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Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 0 http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 1 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Ética: O Conjunto De Regras Morais ................................................................................................ 2 1.1. Conceitos .......................................................................................................................... 4 1.2. Como adquirimos nossos valores éticos pessoais? ......................................................... 6 1.3. Ética nos Negócios ............................................................................................................ 8 1.4. Regras Fundamentais da Moralidade Comum ................................................................ 9 1.5. A Ética Profissional ......................................................................................................... 10 2. Filosofia - As Origens .............................................................................................................. 11 3. Noções Fundamentais Do Pensamento Filosófico-Científico ............................................... 16 3.1. A Physis ........................................................................................................................... 17 3.2. A Causalidade ................................................................................................................. 17 3.3. A Arque (Elemento Primordial) ...................................................................................... 18 3.4. O Cosmos ........................................................................................................................ 20 3.5. O Logos............................................................................................................................ 20 3.6. O Caráter Crítico ............................................................................................................. 21 3.7. Quadro sinóptico ............................................................................................................ 22 4. Teorias Deontológicas e Utilitarista ....................................................................................... 24 4.1. Intenção Ética e Norma Moral ....................................................................................... 25 4.2. O Utilitarismo na Prática ................................................................................................ 26 4.3. Dois Níveis de Pensamento Moral ................................................................................. 31 4.4. Teorias Deontológicas .................................................................................................... 32 4.5. Explicação Versus Prescrição de Formas de Conduta ................................................... 41 4.6. Responsabilidade Social ................................................................................................. 43 4.7. Princípios da Ética Social ................................................................................................ 48 4.8. Códigos De Ética Empresarial ......................................................................................... 51 4.9. Códigos de ética de empresas ........................................................................................ 52 Referências ..................................................................................................................................... 60 http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 2 Ética: O Conjunto De Regras Morais A moral é o conjunto de normas de conduta adotado como universalmente válido por uma comunidade humana ou cultura, num lugar e num tempo determinados. Sócrates elaborou a pergunta: “Como queremos viver?”. Respondendo a esta questão desenvolvemos o conceito de moralidade, nada mais é que o conjunto de regras sob as quais nós viemos na maioria do tempo. A ética é o conjunto de regras morais, que se constitui em um importante ramo da filosofia, que procura entender a natureza, a finalidade, a justificativa e os princípios fundamentais das normas morais e dos seus sistemas relacionais no contexto de dada sociedade. _______________ http://blog.maxieduca.com.br/diferenca-moral-etica/ http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 3 As decisões de negócios são decisões morais porque afetam os projetos de outras pessoas. Escolhas Morais: As escolhas morais podem caracterizar-se como oriundas de fatores subjetivos ou objetivos. Fatores objetivos: Estão relacionados às normas e costumes estabelecidos previamente. Fatores subjetivos: Estão relacionados às preferências pessoais. De igual modo, estão ligados aos princípios de liberdade da responsabilidade. Só podem ser falsos se houver desonestidade ou intenção de enganar por parte de quem faz a escolha. Não se espera que os outros tenham as mesmas preferências. Julgamentos Morais: Geralmente relacionados a temas objetivos de avaliação de comportamento. Espera-se que as pessoas estejam de acordo com as convicções morais do tecido social. A falta de conformidade e/ou violação resultam normalmente na penalização de quem viola determinado princípio de conduta social. A pessoa que passa por esta situação em geral sofre censura moral, a condenação e o escárnio. Ética Normativa = Ética Moral Baseia-se em princípios e regras morais fixas, o seu objetivo principal é formular normas válidas de conduta e de avaliação do carácter. Ética não Normativa (relativa, factual, experimental) A norma ética é puramente convencional, mutável, subjetiva. Logo existem várias normas aplicáveis (para uma mesma situação). http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 4 Não existem valores universais, objetivos, mas estes são convencionais, condicionados ao tempo e ao espaço. Não existem valores a priori: eles são criados conforme seja necessário ou oportuno. Investigação factual do comportamento moral 1.1. Conceitos -Absolutismo Ético: Padrão moral único e universal, isto é, verdadeiro. Ainda não foi descoberto. Quer dizer que uma vez conhecido esse padrão moral todos deveriam obedecê-lo. Relativismo ético simples: Não existe um único padrão moral objetivo (verdadeiros ou falsos) aplicável para todas as pessoas. A moral está relacionada sempre uma época, grupo social, etc. O que um grupo social julga correto, é o correto em um determinado tempo e lugar. Relativismo ético funcional: São as normas morais consideradas boas por uma sociedade, desde que essa sociedade existe. Essasnormas morais são aquelas que funcionam nessa sociedade, pois sua obediência propicia benefícios para todos na sociedade. Uma observação relevante: O Caráter. Caráter é o modo de ser de um indivíduo, através da soma de seus hábitos, virtudes, sua índole ou sua firmeza de vontade, seus vícios, suas características próprias, seu temperamento. Existe muitas variações do caráter de uma pessoa, que pode ser, covarde, dramático, desafiador, briguento, inconstante entre outros. O caráter não sofre as influências do meio, uma vez que ele é inerente ao individuo e se forma dentro do ventre materno. O conjunto das qualidades boas ou más é que determina sua conduta e a sua moralidade. Sua personalidade, seu humor e http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 5 temperamento que pode sofrer alterações em função da adaptação familiar, pedagógica e social do individuo. O caráter quando é forte, não se deixa vencer pelas liberalidades, pelas facilidades oferecidas que indicam um caminho errado, mesmo que naquele instante possa parecer correto. O individuo está sempre em estado de prontidão. É como se ficasse uma luz vermelha piscando, diante dos caminhos que se apresentam. A educação e a cultura são as responsáveis na tomada de decisão na vida, porém o diferencial é o caráter. O individuo é uma construção dele mesmo, ele forja seu próprio eu, presente sem máscaras, dentro dos seus pensamentos, formando os mais variados graus de caráter. O caráter é modelado, pela experiência, educação, autoconhecimento, formação familiar, e é lapidado com a perseverança e a determinação. Ainda sobre o caráter e a personalidade: Sobretudo as escolas da caracterológica alemã e franco-holandesa esforçaram-se por dar aos dois termos (personalidade e caráter) um significado diferente, sem que, no entanto, se chegasse a um consenso. René Le Senne, por exemplo, propõe a seguinte distinção: Caráter refere-se ao conjunto de disposições congênitas, ou seja, que o indivíduo possui desde seu nascimento e compõe, assim, o esqueleto mental do indivíduo; já personalidade, é definida como o conjunto de disposições mais "externas", como que a "musculatura mental" - todos os elementos constitutivos do ser humano que foram adquiridos no correr da vida, incluindo todos os tipos de processo mente Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em sua índole ou firmeza de vontade. O caráter de uma pessoa pode ser dramático, religioso, especulativo, desafiador, covarde, inconstante. Tais variações podem ser inúmeras. Mas não é o caráter que sofre as influências pelo meio em que é submetido, pois o ser humano demonstra sua pessoal característica desde os primeiros dias, quiçá ainda enquanto dentro do ventre materno. O caráter é inerente do próprio espírito, e os moldes de educação, adaptação às diferentes condições e fases da vida humana apenas levam o ser às escolhas que deve fazer, obedecendo elas a esse princípio primeiro. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 6 As culturas antigas costumavam declarar quando de uma pessoa de índole confiável: "Pessoa de caráter forte". Quando o caráter - presença inerente no ser - é forte, significa que por mais maravilhosos ou recompensadores os caminhos possam parecer, há sempre um sentimento de alerta dentro, que indica aquele como um caminho errado, mesmo que no momento possa parecer o correto. O caráter faz ver além, nas consequências dos atos de hoje, e não pode ser adquirido ou estudado ou mesmo aprendido. A educação e a cultura se diferem nesses valores, assim como o caráter se interfere a uma coisa e pessoas e difere das boas maneiras ou do estilo de vida que se leva. Ambos, a cultura e o estilo de vida, são transformados, adquiridos e estudados e podem ser esquecidos ou aprimorados. Mas o caráter faz desses todos seus caminhos. Escolher qual deles seguir e quais consequências irão advir só o caráter pode identificar, no momento que as decisões - de trabalho, amor, relações sociais, escolares, de amizade etc. - são tomadas. 1.2. Como adquirimos nossos valores éticos pessoais? Tudo começa na infância. Segundo Freud: Ego = Eu -> Busca do prazer -> Equilíbrio superego/id Superego = Censura -> Família, religião, Escola, cultura Id = Instinto -> Primitiva Pulsões: Eros (pulsão sexual) = tendência à preservação da vida. Tânatos (pulsão de morte) = tendência à destruição. Não agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 7 Formação da personalidade: a) Formação do superego: 6 anos b) Antes: censura externa. Pai, mãe, professora, padre, pastor moravam fora da criança. c) Depois: censura interna. Pai, mãe, professora, padre, pastor moram dentro da criança. A ética é necessária? A ética tem é principal regulador do desenvolvimento histórico e cultural da humanidade. Sem uma referência a princípios humanitários fundamentais comuns a todos os povos a humanidade já teria se autodestruído. Os seres humanos são capazes de concordar minimamente entre si sobre princípios como justiça, igualdade de direitos, dignidade, cidadania, solidariedade e outros entretanto esses princípios nem sempre são praticados por todos. Texto Complementar: Qualidade de Vida (Prof. Alessandro Martins – Blog Filosofando) Um amigo, certa vez, disse e concordo com ele que a qualidade de vida se sustenta em 3 pilares. Se você souber lidar bem com cada um deles, terá uma vida de boa qualidade. Eles não estão em ordem de importância: Saber lidar com o dinheiro: goste-se ou não, não se vive bem sem dinheiro ou sem algum dinheiro. O segredo aqui não é ter muito dinheiro. Mas gastar menos do que se ganha e fazer o que sobra render em mais dinheiro ou em qualidade de vida. Saber lidar com os relacionamentos afetivos: cultivar bons relacionamentos afetivos de caráter sexual, romântico ou de amizade é fundamental. O homem é um ser social por definição. Mais uma vez, não se mede a qualidade de sua vida pela quantidade de amigos, romances ou de parceiros sexuais que você tem, mas http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 8 pela qualidade desses aspectos e a forma descomplicada e clara com que você administra seus relacionamentos. Saber lidar com a comida: alimentar-se bem aumenta a chance de uma boa saúde, fundamental para a qualidade de vida. Note como cada um dos três aspectos interfere-nos outros dois. Por exemplo: uma boa alimentação, que traz melhores chances de você ter a saúde necessária para trabalhar e obter o dinheiro de que precisa para satisfazer suas necessidades mais ou menos básicas ou para ter a energia necessária para se relacionar com seus amigos e ser um membro atuante de sua comunidade. Também note como existem livros de autoajuda sobre cada um desses itens. Noentanto, é importante alertar que não existem fórmulas mágicas ou fórmulas prontas para trabalhar com dinheiro, relacionamentos e comida. O caminho de auto aprendizado é longo e exigente. Apesar disso, acho que se for encarado com prazer pode dar melhores resultados. 1.3. Ética nos Negócios Decisões Éticas: - Decisões que dizem respeito ao bem comum: a) ar, água, terra e outros recursos limitados; b) os benefícios à sociedade e a legitimidade do negócio na sociedade. Decisões feitas com respeito a pessoas, demandas conflitantes e operações de negócio: Estabelecendo a Moral: Os gerentes podem não saber raciocinar eticamente, ou podem não querer fazê- lo. Tipos de legislações passada como leis ou obrigações: http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 9 a) Lei antitruste; b) Código de Defesa do Consumidor; c) Legislação sobre verdade na propagada; d) Segurança do produto ou serviço; e) Proteção ambiental; f) Comportamento ético no governo. 1.4. Regras Fundamentais da Moralidade Comum A moralidade comum é o conjunto de regras sob as quais a maioria de nós conduz sua vida na maior parte do tempo, pois assume que é melhor fazer o “bem” do que o “mal”. São eles: Princípio de cumprir a promessa; Princípio da não malevolência; Princípio da ajuda mútua; Princípio do respeito às pessoas; Princípio do respeito à propriedade. Tomando uma decisão eticamente moral: a) Identificar o responsável pela decisão que possua um problema ético; b) Identificar o tema ético; c) Descrever as alternativas possíveis; d) Identificar pessoas, organizações ou grupos que possam se beneficiar ou se prejudicar por cada alternativa; e) Listar os benefícios e os prejuízos para cada parte envolvida; f) Mostrar quais as regras éticas usadas, qual o raciocínio que levou à decisão e escolher a Ação recomendada. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 10 1.5. A Ética Profissional Ética profissional é um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Código de Ética: O Código de Ética é o acordo explicito entre os membros de um grupo social. Deve descrever o modelo de conduta para seus membros. As profissões regulamentadas possuem um Código de Ética. Princípios da Ética Profissional: Honestidade enquanto ser humano e profissional. Perseverança na busca de seus objetivos e metas Conhecimento Geral e Profissional para oferecer segurança na execução das atividades profissionais. Responsabilidade na consecução de qualquer tarefa. Texto complementar: Teorias da Obrigação Moral (VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez, Ética, Editorial Grijalbo): Os éticos contemporâneos costumam dividir as teorias da obrigação moral em dois gêneros: deontológicas e teleológicas. Uma teoria da obrigação moral recebe o nome de deontológica (do grego déon, dever) quando a obrigatoriedade de uma ação não se faz depender exclusivamente das consequências da dita ação ou da norma a que se ajusta. Chama-se teleológica (de télos, em grego, fim) quando a obrigatoriedade de uma ação deriva somente das suas consequências. Tanto num caso como no outro, a teoria pretende dizer o que é obrigatório fazer. Ambos os tipos de teorias pretendem dar resposta à questão de como determinar o que http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 11 devemos fazer de modo que esta determinação possa orientar-nos numa situação particular. Suponhamos que um enfermo grave, confiando na minha amizade, me pergunta pelo seu verdadeiro estado, já que lhe parece que o médico e os familiares lhe ocultam a verdade. O que devo fazer neste caso? Enganá-lo ou dizer-lhe a verdade? De acordo com a doutrina deontológica da obrigação moral, devo dizer-lhe a verdade, quaisquer que sejam as consequências; ao invés, de acordo com a teoria teleológica, devo enganá-lo tendo presente as consequências negativas que para o doente possam advir ao ter conhecimento do seu verdadeiro estado. Enquanto que a ética formal de Kant se enquadra nas teorias deontológicas, a ética de Jeremy Bentham e John Stuart Mill constituem exemplos de teorias teleológicas. 2. Filosofia - As Origens O Surgimento Da Filosofia Na Grécia Antiga A passagem do pensamento mítico para o filosófico-cientifico. Um dos modos talvez mais simples e menos polêmicos de se caracterizar a filosofia e através de sua historia: forma de pensamento que nasce na Grécia antiga, por volta do sec. VI a.C. De fato, podemos considerar tal caracterização praticamente como uma unanimidade, o que costuma ser raro entre os historiadores da filosofia e os especialistas na área. Aristóteles, no livro I da Metafisica, talvez tenha sido o ponto de partida dessa concepção, chegando mesmo a definir Tales de Mileto como o primeiro filósofo. Veremos em seguida em que sentidos podem dizer isso, e o que nos leva a afirmar que a filosofia nasce em um momento e um lugar tão definidos, ou ate mesmo o que nos permite considerar determinado pensador como o "prime ira filosofo". Não teria havido pensamento antes de Tales e desse período de surgimento da filosofia? E claro que sim. Neste caso, o que tomaria o tipo de pensamento que afirmamos ter surgido com Tales e seus discípulos tão especial a ponto de ser considerada como inaugurando algo de novo, http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 12 a "filosofia"? Procuraremos, portanto, explicitar as razões pelas quais tradicionalmente se tem feito esta caracterização do surgimento do pensamento filosófico. Os diferentes povos da Antiguidade assírios e babilônios, chineses e indianos, egípcios, persas e hebreus, todos tiveram visões próprias da natureza e maneiras diversas de explicar os fenômenos e processos naturais. Só os gregos, entretanto, fizeram ciência, e na cultura grega que podemos identificar o principio deste tipo de pensamento que podemos denominar, nesta sua fase inicial, de filosófico-cientifico. Afirmou-se que o conhecimento científico, de cuja tradição e herdeiros, surge na Grécia por volta do Sec. VI a.C., nosso primeiro passo devera ser procurar entender por que se considera que esse novo tipo de pensamento aparece ai pela primeira vez e o que significa essa "ciência" cujo surgimento coincide com a emergência do pensamento filosófico. Quando dizemos que o pensamento filosófico-cientifico surge na Grécia no sec. VI a.C., caracterizando-o como uma forma especifica de o homem tentar entender o mundo que o cerca, isto não quer dizer que anteriormente não houvesse também outras formas de se entender essa realidade. E precisamente a especificidade do pensamento filosófico- científico que tentaremos explicitar aqui, contrastando-o com o pensamento mítico que lhe antecede na cultura grega. Procuraremos destacar as características básicasde uma e de outra forma de explicação do real. O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-se, sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio termo grego mythos significa um tipo bastante especial de discurso, O discurso fictício ou imaginário, sendo por vezes ate mesmo sinônimo de "mentira". As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica e indeterminada, e sua forma de transmissão e basicamente oral. O mito e, portanto, essencialmente fruto de http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 13 uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado individuo. Mesmo poetas como Homero, com a Ilíada e a Odisseia (Sec. IX a. C.), e Hesiodo (Sec. VIII a. C.), com a Teogonia, que são as principais fontes de nosso conhecimento dos mitos gregos, na verdade não são autores desses mitos, mas indivíduos no caso de Homero cuja existência e talvez lendária que registraram poeticamente lendas recolhidas das tradições dos diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia desde o período arcaico (c. 1500 a. C.). Por ser parte de urna tradição cultural, o mito configura assim a própria visão de mundo dos indivíduos, a sua maneira mesmo de vivenciar esta realidade. Nesse sentido, o pensamento mítico pressupõe a adesão, a aceitação dos indivíduos, na medida em que constitui as formas de sua experiência do real. O mito não se justifica não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, a critica ou a correção. Não ha discussão do mito porque ele constitui a própria visão de mundo dos indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, tendo, portanto um caráter global que exclui outras perspectivas a partir das quais ele poderia ser discutido. Ou o individuo e parte dessa cultura e aceita o mito como visão de mundo, ou não pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não lhe diz nada. A possibilidade de discussão do mito, de distanciamento em relação a visão de mundo que apresenta, supõe já uma transformação da própria sociedade e, portanto, do mito como forma reconhecida de se ver o mundo nessa sociedade. Voltaremos a este ponto mais adiante. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade e o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, a magia. As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo e governado por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente. São os deuses, os espíritos, o destino que governam a natureza, o homem, a própria sociedade. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 14 Os sacerdotes, os rituais religiosos, os oráculos servem como intermediarias pontes entre o mundo humano e o mundo divino. Os cultos e sacrifícios religiosos encontrados nessas sociedades são, assim, formas de se tentar alcançar os favores divinos, de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos deuses. Na Grécia pode-se dar como exemplo a religião do orfismo e os mistérios de Eleusis, cujas influencias se estendem a escola de Pitagoras e ao pitagorismo. E Aristóteles, como dissemos acima, que afirma ser Tales de Mileto, no Sec. VI a. C., o iniciador do pensamento filosófico-cientifico. Podemos considerar que este pensamento nasce basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontramos no pensamento mítico. De fato, desse ponto de vista, o pensamento mítico tem uma característica ate certo ponto paradoxal. Se, por um lado, pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro lado, recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar que não se pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana. A explicação dada pelo pensamento mítico esbarra assim no inexplicável, na impossibilidade do conhecimento. E nesse sentido que a tentativa dos primeiros filósofos da escola jônica será buscar uma explicação do mundo natural (a physis, dai o nosso termo “fisico”) baseada essencialmente em causas naturais, o que consistira no assim chamado naturalismo da escola. A chave da explicação do mundo de nossa experiência estaria então, para esses pensadores, no próprio mundo, e não fora dele, em alguma realidade misteriosa e inacessível. O mundo se abre, assim, ao conhecimento, a possibilidade total de explicação ao menos em principio a ciência. O pensamento filosófico-cientifica representa assim uma ruptura bastante radical com o pensamento mítico, enquanto forma de explicar a realidade. Entretanto, se o pensamento filosófico-científico surge por volta do Sec. VI a.C., essa ruptura com o pensamento mítico não se da de forma completa e imediata. Ou seja, o surgimento desse novo tipo de explicação não significa o desaparecimento por completo do mito, do qual, alias, sobrevivem muitos elementos mesmo em nossa sociedade contemporânea, em nossas crenças, superstições, fantasias etc., isto e, em nosso imaginário. O mito sobrevive http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 15 ainda que vá progressivamente mudando de função, passando a ser antes parte da tradição cultural do povo grego do que a forma básica de explicação da realidade. Contudo, sua influencia permanece mesmo em escolas de pensamento filosófico como o pitagorismo e na obra de Platão. E nesse sentido que devemos entender a permanência da referencia aos deuses nos filósofos gregos daquele período. E claro que essa mudança de papel do pensamento mítico bem como a perda de seu poder explicativo resulta de um longo período de transição e de transformação da própria sociedade grega, que tornam possível o surgimento do pensamento filosófico- cientifico no sec. VI a. C. Basicamente isso corresponde ao período de decadência da civilização micênico-cretense na Grécia, por volta do sec. XII a .C.,e de sua estrutura baseada em uma monarquia divina em que a classe sacerdotal tinha grande influencia e o poder politico era hereditário, e em uma aristocracia militar e em uma economia agraria. A partir da invasão da Grécia pelas tribos dóricas vindas provavelmente da Ásia central em tomo de 900 a 750 a.C., começam a surgir as cidades-estados, nas quais haverá uma participação politica mais ativa dos cidadãos, e uma progressiva secularização da sociedade. A religião vai tendo seu papel reduzido, paralelamente ao surgimento de uma nova ordem econômica baseada agora em atividades comerciais e mercantis. O pensamento mítico, com seu apelo ao sobrenatural e aos mistérios, vai assim deixando de satisfazer as necessidades da nova organização social, mais preocupada com a realidade concreta, com a atividade politica mais intensae com as trocas comerciais. E nesse contexto que o pensamento filosófico cientifico encontrara as condições favoráveis para o seu nascimento. E significativo, portanto, que Tales de Mileto seja considerado o primeiro filosofo e que o pensamento filosófico tenha surgido não nas cidades do continente grego como Atenas que terá seu período áureo posteriormente, Esparta, Tebas ou Micenas, mas nas colônias gregas do Mediterrâneo oriental, no mar Jônico, no que e hoje a península da Anatólia na Turquia. Essas colônias, dentre as quais se destacaram Mileto e Éfeso, foram importantes portos e entre postos comerciais, ponto de encontro das caravanas provenientes do http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 16 Oriente Mesopotâmia, Pérsia, talvez mesmo Índia e China, que para lá levavam suas mercadorias que eram embarcadas e transportadas para outros pontos do Mediterrâneo que os gregos cruzavam com suas embarcações. Ora, por esse motivo mesmo, nessas cidades conviviam diferentes culturas, e de forma harmoniosa, pois o interesse comercial fazia com que os povos que ai se encontravam, os gregos fundadores das cidades, fossem bastante tolerantes. As colônias gregas do mar Jônico eram então cidades cosmopolitas onde reinava certo pluralismo cultural, com a presença de diversas línguas, tradições, culto e mitos. E possível, assim, que a influencia de diferentes tradições míticas tenha levado a relativização dos mitos. O caráter global, absoluto, da explicação mítica teria se enfraquecido no confronto entre os diferentes mitos e tradições, revelando-se assim sua origem cultural: o fato de que cada povo tem sua forma de ver o mundo, suas tradições e seus valores. Ao mesmo tempo, em uma sociedade dedicada as praticas comerciais e aos interesses pragmáticos, as tradições míticas e religiosas vão perdendo progressivamente sua importância. Esta e uma hipótese que parece razoável; de um ponto de vista histórico e sociológico, e mesmo geográfico e econômico, para a explicação do surgimento do tipo de pensamento inaugurado por Tales e pela chamada Escola de Mileto, naquele momento e naquele contexto. Passemos agora a examinar algumas das características centrais desse tipo de pensamento, encontradas nao só na Escola de Mileto, mas praticamente, embora com diferenças, em quase todos os pensadores daquele período (sécs. VI ao V a. C.), os assim chamados filósofos pré-socráticos, por terem vivido antes de Sócrates. 3. Noções Fundamentais Do Pensamento Filosófico-Científico A principal contribuição desses primeiros pensadores ao desenvolvimento do pensamento filosófico, e podemos dizer também cientifico, encontra-se em um conjunto de noções que tentam explicar a realidade e que constituirão em grande parte, como http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 17 veremos alguns dos conceitos básicos das teorias sobre a natureza que se desenvolverão a partir de então. Embora essas noções sejam ainda um tanto imprecisas, já que se trata do momento mesmo de seu surgimento, podemos dizer que a filosofia e a ciência tem ai o seu inicio em nossa tradição cultural. Veremos como, de certa forma, essas noções constituem o ponto de partida de uma visão de mundo que, apesar das profundas transformações ocorridas, permanece parte de nossa maneira de compreender a realidade ainda hoje. Isso quer dizer que podemos reconhecer nesses pensadores as raízes de conceitos constitutivos de nossa tradição filosófico-cientifica. 3.1. A Physis Aristóteles (Metafisica I, 2) chama os primeiros filósofos de fisiólogos, ou seja, estudiosos ou teóricos da natureza (physis). Assim, o objeto de investigação dos primeiros filósofos-cientistas e o mundo natural; sendo que suas teorias buscam dar uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas puramente naturais, isto e, encontráveis na natureza, no mundo natural, concreto, e não fora deste, em um mundo sobrenatural, divino, como nas explicações míticas. Segundo esse tipo de visão, portanto, a chave da compreensão da realidade natural encontra-se nesta própria realidade e nao fora dela. 3.2. A Causalidade A característica central da explicação da natureza pelos primeiros filósofos e, portanto o apelo à noção de causalidade, interpretada em termos puramente naturais. O estabelecimento de uma conexão causal entre determinados fenômenos naturais constitui assim a forma básica da explicação cientifica e, em grande parte, por esse motivo que consideramos as primeiras tentativas de elaboração de teorias sobre o real como o inicio do pensamento cientifico. Explicar e relacionar um efeito a uma causa que o http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 18 antecede e o determina. Explicar e, portanto, reconstruir o nexo causal existente entre os fenômenos da natureza, e tomar um fenômeno como efeito de uma causa. E a existência desse nexo que toma a realidade inteligível e nos permite considera-la como tal. E importante, entretanto, que o nexo causal se de entre fenômenos naturais. Isto porque podemos considerar que o pensamento mítico também estabelece explicações causais. Assim, na narrativa da guerra de Troia na Iliada de Homero vemos os deuses tomar o partido dos gregos e dos troianos e influenciar os acontecimentos em favor destes ou daqueles. Portanto, fenômenos humanos e naturais tem nesse caso causas sobrenaturais. Trata-se de uma explicação causal, porem dadas através da referencia a causas sobrenaturais. E por isso que o que distingue a explicação filosófico-cientifica da mítica e a referencia apenas a causas naturais. A explicação causal possui, entretanto, um caráter regressivo. Ou seja, explicamos sempre uma coisa por outra e ha assim a possibilidade de se ir buscando uma causa anterior, mais básica, ate o infinito. Cada fenômeno poderia ser tomado como efeito de uma nova causa, que por sua vez seria efeito de uma causa anterior, e assim sucessivamente, em um processo sem fim. Isso, contudo, invalidaria o próprio sentido da explicação, pois, mais uma vez a explicação levaria ao inexplicável, a um mistério, portanto, tal como no pensamento mítico. fenômeno 1 → fenômeno 2 causa → efeito (causa) → (efeito) ...(causa) → (efeito) Para evitar que isso aconteça, surgindo a necessidade de se estabelecer uma causa primeira, um primeiro principio, ou conjunto de princípios, que sirva de ponto de partida para todo o processo racional. E ai que encontramos a noção de arque. 3.3. A Arque (Elemento Primordial) http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 19 A fim de evitar a regressão ao infinito da explicação causal, o que a tornaria insatisfatória, esses filósofos vão postular a existência de um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo. O primeiro a formular essa noção e exatamenteTales de Mileto, que afirma ser a agua (hydor) o elemento primordial. Não sabemos por que Tales teria escolhido a agua: talvez por ser o único elemento que se encontra na natureza nos três estados, solido, liquido e gasoso; talvez influenciado por antigos mitos do Egito e da Mesopotâmia, civilizações de regiões áridas e que se desenvolveram em deltas de rios e onde por isso mesmo a agua aparece como fonte da vida. Porem, o importante na contribuição de Tales não e tanto a escolha da agua, mas a própria ideia de elemento primordial, que da unidade a natureza. E claro que a agua tomada como primeiro principio e muito diferente da agua de nossa experiência comum, que bebemos ou que encontramos em rios, mares, e lagos. Trata-se realmente de um principio tomado aqui como simbolizando o elemento liquido ou fluido no real como o mais básico, mais primordial; ou ainda a agua como o elemento presente em todas as coisas em maior ou menor grau. Diferentes pensadores buscaram eventualmente diferentes princípios explicativos, assim, por exemplo, os sucessores de Tales na Escola de Mileto, Anaxímenes e Anaximandro, adotaram respectivamente o ar e o apeiro (um principio abstrato significando algo de ilimitado, indefinido, subjacente a própria natureza); Heráclito dizia ser o fogo o principio explicativo, Demócrito o átomo e assim sucessivamente. Empédocles, com sua doutrina dos quatro elementos como que sintetiza as diferentes posições, afirmando a existência de quatro elementos primordiais terra, agua, ar e fogo, tese retomada por Platão no Timeu e bastante difundida em toda a Antiguidade, chegando mesmo ao período moderno, presente nas especulações da alquimia no Renascimento ate o surgimento da moderna química. Pode-se considerar inclusive que, de certa forma, a química ainda hoje supõe que certos elementos básicos, como o hidrogênio, estejam presentes em todo o universo. A importância da noção de arque esta exatamente na tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma explicação da realidade em um sentido mais profundo, http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 20 estabelecendo um principia básico que permeie toda a realidade, que de certa forma a unifique, e que ao mesmo tempo seja um elemento natural. Tal princípio daria precisamente, o caráter geral a esse tipo de explicação, permitindo considera-la como inaugurando a ciência. 3.4. O Cosmos O significado do termo cosmos para os gregos desse período liga-se diretamente as ideias de ordem, harmonia e mesmo beleza (já que a beleza resulta da harmonia das formas; dai, alias, o nosso termo "cosmético"). O cosmo e assim o mundo natural, bem como o espaço celeste, enquanto realidade ordenada de acordo com certos princípios racionais. A ideia básica de cosmo e, portanto, a de uma ordenação racional, uma ordem hierárquica, em que certos elementos são mais básicos, e que se constitui de forma determinada, tendo a causalidade como lei principal. O cosmo, entendido assim como ordem, opõe-se ao caos (Kaos), que seria precisamente a falta de ordem, o estado da matéria anterior a sua organização. E importante notar que a ordem do cosmo e uma ordem racional, "razão" significando ai exatamente a existência de princípios e leis que regem, organizam essa realidade. E a racionalidade deste mundo que o toma compreensível, por sua vez, ao entendimento humano. E porque ha na concepção grega o pressuposto de uma correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real o cosmo que este real pode ser compreendido, pode-se fazer ciência, isto e, pode-se tentar explica-lo teoricamente. Dai se origina o termo "cosmologia", como explicação dos processos e fenômenos naturais e como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do universo. 3.5. O Logos O termo grego logos significa literalmente discurso, e com tal acepção que o encontramos, por exemplo, em Heráclito de Éfeso. O logos enquanto discurso, entretanto, http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 21 difere fundamentalmente do mythos, a narrativa de caráter poético que recorre aos deuses e ao mistério na descrição do real. O logos e fundamentalmente uma explicação, em que razoes são dadas. E nesse sentido que o discurso dos primeiros filósofos, que explica o real por meio de causas naturais, e um logos. Essas razões são fruto nao de uma inspiração ou de uma revelação, mas simplesmente do pensamento humano aplicado ao entendimento da natureza. O logos e, portanto, o discurso racional, argumentativo, em que as explicações são justificadas e estão sujeitas a critica. Dai deriva, por exemplo, o nosso termo “logico”. Porem, o próprio Heráclito caracteriza a realidade como tendo um logos, ou seja, uma racionalidade (ver o conceito de cosmo acima) que seria captada pela razão humana. Portanto, um dos pressupostos básicos da visão dos primeiros filósofos e a correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real, o que tomaria possível um discurso racional sobre o real. 3.6. O Caráter Crítico Um dos aspectos mais fundamentais do saber que se constitui nessas primeiras escolas de pensamento, sobretudo na escola jônica, e seu caráter critico. Isto e, as teorias ai formuladas nao o eram de forma dogmática, nao eram apresentadas como verdades absolutas e definitivas, mas como passiveis de serem discutidas, de suscitarem divergências e discordâncias, de permitirem formulações e propostas alternativas. Como se trata de construções do pensamento humano, de ideias de um filosofo e nao de verdades reveladas, de caráter divino ou sobrenatural, estão sempre abertas a discussão, a reformulação, a correções. O que pode ser ilustrado pelo fato de que, na escola de Mileto, os dois principais seguidores de Tales, Anaxímenes e Anaximandro, nao aceitaram a ideia do mestre de que a agua seria o elemento primordial, postulando outros elementos, respectivamente o ar e o apeíron, como tendo esta função. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 22 Isso pode ser tomado como sinal de que nessa escola filosófica o debate, a divergência e a formulação de novas hipóteses eram estimulados. A única exigência era que as propostas divergentes pudessem ser justificadas, explicadas e fundamentadas por seus autores, e que pudessem, por sua vez, ser submetidas a critica. Segundo o Importante Filósofo da Ciência Contemporâneo Karl Popper O que e novo na filosofia grega, o que e acrescentado de novo a tudo isso, parece- me consistir não tanto na substituição dos mitos por algo de mais "cientifico", mas sim em uma nova atitude em relação aos mitos. Parece-me ser meramente uma consequência dessa nova atitude o fato de que seu caráter começa então a mudar. A nova atitude que tenho em mente e a atitude critica. Em lugar de uma transmissão dogmática da doutrina (na qual todo o interesse consiste em preservar a tradição autentica) encontramos uma tradição critica da doutrina. Algumas pessoas começam a fazer perguntas a respeito da doutrina, duvidam de sua veracidade, de sua verdade. A dúvida e a critica existiram certamente antes disso. O que e novo,porem, e que a duvida e a critica tomam-se agora, por sua vez, parte da tradição da escola. Uma tradição de caráter superior substitui a preservação tradicional do dogma. Em lugar da teoria tradicional, do mito, encontramos a tradição das teorias que criticam, que, em si mesmas, de inicio, discussão critica que a observação e adotada como uma testemunha. Nao pode ser por mero acidente que Anaximandro, discípulo de Tales, desenvolveu uma teoria que diverge explicita e conscientemente divergido de modo igualmente consciente da doutrina de seu mestre. A única explicação parece ser a de que o próprio fundador da escola tenha desafiado seus discípulos a criticarem sua teoria transformado esta nova atitude critica de seu mestre em uma nova tradição 3.7. Quadro sinóptico http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 23 Passagem do pensamento mítico surgimento da filosofia na Grécia antiga (Séc. VI a.C). Ruptura entre essas duas formas de pensamento como resultante de transformações na sociedade grega da época, que se seculariza, tomando-se importante a atividade comercial. O surgimento do pensamento filosófico uma vez que ali se dava um maior contato com outras culturas, levando a uma relativização do mito e das práticas religiosas. O mito, como explicação do real através do elemento sobrenatural e misterioso, é considerado insatisfatório; os primeiros filósofos procuram explicar a realidade natural a partir dela própria: naturalismo da escola jônica. O novo pensamento filosófico possui características centrais que rompem com a narrativa mítica: A noção de physis A causalidade interpretada em termos estritamente naturais O conceito de arqué ou elemento primordial. A concepção de cosmo (o universo racionalmente ordenado). O logos como racionalidade deste cosmo e como explicação racional. O caráter crítico dessas novas teorias que eram sujeitas a discussão evitando o dogmatismo e fazendo com que se desenvolvessem, transformando-se e reformulando- se. Ética e moral ao longo dos tempos nao foi uniforme o uso dos termos: umas vezes empregues como sinônimos, outras com diferente significado, que varia segundo os autores. Moral vem do latim mos ou mores, que significa hábito ou hábitos. É com este termo que o latim julgou traduzir ethos, esquecendo-se da diferença que o grego apresenta entre: ἤθος– ethos (com eta inicial) morada, caracteriza o lugar onde o animal habita, a caverna; o caráter enquanto lugar de onde brota o ato, a interioridade do ato, o que ha de mais interior no homem, como se tratasse do centro do qual o agir emana. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 24 'ε´θος – ethos (com epsilon inicial) significa hábito. O primeiro sentido de ethos foi revelado por Heráclito em seu aforismo N° 119, onde diz: morada da consciência (Divino/ser) ou a consciencia (divino/ser) mora no homem. Na ética aristotélica não apenas ocorre o ethos como também ethos e e para esse segundo sentido, habito, que se serve a tradução latina. Moral diz respeito às ações praticadas por hábitos e aos costumes em geral, o que privilegia o lado pelo qual a ação e ainda exterior ao sujeito; esta exterioridade reenvia então para a lei e a regra. Segundo Adolfo Sanchez Vasquez A ética e a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade (...). A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma serie de praticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o principio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais". (VASQUEZ, 1975, p. 12) Podem-se classificar as teorias éticas de acordo com o seu fundamento em: Teorias teleológicas ou da responsabilidade decidem o que e moralmente justo ou injusto, pela comparação das consequências e dos riscos. Ex.: Utilitarismo os atos devem produzir o máximo de bens para o maior numero. Teorias deontológicas ou da convicção ha considerações de ordem superior, imperativos da consciência, mandamentos divinos. Ex.: Kant 4. Teorias Deontológicas e Utilitarista http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 25 Pode-se dizer que os utilitaristas diferem dos deontologistas por causa do modo como respondem a estas duas perguntas: 1. O que torna as nossas ações certas ou erradas? 2. Quando e que nossas ações são certas ou erradas? Utilitarismo: Apenas as consequências das nossas ações as tornam certas ou erradas. As nossas ações são certas ou erradas apenas em virtude de promoverem imparcialmente o bem-estar. Deontologia: Nem só as consequências das nossas ações as tornam certas ou erradas. Muitas ações são intrinsecamente erradas, ou seja, erradas independentemente das suas consequências. Podemos dizer, alias que todos temos de respeitar certos deveres que proíbem a realização dessas ações. Quando e que uma ação e certa ou errada? Aqui as respostas em disputa são as seguintes: Utilitarismo (contemporâneo): Uma ação e certa apenas quando maximiza o bem- estar, ou seja, quando promove tanto quanto possível o bem-estar. Qualquer ação que nao maximize o bem-estar e errada. Deontologia: Uma ação e errada quando com ela infringimos intencionalmente algum dos nossos deveres. Qualquer ação que nao seja contraria a esses deveres nao tem nada de errado. Um grupo de terroristas viaja num barco com dezenas de pessoas inocentes. Os terroristas levam consigo uma nova arma biológica que poderá provocar a morte de muitos milhões de pessoas. Infelizmente; a única maneira segura de impedir que os terroristas venham a usar essa arma e afundar o barco antes que este chegue ao seu destino. Mas será eticamente aceitável afundar o barco? 4.1. Intenção Ética e Norma Moral http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 26 Vamos examinar criticamente o utilitarismo e confronta-lo com alternativas apresentadas por aqueles que, como o filosofo do século XVIII Immanuel Kant, defende uma perspectiva deontológica da ética. Quem aceita esta perspectiva pensa que para fazermos o que esta certo devemos respeitar certas normas ou regras morais, mesmo nos casos em que desrespeita-las produziria melhores consequências. Muitos deontologistas pensam também que, para sabermos se uma pessoa agiu bem, temos de saber com que intenção ela agiu os efeitos ou consequências da sua ação nao são tudo o que e preciso levar em conta. 4.2. O Utilitarismo na Prática E o utilitarismo uma boa teoria moral? Ou será que ha razoes suficientemente fortes para o rejeitar? A melhor maneira de tentar responder a esta questão difícil consiste em descobrir o que o utilitarismo implicana pratica. Se nao estivermos dispostos a aceitar as suas implicações, teremos de procurar uma perspectiva mais satisfatória. Mas, como veremos, nem sempre e fácil determinar as consequências praticas do utilitarismo, isto e, que tipo de vida e que tipo de ações estão em conformidade com este teoria. Para começar, consideremos um dialogo em que um dos interlocutores apresenta argumentos aparentemente demolidores contra o utilitarismo: O utilitarismo tem certa simplicidade que me cativa. No fundo, diz-nos o seguinte: aprecia as situações com total imparcialidade e, para fazeres o que e melhor, escolhe a opção que mais vai beneficiar os que serão afetados pelas tuas ações. Parece-me que estas muito enganado quanto a simplicidade do utilitarismo. Já pensaste como, na pratica, seria insuportavelmente complicado viver como um utilitarista? Complicado? http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 27 Sim, o utilitarismo exige que te tornes uma espécie de maquina calculadora ambulante, sempre a tentar prever os custos e os benefícios prováveis das diversas opções que tens diante de ti. Ninguém conseguiria viver assim! Não sei se o utilitarismo exige esse tipo de vida... Tenho de pensar melhor no assunto. Alias, mesmo que pudesse haver uma sociedade utilitarista, eu nao gostaria de fazer parte dela... Porque? Porque nunca me sentiria seguro nessa sociedade. Um utilitarista genuíno nao hesitaria em mentirem, roubar-me ou mesmo matar-me quando descobrisse que fazer isso teria melhores consequências numa perspectiva imparcial. Como estaria sempre empenhado em produzir o maior bem para o maior numero, seria indiferente as normas morais que qualquer pessoa decente aceita. Para ele uma regra como nao deves matar pessoas inocentes nao tem a menor importância. Uma vez mais, só te posso dizer que tenho de pensar melhor no assunto. Sinceramente, não sei se na ética utilitarista nao ha qualquer lugar para as normas morais comuns. Duas Objeções ao Utilitarismo Antes de vermos como pode o utilitarista responder as criticas apresentadas neste dialogo, esclareçamos um pouco o seu conteúdo. Temos então duas criticas que, como se tornara obvio, estão bastante ligadas entre si: O utilitarismo não funciona na pratica, pois exige que estejamos sempre a calcular as consequências das nossas ações. Se isto for verdade, alias então o utilitarismo derrota-se a si próprio, pois quem perde demasiado tempo a fazer cálculos acaba por não contribuir tanto como podia para a felicidade geral. Isto se torna particularmente claro se imaginarmos situações que exigem uma decisão urgente. Supõe, por exemplo, que o Joao esta num barco e vê a Maria e o Jose a afogarem-se. Dadas as circunstancias, e muito improvável que ele tenha tempo para salvar os dois. Quem devera então salvar em primeiro lugar? O Joao fica quieto no barco http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 28 a tentar determinar se, numa perspectiva imparcial, será melhor salvar primeiro a Maria ou salvar primeiro o Jose. Antes de chegar a qualquer conclusão, a Maria e o Jose morrem afogados. O utilitarismo, como não leva em conta as normas ou regras morais comuns, predispõe-nos frequentemente a fazer coisas erradas como mentir, roubar ou matar. Para esclarecer esta objeção, tomemos como exemplo a regra. Não deves quebrar promessas≫ e imaginemos que o Pedro prometeu a Inês que pagaria o dinheiro que lhe estava a dever quando recebesse uma herança. Depois de receber a herança, no entanto, o Pedro pensa o seguinte: ≪Se eu pagar o que lhe estou a dever, ela vai gastar tudo na compra de um carro novo só para se exibir. O carro que ela tem, alias, ainda esta muito bom. Por isso, vou antes dar o dinheiro a uma organização de defesa do ambiente afinal, fazer isso produzira melhores consequências. Parece assim que o Pedro, raciocinando de uma maneira utilitarista, se esta a colocar acima das regras morais comuns, o que o leva a proceder de uma maneira errada, quebrando a promessa que fez a Inês. Na verdade, parece que o Pedro, se for um utilitarista genuíno, será capaz de cometer qualquer atrocidade em nome do maior bem para o maior numero. Uma Resposta às Objeções Como responde o defensor do utilitarismo a estas objecções? Ambas se baseiam no pressuposto de que um utilitarista tem de tomar as suas decisões aplicando diretamente o seu principio ético em todas as situações em que se encontra. Este pressuposto, no entanto, e falso: o utilitarismo e primariamente uma teoria sobre o que torna as ações certas ou erradas não e uma teoria sobre como devemos tomar as nossas decisões. A utilitarista pensa: fazer o que este certo e apenas uma questão de promover imparcialmente o bem-estar. Ele aceita assim o principio: Devemos promover imparcialmente o bem-estar. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 29 Mas aceitar este princípio não implica pensar que devemos tê-lo sempre em mente quando agimos. Não implica que devemos estar sempre a tentar fazer as nossas escolhas em função do bem-estar produzido. Por isso, um utilitarista não tem de estar constantemente a tentar decidir o que fazer calculando as consequências das suas ações até porque esse tipo de atitude como vem no exemplo do afogamento, certamente não favorece a promoção da felicidade geral. Deste modo, a primeira objecção acima apresentada e muito fraca, pois parte da ideia falsa de que o utilitarismo exige que estejamos sempre a calcular as consequências das nossas ações. E a segunda objecção? Também ela se baseia numa premissa falsa não e verdade que o utilitarismo não leva em conta as normas ou regras morais comuns. E certo que para umas utilitaristas regras como> Não deves roubar ou Não deves matar pessoas inocentes Não são princípios morais básicos, pois para ele só ha um principio moral básico. Deves promover imparcialmente o bem-estar. No entanto, os utilitaristas salientam que, dadas as circunstancias em que vivemos, as regras morais comuns são indispensáveis. No texto que se segue, Peter Singer, explicando a perspectiva de R. M. Hare, que ele próprio aceita, mostra por que razão o utilitarismo não dispensa tais regras: Na vida real na o podemos normalmente prever todas as complexidades das nossas escolhas. Não e pura e simplesmente pratico tentar calcular antecipadamente as consequências de todas as escolhas que fazemos. Mesmo que nos limitássemos às escolhas mais significativas, haveria o perigo de, em muitos casos, estarmos a calcular em circunstancias longe das ideais. Poderíamos estar com pressa ou confusos. Poderíamos sentir-nos furiosos, magoados ou em competição. Os nossos pensamentos poderiam estar toldados pela ganancia, pelo desejo sexual ou por ideias de vingança. Os nossos interesses pessoais ou das pessoas que amamos poderiam estar em jogo. Ou poderia acontecer que não fossemos muito bons a avaliar http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060Página | 30 questões tão complicadas como as consequências prováveis de uma escolha importante. Por todas estas razoes, Hare pensa que seria melhor adoptarmos alguns princípios éticos gerais para a vida ética quotidiana, e não nos desviarmos deles. Esses princípios deveriam incluir aqueles que a experiência mostrou ao longo dos séculos que conduzem geralmente as melhores consequências e, na perspectiva de Hare, incluiriam muitos dos princípios morais canônicos, como, por exemplo, dizer a verdade, respeitar as promessas, não prejudicar os outros, e assim por diante. [ ... ] Mesmo que, ao nível critico, possamos conceber circunstancias nas quais melhores consequências resultariam de agir contra um ou mais destes princípios, as pessoas procederiam melhor, no seu todo, atendo-se a estes princípios do que não o fazendo. [ ... ] E possível que, uma vez por outra, nos encontremos em circunstancias nas quais seja absolutamente claro que afastarmo-nos dos princípios dará melhores resultados que os que obteríamos se nos ativéssemos a esses princípios, caso em que temos uma justificação para esse afastamento. Mas, para a maioria das pessoas, na maior parte do tempo, essas circunstancias não surgirão e podem ser excluídas do nosso pensamento. (Peter Singer, Ética Pratica 1993, pp. 113-4) Regressemos ao exemplo do Pedro e da Inês. Será que, afinal, o utilitarismo implica que o Pedro deve quebrar a promessa que fez a Inês? Não, diria o utilitarista, pois esta longe de ser obvio que quebrar a promessa ira produzir melhores consequências. Como sabe o Pedro que a organização ambiental ira usar bem o dinheiro? E como sabe ele que a Inês ira gasta-lo em algo supérfluo? Não estará a ser motivado por algum sentimento de vingança em relação a Inês e, consequentemente, a ter uma visão distorcida da situação? Além disso, se o Pedro quebrar a promessa, provavelmente os que souberem disso deixarão de confiar nele, e assim ele talvez venha a perder oportunidades de cooperar com os outros no sentido de promover o bem. Perante todas estas incertezas, concluiria o utilitarista, o Pedro devera manter-se fiel a regra nao deves quebrar promessas≫. Como mostra a experiência, esta e uma regra importante para assegurar a convivência harmoniosa entre os seres humanos. Por isso, devemos ter uma forte disposição para http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 31 respeita-la e só em casos invulgares será sensato considerar a possibilidade de quebrar uma promessa. 4.3. Dois Níveis de Pensamento Moral O utilitarista pensa então que, para promovermos o bem-estar, na grande maioria dos casos o nosso pensamento moral deve permanecer a um nível intuitivo: devemos tomar as nossas decisões de acordo com as regras simples da moral, seguindo as nossas intuições sobre o que esta certo e errado e sem entrarmos em cálculos elaborados a proposito das consequências prováveis dos nossos atos. No entanto, ha casos em que temos de ir mais longe. Por vezes, o nosso pensamento moral deve situar-se a um nível critico, e a este nível devemos aplicar o próprio principio utilitarista para tomar a decisão correta. Imagina, por exemplo, que fizeste uma promessa, mas que, entretanto as coisas se complicaram de tal maneira que só podes cumprir a tua promessa roubando certo objeto. O que deves fazer? Numa situação deste tipo, diria o utilitarista, não podes encontrar uma resposta clara nas regras morais comuns, pois segundo estas não devem roubar nem quebrar promessas. Só que agora te vês forcado a fazer uma destas coisas. Tens então de recorrer ao principio utilitarista para determinar se, na situação em que estas, será melhor quebrar a promessa ou roubar o objeto. Aplicar este princípio, obviamente, e tentar determinar qual dessas opções terá melhores consequências numa perspectiva imparcial. O principio utilitarista não serve apenas para decidir o que fazer quando as regras morais comuns estão em conflito também serve para avaliar criticamente essas mesmas regras. E claro que uma regra como “Não deves roubar”: merece a aprovação do utilitarista, pois, como mostra a experiência, seguir essa regra, incorpora-la no nosso caractere, censurar quem a desrespeita e ensina-la as crianças e algo que contribui indiscutivelmente para o bem- estar. Mas nem todas as regras morais são assim tão incontroversas. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 32 Considera, por exemplo, a seguinte regra, que ainda hoje e aceite por muita gente em muitos lugares do mundo: Uma mulher deve obedecer ao seu marido. Será que devemos seguir esta regra, incorpora-la no nosso caractere, censurar quem a desrespeita e ensina-la as crianças? O utilitarista, depois de avalia-la criticamente, dirá que não. Embora a aceitação dessa regra produza algumas boas consequências para os homens, também leva a uma enorme opressão das mulheres. Assim, considerando imparcialmente os diversos interesses em jogo, temos de concluir que adoptar tal regra nao promove a felicidade geral. Portanto, deve ser rejeitada. A teoria apresentada conhecida por utilitarismo dos dois níveis. Foi desenvolvida, sobretudo por Hare, embora já Mill a tivesse esboçado no seu Utilitarismo. Podemos resumi-la indicando o que caracteriza cada um dos níveis do pensamento moral: Nível intuitivo: Como o nosso conhecimento e muito limitado, tomamos as nossas decisões quotidianas segundo as regras morais simples que aceitamos, obedecendo às inclinações do nosso caractere, sem aplicar o principio utilitarista. Nível critico: Aplicamos o principio utilitarista para tomar decisões em situações em que as regras morais comuns não nos permitem saber o que fazer avaliar criticamente essas regras de modo a determinar se elas promovem ou não o bem-estar. Em rigor, os filósofos utilitaristas não examinam só regras. Eles ocupam-se, sobretudo, alias, da avaliação critica de praticas controversas. No século XIX, Mill insurgiu- se contra a escravatura e defendeu o sufrágio feminino; hoje, Singer discute praticas como o aborto, a eutanásia ou mesmo a criação de animais para alimentação. O utilitarismo e uma das teorias morais mais influentes, sendo indiscutível a sua relevância pratica. Mas muitos filósofos pensam que nao e uma boa teoria e que devemos adoptar antes uma perspectiva deontológica da ética. 4.4. Teorias Deontológicas Neste momento, a diferença fundamental entre uma ética utilitarista e uma ética deontológica já deve estar clara, Mas como ate ao final do capitulo vamos ocupar-nos da http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 33 polemica que divide os defensores destas perspectivas, vale a pena precisar essa diferença, Podemos dizer que os utilitaristas diferem dos deontologistas por causa do modo como respondem a estas duas perguntas: 1. O que torna as nossas ações certas ou erradas? 2. Quando e que nossas ações são certas ou erradas? Podemos dizer, alias que todos temos de respeitar certos deveres que proíbem a realização dessas ações. Para um deontologista,como Kant ou David Ross, mesmo quando e absolutamente obvio que agir de certa maneira produzira as melhores consequências, poderá ser errado agir dessa maneira caso isso implique infringir algum dos nossos deveres. Mas quais são exatamente os nossos deveres? Ross tenta responder a esta questão apresentando a seguinte lista de deveres: Fidelidade: Mantem as tuas promessas. Reparação: Compensam os outros por qualquer mal que lhes tenhas feito. Gratidão: Retribui fazendo bem aqueles que te fizeram bem. Justiça: Opõe-te as distribuições de felicidade que nao estejam de acordo com o mérito. Desenvolvimento pessoal: Desenvolve a tua virtude e o teu conhecimento. Beneficência: Faz bem aos outros. Não-maleficência: Não prejudiquem os outros. Uma lista como esta suscita problemas difíceis. Como sabemos que são estes os nossos deveres? E o que fazer quando os nossos deveres entram em conflito? Os deontologistas não respondem todos da mesma maneira a estas perguntas. Kant, que certamente aceitaria uma lista semelhante a de Ross, defende que os nossos deveres resultam de um principio moral fundamental o imperativo categórico, que examinaremos mais a frente. Ross, pelo contrario, afirma que não ha qualquer principio moral mais básico e que sabemos por simples intuição quais são os nossos deveres. Qualquer pessoa eticamente lucida consegue ver que os deveres indicados na lista são os nossos deveres morais básicos. Ross, alias, também defende que só a nossa intuição http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 34 moral pode guiar nos quando ha um conflito de deveres, indicando-nos o dever que tem de prevalecer na ocasião do conflito. Isto significa que nenhum dos deveres acima mencionado e absoluto por vezes justifica-se quebrar uma promessa, por exemplo, para beneficiar os outros. Já Kant entende que certos deveres, como o de nao mentir, são absolutos, de tal maneira que alguns tipos de atos nunca podem ser realizados, sejam quais forem as consequências. Ha regras morais que devem ser respeitadas em todas as circunstancias possíveis. Mas, passemos a segunda questão. Quando e que uma ação e certa ou errada? Aqui as respostas em disputa são as seguintes: Utilitarismo (contemporâneo): Uma ação e certa apenas quando maximiza o bem- estar, ou seja, quando promove tanto quanto possível o bem-estar. Qualquer ação que não maximize o bem-estar e errada. Deontologia: Uma ação e errada quando com ela infringimos intencionalmente algum dos nossos deveres. Qualquer ação que não seja contraria a esses deveres não tem nada de errado. Para o deontologista, a ética exige primariamente que evitemos realizar certos tipos de atos, considerados intrinsecamente errados. E certo que, entre os nossos deveres, ele costuma incluir o dever de beneficiar os outros promovendo de alguma maneira o seu bem-estar. Tal dever, no entanto, e apenas um aspecto da nossa vida moral e nao tem de se apresentar como a nossa preocupação fundamental. O deontologista nao vê nada de errado em dedicarmos grande parte do nosso tempo a atividades e projetos que, muito provavelmente, não contribuirão para a felicidade geral. Já os utilitaristas contemporâneos, como Hare e Singer, costumam insistir na ideia de que fazer o que está certo e maximizar o bem-estar. Isto significa que, perante varias opções, temos a obrigação de escolher aquela que apresenta a maior utilidade esperada todas as outras são erradas. Os utilitaristas clássicos, Bentham e Mill, não vão tão longe neste aspecto. Afirmam que a nossa única obrigação moral básica e promover o bem-estar, sem duvida, mas nunca acrescentam que temos de promovê-lo tanto quanto possível. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 35 Na verdade, pressupõem que o certo e o errado admitem graus: as nossas ações são certas na medida em que promovem o bem-estar; erradas na medida em que não promovem o bem-estar. Como ficara claro na próxima seção, esta perspectiva mais moderada torna-os imunes a uma das criticas que os deontologistas fazem ao utilitarismo. Ainda no que diz respeito ao problema de saber quando e que as nossas ações são certas ou erradas, importa sublinhar que enquanto os deontologistas consideram importante a intenção subjacente as ações, os utilitaristas concentram-se exclusivamente nos efeitos das mesmas. Muitos deontologistas sustentam que em algumas circunstancias podemos provocar maus efeitos, como a morte de uma pessoa, desde que não o façamos intencionalmente. Um utilitarista, como só leva em conta as consequências das ações, não aceita esta ideia. Para ele a única coisa que justifica provocarmos um mau efeito e isso servir para dar origem a algo melhor ou evitar algo ainda pior. Nesta perspectiva, para sabermos se alguém procedeu erradamente ao provocar a morte de uma pessoa, não interessa saber se essa morte foi provocada intencionalmente ou não só interessa saber se provocar essa morte serviu para alguma coisa boa, como, por exemplo, evitar a morte de varias pessoas. (Recorda o exemplo do capitulo anterior em que o Pedro propõe ao Joao que este mate um índio). Aprofundaremos um pouco este aspecto da polemica no final do capitulo. Nas próximas paginas, vamos considerar alguns dos argumentos mais fortes dos deontologistas. Quando argumentam contra o utilitarismo alegando que este tem consequências inaceitáveis, defendem o seguinte: Que o utilitarismo nos obriga a realizar certos atos que nao são moralmente obrigatórios. E por isso, em certos aspectos, uma teoria moral demasiado exigente. Que o utilitarismo permite ou consente certos atos que nao são moralmente permissíveis. E por isso, noutros aspectos, uma teoria moral demasiado permissiva. Veremos, em primeiro lugar, por que razoes pensam os deontologistas que o utilitarismo e demasiado exigente e depois por que acreditam que este e também demasiado permissivo. http://www.institutoensinarcursos.com.br/ Curso Gestão em Logística Acesse: www.Institutoensinarcursos.com.br Rua 4, N. 382 - St. Central, Goiânia - GO, 74020-060 Página | 36 Integridade Os utilitaristas contemporâneos pensam que estamos sob a obrigação de maximizar imparcialmente o bem-estar. Isto quer dizer que devemos fazer tudo o que esta ao nosso alcance para contribuir tanto quanto possível para a felicidade geral. Nao será esta, no entanto, uma perspectiva que exige demasiado de nos? Como seria a nossa vida se a aceitássemos coerentemente? O texto que se segue permite-nos discernir a resposta para estas perguntas. Diz-se que a moral, tal como e entendida em algumas teorias morais, faz exigências excessivas às pessoas - exige que abandonemos os nossos projetos preferidos e possivelmente ate aquilo que da sentido a nossa vida. Este problema, na medida em que tem fundamento, e um problema para as teorias que, como sucede frequentemente nas teorias consequencialistas, nos exigem que maximizemos o bem. Se o bem a maximizar for um bem geral, como a felicidade humana, e não um bem pessoal, como a nossa própria felicidade, a obrigação de maximizar a felicidade pode deixar pouco espaço para desenvolvermos os nossos próprios projetos. Uma entomologista que esta fascinada pelos hábitos de certo tipo de inseto
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