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Aspectos Constitucionais do Direito Notarial e Registral 02 1. A Atividade Notarial e Registral 4 Conceito de Direito Notarial e Registral 6 Conceito de Direito Notarial 7 Função Notarial 8 Conceito de Direito Registral 9 Função Registral 9 Fé Pública 9 2. Princípios Constitucionais 13 Princípio da Legalidade 14 Princípio da Impessoalidade 14 Princípio da Publicidade 16 Princípio da Moralidade Administrativa 17 Princípio da Eficiência 17 3. Princípios da Atividade Notarial 20 Fé Pública Notarial 21 Forma 21 Autenticação 22 4. Princípios da Atividade Registral 24 Princípio de Inscrição. 24 Princípio da Publicidade Registral 24 Princípio da Presunção e Fé Pública Registral 25 Princípio da Prioridade 25 Princípio da Especialidade ou Determinação 26 Princípio da Qualificação, da Legalidade ou da Legitimidade 26 Princípio da Continuidade 27 Princípio da Instância ou Rogação 27 5. Referências Bibliográficas 31 03 4 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 1. A Atividade Notarial e Registral Fonte: Gen Jurídico1 partir da necessidade de medi- ação nos relacionamentos soci- ais primitivos, surgiu a atividade no- tarial constituindo-se em uma das mais remotas atividades jurídicas já desempenhadas pelo ser humano. A crer em registros deixados pelas ci- vilizações longínquas, a referida ati- vidade já era tradição na Roma anti- ga, onde se dava de modo muito pe- culiar. Naquela época e lugar, o notá- rio (ou notarius, como era chamado) era responsável pela realização de transcrições e registros de julga- 1 Retirado em http://genjuridico.com.br/2015/01/21/natureza-da-atividade-notarial-breve-reflexoes-em- face-da-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-justica/ mentos e de procedimentos judici- ais. Ao lado desses, havia o tabelio- ne, profissional que, conforme en- tendimento do professor Mário Ra- poso, mais se aproximava do notário dos dias de hoje, na medida em que era responsável pela formalização da vontade das partes através de mi- nutas, as quais eram redigidas sobre tábuas, com assinatura das partes, testemunhas e tabeliones. Ambas as funções (de notário e de tabelião), resistiram ao efeito do tempo, rece- bendo, contudo, diferentes contor- nos A 5 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL A Constituição Federal de 1988, em seu art. 236, atribuiu trata- mento igualitário aos serviços nota- riais e de registros, dispondo: "Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público". No âmbito Constitucional, é competência privativa da União le- gislar sobre registros públicos, con- forme art. 22, XXV, sendo, desta for- ma, a Lei Federal n. 8.935/94 regu- lamentadora do artigo 236 da Cons- tituição que dispõe sobre os serviços notariais e de registro. Os notários e registradores são considerados pela doutrina como agentes públicos. Conforme diz Ma- ria Sylvia Zanella di Pietro é "toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Ad- ministração Indireta". A expressão “agente público” é mais ampla (que servidor público) e designa genérica e indistintamente os sujeitos que servem ao poder público, necessi- tando para sua caracterização o re- quisito objetivo, revestido pela natu- reza estatal da atividade desempe- nhada e o requisito subjetivo, a in- vestidura na atividade estatal, não podendo, desta forma, os notários e registradores serem enquadrados como servidores públicos. Segundo Celso Antônio Ban- deira de Mello, os notários e regis- tradores são particulares em colabo- ração com a Administração através de delegação de função ou ofício pú- blico. Para Hely Lopes Meirelles são agentes delegados conceituados co- mo, particulares que recebem a in- cumbência da execução de determi- nada atividade, obra ou serviço pú- blico e o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas do Estado e sob a perma- nente fiscalização do delegante. Es- ses agentes não são servidores públi- cos, nem honoríficos, nem represen- tantes do Estado; todavia, consti- tuem uma categoria à parte de cola- boradores do Poder Público. Segundo diversos doutrinado- res, notários e registradores não in- tegrariam o aparelho estatal. Essa entende corrente que a intenção do constituinte de 1988, ao disciplinar que “os serviços notariais e de regis- tro são exercidos em caráter priva- do, por delegação do Poder Públi- co...”, foi a de transportar os notá- rios da esfera do direito público para a do direito privado. Nessa categoria encontram-se os concessionários e permissioná- rios de obras e serviços públicos, os serventuários de ofícios não estati- zados, os leiloeiros, os tradutores e intérpretes públicos, as demais pes- soas que recebem delegação para a prática de alguma atividade estatal ou serviço de interesse coletivo. 6 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL A remuneração dos notários e registradores não é feita diretamen- te pelo Estado, e sim pelos particula- res usuários do serviço, através do pagamento de emolumentos e cus- tas, que são fixados por cada Estado. A lei federal estabelece normas ge- rais para fixação de emolumentos, sendo complementada pela compe- tência concorrente dos Estados. O caráter privado do serviço notarial e de registro não retira a obrigatoriedade de ingresso na ativi- dade por concurso público de provas e títulos, tanto para provimento ou remoção, conforme preceitua o § 3°, do art. 236, da Constituição Federal. Assim os notários possuem ampla relação com o Estado, na medida em que seu ingresso se dá mediante concurso público e sua atividade é regulada pelo Poder Judiciário. A delegação possui caráter personalíssimo, podendo somente o Delegado transferir aos seus prepos- tos, poderes para a prática dos atos notariais, não podendo ocorrer a fi- gura da cessão da Delegação. Entre- tanto, é permitido ao titular da ser- ventia, contratar, sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho, seu substituto e demais prepostos para, sob sua total responsabilidade, agir em nome do titular na prestação dos seus respectivos serviços notari- ais e de registro. Silveira afirma que, “O Estado atribui poderes ao particular que, por sua vez, exercita esses serviços públicos em colaboração com o pró- prio Estado. A delegação da compe- tência dos serviços de registro ba- seia-se no princípio da descentrali- zação, pois é forma de descongestio- namento da Administração. O prin- cípio da descentralização visa asse- gurar maior rapidez e objetividade às decisões, situando-as na proximi- dade dos fatos, pessoas ou proble- mas a atender” A fiscalização do Delegante, ou seja, do Estado, é exercida através do Judiciário, conforme determina o §1°, do art. 236, da CF/88, mas con- forme preleciona Walter Ceneviva "em cada Estado a delegação é ou- torgada pelo Poder Executivo local, na forma da lei estadual, reservada, em qualquer caso, a fiscalização à magistratura do respectivo Estado ou do Distrito Federal" Conceito de Direito Nota- rial e Registral Direito registral consiste no conjunto de normas complexas que regem o registro de imóveis. A fun- ção registral tem como finalidade constituir o Direito real sobre pro- priedade imóvel através da inscrição do seu respectivo título, possibili- 7 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL tando assim a segurança nas rela- ções jurídicas. A função registral da publicidade é “erga omnes” ou em outras palavras, para todos indistin- tamente, até prova em contrário. Segundo Nicolau Balbino Fi- lho, o ideal é que "o Registro seja uma fiel reproduçãoda realidade dos direitos imobiliários. A vida ma- terial dos direitos reais, bem como a sua vida tabular, deveria se desen- volver paralelamente, como se a se- gunda fosse espelho da primeira. Com efeito, esta é uma ambição difí- cil de se concretizar, mas em se tra- tando de um ideal, nada é impossí- vel; basta perseverar" Conceito de Direito Notarial O direito notarial pode ser conceituado conforme Larraud co- mo o "conjunto sistemático de nor- mas que estabelecem o regime jurí- dico do notariado". Para Néri "o di- reito notarial pode definir-se como o conjunto de normas positivas e ge- néricas que governam e disciplinam as declarações humanas formuladas sob o signo da autenticidade públi- ca". Leonardo Brandelli define o di- reito notarial como o "aglomerado de normas jurídicas destinadas a re- gular a função notarial e o notari- ado" O Direito notarial tem por ob- jeto o conjunto de regras jurídicas que regem o sistema notarial. Tais regras visam atender a princípios e feitos jurídicos como o da eficácia, publicidade, autenticidade e segu- rança de modo preventivo, com o objetivo de evitar o excesso de de- mandas judiciais, que visam justa- mente buscar o restabelecimento da ordem jurídica entre as partes. O Tabelião deve orientar as partes de acordo com o caso concre- to a tomar as medidas jurídicas pre- ventivas mais adequadas aquela si- tuação e assim salvaguardar os Di- reitos e deveres de ambos. Essa atri- buição se dá por delegação do Poder Público a particulares para que exer- çam a função notarial. Sendo assim, embora seja um serviço prestado por particular, a atividade notarial tem natureza de função pública. A atividade notarial não pode ser exercida de ofício, ou seja, o no- tário deve ser provocado pelas par- tes para exercer tal função. O serviço notarial serve como forma de docu- mentar atos jurídicos, e assim cons- tituir provas, sendo esse o objetivo preponderante das atividades nota- riais. Uma vez que os particulares levam ao notário elementos particu- lares referentes a um ato, caberá ao mesmo investigar todos esses ele- mentos para emitir o seu parecer ju- rídico sobre a possibilidade da sua concretização ou não, e em caso po- 8 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL sitivo deverá buscar o sistema jurí- dico mais compatível, bem como, a guarda de documentos e assim dar ao ato toda a segurança jurídica que ele merece. Função Notarial O trabalho do notário busca garantir a publicidade, autenticida- de, segurança e eficácia dos atos ju- rídicos preventivamente, desobstru- indo o Judiciário do acúmulo de processos instaurados no intuito de restabelecer a Ordem Jurídica do país, e atuando como instrumento de pacificação social. A atividade notarial apresenta seu caráter jurídico quando o Tabe- lião orienta as partes e concretiza a sua vontade na formulação do ins- trumento jurídico adequado à situa- ção jurídica apresentada. Através da orientação prévia, nota-se o caráter cautelar da atividade. Leonardo Brandelli afirma que "o caráter de imparcialidade do agente notarial tem sido posto a co- berto pelo legislador mediante um regime de incompatibilidades e ini- bições, bem como a obrigação de se- gredo profissional e um sistema de responsabilidades civil, administra- tiva e criminal, tudo a fim de mantê- lo intacto e sempre presente". Ape- sar de ser exercida em caráter priva- do, a atividade notarial exerce uma função pública, de garantia da segu- rança jurídica dos atos praticados pelos Tabeliães. O preenchimento dos requisi- tos formais do ato praticado é essen- cial à sua validade jurídica, demons- trando o seu caráter técnico. O notá- rio precisa da provocação da parte interessada para agir, tendo em vista o caráter rogatório da função nota- rial, não podendo exercer o seu mis- ter por iniciativa própria. "O notário exara pareceres ju- rídicos a seus clientes, esclarecendo- os sobre a possibilidade jurídica de realizar-se determinado ato, sobre a forma jurídica adequada, bem como sobre as consequências que serão engendradas pelo ato." Segundo Leonardo Brandelli, a aplicação do seu mister de acordo com os ditames do Direito, e o zelo pela autonomia da vontade. Quanto ao primeiro aspecto, revela o dever do notário de desempenhar sua fun- ção em consonância com o ordena- mento jurídico; deve receber a von- tade das partes e moldá-la de acordo com o Direito, dentro de formas ju- rídicas lícitas. O outro aspecto contempla a obrigação do tabelião de velar pela autonomia da vontade daqueles que o procuram; deve ele assegurar às partes, dentro do possível, uma situ- ação de igualdade, bem como asse- gurar a livre emissão da vontade, 9 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL despida de qualquer vício, recusan- do-se a desempenhar sua função ca- so apure estar tal vontade eivada por algum vício que a afete. Os atos notariais são revesti- dos de forma (forma ad probatio- nem) que documenta a realização do ato jurídico, com a finalidade pri- mordial de constituição de prova. Representam tarefas do notário a in- vestigação dos elementos levados pelos particulares para realização de um ato, o seu parecer jurídico acerca de sua concretização, a instrumenta- lização da vontade das partes, bus- cando os meios mais adequados e condizentes com o sistema jurídico- normativo e a guarda de documen- tos, com a intenção de revestir o ato de maior segurança jurídica. Conceito de Direito Registral De acordo com Maria Helena Diniz, o direito registral imobiliário "consiste num complexo de normas jurídico-positivas e de princípios ati- nentes ao registro de imóveis que re- gulam a organização e o funciona- mento das serventias imobiliárias". O Direito Registral e Notarial é o ramo do Direito Público que tem como regramento básico o artigo 236 da Constituição Federal e as Leis 8.935/94 e 6.015/73. Os servi- ços concernentes aos Registros Pú- blicos têm a finalidade de dar publi- cidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos. Função Registral A função registral tem por ob- jetivo constituir ou declarar o direito real, através da inscrição do título respectivo, dotando as relações jurí- dicas de segurança, dando publici- dade registral erga omnes (ou seja, a todos indistintamente), até prova em contrário. A relação de títulos passíveis de registro está enumerada no Códi- go Civil, essa enumeração é taxativa, não podendo se acrescentar ou reti- rar situações de constituição de di- reitos reais. Veremos cada caso, nos capítulos seguintes. Nicolau Balbino Filho, ao ana- lisar a função registral nos ensina ser uma pretensão constante que "o Registro seja uma fiel reprodução da realidade dos direitos imobiliários. A vida material dos direitos reais, bem como a sua vida tabular, deve- ria se desenvolver paralelamente, como se a segunda fosse espelho da primeira. Com efeito, esta é uma ambição difícil de se concretizar, mas em se tratando de um ideal, na- da é impossível; basta perseverar". Fé Pública O Estado, no desenvolvimento de sua atividade pluralista, como re- 10 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL presentante dogmático do povo, atribui constitucionalmente à deter- minadas pessoas, o direito de repre- sentação para determinadas tarefas, e eles contribuem para a paz social que todo o Estado de Direito Demo- crático procura. Entre esses indiví- duos estão inseridos os notários, os serventuários da justiça, o escrivão, entre outros. A fé pública atribuída aos no- tários se dá em decorrência de um mandamento legal, em cumprimen- to de algumas e sérias formalidades, bem como de especificidades natu- rais que regram oacolhimento do indivíduo como representante for- mal desse Estado para determinado labor, assim como o Estado recebeu de seu povo, mas restrita a garantir e certificar uma segurança nas rela- ções sociais (atos jurídicos), que to- dos desejam como princípio de jus- teza e certeza daquilo quanto ao efe- tivamente ajustado, escriturado e trasladado. A Fé pública é um termo jurí- dico que denota um crédito que deve ser dado, em virtude de lei expressa, aos documentos e certidões emiti- dos por alguns servidores públicos ou pessoas com delegação do poder público no exercício de suas funções, reconhecendo-os como fidedignos. Possuem fé pública, por exem- plo, escrivães e servidores da Justi- ça, escrivães de polícia, oficiais de justiça, oficiais de registro civil, ta- beliães, oficiais de registro de imó- veis, funcionários públicos federais, entre outros. A fé pública é atribuída constitucionalmente ao Notário e Registrador, que atuam como repre- sentantes do Estado na sua atividade profissional. A fé pública é atribuída consti- tucionalmente ao Notário e Regis- trador, que atuam como represen- tantes do Estado na sua atividade profissional. A fé pública é atribuída por lei e "afirma a certeza e a verda- de dos assentamentos que o notário e oficial de registro pratiquem e das certidões que expeçam nessa condi- ção, com as qualidades referidas no art. 1°" da Lei n. 8.935/94 (publici- dade, autenticidade, segurança e efi- cácia dos atos jurídicos). Como um dos princípios basilares do direito notarial, a fé pública será analisada posteriormente, com mais proprie- dade. A fé pública individualizada na figura do notário é uma das mais amplas já conhecidas, pois ao deten- tor dessa atribuição, cabe a expres- são da verdade, ou seja, vige a crença popular de ser correto e autêntico em tudo aquilo que dita e escreve, salvo incontestável prova em contrá- rio, já que a sociedade não pode ser traída em nenhuma hipótese. Não 11 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL há eleição de absolutismo nas suas ações. Permanece adstrito às inves- tigações sociais, admite-se a possibi- lidade de erros ou lapsos. Contudo, a crença nesses atos do notário consti- tui-se no primeiro grau de hierar- quia do saber e do conhecer social. Assim, ele é depositário da fé pública 13 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 2. Princípios Constitucionais Fonte: Gen Jurídico2 s princípios administrativos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiên- cia, dispostos no art. 37 da Consti- tuição Federal, serão aplicados no exercício da atividade notarial e re- gistral, pois que esta constitui uma função pública, realizada através dos notários e registradores, agentes públicos que atuam em colaboração com o poder público através de dele- gação. Mesmo posicionamento é compartilhado pelo notário mineiro João Teodoro da Silva, notadamente 2 Retirado em http://genjuridico.com.br/ com referência à atividade notarial e de registro entende que: O exercício em caráter privado significa funda- mentalmente autonomia funcional. A autonomia, entretanto, é de ser entendida nos limites da obediência aos princípios constitucionais da le- galidade, da impessoalidade, da mo- ralidade e da publicidade, do que re- sulta estarem os atos sujeitos à fisca- lização do Poder Judiciário. Diante do caráter público da função notarial, de ser o notário e o registrador agentes públicos em co- laboração com a Administração me- O 14 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL diante delegação, e diante da auto- nomia funcional, ditada pelo exercí- cio em caráter privado da função, fi- cam os mesmos adstritos à obediên- cia aos princípios basilares da admi- nistração pública. Princípio da Legalidade O princípio da legalidade, se- gundo Celso Antônio Bandeira de Mello, é o princípio basilar do regi- me jurídico-administrativo. É o fru- to da submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da ideia de que a Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na expedição de comandos complementares à lei. Hely Lopes Meirelles ao abor- dar o tema lembra que, a eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. As leis administrativas são, normal- mente, de ordem pública e seus pre- ceitos não podem ser descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus aplicadores e desti- natários, uma vez que contêm verda- deiros poderes-deveres, irrelegáveis pelos agentes públicos. Por outras palavras, a natureza da função pú- blica e a finalidade do Estado impe- dem que seus agentes deixem de exercitar os poderes e de cumprir os deveres que a lei lhes impõem. Os notários e registradores no exercício da função pública, devem se submeter ao princípio da legalida- de, só podendo praticar os atos de seu ofício permitidos por lei. Mesmo sendo a função pública exercida em caráter privado, este não tem o con- dão de submeter a atividade ao prin- cípio da autonomia da vontade, que prevalece nas relações privadas. Sendo a função pública delegada pe- lo Estado ao particular, devem pre- valecer os princípios norteadores da Administração Pública. Segundo Rogério Medeiros Garcia de Lima, no que diz respeito a notários e registradores, o art. 3° da Lei 8.935/94 os qualifica como profissionais do direito. Logo, têm o dever de conhecer os princípios e normas atinentes aos seus ofícios. As suas competências são taxativa- mente definidas em lei (art. 6°/13). Outrossim, o art. 31, I, considera in- fração sujeita a sanção disciplinar, a inobservância das prescrições legais e normativas. Princípio da Impessoalidade O princípio da impessoalidade elencado no art. 37 da Constituição de 1988, tem recebido diversas in- terpretações. Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro: 15 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL Exigir impessoalidade da Ad- ministração tanto pode significar que esse atributo deve ser observado em relação aos administrados como à própria Administração. No primei- ro sentido, o princípio estaria relaci- onado com a finalidade pública que deve nortear toda a atividade admi- nistrativa. Significa que a Adminis- tração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas de- terminadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nor- tear o seu comportamento. No se- gundo sentido, o princípio significa, segundo José Afonso da Silva base- ado na lição de Gordillo que os atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a vontade estatal." Exemplo disso está no art. 37, § 1°, da Constituição Federal, verbis: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos ór- gãos públicos deverá ter caráter edu- cativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar no- mes, símbolos ou imagens que ca- racterizem promoção pessoal de au- toridade ou servidores públicos. Para Celso Antônio Bandeira de Mello o princípio da impessoali- dade não é senão o princípio da igualdade ou isonomia. Conforme Hely Lopes Meirel- les: O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador públi- co que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamenteaquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como ob- jetivo do ato, de forma impessoal. Esse princípio também deve ser en- tendido para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações ad- ministrativas (CF, art. 37, § 1°). E a finalidade terá sempre um objetivo certo e inafastável de qualquer ato administrativo; o interesse público. Todo ato que se apartar desse objeti- vo sujeitar-se-á a invalidação por desvio de finalidade. Na função notarial e registral os atos praticados devem ser de mo- do impessoal, no sentido de não pri- vilegiar e não prejudicar qualquer pessoa que venha utilizar esses ser- viços. Neste sentido o tratamento dado às pessoas usuárias do serviço é isonômico, sendo que se praticado em desconformidade com o princí- 16 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL pio da impessoalidade, o notário ou registrador estará sujeito às sanções administrativas impostas pela Cor- regedoria de Justiça, órgão que fis- caliza os serviços. Para Rogério Medeiros Garcia de Lima "no que importa aos servi- ços notariais e registrais, o art. 30, II, da Lei n°. 8.935/94, impõe o de- ver de tratar a todos, indistinta- mente, com urbanidade e presteza.". Princípio da Publicidade O princípio da publicidade exi- ge a ampla divulgação dos atos pra- ticados pela Administração Pública. Na esfera administrativa o sigilo só se admite a teor do art. 5°, XXXIII quando imprescindível à segurança da Sociedade e do Estado. De acordo com o inciso XXXIII, do art. 5°, da Constituição "todos têm direito a receber dos ór- gãos públicos informações de seu in- teresse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta- das no prazo da lei, sob pena de res- ponsabilidade, ressalvadas àquelas cujo sigilo seja imprescindível à se- gurança da sociedade e do Estado". Para Hely Lopes Meirelles, Pu- blicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e iní- cio de seus efeitos externos. Daí por que as leis, atos e contratos adminis- trativos que produzem consequên- cias jurídicas fora dos órgãos que os emitem exigem publicidade para ad- quirirem validade universal, isto é, perante as partes e terceiros. A publicidade, como princípio de administração pública abrange toda atuação estatal, não só pelo as- pecto de divulgação oficial de seus atos como, também, de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus agentes. Conforme Walter Ceneviva "os registros públicos previstos pela Lei n°. 6.015/73 dão publicidade aos atos que lhe são submetidos." Para o fornecimento de certi- dões o oficial poderá cobrar emolu- mentos, que representam a sua re- muneração, e poderá recusar o seu fornecimento se não houver clareza do objeto solicitado. Conforme o caput do art. 19 da Lei n°. 6.015/73, verbis: "A certidão será lavrada em inteiro teor, em re- sumo, ou em relatório, conforme quesitos, e devidamente autenticada pelo oficial ou seus substitutos le- gais, não podendo ser retardada por mais de 5 (cinco) dias." O prazo para a emissão das certidões que menciona o artigo su- pracitado é de 5 (cinco) dias úteis, sendo que Walter Ceneviva já alerta sobre a imperfeição da redação le- gislativa. 17 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL O art. 20, do mesmo diploma legal, estabelece que em caso de re- cusa ou retardamento na expedição da certidão, o interessado poderá re- clamar à autoridade competente, in casu, à Corregedoria de Justiça, que aplicará, se for o caso, a pena disci- plinar cabível. Ainda, conforme Walter Cene- viva "a publicidade legal própria da escritura notarial registrada é, em regra, passiva, estando aberta aos interessados em conhecê-la, mas obrigatória para todos, ante a oponi- bilidade afirmada em lei." Para Rogério Medeiros Garcia de Lima "no campo das atividades de notários e registradores, a publi- cidade é a razão da sua existência, conforme dispõe o art. 1° da Lei 8.935/94. A fé pública, definida pelo art. 3°, é - como observou um diri- gente da associação paulista da cate- goria - o seu "produto". Princípio da Moralidade Admi- nistrativa Para Celso Antônio Bandeira de Mello, de acordo com o princípio da moralidade administrativa: A Ad- ministração e seus agentes têm de atuar na conformidade de princípios éticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito, configurando ili- citude que assujeita a conduta vicia- da a invalidação, porquanto tal prin- cípio assumiu foros de pauta jurídi- ca, na conformidade do art. 37 da Constituição. Compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os cha- mados princípios da lealdade e boa- fé. Hely Lopes Meirelles prelecio- na que a moralidade administrativa se tornou, juntamente com o princí- pio da legalidade e da finalidade, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública. Ele, con- forme os ensinamentos de Hauriou, a moral comum da moral adminis- trativa, sendo esta "imposta ao agen- te público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum." O art. 30 da lei 8.935/94 esta- belece os deveres éticos atribuídos aos notários e registradores. Princípio da Eficiência O princípio da eficiência foi in- serido como princípio da Adminis- tração Pública, no art. 37, da Consti- tuição Federal através da Emenda Constitucional n°. 19, de 04. 06. 1998, que tratou da reforma admi- nistrativa. Para Hely Lopes Meirelles: Dever de eficiência é o que se impõe a todo o agente público de realizar 18 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL suas atribuições com presteza, per- feição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se con- tenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e sa- tisfatório atendimento das necessi- dades da comunidade e de seus membros. Os serviços notariais e de re- gistro subordinam-se aos princípios da Administração Pública, dentre eles, o da eficiência. Walter Ceneviva buscou na economia os preceitos do taylorismo para o alcance do princí- pio da eficiência. Walter Ceneviva trata dos princípios do taylorismo relacionan- do-os com os serviços notariais e destaca os seguintes: Princípio do método: Em cada serventia, apesar da semelhança de muitas das atividades que lhe são atribuídas, cabe ao titular o estudo sistemático de cada um dos segmen- tos destinados ao cumprimento de suas finalidades legais. O estudo tem o escopo de obter deles o melhor rendimento, de modo a satisfazer os requisitos de eficácia e de adequação de cada um de tais segmentos, esta- belecendo normas de trabalho váli- das para todos os escreventes e auxi- liares. Princípio da técnica: Embora haja na atividade de cada escrevente ou auxiliar, um elemento intelectual de avaliação do ato a ser praticado, o bom andamento do trabalho, no no- tariado e no registro, decorre da cri- ação de treinamentos e rotinas, ex- plicitados em instruções claras, atra- vés dos quais cada setor saiba preci- samente o que deve fazer, quando fazer e como fazer, de modo a habi- litar, mesmo os menos dotados, à re- alização segura e pronta da tarefa que lhes competir. A especialização é necessária nos serviços notariais e de registro. Princípio da definição das tare- fas: Cada escrevente e cada auxiliar deve saber o trabalho que lhe é atri- buído, ainda que compreenda mais de uma atividade específica, de mo- do a facilitar a execução, com maior qualidade e em menor tempo. 20 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 3. Princípios da AtividadeNotarial Fonte: Concurso de Cartório3 s princípios são pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do Direi- to e dos seus ramos, como por exem- plo, a base em que está calcado o Di- reito Notarial. Princípio, derivado do latim principium (origem, começo), em sentido vulgar quer exprimir o co- meço de vida ou o primeiro instante em que as pessoas ou as coisas co- meçam a existir. É, amplamente in- 3 Retirado em http://www.concursodecartorio.com.br/ dicativo do começo ou da origem de qualquer coisa. Princípios, notadamente no plural, segundo Plácido e Silva, são “as normas elementares ou os requi- sitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. Revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação ju- rídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurí- dica. Desse modo, exprimem senti- O 21 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL do mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica. Mostram- se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas”. Nem sempre os princípios se inscrevem nas leis, mas porque ser- vem de base ao Direito, são tidos co- mo preceitos fundamentais para a sua prática e proteção aos direitos. Fé Pública Notarial Percebe-se na fé pública três categorias distintas, a fé pública ad- ministrativa, que tem por função certificar atos da administração pú- blica; a fé pública judicial, envol- vendo procedimentos judiciais, na área puramente litigiosa; e a fé pú- blica notarial, inerente à função dos notários. A fé pública notarial, "corres- ponde à especial confiança atribuída por lei ao que o delegado declare ou faça, no exercício da função, com presunção de verdade; afirma a efi- cácia de negócio jurídico ajustado com base no declarado ou praticado pelo registrador e pelo notário". A lei atribui aos Notários e Re- gistradores a fé pública, mas por ou- tro lado impõe um regime severo de responsabilidades civis, administra- tivas e criminais, apurados medi- ante fiscalização do Judiciário. A fé pública é inerente à função notarial, dela sendo indissociável. A fé pública além de exigir pes- soa autorizada a praticar a função notarial, requer o atendimento aos requisitos formais exigidos em cada ato notarial, para que seja assegu- rada. O serviço prestado pelos notá- rios, tendo a finalidade de segurança jurídica de seus atos, se perfaz atra- vés de sua fé pública, como forma de dar eficácia à vontade das partes, que buscam uma maneira mais ágil e eficaz de justiça, de forma a preve- nir a instauração de um processo ju- dicial, para garantir a tutela de seus direitos subjetivos. Forma A forma pública dos atos nota- riais são essenciais a sua formaliza- ção, estando revestida de juridici- dade, ou seja, adequada às normas de direito. Para Walter Ceneviva os atos notariais devem ser praticados por profissionais habilitados, em li- vros próprios, sempre de modo a preservar a intenção e a verdade da manifestação neles contida. A inobservância do requisito formal dos atos notariais pode gerar a nulidade, em casos como a lavra- tura de testamento público, do pacto antenupcial, e a anulabilidade con- forme o caso. 22 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL Autenticação O princípio da autenticação para Walter Ceneviva "significa a confirmação, pela autoridade da qual o notário é investido, da exis- tência e das circunstâncias que ca- racterizam o fato, enquanto aconte- cimento juridicamente relevante". Comentando a doutrina de Néri, Kollet aplica à autenticação a ideia de certeza da existência de um fato ou ato jurídico, atestado pelo notário em instrumento solene. Como princípios gerais ou ca- racterísticos: Imediação - "relação de proxi- midade entre as diferentes partes que intervém na função notarial", primeiramente há uma relação entre o notário e os interessados em lavrar o do- cumento público e entre o no- tário e o documento público; Rogação - com a atuação do notário através do requeri- mento das partes; Unidade do ato - o documento público deverá apresentar uni- dade formal e substancial; Protocolo - tem o escopo de ar- mazenar os documentos ne- cessários à produção do docu- mento público e "estampar as primeiras e originais manifes- tações de vontade". Além dos princípios acima ci- tados, conforme Néri, Luiz Egon Richter acrescenta o princípio da in- dependência funcional, representa- do principalmente pelo exercício em caráter privado da função notarial, isto é: gerenciamento administrati- vo e financeiro dos serviços notariais e de registro sob responsabilidade exclusiva do titular, inclusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal (art. 21); ine- xigência de autorização para a prá- tica dos atos necessários à organiza- ção e execução dos serviços (art. 41); independência no exercício de suas atribuições, com direito à percepção dos emolumentos integrais pelos atos praticados na serventia e garan- tia de permanência da delegação (art. 28). 23 24 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 4. Princípios da Atividade Registral Fonte: CMO Assessores4 Princípio de Inscrição. onforme os ensinamentos de Afrânio de Carvalho: O princí- pio de inscrição significa que a cons- tituição, transmissão, modificação ou extinção dos direitos reais sobre imóveis só se operam entre vivos, mediante sua inscrição no registro. Ainda que uma transmissão ou one- ração de imóveis haja sido estipula- da negocialmente entre particulares, na verdade só se consumará para produzir o deslocamento da propri- edade ou de direito real do transfe- rente ao adquirente pela inscrição. 4 Retirado em http://www.cmoasesores.com/ Princípio da Publicidade Re- gistral Agustín Washington Rodri- guez define a publicidade imobiliá- ria como "o meio pelo qual se leva ao conhecimento do público o estado jurídico dos bens imóveis." Portan- to, a todos os atos submetidos a Re- gistro Público está assegurada a sua publicidade. Conforme Walter Ceneviva, verbis: A publicidade registraria se destina ao cumprimento de tríplice função: Transmite ao conhecimento de terceiros interessados ou C 25 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL não interessados a informação do direito correspondente ao conteúdo do registro; Sacrifica parcialmente a priva- cidade e a intimidade das pes- soas, informando sobre bens e direitos seus ou que lhes sejam referentes, a benefício das ga- rantias advindas do registro; Serve para fins estatísticos, de interesse nacional ou de fisca- lização pública. Princípio da Presunção e Fé Pública Registral O sistema registrário brasilei- ro adota a presunção relativa quanto à fé pública registral, que encontra fundamento no art. 1231, do Código Civil, verbis: "Art. 1231. A proprieda- de se presume plena e exclusiva, até prova em contrário". Desta forma, "a fé pública re- gistral se estende a todas as relações jurídicas passíveis ao registro, res- pondendo positivamente à existên- cia dos direitos reais ali estabeleci- dos, ou negativamente, se houver di- reitos reais inscritos que proíbam a disponibilidade". Para Luiz Antônio Galiani, "não basta ter o direito real adquiri- do por um título transcrito no regis- tro de imóveis competente, é preciso que este se origine de título hábil, elaborado por órgão competente. Aos notários cabe, pois, a tarefa de instrumentalizar os acordos de von- tade entre as partes,que requer for- ma especial, e, aos registradores, compete dar a força probante da va- lidade e legalidade da relação jurídi- ca, garantindo que, por título válido, o direito real pertence a pessoa em nome de quem está transcrito". Portanto, presume-se que tu- do o que estiver inscrito no Registro de Imóveis tem presunção de veraci- dade, até prova em contrário. Atra- vés desse princípio é que se encontra segurança jurídica para a realização do negócio aquisitivo imobiliário. Princípio da Prioridade De acordo com o art. 182 da Lei n°. 6015/73 (LRP): "Todos os tí- tulos tomarão no protocolo o núme- ro de ordem que lhes competir em razão da sequência rigorosa de sua apresentação". Com base nesse princípio é que o Registrador deve observar de forma rigorosa a ordem cronológica de apresentação dos títulos, pois o número do protocolo é que determi- nará a prioridade do título e a prefe- rência do direito real. Havendo títulos com direitos reais contraditórios, será registrado o que primeiro for apresentado, ocorrendo a preferência excludente, pois o segundo título será recusado por ser incompatível com o primei- 26 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL ro. Se, porém, os títulos forem com- patíveis e de mesma natureza ou de natureza diversa, apresentará supe- rioridade o que tiver sido registrado em primeiro lugar. Princípio da Especialidade ou Determinação Pelo princípio da especialida- de ou determinação significa que o imóvel deverá estar precisamente descrito e caracterizado, conforme preceitua o art. 176, § 1°, da Lei n°. 6.015/73, devendo ter cada imóvel matrícula própria, está o número de ordem, a data, a identificação do imóvel, que será feita com indicação; se rural, do código do imóvel, dos dados constantes do CCIR, da deno- minação e de suas características, confrontações, localização e área; se urbano, de suas características e confrontações, localização, área, lo- gradouro, número e de sua designa- ção cadastral, se houver. Além da descrição do imóvel, o nome, domicílio e nacionalidade do proprietário, e em se tratando de pessoa física, o estado civil, a profis- são, o número de inscrição no Ca- dastro de Pessoas Físicas do Minis- tério da Fazenda ou do Registro Ge- ral da cédula de identidade, ou, à fal- ta deste, sua filiação; em se tratando de pessoa jurídica, a sede social e o número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes do Ministé- rio da Fazenda. Desta forma, há uma precisão da descrição do bem objeto do di- reito real registrável, dando maior segurança jurídica para o sistema re- gistrário que adota o do fólio real, ou seja, que pressupõe o ordenamento por imóveis, quer seja dos títulos ou dos direitos reais que sobre eles re- caem. Princípio da Qualificação, da Legalidade ou da Legitimida- de Pelo princípio da qualificação, legalidade ou legitimidade, o Regis- trador deverá examinar o título apresentado e fazer uma apreciação quanto à forma, validade e confor- midade com a lei. Conforme Luiz Antônio Galia- ni, ao receber o título para registro, antes mesmo de examiná-lo sob a luz dos princípios da disponibilida- de, especialidade e continuidade, mister que o analise, primeiramen- te, sob o aspecto legal, e isto deverá ser feito tomando-se em canta: Se o imóvel objeto da relação jurídica que lhe é apresentado está situado em sua circunscri- ção imobiliária; Se o título que lhe é apresen- tado se reveste das formalida- des legais exigidas por lei; 27 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL Se os impostos devidos foram recolhidos; Se as partes constantes do tí- tulo estão devidamente quali- ficadas e representadas quan- do necessário, como no caso de pessoa jurídica ou dos rela- tivamente ou absolutamente incapazes. Na verificação da legalidade dos títulos que lhe são apresentados, não poderá o Oficial ir além dos li- mites estabelecidos em lei, em razão da função pública que exerce. Deve- rá analisar somente os aspectos for- mais do título. Princípio da Continuidade O princípio da continuidade é um dos alicerces do direito registral imobiliário, e está consubstanciado no art. 195, da Lei n°. 6015/73 (LRP): "Art. 195. Se o imóvel não es- tiver matriculado ou registrado em nome do outorgante, o oficial exigirá a prévia matrícula e o registro do tí- tulo anterior, qualquer que seja a sua natureza, para manter a conti- nuidade do registro". Conforme Nicolau Balbino Fi- lho Há que se fazer constar, tam- bém, por meio de averbações, todas as ocorrências que, por qualquer modo, alterem o registro, quer em relação à coisa, quer em relação ao titular do direito registrado. Da mesma forma, para constituir um gravame, deverá estar previamente registrado o imóvel ou o direito real sobre o qual ele irá recair. Para que se possa proceder ao cancelamento motivado pela extinção de um di- reito, é necessário que ele esteja pre- viamente registrado. Para Nicolau Balbino Filho: A história registral como encadea- mento dos atos ou de fatos jurídicos, e como sobreposição dos assentos, constitui a finalidade primordial e um sólido critério de organização, no qual o registro deve manter uma efetiva conexão entre os diferentes negócios modificativos da situação jurídico-real, por meio de assenta- mentos registrários. Princípio da Instância ou Ro- gação Pelo princípio da instância a rogação o Oficial do Registro de Imóveis não poderá agir de ofício, para que atue deverá haver o pedido do interessado. Para Nicolau Balbino Filho: A solicitação de qualquer ato registral é simples, independe de forma espe- cial e pode ser expressa ou tácita. É expressa quando o requerente mani- festa claramente ao registrador sua vontade de obter o lançamento re- gistrário. A pretensão é tácita quan- do o registrador, por experiência 28 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL própria, detecta a vontade do inte- ressado. Como regra geral entende- se que o mero fato de apresentar do- cumentos ao registro constitui uma solicitação para a prática dos atos re- gistrais inerentes a todo o seu conte- údo. No direito pátrio a solicitação expressa pode ser escrita ou verbal. São escritas todas aquelas previstas no art. 167, II, n. 4 e 5, da LRP, ou seja, da mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edifi- cação, da reconstrução, da demoli- ção, do desmembramento e do lote- amento de imóveis; e da alteração do nome por casamento ou por des- quite, ou, ainda, de outras circuns- tâncias que, de qualquer modo, te- nham influência no registro ou nas pessoas nele interessadas. Essas averbações, conforme determina o parágrafo único do art. 246 da LPR, serão feitas a requerimento dos inte- ressados, com firma reconhecida, instruído com documento compro- batório fornecido pela autoridade competente. A alteração do nome só poderá ser averbada quando devida- mente comprovada por certidão do registro civil. Resumindo, a inscrição dos tí- tulos no registro poderá ser pedida indistintamente: Pelo adquirente do direito; Pelo transmitente do direito; Por quem tenha interesse em assegurar o direito que deva ser inscrito; Pelo representante legal de qualquer deles. Há exceções ao princípio da instância, que se encontram no art. 13, art. 167, II, n. 13, e art. 213, da Lei 6.015/73: Art. 13. Salvo as anotações e as averbações obrigatórias, os atos do registro serão praticados: I. Por ordem judicial; (...) III. A requerimento do Ministério Público, quando a lei autorizar. (...) Art. 167. No Registro de Imó- veis, além da matrícula, serão feitos: (...) II. A averbação: (...) 13) ex officio, dos nomes dos logradouros, decretadospelo poder público. Art. 213 - O oficial retificará o registro ou a averbação: I. De ofício ou a requerimento do interessado nos casos de: a. Omissão ou erro cometido na transposição de qualquer elemento do título; b. Indicação ou atualização de confrontação; 29 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL c. Alteração de denominação de logradouro público, comprovada por documento oficial; d. Retificação que vise a indica- ção de rumos, ângulos de deflexão ou inserção de coordenadas georre- ferenciadas, em que não haja altera- ção das medidas perimetrais; e. Alteração ou inserção que re- sulte de mero cálculo matemático feito a partir das medidas perime- trais constantes do registro; f. Reprodução de descrição de li- nha divisória de imóvel confron- tante que já tenha sido objeto de re- tificação; g. Inserção ou modificação dos dados de qualificação pessoal das partes, comprovada por documen- tos oficiais, ou mediante despacho judicial quando houver necessidade de produção de outras provas; 30 30 31 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 31 5. Referências Bibliográficas _________. A responsabilidade Civil, Penal e Administrativa dos Notários e Re- gistradores. 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