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PRIMEIROS 
SOCORROS 
Beatriz Paulo Biedrzycki
Etapas básicas nos 
primeiros socorros
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar as etapas básicas aplicadas aos primeiros socorros.
 � Analisar as características do local onde ocorreu o acidente.
 � Descrever ações de cuidados e proteção com a pessoa que sofreu 
o acidente.
Introdução
Acidentes são a maior causa de internações em hospitais, causando 
vítimas diariamente. Esses acidentes podem ter diferentes gravidades, 
podendo não causar nenhuma lesão à vítima ou evoluir a óbito. Por isso, 
saber reconhecer a gravidade de um acidente e do estado de saúde da 
pessoa acidentada é muito importante.
Os primeiros socorros devem ser prestados em todas as situações 
de acidente, independente da complexidade, podendo ser cruciais, 
principalmente em acidentes graves, onde o socorro imediato pode ser 
a diferença entre a vida e a morte. Para tal, o atendimento de primeiros 
socorros deve ser feito no local do acidente, com o objetivo de manter a 
vítima do acidente ou agravo de saúde viva para receber o atendimento 
médico especializado. Esse tipo de atendimento pode e deve ser de 
conhecimento não apenas de profissionais de saúde, mas de toda a 
sociedade.
Neste capítulo, você vai identificar os princípios básicos do atendi-
mento em primeiros socorros, bem como aprender a avaliar corretamente 
um local de acidente e apontar os procedimentos a serem aplicados à 
pessoa que sofreu um acidente.
Causas dos acidentes
No Brasil, de 2010 a 2015, os acidentes representaram 80% das internações 
realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Desses acidentes, as quedas repre-
sentam 45% das hospitalizações, e os acidentes de transporte, 22% (RIBEIRO; 
SOUZA; BAHIA, 2016). As quedas são a sexta maior causa de mortalidade 
entre idosos, sendo que 70% dos idosos acometidos por elas evoluem ao óbito 
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA, 2008). 
Já os acidentes de transporte são a nona maior causa de morte, responsáveis 
por acometer 3 mil pessoas por dia em todo o mundo (WHO, 2009).
Tais acidentes e mortes podem ser entendidos como evitáveis, uma vez que 
são causados por causas externas que podem ser evitadas através de campanhas 
de conscientização. Além de afetar predominantemente os jovens, adultos e 
idosos, também incidem sobre as faixas etárias de crianças e adolescentes.
Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, a palavra “acidente” 
significa aquilo que é casual, fortuito e imprevisto. Um acontecimento que 
envolve dano, estrago, sofrimento ou morte, desastre, desgraça. Quando 
analisamos apenas esse significado da palavra acidente, fica fácil imaginar 
que os acidentes não podem ser evitados, o que é um grande equívoco! O 
acidente possui causa, origem e determinantes epidemiológicos como qualquer 
outra doença e, em consequência, pode ser evitado e controlado. Quando sua 
importância é reconhecida, os programas específicos voltados para a segu-
rança, e não direcionados para o tratamento das lesões, como, por exemplo, 
treinamentos em primeiros socorros, atingirão os alvos corretos na cadeia das 
causas dos acidentes (FRANÇOSO; MALVESTIO, 2007).
Todo acidente possui fases (antes, durante ou depois do acidente). Esse 
acidente é sofrido por uma ou mais pessoas, que podem ser chamadas de 
sujeitos. No caso dos acidentes, o agente é o causador, o que fez com que 
esse acidente ocorresse. E acidentes acontecem sempre em algum lugar, 
ou seja, estão sempre inseridos em um contexto físico e/ou geográfico e 
socioambiental, que envolve hábitos e costumes; sendo essas as dimensões 
epidemiológicas dos acidentes. Observe o Quadro 1.
Etapas básicas nos primeiros socorros2
Fonte: Adaptado de Françoso e Malvestio (2007).
Fases Sujeito Agente
Ambiente 
físico
Ambiente 
socioeconômico
Pré-acidente Campanhas 
de 
prevenção
Reduzir a 
quantidade
Separar 
o agente 
da vítima
Modificações 
ambientais
Acidente Estabilizar 
e reparar
Inibir a causa Afastar 
outros 
agentes
Disponibilidade 
de barreiras ou 
proteções
Pós-
acidente
Reabilitar Centros de 
trauma
Suporte e 
treinamento de 
atendimento de 
emergência
Quadro 1. Dimensão epidemiológica dos acidentes
Todo acidente é causado por um agente externo, acompanhado de um 
desequilíbrio que ocorre entre o indivíduo e o seu ambiente, o que permite que 
certa quantidade de energia seja transferida do ambiente para o indivíduo, o 
que gera um dano. A energia transferida pode ser mecânica (quedas e tromba-
das), térmica (queimaduras), elétrica (choques) ou química (envenenamentos). 
Entender esses fatores nos auxilia em compreender como esses fenômenos 
ocorrem (FRANÇOSO; MALVESTIO, 2007).
Agora que você já sabe como os acidentes se constituem, podemos passar 
para a próxima etapa, que é o atendimento ao sujeito acidentado, também 
compreendido como primeiros socorros.
Primeiros socorros: princípios básicos
O tema primeiros socorros é, atualmente, considerado de grande relevância, 
tendo em vista que muitos agravos à saúde acontecem diariamente no trânsito, 
nos domicílios, no ambiente de trabalho, nas escolas e em diversos lugares 
(VARELLA; JARDIN, 2011), podendo ter diferentes gravidades e diferentes 
necessidades de atendimento.
Em 1979, o termo primeiros socorros era definido como o tratamento 
imediato e provisório dado em caso de acidente ou enfermidade imprevista, 
geralmente prestado no local do acidente e, com exceção de certos casos leves, 
3Etapas básicas nos primeiros socorros
até que a pessoa que realiza o atendimento possa pôr o sujeito a cargo de um 
médico para o tratamento definitivo (HAMMERLY, 1979).
Curiosamente, mesmo tendo-se passado 40 anos desde que esse conceito 
foi concebido, ele ainda é bastante atual, parecendo-se muito com o conceito 
apresentado por Brasil (2003, documento on-line):
Podemos definir primeiros socorros como sendo os cuidados imediatos que 
devem ser prestados rapidamente a uma pessoa, vítima de acidentes ou de mal 
súbito, cujo estado físico põe em perigo a sua vida, com o fim de manter as 
funções vitais e evitar o agravamento de suas condições, aplicando medidas 
e procedimentos até a chegada de assistência qualificada.
Mesmo que algumas técnicas e nomenclaturas tenham mudado ao longo 
do tempo, é unanime, tanto nos manuais de 1979 quanto nos mais modernos, 
que dar um atendimento adequado à vítima de qualquer acidente o mais breve 
possível aumenta suas chances de recuperação da saúde, podendo, por vezes, 
ser de suma importância para salvar uma vida. 
Cabe ressaltar que os primeiros socorros podem e devem ser de conheci-
mento não apenas dos profissionais da área da saúde, mas da sociedade como 
um todo. Mas, apesar de sua importância, no Brasil o ensino de primeiros 
socorros tem sido pouco divulgado, preponderando o desconhecimento sobre o 
tema nos diversos segmentos da sociedade (VERONESE et al., 2010). Mesmo 
com estudos que apontam o despreparo dos professores de educação física 
quanto a essa temática, o ensino de procedimentos de primeiros socorros parece 
ser a melhor maneira de reverter o quadro (ESTEVES et al., 2015). Outros 
estudos mostram que incorporar os conhecimentos de primeiros socorros entre 
os estudantes auxilia na redução de acidentes nas escolas (FIORUC et al., 2017).
Quando realizar um atendimento de primeiros socorros, é importante guiar-se pelo 
sistema P.A.S., em que as três letras norteiam o atendimento de urgência. Observe a 
seguir:
 � Prevenir: afastar o perigo do acidentado ou o acidentado do perigo.
 � Alertar: contatar diretamente o atendimento emergencial informando dados e 
características do acidente. 
 � Socorrer: após avaliações.
Etapas básicas nos primeiros socorros4
Para que tal atendimento seja prestado com excelência, é importante ob-
servar alguns passos para um atendimento de primeiros socorros de qualidade 
(BRASIL, 2003):
 � Manter a calma: a pessoa que sofreu o acidente, ou teve um agravosúbito de saúde, já está nervosa o suficiente, sendo imprescindível que 
a pessoa que irá prestar atendimento mantenha a tranquilidade.
 � Ligar para o serviço de emergência: é necessário ter ciência de que o 
atendimento de primeiros socorros é para manter a vítima do acidente 
viva até que chegue o socorro médico especializado; logo, é primor-
dial que o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) seja 
acionado imediatamente pelo número 192.
 � Manter o acidentado vivo até a chegada do serviço de urgência: o ob-
jetivo do atendimento de primeiros socorros é permitir que a vítima esteja 
viva quando o SAMU chegar para prestar o atendimento especializado.
 � Aplicar os procedimentos de primeiros socorros com segurança: 
é importante que a pessoa que está prestando atendimento realize os 
procedimentos de primeiros socorros que tem conhecimento e segurança 
para realizar, com a certeza de que não irá colocar em risco a sua vida 
nem a do acidentado.
 � Não remova a vítima do local do acidente: não é recomendado que se 
manuseie ou remova a vítima do local do acidente, pois pode-se causar 
uma lesão também conhecida como segundo trauma e agravar ainda 
mais o estado de saúde da vítima do acidente.
 � Não medicar o acidentado: não é recomendado que se medique a pessoa 
que sofreu o acidente, uma vez que não se sabe o histórico de saúde 
desse sujeito, nem todos os efeitos que um determinado medicamento 
pode ter em determinada situação. Deixe que o serviço especializado 
ministre a medicação adequada ao caso.
O termo segundo trauma refere-se a quando, durante uma remoção inadequada da 
vítima do acidente, acaba-se, por fim, a ocasionar novas lesões ou, ainda, agravar as 
lesões já existentes. Por exemplo, uma lesão na coluna que, com a movimentação 
equivocada, pode gerar uma lesão na medula espinhal, ocasionando um caso de 
paraplegia.
5Etapas básicas nos primeiros socorros
Após observar esses seis passos para um atendimento de primeiros socorros 
adequado, é importante observar os dois princípios básicos que norteiam 
esse atendimento, que são a avaliação do local do acidente e a avaliação do 
acidentado, que você verá a seguir.
Primeiros socorros: local do acidente
Essa etapa é a primeira a ser feita diante de uma situação de acidente, sendo 
fundamental antes de iniciar qualquer procedimento de primeiros socorros. 
Essa etapa consiste em assegurar que o ambiente não forneça risco à sua 
segurança, evitando, assim, que o socorrista se torne uma nova vítima, bem 
como agravos a situação do acidentado. 
Informar detalhes sobre o motivo do acidente, o espaço físico, o número 
de vítimas, a situação das vítimas (se estão desacordadas, com sangramentos, 
etc.) auxilia o SAMU a planejar o seu atendimento e/ou resgate, dependendo 
da situação. Sempre que a cena do acidente oferecer riscos, a pessoa que está 
prestando atendimento deve manter-se afastado do local e acionar imedia-
tamente o SAMU (192), descrevendo com detalhes a situação, para que a 
Central de Atendimento de Emergência providencie o acionamento de equipes 
adequadas para o resgate da(s) vítima(s) com segurança.
As palavras urgência e emergência, na Língua Portuguesa, apresentam o mesmo 
significado, mas, quando levadas para o contexto biomédico e do atendimento de 
primeiros socorros, elas apresentam diferenças extremamente importantes, que são 
cruciais para um bom atendimento ao acidentado, podendo inclusive, ser diferencial 
quando se fala em salvar vidas. Vamos a elas.
Emergência refere-se a um estado de saúde muito grave, onde corre-se real e sério 
risco de vida eminente, devendo o atendimento ser imediato, tendo sempre o seu 
atendimento prioritário. Já a urgência refere-se a um estado de saúde que oferece 
algum risco à saúde, mas não necessita de um atendimento imediato, podendo ter 
um tempo de espera para o atendimento maior, mas ainda assim, deve ser atendido 
o mais breve possível (GIGLIO-JACQUEMOT, 2005).
Etapas básicas nos primeiros socorros6
Para avaliar o local do acidente, deve-se seguir alguns passos, que são: 
segurança, história do trauma, número de vítimas, bioproteção e apoio. Ob-
serve a seguir.
Segurança: é necessário assegurar-se de que a cena é segura para ser abordada, 
procurando tornar o ambiente adequando para o atendimento. É imprescindível 
que a pessoa que irá prestar atendimento tenha extremo cuidado primeiramente 
com a sua vida e segurança, priorizando-as. É importante observar rapidamente 
se existem perigos para o acidentado e para quem estiver prestando o socorro 
nas proximidades da ocorrência. Por exemplo: quando há fios elétricos soltos e 
desencapados é importante desligar a corrente elétrica. Em caso de acidentes 
de trânsito, é importante sinalizar a área, evitando assim novos acidentes, ou 
um agravo do acidente que já aconteceu (BRASIL, 2003).
História do trauma: verificar como o acidente ocorreu; seja perguntado para 
o acidentado — se estiver consciente — ou para alguém que esteja próximo 
— familiares ou até mesmo curiosos que estejam no local. Em caso de acome-
timentos de saúde, buscar informações sobre o histórico de saúde do sujeito.
Número de vítimas: antes de iniciar o atendimento de primeiros socorros, 
é importante verificar quantas pessoas estão envolvidas na situação e qual a 
gravidade que elas se encontram, iniciando o atendimento por prioridade de 
gravidade, ou seja, atendendo primeiro o acidentado que estiver mais grave. É 
importante também buscar entender o tipo de lesão que o sujeito foi acometido, 
para, aí sim, iniciar os procedimentos de primeiros socorros. 
Bioproteção: deve-se procurar maneiras de evitar a infecção por doenças 
transmissíveis. É imprescindível que o socorrista se proteja contra doenças 
transmissíveis devido a contato com o sangue ou à secreção da vítima, de-
vendo, se possível, utilizar-se de luvas, avental, óculos de proteção e máscara. 
No caso da inexistência de tais materiais, deve-se utilizar lenços ou sacolas 
plásticas ou outro material que evite o contato, lembrando de sempre realizar 
a higienização das mãos ou de outras partes do corpo que tenham tido contato 
com o acidentado e suas secreções (FRANÇOSO; MALVESTIO, 2007). 
7Etapas básicas nos primeiros socorros
Apoio: procurar auxílio das pessoas próximas ao local do acidente para dar o 
espaço para que o socorrista realize as manobras ou para chamar o SSAMU 
e controlar o trânsito (caso seja necessário). No caso de não haver pessoas 
por perto, isso deve ser feito com o máximo de agilidade e tranquilidade pela 
própria pessoa que presta o socorro inicial. Também, deve-se tentar manter a 
calma dos demais e, se possível, isolar a área, afastando as pessoas do local 
do acidente, uma vez que essa movimentação pode dificultar a prestação dos 
primeiros socorros (BRASIL, 2003).
Trauma pode ser definido como a lesão caracterizada por alterações estruturais ou 
desequilíbrio fisiológico causada pela exposição aguda a diferentes formas de energia: 
mecânica, térmica, elétrica, química e irradiações, podendo afetar superficialmente o 
corpo ou lesar estruturas nobres e profundas do organismo (FRANÇOSO; MALVESTIO, 
2007).
Cabe ressaltar que se deve mexer na cena do acidente apenas o necessário 
para realizar o atendimento, uma vez que, dependendo da situação, o local 
pode ser alvo de perícias policiais. A análise do socorrista sobre o local do 
acidente deve, principalmente, buscar preservar a sua integridade e das demais 
vítimas envolvidas no acidente, bem como das pessoas que estiverem ao redor.
Para realizar a avaliação da cena corretamente, existem algumas fontes 
rápidas de informação da cena que podem ser bastante úteis. Vamos a elas:
 � Observar a cena com calma e atenção, buscando entender a situação 
e como ela aconteceu.
 � Conversar com a pessoa acidentada, familiares e testemunhas.
 � A posição em que a pessoa acidentada está, bem como buscar visu-
alizar alguma lesão muito aparente ou óbvia e verificar se apresenta 
uma posição corporal muitoincomum.
 � Observar com cuidado sinais que indiquem uma urgência no 
atendimento.
 � O mecanismo do trauma, ou seja, o que gerou a lesão ou o agravo de 
saúde. Ele é um indicador fundamental para avaliar lesões. Como, por 
exemplo, observar o movimento que produziu a lesão (uma corrida, 
Etapas básicas nos primeiros socorros8
colisão, queda); lesões aparentes (sangramentos, cortes, inchaços); qual 
parte do corpo da vítima sofreu a primeira colisão (cabeça, pé, coluna); 
sinais de impacto (som da batida); em caso de queda, de qual altura 
e sobre qual estrutura a vítima caiu (grama, cimento) (FRANÇOSO; 
MALVESTIO, 2007).
Além de todos esses fatores listados, é necessário manter a calma. Não 
somente a pessoa que está prestando o atendimento, mas também é dever do 
socorrista tranquilizar o acidentado, transmitindo-lhe segurança e conforto. 
Manter o acidentado calmo desempenha um papel muito importante na pres-
tação dos primeiros socorros, podendo interferir diretamente no seu estado 
de saúde; que pode agravar se ele estiver com medo, ansioso ou ainda não 
sentir confiança na pessoa que está prestando socorro. 
Seguir estes passos de avaliação do local do acidente garante a segurança 
do acidentado e do socorrista, sendo possível então passar para a próxima 
etapa, que é a avaliação da pessoa acidentada, que também é de grande 
importância para uma boa aplicação dos procedimentos de primeiros socorros, 
não devendo nunca ser esquecida. É uma etapa de enorme importância, da 
qual falaremos mais a seguir.
Primeiros socorros: avaliação da pessoa 
acidentada
Avaliar a vítima de um acidente ou agravo de saúde é um procedimento rápido 
que auxilia na identificação dos riscos à vida e ajuda os socorristas a tomar 
decisões sobre cuidados urgentes mais adequados. Para realizar tal avaliação, é 
importante, segundo o Protocolo de Suporte Básico de Vida (BRASIL, 2014):
 � Avaliar a responsividade (chamar a vítima) e expansão torácica: 
deve-se chamar a pessoa pelo nome (se for informado) ou usando pro-
nomes de tratamento, podendo bater de leve em seus ombros, com voz 
clara e firme repetindo esse processo por três vezes, e esperar se ela 
irá responder a esse estímulo. Também é importante avaliar se existe 
o movimento do tórax subindo e descendo, que indica que há entrada 
e saída de ar que caracteriza a respiração. É importante verificar a 
velocidade em que esse movimento está acontecendo.
9Etapas básicas nos primeiros socorros
 � Avaliar o estado circulatório: verificar se a vítima apresenta sangra-
mentos e/ ou hematomas, se a sua pulsação está com frequência e ritmos 
adequados e também a temperatura e coloração da pele.
Após essa avaliação inicial, Françoso e Malvestio (2007), no Manual de 
prevenção de Acidentes e Primeiros Socorros nas escolas, propõem que a 
avaliação da vítima de trauma deve seguir a abordagem ABCDE, que envolve 
as seguintes etapas: 
A abordagem ABCDE tem essa sigla pois as suas etapas foram desenvolvidas nos 
Estados Unidos e sigla corresponde a palavras na língua inglesa:
A: airway (via aérea).
B: breathing (respiração).
C: circulation (circulação).
D: disability (incapacidade).
E: exposure (exposição).
A: estabilizar manualmente a coluna cervical avaliar a 
consciência e realizar a abertura das vias aéreas
Estabilização manual da coluna cervical: para realizar esta manobra é 
necessária a presença de uma segunda pessoa, além daquela que irá prestar 
os primeiros socorros. Dessa forma, o segundo socorrista deverá permanecer 
próximo da cabeça da vítima e posicionar suas mãos nas laterais da cabeça 
para manter a estabilização manual da coluna cervical, procurando evitar que 
a vítima realize qualquer movimentação do pescoço. Essa pessoa não deve 
abandonar essa posição até o término do atendimento ou até ser substituída 
por um profissional da saúde. Essa manobra deve ser feita em todas as vítimas 
inconscientes (Figura 1).
Etapas básicas nos primeiros socorros10
Figura 1. Estabilização manual da coluna cervical.
Fonte: Françoso e Malvestio (2007).
Avaliação da consciência: esta etapa consiste em verificar se a vítima está 
consciente, evitando movimentá-la. Caso não haja resposta, chamar o SAMU.
Abertura das vias aéreas: é feita de maneira diferente quando a vítima está 
consciente e inconsciente.
 � Vítima consciente: quando a vítima está consciente, ou seja, falando 
e respondendo a estímulos, ela necessariamente está respirando. É 
importante verificar se há sinais de vômito, secreções ou até mesmos 
objetos, insetos, ou qualquer outra forma de corpo estranho na cavidade 
oral ou nasal. Caso haja presença de algum desses, devem ser removidos 
para que não obstruam as vias aéreas. 
 � Vítima inconsciente: quando uma pessoa está inconsciente, ela perde 
o tônus muscular, ou seja, toda a sua musculatura está relaxada, o que 
pode causar a obstrução de vias aéreas, inclusive pela própria língua. A 
cavidade oral deve ser inspecionada, observando a presença de vômitos 
ou outras secreções e de corpos estranhos. Para tal deve-se:
 ■ Colocar uma das mãos na testa da vítima e os dedos indicador e médio 
da outra mão perto da ponta do queixo, empurrando levemente a 
mandíbula para cima e para fora, inclinando a cabeça levemente para 
trás. Este movimento deve ser feito de maneira lenta e cuidadosa, 
evitando movimentos bruscos.
 ■ O pescoço é ligeiramente estendido.
11Etapas básicas nos primeiros socorros
 ■ Ter cuidado para não fechar a boca ou pressionar a parte que fica 
abaixo do queixo, pois isso pode obstruir as vias aéreas.
 ■ Se um corpo estranho, vômito ou outras secreções estiverem visíveis 
na cavidade oral, devem ser cuidadosamente removidos.
Figura 2. Manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo.
Fonte: Françoso e Malvestio (2007).
B: verificar a respiração
Esta etapa consiste em observar se a vítima está respirando. Para isso, a análise 
deve ser feita durante 10 segundos. Deve-se aproximar bem a orelha do rosto 
da vítima de maneira que o olhar fique na direção do seu tórax e executar 
a técnica de ver, ouvir e sentir, da seguinte forma: ver se há movimento do 
tórax e do abdômen; ouvir se existe ruído do ar entrando e saindo pela boa 
ou nariz e sentir o ar saindo da boca ou nariz.
C: circulação 
Consiste em verificar se há circulação sanguínea através dos batimentos 
cardíacos, que podem ser verificados através da pulsação na região do pulso 
e do pescoço. Sangramentos devem ser controlados através de compressões, 
utilizando-se gases, ataduras ou panos limpos.
Etapas básicas nos primeiros socorros12
D: avaliar disfunções neurológicas
As funções neurológicas indicam se a vítima do acidente permanece com 
o seu cérebro funcionando perfeitamente, sem nenhuma lesão. Para tal, é 
recomendado tocar na mão da vítima, chamando-a pelo nome, e pedindo 
para ela movimentar as extremidades do corpo. Dependendo do que a vítima 
apresentar, ela pode ser enquadrada em uma das classificações da escala 
AVDN. Vamos a ela:
 � A — A vítima do acidente encontra-se alerta.
 � V — A vítima do acidente responde a estímulos verbais.
 � D — A vítima do acidente responde a dor.
 � N — A vítima do acidente não responde.
E: Exposição e controle do ambiente
É importante, mesmo quando a pessoa vítima do acidente está desacordada, 
evitar expô-la a situações constrangedoras e vexatórias. Por esse motivo, deve-
-se realizar a exposição do corpo da mesma somente quando for indispensável 
para identificar lesões e fazer compressões em cortes somente nas partes e 
situações que forem extremamente indispensáveis. Em casos de lesões, é 
comum que a temperatura corporal caia, então, se possível, é interessante 
cobrir a vítima – o que, além de manter a sua temperatura corporal, também 
a protege de olhares curiosos – e mantê-la protegida da chuva e sol direto. 
Acesse o link a seguir e veja este vídeo sobre a Abordagem ABCDE explicada pelo 
especialista em primeiros socorros Maicon Rodrigo.
https://qrgo.page.link/qfQMD
13Etapas básicas nosprimeiros socorros
Outro fator importante é não movimentar a vítima ou deslocá-la sem o uso 
de técnicas e materiais adequados para tal. Se a pessoa que sofreu o acidente 
estiver consciente, ou caso o acidente tenha acontecido na escola, com uma 
criança, deve-se avisar responsáveis e ou familiar sobre o acontecido, não 
esquecendo de acionar imediatamente o SAMU.
Esses procedimentos devem ser seguidos em qualquer atendimento de 
qualquer tipo de acidente, tanto os mais graves quanto acidentes complexos. 
É importante salientar que esses cuidados devem ser direcionados a todas as 
idades, lembrando sempre que um bom atendimento de primeiros socorros 
é de suma importância para o bom prognóstico e recuperação do sujeito que 
sofreu o acidente ou o agravo de saúde.
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15Etapas básicas nos primeiros socorros

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