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Mediacao_e_Conciliacao_-_capitulos

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18 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
o Projeto de Lei n° 599/03, do deputado! Feu Rosa (pSDB-ES),
prevê a criação de um juizado especial que trate exclusivamente das ques-
tões conflituosas de família proposta está apensada ao Projeto de Lei n"
5.696/01, do deputado Pedro Fernandes (PFL-MA), que faculta aos es-
tados a criação de Juizados Especiais de Família. Proposta de substitutivo
apresentada ao relator da matéria no Senado Federal
O Projeto do Instituto Brasileiro de Direito Processual, enfo-
ca a mediação prévia e incidental e detalha os procedimentos para sua
implantação.
Tanto a conciliação, como a mediação e a arbitragem são meios não
adversarias de solução de conflitos, pois as partes' confiam suas desaven-
ças aos conciliadores, mediadores ou árbitros, respectivamente, para que
eles encontrem ou os faça encontrar uma solução nãoadversarial para
seus conflitos.
É preciso notar que no Brasil, no Código Comercial de 1850,
verdadeira obra prima do direito pátrio, incorporado de forma abrupta e
absurda pelo direito civil, que nada sabe sobre mercancia seus mecanismós
e seus direitos, já previa que todas as demandas entre comerciantes,
antes de ser distribuídas deveriam passar pelas câmaras de conciliação,
realizadas «intra maros» para não macular a pessoa do comerciante, peça .
importante da economia da época. Com o passar do tempo essa prática
caiu em desuso e só agora revigorada como uma nova forma de resolu-
ção de conflitos.
Hoje no Brasil, a morosidade do Judiciário se acentua e cresce a
insatisfação entre os que dele precisam. Mas, há meios igualmente se-
guros e bem menos desgastantes e onerosos para resolver conflitos de
interesses.
A mediação é uma dessas opções. Trata-se de uma autocomposição
feita por meio de um terceiro neutro, que facilita e incentiva os envol-
vidos em um conflito a aceitar voluntariamente uma solução reciproca-
mente favorável., por meio de um procedimento confidencial.
Capítulo II
MEDIAÇÃO
sUMÁRIO: 2.1.Conceitos de mediação. 2.2. Características da mediação.
2.3. O mediador. 2.4. O processo de mediação. 2.5. Mediação familiar.
2.6. Mediação familiar e os filhos. 2.7. Mediação empresarial.
2.1. Conceitos de Mediação
A Mediação se origina da palavra latina mediatio, meditationis no seu
.genitivo, que significa "intervenção com que se buscaproduzir um acordo ou ainda
.procm~ pacífico de acerto de conflitos, Clfiasolução é sugen'da, não imp7Jsta àspartes.
E o vocábulo empregado, na terminologia jurídica, para indicar todo
ato de intervenção de uma pessoa em negócio ou contrato que se realiza
entre outras. É à ação do intermediário de negócios". (Silva, 2004, p. 903)
As conceituações sobre Mediação são as mais variadas.
Na concepção de Áureo Simões Júnior ~ Mediação é uma técnicapela
qua4 duas ou mais pessoas, em conflitopotencial ou real, recorrem a um profissional
imparcial, para obterem num espaço curto de tempo e a baixos custos uma·solução
consensual e amigáve4 culminando num acordo em que todos ganhem. A Mediação é
uma resposta ao incremento da agressividade e desumanização de nossos dias, através
de uma nova cultura, em que a solução dos conflitospassa por um facilitador profis-
sional que tenta através de várias técnicas,pela conscientização epelo diálogopropor-
cionar uma compreensão doproblema e dos reais interesses e assim q/udar aspartes a
acordarem entre si, sem imposição de uma decisãopor terceiro, num ifetivo exercicio de
cidadania" (Simões Júnior, 2008).
Segundo Ch.ristopher W Moore, renomado mediador americano
~ mediação é definida como a interferência em uma negociação ou em um conflito, de
uma terceirapessoa aceitáoel, tendo opoder de decisão limitado ou não autoritário, e
que q/uda aspartes envolvidas, a chegarem voluntariamente, a um acordo, mutuamen-
te aceitáoe], em relação às questões em disputa" (Moore, 1006).
20 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
A mediação é uma forma de tentativa de resolução de conflitos
através de um terceiro, estranho, que atuará como uma espécie de faci-
litador, sem interferir na decisão final das partes que o escolheram. Sua
função é a de tentar estabelecer um ponto de equilíbrio na controvérsia,
aproximando as partes e captando os interesses que ambas têm em co-
mum, com a finalidade de objetivar uma solução que seja a mais justa
possível. É a tentativa de um acordo possível entre as partes, sob a super-
visão e o auxílio de um mediador.
A mediação é o método consensual de solução de conflitos, que
visa a facilitação do diálogo entre as partes, para que melhor administrem
seus problemas e consigam, por si só, alcançar uma solução. Administrar
bem um conflito é aprender a lidar com ele, de maneira que o relaciona-
mento com a outra parte envolvida não seja prejudicado.
A mediação é mais adequada para aqueles conflitos oriundos de
relações continuadas ou cuja .continuação seja importante, como as re-
lações familiares, empresariais, trabalhistas ou de vizinhança, porque .
permitirá o restabelecimento ou aprimoramento delas. A esses casos é
mais adequada a mediação, mas não há problema em se utilizar outros
métodos, da mesma forma que também se pode utilizar a mediação para .
a solução de outros tipos de conflitos.
É o método mais indicado para esses casos porque possibilita
a compreensão do conflito pelas partes, para que possam melhor
administrá-lo e evitar novos desentendimentos no futuro.
Na mediação, 0S conflitos só podem envolver direitos patrimoniais
disponíveis ou relativamente indisponíveis. Isso porque, apenas esses di-
reitos podem ser, objeto de acordo extrajudicial. Feito um acordo, este
pode ou não ser homologado pelo Judiciário, a critério das partes.
Outrossim, vale ressaltar que a mediação também pode ser feita em se
tratando de matéria penal. Nos casos de crimes sujeitos à ação penal privada
ou à ação penal pública condicionada, a mediação poderá culminar na re-
núncia da queixa-crime ou da representação. Nos casos sujeitos à ação penal
pública incondicionada, a mediação, a nosso ver, é possível, não para que se
ttansacione sobre o direito de ação, que pertence ao Estado, mas apenas para
que as partes dialoguem, caso queiram preservar seu relacio~ento.
Uma das grandes vantagens da mediação é que ela pode evitar um
longo e desgastante processo judicial, pois ocorre antes que as partes se
definam por uma briga nos tribunais, resolvendo suas diferenças de for-
ma extrajudicial, levando ao Judiciário, apenas aquelas questões que não
podem ser resolvidas de outra forma.
I
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 21
2.2. Características da Mediação
A mediação é voluntária, confidencial, não adversarial, mais econô-
mica, imparcial e neutro o mediador.
É voluntária porque os litigantes não são obrigados a negociar,
a me~ ou a fazer acordo, influenciados por alguma parte interna ou
externa. As partes aderem livremente ao processo e dele podem, também,
livremente sair. Não há nenhuma norma legal que obrigue qualquer
das partes a aderir a um processo de mediação. Nem o mediador tem
autoridade para impor uma solução às partes.
O mediador tem o propósito de auxiliar na resolução do problema
que trazem, mas são as partes que deverão encontrar a solução ou as so-
luções desse problema. Quando chegarem a um acordo que seja possível,
será lavrado um Termo de Acordo. Se não chegarem a um acordo, estão
livres para procurar outros meios de resolução de disputa que conside-
rem apropriados.
É confidencial, pois a confidencialidade alcança a todos que
se encontram na sessão de mediação. Portanto, as partes e até os
observadores, se houver, deverão guardar sigilo acerca do que ali for dito.
: O mediador não poderá revelar o que sucedeu nas sessões, portanto está
impedido de ser citado como testemunha, caso o conflito não se resolva
pela mediação e seja ajuizada uma ação.
O mediador também não poderá revelar confidências de uma parte,
se houve sessão privada, a não ser, havendo, expressa autorização para
fazê-lo,
Assevera Christopher W Mooreque "alguns mediadores pedem àspartes
que assinem uma declaração de conjidencialidade ou um formulário de consentimento,
destinado aproteger o mediador de uma futura intimação, desistindo de exigir tanto a
sua presença como testemunha em um processojudicial quanto a apresentação de suas
notas como evidências em um processo legal" (Moore, 1996).
A mediação é não adversarial porque a natureza do sistema legal
leva os participantes a se tornarem adversários. Ocorre que muitas pes-
soas em disputa não são adversárias, e, mesmo que fossem não estão
sempre inclinadas a sê-lo, Querem resolver o problema porque enten-
dem a importância de manter suas relações futuras. As pessoas com esta
abordagem de vida escolhem a mediação.
A mediação é mais econômica, não só financeiramente, mas tam-
bém ao tempo dispendido. Os processos judiciais, por serem lentos e
afeitos a uma infinidade de recursos, tornam-se mais onerosos.
22 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
A prioridade do processo de mediação é a restauração da harmonia,
portanto o mediador tem de manter sua imparcialidade com relação às
partes. Se uma delas entende que o mediador está sendo parcial, deve co-
municar imediatamente para que o medidor mude sua maneira de agir e, se
assim não ocorrer, será substituído ou a mediação será encerrada. O equilí-
brio das relações entre as partes tem de ser preservado em todo o processo.
2.3. O Mediador
A figura do mediador é fundamental para o bom andamento do
processo de mediação. Ele é o terceiro neutro, isto é, aquele (qualquer
pessoa que conheça o processo de mediação) que, sem emitirjuízo de
valor, auxilia as partes a conversarem. Procura restabelecer o relaciona-
mento, atuando como um catalizador, procurando potencializar o posi-
tivo do conflito.
O mediador não está interessado nos resultados, está interessado
em que as partes saibam dialogar, e busquem seus interesses. Os me-
lhores mediadores não possuem índices significantemente maiores de
acordos obtidos, mas eles possuem participantes de mediação significan-
. temente mais felizes.
O médico e o advogado usam seus conhecimentos para fazer um
diagnóstico e dão um tratamento, já o mediador escuta e, usando técnicas
adequadas, leva as pessoas a fazerem, elas próprias seus diagnósticos e se
dêem o tratamento.
É necessário que o advogado se convença das vantagens da solução
negociada dos litígios, indo, em busca do que é a finalidade primeira de
sua profissão, a busca da justiça.
Assim se posiciona Soriano quanto ao advogado-mediador, "Cresce
com o tempo e ressalta o valor da função social e de serviço público
da advocacia o caráter de mediação social que possuem os advogados.
Temos, talvez, a idéia do advogado como defensor judicial, o advogado
no "parquet", postulando os direitos de seu cliente. Esta idéia não cor-
responde à realidade. Os advogados são mais mediadores sociais que
outra coisa; 'en su bufete' orienta o cliente e resolve seus problemas,
formulando propostas que não passam pelo crivo judicial. Em grande
medida, o advogado é um mediador ou árbitro, I realizando uma tarefa
muitas vezes silenciosa, e que não sai à superfície, mas tremendamen-
te importante qualitativa e quantitativamente para a eficácia do Direito"
(Soriano, 1997, p. 423).
CURSO TEÓRICO E PRATICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 23
2.4. O Processo de Mediação
No Brasil, não existe um modelo pré-estabelecido para o processo
de mediação, porque não há nenhuma lei referente ao instituto, nos mol-
des da Lei de Arbitragem.
Qualquer pessoa jurídica ou física capaz poderá requerer a media-
ção para solução de uma controvérsia a instituições ou entidades especia-
lizadas, ou a mediadores ad hoc,
A solicitação da Mediação, bem como o convite à outra parte para
dela participar, deverão, preferencialmente, ser formulados por escrito
pelo mediador escolhido.
Quando a outra parte não concordar em participar da mediação, a
primeira será imediatamente comunicada, também por escrito
Se as partes concordarem, deverão participar do processo pessoal-
mente. Na impossibilidade comprovada de fazê-lo, poderão se fazer re-
presentar por uma out;ra pessoa, com procuração que outorgue poderes
especiais de decisão.
As partes poderão se fazer acompanhar por advogados e outros
assessores técnicos, e pessoas de sua confiança ou escolha, desde que es-
tas presenças sejam convencionadas entre as partes e consideradas pelo
mediador úteis e pertinentes ao necessário equilíbrio do processo.
O processo se iniciará com uma entrevista que cumprirá os seguin-
tes procedimentos:
1)Émarcado o primeiro encontro com o mediador onde são feitos
os arranjos preliminares. Esse é o momento em que as partes assinam o
acordo, comprometendo-se a utilizar a mediação para resolver o conflito
existente. Acertam os honorários do mediador, o número mínimo 'e ho-
rário das sessões e o local. O mediador se apresenta e explica às partes o
processo de mediação.
Em seguida, o mediador expõe as regras básicas da mediação, que
são: a) a necessidade de escuta cuidadosa dos argumentos da outra par-
te; b) a proibição de agressões ou falta de respeito com a parte contrária
ou com o mediador; c) a obrigação de ser preservada a confidenciali-
dade quanto a tudo que for dito nas sessões de mediação (exceto casos
que envolvam crimes); d) a possibilidade ou não (decidirão as partes
previamente) de serem realizadas reuniões individuais com cada parte
em casos de necessidade de serem aclaradas situações duvidosas ou
constrangedoras; e) a possibilidade de as partes se fazerem acompanhar
de advogados.
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24 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
2) O depoimento inicial das partes. Nesse momento, as partes têm
de se reconhecerem como interlocutores. A negação do interlocutor é,
talvez, o primeiro desafio do mediador. Uma parte tem.de ouvir a outra.
Tem que ocorrer a troca de informações, mesmo que uma pense diferen-
temente da outra.
Émuito importante que cada uma das partes, ao expor o problema
e o que dele pensa, não seja interrompida. Cabe ao mediador informar
que os debates serão desenvolvidos no momento oportuno.
A Mediação tem como preocupação básica a comunicação e o re-
lacionamento, somente podendo avançar se esses dois elementos estive-
rem bem trabalhados.
3) A busca do real interesse. Nesse momento, o mediador deve
fazer com que as partes deixem suas posições e busquem seus reais in-
teresses. Cabe ao mediador mapear os interesses e-buscar o ponto de
tangência, para nesse ponto especifico, poder fazer um bom trabalho.
Busca-se neste estágio a 'questão do processo.
4) A criação de opções. Definido o real interesse, deve o medi-
dor, com o auxílio das partes, procurar, opções de ganho mútuo, isto
é, apresentar soluções em que os interesses sejam preservados. É im- '
portante, neste momento, realizar-se um teste da realidade, quando as
partes simulam a utilização das opções propostas a fim de verificar o
êxito ou não delas.
5) Os critérios. Os critérios, que devem ser objetivos, precisam in-
depender da vontade de qualquer dos lados. Idealmente, para garantir
um acordo sensato, os critérios objetivos devem ser não apenas inde-
pendentes da vontade, como também legítimos e práticos. A negociação
baseada em princípios produz acordos sensatos amistosos e eficientes.
Quanto mais se aplicar padrões de imparcialidade, de eficiência ou méri-
to científico ao problema especifico, maior será a probabilidade de pro-
duzir uma solução final sensata e justa. (FISCHER, 1985, p. 75).
Portanto, os critérios têm que ter legitimidade, quanto mais con-
cretos melhor (laudos, informações de jornal, pesquisas, tabelas, valor de
mercado, etc.).
6) O compromisso. Pode ser qualquer compromisso, desde um
aperto de mão, até um acordo homologado pelo juiz, mas, quando há
necessidade de futura execução, que seja claro e bbjetivo.
O Mediador poderá conduzir os procedimentos da maneira que
considerar apropriada, levando em conta as circunstâncias, o estabeleci-
do na negociaçãocom as partes e a própria celeridade do processo.
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 25
O Mediador cuidará para que haja equilibrio de participação, infor-
mação e poder decisório entre as partes.
Salvo se as partes dispuser= em contrário, ou a lei impedir, o
Mediador poderá: a) aumentar ou diminuir qualquer prazo; b) interrogar
o que entender necessário para o bom desenvolvimento do processo; c)
solicitar às partes que deixem à sua disposição tudo o que precisar para
sua própria inspeção ou de qualquer perito, tais como: a apresentação
de documento ou classe de documentos que se encontre em sua posse,
custódia ou poder. de disposição, desde que entenda relevante para sua
análise, ou por qualquer das partes; d) solicitar às partes que procurem
toda informação técnica e legal necessária para a tomada de decisões.
O processo da mediação encerrar-se-á: a) com a assinatura do ter-
mo de acordo pelas partes; b) por urna declaração escrita do mediador, .
no sentido de que não se justifica aplicar mais esforços para buscar a
composição; c) por uma declaração conjunta das partes, dirigida ao me-
diador, com o efeito de encerrar a mediação; d) por uma declaração escri-
ta de uma parte para a outra e para o mediador, com o efeito de encerrar
a mediação.
O mediador ficará impedido de atuar ou estar diretamente envolvi-
do em procedimentos subseqüentes à mediação, tais como na arbitragem
ou no processo judicial, quando a mediação obtiver êxito ou não, a me-
nos que as partes disponham diferentemente.
As informações da Mediação são confidenciais e privilegiadas. O
mediador, qualquer das partes, ou outra pessoa que atue na mediação,
não poderão revelar à terceiros ou serem chamados ou compelidos, in-
clusive em posterior arbitragem ou processo judicial, a revelar fatos, pro-
postas e quaisquer outras informações obtidas durante a mediação.
Os documentos apresentados durante a mediação deverão ser de-
. volvidos às partes, após análise. Os demais deverão ser, destruídos, ou
arquivados conforme o convencionado.
Os custos, assim consideradas as despesas administrativas e os ho-
norários do mediador, serão rateados entre as partes, salvo disposição
em contrário.
No caso de mediação realizada por instituição ou entidade especia-
lizada, estes custos deverão seguir as respectivas tabelas.
Os honorários do mediador deverão ser acordados previamente e
poderão ser estabelecidos por. hora trabalhada ou outro critério definido
com as partes. Quando a mediação for realizada por meio de instituição
ou entidade especializada, serão adotadas as respectivas tabelas.
------'--- 1~_
26 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
o mediador não poderá ser responsabilizado por qualquer das par-
tes por ato ou omissão relacionada com a mediação conduzida de acordo
com as normas éticas e regras com as partes acordadas.
2.5. Mediação Familiar
A mediação familiar é uma das formas de resolução alternativa de
conflitos no qual uma terceira pessoa neutra e imparcial auxilia as partes
envolvidas em uma disputa a obter um acordo mutuamente aceitável.
Os objetivos da mediação familiar, são: a) facilitar a comunicação
entre as partes; b) diminuir os conflitos provenientes de uma separação;
c) possibilitar ganhos mútuos; d) obter um resultado benéfico e satisfa-
tório às partes envolvidas em uma disputa.
A mediação familiar possui, algumas vantagens, são elas: a) rapidez
na solução do conflito; b) economia; e c) acessibilidade. .
A mediação familiar é a forma de resolução de conflitos que con-
tribui para uma reorganização da vida pessoal e familiar através do
estabelecimento de uma nova maneira de comunicação funcional e con-
seqüentemente de um acordo final entre as partes.
As principais áreas de atuação da mediação familiar, são: a) separa-
ção e divorcio; b) proteção dos filhos; c) guarda e regulamentação de visi-
tas; d) divisão de bens; e) reconhecimento de filhos; f) pensão alimentar;
g) herança; e h) demais questões do direito de família,
Porque mediação e não o judiciário?
Porque a mediação é acessível a todos, de solução rápida, eficiente
e o acordo é escolhido pelas partes.
Enquanto que no judiciário, o acesso é dificultado, a solução len-
ta, ineficiente e não se resolve o problema, sendo a decisão imposta
pelo juiz.
O principal objeto da mediação familiar é a familiaem crise, en-
contrada no momento em que seus membros estão vulneráveis, sendo
facilmente influenciados por sentimentos negativos corno a vingança.
A resolução desses conflitos pelo sistema judiciário ressalta ainda
mais tais sentimentos. Na disputa judicial cada parte tem um advogado
que busca ganhar a causa e não perceber os reais problemas do conflito.
Essa forma de resolução de conflitos dificulta a comunicação entre
as partes e aumenta suas divergências porque não percebe que os pro-
blemas antes de jurídicos são psicológicos, afeti'l0s e de relacionamento.
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 27
Na mediação a batalha não ocorre entre as partes, mas entre os confli-
tos, que são identificados e resolvidos pelas próprias pessoas. Com a ajuda
do mediador os conflitos são discutidos, entendidos e só depois resolvidos.
No processo de mediação não esta presente toda a burocracia do
Estado, por isso os conflitos são resolvidos de forma muito mais rápida.
N a mediação não há um juiz que decreta quem é o vencedor, nem
partes, mas sim pessoas que recebem a ajuda de um mediador para aca-
bar com a discórdia existente.
Na mediação todos ganham, não há um vencedor e um perdedor.
As partes em comum acordo escolhem uma solução que satisfaça cada
uma delas, não estão sujeitas a uma decisão imposta pelo juiz.
A mediação é acessível a todos e esta muito presente em nossa
sociedade. Padres, sacerdotes, rabinos, pastores atuam como mediadores
informais resolvendo conflitos familiares, escolares e também os que en-
volvem membros da própria'cormmidade.
J
I
2.6. Mediação Familiar e os Filhos
A Mediação ajuda a planejar o futuro das crianças de forma privada
e confidencial. Elas já sofrem o bastante com a separação dos pais e a
batalha judicial tende a piorar o sofrimento delas que muitas vezes se
acham as causadoras de todo o conflito.
Daí a importância da mediação, que ajuda os pais a recuperar a con-
fiança um no outro, restabelecer a comunicação e desenvolver formas de
lidar com suas diferenças, sem envolver e prejudicar as crianças.
Somente os pais sabem o que é melhor para seus filhos. Se você e
seu parceiro podem juntos tomar decisões sobre seus filhos porque dei-
xar que um juiz decida por vocês?
As melhores decisões são aquelas tomadas por nós mesmos e não
impostas pelo judiciário.
Na mediação não há um vitorioso e um perdedor como no
Judiciário, a mediação ajuda as partes a chegarem num acordo que satis-
faça ambos, todos saem ganhando.
A Lei n" 11. 698, de 13 de junho de 2008, altera o Código Civil,
para instituir e disciplinar a guarda compartilhada. Na prática, esse tipo
de guarda já era reconhecido pelas decisões judiciais, quando havia a pos-
sibilidade de entendimento entre os pais.
Na guarda compartilhada existe a responsabilização conjunta e o
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe com relação a seus filhos.
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28 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRABEM 29
Assim, é razoável supor que a possibilidade de diálogo entre os pais seja
uma condição mínima para que esse tipo de guarda se estabeleça, tendo
em vista que os filhos não podem ficar sob "um fogo cruzado", isto é,
entre as desavenças dos pais.
Nesse sentido, parece preocupante a nova redação do artigo 1.584
do Código Civil que, em seu § 2° estabelece: "Quando não houver acordo entre
a mãe e opai quanto àguarda do filho, será aplicada, sempre que possiuel, a'guarda
compartilhada )).
Como aplicar a guarda compartilhada quando não há acordo entre
a mãe e o pai?
Eis a questão. Esperamos que os julgadores tenham a sensibilidadede
não decretarem a guarda compartilhada "goela abaixo" àqueles pais que mal
conseguem conversar. Que o compartilhamento da guarda dos filhos seja
um estimulo aos pais que buscam o diálogo, o consenso e percebem que,
embora a relação de casal tenha terminado, a relação parental permanece.
E aqueles pais que não conseguem: entrar em um acordo? Na maio-
ria das vezes, uma audiência conciliatória de poucos minutos não é su-
ficiente para produzir um consenso. Nesse caso, outros procedimentos
poderiam ser mais adequados. Um exemplo seria a mediação de confli-
tos, na medida, que busca justamente o restabelecimento da comunica-
ção, pode ser muito útil na implementação prática dessa nova lei.
2.7. Mediação Empresarial
Elencando as características do trabalho de mediação, observa-se
que: a) o processo é voluntário (não sendo sempre um requisito acei-
to); b) o acordo não é obrigatório; c) o mediador necessita ter aptidão e
habilidade de comunicação, trabalhar voluntária ou profissionalmente,
cobrando honorários e sendo obrigado a respeitar total sigilo sobre o
processo, não podendo ser arrolado como testemunha no judiciário e
não tendo poder para obrigar as partes a cumprirem o acordo.
Os resultados na mediação são imprevisíveis, com- base no pen-
samento sistêmico, que considera o ser humano complexo, instável e
intersubjetivo (Vasconcellos, 2003).
O mediador deve ouvir as partes imparcialmente, com uma visão
sistêmica, observar, e assim facilitar a percepção da co-responsabilidade
no conflito.
Bush e Folger (19941 asseveram que na visão atual de uma institui-
ção social., a intervenção em' conflitos deve ter um enfoque relacional,
ou seja, a mediação .deve desenvolver e integrar forças individuais de
empatia pelo outro. Assim, substitui-se a forma linear em que se bus-
ca um único culpado na interação conflituosa, e também a dicotomia,
"certo-errado" pela conscientização do protagonismo de cada pessoa
envolvida no processo conflituoso, ou seja, a participação de todos os
envolvidos na formação do conflito.
Em síntese, o mediador atua sem juízo de valor, de maneira a com-
preender os pensamentos, sentimentos, fantasias e ações das pessoas
durante a mediação. Dessa forma, o aprendizado pelas partes se torna
mais efetivo, com maior abertura para novas informações e, consequen-
temente, para uma conscientização de que há mais de uma perspectiva
nas interações e comportamentos (Wheeler, 2002).
Suares (1996) explica que a principal característica da mediação é a
inclusão de um terceiro lado, a que denomina de mediador. O mediador
ajuda as partes a resolverem o conflito de forma pacifica através da fa-
cilitação de um contexto mais flexível para se conduzir as disputas. Ele
apóia os envolvidos no conflito a se conscientizarem sobre as pessoas,
que serão afetadas por mudanças, e assim, facilita o desenvolvimento de
um processo de educação mútua e de co-responsabilidade.
Numa visão sistêmica, a interatividade contínua entre os elementos
se complementa por um movimento que preserva a totalidade, integri-
dade e identidade do todo. Essa integração dinâmica só é possível graças
à recursividade e historicidade do sistema que cria condições de que re-
veja seu passado e o momento presente, com vistas no futuro (Oliveira
Numa empresa, a comunicação pode fortalecer as interações pes-
soais entre os funcionários, gerando uma força produtiva, como também
pode estreitar ou desagregar os relacionamentos entre equipes e pessoas
por meio da geração de frustrações, ansiedade, insegurança e outros sen-
timentos tóxicos (Frost, 2002).
O conflito ocorre sempre que partes interdependentes percebem
os objetivos como incompatíveis. Crenças e valores diferentes podem ge-
rar o desconhecimento das necessidades do outro. Esse comportamento
passa a desfavorecer habilidades para trabalhar em equipe e afetar assim
o ambiente de trabalho, o qual se torna tenso. Divergências mais comple-
xas podem gerar impactos sérios na produtividade, no grupo, no clima
organizacional e na moral (Nugent, 2002).
A mediação é uma prática que se caracteriza pela intervenção de um
terceiro, que observa e respeita a vontade das partes. Esta terceira pessoa
precisa ser aceita voluntariamente pelas partes envolvidas.
30 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 31
& Fischer, 2000). Nessa ótica, o mediador não tem poder de decisão:
observa o contexto, explora as imagens mentais com relação ao passado
conflituoso facilitando a percepção de novas possibilidades para o futu-
ro, propiciando o surgimento de novos comportamentos,
Essa característica de facilitador de uma. percepção mais ampla e
fluente da situação, sem julgar critérios de valor, o distingue de um juiz
de direito que decide com base em normas sociais, regras, regulamentos,
leis ou contratos.
É fundamental que o mediador seja aceito pelas partes envolvidas na
disputa, com confiança, que vejam nele habilidades de não favorecimento
parcial, para que auxilie as partes a chegarem a uina solução voluntária
(Ross & Conlon, 2000). Essa terceira pessoa neutra e imparcial a~ as
partes envolvidas em urna disputa a obter um acordo mutuamente aceitável. .
A mediação empresarial tem por finalidade buscar acordos entre pes-
soas em litígio empresarial por meio da transformação da dinâmica adver-
sarial, comum no tratamento de conflitos, para urna .dinâmica cooperativa.
O conflito nas empresas geralmente se inicia por um pequeno de-
sentendimento que, dependendo da habilidade e flexibilidade na comuni-
cação, pode vir ou não a se transformar numa controvérsia, que por sua
vez desaguará no conflito, agora se tornando uma franca disputa.
Por exemplo: Em uma empresa o Diretor Administrativo diz algo
para o Diretor Técnico rispidamente porque está assoberbado e tenso.
O Diretor Técnico se ofende, mas não replica. Não ocorre ao Diretor
Administrativo pedir desculpas ao Diretor Técnico, que por sua vez não
diz que está humilhado. O Diretor Técnico, irritado com a falta do pe-
dido de desculpas, começa a boicotar o Diretor Administrativo, que não
entende o que está se passando, mas ao mesmo tempo acha que pode ser
apenas uma impressão sua.
Esse pequeno incidente vai provocando ressentimentos cada vez
maiores em ambos os indivíduos, até desaguar em um esfriamento da co-
municaçãoentre o Diretor Administrativo e o Diretor Técnico, podendo
chegar a um rompimento definitivo, prejudicando a empresa.
Também é importante lembrar que a linguagem é um dos principais
fatores geradores e mantenedores de conflitos. Formas de comunicação
verbais ou não verbais, como expressões faciais e posturas corporais,
podem, despertar sentimentos de ódio, rejeição, medo, raiva e ameaça,
que, se endossados por valores e práticas culturais, poderão gerar as mais
variadas reações, que vão desde o recolhimento até a violência, tornando
a comunicação o grande vilão da história. I
[
I,
I
É comum que os lideres das empresas não saibam tratar o conflito
de forma tão sistemática e construtiva quanto tratam as questões ligadas
a sistemas de administração financeira, publicidade, política de recursos
humanos e outros. Nesses conflitos os clientes se queixam; colegas
disputam e se atacam; acusados se entrincheiram; sindicatos exigem; e
advogados defendem. As empresas estão plenas de conflitos tanto quanto
as famílias, e pelas mesmas razões: afeto, reconhecimento e poder.
Facilitar a comunicação entre as partes, diminuir os conflitos prove-
nientes de hierarquia de poder dentro da empresa, diminuir os conflitos
entre credores e devedores, possibilitar ganhos mútuos, obter resulta-
do benéfico e satisfatório às partes envolvidas em uma disputa e muitas
vezes para a própria empresa são os principais objetivos da mediação
empresarial.
A rapidez na solução do conflito, a economia e a acessibilidade são
consideradas algumas das principais vantagens na mediação empresarial.
A mediação empresarial é a forma de resolução de conflitos que
contribui para urna reorganizaçãoda empresa verificando quais os pon-
tos de divergências entre o poder hierárquico e seus subordinados, entre
as diretorias, entre os sócios ou muitas vezes, entre os próprios emprega-
dos. E através do estabelecimento de uma nova maneira de comunicação
funcional e conseqüentemente de um acordo final entre as partes, que
será solucionado o problema.
A mediação empresarial também é usada na resolução de conflitos
entre credores e. devedores, na cobrança de dividas, pois muitas vezes
uma demanda judicial demora anos e através da mediação consegue-se
uma solução rápida, eficiente e de pequeno custo.
Em resumo a mediação empresarial é usada na dissolução de so-
ciedade, na resolução de pro~lemas de poder hierárquico nas empresas,
nas disputas de diretorias, entre os empregados e os empregados e supe-
riores, nas cobranças de dividas, na resolução de sociedade por morte de
um dos sócios, na exclusão de sócio remisso e nas demais questões do
direito empresarial.
1------------------------------------ -------------~---------------------------------
Capítulo III
CONCILIAÇÃO
sUMÁRIO: 3.1. Fontes históricas da conciliação. 3.2. Conciliação no
Brasil. 3.3. Conceitos de conciliação. 3.4. Modalidades de concilia-
ção. 3.5. Conciliadores. 3.6. Características e funções do conciliador.
3.7. Deveres do conciliador. 3.8. Honorários do conciliador: 3.9.
Objetivos e benefícios da conciliação. 3.10. Conciliação em primeiro
grau. 3.11. Conciliação em segundo grau.
3.1. Fontes Históricas da Conciliação
Na verdade não se tem ao-certo a origem da conciliação. Os es-
tudiosos encontraram indícios nos juízos de pacificação da Holanda,
Rússia, Inglaterra, Dinamarca e Franca.
Dentre os estudiosos da matéria, destaca-se Mortara na Itália e
Emilio A. Agrelo na Argentina, país que está despontando na área de
meios alternativos de solução de conflitos, especialmente os adversariais.
O escritor argentino no artigo de sua autoria denominado IA con-
ciliacion em /os procesos por delitos de accion privada, publicado na Revista de
Derecho Procesal, Ano VII, 1949, Argentina, reforma a posição dos es-
tudiosos afirmando que a fonte da conciliação se encontra nos Decretos
da Asamblea Contituyente de Francia Del16 y 24-8 -1790.
Para Sebastião de Souza, outro, estudioso do tema, a conciliação
teve suas origens no Direito Português e vigorava antes mesmo das '
Ordenações, que já naquela época dispunha da conciliação, que por sua
vez era exercida pelos Avindores, uma espécie de Juiz de Paz, que tinha
por função, justamente, fazer com que as partes se entendessem, evitan-
do assim a disputa judicial.
Para o nosso jubilado mestre Moacyr Amaral Santos, em seu livro
Primeiras Linhas de Direito Civil - página 46 o instituto da conciliação foi
I
I
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34 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
desenvolvido para atender às questões religiosas ~ políticas, pois elas de-
veriam ser resolvidas intra muros justamente para preservar segredos e
eventuais acertos. Para o Mestre, a conciliação surgiu por volta de 1139
no direito português, através das "cartas do rei ou de outros senhores': pelas
quais se regulava cada um dos Distritos ou Conselho do Reino.
Alguns doutrinadores admitem a existência da conciliação entre os
hebreus, nas leis da Grécia antiga e na lei das doze tábuas. "Sin embargo,
COUIVRE afirma que Iajusticia de conciliación o de avenimiento pertenece más
bien a Ia tradición germana y a Iajusticia medieual; en Ia cual eljuez actuaba com el
propósito de dirimir Ia controuersia mediante Ia conciliación que a élle parecia equita-
tiva." (COUTURE:1981, p. 182)
Informa CRISTÓVAo PIRAGIBE TOSTES MALTA, com apoio
em]UAN MENÉDEZ PIDAL, que a moderna conciliação tem suas
origens "nos mandaderos de paz do Fuero Ju~o (Lei xv, Tít. I, livro II), nos
Jueces.Auenidores das Partidas (Lei XXIII, Tít. IV; Pratida Ill), nas Ordenanças de
Bilbau, na Instrução de Corregedores de Carlos m (15/5/788), nas Ordenações de
Matrículas de Canos W': acrescentando que "a conciliaçãode tipofrancês, inspira-
da no sistema holandês,passou à Constituição Espanhola de 1812 e daquela Carta ao
Decreto de IAs Cortes de 13de maio de 1821, sendo que a Lei de Ef!iuiciamento Civi~
de 05/10/1855, transformo» essa instituição no ato de conciliaçãocomperfil moderno,
passando finalmente à Lei, vigente, de 1881." (MALTA, 1997, p. 154)
Os Conselhos de Prud'hommes, restabelecidos por Napoleão I por
Decreto de 18 de março de 1806, a pedido dos fabricantes de seda de
Lyon, utilizavam a conciliação em sua atuação prática.
Já dispunham as Ordenações do Reino, no livro III, Título xx, §
1°, que "no começo da demanda dirá ojuiZ a ambas aspartes, que antes que façam
despesas, e sigam entre elas ódios e dissenções, se devem concordar, e não gastar suas
fazendas por seguirem suas vontades, porque o vencimento da causa sempre é duvidoso.
E isto, que dizemos, de reduifrem as partes a concórdia, não é de necessidade, mas
somente de honestidade nos casos, em que o bem puderem fazer. n
Segundo os fatores dos novos diplomas, a instituição de audiência
prévia de tentativa de conciliação teve sua origem no modelo de Stuttgart,
cidade alemã onde a prática foi anteriormente adotada.
O contraponto saudável da conciliação democrática é o conflito,
que não implica, necessariamente, na violência. Os conflitos podem e
devem ser explicitados e processados pelas vias legais, quando o Estado
Democrático de Direito possibilita que os pobres e.excluídos defendam
suas reivindicações. O papa João Paulo Il, nas suas encíclicas, especial-
mente na -Centesimus Annus; lisa muito esse termo, Afinal vivemos em
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRApEM 35
sociedades plurais, multiculturais, diferenciadas, onde os int~resses eco-
nômicos e sociais muitas vezes se confrontam com diferentes projetos de
sociedade e nação e distintas concepções filosóficas e religiosas.
O desafio que se coloca hoje à nossa tradição conciliatória é univer-
salizá-la, incluindo no debate nacional os que ainda estão à margem desse
processo, a grande massa dos excluídos e deserdados. Para que elas parti-
cipem, cumpre assegurar-lhes os direitos básicos, começando pelo direito
à alimentação. Parafraseando Santo Tomás de Aquino: A prática das vir-
tudes cívicas e republicanas pressupõe o atendimento das necessidades
materiais básicas. E os direitos fundamentais conforme aprendemos nas
lições da história, são conquistados nas lutas e movimentos sociais. Além
de ouvir e responder o clamor dos pobres, precisamos respeitar os seus
espaços de organização para que se tornem sujeitos e participantes da
grande conciliação brasileira na liberdade, na inclusão e na justiça social.
A história da justiça é a história dos grandes conciliadores. Jesus
Cristo não só recomendou a conciliação, como a praticou em- relação
a Paulo de Tarso, o ex-perseguidor dos cristãos; a Zaqueu, o publicano .
usurário; a Pedro, o negador; a Madalena, a pecadora; aJudas, o traidor; a
Dimas ea Gestas, os dois ladrões; e aos próprios romanos, ao recomen-
dar: "Dai a Césaro que é de César:" (MATEUS, 22:15)
Aconselhou ainda: "Reconcilia-te depressa com o teu adversário enquanto
estais a caminho com ele." (MATEUS, 5:25)
E mais: ';4ntes de depositar tua oferenda no altar, reconcilia-teprimeiro com
o teu irmão." (MATEUS, 23:24)
Ele sabia do valor da conciliação para a paz. Deixou o Sermão da
Montanha como o maior apelo de paz à humanidade: "Bem-aventurados os
pacificos porque serão chamados filhos de Deus. "
É que sem o diálogo, sem acordo, sem a conciliação, não teremos
paz e seremos uma sociedade cada vez mais violenta. A conciliação deve
ser uma obra de educação, para que a sociedade aprenda a conjugar o
verbo amar, em lugar dos mais comuns como enganar, ameaçar, agredir,
matar, assaltar, seqüestrar, estuprar e muitos outros que fazem parte da .
filologia da violência.
3.2. Conciliação no Brasil
A conciliação no Brasil, ao contrário do que muitos pensam, é mui-
to antiga, pois data do descobrimento.O Código Manuelino de 1521
exigia a conciliação prévia e obrigatória no começo da demanda.
I
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36 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
Por ocasião da Independência do Brasil em 07.09.1822, vigorava
em nosso país as Ordenações Filipinas de 1603 que no livro 3, título
20 § 10 dispunha: "E no começo da demanda dirá o JuiZ a ambas as partes que
antes que façam despesas e se sigam entre os ódios e dissensões, se devem concordar e
não gastar suas fazenda por seguirem suas vontades porque o vencimento da causa é
sempre duvidoso'~
Também o Código de Processo Criminal do Império de Primeira
Instância, de 29.11.1832, em seu único título faz referência à conciliação em
vários artigos dispondo no lOque: "Pode intentar a conciliaçãoperante qualquer
juiZ depaz onde o réufor encontrado ainda que não sda afreguesia do seu domidlio'~
O velho, porém magistral, Código Comercial de 1850, verdadeira
obra prima do Direito Mercantilista, se referia ao Decreto n° 737/1850,
que nos seus artigos 23/38, exigia a sessão conciliatória em todas as cau-
sas comerciais.
O Regulamento n" 737, de 25 de novembro de 1850, recebido pela
República pelo Decreto n" 763, de 19 de setembro de 1890, aplicável
ao processo, julgamento e execução das causas cíveis em geral, salvo as
reguladas para processos especiais, era taxativo a respeito da conciliação
prévia, ao dispor em seus artigos 23 e seguintes sobre o tema: 'Nenhuma
.causa comercial será proposta em juizo contencioso, sem que previamente se tenha
tentado o meio da conciliação, oupor atojudicia~ ou por comparecimento voluntário
das partes ... JJ
A primeira Constituição do Brasil de 1824 previa,. ao tratar do
Poder Judicial, no Título VI, artigo 161, que "sem sefazer constar que se tem
intentado o meio de reconciliação, não se começaráprocesso algum. JJ
A supressão da tentativa de conciliação obrigatória só veio a ocor-
rer em 1890, pelo Decreto n ° 359, porque segundo a filosofia então
imperante, não se harmonizava com a liberdade individual, era inútil,
causava despesas e procrastinações. Não se vedava, entretanto, a auto-
-composição espontânea, por renúncia, reconhecimento ou transação.
Na história do nosso país, as práticas conciliatórias começaram no
alvorecer da civilização brasileira.
José Honório Rodrigues contrapõe dois tipos no pro~esso de colo-
nização nacional. De um lado havia o colonizador João Ramalho, deter-
minado a destruir aquela multidão de nações que povoavam o Brasil. De
outro emergiram os Diogo Álvares do Brasil, conciliadores, convencidos
de que o bem desta terra era a sua empresa.
A tese do autor de conciliação e reforma no Brasil parte de um
desafio histórico-cultural que remonta a Capistrano de Abreu quando
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 37
traça o perfil de Jerônimo de Albuquerque, um dos heróis da miscige-
nação e da integridade territorial do Brasil. Nas veias de Jerônimo de
Albuquerque circulava o sangue potiguar de sua mãe, Maria do Arco
Verde, e disto não se envergonhava, antes o vimos em mais de uma con-
juntura proclamando a sua extração. Assim devia sorrir-lhe a idéia de
conciliar os parentes reduzidos dos últimos apuros por tantos trabalhos
e tão continuada perseguição.
No entanto, a implantação da cultura de conciliação no país seguiu
caminhos paradoxais e nem sempre emancipatórios. A independência
do Brasil emerge de um processo que se estendeu à antiga metrópole e
à Inglaterra, nesse caso com elevado grau de subserviência e servilismo.
Mas a história e os processos conciliatórios, mesmo distantes do povo e
dos pobres, não se dão de forma linear, pois uma nação não aparece e se .
completa de uma hora para outra. Ela se constitui lentamente, por vezes
sob convulsões profundas, numa trajetória de zigue-zagues.
Um dos momentos mais destacados do Império foi o gabinete
da conciliação (1853-1856) chefiado pelo Marquês de Paraná. A maio-
ria dos nossos historiadores, entre eles Joaquim Nabuco e Francisco
.Iglesias, que o estudaram mais profundamente, faz uma avaliação po-
sitiva desse período.
A escravidão exauriu-se e as forças políticas e econômicas mais
conservadoras souberam aceitar o limite. Só não aceitaram medidas e
mudanças sociais que incorporassem nos direitos e deveres da nacio-
nalidade os negros teoricamente emancipados. Também não aceitaram
integrar as populações esquecidas dos sertões brasileiros e cada vez mais
presentes nas áreas urbanas.
Assim conforme o príncipe herdeiro da Coroa Portuguesa declarou
a independência, Q velho marechal monarquista anunciou a República.
Vivemos na República Velha, como no Império, as transições das elites.
. Delas emergiram Getúlio Vargas e boa parte das forças políticas e
sociais que levaram à Revolução de 1930.
No decorrer do período monárquíco e nos primórdios da República,
o Direito brasileiro conheceu a busca da prévia conciliação entre as par-
tes, visando a preservação da paz e b afastamento daeternização das
lides judiciais.
Com a federalização do Direito Processual, a partir da Constituição
de 1934, a presença dos processualistas italianos tornou-se freqüente em
nossos meios acadêmicos, e estes foram afastando instituições que mere-
ciam preservação, a partir de um inevitável aggiornamento.
38 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
A partir daí novos atores entram em cena eios pactos conciliatórios
ganham novos contornos e dimensões. '
Em 1943 a Conciliação foi introduzida Di CLT, tornando-se obri-
gatória nos processos trabalhistas, objetivando provocar o diálogo entre
patrões e empregados.
Considerando, que os efeitos obtidos na área trabalhista, já ocupa-
vam lugar de destaque, o legislador em 1949 através da Lei n" 968, tornou
obrigatória a conciliação nas ações de desquites litigiosos e nas ações de
alimentos. Aliás, até hoje esse é o procedimento normal.
Finalmente o Código de Processo Civil de 1973, adotou integral-
mente nos artigos 447 § único, 448 e 449 a obrigação do Juiz de pri-
meiro grau convocar as partes para uma audiência de conciliação, antes
do início da audiência de instrução e julgamento, e o artigo 449 dá ao
termo de conciliação, assinado pelas partes, força de sentença, absor-
vendo assim esse novo instituto como meio alternativo de solução de
conflito não adversarial.
O Código de Processo Civil determina também em seu artigo 331,
a audiência preliminar de conciliação e saneamento.
Os processualistas da América do Sul vêm insistentemente alvitran-
do a inserção de uma audiência preliminar no procedimento de seus países,
com o tríplice escopo de incentivar a conciliação, sanear o processo e
delimitar a instrução a ser feita.
, Apesar da contribuição expressiva que tem dado ao Judiciário,-o
instituto da conciliação sempre merece inúmeras críticas por parte da
doutrina que pondera o seguinte: A audiência conciliatória deverá ser
proposta no início do processo, antes que os advogados sejam contrata-
dos e as custas recolhidas e não depois de terminada a instrução, como
vem sendo feita.
Por outro lado, antes de instalado o proces,so, é muito difícil se fazer
acordos, mesmo porque os ânimos estão à flor da terra, o que dificulta
do diálogo entre as partes.
3.3. Conceitos de Conciliação
A conciliação no direito brasileiro, sem discrepância nas princi-
I
pais línguas latinas: "conciliation", em francês, "conciliazioni', em italiano,
e "conciliaciótl', em espanhol, são utilizados pela' lei, pela doutrina pela
jurisprudência.
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 39
"Conciliação", palavra derivada do latim "conciliatione", significa ato
ou efeito de conciliar; ajuste, acordo ou hamonização de pessoas desa-
vindas; congraçamento, união, composição ou combinação.
Segundo a Enciclopédia Jurídica Leib Soibelman: "Conciliar éfazer
com que aspartes entrem em acordo, dispensando uma decisão de mérito dojuiiJ mja
sentença passa a ser meramente homologatória da vontade das partes, embora com o
mesmo valor de uma sentença ordinária".
Para De Plácido e Silva "conciliação,atrair,harmonizar, q/untar, entende-
-se o ato pelo qual duas ou mais pessoas, desavindas a respeito de certo negócio,
ponham fim à divergência amigavelmente" ... "desse modo, a conciliação, tecnicamente,
tanto pode indicar o acordo amigáve~ como o que sefaça, judicialmente, por meio da
transação) que termina o litigio". (SILVA, 2004, p.329)
Assevera a Ministra Ellen Gracie Northfleet, Presidente do
Conselho Nacional de Justiça, no lançamento do Movimento pela Conciliação,
em Brasilia, no dia 23/8/06: '54 conciliação é caminho para a construção de uma
convivência mais pacifica. ~O entendimento entre as partes é sempre a melhor forma
para que a Justiça prevaleça. O oijetivo é uma sociedade capaz de enfrentar suas
controvérsias de modo menos litigioso, valendo-se da conciliação, orientada por pessoas
,qualificadas, para diminuir o tempo na busca da solução de conflitos e reduzir o nú-
mero deprocessos) contribuindo assim) para o alcance da paz social".
Conciliação é um meio de solução de controvérsias em que as par-
tes resolvem o conflito, através da ação de um terceiro, o conciliador.
O conciliador, além de aproximar as partes, aconselha e ajuda, fazendo
sugestões de acordo.
A conciliação é uma forma de resolução de controvérsias na rela-
ção de interesses administrada por um conciliador investido de autori-
dade ou indicado pelas partes, a quem compete aproximá-Ias, controlar
as negociações, aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar
vantagens e desvantagens, objetivando sempre a composição do litígio
pelas partes.
A conciliação tem suas próprias características onde, além da ad-
ministração do conflito por um terceito neutro e imparcial, este mesmo
conciliador tem o prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após
uma criteriosa avaliação das vantagens e desvantagens que tal proposição
traria a ambas as partes.
A Conciliação tem como objetivo a tentativa de acordo amigável
entre as partes, antes do ajuizamento da ação ou durante um processo
judicial, para as questões cíveis que versarem sobre direitos patrimoniais
disponíveis, questões de família e da infância e juventude.
40 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
É um meio de resolução de conflitos em!que as partes confiam a
uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-Ias e
orientá-Ias na construção de um acordo.
A palavra conciliação tem abrangência universal e civilizatória.Ela
nos repõe idéias, valores e procedimentos que inspiram o progresso mo-
ral das pessoas e das nações: diálogo, respeito, solidariedade, os ,trabalhos
de construção da paz, o perdão. O desenvolvimento dos princípios e das
práticas democráticas está embasado na compreensão de que é possível
e desejável compatibilizar, no campo da racionalidade e da ética, concep-
ções e interesses diferentes e contrários.
3.4. Modalidades de Conciliação
A conciliação conforme o momento em que for implernentado o
acordo, ,pode ser: a) pré-processual ou informal, é aquela que aconte-
ce antes do processo ser instaurado. Nela o próprio interessado bus-
ca a solução do conflito com o auxilio de conciliadores ou juízes;b)
processual, quando a demanda já está instaurada. Neste caso, o pro-
cedimento é iniciado pelo magistrado ou por requerimento do=='.
sado, com a designação de audiência e a intimação das partes para o
comparecimento.
A conciliação informal pode ser considerada um procedimento
pré-processual, porque antecede a instauração da ação e,é ofertada em
uma modalidade de procedimento externo à jurisdição, quando o pró-
prio interessado busca a solução do conflito com o auxilio de agentes
conciliadores.
Esse procedimento se constitui em um método de prevenção de
litígios e funciona como opção alternativa ao ingresso na via judicial,
objetivando evitar o alargamento do número de demandas nos foros e a
abreviação de tempo na solução das pendências, sendo acessível a qual-
quer interessado em um sistema simples ao alcance de todos.
A proposta consiste em uma real e efetiva alternativa de resolução
dos conflitos que busca compor, otimizando a atuação dos magistrados
naqueles processos em que é necessário o exame de questões fático-pro-
batórias complexas.
A principal característica dessa modalidade de conciliação é a pro-
moção de encontros entre os interessados, nos quais um conciliador
buscará obter o entendimento e a solução das divergências por meio da
composição não adversarial e, ainda antes de deflagrada a ação.
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 41
É bem-vinda a participação e a integração a essa atividade
dos profissionais e dos setores que atuam- na área social (equipes
multidisciplinares), possibilitando o entrosamento entre os vários-
serviços existentes.
Não há contradição em se afirmar que a conciliação informal
ou pré-processual pode ser ofertada, indistintamente, nos Postos de
Atendimento e Conciliação, nas Unidades Judiciais Avançadas e nos pró-
prios Féruns e Varas Judiciais, bem como nos Setores de Conciliação.
Nada obsta que os acordos informais sejam promovidos em qualquer
fase, de qualquer procedimento, até mesmo sem a participação do juiz
leigo ou togado.
Obtido o acordo em sede de conciliação pré-processual (informal),
tem lugar a Iavratura do instrumento particular de composição do confli-
to, ou seja, do ajuste celebrado entre as partes, -o qual pode se constituir,
desde logo, quando for o caso, em título executivo extrajudicial, confor-
me disposto no artigo 585, TI, do Código de Processo Civil, com a assi-
natura de testemunhas. Se houver interesse das partes o acordo poderá
ser encaminhado à homologação judicial.
Na fase processual, a composição pode ser obtida na etapa própria
do procedimento, ou seja, na realização de audiências específicas para
esse fim, consoante o disposto na Lei n° 9.099/95.
Assim, nos moldes do artigo 16 da Lei n? 9.099/95, uma vez re-
gistrado o pedido, independentemente de distribuição e de autuação, a
Secretaria do Juizado Especial designará a sessão de conciliação, que se
realizará no prazo de quinze dias.
Nada impede que, muito embora já deflagrada a ação judicial, as
partes interessadas procurem se valer do setor de conciliação existen-
te nos Fóruns e Varas Judiciais para dar fim ao processo, nos casos
em que essa for admitida; uma vez conseguida a composição, lavra-se
o termo para homologação, passando a valer como título executivo
judicial.
Há que se acautelar para não sobrecarregar a pauta de audiências, .
prevenindo, a otimização dos trabalhos, evitando que um número ex-
cessivo de demandas idênticas possa interferir no tempo de duração dos
processos perante os Juizados em prejuízo da celeridade do sistema.
Nada impede a realização de tentativas de conciliação em segundo
grau, com a descentralização das audiências e sua implementação nas
sedes das comarcas ou circunscrições, de forma a evitar os custos do
deslocamento até a Capital dos Estados ou às Turmas Recursais.
I
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42 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 43
diz: "Os conciliadores eJuízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, osprimei-
ros, preftrentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundo,;, entre advogados com
Poderão atuar como conciliadores,voluntários e não remunerados, mais de cinco anos de experiência".
magistrados, membros do MinistérioPúblico e procuradores do Es~d.o, Devem ser escolhidos,preferencialmente,entre bacharéisemDireito,
todos aposentados, advogados,estagiários,psicólogos, assistentes SOClalS, portanto, nada impede que estagiáriosde Direito aprovados com critérios,
outros profissionais selecionados, todos com-experiência, reputação ili- previamente estabelecidos exerçam esta função. Há, para tanto, entre o
bada e vocação para a conciliação,previamente aferida peIa Comissão de TribunaldeJustiça do Estado ealgumasUniversidades,convênios coma fi-
Juízes ou Juiz coordenador, quando não constituída a Comissão. nalidadede cooperação técnico-didáticana áreade estágiosupervisionado.
Os conciliadores não terão vínculo empregatício e sua atuação não Aliás, essa experiência beneficia ambas as partes: para o estagiário traz
acarretará despesas para o Tribunal de Justiça. prática, aprendizado com Juízes, funcionários do Cartório e com os
Os conciliadores atuarão sob orientação dos magistrados coorde- Advogados, principalmente pelo contato direto com o Direito e as par-
nadores e demais juizes das varas envolvidas com o Setor, e deverão tes; para o Juizado Especial, idéias novas, dedicação e auxílio na presta-
submeter-se a atividades, cursos preparatórios, realizados, preferencial- ção jurisdicional de qualidade.
mente, em até 180 (cento e'oitenta) após a instalação do setor, e de re- Portanto, sem empenho do conciliador, dificilmente resultará acor-
ciclagem,a cargo desses Juizes de entidades que a tanto se 'proponham, do. Entretanto, o empenho não pode significar forçar as partes contra
sem custos para o Tribunal de Justiça. . sua vontade, em situações às vezes constrangedoras.
Aos conciliadores se aplicaráos motivos de impedimento e suspei- A tarefa do conciliador será, sempre, adubar as sementes da solida-
ção previstos em lei para os juízes e auxiliaresda justiça. riedade, da justiça e da paz. É fundamental haver sintonia com a missão
O conciliador será uma terceirapessoa, bacharel em Direito ou não e valores do Juizado Especial.
que irá atuar na solução de conflitos. Exerce fundamental papel, pois Assim, acordo firmado, sucesso do Juizado Especial, das partes em
seu desempenho conciliatório resulta, muitas vezes, na autocomposição conflito e, especialmente, do conciliador.
amigável da demanda. Além de não haver necessidade 'de conhecimen- O primeiro passo para manejar bem um conflito é a percepção de
tos técnicos de Direito, a função exige tendência conciliatóriae elevado que ele pode trazer mudanças positivas tanto para os indivíduos, quanto
interesse pelo fascinante instituto da conciliação. Este auxiliar precisa para as organizações de tal forma a transformar o sentimento sobre o
entender a relevância de sua função. mesmo, explorando o que elepode agregar às partes envolvidas.
Na prática, embora pareça tarefa simples, não o é, pois o conci- Ao conciliador cabe inicialmente auxiliar as partes a entenderem
liador é o primeiro Juiz da causa. O conciliador que se empenha, na que possuem um conflito que deve ser resolvido e a aceitarem que'o pon-
atividade, terá o encargo de conter o animus das partes, às vezes alterados. to de vista de cada um pode estar incompleto e distorcido. É necessário
Conduzirá o ato processual, explicaráo procedimento, provocará o diá- relembrarem que é importante ouvir e tentar entender o ponto de vista
logo, a fim de se obter a solução do conflito. do outro (ou empresa) e respeitar suas necessidades e problemas para
Nos juizados Especiais, exercer a conciliação requer imparcialida- conjuntamente encontrarem a melhor e mais viável solução.
de. A compreensão, também é importante, e para obtê-Ia é necessário A audiência inicial é a conciliatória, podendo ser mais, ou menos, ,
ouvir as partes. Sobretudo manter-se concentrado, de mo?o a tomar-se t útil dependendo da forma em que for conduzida e da capacidadedo con-
exemplo para que os envolvidosno conflito saibam como ouvir uns aos II ciliadorde transformar o espirito do litígio em espirito conciliatório.Para
outros. Permitir às partes exporem os fatos, mediante justificativado seu isso é necessária a mudança de algumas práticas e dogmas incrustados
comportamento. Esta oportunidade franqueará um acordo que, outrora 11 no espirito do litígio.A primeira é a criação de um ambiente de diálogo,
impossível, toma-se viável., onde não só o conciliador e os advogados se manifestem.imas haja um
O recrutamento de conciliadores,para os Juizados Especiais Cíveis ! convite às partes para expressarem suas razões relativas ao conflito sem
e Crimirnais, está previsto na norma -do artigo 7°,f Lei n" 9.099/95, que medo ou receio de entregar o "jogo".
______________1__~ _
3.5. Conciliadores
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44 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
Outra prática que deve ser mudada é o medo de entrar no mérito
sob suspeita de pré-julgamento, a conciliação, deve ser feita à sombra
da lei e da jurisprudência, as partes podem conversar sobre o mérito e
as perspectivas de sucesso para decidirem sobre suas propostas sem a
necessidade do conciliador emitir seu Juizo.
O papel do conciliador deve ser, inicialmente, o de criar uma at-
mosfera de diálogo, onde as partes se sintam em equilíbrio e livres para
discutir o conflito a ponto de analisá-lo reciprocamente sob a perspectiva
do outro e criarem as possíveis soluções, ainda que sob a perspectiva de
um julgamento futuro pelo judiciário e com asiinformações necessárias
sobre a duração do rito processual e seus recursos, A demora processual
não deve ser um meio de pressão para se obter o acordo, mas as partes
devem ter consciência de todas as opções e caminhos que dispõem dian-
te da lide, para que assim possam tomar as próprias decisões ..O conci-
liador deve abster-se de expressar seus valores e convicções para ouvir
e adentr~ ao universo das partes, auxiliando-as na percepção do que
entendem como melhor para elas e qual o caminho para alcançarem. A
posição do conciliador deve ser a de permitir que primeiramente as par-
tes explorem as possíveis soluções, podendo até formular sua proposta,
mas no momento certo, ou seja, após o debate entre elas.
O treinamento aliado à prática mostrará ao conciliador a amplitude
de um mundo inexplorado dentro deste universo e a importância de seu
poder que pode ser dirigido a desenvolver o poder das partes de solucio-
narem seus próprios conflitos de forma eficaz com o auxilio, orientação e
controle do Estado conciliador. A forma de lidar com o conflito pode ser
chamada de gerenciamento e os métodos deste gerenciamento em equilí-
brio que pode levar à resultados surpreendentes, como a formulação de ca-
minhos gradativos para a solução, a alteração do pedido e até a desistência
da ação, fazendo emergir o verdadeiro conflito e a melhor solução.
A mediação conciliatória permite em vários casos que as partes
encontrem prestação jurisdicional através da construção da resposta ao
conflito, sem abrir mão de suas pretensões, inicialmente opostas, mas
construindo um caminho mais satisfatório do que suas pretensões iniciais. i
Existem várias formas de prestação jurisdicional e o Judiciário pode 1
abranger várias delas, existem lides que devem ser julgadas e existem I
outras que o julgamento não soluciona, pode até aumentar o conflito, I
nestas, o Judiciário deve agir como Mediador e educador ajudando os, ,
indivíduos a serem cada vez mais capazes e hábeis, inclusive no que I'
concerne a seus próprios conflitos. O'arnbiente processual pode ser um
.~~
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 45
espaço de atuação das partes, sob o comando do Juiz que mantém o con-
troleda legalidade e o poder da execução, para a busca, não só da solução
da lide e efetividade do processo, mas da transformação do conflito em
atributo de transformação social.
3.6. Características e funções do Conciliador
O papel do conciliador é de facilitador, devendo auxiliar as partes,
esclarecendo, fazendo trocas de papéis, resumindo o conflito, permitin-
do, desse modo, que as partes tenham uma visão mais ampla de todo o
conflito e, por decorrência, dos interesses e das questões.
São características do conciliador: a) capacidade de aplicar diferen-
tes técnicas autocompositivas de acordo com a necessidade de cada dis-
puta; b)capacidade de escutar a exposição de uma pessoa com atenção,
utilizando de determinadas técnicas; c) capacidade de inspirar respeito
e confiança; d) capacidade de estar confortável em situações em que os
ânimos estejam acirrados; e) paciência; f) capacidade de afastar seus pre-
conceitos por ocasião da conciliação; g) imparcialidade; h) possuir em-
patia, isto é, ser capaz de colocar-se no lugardo outro, sem, contudo,
tomar partido; i) gentileza e respeito no trato com as partes; j) gostar de
conciliar; 1)permitir a presença dos advogados e partes.
São funções do conciliador: a) estabelecer confiança (aceitação do
conciliador pelas partes; b) escutar ativamente. Saber escutar com se-
renidade, deve-se deixar as pessoas falarem, sem interrompê-Ias antes
de ouvir o que efetivamente pretendem dizer. "Escutar para ouvir, não
para responder"; c) reconhecer sentimentos (necessidade ou interesses
ocultos), que serão as bases da negociação; d) fazer perguntas abertas
(que não contenham atribuição de culpa); e) ser isento de julgamentos
e avaliações (neutralidade); f) separar as pessoas dos problemas; g) criar
padrões objetivos; h) buscar nas partes a autonomia de vontade (atitude
espontânea); i) as intervenções deverão ser rápidas e objetivas, recomen-
da-se que o conciliador não intervenha sem necessidade; j) confidencia-
lizar a audiência; 1)educar as partes para que elas resolvam os conflitos;
m) quebrar a polarização e humanizar o relacionamento.
3.7. Deveres do Conciliador
O conciliador tem por obrigação conduzir a sessão conciliatória
num clima de paz e tranqüilidade, sabendo se impor perante as partes,
quando o relacionamento entre elas tende a ficar tenso.
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46 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
o conciliador tem de dar abertura para que! as partes dialoguem e
para isso ele se utiliza de técnicas de descontração; para tornar o ambien-
te o mais agradável possível. .
Também é dever do conciliador não permitir que as partes diva-
guemsobre outros assuntos que provoquem ainda mais divergências,
pois normalmente, elas estão acompanhadas de velhos ressentimen-
tos que não vale a pena deixar aflorar, a ~ão ser que o concili~dor as
identifiquem como o fato gerador do conflito, objeto da sessão. Por
exemplo.iemum.recurso de apelação de uma ação de reconhecimento
de paternidade, os pais do investigando, depois de três tentativas do
conciliador em abrir o diálogo entre eles, começaram a trocar algumas
palavras e a mulher deixou escapar que sua grande mágoa residia no
fato do companheiro não tê-Ia ajudado por ocasião do nascimento do
filho, negado por ele. Aquele fato pesou muito na sua vida, pois se sen-
tiu totalmente desesperada, como se ela nada tivesse representado na
vida dele. Em seguida, o conciliador com muita habilidade enveredou
na conversa para tentar conseguir daquele homem alguma coisa que
pudesse acalentar aquele coração ferido, quando ele se desculpou pela
omissão, atribuindo à ela a falta absoluta d'e recursos, relembrando até
dos momentos que antecederam a gestação, quando ela foi avisada
que ele estava prestes a perder o empr~go em virtude de dispensa em
massa de funcionários. A partir daí, o diálogo passou a ser mais franco
e mais aberto, a ponto dele, espontaneamente, reconhecer a paterni-
dade, bem como exponti propria, ofereceu pensão, encerrando assim a
demanda.
Ao iniciar a conciliação, o conciliador, tão logo tenha contato com
as partes, deverá expor o seguinte:
a) se apresentar, dando seu nome, profissão, e deixar claro, que está
lá, na qualidade de conciliador, neutro, cujo objetivo é ajudá-Ios a encon-
trar uma solução para o conflito.
b) deverá explicar que na sessão conciliatória, tudo o que for trata-
do, falado, discutido ou mostrado, está revestido do mais absoluto segre-
do, e que nada poderá ser usado num eventual processo judicial.
c) em hipótese alguma, ele não poderá ter pressa para solucionar o
problema, porque as partes, primeiro necessitam falar, segundo, precisam
de tempo para pensar, por isso não se pode exigir 'respostas imediatas.
d) quando o conciliador perceber indenização de uma-das partes, a
melhor solução é adiar a sessão para outro dia, dando tempo para refletir
sobre o problema. I
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 47
e) as partes nesse intervalo, entre uma sessão e outra, poderão en-
contrar por si só, uma solução para resolver o conflito.
f) finalmente, compete ao conciliador, a redação da ata da ses-
são conciliatória, mesmo quando as partes não chegam a um acordo..e .
firmá-Ia,
Uma vez, assinada a ata pelo conciliador, pelas partes e por seus
advogados se houver, quando a sessão resultou em acordo, o termo assi-
nado tem força executiva, obrigando.as partes por tudo que foi pactuado,
podendo constar no termo que as partes abrem mão do prazo recursal.
3.8. Honorários do Conciliador
Por enquanto, não existe uma tabela de honorários para o conci-
liador, porque a grande maioria trabalha sem remuneração, pela simples
razão de gostar de conciliar. ;
Existe em curs~ o Projeto de Lei n" 4.827/98, de autoria da Deputada
Zulaiê Cobra Ribeiro. Este Projeto de Lei institucionaliza e disciplina a me-
diação/conciliação· como método de prevenção e solução consensual de
conflitos na esfera cível e dá outras providências, na verdade cria a função
de mediador/conciliador e estabelece sua remuneração, deixando a cargo
do Tribunal de Justiça o Registro de Mediadores/Conciliadores.
3.9. Objetivos e Benefícios da Conciliação
Os principais beneficios da conciliação são: a pacificação social, a
redução do conflito e a economia do Judiciário.
O objetivo da conciliação é criar uma nova mentalidade, voltada
.à pacificação social, diminuindo substancialmente o tempo de duração
do litígio.
A conciliação deverá viabilizar a solução dos litígios por meio de
procedimentos informais e simplificados, reduzindo, por conseqüência,
o número de processos no Poder Judiciário.
Um beneficio frequentemente mencionado é o empoderamento
das partes. Empoderamento é a tradução do termo em inglês empower-
ment, que significa a busca pela restauração do senso de valor e o poder da
parte para que essa esteja apta a melhor dirimir futuros conflitos.
São ainda considerados benefícios: a) oportunidade para as partes
falarem sobre seus sentimentos em um ambiente neutro; b) compreen-
são do ponto de vista da outra parte por meio da exposição de sua-versão
. l~ _
48 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF 49CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM
dos fatos, com a facilitação do conciliador; c) possibilidade de adminis-
tração do-conflito de forma a manter o relacioruhnento anterior com a
outra parte; d) celeridade do processo de conciliação,
Apesar das indiscutíveis vantagens, a conciliação tende a não pro-
duzir os seus resultados satisfatórios se certos requisitos mínimos não
estiverem presentes no conflito. Dessa maneira, para que a conciliação
possa produzir os seus aspectos benéficos: é preciso que, dentre outros
fatores, as partes queiram uma soluçãoe esforcem-se para alcançá-la;que
as partes cujos interesses estão sendo discutidos compareçam à sessão
de conciliação e sejam capazes de honrar os compromissos assumidos.
Contudo, sendo atendidos os requisitosmínimos, a conciliaçãoadapta-se
a quase todos os tipos de conflito.
Recomenda-se a adoção desta providência, preferencialmente,
após o recebimento da petição inicial, determinando 2. citação do réu, e
sua intimação, por mandado ou carta, para comparecimento à audiência
no Setor de Conciliação. Deverá constar do mandado ou carta que o
prazo para apresentação da resposta começará a fluir a partir da data da
audiência se, por algum motivo, não for obtida a conciliação.
Para a audiência serão intimados, também, os advogados das partes,
pela imprensa ou outro meio de comunicação certificado nos autos.
Nas fases processual ou pré-processual, comparecendo as partes à
sessão e obtida a conciliação será esta reduzida a termo, assinado pelas
partes, advogados e conciliador. O Ministério Público deverá ser ouvido,
nas hipóteses em que necessária sua intervenção, na própria sessão ou
em dois dias, se não for possível a sua presença. O termo será homologa-
3.10. Conciliação em Primeiro Grau do por um dos juízes das Varas abrangidaspelo setor, ou, no impedimen-
to, por qualquer dos juízes em-exercíciona Comarca ou Fórum, valendoA tentativa de conciliação poderá ocorrer antes do ajuizamento como-título executivojudicial.
da ação. O interessado deverá comparecer diretamente, ou encaminha- Realizada a homologação, as partes presentes serão intimadas na-
do pelo Juizado Especial Cível ou pelo Ministério Público na ativida- quele mesmo ato.
de de atendimento ao público, o funcionário ou voluntário do Setor de Não obtida a conciliação,o que constará do termo, os autos retor-
Conciliação colherá a sua reclamação, sem reduzi-Ia a termo, e emitirá, narão ao respectivo OfícioJudicialpara normal prosseguimento; a reque-
no ato, uma carta-convite à parte contrária, informando da data, horário cimento de ambas as partes, poderá o .Setor redesignar a sessão dentro
e.local da sessão de conciliação,facultada ainda, a solicitação por meio dos 30 (trinta) dias subseqüentes.
de representante legal. Poderão ser convocados para a sessão de conciliação, a critério do
A carta será encaminhada ao destinatário pelo próprio reclamante, conciliador e com a concordância das partes, profissionais de outras áre-
ou pelo correio, podendo esse convite ser feito, ainda, por telefone, fax, as, como médicos, engenheiros, contadores, mecânicos, funileiros, ava-
ou meio eletrônico. A única anotação que se fará sobre o litígioserá refe- liadores, psicólogos, assistentes sociais e outros. Essas pessoas apenas
rente aos nomes dos litigantes,na pauta de sessões do Setor. serão convocadas no intuito de, com neutralidade, esclarecer as partes
O registro dos acordos será feito, na íntegra, em livro próprio, sem sobre questões técnicas controvertidas e assim colaborar com a solução
distribuição. amigável do litígio, proibida a utilização desses esclarecimentos como
Não obtida a conciliação,as partes serão orientadas quanto a pos- prova no processo.
sibilidade de buscar a satisfação de eventual direito perante a Justiça A pauta de audiências do Setor de Conciliação será independente
Comum ou Juizado Especial. em relação à pauta do juízo e as audiências de conciliação serão designa-
Descumprido o acordo, o interessado poderá ajuizar ~execuçãodo das em prazo não superior a 30 (trinta) dias da reclamação ou do recebi-
título judicial, a ser distribuída livremente em uma das Varas competen- mento dos autos no Setor.
tes, conforme a matéria versada no título executivo. O encaminhamento dos casos ao Setor de Conciliação não prejudi-
Já ajuizada a ação, ficará a critério do juiz que preside o feito, a ca a atuação do juiz do processo, na busca da composição do litígioou a
qualquer tempo, inclusive na fase do artigo 331 do Código de Processo realizaçãode outras formas de conciliação ou de mediação.
Civil,determinar, por despacho, o encaminhamento dos autos ao Setor O Setor de Conciliaçãopoderá ser dividido em Setor de Conciliação
de Conciliação,visando a tentativa àe solução ~vel do litígio. da Família,Infância eJuventude e Setor de Conciliação Cível,com conci-
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50 MARIA BERNADETE MIRANDA • CLÓVIS ANTONIO MALUF
liadores e pautas de audiências próprias. Poderão colaborar, como conci-
liadores, no Setor de Conciliação da Família, Infância e Juventude, além
de outros profissionais, os psicólogos e os assistentes sociais do juizo.
O Setor de Conciliação funcionará nas dependências do Fórum,
devendo o juiz diretor disponibilizar o espaço físico, viável a celebração
de convênios com Universidades, escolas ou entidades afins.
Os ofícios judiciais da Comarca ou Foro em que instalado o Setor
de Conciliação, disponibilizarão seus funcionários para nele atuarem, po-
dendo adotar sistema de rodízio entre os funcionários.
O movimento do Setor de Conciliaçãoserá controlado pelo juiz
coordenador, de modo a compatibilizá-lo com a respectiva estrutura ma-
terial e funcional, podendo, justificada e criteriosamente, regula! a quan-
tidade e a natureza dos processos encaminhados pelas Varas, para não
comprometer a eficiência do Setor. ,
O Setor de Conciliação, sob responsabilidade do juiz coordenador,
fará o controle estatístico de suas atividades, anotando: a) a quantidade
de casos atendidos; b) audiências realizadas; c) conciliações obtidas; d)
audiências não realizadas; e) motivo da não realização das audiências; f)
prazo da pauta de audiências; g; percentual de conciliações obtidas em ,
, relação aos casos atendidos; h) percentual de conciliações obtidas em
relação às audiências realizadas; i) outros dados relevantes.
O conciliador, as partes, seus advogados e demais envolvidos nas
atividades, ficam submetidos à cláusula de confidencialidade, devendo
guardar sigilo a respeito do que for dito, exibido ou debatido na sessão,
não sendo tais ocorrências consideradas para outros fins que não os da
tentativa de conciliação.
3.11. Conciliação em Segundo Grau
O Setor de Conciliação em Segundo Grau de Jurisdição do Tribunal
de Justiça foi criado com estrutura e atribuições descritas na Portaria n"
7.177/2004.
O Setor de Apoio à Conciliação em Segundo Grau está subordina-
do diretamente ao Gabinete da Presidência doTribunal de Justiça, com
uma Diretoria de Divisão.
A unidade terá como principais atribuições; a) receber os autos des-
tinados à conciliação; b) agendar as sessões conciliatórias; c) convocar as
partes e os conciliadores designados; d) lavrar os termos de audiências;
e) remeter os acordos para-homologação; f) restifuir os autos às Varas de
J
CURSO TEÓRICO E PRÁTICO DE MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM 51
origem após o registro do acordo ou providenciar a devolução dos autos
ao DEPRO conforme o resultado; g; efetuar os lançamentos necessários
à segurança dos autos e dos serviços do Setor.
Para presidir as sessões de conciliação serão selecionados pela
Comissão Supervisora e designados pelo Presidente do Tribunal de
Justiça, como conciliadores honorários, sem remuneração: magistrados,
membros do Ministério Público e Procuradores do Estado, todos apo-
sentados, além de professores universitários e advogados, todos com
larga experiência, reconhecida capacidade e reputação ilibada, mantidos
aqueles que já vinham atuando na fase experimental, ou seja, no Plano
Piloto de Conciliação em Segundo Grau.
Recebido o processo e consultado o conciliador, serão designados
dia e hora para realização da sessão de conciliação cabendo ao Setor de
Conciliação providenciar a convocação das partes e de seus patronos.
O conciliador, as partes e seus advogados ficam submetidos à cláu-
sula de coníidencialidade, que subscreverão no início dos trabalhos, de-
vendo guardar sigilo a respeito do que for dito, exibido ou debatido na
sessão, tais ocorrências não serão consideradas como prova para outros
, fins, que não os da conciliação.
Obtida a conciliação, será lavrado o respectivo termo, assinado pe- ,
las partes, pelos advogados e pelo conciliador,e submetido à homologa-
ção do Presidente do Tribunal ou, por delegação deste, do Presidente da
Seção a que corresponder o processo.
Frustrada a conciliação, o processo retomará à posição anterior em
relação à expectativa de distribuição.
Estabelecidos os critérios para a seleção dos processos que serão
submetidos à conciliação, qualquer das partes, nos feitos nela não incluí-
dos, poderá requerer, por escrito, a realização da tentativa de conciliação.
Manifestado o interesse por uma das partes, é consultado o advoga-
do da parte contrária (por telefone ou pela imprensa oficial) e, havendo
anuência, o Setor de Conciliação agenda a sessão conciliatória, com pro-
cedimento célere e informal.
Aceita a transação, é ela homologada e os autos são imediatamen-
te remetidos à Vara de origem para execução e/ou arquivamento; Cabe
enfatizar que a principal característica desse procedimento conciliatório
é a confidencialidade, uma vez que o conciliador não tem poder jurisdi-
cional, não emite juizo de valor nos autos e nenhum ponto leva.nrado no
decorrer da sessão é registrado, salvo no caso de acordo, de forma que,
se infrutífera a tentativa, nada do que foi discutido influirá no convenci-
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