Assim, foi editada, em 2009, a Súmula Vinculante 25, consolidando a ilegalidade da prisão do depositário infiel. 9 2. PERSONALIDADE INTERNACIO- NAL 2.1 CAPACIDADE DE AÇÃO Capacidade de ação nada mais é do que o reconheci- mento da personalidade jurídica de um determinado ente na ordem jurídica internacional. Por exemplo, para que um Estado figure como sujeito de direitos e obrigações em âmbito internacional, deve ele deter independência e soberania, pois não pode manter rela- ções na comunidade internacional caso encontre-se subordinado a outro Estado. As organizações internacionais, assim como os Estados, também possuem personalidade, independentemente da de seus membros. No entanto, sobre a capacidade das organizações, entende-se que elas possuem capaci- dade legal internacional limitada, que decorre funda- mentalmente das delimitações impostas por seus trata- dos constitutivos, ou seja, está adstrita aos países que a reconhecem e resultam da vontade de seus membros. Em relaçãoao indivíduo e sua capacidade frente ao DIP, há entendimento majoritário no sentido de que a sua capacidade se estende até o limite permitido pelas normas internacionais aplicáveis diretamente a ele. 2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS IN- TERNACIONAIS Os sujeitos do Direito Internacional são os Estados – sujeitos primários – e os organismos internacionais – sujeitos secundários, porque criados pelos Estados. 9 Súmula Vinculante 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. 8 Por outro lado, são considerados como sujeitos, ainda, na ordem internacional: a Santa Sé e o próprio indiví- duo, com as limitações previstas no direito internacio- nal, como beneficiário das normas internacionais prote- tivas. No que se refere ao indivíduo, contudo, há ainda controvérsias sobre sua caracterização enquanto sujeito de DIP. 2.3 ESTADOS E ORGANIZAÇÕES Dentre os sujeitos, na ordem internacional, certamente, o Estado é o mais importante. Assim, conforme estabelece, igualmente, a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, para ser considerado como tal, um Estado deve possuir no mínimo os seguintes elementos: A população permanente refere-se ao conjunto de indivíduos que habitam o território em determinado momento. Não se confunde com a noção de povo, que é um conceito que diz respeito ao aspecto social. Esse elemento potencializa o princípio da continuidade do Estado. O território, por sua vez, é o espaço sobre o qual o Estado soberano exerce a sua ampla e irrestrita jurisdi- ção e competências de ordem legislativa e administra- tiva, sem qualquer concorrência oposta por outro ente na ordem internacional. Deve-se referir que um Estado, mesmo que não tenha suas fronteiras definidas, pode ser reconhecido como ente soberano pela ordem inter- nacional. Por fim, o Governo e a capacidade de manter relações com outros Estados dizem estritamente com a sobera- nia, ou seja, somente será considerado Estado aquele ente que não for subordinado, ou seja, aquele que pos- sui plena e irrestrita capacidade no cenário internacio- nal. Os Estados são classificados, quanto a sua estrutura, em simples e compostos: Estados Simples: são aqueles que apresentam um poder único e centralizado. São plenamente sobera- nos e representam um todo homogêneo e indivisível, onde não há divisão interna de autonomias. Como e- xemplo pode-se citar a França. Estados Compostos: têm vários poderes em um ter- ritório considerado. Há a descentralização política – ainda que possa haver, também, a administrativa. Há várias fontes ou mais do que uma fonte de decisão po- lítica. É o caso do Brasil. Têm estrutura complexa e di- videm-se em compostos por coordenação e compos- tos por subordinação. - Compostos por coordenação: São aqueles em que, entre um e outro poder, a subordinação é mínima: Estado Federal, Confederação de Estados, Uniões de Estados e a Commonwealth. a) Estado Federal: formado pela união de vários Es- tados, que perdem a soberania em favor da União Federal. A personalidade internacional é da União, possuindo esta o direito de convenção – celebrar tratados – e o direito de legação – receber e enviar diplomatas. Exemplo de Estados Federais: Brasil e EUA. b) Confederação de Estados: conjunto de Estados com finalidades comuns ditadas a partir da associ- ação. O órgão central da Confederação é a “dieta” e suas deliberações são tomadas por unanimidade ou maioria qualificada. Como característica, desta- ca-se o direito de secessão dos Estados que a for- mam. No passado, por exemplo, tivemos a Confe- deração dos EUA (1777-1787). c) Uniões de Estados: uniões de Estados podem ser: união pessoal e união real. A união pessoal re- sulta de um acaso nas leis de sucessão. O monarca de um Estado torna-se soberano de outro em vir- tude de um fato acidental. Um exemplo ocorreu na época de Carlos I da Espanha, coroado imperador da Alemanha (1519-1566). Na união real, a identi- dade do chefe de Estado é desejada e não resulta de um fato acidental, mas sim de um ato jurídico interno ou internacional. Exemplo, Brasil-Portugal (1815). d) Commonwealth: formação ímpar, que abrange colônias autônomas, colônias da Coroa e territórios sob tutela. Não possui personalidade internacional e o símbolo dessa união é a Coroa Britânica. A Commonwealth possui uma Conferência de Primei- ros Ministros, que se reúne em Londres sem prazo marcado e com objetivo consultivo. - Compostos por subordinação: São aqueles que se subordinam ao outro, de modo a influir na sobera- nia: Estados vassalos, Protetorado, Estado-cliente, Estado-satélite, Estado-exíguo. Tais Estados não mais existem na atualidade. População Permanente Território Governo Capacidade de relação com os demais Estados 9 Por outro lado, um Estado pode surgir das seguintes situações: - Separação de parte da população e território de um Estado; - Dissolução total de um Estado, não subsistindo sua antiga personalidade; - Fusão para criação de um estado novo. IMPORTANTE!! O reconhecimento de um Estado é ato unila- teral. Para que um Estado passe a manter re- lações internacionais, necessário se faz o seu reconhecimento pelos demais Estados existen- tes. O reconhecimento mútuo é requisito a- penas para a celebração de tratados bilate- rais, não de tratados multilaterais. Ainda, segundo as Convenções de Viena de 1978 e 1983, a sucessão de Estados se dá pela substituição de um estado (predecessor) por outro (sucessor) nas suas responsabilidades internacionais. A sucessão pode ocorrer: - pela fusão ou agregação de Estados; - pela secessão ou desmembramento de Estados; - pela transferência territorial. Já os organismos internacionais, diferentemente dos Estados, são formados por uma associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional, constituída por ato internacional e disciplinada nas relações entre as partes por normas de direito internacional, que se realiza em um ente de aspecto estável, que possui um ordenamen- to jurídico interno próprio, por meio do qual realiza as finalidades comuns de seus membros mediante funções particulares e o exercício de poderes que lhe foram conferidos. Características dos organismos internacio- nais: - Não possuem território, nem população. - Compreendem apenas um elemento: os órgãos ap- tos a exercerem as funções que lhes foram estabeleci- das. - As organizações e seus agentes se beneficiam de i- munidades funcionais. - Possuem o direito de cooperar com outras organiza- ções. - A responsabilidade ativa e passiva da organização é consequência da participação de fato numa atividade internacional. - Cada organização tem um direito próprio que define os elementos de sua personalidade. - Nenhuma organização internacional é soberana, no sentido em que os Estados o são; apenas tem atribui- ções próprias, limites de competência e funcionais de- terminados em sua carta constitutiva. - Em virtude de seu estatuto jurídico, têm capacidade de concluir acordos internacionais no exercício de suas funções e para realização de seu objeto. Dentre as organizações de maior importância, deve-se destacar a ONU e a OEA. A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 191 Estados soberanos, fun- dada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e os direitos humanos. Os membros são unidos em torno da Carta da ONU, assinada em 26 de junho de 1945, em São Francisco, que se consubstancia em um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos membros da comunidade internacional. As Nações Unidas são constituídas por seis órgãos prin- cipais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômicoe Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos eles estão situados na sede da ONU, em Nova York, com exceção do Tribunal, que se localiza em Haia, na Holan- da. Ligados à ONU há organismos especializados que traba- lham em áreas tão diversas como saúde, agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS (Organização Mundial da Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional). Estes organismos especializa- dos, juntamente com as Nações Unidas e outros pro- gramas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF), compõem o Sistema das Na- ções Unidas. Os propósitos das Nações Unidas são 10 : 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, pa- ra esse fim: tomar, coletivamente, medidas efeti- vas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e che- gar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situa- ções que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 10 Disponível em: <www.onu-brasil.org.br>. 10 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos hu- manos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Ainda, consoante o artigo 2º da Carta, a Organização e seus membros, para a realização dos propósitos men- cionados, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 1. A Organização é baseada no princípio da igual- dade de todos os seus Membros. 2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta. 3. Todos os Membros deverão resolver suas con- trovérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a seguran- ça e a justiça internacionais. 4. Todos os Membros deverão evitar em suas rela- ções internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra a- ção incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. 5. Todos os Membros darão às Nações toda assis- tência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Uni- das agirem de modo preventivo ou coercitivo. 6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessá- rio à manutenção da paz e da segurança interna- cionais. 7. Nenhum dispositivo da presente Carta autoriza- rá as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qual- quer Estado ou obrigará os Membros a submete- rem tais assuntos a uma solução. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por sua vez, foi criada pela IX Conferência Internacional de Estados Americanos (Bogotá, maio de 1948), com base em mandato contido na Resolução IX da Conferência Internacional Interamericana sobre os Problemas de Guerra e Paz (México, 1945). A referida Resolução en- comendava a reorganização, consolidação e fortaleci- mento do Sistema Interamericano. Da referida Confe- rência, emanaram importantes documentos do sistema interamericano, como a própria Carta da OEA, o Trata- do Americano de Soluções Pacíficas, conhecido como Pacto de Bogotá, e a Declaração Interamericana de Direitos e Deveres do Homem, assinada sete meses antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. As principais áreas de atuação da OEA são: - Fortalecimento da democracia; segurança hemisféri- ca; - Construção da paz; - Promoção e defesa dos direitos humanos; estímulo ao comércio entre as nações; - Combate às drogas; preservação do meio ambiente; - Combate ao terrorismo; - Incentivo à probidade administrativa e cooperação para o desenvolvimento. Destarte, pode-se ainda destacar como sujeitos na or- dem internacional, os indivíduos e empresas, cujo reco- nhecimento de sua personalidade jurídica ainda encon- tra resistência por parte da doutrina, mas que, a partir da modernização do DIP, não há como negar que cada vez mais vêm recebendo proteção por parte do Direito Internacional Público. Também vale frisar a participação da Santa-Sé – a cúpu- la da Igreja Católica – como membro internacional, cuja personalidade jurídica fora reconhecida, em 1929, a partir dos acordos de Latrão. As relações entre a Igreja e os Estados se corporificam por meio de concordatas e o vínculo entre as pessoas que residem no Vaticano não é de nacionalidade, mas sim de cunho funcional, por isso que preservam a sua nacionalidade originária. 3. DIREITOS E DEVERES FUNDA- MENTAIS DOS ESTADOS O Estado, enquanto sujeito do DIP, atua no cenário internacional gozando dos direitos e deveres reconheci- dos pelo direito internacional. Atualmente, não mais se discute acerca da igualdade jurídica dos Estados, de modo que todos – os mais poderosos e os mais fracos – desfrutam, por exemplo, dos direitos reconhecidos na Carta das Nações Unidas. Dentre os direitos fundamentais dos Estados, ressal- tamos: Direito à liberdade: confunde-se com a noção de soberania, a qual pode ser dividida em soberania inter- na e soberania externa. A primeira refere-se ao poder do Estado com relação às pessoas e coisas que se en- contram em seu território, também denominada auto- nomia. Compreende os direitos de organização política, 11 de legislar e de jurisdicionar. Soberania externa é aquela atribuída pelo direito internacional e se manifesta a partir da liberdade com que o Estado desempenha suas relações internacionais. Confunde-se, assim, com o conceito de independência. A soberania externa com- preende os direitos de celebrar tratados, o de fazer guerra ou paz, etc. Direito de igualdade: o art. 4º da Convenção Paname- ricana sobre Direitos e Deveres dos Estados (Montevi- déu, 1933) dispõe que “os Estados são juridicamente iguais, gozam dos mesmos direitos e têm a mesma ca- pacidade no seu exercício”. Os direitos de cada um não dependem do poder que tenha para assegurar o seu exercício, mas do simples fato de sua existência como pessoa de direito internacional. De acordo com o direito de igualdade, cada Estado terá direito de voto para decisão de questões internacio- nais, sendo que os votos dos mais fracos têm o mesmo valor dos votos dos mais fortes. Além disso, nenhum Estado tem o direito de reclamar jurisdição sobre outro Estado, de modo que os tribunais de um Estado não têm jurisdição sobre outro. Esse último princípio, porém, não é absoluto, pois se tem entendido que o Estado pode renunciar – tácita ou expressamente – à imunidade de jurisdição (por meio de tratado, quando propõe ação perante tribunal es- trangeiro, quando exerce atos de comércio/gestão pe- rante Estado estrangeiro). Além disso, a jurisprudência tem aplicado a renúncia da imunidade de jurisdição em ações relativas a questões trabalhistas. A imunidade de execução, contudo, é compreendida como absoluta. CAIU NA PROVA! XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO Questão 23. Em 2013, uma empresa de consultoria brasileira assina, na cidade de Londres, Reino Unido, contrato de prestação de serviços com uma empresa local. As contratanteselegem o foro da comarca do Rio de Janeiro para dirimir eventuais dúvidas, com a exclusão de qualquer outro. Dois anos depois, as par- tes se desentendem quanto aos critérios técnicos pre- vistos no contrato e não conseguem chegar a uma so- lução amigável. A empresa de consultoria brasileira decide, então, ajuizar uma ação no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro para rescindir o contrato. Com relação ao caso narrado acima, assinale a afirma- tiva correta. A) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua decisão na legislação brasileira, pois um juiz brasileiro não pode ser obrigado a aplicar leis estrangeiras. B) O Poder Judiciário brasileiro não é competente para conhecer e julgar a lide, pois o foro para dirimir ques- tões em matéria contratual é necessariamente o do local em que o contrato foi assinado. C) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua decisão na legislação do Reino Uni- do, pois os contratos se regem pela lei do local de sua assinatura. D) O juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá se basear na legislação brasileira, pois, a litígios envolvendo brasileiros e estrangeiros, aplica-se a lex fori. RESPOSTA: C Direito de defesa e conservação: prática de medidas contra inimigos internos e externos, tais como a expul- são de estrangeiros nocivos à ordem nacional e a cele- bração de alianças defensivas. Esse direito, contudo, não é absoluto, pois é limitado pelo direito de defesa e conservação dos demais Estados. Direito ao desenvolvimento: com base nesse princí- pio, a ONU adotou várias resoluções objetivando a me- lhoria das condições dos Estados em desenvolvimento, como a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD. 3.1 DEVERES DOS ESTADOS Para Hans Kelsen, “as normas do direito internacional geral impõem deveres sobre os Estados e ao fazê-lo conferem direitos aos demais”. E, ainda, “se os deveres forem formulados corretamente, a formulação do direi- to correspondente é supérflua”. Passemos, assim, à análise dos deveres dos Estados soberanos. 3.1.1 DEVER DE NÃO-INTERVENÇÃO Intervenção é a ingerência de um Estado nos negócios peculiares, internos ou externos, de outro Estado sobe- rano com o fim de impor a este a sua vontade. A Carta da OEA determina, em seu artigo 18, “nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, nos assuntos internos ou exter- nos de qualquer outro”. Já a Carta da ONU possui um dispositivo bem menos rigoroso, que prevê “todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territo- rial ou a independência política de qualquer Estado ou outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas” (art. 2, item 4). 12 Alguns Estados, contudo, vêm defendendo o uso do instituto da intervenção em defesa dos direitos huma- nos e do meio ambiente. Em regra, não configura intervenção uma ação coletiva decorrente de compromisso firmado em tratado, como o da ONU, que confere ao Conselho de Segurança pode- res para adotar as medidas destinadas a manter ou restabelecer a paz e segurança internacionais. Destacamos, a seguir, algumas espécies de intervenção: - Intervenção em nome do direito de defesa e conser- vação; - Intervenção para proteção dos direitos humanos; - Intervenção para proteção dos nacionais. 3.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS A responsabilidade internacional impõe a todo o Estado que der causa a um ato ilícito em desfavor de outro Estado o dever de reparar o dano de forma adequada. De acordo com a melhor doutrina constituem elemen- tos essenciais para a apuração da responsabilidade internacional: - Ato ilícito: para a caracterização do ilícito basta a- fronta a um princípio geral, uma regra costumeira, um dispositivo de tratado em vigor; - Imputabilidade: a ação ou omissão deve ser imputa- da a uma pessoa jurídica inscrita na ordem internacio- nal. Diz-se indireta quando o Estado responde por ilíci- to provocado por dependência sua (tutela ou proteto- rado). A responsabilidade direta do Estado advém quando a ação ou omissão decorre de seus órgãos de qualquer categoria hierárquica podendo, inclusive, ser responsabilizado em razão do exercício indevido de competências judiciárias ou legislativas. - Dano: para se falar em responsabilidade internacio- nal deve existir dano. Esse dano não necessariamente será de cunho material, ou seja, haverá dano muitas vezes destituído de valor econômico. Igualmente, so- mente o Estado que sofrer o dano estará legitimado a pleitear a reparação. Observação: Há casos em que a ilicitude será excluída, como por exemplo, nos casos de legítima defesa levada a efeito por um Estado que venha a sofrer um ataque armado. 11 Além dessa excludente a doutrina revela mais três causas: 11 Carta da ONU, artigo 51 – “Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medi- - Represálias: compreende atos em si mesmo ilícitos, porém justificados como único meio de combate a ou- tros atos igualmente ilícitos. Só podem ser admitidas em face de um ato prévio que constitua infração ao direito, contrária a quem as emprega e, se proporcio- nais à gravidade da infração. Pode acrescer-se ainda, a condição de que o ofendido não tenha encontrado um meio lícito de impedir a violação de seu direito. - Prescrição liberatória: o elemento básico da prescri- ção liberatória ou extintiva, em matéria internacional, é o silêncio do credor durante um espaço de tempo mais ou menos longo, sobre o que, a jurisprudência arbitral já indicou a necessidade, para aplicação, de que seja invocada. - Culpa do lesado: considera-se que a responsabilida- de do Estado pode desaparecer ou ser atenuada, quando o comportamento do indivíduo tenha dado ensejo ao fato gerador do dano ou tenha fortemente contribuído para a ocorrência. Nos casos de responsabilidade internacional por lesão a um indivíduo, o Estado de origem desse indivíduo poderá exercer seu direito de proteção diplomática. Nada mais é que o Estado da nacionalidade lesada poderá apresentar uma reclamação, via diplomática, contra o Estado infrator para obter a devida repara- ção 12 . Essa outorga de proteção diplomática de um Estado a um particular chama-se endosso e tem como pressupostos a nacionalidade, ou seja, o Estado que confere o endosso deve ser o da nacionalidade do parti- cular, e o esgotamento dos recursos judiciais locais do Estado que praticou a lesão. 4. NACIONALIDADE 4.1 IMIGRAÇÃO Imigrante é a pessoa que sai de seu país e entra em outro, temporariamente ou permanentemente, com intenção de trabalho ou residência. A imigração em geral ocorre por iniciativa pessoal, pela busca de melhores condições de vida e de trabalho por parte dos que imigram, ou ainda para fugir de perseguições ou discriminações por motivos religiosos ou políticos. Tais acontecimentos foram os principais motivos dos movimentos migratórios ocorridos da Europa e da Ásia das necessárias para a manutenção da paz e da segurança inter- nacionais. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais”. 12 AMARAL, op. cit., p. 83. http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabalho http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Persegui%C3%A7%C3%B5es&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Discrimina%C3%A7%C3%B5es&action=edit http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Religiosos&action=edit http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADticos http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81sia 13 para as Américas no século XIX e também no início do século XX (muito embora houvesse também o interesse na entrada de imigrantes, por razões demográficas ou para o “branqueamento” de sua população, por parte dos países de acolhimento). Mas pode também ser incentivada por países que queiram aumentar o tamanho e/ou a qualificação de sua população, como ainda fazem, por exemplo, o Canadá e Austrália desde o século XX. 4.2 NACIONALIDADE BRASILEIRA O direito à nacionalidade apresenta duas facetas. Trata- se de direito fundamental e de um direito humano. É direito fundamental, reconhecido em âmbito interno, pois consta do catálogo do Título II de nossa Constitui- ção. É direito humano, pois se liga ao gênero humano. Toda pessoa, então, pelo simples fato de existir, deve ter direito a uma nacionalidade, como se encontra estabelecido no art. XV da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Daí o esforço que se tem verificado nos últimos anos para reduzir os casos de pessoas sem nacionalidade, os denominados apátridas, em virtude de conflito negativo de nacionalidades. Como direito fun- damental, é tratado pelo Direito Constitucional, en- quanto que, como direito humano, é da alçada do Direi- to Internacional Público. Para alguns autores, a nacionalidade é um vínculo jurí- dico. Para outros, trata-se de vínculo político. Entretan- to, parece haver consenso no sentido de ser a nacionali- dade, a um só tempo, uma ligação jurídica e política que se estabelece entre o indivíduo e o Estado. A nacionalidade pode ser adquirida por diferentes for- mas. Levando-se em consideração o critério do tempo, pode-se classificar a nacionalidade em duas categorias: nacionalidade originária e nacionalidade derivada, esta última também chamada de secundária ou, impropria- mente, adquirida. Para a atribuição da nacionalidade originária, aquela que se alcança pelo nascimento, pode-se apontar dois sistemas legislativos: jus soli e jus sanguinis. Ressalte- se, contudo, que esses sistemas não são adotados de forma inflexível, admitindo-se temperamentos. No sistema do jus soli, a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o indivíduo tenha nasci- do. Pelo sistema do jus sanguinis, a nacionalidade origi- nária obtém-se de acordo com a dos pais, à época do nascimento. Ambos os sistemas são adotados pelo Bra- sil. A nacionalidade derivada ou secundária é alcançada por meio da naturalização, hoje predominantemente voluntária, embora no passado tenham ocorrido casos de naturalização imposta, e por meio do casamento. Quando a naturalização ocorre de forma voluntária, o naturalizado perde a nacionalidade anterior, constitu- indo-se manifestação do direito de renúncia, que, em algumas legislações, pode ser tácita. No Brasil, segundo o art. 12, CF, a aquisição originária da nacionalidade (primária, brasileiros natos) se dá nos seguintes casos: Já a naturalização é forma derivada de aquisição da nacionalidade. Sua concessão, em regra, é feita discri- cionariamente pelo Estado, segundo suas conveniências. Desse modo, ainda que preenchidos determinados re- quisitos, por não haver, em princípio, direito público subjetivo à naturalização, pode ao estrangeiro ser ne- gada a aquisição da nacionalidade brasileira. No Brasil, a concessão da naturalização é de competência exclu- siva do Poder Executivo. Assim a naturalização é um ato unilateral e discricionário do Estado no exercício de sua soberania, exceto no caso do art. 12, II, “b”, CF. A Constituição, no art. 12, II, não prevê hipóteses de nacionalização tácita. Ao contrário do que ocorre com a nacionalidade originária, casos de aquisição de naciona- lidade secundária podem ser definidos por legislação infraconstitucional, tendo em vista a expressão “na forma da lei”, constante do art. 12, II, “a”. Nossa Constituição prevê duas formas de naturalização expressa, que depende de manifestação de vontade do naturalizando: ordinária (art. 12, II, “a”) e extraordiná- ria (art. 12, II, “b”): Art. 12. II - (...) a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalida- de brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; Nascidos no Brasil • ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país Nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira • desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil Nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira • desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9ricas http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIX http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XX http://pt.wikipedia.org/wiki/Austr%C3%A1lia 14 b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi- dentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasi- leira. Em relação à naturalização ordinária, cabe distinguir entre estrangeiros não-originários de países de língua portuguesa e originários de países de língua portuguesa. Os estrangeiros que não sejam oriundos da Comunida- de dos países de língua portuguesa, de acordo com o art. 65, Lei de Migração, interessados em naturalizar-se devem corresponder às seguintes exigências: Art. 65. (...) I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos; III - comunicar-se em língua portuguesa, conside- radas as condições do naturalizando; e IV - não possuir condenação penal ou estiver reabi- litado, nos termos da lei. Entretanto, os estrangeiros originários de países de língua portuguesa devem ter apenas: - Capacidade civil; - Residência por um ano ininterrupto no Brasil; - Idoneidade moral, para requererem a nacionalidade brasileira. As formas de perda da nacionalidade brasileira encon- tram-se previstas no art.12, § 4º, CF. Assim, perde-se a condição de brasileiro pelas seguintes formas: - Cancelamento da naturalização (perda-punição) e - Naturalização voluntária (perda-mudança). Art. 12. (...) § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interes- se nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma es- trangeira, ao brasileiro residente em estado es- trangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Ocorre cancelamento da naturalização, quando recair sobre o naturalizado sentença penal condenatória tran- sitada em julgado, por ato nocivo ao interesse nacio- nal. Os efeitos do cancelamento da naturalização não retroagem, são ex nunc. A segunda hipótese de perda da nacionalidade brasileira consiste na naturalização voluntária, que compreende o pedido e a aceitação da nacionalidade de outro Estado. Contudo, a aceitação de nacionalidade originária conce- dida por lei estrangeira não importa a perda da naciona- lidade brasileira, pois a aquisição da nacionalidade do outro país não decorre da vontade do indivíduo. Da mesma forma, a imposição de naturalização, por lei estrangeira, a brasileiro residente no exterior, como condição de permanência e de exercício de direitos civis, não lhe retira a nacionalidadebrasileira, por faltar vo- luntariedade. Observação: em princípio, não há distinção entre brasi- leiros natos e naturalizados. As únicas distinções que devem existir estão previstas na Constituição, não po- dendo a lei estabelecer outras (art. 12, § 2º). Os casos previstos na Constituição são: extradição (art. 5º, LI), cargos (art. 12, § 3º), função (art. 89, VII), direito de propriedade (art. 222), e perda da nacionalidade (art. 12, § 4º, I, e art. 75, Lei 13.445/2017). A Lei de Migração admite a reaquisição da nacionalida- de sob os seguintes termos: Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal , houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que decla- rou a perda revogado, na forma definida pelo ór- gão competente do Poder Executivo. 4.3 CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRAN- GEIROS Condição jurídica do estrangeiro é o conjunto de direi- tos que o mesmo goza em determinado país, que não o de sua origem, em certa época. É o estado de estrangei- ro em oposição ao estado de nacional. Assim, inúmeras são as Convenções Internacionais que dispõe sobre a condição jurídica do estrangeiro, mere- cendo destaque: Convenção de Havana, de 1928, que dispõe em seu artigo 1º: “Os Estados têm o direito de fixar, por meio de leis, as condições de entrada e residência dos es- trangeiros nos seus territórios”; Convenção de Haia, de 1930, que dispõe no seu ar- tigo 1º: “Cabe a cada Estado determinar por sua legis- lação quais são os seus nacionais. Essa legislação será aceita por todos os outros Estados, desde que esteja de acordo com as convenções internacionais, o costu- 15 me internacional e os princípios de direito geralmente reconhecidos em matéria de nacionalidade”; Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados, assinada em Montevidéu, em 1933, que acolheu, em seu artigo 9º, o princípio da igualdade entre nacionais e estrangeiros. Nesse sentido, os direitos que, segundo o Direito Inter- nacional, devem ser reconhecidos aos estrangeiros são: os direitos do homem, ou individuais, isto é, a liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa humana, com todas as consequências daí decorrentes, tais como a liberdade de consciência, a de culto, a inviolabilidade do domicílio, o direito de comerciar, o direito de proprie- dade, os direitos civis e de família. O ordenamento jurídico brasileiro garante direito e atribui deveres aos estrangeiros em seu território, por intermédio de vários dispositivos constitucionais e le- gais. Os direitos e deveres individuais e coletivos são assegurados pela Constituição Federal, nos termos do art. 5º: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi- leiros e aos estrangeiros residentes no País a invio- labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualda- de, à segurança e à propriedade, (...) Por meio deste dispositivo, o estrangeiro goza dos mesmos direitos fundamentais que o brasileiro. A Constituição garante ainda que nenhum estrangeiro será extraditado por crime político ou de opinião (art. 5º, LII). Entretanto, a própria Constituição Federal esta- belece algumas restrições à equiparação de direitos definida no seu art. 5º. Assim, nega aos estrangeiros o direito ao voto (art. 14, § 2º) e impõe limitações à aqui- sição ou arrendamento de propriedade rural (art. 190). Consideram-se estrangeiros aqueles que não possuem a nacionalidade brasileira. O tema era regido pelo Estatu- to do Estrangeiro (Lei 6.815/80, com as alterações trazi- das pela Lei 6.964/81, e regulamentada pelo Decreto 86.715/81). Contudo, o Estatuto do Estrangeiro foi substituído pela Lei de Migração (Lei 13.445/17), a qual entrou em vigor 180 dias após a sua publicação. A Convenção Interamericana sobre a condição dos estrangeiros, de 1928, prevê, em seu art. 5º: Os Estados devem conceder aos estrangeiros do- miciliados ou de passagem em seu território todas as garantias individuais que concedem aos seus próprios nacionais e o gozo dos direitos civis es- senciais, sem prejuízo, no que concerne aos es- trangeiros, das prescrições legais relativas à exten- são e modalidades de exercício dos ditos direitos e garantias. Saliente-se, contudo, que nenhum Estado soberano é obrigado a admitir estrangeiros em seu território, seja em definitivo, seja a título provisório. Entretanto, a partir do momento em que se admite o súdito de outro país no âmbito espacial de sua soberania, tem o Estado, perante ele, deveres resultantes do direito internacio- nal. A Lei de Migração, em suas disposições gerais, deu con- siderável destaque aos princípios e garantias dos mi- grantes, novidade em relação ao texto do Estatuto do Estrangeiro. Estabelece que a política migratória brasi- leira é regida pelas diretrizes da universalidade, indivi- sibilidade e interdependência dos direitos humanos, repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quais- quer formas de discriminação, a não criminalização da migração e outras disposições contidas em seu art. 3º, chamando atenção para a posição que o Brasil assumiu desde as ondas migratórias contemporâneas, à exemplo do que ocorre no Haiti. O art. 4º, em seguida, traz a lista de direitos garantidos aos migrantes, dentre os quais podemos citar o direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autori- zação de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização mi- gratória e, em suma, a garantia de suas liberdades civis, sociais, culturais e econômicas. A permissão para que o estrangeiro entre no Brasil se dá pela concessão do visto. Conforme o art. 7º da Lei, con- cede-se o visto por embaixadas, consulados-gerais, consulados, vice-consulados e, quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior. Frisa-se que a permissão de entrada em território na- cional é ato discricionário do Estado, a partir do preen- chimento de determinados requisitos, de modo que o visto “não constitui um direito subjetivo à entrada e ainda menos à permanência no território, mas sim uma expectativa de direito”. O visto de entrada no Brasil poderá ser de temporário, de visita, diplomático, oficial ou de cortesia. A figura do visto permanente desaparece, e surge a denominada autorização de residência. Nos vistos de caráter temporário, deve haver expectati- va de permanência por tempo determinado, quando a finalidade for de pesquisa, ensino ou extensão acadêmi- ca; tratamento de saúde; acolhida humanitária; estudo; trabalho; férias-trabalho; prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural; reunião familiar; atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo deter- 16 minado. Ainda, há previsão para circunstâncias em que o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos, e outras hipóteses definidas em regulamento. Uma distinção importante, se comparada ao Estatuto do Estrangeiro, é que a Lei de Migração concede visto temporário a quem venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino superior ou equivalente. A vedação à atividade laboral, contudo, permanece quanto ao visto de visita. Com relação ao visto de visita, poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta dura- ção, sem intenção de estabelecer residência, nos casos de turismo, negócios, trânsito, atividadesartísticas ou desportivas e outras hipóteses definidas em regulamen- to. Por sua vez, os vistos diplomático, oficial e de cortesia serão concedidos, prorrogados ou dispensados na forma da Lei e de regulamento. Algumas limitações são estabelecidas pela Constituição Federal no que se refere aos direitos dos estrangeiros no Brasil. Dentre elas, destaca-se o fato de que os es- trangeiros não adquirem direitos políticos (art. 14, § 2º). Por outro lado, a Emenda Constitucional 19/98, tornou-lhes acessíveis os cargos, empregos e funções públicas. Diversos países, mediante tratado bilateral ou mero exercício de reciprocidade, dispensam a prévia aposição de um visto nos passaportes de súditos de nações ami- gas. O ingresso de um estrangeiro com passaporte não- visado faz presumir que sua presença no país será tem- porária, mas não pode a dispensa do visto ser interpre- tada como abertura generalizada à imigração. A Constituição Federal concedeu garantias diferencia- das aos portugueses com residência permanente no Brasil, os quais são equiparados aos brasileiros natura- lizados. Observe-se que o art. 12, § 1º, CF, menciona que os portugueses são equiparados a brasileiros natos, contudo a concessão de direitos acompanhada da res- salva “salvo casos previstos nesta Constituição” é ma- neira típica de prever limitações aos direitos de naturali- zados. O Decreto 70.436/72, que promulgou a Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses prevê o direito dos portugueses residen- tes no Brasil em face dessa equiparação. Observe-se, contudo, que os portugueses continuam sendo estran- geiros, apesar de equiparados. 4.4 DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO, EXTRA- DIÇÃO E ASILO Tendo ingressado no território brasileiro, o estrangeiro passa a se submeter às regras de extradição, expulsão e deportação. Na deportação e na expulsão a questão é administrativa. Há doutrinadores que as chamam de “sanções administrativas”. Não há participação do Po- der Judiciário. No entanto, na extradição, há participa- ção do Poder Judiciário, sendo a competência do STF (art. 102, I, “g”, CF), para o exame de sua legalidade. Deportação: ocorre quando não estão presentes os requisitos legais de entrada ou para permanência do estrangeiro no país. É, pela definição legal, “medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional”. Assim, caso o estrangeiro não se retire do país no prazo determinado pelas autoridades – não inferior a 60 dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despa- cho fundamentado e mediante compromisso de a pes- soa manter atualizadas suas informações domiciliares – ocorrerá sua saída compulsória, ou seja, sua deporta- ção. Geralmente ocorre com aqueles estrangeiros que en- traram de forma irregular (clandestinamente) ou cuja estada tenha se tornado irregular por excesso de prazo ou trabalho remunerado, no caso de turistas. No Brasil, a Polícia Federal tem competência para promover a deportação de estrangeiros, quando entenderem que não é o caso de regularizar sua documentação. Ao contrário da expulsão, o estrangeiro deportado poderá retornar ao país, desde que atenda às condi- ções legais para tanto. A deportação se assemelha à expulsão uma vez que não poderá ser promovida em casos em que a extradição não é admitida pela lei bra- sileira. Além disso, ambos são atos discricionários, ou seja, o Estado não é obrigado, mas detém a faculdade de expulsar e deportar o estrangeiro, nos termos da legislação brasileira. A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasilei- ra. Ressalta-se que os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. Outrossim, a saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de deportação para todos os fins. Expulsão: decorre de ato do próprio Estado no qual se encontra o estrangeiro. O expulso não tem destino de- terminado, embora só o Estado patrial do expulso tenha o dever de recebê-lo quando indesejado alhures. No Brasil, a expulsão poderá ocorrer nos casos de crime de 17 genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatu- to de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto 4.388/02; ou crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, conside- radas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. A expulsão pressupõe tramitação de um inquérito pe- rante o Ministério da Justiça, cabendo ao Ministro da Justiça decidir acerca da expulsão, materializando-a por meio de portaria, conforme delegação de competência contida no Decreto 3.447/00. Não há que se falar em análise do mérito do juízo go- vernamental por parte do Judiciário, mas sim de contro- le de legalidade do ato. A expulsão não poderá ocorrer em hipóteses em que a extradição de um estrangeiro é inadmitida pelo direito pátrio. Além disso, não será expulso o estrangeiro casado há mais de cinco anos com brasileiro ou que possui, sob sua guarda e depen- dência econômica, um filho brasileiro. Não é à toa que dispõe a Lei de Migração que a expulsão não se verificará quando: a) a medida configurar extradição inadmitida pela le- gislação brasileira; b) o expulsando: - tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; - tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; - tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, residindo desde então no País; - for pessoa com mais de 70 anos que resida no País há mais de 10 anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão. O art. 22 da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José de Costa Rica), em seu § 8º prevê que Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal este- ja em risco de violação em virtude de sua raça, na- cionalidade, religião, condição social ou de suas o- piniões políticas. Essa regra não consta da CF/88 e nem de leis nacionais. Por outro lado, o §9º proíbe a expulsão coletiva de estrangeiros. Expulsão não é banimento e não é desterro. Banimento também é retirada compulsória do território nacional, mas refere-se a nacionais. Desterro, por sua vez, é o isolamento do nacional dentro do território nacional. Extradição: A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso, consoante o art. 81 da Lei de Migração. O Supremo Tribunal Federal é o órgão competente para decidir originariamente sobre a legalidade do pedido de ex- tradição formulado pelo Poder Executivo do Estado estrangeiro ao Governo Brasileiro. A sua materialização decorre: - da existência de um Tratado; ou - com base no Princípio da Reciprocidade. O tratado de extradição não cria o direito, mas enumera os crimes que dão ensejo a ele. Para que haja extradi- ção é preciso que o crime cometido esteja tipificado no ordenamento jurídico brasileiro, ainda que com outro nome. A extradição pressupõe sempre: - a existência de dois Estados soberanos; - a similitude do tipo penal; - a existência de processo penal, em andamento ou findo, no país de origem; - a existência de crime comum (crimes de opinião ou políticos não ensejam a extradição). - ter sido o crime cometido no território do Estado re- querente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais
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