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CONTABILIDADE BÁSICA Angela Maria Haberkamp Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o agrupamento das contas no balanço patrimonial. Reconhecer o agrupamento das contas de resultado. Avaliar a estruturação de um plano de contas. Introdução O plano de contas patrimoniais é utilizado para a elaboração do ba- lanço patrimonial; ou seja, é ele que direciona o agrupamento das contas do balanço. Já o plano de contas de resultado mostra como deve ser elaborada a demonstração do resultado. Com base nele, são agrupadas as contas de receita, custos e despesas. Ambos os planos são elaborados com base nas necessidades de informação da empresa. Dependendo do porte (pequena, média ou grande empresa) e do ramo de atividade (comércio, indústria ou serviços), as empresas utilizam planos de contas diferentes. Neste capítulo, você vai estudar a estrutura dos planos de contas patrimoniais e de resultado, verificando, por fim, quais são os cuidados necessários para a estruturação de um plano de contas. Agrupamento das contas do balanço patrimonial A contabilidade de uma empresa deve ser elaborada seguindo as normas legais. Isso signifi ca que a contabilidade deve ser organizada, possibilitando a identifi cação das informações mais importantes sobre o patrimônio — aquilo que a empresa possui, seus bens, seus valores a receber e suas dívidas — e o resultado — o quanto sobra após descontar os custos e as despesas do valor das vendas. Segundo o art. 176 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e alterações), ao fim de cada exercício social, uma das demonstrações que deve ser elaborada é o balanço patrimonial. O plano de contas, que você vai estudar agora, é fundamental para a elaboração dessa demonstração; isso porque o balanço patrimonial é elaborado com base no plano de contas utilizado pela empresa (BRASIL, 1976). O balanço patrimonial é composto pelo ativo (no qual estão registrados os bens e direitos) e pelo passivo (que registra as obrigações e o patrimônio líquido), divididos nos grupos apresentados no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Brasil (1976). Ativo Passivo Circulante: nesse grupo, são registradas as contas de curto prazo, como caixa, bancos, contas a receber, impostos recuperáveis, estoques, despesas pagas antecipadamente, entre outros. Circulante: aqui são registradas as contas que se referem às obrigações de curto prazo, como contas a pagar, impostos a pagar, salários a pagar, empréstimos a pagar, entre outros. Não circulante: aqui são registradas as contas de longo prazo, como contas a receber de longo prazo, prédios, móveis, máquinas, veículos, etc. Não circulante: é representado pelas obrigações de longo prazo, como contas a pagar, empréstimos a pagar, entre outros. Patrimônio líquido: nesse grupo, estão as contas contábeis que identificam o valor do capital social (valor investido pelos sócios), os lucros e prejuízos da empresa ao longo da sua existência, as reservas de capital/reserva legal, as reservas de lucros, entre outros. Quadro 1. Grupos que compõem o balanço patrimonial Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado2 As definições de curto ou longo prazo estão relacionadas com o período em que determinado valor será recebido ou pago. Saiba mais no link a seguir. https://qrgo.page.link/JpQMt A elaboração do balanço deve atender aos requisitos legais e às necessidades de informação da organização. Logo, o plano de contas deve ser estruturado de forma a atender esses dois requisitos. A complexidade do balanço patrimonial depende das necessidades de informação da empresa: quanto mais detalhada é a informação, mais contas terá o balanço. Uma empresa de grande porte tam- bém necessita de um balanço mais completo do que uma empresa de pequeno porte. O Quadro 2 mostra um modelo de balanço patrimonial simplificado. Ativo Passivo Circulante Circulante Caixa e equivalentes de caixa Fornecedores Caixa Salários a pagar Aplicações financeiras Encargos sociais a pagar Banco Apropriações Contas a receber 13º salário a pagar Estoques Férias a pagar Matéria-prima — Produto acabado A — Produto acabado B — Quadro 2. Modelo de balanço patrimonial simplificado (Continua) 3Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Agora você vai entender como ocorre a estruturação de um plano de contas, que permite elaborar o balanço patrimonial apresentado no Quadro 2. No plano de contas, a descrição das contas contábeis vem acompanhada de uma codificação numérica, que representa a posição que a conta ocupa e a sua hierarquia. Geralmente, a codificação do ativo inicia com o número 1, enquanto a do passivo inicia com o número 2. Na sequência, são inseridas as contas do primeiro nível inferior (aquelas que fazem parte do ativo e do pas- sivo), seguindo uma codificação similar ao índice de um livro: 1.1 representa o ativo circulante e 2.1 representa o passivo circulante. Essa codificação segue uma estrutura hierárquica e possui dois grupos de contas: as sintéticas e as analíticas. Os lançamentos contábeis são registrados nas contas analíticas. Já as contas sintéticas representam o agrupamento de um conjunto de contas analíticas ou de contas sintéticas de níveis inferiores. Veja, no Quadro 3, como é estruturado o plano de contas que permite elaborar o balanço patrimonial apresentado no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Brasil (1976). Ativo Passivo Não circulante Não circulante Imobilizado Empréstimos Máquinas e equipamentos Banco A (−) Deprec. acumulada Banco B Veículos Patrimônio líquido (−) Deprec. acumulada Capital social — Reservas de lucros — Reserva legal Quadro 2. Modelo de balanço patrimonial simplificado (Continuação) Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado4 Código Descrição Tipo de conta 1 Ativo Sintética de 1º nível 1.1 Circulante Sintética de 2º nível 1.1.1 Caixa e equivalentes de caixa Sintética de 3º nível 1.1.1.01 Caixa Analítica 1.1.2 Bancos Sintética de 3º nível 1.1.2.01 Banco A Analítica 1.1.2.02 Banco B Analítica 1.1.3 Realizável Sintética de 3º nível 1.1.3.01 Contas a receber Analítica 1.1.4 Estoques Sintética de 3º nível 1.1.4.01 Matéria-prima Analítica 1.1.4.02 Produto acabado A Analítica 1.1.4.03 Produto acabado B Analítica 1.2 Não circulante Sintética de 2º nível 1.2.1 Imobilizado Sintética de 3º nível 1.2.1.01 Máquinas e equipamentos Analítica 1.2.1.02 (−–) Depreciação acumulada Analítica 1.2.1.03 Veículos Analítica 1.2.1.04 (–) Depreciação acumulada Analítica — — — Quadro 3. Estrutura do plano de contas (Continua) 5Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Os lançamentos contábeis são realizados somente nas contas analíticas. Quando uma empresa retira dinheiro do caixa para fazer um pagamento, deve fazer o lançamento contábil desse pagamento na conta 1.1.1.01 Caixa. O lançamento não pode ser realizado na conta 1.1.1 Caixa e equivalentes Código Descrição Tipo de conta 2 Passivo Sintética de 1º nível 2.1 Circulante Sintética de 2º nível 2.1.1 Valores a pagar Sintética de 3º nível 2.1.1.01 Fornecedores Analítica 2.1.1.02 Salários a pagar Analítica 2.1.1.03 Encargos sociais a pagar Analítica 2.1.2 Provisões Sintética de 3º nível 2.1.2.01 Provisão para 13º salário Analítica 2.1.2.02 Provisão para férias Analítica 2.2 Não circulante Sintética de 2º nível 2.2.1 Empréstimos Sintética de 3º nível 2.2.1.01 Banco A Analítica 2.2.1.02 Banco B Analítica — — — 2.3 Patrimôniolíquido Sintética de 2º nível 2.3.1 Capital social Sintética de 3º nível 2.3.1.01 Capital social Analítica 2.3.2 Reservas de lucros Sintética de 3º nível 2.3.2.01 Reservas de lucros Analítica 2.3.3 Reserva legal Sintética de 3º nível 2.3.3.01 Reserva legal Analítica Quadro 3. Estrutura do plano de contas (Continuação) Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado6 de caixa, porque esta é do tipo sintética e serve para representar o total do dinheiro em caixa existente. Você deve estar se perguntando: por que criar duas contas caixa, uma analítica e outra sintética? Isso é necessário em função da estrutura do plano de contas. A configuração dos sistemas contábeis e a totalização dos valores de ativo e passivo somente é possível quando todas as contas analíticas possuem a mesma quantidade de níveis. O tamanho do código das contas analíticas é definido em função da necessidade de controle de todas as contas. Veja o caso dos estoques. Nos Quadros 2 e 3, há três tipos distintos de estoque: matéria-prima, produto acabado A e produto acabado B. Vamos supor que a empresa tivesse em seu estoque $ 100 de matéria-prima, $ 80 de produto acabado A e $ 40 de produto acabado B. A representação no balanço patrimonial seria conforme o Quadro 4. Código e descrição Valor 1.1.4 Estoques $ 220 1.1.4.01 Matéria-prima $ 100 1.1.4.02 Produto acabado A $ 80 1.1.4.03 Produto acabado B $ 40 Quadro 4. Representação dos estoques no balanço patrimonial Veja que a conta sintética (1.1.4) faz a totalização de todos os tipos de estoque (100 + 80 + 40 = 220). Dessa forma, a estrutura do plano de contas permite identificar o valor de cada tipo de estoque e também do total de estoque que a empresa possui. Se ocorrer uma venda do produto acabado A, o lançamento contábil será realizado na conta 1.1.4.02, e não na conta 1.1.4. Pela estrutura apresentada, essa empresa poderia ter até 99 tipos diferentes de estoque, porque o plano de contas possibilita a inclusão até a conta identificada como 1.1.4.99 Estoque XYZ. Nessa estrutura, não é possível incluir uma conta de estoque com o código 1.1.4.100. Para isso, todo o plano de contas teria que ser readequado, com a previsão de três dígitos após o último ponto. Ou seja, o plano de contas teria que prever a conta de matéria-prima com o código 1.1.4.001, e essa estrutura 7Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado precisaria ser seguida em todo o plano de contas. A conta caixa, por exemplo, teria o código 1.1.1.001, em vez de 1.1.1.01. Por isso, é importante que a estrutura prevista para o plano de contas seja flexível, atendendo às necessidades do momento da criação do plano, mas também prevendo a inclusão de novas contas que venham a ser necessárias ao longo da existência da empresa. O plano de contas é estruturado com base nas particularidades e necessidades de informação de cada empresa. Uma empresa só terá em seu plano de contas a conta de imóveis se ela tiver algum prédio, casa ou construção. Somente são criadas aquelas contas que são efetivamente necessárias. Agrupamento das contas da demonstração de resultado A demonstração do resultado do exercício (DRE) tem como objetivo possi- bilitar a identifi cação do resultado líquido, ou seja, identifi car se a organização teve lucro ou prejuízo em determinado período. Conforme a Lei nº. 6.404/1976 e as suas alterações, essa demonstração deve ser elaborada anualmente para fi ns legais e de divulgação (BRASIL, 1976). Um modelo de DRE simplifi cada é apresentado no Quadro 5. Descrição RECEITA OPERACIONAL BRUTA Produto A Produto B (–) Deduções sobre vendas Produto A Produto B Quadro 5. Modelo de demonstração do resultado do exercício (Continua) Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado8 Como você pode ver no Quadro 5, a receita líquida e os diferentes tipos de resultado (operacional bruto, antes do IR e da CS e do exercício) são obtidos por cálculos que partem das receitas (vendas da empresa), das quais vão sendo subtraídos os impostos, os custos e as despesas, até a obtenção do Fonte: Adaptado de Brasil (1976). (–) Impostos sobre vendas Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) (=) Receita operacional líquida (–) Custo do produto vendido Produto A Produto B (=) Resultado operacional bruto (lucro bruto) (–) Despesas operacionais Despesas administrativas Salários e encargos Energia elétrica Depreciação Despesas com vendas Salários e encargos Combustíveis Comissões (–) Despesas financeiras líquidas Juros pagos (–) Juros recebidos (=) Resultado antes do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social (CS) (–) Provisão para IR e CS Provisão para IR Provisão para CS (=) Resultado do exercício Quadro 5. Modelo de demonstração do resultado do exercício (Continuação) 9Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado resultado do exercício, que é o lucro ou prejuízo. Esse cálculo é realizado em diferentes estágios, com várias totalizações intermediárias. Por exemplo, a receita líquida corresponde ao valor total das vendas menos as deduções de vendas, os impostos e os abatimentos concedidos. Para tender ao que determina a Lei nº. 6.404/1976 e alterações, o plano de contas de resultado deve possibilitar a identificação das informações a seguir: receita bruta, deduções, abatimentos e impostos; receita líquida, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; despesas com as vendas, financeiras, gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; resultado do exercício antes do IR e a provisão para o imposto; participações (valores pagos a empregados, administradores e partes beneficiárias que não se caracterizem como despesa); lucro ou prejuízo líquido e o seu valor por ação (BRASIL, 1976). Desde que o plano de contas de resultado apresente as informações defi- nidas na Lei, podem ser feitas adaptações para que sejam atendidas também as necessidades de informação da organização; por exemplo, apresentar a receita, as deduções e o custo por produto. É a necessidade de informação da organização que vai determinar a estrutura e o número de contas do plano. Uma particularidade do plano de contas de resultado é que ele não é exa- tamente igual à demonstração do resultado do exercício. Embora o plano de contas patrimonial também não seja exatamente igual ao balanço patrimonial, no caso da DRE, as diferenças em relação ao plano de contas de resultado são mais significativas. Isso porque, geralmente, é necessário ter mais contas no plano de contas de resultado do que aquelas que aparecem na DRE. Isso acontece por duas razões principais: 1. pela necessidade de uma conta analítica e outra sintética, em função da estrutura do plano de contas (como ocorre com a provisão para IR, que possui uma conta sintética, 4.3.1, e outra analítica, 4.3.1.01); 2. pela necessidade de identificação de diferentes tipos de resultado (receita operacional líquida, resultado operacional bruto, resultado antes do IR e da CS e resultado do exercício). Lembre-se de que os lançamentos ocorrem nas contas analíticas, sendo que as contas sintéticas atuam como totalizadoras de um grupo de analíticas. Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado10 Por exemplo, as receitas são lançadas nas contas 3.1.1.01 Produto A e 3.1.1.02 Produto B, que são as contas analíticas. Já a totalização das vendas ocorre nas contas 3.1 Vendas e 3.1.1 Produtos, que são sintéticas. A conta 3.1.1 totaliza a vendas de produtos, e a conta 3.1 totaliza o total de vendas (o que se tornaria mais importante se a empresa tivesse também prestação de serviços, pois faria a totalizaçãodo total de receitas — as de vendas e as de serviços). Veja, no Quadro 6, um modelo de plano de contas para a elaboração da DRE. Código Descrição Tipo de conta 3 Receita operacional bruta Sintética de 1º nível 3.1 Vendas Sintética de 2º nível 3.1.1 Produtos Sintética de 3º nível 3.1.1.01 Produto A Analítica 3.1.1.02 Produto B Analítica 3.2 (–) Deduções sobre vendas Sintética de 2º nível 3.2.1 Devolução de vendas Sintética de 3º nível 3.2.1.01 Produto A Analítica 3.2.1.02 Produto B Analítica 3.2.1.03 Impostos sobre vendas Analítica 3.3 (–) Custo do produto vendido Sintética de 2º nível 3.3.1 Custo do produto vendido Sintética de 3º nível 3.3.1.01 Produto A Analítica 3.3.1.02 Produto B Analítica 4 (–) Despesas operacionais Sintética de 1º nível 4.1 Despesas gerais Sintética de 2º nível 4.1.1 Despesas administrativas Sintética de 3º nível 4.1.1.01 Salários e encargos Analítica 4.1.1.02 Energia elétrica Analítica 4.1.1.03 Depreciação Analítica Quadro 6. Plano de contas para a elaboração da DRE (Continua) 11Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Observe que a estrutura dos códigos das contas, bem como a classificação em sintética (1º, 2º ou 3º nível) ou analítica, seguem os mesmos padrões utili- zados no plano de contas patrimonial. A codificação geralmente utilizada nas organizações é iniciada com 3 para as receitas e 4 para as despesas, porém, não segue o mesmo padrão em todas as empresas. Pode haver casos em que todo o plano de contas de resultado inicia com 3. Nesse caso, as despesas gerais teriam o código 3.4, as despesas financeiras líquidas teriam o código 3.5, e a provisão para IR e CS teria o código 3.6. Codificações diferentes das apresentadas também podem ser encontradas. Fonte: Adaptado de Brasil (1976). Código Descrição Tipo de conta 4.1.2 Despesas com vendas Sintética de 3º nível 4.1.2.01 Salários e encargos Analítica 4.1.2.02 Combustíveis Analítica 4.1.2.03 Comissões Analítica 4.2 (–) Despesas financeiras líquidas Sintética de 2º nível 4.2.1 Juros Sintética de 3º nível 4.2.1.01 Juros pagos Analítica 4.2.1.02 (–) Juros recebidos Analítica 4.3 Provisão para IR e CS* Sintética de 2º nível 4.3.1 Provisão para IR Sintética de 3º nível 4.3.1.01 Provisão para IR Analítica 4.3.2 Provisão para CS Sintética de 3º nível 4.3.2.01 Provisão para CS Analítica Quadro 6. Plano de contas para a elaboração da DRE (Continuação) Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado12 Assim como no plano de contas patrimonial, os lançamentos contábeis são realizados nas contas analíticas, sendo as sintéticas utilizadas para definir a hierarquia ou totalizar outro grupo de contas. Veja, no Quadro 7, como ficaria o grupo das despesas com os valores contabilizados. Código Descrição Valor 4 (–) Despesas operacionais $ 192 4.1 Despesas gerais $ 192 4.1.1 Despesas administrativas $ 135 4.1.1.01 Salários e encargos $ 100 4.1.1.02 Energia elétrica $ 20 4.1.1.03 Depreciação $ 15 4.1.2 Despesas com vendas $57 4.1.2.01 Salários e encargos $ 50 4.1.2.02 Combustíveis $ 5 4.1.2.03 Comissões $ 2 Quadro 7. Exemplo de totalização das despesas operacionais As despesas operacionais totalizam $ 192, dos quais $ 135 se referem a despesas administrativas e $ 57 a despesas com vendas. As despesas adminis- trativas são compostas por salários e encargos ($ 100), energia elétrica ($ 20) e depreciação ($ 15). A mesma lógica de soma se aplica às despesas com vendas. Estruturando o plano de contas dessa forma, estão disponíveis as infor- mações em relação ao valor gasto em cada tipo de despesa (salários, energia, combustíveis e depreciação), em cada setor (administrativo e vendas), e tam- bém o total. Estão disponíveis, portanto, informações bastante completas em relação às despesas. 13Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado O plano de contas não prevê as contas totalizadoras da DRE. Observe as diferenças entre o modelo de DRE (Quadro 5) e o plano de contas para a elaboração da DRE (Quadro 6). Repare que a receita operacional líquida, o resultado operacional bruto, o resultado antes do IR e da CS e o resultado do exercício não constam no plano de contas. Isso acontece porque esses valores são obtidos pelas somas realizadas, sendo apurados somente na emissão da DRE. Na contabilidade, não é realizado nenhum lançamento de débito ou crédito na conta de resultado operacional líquido, pois esse valor não decorre de um fato, mas, sim, de um cálculo. O mesmo ocorre com os outros totalizadores, o que justifica sua ausência no plano de contas. Cuidados na elaboração dos planos de contas Um plano de contas é a base da escrituração contábil, estando relacionado diretamente com a qualidade das informações disponibilizadas nos relatórios, como no balanço patrimonial e na DRE. É com base no plano de contas e nos valores que correspondem a cada conta que são realizadas operações impor- tantes nas organizações, como a apuração dos tributos e o planejamento dos estoques. Da mesma forma, são tomadas decisões com base em informações geradas pelas demonstrações contábeis, que, por sua vez, foram elaboradas com base na estrutura do plano de contas. Para Crepaldi (2003, p. 70): [...] plano de contas é um conjunto de determinadas contas em função do ramo de atividade e porte de cada empresa. Nele são apresentadas as contas, títulos e descrição de cada uma, bem como os regulamentos e convenções que regem o uso do plano e de suas contas integrantes do sistema contábil da entidade, tendo como finalidade servir de guia para o registro e a de- monstração dos fatos contábeis. Na elaboração tanto do plano de contas patrimonial quanto do plano de resultado, a principal questão a ser observada é em relação à finalidade do plano. É importante que as demandas — sejam elas societárias, tributárias, Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado14 fiscais ou gerenciais — sejam atendidas. Também é importante avaliar as dificuldades, as limitações e as necessidades de cada organização. Um plano de contas societário deve atender à legislação societária, em consonância com as Normas Brasileiras de Contabilidade e as determinações da Comissão de Valores Mobiliários (no caso de sociedade de capital aberto). Já em um plano elaborado para atender aos aspectos fiscais, deve-se estar atento aos aspectos determinados pela legislação do IR. Muitas empresas elaboram apenas um plano de contas, utilizado tanto para aspectos societários quanto fiscais. Geralmente, a elaboração de dois planos distintos está relacionada à necessidade de informação que a empresa tem e ao seu tamanho (nas pequenas empresas, é comum ter apenas um plano; as grandes costumam ter um plano fiscal e outro societário). Analisando a finalidade para a qual é elaborado, o plano gerencial é o que apresenta maior flexibilidade, pois pode ser elaborado com base nas demandas de informação da organização. Passando para segundo plano os aspectos societários e fiscais, o foco pode ser direcionado para o atendi- mento dos anseios da administração, no que diz respeito ao detalhamento das informações desejadas. A relação custo–benefício deve ser sempre avaliada. Se, por um lado, um plano de contas detalhado traz maior quantidade de informações, por outro, torna-se mais complexo e mais extenso, com um número de contas maior. Muitas contas podem, em algumas situações, causar dificuldades na identificação da conta contábil correta. Por exemplo, um plano que contemple contas específicas de despesas de viagem, diárias e despesas com refeições pode gerar dúvidas no momento do registro de uma nota fiscal correspondente ao almoço de um dos diretores. Em qual das três contas a despesa deve ser registrada? Se não houver total clareza na definição do que deve ser registrado em cada conta e uma uniformidadede procedimentos, corre-se o risco de fazer o registro ora em uma conta, ora em outra, comprometendo a qualidade da informação gerada. Outro aspecto importante na elaboração do plano de contas é em relação ao porte da organização e à quantidade de clientes e fornecedores que possui. É comum que, em empresas de pequeno porte, seja criada uma conta específica para controlar os valores a pagar para cada fornecedor (Quadro 8). 15Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado 2 Passivo 2.1 Circulante 2.1.1 Contas a pagar 2.1.1.01 Fornecedor A 2.1.1.02 Fornecedor B 2.1.1.03 Fornecedor C 2.1.1.04 Fornecedor D Quadro 8. Exemplo de contas a pagar A estruturação das contas a pagar nesse formato permite identificar com facilidade o valor a ser pago para cada fornecedor, sem a necessidade de outros controles (inexistentes em grande parte das pequenas empresas). Porém, essa alternativa se torna inviável em empresas de grande porte, com 200 ou 300 fornecedores diferentes. O plano de contas e o passivo circulante se tornariam demasiado extensos. Em uma grande empresa, é normal a utilização de apenas uma conta de fornecedores, e o valor a ser pago a cada fornecedor é controlado no sistema de informações. Cabe, ainda, destacar a diferenciação do plano de contas em função das atividades da empresa. Um grupo ilustrativo dessa diferença é o “ativo circulante — estoques”. Dependendo da atividade da empresa, ela pode ter diferentes tipos de estoques, ou sequer ter esse item em seus ativos (Quadro 9). Indústria Comércio Serviços 1.1.4 Estoques 1.1.4 Estoques Conta inexistente 1.1.4.01 Matéria-prima 1.1.4.01 Mercadoria A 1.1.4.02 Produtos em elaboração 1.1.4.02 Mercadoria B 1.1.4.03 Produto acabado A 1.1.4.03 Mercadoria C 1.1.4.04 Produto acabado B 1.1.4.04 Mercadoria D Quadro 9. Comparativo entre estoques de indústria, comércio e serviços Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado16 Veja que uma indústria possui diferentes tipos de estoques e deve controlá- -los separadamente, pois a informação de que há $ 15.000 em estoque é pouco qualificada. É preciso saber quanto representa a matéria-prima, os produtos em elaboração e os acabados. Já no comércio, não há matéria-prima nem produtos em elaboração, sendo o estoque composto pelos tipos de mercadorias disponíveis para venda. Por fim, uma empresa prestadora de serviços costuma não ter produtos em estoque. O estoque é apenas um exemplo das diferenças entre os planos de contas considerando a atividade das empresas. Em outros grupos do balanço patri- monial também podem ocorrer diferenças, bem como na DRE, e o custo acaba tendo diferentes denominações (Quadro 10). Fonte: Adaptado de Martins et al. (2003). Indústria Custo dos produtos vendidos (CPV) Comércio Custo das mercadorias vendidas (CMV) Serviços Custo dos serviços prestados (CSP) Quadro 10. Nomenclaturas do custo das vendas Veja que a nomenclatura utilizada segue a atividade da empresa. Uma vez que a indústria fabrica produtos, a nomenclatura utilizada é “produtos vendi- dos”; já no caso das empresas comerciais, utiliza-se o termo “mercadorias”, e nas empresas prestadoras de serviços, utiliza-se o termo “serviços”, conforme leciona Martins (2003). De forma geral, o plano de contas corresponde a um conjunto de normas, que pode ser complementado com o manual de contas, que contém a descrição do funcionamento e do que deve ser registrado em cada conta. Dessa forma, utiliza-se o manual para oferecer informações e indicações sobre a aplicação e a utilização de cada uma das contas, conforme aponta Martins (2003). Ou seja, o manual de contas nada mais é do que a descrição do que deve ser registrado em cada conta contábil. A utilização do manual de contas possibilita que qualquer pessoa da organização consiga identificar a conta contábil correta a ser utilizada para registro de algum fato (Quadro 11). 17Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Conta Origem Descrição 1.1.1.01 Caixa Balanço patrimonial — ativo circulante Registra todos os valores de dinheiro e cheques em poder da empresa. 2.2.1.01 Banco A Balanço patrimonial — passivo não circulante Registra o valor dos empréstimos a serem pagos a longo prazo para o banco A. 1.1.2.01 Banco A Balanço patrimonial — ativo circulante Registra os valores depositados em conta corrente no banco A. 3.1.1.01 Produto A DRE — Receitas Registra as receitas decorrentes das vendas à vista e a prazo do produto A. 3.2.1.01 Produto A DRE — Deduções Registra as devoluções de vendas por parte de clientes do produto A. Quadro 11. Manual de contas Algumas contas contábeis têm descrições idênticas, porém são utilizadas para registar eventos diferentes, em função da posição que ocupam no plano de contas. Conforme mostra o Quadro 6, embora seja possível identificar que a conta 3.1.1.01 se refere às receitas e a conta 3.2.1.01 se refere às deduções, em função do código, a descrição no manual de contas deixa claro o que deve ser registrado em cada uma. Assim, quem realiza lançamentos contábeis sabe para que serve cada código e o que pode e deve ser registrado em cada conta, para que as informações obtidas na contabilidade atendam, de fato, às necessidades da administração, dos agentes externos e do fisco. Schier (2006) afirma que, para um plano de contas ser considerado eficaz, ele deve: ser adaptável à necessidade da organização; ser claro, não causando dificuldades na interpretação; ser flexível e permitir adaptações, ampliações e reduções; observar os princípios e preceitos que regem a contabilidade. O autor afirma, ainda, que o plano de contas serve para orientar o registro das operações contábeis, possibilitando a visualização da real situação da empresa, independentemente de sua natureza. Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado18 BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispões sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União, Brasília, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm. Acesso em: 29 maio 2019. CREPALDI, S. A. Curso de contabilidade básica: resumo da teoria, atendendo as novas demandas da gestão empresarial, exercícios e questões com respostas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARTINS, E. et al. Contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 2003. SCHIER, C. U. C. Gestão de custos. Curitiba: Ibpex, 2003. 19Estruturação de um plano de contas: agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado
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