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Fundamentos da Linguagem Visual Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Claudemir Nunes Ferreira Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Composição • Introdução • Esquemas Compositivos • Princípios Organizacionais • Leis da Gestalt: Princípios que Regem o Processo de Percepção Visual • Princípios de Organização Aplicados à Composição · Conhecer os esquemas compositivos mais usuais. · Compreender a teoria da Gestalt sobre as forças integradoras que atuam no fenômeno perceptivo visual, suas implicações com relação ao que é percebido pelo observador e como os princípios organizacionais podem ser aplicados na formulação de composições coerentes e unificadas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Caro(a) aluno(a), Iniciaremos nossos estudos com a apresentação dos esquemas compositivos, as possibilidades mais usuais de organização do espaço compositivo onde serão situados os elementos visuais. Em seguida, estudaremos os princípios de organização aplicados no desenvolvimento de um todo visual a partir da articulação de diversos elementos. Apresentaremos as Leis da Gestalt, a teoria sobre o dinamismo autorregulador do nosso sistema nervoso central, que tende a organizar as formas em todos unificados durante o fenômeno perceptivo visual, e os demais princípios de organização aplicados à composição, alguns conceitos que correspondem a determinadas organizações entre as partes que permitem formular todos coerentes e integrados. Após ler o material teórico, realize as atividades de sistematização e de aprofundamento e não deixe de explorar o material complementar, além de reforçar a assimilação dos conceitos apresentados nesta Unidade, estudos que aprimorarão a sua percepção visual e ampliarão o seu repertório artístico. ORIENTAÇÕES Composição UNIDADE Composição Contextualização Caro(a) aluno(a), Dedicamos os estudos das unidades anteriores aos dez elementos fundamentais da linguagem visual: o ponto, a unidade visual mínima e o indicador de espaço; a linha, a trajetória descrita pelo ponto em movimento e o articulador da forma; a forma, as infinitas variações e combinações possíveis das três formas básicas – quadrado, círculo e triângulo –; a direção, o impulso de movimento refletido pelas formas básicas; o tom, a presença ou ausência de luz que define o claro e o escuro; a cor, o elemento mais expressivo e emocional definido pelas características físicas das ondas eletromagnéticas do espectro luminoso; a textura, o caráter da superfície, seja tátil ou visual, de tudo o que enxergamos; a escala ou proporção, medida e tamanho relativos; o movimento, o deslocamento ou a mudança de posição dos elementos no espaço compositivo, real ou apenas sugerido; a dimensão, um aspecto real das linguagens tridimensionais que incorporam a terceira dimensão – profundidade – e uma ilusão criada pela manipulação dos demais elementos, capaz de sugerir objetos tridimensionais ocupando um espaço real nas linguagens bidimensionais. Esses são os elementos básicos, a fonte compositiva ou a matéria-prima a partir da qual toda e qualquer manifestação visual é construída e, a partir de agora, estudaremos como esses elementos são manipulados, organizados e combinados em um todo visual coerente e integrado, em uma resposta direta ao objetivo da mensagem. Uma manifestação visual sempre resulta da integração entre forma – como se expressa – e conteúdo – o que se expressa direta ou indiretamente – em uma relação de complementariedade mútua. A forma expressa o conteúdo. O conteúdo é influenciado pelos elementos básicos constitutivos e suas relações compositivas com o significado. Toda manifestação visual tem um objetivo, mostrar, narrar, explicar, inspirar, fruir ou afetar, e as decisões compositivas podem intensificar as intenções expressivas, uma vez que implicam diretamente no que é recebido pelo observador. Assim, não deixe de refletir sobre os conhecimentos que serão assimilados nesta Unidade e bons estudos! 6 7 Introdução Composição é o processo de organização, disposição e agrupamento criativo dos elementos visuais em uma unidade, seja em uma pintura, em fotografia, em um anúncio publicitário, em uma escultura, na capa de um livro, ou em qualquer outra manifestação visual. Compor consiste em representar e articular a variedade dentro de uma unidade, respeitando ou rejeitando certas convenções, para expressar o que a obra se destina a transmitir. As decisões compositivas determinam o significado da manifestação visual e têm forte implicação com relação ao que é recebido pelo observador. Segundo Donis A. Dondis (2003, p. 29): “Não há regras absolutas: o que existe é um grau de compreensão do que vai acontecer em termos de significado se fizermos determinadas ordenações das partes que nos permitam organizar e orquestrar os meios visuais”. Esquemas Compositivos Toda composição é estruturada a partir de um esquema que organiza o espaço onde serão situados os elementos visuais. Os esquemas compositivos simples são formados por figuras geométricas ou por linhas mestras isoladas ou relacionadas entre si. Os mais usuais são: Figura 1 – Esquemas compositivos simples 7 UNIDADE Composição Esquema simétrico: Figura 2 – Dematerialization near the nose of Nero (1947), Salvador Dalí Fonte: salvador-dali.org Esquema triangular: Figura 3 – Pieta (1575), El Greco Fonte: el-greco-foundation.org Esquema circular: Figura 4 – Untitled (1983), Keith Haring Fonte: haring.com 8 9 Esquema oval: Figura 5 – Dance II (1910), Henri Matisse Fonte: henri-matisse.net Esquema em T Figura 6 – Christ on the Cross (1632), Diego Velázquez Fonte: museodelprado.es Esquema em L: Figura 7 – El joven mendigo (1650), Bartolomé Esteban Murillo Fonte: spanish-art.org 9 UNIDADE Composição Esquema em S: Figura 8 – Guitarrista ciego (1903), Pablo Picasso Fonte: artehistoria.com Esquema em X: Figura 9 – The Crucifixion of Saint Peter (1600), Caravaggio Fonte: caravaggio-foundation.org Esquema em ângulo: Figura 10 – Pájaro... pescado (1928), Salvador Dalí Fonte: salvador-dali.org 10 11 Esquema diagonal: Figura 11 – Ballet dancers in the wings (1900), Edgard Degas Fonte: frenchart.umsl.edu Esquema radial: Figura 12 – Cosimo presentato a Giove da Ercole e Vittoria (1643-1646), Pietro da Cortona, afresco no teto da Sala Giove, Palazzo Pitti, Firenze Fonte: opificiodellepietredure.it Esquema com linhas curvas: Figura 13 – La grande odalisque (1814), Jean Auguste Dominique Ingres Fonte: louvre.fr Os esquemas compositivos compostos são formados pela combinação de dois ou mais esquemas simples ou, ainda, por uma série de linhas combinadas livremente. 11 UNIDADE Composição Figura 14 – Assunta (1518), Tiziano Vecellio Fonte: viv-it.org Figura 15 – Still life with basket (1888-1990), Paul Cézanne Fonte: paul-cezanne.org Princípios Organizacionais A nossa resposta a uma manifestação visual ou o porquê algumas composições agradam mais do que outras intrigou filósofos, psicólogos e outros estudiosos por séculos. Os estudos da Gestalt contribuíram enormemente para a compreensão de como alguns princípios organizacionais podem ser aplicados no desenvolvimento de composições visuais. As Leis da Gestalt, teorias formuladas a partir de inúmeros estudos e pesquisas experimentais sobre o fenômeno psicofisiológico da percepção visual humana, são os princípios fundamentais e respondem o porquê algumas composições, instintivamente, agradam mais do que outras. Para complementar o sistema de estruturação e leitura de imagens, outros princípios de organização aplicados à composição foram acrescentados com o propósito de desenvolver um todo visual, a partir de diversas partes, coerente e unificado. 12 13 A Gestalt é uma Escola de Psicologia Experimental que teve seu início mais efetivo por volta de 1910 com os estudos de Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koff ka, psicólogos da Escola de Frankfurt que formularam a teoria da formabuscando explicar a relação sujeito- objeto no fenômeno da percepção. A teoria fundamenta-se no fato de que a percepção de qualquer forma ocorre de maneira global e unifi cada, ou seja, não percebemos as partes isoladas em uma composição para posteriormente associá-las e compor um todo, já percebemos a imagem total pela relação recíproca entre suas várias partes. Para efeito de esclarecimento, o termo Gestalt, geralmente traduzido como estrutura, fi gura ou forma, no seu sentido mais amplo, signifi ca a integração entre as partes que formam o todo. Assim, o termo forma empregado neste estudo não deve ser compreendido como o elemento fundamental da linguagem visual descrito pela linha, e sim como a imagem visível de um conteúdo, ou seja, o conjunto de elementos perceptíveis que confi gura a aparência total de um objeto ou uma obra de arte, por exemplo. Ex pl or Leis da Gestalt: Princípios que Regem o Processo de Percepção Visual A percepção visual humana é resultado da soma de forças internas e externas. As forças externas correspondem aos estímulos produzidos pelo campo visual que são captados pelo sentido da visão, ou seja, toda informação visual como a forma, o tamanho, a cor e a textura de um objeto ou de uma figura que chegam até a retina através da luz que refletem. E as forças internas correspondem ao processo mental de decodificação, interpretação e organização lógica e estética dos estímulos emitidos pelo campo visual. A teoria da Gestalt atribui ao nosso sistema nervoso central um dinamismo autorregulador que tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados durante o fenômeno perceptivo visual. São forças internas integradoras do processo fisiológico cerebral espontâneas, independentes de nossa vontade ou de qualquer aprendizado que se baseie nos princípios de unificação, segregação, semelhança, proximidade, fechamento, continuidade e pregnância da forma – o princípio fundamental que, na verdade, abrange todos os demais. Figura 16 – Leis da Gestalt 13 UNIDADE Composição Unificação Uma unidade pode ser entendida como um único elemento que se encerra em si ou como parte de um todo. Em uma conceituação mais ampla, uma unidade pode ser entendida como um conjunto de elementos – pontos, linhas, formas, cores, texturas etc., que configuram um todo ao relacionarem-se entre si. A unificação da forma, ou a percepção de um todo coerente e integrado, ocorre quando os fatores de harmonia, equilíbrio, ordenação visual e coerência entre as partes estão presentes. Segregação A segregação corresponde à nossa capacidade perceptiva de separar, identificar ou destacar unidades formais em um todo compositivo, a partir da desigualdade dos estímulos produzidos pelo campo visual. Unificação e segregação são as forças ou as leis mais simples que regem a percepção visual. Uma age em função da igualdade de estimulação visual e a outra, da desigualdade de estimulação. Figura 17– Unificação e segregação Semelhança Estímulos visuais semelhantes entre si, seja pela forma, cor, tamanho, peso ou direção, entre outros fatores, tendem a ser percebidos em grupos e a constituir unidades. Proximidade Estímulos visuais próximos também tendem a ser percebidos em grupos e a constituir unidades. Proximidade e semelhança muitas vezes agem em conjunto e se reforçam mutuamente para constituir unidades ou para promover a unificação do todo. A semelhança é mais forte do que a proximidade, embora reconheçamos estímulos visuais próximos como grupos, efeito que é reforçado pela similaridade entre os quais. Figura 18 – Proximidade e semelhança 14 15 Fechamento O fechamento é outro fator importante para a formação de unidades. Ainda que os estímulos produzidos pelo campo visual correspondam a uma figura incompleta, nossa mente tende a unir intervalos e a estabelecer ligações para que percebamos uma figura completa. As forças de organização da forma dirigem- se espontaneamente para uma ordem espacial que tende para a formação de unidades em todos fechados, segregando uma figura mais completa o possível do resto do campo visual. Figura 19 – Fechamento Continuidade As unidades lineares tendem, perceptivamente, a prolongar-se na mesma direção e com o mesmo movimento, assim como as unidades sucessivas tendem a se acompanharem. A continuidade corresponde à organi- zação da forma, de modo que as partes se sucedam sem quebras ou interrupções na trajetória ou fluidez visual, buscando uma estrutura estável. Figura 20 – Continuidade Pregnância da Forma Qualquer estímulo visual tende a ser percebido da maneira mais simples e lógica possível. A pregnância é o princípio fundamental da percepção visual. Segundo a Gestalt, o equilíbrio, a clareza e a harmonia são fatores essenciais para o ser humano e as forças de organização da forma sempre tenderem a se dirigir, tanto quanto permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do equilíbrio visual. Ou seja, pressupõe-se que a organização formal – percepção – será a melhor possível do ponto de vista estrutural – a composição em si. A partir desse princípio, pode-se estabelecer um critério de qualificação ou julgamento da forma: • Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de interpretação, maior será seu grau de pregnância. Percebemos mais facilmente as formas simples, regulares, simétricas e equilibradas; • Quanto pior ou mais confusa for a organização visual da forma, menor será seu grau de pregnância. Formas complexas e irregulares exigirão um maior tempo de atenção, enquanto as forças internas de organização – que agem no sistema nervoso central do observador – buscam encontrar a melhor estrutura perceptível possível para decodificar a imagem em algo mais claro e lógico a fim de facilitar sua compreensão. 15 UNIDADE Composição Princípios de Organização Aplicados à Composição Os princípios de organização aplicados à composição são alguns conceitos, geralmente derivados ou desdobrados das Leis da Gestalt, que correspondem a determinadas organizações entre as partes que permitem formular todos coerentes e integrados. Esses princípios não são regras ou leis com uma única interpretação ou aplicação possível, diferem-se também em números, subdivisões e nomenclaturas de acordo com cada autor, de modo que apresentaremos aqui uma síntese dos mais importantes. Harmonia A harmonia é o primeiro dos princípios de organização aplicados à composição e pode ser definido como uma relação agradável entre as diferentes partes que configuram o todo, possibilitando, geralmente, uma leitura simples e clara. Ocorre quando unidades independentes se relacionam visualmente ao compartilhar características comuns – formas, cores, texturas, pesos, ou limites compartilhados, entre outros fatores –, ou quando se produz concordâncias e uniformidades entre as unidades de modo que não existam irregularidades, conflitos, desvios ou desalinhamentos. Figura 21 – The Crucifixion (1325), Giotto Fonte: pinakothek.de A desarmonia é a formulação oposta da harmonia, ou seja, uma discordância na integração ou desarticulação entre as unidades que configuram o todo, caracterizada pela apresentação de desvios, irregularidades, desordem e desnivelamento visual. 16 17 Figura 22 – White Crucifi xion (1938), Marc Chagall Fonte: artic.edu Contraste O contraste é o contraponto da harmonia, o outro lado da organização que também é essencial à composição. Por definição, significa diferença e ocorre sempre que unidades com características opostas são colocadas em conjunto. Em todas as linguagens visuais, é uma poderosa ferramenta de expressão utilizada para intensificar o significado e, portanto, simplificar a comunicação. O contraste desencadeia uma ação neutralizante à nossa tendência percep- tiva de fechamento visual e de busca por um equilíbrio absoluto. Ao inserir o con- traste em uma composição, as áreas en- volvidas tornam-semenos harmoniosas, porém, mais entusiasmantes. Contrastes sutis ocorrem quando a diferença entre as unidades é menor, pequenas varia- ções de cor, valor, textura, proporção, direção, movimento, espaçamento ou alinhamento, capazes de criar um nível variável de interesse e auxiliar o movi- mento dos olhos pela composição, tor- nando-a mais dinâmica e prendendo a atenção do observador. Figura 23 – Bandeirinhas, Alfredo Volpi Fonte: brasilartesenciclopedias.com.br Com maiores contrastes, áreas da composição podem ser realçadas, tornando- se dominantes na composição. 17 UNIDADE Composição Figura 24 – Composição (1976), Alfredo Volpi Fonte: brasilartesenciclopedias.com.br O contraste de tom baseia-se nas oposições de claro-escuro e é capaz de sugerir volume em uma composição. Figura 25 – The Martyrdom of St. Matthew (1599-1600), Caravaggio Fonte: caravaggio-foundation.org O contraste de cor, já estudado na Unidade anterior, é uma força poderosa do ponto de vista sensorial e emotivo, empregado para expressar e reforçar a informação visual. A temperatura é capaz de afetar a posição espacial, sugerindo proximidade ou distância. O contraste quente-frio pode fazer algo recuar ou avançar dentro da composição, os matizes azuis e verdes frequentemente são usados para indicar distância, enquanto os vermelhos e amarelos expressam expansão. 18 19 Figura 26 – Low tide, Cancale (1995), Wayne Roberts Fonte: wroberts.com.au O contraste de cores complementares, assim como o contraste simultâneo – tendência de uma cor a sempre destacar a sua complementar em uma cor próxima –, corresponde a um equilíbrio relativo, já que nossa visão sempre busca um estado de equilíbrio entre as três cores primárias para que todo o sistema perceptível trabalhe com menos pressão, como estudamos na Unidade dedicada à cor. Figura 27 – Bedroom at Arles (1992). Roy Lichtenstein Fonte: lichtensteinfoundation.org Com o contraste de forma, uma figura irregular e imprevisível sempre dominará outra mais simples e resolvida. 19 UNIDADE Composição Figura 28 – Peasants (1931), Diego Rivera Fonte: diegorivera.org O contraste de escala pode chocar o olhar e intensificar significados ao distorcer proporções e contradizer a nossa experiência visual. Figura 29 – Abaporu (1928), Tarsila do Amaral Fonte: malba.org.ar Equilíbrio e Tensão A necessidade tanto física quanto psicológica que o homem tem de equilíbrio o torna a referência visual mais forte da percepção humana. O senso intuitivo de equilíbrio inerente à percepção corresponde ao método mais rápido e automático do observador para fazer avaliações visuais. A orientação horizontal-vertical constitui a relação básica do homem com o meio ambiente. 20 21 Figura 30 – The dance studio (1878), Edgar Degas Fonte: edgar-degas.org Além do equilíbrio simples e estático, existe o obtido pela reação entre peso e contrapeso, ou seja, quando forças de igual intensidade, agindo em direções contrárias, chegam a um estado de repouso ao compensar-se mutuamente. Figura 31 – Dancer tilting (1883), Edgar Degas Fonte: the-athenaeum.org 21 UNIDADE Composição O equilíbrio é um estado no qual as for- ças que agem sobre um corpo compen- sam-se mutuamente, por exemplo, quando duas forças de igual resistência puxam em direções opostas, toda a ação chega a uma pausa e a energia potencial do sistema chega ao mínimo. Essa definição física aplica-se também ao equilíbrio visual. Em uma composição equilibrada, todos os elementos relacionam-se mutuamente de tal modo que nenhuma alteração pareça possível e o todo assume o caráter de necessidade em relação às partes. A simetria não é condição necessária para se obter o equilíbrio em uma composição, mas é a técnica mais fácil para se chegar à estabilidade. É uma configuração na qual as unidades de um lado são iguais as do lado oposto, estejam ocupando um único ou mais eixos de referência: horizontal, vertical e/ou diagonal. Figura 32 – Our present image (1947), David Alfaro Siqueiros Fonte: essl.museum Com certa relatividade, podemos considerar uma composição simétrica ainda que suas unidades não sejam exatamente iguais, desde que os lados opostos apresentem uma forte semelhança. Figura 33 – Ancient human sacrifice, Jose Clemente Orozco Fonte: dartmouth.edu 22 23 É igualmente possível obter um equilíbrio assimétrico em uma composição quando as unidades presentes em cada lado dessa, ainda que diferentes, apresentam a mesma força visual. Figura 34 – Los dos Davides (1963), David Alfaro Siqueiros Fonte: christies.com A tensão não corresponde à formulação oposta do equilíbrio, e sim a uma força que modifica gradual ou repentinamente o aspecto de repouso característico do equilíbrio. É causada pelo desvio em relação à estabilidade dos eixos horizontal- vertical, com a alteração da posição ou direção das unidades, ou pela presença de unidades com pesos visuais dissonantes. Figura 35 – Migration, Jose Clemente Orozco Fonte: dartmouth.edu 23 UNIDADE Composição Peso e direção são fatores que exercem influência particular sobre o equilíbrio e a tensão. O peso visual pode ser definido como uma força de atração visual, a capacidade que uma unidade possui de deter a atenção do observador e de atrair ou repelir os demais elementos localizados próximos no campo compositivo, causando sempre um efeito dinâmico no esquema estrutural que provoca tensão em uma composição. O peso visual de uma determinada unidade está relacionado com diversos fatores, como tamanho, forma, cor e localização, entre outros. Quanto maior o tamanho, maior o peso visual do elemento. Figura 36 – Black square and red square (1915), Kasimir Malevich Fonte: ibiblio.org Formas regulares pesam mais que formas irregulares. Figura 37 – Composition (1944), Wassily Kandinsky Fonte: wassilykandinsky.net 24 25 Cores quentes pesam mais que cores frias. Figura 38 – Composition XI (1918), Theo van Doesburg. Fonte: guggenheim.org Cores saturadas pesam mais que cores não saturadas ou neutralizadas – acinzentadas. Figura 39 – Fire at full Moon (1933), Paul Klee Fonte: tate.org.uk Tonalidades escuras pesam mais que tonalidades claras. Figura 40 - Natureza morta (1960), Arcangelo Ianelli Fonte: uol.com.br 25 UNIDADE Composição Unidades localizadas no centro da composição ou próximas aos eixos horizontal e vertical centrais pesam mais do que afastadas desses locais. Figura 41 – Constellation: toward the rainbow (1941), Joan Miró Fonte: metmuseum.org Uma unidade isolada pesa mais do que uma semelhante próxima a outras unidades. Figura 42 – Pears series XIII #2 (1984-1985), Martha Alf Fonte: portlandartmuseum.us A atração entre os pesos vizinhos determina a direção das forças visuais da composição. 26 27 Nivelamento e Aguçamento O nivelamento e o aguçamento podem ser compreendidos, respectivamente, como a estabilidade ou a tensão causada por unidades que se concentram ou se desviam dos eixos horizontal e vertical centrais da composição. Em uma organização com nivelamento, as unidades são posicionadas no centro da composição ou sobre os eixos estruturais horizontal e vertical, de modo que não oferecem nenhuma surpresa visual e são estáveis. Figura 43 – The painter on his way to work (1888), Vicent van Gogh Fonte: vangoghgallery.com Em contrapartida, com aguçamento, unidades posicionadas fora dos eixos rompem com a sensação de centralidade e estabilidade do campo visual, criando tensão na composição. Figura 44 – The sower (1888), Vicent van Gogh Fonte: vangoghgallery.com 27 UNIDADE Composição Atração e agrupamento Atração e agrupamento são princípios de organização diretamente ligados às Leis da Gestalt, ou seja, a propensão humana de perceber os elementos ou as partes como todos unificados. Na composição, trata-se de uma condição que cria circunstâncias nas relações que envolvem interação. Unidades não similares que se encontram distantes em uma composição parecem repelir-se mutuamentee disputam a atenção do observador. Figura 45 – Brownish (1931), Wassily Kandinsky Fonte: wassilykandinsky.net A aproximação, por si, cria uma atração visual e esse efeito é intensificado pela similaridade entre as unidades, seja no tamanho, na forma ou na cor. O olho sempre tende a completar as lacunas entre as unidades para perceber um todo, porém, relaciona automaticamente e com maior força as unidades semelhantes. Figura 46 – Fragile (1931), Wassily Kandinsky Fonte: wassilykandinsky.net 28 29 Positivo e Negativo Positivo e negativo correspondem a uma sequência de visão alternada entre campos visuais, o positivo refere-se às unidades mais ativas que criam uma tensão visual e absorvem a atenção do espectador – figura – e o negativo, a tudo aquilo que se apresenta de maneira mais passiva na composição – fundo. Figura 47 – Portrait of Katharina Cornell (1951), Salvador Dalí Fonte: art-dali.com A segregação entre figura e fundo e a alternância entre os campos torna a manifestação visual da forma ambígua e muitas vezes engana o olhar. Figura 48 – Circle limit IV (1960), Escher Fonte: mcescher.com 29 UNIDADE Composição Podemos olhar para o campo visual e perceber um elemento que ali não existe, ou ainda não identificar claramente o positivo e o negativo, como no exemplo clássico do vaso e dos rostos: é a figura de um vaso cujo contorno sugere a imagem dos rostos – fundo – ou é a figura de dois rostos de perfil cujo espaço entre os quais – fundo – sugere o contorno de um vaso? Figura 49 – Segregação figura e fundo 30 31 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Caro(a) aluno(a), Há vários materiais, como vídeos, filmes, livros e sites, que podem ampliar seu conhecimento sobre a composição. Indica-se aqui os seguintes: Livros Sistema de leitura visual da forma do objeto GOMES FILHO, João. Exemplos práticos de leitura visual da forma do objeto. In: Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras, 2000. p. 103-119. Nestes capítulos, o autor propõe dois passos básicos para a leitura visual de uma forma e, em seguida, apresenta alguns exemplos práticos. O primeiro passo propõe uma análise orientada exclusivamente pelas Leis da Gestalt e o segundo, que o autor denomina de categorias conceituais, inclui os princípios de organização aplicados à composição e às técnicas de composição visual que estudaremos na próxima Unidade. Ambas as análises se encerram com uma interpretação conclusiva sobre a pregnância da forma. Vídeos À Mão Livre - Composição Básica e À Mão Livre - Estrutura da Composição Vídeos mão livre – composição básica – 01 e À mão livre – estrutura da composição – 12. Direção de Cristina Winther e roteiro, conteúdo e apresentação do artista plástico e arte-educador Philip Hallawell. Estes vídeos fazem parte da série À mão livre – a linguagem do desenho, 24 programas de quinze minutos, cada, exibidos pela TV Cultura na década de 1990, os quais apresentam os fundamentos, as técnicas e os processos criativos do desenho, além de sugerirem exercícios de composição. Um rico material para aprimorar sua percepção e expressão visual, assim como a sua criatividade. Disponíveis em: http://goo.gl/fwkQk2 e http://goo.gl/MpXm9w. Exercício de Análise e Composição - "Waldemar Cordeiro: Fantasia Exata" Neste vídeo, realizado pelo Instituto Itaú Cultural, Analívia Cordeiro e Renato Carvalho realizam um exercício de análise e composição de uma obra do artista brasileiro Waldemar Cordeiro. O exercício é inspirado pelas obras concretas, geométricas e desenhadas à mão. Vídeo Exercício de análise e composição – “Waldemar Cordeiro: fantasia exata” (2013). Disponível em: http://goo.gl/DN18Xe 31 Referências ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma Psicologia da visão criadora: nova versão. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1997. CAGE, J. A cor na arte autor. São Paulo: Martins Fontes, 2012. DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. [20--]. Disponível em: <http:// enciclopedia. itaucultural.org.br>. Acesso em: 6 out. 2015. FRASER, T.; BANKS, A. O guia completo da cor. 2. ed. São Paulo: Senac, 2010. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras, 2000. OCVIRK, O. et al. Fundamentos da arte – teoria e prática. 12. ed. Porto Alegre, RS: AMGH, 2014. OSTROWER, F. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. PEDROSA, I. O universo da cor. Rio de Janeiro: Senac, 2004. WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 32
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