Buscar

Território e Turismo na Geografia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

6ºAula
Território e Turismo na 
perspectiva geográfica
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
•	 conhecer as diversas abordagens conceituais da categoria de análise geográfica do território;
•	 entender como o turismo se insere na discussão territorial;
•	 compreender a atividade turística enquanto agente de apropriação territorial.
Prezados(as) estudantes,
Como vimos nas primeiras aulas, sobretudo na aula 2 quando trabalhamos as 
categorias de análise geográficas, desde que o turismo passou a ser objeto de estudo 
no âmbito espacial, como é o caso da Geografia, a categoria território vem sendo 
utilizada com bastante constância. 
Nesse sentido, pode-se questionar a relação do turismo com a categoria território, 
como fez Cruz (2001, p. 5): “Qual o papel que cabe ao turismo no (re)ordenamento 
de territórios, considerando-se o imenso jogo de relações em que essa atividade 
se insere?” A autora ainda pontua na sequência: “Quando falamos de turismo, a 
que territórios estamos nos referindo, ou seja, qual o ‘território do turismo’, na 
atualidade?” Nesta aula, iremos refletir sobre essas questões e buscar respostas. Para 
isso, é importante relembrar alguns conceitos e conhecimentos já trabalhados, para 
irmos tecendo nossas discussões sobre a temática, sobretudo no que diz respeito ao 
espaço e sua produção, apropriação e consumo pelo turismo, ou seja, a produção de 
territórios turísticos.
Boa aula!
 Bons estudos!
Bons estudos!
36Geografia, Turismo e Território
Seções de estudo
1 - Território: um conceito, várias 
abordagens
1. Território: um conceito, várias abordagens 
2. A utilização do território pelo turismo
3. Planejamento e (re)ordenamento do território pelo 
 turismo
1.1 - O que é território? A categoria 
de análise e seus conceitos
Bordo (et. al.) abordam em seu texto os vários conceitos, 
bem como seus autores, que trabalham com essa categoria, 
sobretudo na Geografia. Para os autores, a importância 
desse estudo/relato encontra-se justamente no sentido de 
se aprofundar as discussões no campo de formação geral do 
geógrafo, pois: 
[...] o espaço, o território, a região e a paisagem 
são os conceitos-chave da ciência geográfica 
e foram adquirindo concepções variadas no 
decorrer da história do pensamento geográfico, 
sendo trabalhados de diferentes maneiras pelos 
principais autores que contribuíram para um 
enriquecimento maior dos principais conceitos 
da Geografia. [...] Cada autor, dependendo da 
sua linha de trabalho e de suas concepções 
teóricometodológicas, dá ênfase a alguns aspectos 
dentro do território, seja o aspecto econômico, 
político e cultural ou o entrelaçamento destes 
fatores, para explicar o conceito e a dinâmica 
de um espaço que está sempre em construção 
(BORDO et. al., s.d., p. 1-2).
Nesse sentido, veremos agora os principais conceitos/
autores que estudam o território na perspectiva geográfica:
Autor Abordagem Leituras do território
Claude 
Raffestin 
(1993)
Política
 - Entende o espaço geográfico como 
substrato, um palco, preexistente ao território.
 - O território é tratado, principalmente, como 
o território nacional, espaço físico onde se 
localiza uma nação; um espaço medido e 
marcado pela projeção do trabalho humano 
com suas linhas, limites e fronteiras.
 - A construção do território revela relações 
marcadas pelo poder. Poder e território, 
apesar da autonomia de cada um, vão 
ser enfocados conjuntamente para a 
consolidação do conceito de território. Assim, 
o poder é relacional, pois está intrínseco em 
todas as relações sociais.
Rogério 
Haesbaert
Jurídico-política; 
Cultural(ista);
Econômica
 - No panorama atual do mundo com 
todas as suas complexidades e processos, 
muitas vezes excludentes, como a 
crescente globalização e a fragmentação 
a um nível micro ou local, servindo de 
refúgio à globalização, HAESBAERT 
(2002) identifica uma multiterritorialidade 
reunida em três elementos: os territórios-
zona, os territórios-rede e os aglomerados 
de exclusão.
 - Nos territórios-zona prevalece a lógica 
política; nos territórios-rede prevalece 
a lógica econômica e nos aglomerados 
de exclusão ocorre uma lógica social de 
exclusão sócio-econômica das pessoas. 
HAESBAERT (1997) também analisa a 
questão do conceito de território com um 
enfoque cultural, quando estuda a des-
territorialização e a identidade na rede 
gaúcha no nordeste.
Marcelo 
Lopes de 
Souza 
(2001)
Política;
Cultural
 - O território é um espaço definido e 
delimitado por e a partir de relações de 
poder, e que o poder não se restringe ao 
Estado e não se confunde com violência e 
dominação. Assim, o conceito de território 
deve abarcar mais que o território do 
Estado-Nação.
 - Não um território ideologizado com 
um poder centralizador como o Estado-
Nação, mas um território autônomo, onde 
as pessoas têm a liberdade de manifestar 
suas escolhas e potencialidades, gerando 
um espaço socialmente equitativo.
 - O autor aponta a existência de múltiplos 
territórios, principalmente nas grandes 
cidades, como o território da prostituição, 
do narcotráfico, dos homossexuais, 
das gangues e outros que podem ser 
temporários ou permanentes.
Marcos 
Aurélio 
Saquet
Econômica;
Política;
Cultural
 - SAQUET (2004), faz um resgate das 
diferentes interpretações do conceito 
de território levando em consideração 
as três vertentes mencionadas por 
Haesbaert (jurídicopolítica, econômica e 
cultural), como sendo essenciais para se 
fazer as interligações necessárias.
 - Também considera a vertente da 
natureza, que sempre estará presente 
dentro do território. A natureza está no 
território, é dele indissociável.
Manuel 
Correia de 
Andrade 
(1995)
Política
Econômica
 - O território associa-se mais à idéia 
de integração nacional, de uma área 
efetivamente ocupada pela população, 
pela economia, a produção, o comércio, 
os transportes, a fiscalização etc. É no 
território que as relações capitalistas 
efetivamente se fazem presentes.
 - Já territorialização é a forma de 
como se materializa o território, bem 
como a manifestação das pessoas, a 
especialização de qualquer segmento da 
sociedade como, por exemplo, a produção 
econômica de um determinado produto.
Caio Prado 
Júnior 
(1987)
Econômica
O território é sempre visto como porção 
territorial, palco dos acontecimentos 
econômicos e das transformações 
vivenciadas pela sociedade.
37
Milton 
Santos Várias
 - A formação do território é algo externo 
ao território. Segundo Santos (1985) a 
periodização da história é que define como 
será organizado o território, ou seja, o que 
será o território e como serão as suas 
configurações econômicas, políticas e sociais.
 - O território poderá adotar espacialidades 
particulares, conforme há o movimento da 
sociedade (nos seus múltiplos aspectos: 
sociais, econômicos, políticos, culturais e 
outros).
 - Para SANTOS (2002a), a formação do 
território perpassa pelo espaço e a forma do 
espaço é encaminhada segundo as técnicas 
vigentes e utilizadas no mesmo. Configura-
se pelas técnicas, pelos meios de produção, 
pelos objetos e coisas, pelo conjunto territorial 
e pela dialética do próprio espaço.
Fonte: Adaptado de BORDO (et. al. , s. d., p. 1-8).
Dessa forma, nota-se que todos os autores apresentados, 
direta ou indiretamente, utilizam a ideia de relação de poder 
para caracterizar e discutir o território em suas mais diversas 
abordagens. Tais abordagens percorrem as questões políticas, 
econômicas, jurídicas, sociais, culturais e históricos. Assim, 
todas essas percepções serão importantes para entendermos, 
a partir de agora, a relação do território com o Turismo, e do 
Turismo com o território.
2 - A utilização do território pelo 
turismo
2.1 - Território e Turismo: uma 
reflexão inicial
Entre os pesquisadores do turismo esse conceito é 
abordado de formas distintas, porém, é necessário que essa 
categoria seja trabalhada em uma visão múltipla e abrangente, 
uma vez que o território turístico deve ser analisadoenquanto 
um articulador de conexões de caráter global. Cruz (2001) 
relata algumas particularidades inseridas nesse contexto, no 
sentido de entendermos essa questão.
Diversas particularidades caracterizam a relação 
turismo-território no que concerne a produção 
e ao consumo de territórios pelo turismo. Uma 
dessas especificidades diz respeito ao fato de 
o principal objeto de consumo do turismo 
ser o espaço, entendido como um conjunto 
indissociável de objetos e de ações, de fixos e 
de fluxos. Nenhuma outra atividade consome, 
elementarmente, espaço, como faz o turismo 
e esse é um fator importante da diferenciação 
entre turismo e outras atividades produtivas. 
É pelo processo de consumo dos espaços 
pelo turismo que se gestam os territórios 
turísticos. O turismo concorre, no processo 
de transformação dos territórios para seu uso, 
com outros usos do território, bem como com 
formações socioespaciais precedentes a seu 
aparecimento. Apesar desses confrontamentos, 
a força do turismo é dada por sua capacidade “de 
criar, de transformar e, inclusive, de valorizar, 
diferencialmente, espaços que podiam não ter 
valor no contexto da lógica de produção...” 
(Nicolás, 1996) (CRUZ, 2001, p. 17).
Fratucci (2014, p. 92-93) nos explica como funciona 
o processo de utilização do espaço pelo/para o turismo, 
resultando em territórios turísticos. Para tentar entender 
esse debate, vamos ler um trecho de seu artigo: Turismo e 
território: relações e complexidades.
Partindo do entendimento do espaço como uma instância da 
sociedade contemporânea, formado pelo movimento dialético entre 
forma e conteúdo (SANTOS, 1997), podemos afirmar que é a partir 
dele que os agentes sociais do turismo produzem seus processos 
de turistificação que resultam em territórios do turismo, os quais se 
revelam como destinos turísticos.
O turismo, “em sua essência e natureza primeira se compõe dos 
movimentos e das paradas dos turistas pelo espaço” (FRATUCCI, 
2014, p. 45). Nesses momentos de paradas ocorre o processo de 
territorialização do visitante, quando ele se apropria, mesmo que 
fugidiamente, dos elementos do espaço visitado a partir da sua lógica 
reticular, onde se fixa em alguns pontos enquanto ignora outros.
A partir dessa ação primeira do visitante (turista), os demais agentes 
sociais envolvidos por ele e para ele, vão se apropriando de trechos 
do espaço e criando os seus territórios, também predominantemente 
a partir de lógicas de apropriação reticulares. Temos então, sobre um 
mesmo trecho de espaços, diversos processos de territorialização 
que se superpõem e compõem o que denominamos de território do 
turismo. Esse território é descontínuo, reticular e, por isso, pode ser visto 
como um território-rede (FRATUCCI, 2008, 2014). Entretanto, buscando 
uma visão mais ampliada desses territórios do turismo, devemos 
cuidar para não nos limitarmos à nossa leitura pelos padrões da lógica 
reticular, uma vez que, em determinados momentos, de maneira 
sincrônica ou diacrônica, alguns dos agentes sociais envolvidos no 
processo de turistificação também podem agir a partir de lógicas mais 
zonais, como é o caso dos agentes do poder público e da população 
residente que, antes de tudo, tem ali o seu lugar de vida permanente. 
As territorialidades dos diversos agentes sociais produzem, a partir de 
lógicas zonais e reticulares que se complementam e se articulam no 
espaço e no tempo, o território do turismo.
Temos assim que o par espaço-território torna-se básico para os 
processos de ordenamento das formas de desenvolvimento dos 
destinos turísticos. Os trechos do espaço apropriados por cada um dos 
diversos agentes sociais envolvidos com o turismo estruturam-se em 
um território-rede complexo, sazonal, dinâmico e “líquido” (BAUMAN, 
2001). Visto dessa forma, o território do turismo é uma composição dos 
territórios construídos por cada um dos agentes sociais responsáveis 
pelo acontecer do fenômeno turístico e não apenas pelo território que 
contém a atividade turística.
O território do turismo é, portanto, a soma dos territórios dos turistas, 
dos agentes do mercado, do poder público, dos trabalhadores da 
atividade (diretos e indiretos) e do território da população local dos 
destinos turísticos. Nos processos de planejamento e de gestão desses 
territórios é condição sine qua non a contemplação das relações e 
interações que se estabelecem entre os territórios de cada agente 
social, pois é a partir delas que se estabelece o território do turismo, 
em sua concretude e totalidade.
Fonte: Fratucci (2014, p. 92-93)
GAZIN
Highlight
38Geografia, Turismo e Território
Knafou (2001, p. 72-73) aponta que há diferentes tipos 
de relações entre turismo e território. Para o autor, “a análise 
do turismo e de sua dimensão territorial é um dos meios 
de (re)pensar este fenômeno multiforme e inapreensível, 
duplamente marcado pelo peso dos interesses econômicos e 
pelo domínio das abordagens flus” (KNAFOU, 2001, p. 71). 
Nesse sentido, o autor analisa as relações entre território e 
turismo de acordo com três tipos de situações:
Podem existir territórios sem 
turismo?
Segundo o autor, foi este o caso até a invenção do turismo 
na Europa Ocidental, no século XVIII. E ainda hoje, apesar 
da turistificação de uma parte do espaço mundial, ainda há 
territórios sem turismo. No entanto, com o progresso dos 
transportes, da tecnologia e da ideia de que o espaço mundial 
é acessível, existem cada vez menos territórios sem turismo. 
Mesmo os turistas podendo acessar quase toda a extensão do 
espaço mundial, essa prática deve ser realizada em número e 
sob formas que permitam aos lugares existirem.
Pode existir também um turismo 
sem território
Na verdade o autor fala de um tipo de turismo que 
não procede da iniciativa de turistas, e sim das operadoras 
de turismo que colocam um produto no mercado, sendo o 
mesmo localizado, com alguma relação com o território, mas 
um produto que não é suficiente para produzir um território 
turístico. Geralmente caracterizado por lugares de passagem, 
onde o turista faz uma incursão ou uma excursão. Nesses 
locais, o planejamento do território é apenas um planejamento 
do espaço, no qual o turismo constitui-se em um princípio de 
organização. Nesse sentido, o turismo é reduzido somente à 
uma atividade econômica, criadora de empregos e lucrativa.
Como exemplo de turismo que se contenta com sítios 
e lugares equipados, está o “turismo fora do solo”, quase 
indiferente à região que o acolhe e onde a extensão planejada 
nada mais é do que um espaço-espetáculo. Os parques 
aquáticos e as chamadas “bolhas tropicais” ilustram bem esse 
tipo de equipamento turístico, criando seu próprio clima, em 
lugares banais, escolhidos por sua acessibilidade, próximos 
das grandes cidades.
Podem, enfim, existir territórios 
turísticos
Nesse sentido, são territórios inventados e produzidos 
pelos turistas, mais ou menos retomados pelos operadores e 
planejadores turísticos. Isso traz alguns problemas, pois não 
é somente o espaço que se planeja, mas toda uma sociedade.
Por fim, o autor destaca sua preocupação com 
a apropriação e utilização do território pelo turismo, 
esclarecendo e nos levando a refletir sobre a seguinte situação:
Se nos lembrarmos que não há turismo sem 
turistas; se recusarmos as ideias prontas; se 
recusarmos o domínio exclusivo do mercado 
sobre esta atividade humana que é um 
importante meio de desabrochamento do 
indivíduo e se tentarmos colocar um pouco 
de ordem num fenômeno multiforme, teremos 
então feito um pouco de progresso (KNAFOU, 
2001, p. 73).
2.2 - Diversidade de territórios e sua 
relação com o Turismo
Diante desse contexto, é relevante também mencionar 
que inseridos na categoria território, outros conceitos se 
inter-relacionam, como o de territorialidade, entendido 
como um conjunto de práticas que garantam a apropriação 
e a permanência de um dado território por um determinado 
grupo social (CORIOLANO; SILVA, 2005). Adyr Rodrigues 
(2006) aponta a questãoda territorialidade, utilizando como 
exemplos, os equipamentos turísticos.
[...] são territórios duais que assumem 
temporalidades igualmente híbridas. O mesmo 
ocorre nos centros comerciais que se tornam 
movimentados territórios de lazer, acumulando 
num mesmo espaço usos distintos, substituindo 
as antigas ruas centrais das grandes cidades, que 
aglutinavam cinemas, teatros, galerias de arte, 
cafés bares, restaurantes, etc. (RODRIGUES, 
2006, p. 300).
Ou seja, todas as relações sociais existentes entre turistas 
x residentes x turistas se expressam a partir da territorialidade, 
como práticas e expressões materiais e simbólicas que buscam 
garantir a apropriação e a permanência do território. O 
espaço do turismo deve ser entendido como condicionante 
econômico, social, político e cultural e não ser visto apenas 
como produto das relações sociais. Castro (2006) nos ajuda a 
pensar essa questão, na perspectiva da contemporaneidade:
A diversidade atual dos territórios turísticos 
está estreitamente relaciona às transformações 
da sociedade contemporânea que, por sua vez, 
são captadas pelo gênio edificador da produção 
turística. Desse modo, podemos citar como 
territórios turísticos: a orla marítima com seu 
tradicional turismo de sol e praia; as áreas 
naturais protegidas que carregam o selo verde 
e controverso da sustentabilidade turística; 
a natureza das águas, do ar, das trilhas, das 
cavernas, de paredões dos batólitos; o meio 
rural com sua vida bucólica; as cidades e as 
metrópoles (CASTRO, 2006, p. 47).
Entretanto, a existência de territorialidades diferenciadas 
possibilita a organização desse espaço como fruto das relações 
sociais empreendidas pelo turismo. A mesma autora supracitada 
continua sua linha de raciocínio, afirmando que: 
[...] o turismo constrói novos territórios e 
territorialidades ao promover inovações 
relacionadas à infraestrutura energética, 
transportes e comunicações, saneamento 
básico, expansão imobiliária com a valorização 
do solo urbano; ao afetar valores, costumes e 
cultura da comunidade local, resultando numa 
série de efeitos favoráveis e desfavoráveis ao 
inscrever uma nova racionalidade espacial, 
numa conexão sistêmica entre o local e o 
GAZIN
Highlight
GAZIN
Highlight
GAZIN
Highlight
39
global. Desse modo, como lugar de vida, de 
trabalho e de circulação, é a categoria chave 
para o planejamento, a análise espacial e a 
compreensão da prática social do turista e do 
turismo como atividade produtiva (CASTRO, 
2006, p. 49-50).
Outro conceito importante para inserirmos nessa 
discussão é o de desterritorialização. Esse conceito refere-se 
aos processos de perda de território derivados da dinâmica 
territorial e/ou conflitos de poder. A compreensão da categoria 
território e seus desmembramentos são de fundamental 
importância para o estudo do turismo. É correto afirmar que a 
atividade turística transcende a esfera da organização espacial, 
mas também devemos considerar que se trata de um fenômeno 
territorial. 
Em outras palavras, os territórios são 
anteriormente relações sociais projetadas nos 
espaço, podem formar-se e dissolver-se, ser 
estáveis ou instáveis, ter a existência regular ou 
apenas periódica. Os territórios são construídos 
e descontruídos socialmente, podendo ter um 
caráter permanente ou subsistir de maneira cíclica 
(FONTOURA; ANDRADE, 2008, p. 3-4).
De fato, o território turístico é uma construção social, 
uma vez que é produzido pelas relações sociais, sobretudo, as 
existentes entre a sociedade e a natureza. Porém, é importante 
ressaltar que o território turístico é sempre percebido como 
um espaço de poder, de gestão e de domínio por parte dos 
gestores, dos turistas e das comunidades receptoras.
Percebe-se desta forma que a relação 
entre turismo, espaço e território depende 
imprescindivelmente dos fluxos e fixos, ou seja, 
da estrutura composta pelos equipamentos 
turísticos e pela mobilidade provisória do 
homem de seu território original, gerando 
uma desterritorialização e criando um novo 
território em outro lugar, um território turístico 
(FONTOURA; ANDRADE, 2008, p. 5).
3 - Planejamento e (re)ordenamento 
do território pelo turismo
3.1 – A “criação” de territórios: 
suporte e atratividade para o turismo
“Atualmente, o turismo deixou de ser um usuário passivo 
dos territórios para tornar-se um agente condicionador de 
seu ordenamento” (FONTOURA; ANDRADE, 2008, p. 9). 
A transformação do espaço geográfico em produto turístico, 
atualmente em escala global, necessita de uma crescente 
racionalidade, devido à intensa competitividade entre os 
produtos turísticos. Nesse sentido, tanto a competitividade 
quanto a racionalidade interferem na organização dos setores 
produtivos, utilizando-se do planejamento territorial como 
condição para o adequado desenvolvimento da atividade. 
O processo de transformação de um 
determinado espaço em território turístico 
requer a readequação desse espaço à sua 
nova funcionalização. Essa readequação 
significa a criação de um sistema de objetos 
que se aproxime e identifique ao sistema de 
ações advindo da demanda social do turismo 
(FONTOURA; ANDRADE, 2008, p. 11).
Cruz (2001, p. 23), estabelece através dos estudos de 
Sanches (1991) duas situações relacionadas à questão turismo 
– território e que tem relação direta com o planejamento e 
ordenamento do território:
1) Um turismo que não estabelece vínculos territoriais 
permanentes com o espaço do ócio a que se dirige como, por 
exemplo o “turismo de hotelaria”. Essa não é uma modalidade 
de turismo, e sim uma prática da atividade turística onde o hotel 
corresponde ao meio de hospedagem.
2) Um tipo de turismo permanente no uso do mesmo espaço. 
Nesse caso, ocorre uma espécie de vínculo territorial psicológico como, 
por exemplo, nas “segundas-residências”.
A autora ainda destaca outros aspectos que envolvem a 
relação turista, turismo e território e que influenciam na prática 
da atividade: efemeridade da relação do turista com o território 
visitado; tempo de ócio integralmente utilizado enquanto 
tempo de consumo do lugar turístico; rigidez dos pacotes 
turísticos que resultam em uma apropriação inapropriada do 
território visitado; turistas mais preocupados em conhecer o 
maior número de lugares em detrimento do envolvimento 
mais profundo com o local visitado (CRUZ, 2001, p. 23-24). 
No entanto, no sentido de amenizar tais questões, a autora 
salienta que:
Apesar dos fatores contrários, todo turista 
poderia em princípio, estabelecer relações 
menos fugidias com os territórios que visitam, 
se assim desejassem. O que se passa, na 
verdade, é que a apropriação do espaço pelo 
turismo é restrita ao trade turístico, aos atores 
hegemônicos que controlam a atividade, 
e a forma como se dá essa apropriação, 
principalmente no turismo de hotelaria, acaba 
por se configurar como um impeditivo à 
apropriação desses territórios pelos turistas 
(CRUZ, 2001, p. 24).
Cruz (2003, p. 22-24) propõe uma reflexão sobre a 
(re)apropriação dos territórios pelo turismo, a partir da 
interferência do turismo em três porções do espaço geográfico: 
os polos emissores de fluxos, os espaços de deslocamento e os 
núcleos receptores de turistas. Vejamos:
3.2 - Os territórios emissores de 
turistas
A emissividade de turistas está fortemente associada ao 
fenômeno urbano, o qual também pode ser explicado pela 
concentração populacional e estilo de vida. Porém, esses 
fatores não são suficientes para explicar a emissividade de 
determinado lugar, pois outras questões estão instaladas nesse 
contexto. Não basta o estresse urbano e o desejo em se praticar 
turismo para que seja criada uma demanda efetiva. Nesse 
GAZIN
Highlight
40Geografia, Turismo e Território
sentido, os polos emissores de turistas também podem ser 
transformados pelo turismo, na perspectiva da emissividade. 
Além disso, em função dessa emissão, multiplicam-se as 
agências e operadoras de viagem nos centros emissores, 
gerando empregos nesses locais. Outras demandasse 
fazem necessárias nesse contexto como, por exemplo: 
infraestruturas relacionadas ao deslocamento, rodoviárias, 
aeroportos, estradas, dentre outros. Tais equipamentos, de uso 
fundamental à prática do turismo, não são exclusivos deste, 
como nenhum equipamento ou infraestrutura é. Importante 
salientar também que, em diversos casos, grandes polos 
emissores de turistas também são receptores, demandando 
outros elementos de (re)ordenamento do território. Além 
disso, não se pode deixar de mencionar que a necessidade de 
viajar é inerente à sociedade de consumo e criada, em grande 
parte, pelos agentes de mercado.
3.3 - Os espaços de deslocamento
O fato do turista se deslocar até o atrativo ou destino a 
fim de consumir o produto, implica que a prática social do 
turismo crie ou se aproprie de espaços de deslocamentos, 
sobretudo no que se refere aos deslocamentos rodoviários. 
Assim, ao longo desses espaços, das rodovias, surge uma 
diversificada infraestrutura como, por exemplo: postos 
de gasolina, restaurantes, meios de hospedagem, lojas de 
artesanato local, infraestruturas de lazer, dentre outras. 
Nesse sentido, o turismo não apenas se apropria de rodovias 
preexistentes ao seu surgimento em dado território, mas 
também pode criar seus espaços de deslocamento. Por outro 
lado, nota-se também que algumas rodovias podem servir 
de motivação para viagens como, por exemplo, a Estrada da 
Graciosa, no Paraná e a Rota 66, nos Estados Unidos. Além 
disso, a qualidade dos espaços de deslocamentos pode inibir 
ou incentivar os fluxos turísticos. Estradas mal cuidadas, 
mal sinalizadas, que oferecem perigo ao trafego de turistas, 
podem ser motivos de diminuição nas práticas de turismo de 
qualquer localidade.
3.4 - Os núcleos receptores de 
turistas
Logicamente que é sobre os núcleos receptores que o 
Turismo irá impactar as transformações socioespaciais em 
determinadas localidades. Infraestrutura turística e de apoio 
podem ser criadas e/ou apropriadas pelo Turismo, sendo ele 
capaz de reorganizar sociedades inteiras para que isso aconteça. 
O setor de prestação de serviços é diretamente impactado pela 
presença dos turistas, gerando impacto também no mercado 
informal. O que o turismo faz nos núcleos receptores é impor 
sua lógica de organização dos espaços (a lógica do lazer) às 
lógicas preexistentes. Daí as transformações que se colocam 
nos territórios em função do turismo. O turismo cria novos 
objetos, mas também se apropria de objetos já existentes 
(naturais e culturais) atribuindo-lhes novos significados e/ou 
novas feições. 
 Finalizando nossa discussão, percebemos que os 
territórios constituem, ao mesmo tempo, suporte e atratividade 
para o turismo. Já o consumo do espaço pelo turismo é 
formado pelo consumo da natureza ou de suas parcelas, além 
do consumo da infraestrutura turística e de suporte (acesso 
ao atrativo, infraestrutura básica no destino, infraestrutura de 
apoio ao turista, dentre outras). Assim, podemos dizer que:
Em outras palavras, o turismo enquanto 
fenômeno sócio-espacial se apropria de 
trechos do espaço, cria territórios e move 
territorialidades, em um conjunto de recursos 
naturais e culturais que incita o fluxo de 
pessoas até ele. Nesse sentido, apreender o 
seu papel no ordenamento e reordenamento 
de territórios, requer a análise de diversas 
variáveis que compõe as relações nas quais o 
turismo se insere. Para a consideração dessas 
variáveis em territórios protegidos, como os 
parques nacionais ou estaduais, além da análise 
de todos os fatores mencionados ainda devem 
ser contempladas as dimensões ecológicas e de 
conservação, para um correto planejamento 
e ordenamento do turismo, vislumbrando 
a sustentabilidade das ações nesses locais 
(FONTOURA; ANDRADE, 2008, p. 14).
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao final da sexta aula. Espera-se que 
agora tenha ficado mais claro o entendimento de vocês 
sobre a categoria de análise geográfica do território e 
suas contextualizações sociais. Além disso, espera-se ter contribuído para a 
compreensão da importância do turismo para o (re)ordenamento territorial. 
1 – Território: um conceito, várias abordagens 
Nesta seção, conceituamos “território” a partir de 
diferentes autores e das diversas abordagens. Tais abordagens 
percorrem as questões políticas, econômicas, jurídicas, sociais, 
culturais e históricas.
2 – A utilização do território pelo turismo
Aqui, inserimos a discussão territorial no âmbito do 
Turismo, com algumas reflexões iniciais sobre o território 
turístico. Além disso, aprendemos que há diferentes tipos 
de relações entre turismo e território, além da existência de 
territorialidades diferenciadas que, dessa forma, possibilitam 
a organização do espaço como fruto das relações sociais 
empreendidas pelo turismo. Discutimos também a questão da 
desterritorialização, entendendo-a como um ou mais processos 
de perda de território derivados da dinâmica territorial e/ou 
conflitos de poder. 
3 - Planejamento e (re)ordenamento do território 
pelo turismo
Aqui estudamos o turismo enquanto atividade importante 
no planejamento e ordenamento do território, propondo uma 
reflexão sobre a (re)apropriação dos territórios pelo turismo, a 
partir da interferência do turismo em três porções do espaço 
geográfico: os polos emissores de fluxos, os espaços de 
deslocamento e os núcleos receptores de turistas.
41
BORDO et. al. As diferentes abordagens do conceito de território. 
Disponível em: <http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.
br/files/diferentesabordterr.pdf>. Acesso em: 10/03/2018.
FONTOURA, L. M.; ANDRADE, S. A. Turismo e geografia: 
o planejamento territorial do turismo. Anais do II Fórum 
Internacional de Turismo do Iguassu. Foz do Iguaçu/PR, 
2008. Disponível em: <http://festivaldeturismodascataratas.
com/wp-content/uploads/2014/01/41.-TURISMO-E-
GEOGRAFIA-O-PLANEJAMENTO-TERRITORIAL-
DO-TURISMO.pdf>. Acesso em: 10/03/2018.
OURIQUES, H. R. Território e turismo: uma reflexão 
inicial. Disponível em: <http://www.revistaturismo.com.br/
artigos/territorioturismo.html>. Acesso em: 15/03/2018.
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.
com.br/geografia/conceito-territorio.htm>. - Conceito de 
território.
Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/o-
que-e/geografia/o-que-e-territorio.htm>. - O que é 
território?
Vale a pena
Vale a pena ler
Vale a pena acessar
Minhas anotações

Continue navegando