Buscar

ESTATUTO CIENTÍFICO DA PSICOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A Psicologia como campo de conhecimento científico, sua evolução e suas mudanças epistemológicas, as
principais teorias psicológicas, seus respectivos objetos de estudo e seus principais marcos de construção
teórica.
PROPÓSITO
Conhecer a Psicologia como campo da ciência, desvinculada das outras formas de conhecimento, com base
nos contextos de sua concepção e consolidação científica, bem como as bases em que foram construídos seus
pilares epistemológicos, é fundamental para uma adequada formação profissional como psicólogo.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar, tenha em mãos um bom dicionário de Psicologia para buscar conceitos mais específicos.
Sugerimos que pesquise e acesse os seguintes dicionários:
APA Dictionary of Psychology – em inglês, da American Psychological Association (um dos mais
reconhecidos e consultados dicionários virtuais).
Diccionario de Psicología – em espanhol, de Umberto Galimberti, disponível on-line.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir os tipos de conhecimento: empírico, religioso, filosófico e científico
MÓDULO 2
Reconhecer os pontos comuns e divergentes das diferentes abordagens iniciais do processo de construção da
Psicologia como ciência independente
MÓDULO 3
Identificar as principais abordagens teóricas e seus respectivos objetos de estudo
INTRODUÇÃO
O homem tem se colocado ao longo da história como sujeito do conhecimento. Assim como há diferentes
formas de percepção da realidade, há também diferentes formas de conhecimento, dependendo do lugar que
falamos. Por isso, é importante estudá-los no âmbito cotidiano, acadêmico ou profissional para que possamos
nos situar no espaço.
Afinal, o conhecimento que adquirimos ao longo de nossa vida passa, necessariamente, pela nossa
experiência corporal, subjetiva, cognitiva, cultural e social. Assim, conhecer refere-se à relação intrínseca entre
o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido.
Mas qual o conhecimento necessário para se tornar um psicólogo?
Em uma sociedade competitiva, acumular informações isoladamente é insuficiente. É necessário que essas
informações sejam situadas em um contexto sociocultural para que façam e tenham sentido.
A complexidade do conhecimento para além do acúmulo de informações diz respeito à apropriação e à
reflexão sobre a origem do conhecimento, seus limites e suas possibilidades no contexto em que é produzido.
Portanto, conhecer não é apenas se informar, mas, sobretudo, é internalizar as informações, atrelando-as a um
significado subjetivo para que seja possível uma ação transformadora.
No âmbito da Psicologia, como ciência independente, é necessário refletir sobre o contexto histórico de sua
formação, suas práticas e os conhecimentos produzidos a partir da busca pela compreensão do homem e de
suas intrínsecas relações com o meio.
MÓDULO 1
 Distinguir os tipos de conhecimento: empírico, religioso, filosófico e científico
TIPOS DE CONHECIMENTO
Vamos nos aprofundar em quatro diferentes tipos de conhecimento que tiveram destaque ao longo da história.
São eles:
Empírico ou senso comum
Religioso
Filosófico
Científico
Tais conhecimentos não são hierarquizados, apenas se distinguem por suas características específicas e
peculiares, conforme veremos a seguir.
CONHECIMENTO EMPÍRICO OU SENSO COMUM
Você já pensou em quantas vezes escutou terminologias advindas da Psicologia no seu cotidiano? Palavras
como neurótico, complexado, baixa estima (ainda que o correto seja baixa autoestima), histeria, entre tantas
outras recorrentes em nossa sociedade.
Mas essa é a Psicologia dos psicólogos? Quando as pessoas dizem complexado no cotidiano, estão se
referindo à teoria do complexo?
Imagem: Shutterstock.com
A TEORIA DO COMPLEXO
É a teoria científica postulada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961).
“Os complexos, em si mesmos, não são nem negativos nem positivos. São, na verdade, constituintes da
psique humana e fonte das emoções. Indicam, dessa forma, que a estrutura psíquica é dotada de uma carga
afetiva muito forte, ligando entre si representações, pensamentos e lembranças. Jung estima que os
complexos podem ser agrupados em categorias distintas: complexo mãe, complexo pai, complexo de poder,
complexo de inferioridade. Por trás de suas características pessoais, os complexos possuem conexões com os
arquétipos, criando uma ponte entre as vivências individuais e as grandes experiências da humanidade.”
(NASSER, 2010, p. 327)
Certamente, não. A “Psicologia”, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada psicologia
empírica ou do senso comum — mas nem por isso deixa de ser um conhecimento válido.
O conhecimento empírico ou senso comum é um conhecimento popular e superficial, um resquício advindo
do conhecimento científico, que permite às pessoas compreenderem e explicarem seus conflitos e suas
situações cotidianas. Refere-se àquelas ideias elaboradas no cotidiano, aceitas e, muitas vezes, naturalizadas.
 ATENÇÃO
Conhecimento empírico ou senso comum é um conhecimento corrente e espontâneo, advindo do cotidiano,
baseado em hábitos, preconceitos e tradições cristalizadas culturalmente.
O conhecimento empírico é essencial para que haja convivência cotidiana em sociedade. Afinal, se ele não
existisse ou se fosse questionado de forma radical, seria impossível que tivéssemos, por exemplo, um diálogo
simples em um bar. Imagine a seguinte conversa:
Foto: Shutterstock.com
– Garçom, duas cervejas, por favor.
Foto: Shutterstock.com
– Senhora, na verdade, isso não é cerveja, porque a quantidade de lúpulo necessária para que ela assim fosse
denominada...
Foto: Shutterstock.com
– Obrigado pela informação. Mas não estrague essa bela noite ao luar.
Foto: Shutterstock.com
– Senhora, não existe “luar” ou “luz da lua”. Sabemos que a luminosidade que vemos provém da estrela mais
próxima da terra, o Sol, que a ilumina. Temos a ilusão...
 SAIBA MAIS
Lúpulo é uma espécie de trepadeira usada, desde o século IX, na fabricação de cerveja, conferindo-lhe o gosto
amargo característico.
Essa conversa informativa não teria fim ou um dos interlocutores desistiria! Embora o conhecimento empírico
possa levar a preconceitos, de menor ou maior grau, por conta do que definimos como tradições cristalizadas
culturalmente, ele ainda permanece necessário. Disso resulta a necessidade do chamado bom senso.
CONHECIMENTO RELIGIOSO
Foto: Shutterstock.com
Tão antigo quanto o senso comum, o conhecimento religioso é baseado na fé — ou na interpretação que ela
dá a outras formas de conhecimento —, pois muitos acreditam que a fé detém a verdade absoluta. Durante
milênios, foi a única fonte de conhecimento sistematizado de inúmeras civilizações. Na busca dos porquês de
fenômenos que não podiam ser explicados por causas naturais, surgiam as explicações por meio da fé, dos
mitos e das entidades divinas.
O conhecimento religioso pode ser definido como produto da fé humana na existência de uma ou mais
entidades divinas.
Para entender o conhecimento religioso, nada melhor do que recorrer à Grécia Antiga, com sua multiplicidade
de mitos e deuses. Lá, existia Deméter, uma deusa da agricultura, filha de Cronos e irmã de Zeus. Naquele
tempo, acreditavam que havia fartura de alimentos graças a essa deusa (CAMPBELL, 1990).
Deméter tinha uma linda filha, Perséfone, que despertou a paixão de seu tio, o deus Hades, senhor do mundo
avernal (submundo). Encantado com a beleza de Perséfone, Hades a rapta e oferece a ela um fruto de romã.
Perséfone não sabia que quem comesse um fruto do submundo seria obrigado a viver nele. Assim, Perséfone
se tornou esposa de Hades, senhora do mundo subterrâneo.
Inconformada, Deméter secou a Terra e a transformou em um inverno constante. Preocupado com o destino
dos seres humanos, Zeus procurou seu irmão Hades e com ele fez um acordo: Perséfone passaria metade de
cada ano ao lado de sua mãe, Deméter, e a outra metade, ao lado do marido, Hades.
Assim, quando Perséfone subia das profundezaspara se encontrar com a mãe, caracterizava as estações
primavera e verão; quando Perséfone retornava ao marido Hades, iniciava as estações outono e inverno. Esta
seria a explicação das estações do ano para os gregos antigos.
Foto: Rufus46 / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0
 Estátua de Perséfone.
Embora todas as religiões tenham os mitos como origem — mito e religião são distintos. As religiões estão
baseadas em homens idealizados, que, de alguma forma, possuem ligações com o inexplicável e com o
sobrenatural. As religiões vêm dos mitos, mas passam pelo crivo da luz do pensamento racional, pois estão
fundamentadas na crença de que a mente humana, quando livre de suas limitações, pode alcançar a ideia de
divindade.
A MENTE HUMANA, ALIVIADA DE PREOCUPAÇÕES
SECUNDÁRIAS E MERAMENTE TEMPORAIS, REPRODUZ, COM
A RADIÂNCIA DE UM ESPELHO IMACULADO, O REFLEXO DA
MENTE RACIONAL DE DEUS. A RAZÃO COLOCA VOCÊ EM
CONTATO COM DEUS. CONSEQUENTEMENTE, PARA AQUELES
HOMENS, NÃO HAVIA UMA REVELAÇÃO ESPECIAL EM LUGAR
ALGUM, E NEM ERA NECESSÁRIO, PORQUE A MENTE DO
HOMEM, LIVRE DAS SUAS FALIBILIDADES, É
SUFICIENTEMENTE CAPAZ DE COMPREENDER DEUS. TODAS
AS PESSOAS DO MUNDO, PORTANTO, SÃO CAPAZES,
PORQUE SÃO DOTADAS DE RAZÃO.
(CAMPBELL, 1990, p. 39)
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
O conhecimento filosófico procura dar sentido aos fenômenos gerais da existência humana. Vários conceitos
científicos se originaram de reflexões filosóficas. Portanto, esse tipo de como característica a busca da razão
pura no questionamento dos problemas humanos.
Foto: Shutterstock.com
Seus objetos de análise são ideias, relações conceituais e exigências lógicas não materiais, isto é, não
passíveis de observação. Utiliza-se como método a razão, em que prevalece o processo dedutivo, o qual
antecede a experiência. Não exige confirmação experimental, apenas lógica (LAKATOS; MARCONI, 1991).
A Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma
concepção unificada do universo. Por isso, procura responder às grandes indagações do espírito humano e até
busca as leis mais universais que englobem as conclusões da ciência.
O conhecimento filosófico é fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre
fenômenos da vida.
Os gregos foram os primeiros a criar condições para uma sistematização do conhecimento, com base em
perguntas como:
O QUE TERÁ LEVADO O HOMEM, A PARTIR DE DETERMINADO
MOMENTO DE SUA HISTÓRIA, A FAZER CIÊNCIA TEÓRICA E
FILOSOFIA? POR QUE SURGE NO OCIDENTE, MAIS
PRECISAMENTE NA GRÉCIA DO SÉCULO VI A.C., UMA NOVA
MENTALIDADE, QUE PASSA A SUBSTITUIR AS ANTIGAS
CONSTRUÇÕES MITOLÓGICAS PELA AVENTURA
INTELECTUAL, EXPRESSA ATRAVÉS DE INVESTIGAÇÕES
CIENTÍFICAS E ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS?
(PRÉ-SOCRÁTICOS, 1996, p. 4)
Ao se estudar a história do nascimento da Filosofia (séculos VI a.C.-V d.C., Filosofia Antiga), é comum dividi-la
em: antes de Sócrates (os pensadores pré-socráticos) e após Sócrates (Sócrates, Platão e Aristóteles).
O conhecimento filosófico grego se confunde com a própria cultura ocidental. Influenciado pelo conhecimento
latino (romano) e pelo conhecimento religioso (cristão) – ou somando-se a eles –, constitui a base para grande
parte das estruturas que sustentam a sociedade contemporânea: legislação, sistema político, arte etc.
A partir disso, é possível encontrar o correlato da história da Filosofia numa cronologia geralmente aceita:
FILOSOFIA MEDIEVAL
(séculos V-XV)

FILOSOFIA MODERNA
(séculos XV-XVIII)

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
(século XVIII até os dias atuais)
Dessa forma, a Filosofia também foi a base para o conhecimento científico, seja no âmbito das Ciências da
Natureza (a partir do século XVI), seja no âmbito das Ciências Humanas (a partir do século XIX).
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico sempre esteve inserido no conhecimento filosófico, pois ambos nasceram com o
mesmo objetivo: a busca da compreensão da realidade com base em elementos lógicos. Tanto o conhecimento
científico quanto o lógico buscaram a sistematização do conhecimento.
Durante a Filosofia Moderna, tivemos, pela primeira vez, um conhecimento que ganhou autonomia, deixando o
pensamento lógico-argumentativo para a Filosofia e desenvolvendo uma teoria experimental.
Assim, as perguntas que a Filosofia tenta responder são diferentes daquelas respondidas pela ciência.
Enquanto o conhecimento científico é baseado em fatos, estabelecendo leis e padrões, a Filosofia é
especulativa, baseada, principalmente, na argumentação.
Imagem: Shutterstock.com
São objetos de estudo da ciência perguntas como:
Por que um corpo cai?
Por que alguém morre?
Imagem: Shutterstock.com
São objetos da Filosofia perguntas como:
Existe alma?
O que é liberdade?
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2001), a ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre
os fatos ou aspectos da realidade expressos por meio de uma linguagem rigorosa. Esses conhecimentos
devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada para que se permita a verificação de sua
validade.
Dessa forma, a ciência resulta de um trabalho racional, baseado em pesquisas, investigações metódicas,
controladas, programadas e sistemáticas. Suas características básicas são:
Objeto específico
Linguagem rigorosa
Objetividade
Métodos e técnicas específicas
Processo cumulativo de conhecimento
O conhecimento científico refere-se a um conjunto de atitudes e atividades racionais dirigido ao conhecimento
sistemático, com objetivo limitado e capaz de ser submetido à verificação.
A ciência emerge de contextos socioculturais específicos e com características determinadas. O processo de
criação de uma nova ciência é muito complexo. Afinal, “[...] é preciso mostrar que ela tem um objeto próprio e
métodos adequados ao estudo desse objeto; que ela é, enfim, capaz de firmar-se como uma ciência
independente das outras áreas de saber”. (FIGUEIREDO; SANTI, 2000, p. 14)
COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE CONHECIMENTO
O quadro a seguir compara os tipos de conhecimento vistos até aqui.
Conhecimento empírico ou
senso comum
Conhecimento
religioso
Conhecimento
filosófico
Conhecimento científico
Valorativo Valorativo Valorativo Real (factual)
Conhecimento empírico ou
senso comum
Conhecimento
religioso
Conhecimento
filosófico
Conhecimento científico
Reflexivo Inspiracional Racional Contingente
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Não verificável Não verificável Verificável
Falível Infalível Infalível Falível
Inexato Exato Exato
Aproximadamente
exato
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Comparativo entre os tipos de conhecimento.
Extraído de LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 74.
Comentaremos um pouco mais sobre cada tipo de conhecimento para fixarmos os conceitos:
CONHECIMENTO EMPÍRICO OU SENSO COMUM
Valorativo – pois é influenciado pelos estados de ânimo e pelas emoções do observador.
Reflexivo – porque a familiaridade com o objeto estudado não instiga a formulação de padrões e não
permite uma formulação geral.
Assistemático – baseia-se em uma organização particular (subjetiva) que depende do sujeito.
Verificável – mas apenas em relação ao que pode ser observado, no cotidiano, no âmbito do observador,
isto é, sua verificabilidade é subjetiva.
Falível – porque se conforma apenas com o que se vê ou se ouviu falar, não se preocupa com a busca
da verdade.
Inexato – pois a falibilidade não permite a formulação de hipóteses verificáveis sob o ponto de vista
filosófico ou científico.
CONHECIMENTO RELIGIOSO
Valorativo – porque se baseia em doutrinas que possuem proposições sagradas (dogmas), com juízo de
valor.
Inspiracional – pois é revelado pelo sobrenatural.
Sistemático – os dogmas revelam um conhecimento organizado do mundo (de onde viemos, para qual
finalidade e para que destino).
Não verificável – pois depende da fé em um criador divino.
Infalível e exato –porque os dogmas (revelações divinas) não podem ser discutidos.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
Valorativo – porque se baseia na experiência e na argumentação.
Racional – por consistir em um conjunto de enunciados logicamente relacionados.
Sistemático – pois os enunciados buscam uma representação coerente e geral da realidade estudada.
Não verificável – pois as hipóteses filosóficas não podem ser confirmadas.
Infalível e exato – porque as hipóteses exigem apenas coerência e lógica, que dispensam a
experimentação.
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Real (factual) – porque lida com ocorrências e fatos.
Contingente – pois as hipóteses podem ser validadas ou descartadas pela experimentação.
Sistemático – busca a formulação de ideias correlacionadas ao objeto de estudo.
Verificável – isto é, as hipóteses não comprovadas são descartadas.
Falível – porque nenhuma verdade é definitiva e absoluta.
Aproximadamente exato – porque novas proposições e novas tecnologias podem reformular o
conhecimento existente.
ATIVIDADE
Imagine a seguinte situação: um homem morreu. Em seu velório, estavam presentes um padre, um professor
de Filosofia, um amigo de infância e um médico. Uma pessoa pergunta aos quatro: Por que o homem
morreu?
Você conseguiria identificar a que tipo de conhecimento corresponde cada uma dessas respostas? Selecione
os tipos de conhecimento correspondentes no quadro ao lado.
Amigo de
infância
(conhecimento
1. Ele morreu, porque era um homem
bom. Se fosse ruim, não morreria. Vaso
ruim não quebra!
empírico ou
senso comum)
Médico
(conhecimento
científico)
Padre
(conhecimento
religioso)
Professor de
Filosofia
(conhecimento
filosófico)
----------
2. Do pó viestes, ao pó regressarás! Essa
é uma verdade à qual ninguém pode
escapar...
----------
3. Para Nietzsche, a morte é a suprema
possibilidade da liberdade humana. Na
morte, o homem se demonstra vivo no
mais alto grau!
----------
4. Ele trabalhava demais. A ansiedade é
um transtorno frequente e associada a
doenças cardíacas.
----------
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
Foto: Friedrich Hartmann / Wikimedia Commons / Domínio Público
Vamos agora aprofundar um pouco mais sobre esses tipos de conhecimento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE A DISTINÇÃO ENTRE SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) Ao contrário do senso comum, a ciência é um conhecimento objetivo, exato e sistemático, que se opõe ao
caráter dogmático e subjetivo do conhecimento empírico.
B) A ciência domina o imaginário contemporâneo. Isso significa que, cada vez mais, confiamos no testemunho
de nossos sentidos, que promovem uma adesão acrítica à realidade dada.
C) A ciência existe para confirmar nossas certezas cotidianas, utilizando um pensamento assistemático que
despreza o trabalho da razão.
D) A rigor, a ciência complementa o senso comum, mas banindo os obstáculos e problemas observados por
nossa percepção imediata dos fatos.
E) A ciência e o senso comum não se diferenciam, pois ambos se constituem em conhecimentos
fundamentados na experimentação com rigor metodológico.
2. SOBRE O CONHECIMENTO FILOSÓFICO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) É um tipo de conhecimento que não diz tudo o que sabe e uma norma que não enuncia tudo aquilo que
postula.
B) Não pode ser reaberto ou discutido, pois os filósofos já morreram.
C) É baseado em fatos, estabelecendo leis e padrões.
D) É uma forma de conhecimento que questiona os fenômenos da realidade.
E) Seu percurso é caracterizado pela exigência de clareza e da prova de sua validade.
GABARITO
1. Sobre a distinção entre senso comum e conhecimento científico, assinale a alternativa correta:
A alternativa "A " está correta.
Presente em nossas vidas, o senso comum é baseado na percepção cotidiana dos fatos ou nos costumes e
nas tradições. Portanto, não exige nenhuma análise mais aprofundada ou algum tipo de testagem, assumindo-
se como forma dogmática. O contrário acontece com o conhecimento científico que, para ser reconhecido,
necessita de confirmação por meio de experimentos. Além disso, constantemente, precisa ser revisto e
reavaliado.
2. Sobre o conhecimento filosófico, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
O conhecimento filosófico difere-se dos demais tipos de conhecimento especialmente pelo valor lógico-
argumentativo que busca. Se, por um lado, não admite o dogmatismo proveniente do senso comum, por outro,
não está baseado na experimentação científica. Além disso, costuma ser considerado o “conhecimento da
dúvida”, pois tem por objetivo não se conformar com a realidade apresentada.
MÓDULO 2
 Reconhecer os pontos comuns e divergentes das diferentes abordagens iniciais do processo de
construção da Psicologia como ciência independente
PSICOLOGIA: DESENVOLVIMENTO E ASCENSÃO
Depois de compreender os diferentes tipos de conhecimento, vamos conhecer as perspectivas filosóficas e
fisiológicas que impulsionaram o desenvolvimento da Psicologia como ciência.
Pensar na relação entre Psicologia e ciência não é tarefa fácil, pois há muitas relações e interpretações do que
a ciência significa para a Psicologia (FIGUEIREDO; SANTI, 2000). Ainda hoje, aApós mais de 100 anos de
esforços para se criar uma Psicologia Científica, os estudos psicológicos ainda mantêm relações estreitas com
muitas ciências naturais e sociais.
O processo para a Psicologia ser considerada como ciência foi lento. O principal empecilho para que isso
acontecesse foi seu objeto de estudo: a psique, entendida como a mente, não se apresenta como objeto
observável, não se enquadrando, portanto, nas exigências da cientificidade vigente na época de seu
surgimento, conforme veremos a seguir.
 SAIBA MAIS
Psique é uma “palavra grega que, etimologicamente, significa o ‘sopro’ que anima e dá vida a um corpo.
Nesse sentido, Aristóteles fala de psique como idêntico a biós, a vida. Os latinos traduziram psique como
anima (alma), mantendo o dualismo platônico: alma x corpo. Com o nascimento da Psicologia Científica, no
século XIX, o termo ‘alma’ foi abandonado, porque estava fortemente carregado de implicações filosóficas,
metafísicas e morais, para adotar o termo ‘psique’, mais neutro e mais técnico. Seu significado depende dos
diferentes sistemas de pensamento [...].” (GALIMBERTI, 2002, p. 928)
Certos autores, como Bock, Furtado e Teixeira (2001), defendem a importância de se destacar o panorama do
pensamento de alguns filósofos que contribuíram para o desenvolvimento e a ascensão da Psicologia. É o que
faremos agora a partir desse ponto de vista.
FILOSOFIA CLÁSSICA
Desde o século VI a.C., os filósofos já se preocupavam em entender a natureza humana. Filósofos gregos
como Sócrates, Platão e Aristóteles foram os primeiros a tentar uma sistematização dos estudos da psique.
Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) — Foi um dos mais conhecidos filósofos gregos. Dedicava-se à educação da
juventude. Ensinava que o conhecimento é imperfeito, porque nos chega por meio dos sentidos e, dessa
forma, está sujeito às ilusões. Acreditava que um único tipo de conhecimento podia ser obtido: o do próprio eu.
Para ele, esse era o único conhecimento necessário, o qual possibilitava ao homem levar vida virtuosa. Esse
princípio está em sua frase: “Conheça a ti mesmo”.
Seu procedimento didático partia do princípio “Sei que nada sei”, isto é, sua sabedoria consistia em ter
consciência da própria ignorância. Ter consciência de que não se sabe é o ponto de partida da ciência e do
conhecimento.
Sócrates foi um crítico das tradições, dos usos e costumes da época, do próprio regime democrático, da
religião, da antiga ciência física, provocando uma verdadeira revolução que influenciou não só a filosofia grega
como todo o pensamento filosófico ocidental.
Foto: C Messier / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Sócrates.
Platão (428 a.C.-347 a.C.) — Discípulo de Sócrates, acreditava que o conhecimento que vem dos sentidos é
imperfeito. Acrescentou a esse conceito,a existência de um reino das ideias que é permanente e perfeito – um
reino que existe fora do homem e é independente dele.
Para Platão, o homem é dualista, formado de mente e corpo. Essa visão é considerada a raiz mestra da
história da Psicologia. Depois de estabelecer a distinção entre mente e corpo, Platão associou a essas duas
terminologias um conjunto de valores opostos: a mente era identificada com o belo e o bem, enquanto a
matéria representava a parte inferior do homem e do universo.
Foto: Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons / CC-BY 2.5
 Platão.
Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) — Discípulo de Platão, mas também seu opositor. Não acreditava na
existência de ideias inatas nem no mundo das ideias. Para Aristóteles, a criança, ao nascer, não traz nenhuma
bagagem de conhecimento. É por meio da experiência que o homem adquire conhecimento, pois, em sua
visão, nada há na inteligência que não tenha passado pelos sentidos.
Aristóteles identificou os primeiros degraus na escala da aquisição do conhecimento:
Órgãos dos sentidos: quando estimulados, provocam reações, isto é, sensações.
Sensações: elementos mais simples e primitivo do conhecimento.
Foto: Jastrow (2006) / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Aristóteles.
Aristóteles foi o primeiro a escrever tratados sistemáticos de Psicologia, que, na época, eram essencialmente
filosóficos. No entanto, muitas das tendências que a levariam à conquista do status de ciência começavam a
ser delineadas.
FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA
Apesar de todas as bases filosóficas que subsidiaram o desenvolvimento da Psicologia, novos paradigmas se
impuseram na Idade Média (séculos V-XV) em razão da hegemonia do cristianismo.
Neste contexto, os filósofos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino tiveram destaque em suas teorias, que
serviram de suporte à Igreja Católica. A partir deles, a racionalidade ganhou o status de manifestação divina no
homem.
Santo Agostinho (354-430) — Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agostinho, nasceu em
Tagaste de Numídia – província romana ao norte da África – em 354. Jovem, de temperamento impulsivo,
entregou-se ao estudo e aprendeu toda a ciência de seu tempo. Chegou a ser brilhante professor de retórica
em Cartago, Roma e Milão. No ano 391, foi proclamado sacerdote pelo povo. Cinco anos mais tarde,
consagrado Bispo de Hipona – título de serviço e não de honra –, converteu sua residência em casa de oração
e tribunal de causas. Pastor de almas, administrador de justiça, defensor da fé e da verdade, pregou e
escreveu condensando o pensamento de seu tempo. (PROVÍNCIA AGOSTINIANA DO BRASIL).
Foto: Philippe de Champaigne / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Santo Agostinho.
São Tomás de Aquino (1225-1274) — Tomás de Aquino nasceu em 1225, em Aquino, uma comuna italiana.
Nascido em uma família de nobres, teve uma influente e apropriada educação. Em Nápoles, para onde foi em
1239, estudou artes liberais. Com apenas 19 anos, em 1244, abandonou o curso e decidiu seguir sua vocação
religiosa, ingressando, em seguida, na Ordem dos Dominicanos, em Paris. No ano seguinte, (...) escreveu suas
primeiras obras. Foi discípulo do bispo, filósofo e teólogo alemão Santo Alberto Magno (...).. Mais tarde, em
1252, Tomás de Aquino retornou à Paris, onde se graduou em Teologia e seguiu a carreira de professor. Em
1274, convocado pelo Papa Gregório 10º, viajou para participar do Concílio de Lyon. Contudo, adoeceu
durante a viagem e faleceu no mosteiro cisterciense de Fossanova aos 49 anos de idade. (ROSATELI et al.,
2017, p. 2)
Foto: Joseolgon / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Escultura de São Tomás de Aquino.
FILOSOFIA RENASCENTISTA OU MODERNA
Entre os séculos XV e XVIII – período que compreende a chamada Idade Moderna –, o mercantilismo
estimulava a descoberta de novas terras e o surgimento do acúmulo de riquezas por nações em formação,
como França e Itália. Ao mesmo tempo, ocorreu um processo de valorização do homem (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2001).
A nova conclusão de Copérnico (1473-1543), em 1543, de que a Terra não era o centro do universo derivou
uma revolução no conhecimento humano. Neste cenário, regras e métodos para o estabelecimento do
conhecimento científico começaram a surgir, levando à sua sistematização. O capitalismo moveu o mundo em
busca de matéria-prima para abastecer os mercados e aumentar cada vez mais a produção.
O mundo foi posto em movimento. Disso resultou o surgimento da racionalidade do homem e a busca pelo
conhecimento científico em prol do desenvolvimento. O homem deixou de ser o centro do universo
(antropocentrismo) e deu esse lugar ao Sol. O homem estava livre para traçar seu futuro e buscar novas
conquistas.
Conhecimento e fé se tornaram independentes, e o homem passou a buscar pelo conhecimento por meio da
racionalidade. Neste momento, surgiram estudiosos como Friedrich Hegel (1770-1831), que apontou a
importância da história para o avanço do conhecimento, e Charles Darwin (1809-1882), com a teoria da
evolução das espécies, que descartou definitivamente o antropocentrismo.
O filósofo francês René Descartes (1596-1650) também deixou contribuições fundamentais às ciências
naturais e à Psicologia. Ficou conhecido pela dualidade instituída na compreensão do homem: corpo x mente.
Para Descartes, o corpo poderia ser relacionado ao funcionamento de uma máquina. Seus movimentos seriam
previsíveis a partir do conhecimento de suas peças e das relações entre elas. À mente cabia o conhecer, o
raciocinar, o querer. Tais elementos estariam no campo da Filosofia e, por ser a mente uma entidade sem
localização, seriam imensuráveis e não observáveis (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2009).
 SAIBA MAIS
René Descartes foi um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência, sobretudo, para o
desenvolvimento da Psicologia, tentando resolver o problema mente e corpo – uma questão controversa
durante anos.
PERSPECTIVAS FISIOLÓGICAS DA PSICOLOGIA
As questões da Psicologia até então estudadas pelos filósofos também passaram a ser estudadas pela
Fisiologia e pela Neurofisiologia. Pesquisas iniciais sobre o cérebro e o comportamento tiveram um impacto
crucial no desenvolvimento da Psicologia como ciência. Nesste cenário, quatro cientistas foram apontados
como responsáveis pelas primeiras aplicações do método experimental ao objeto de estudo da Psicologia
(SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ. S. E., 2009). Vamos conhecê-los.
Ernst Weber (1795-1878) — Nascido em Wittenberg, na Alemanha, realizou seu Doutorado na Universidade
de Leipzig, em 1815, onde também lecionou Anatomia e Fisiologia. Seu principal interesse de pesquisa foi a
fisiologia dos órgãos sensoriais – área em que forneceu duradouras contribuições à Psicologia.
Foto: Rudolph Hoffmann / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Ernst Heinrich.
Gustav Theodor Fechner (1801-1887) — Embora sua formação original tenha sido na Matemática e Física,
Fechner enveredou na Psicologia, partindo da convicção de que as realidades psíquicas não se opunham às
físicas. Assim, acreditava que havia um tipo de paralelo entre elas, constituindo a essência de cada ser
humano. Sua Psicologia Experimental tem como base, portanto, as ciências exatas.
Foto: Gdr / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Gustav Theodor Fechner.
Hermann von Helmholtz (1821-1894) — Pesquisador no campo da Física e Fisiologia, Helmholtz, foi um dos
maiores cientistas do século XIX. A Psicologia estava em terceiro lugar entre as suas áreas de contribuição
científica, contudo, ao lado das pesquisas de Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt, seu trabalho foi
decisivo para a fundação da nova Psicologia.
Foto: Rudolf Hoffmann / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Hermann von Helmholtz.
Wilhelm Wundt (1832-1920) — Fundador da Psicologia como disciplina acadêmica formal, foi a primeira
pessoa na história a ser designada como psicólogo. Seu livro publicado em 1874, Princípios da Psicologia
Fisiológica, delineou muitas das principaisconexões entre a ciência da Fisiologia e o estudo do pensamento e
do comportamento humano. Wundt criou o primeiro laboratório de Psicologia Experimental do mundo em
Leipzig, na Alemanha, em 1879.
Ao definir a Psicologia como ciência da experiência imediata, ele pretendia atacar uma concepção de
Psicologia muito comum em sua época, que tratava a mente como uma substância ou entidade, seja espiritual
(espiritualismo) ou material (materialismo). Para ele, essa forma de estudar a Psicologia era equivocada,
porque se baseava em hipóteses metafísicas que extrapolavam toda a possibilidade de experiência.
Foto: Artista desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Wilhelm Wundt.
Como Wundt tinha a intenção de fundar uma nova Psicologia, autônoma e independente de teorias
metafísicas, recusou o objeto como concepção metafísica e deteve-se à experiência psicológica propriamente
dita. Ele descreve a Psicologia como a “ciência da experiência consciente”. Assim, o método da Psicologia
Científica deveria abranger as observações da experiência consciente. Somente o sujeito que passa pela
experiência é capaz de observá-la (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2009). A seguir, confira mais sobre
Wilhelm Wundt:
WILHELM WUNDT
Wundt estabeleceu que o método de observação devia necessariamente utilizar a introspecção, à qual se
referia como percepção interna. Dessa forma, deu-se o início oficial da Psicologia como disciplina científica
separada e distinta. A introspecção era entendida como:
“Observação dos próprios conteúdos psíquicos. Distinguem-se a introspecção simultânea, em que a
observação acontece simultaneamente à realização do evento psíquico, e uma introspecção retroativa, na qual
fatos psíquicos são examinados após seu desenvolvimento. No início, usou-se a Psicologia Experimental como
método de pesquisa dos processos psíquicos superiores. Então, esta foi abandonada e passou a ser usada
como um instrumento cognitivo em todas as correntes psicológicas não comportamentais e, especialmente, na
Psicologia Clínica, em que o relato da experiência subjetiva é de notável importância, e na Psicoterapia, onde é
a premissa natural da interação entre terapeuta e paciente.” (Galimberti, 2002, p. 632)
O nascimento da Psicologia como ciência independente é um momento significativo. E é isso que vamos
aprofundar um pouco mais agora!
PRIMEIRAS ESCOLAS TEÓRICAS DA PSICOLOGIA
Embora a Psicologia tenha surgido na Alemanha, foi nos Estados Unidos que ocorreu o crescimento dessa
nova ciência. Entre os anos 1883 e 1893, surgiram 23 novos laboratórios de pesquisa psicológica. A partir de
então, foram criadas as primeiras escolas teóricas da Psicologia, com suas divergências internas. Vamos
conhecê-las agora.
ESTRUTURALISMO
Embora não haja unanimidade entre os pesquisadores, boa parte define as raízes do estruturalismo nos
estudos de Wilhelm Wundt (1832-1920), foi sendo levado aos Estados Unidos e difundido por seu discípulo
britânico Edward Bradford Titchener (1867-1927).
Wundt era um típico professor alemão do século XIX, cuja vasta erudição é uma de suas características
essenciais. Não só escrevia de forma bastante rebuscada – com longos períodos intercalados por várias
orações subordinadas – como construíia seu pensamento a partir de conceitos e expressões da própria
tradição filosófica alemã que lhe precedeu (Leibniz, Wolff, Kant, Hegel, Herbart, Schopenhauer etc.), que estão
bem distantes do vocabulário psicológico da tradição norte-americana predominante no cenário
contemporâneo (ARAUJO, 2009, p. 219-2010).
Ao fundar a Psicologia Estrutural, Titchener marcou a clara e decisiva divisão entre a Psicologia estruturalista,
de Wundt, e a funcionalista, de William James (1842-1910).
Titchener, preocupado com o pragmatismo que a compreensão funcionalista passara a enfatizar, quando
desenvolvida em solo americano, defendeu a prioridade do estruturalismo por meio de um projeto que
considerava tarefa fundamental da Psicologia, isto é, a análise da consciência em seus elementos, na direção
de determinar sua estrutura” (BARRETO, 2008, p. 149).
Titchener priorizou o papel da percepção sensorial, das funções cerebrais e da aprendizagem no decorrer do
desenvolvimento, analisando as relações entre a mente e os estímulos do mundo físico. Para realizar suas
investigações, também utilizou o método da introspecção.
 SAIBA MAIS
O estruturalismo foi considerado a primeira escola americana de pensamento no campo da Psicologia. Embora
sejam notáveis por sua ênfase na pesquisa científica, seus métodos eram limitantes e subjetivos e, portanto,
não confiáveis. Quando Titchener morreu, em 1927, o estruturalismo praticamente morreu com ele (SCHULTZ,
D. P.;; SCHULTZ, S. E., 2009).
Para o estruturalismo, os objetos de estudo da Psicologia eram os aspectos estruturais do Sistema Nervoso
Central – considerados aspectos elementares da consciência.
FUNCIONALISMO
O funcionalismo nasceu nos Estados Unidos e seu principal pesquisador foi Wiliam James (1842-1910).
Os psicólogos funcionalistas definiam a Psicologia como uma ciência biológica, interessada em estudar os
processos, as operações e os atos psíquicos (mentais) como formas de interação adaptativa, para descobrir a
função desses mesmos processos e os atos psíquicos.
Para o funcionalismo, o objeto de estudo da Psicologia era a consciência, sobretudo o funcionamento da
consciência, como o homem a utiliza para se adaptar ao meio.
ASSOCIACIONISMO
O principal representante do associacionismo é Edward Lee Thorndike (1874-1949). Discípulo de William
James, Thorndike foi considerado um dos mais importantes pesquisadores no desenvolvimento da Psicologia
Animal (SCHULTZ; , D. P.; SCHULTZ. S. E., 2009). Elaborou uma teoria objetiva e mecanicista da
aprendizagem, que se concentrou no comportamento manifesto. Acreditava que a Psicologia deveria estudar o
comportamento e não elementos mentais ou experiências conscientes.
 SAIBA MAIS
Segundo Thorndike, a aprendizagem decorre de um processo de associação de ideias, das mais simples às
mais complexas. O ponto central dessa teoria está em analisar como as ideias se unem e se guiam até se
tornarem estáveis. Assim, formulou a primeira teoria da aprendizagem na área da Psicologia, entendendo-a
não em termos subjetivos, mas pelas conexões concretas entre estímulos e respostas.
Thorndike fez diversos experimentos com animais e percebeu que, ao oferecer algum tipo de recompensa, os
animais faziam o que ele queria. Assim, relacionou o comportamento humano ao comportamento animal.
Para o associacionismo, o objeto de estudo da Psicologia era o comportamento.
Essas três escolas que constituíram a Psicologia Científica deram origem, no século XX, a novas teorias, as
quais serão abordadas no próximo módulo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PSICOLOGIA RECEBEU SEU ESTATUTO DE CIÊNCIA APENAS NO SÉCULO XIX.
ENTRETANTO, AS DEMANDAS PSICOLÓGICAS ESTÃO PRESENTES NA HISTÓRIA
DESDE QUE SE CONSTITUIU A PRÓPRIA HUMANIDADE. POR ISSO, ALGUNS
AUTORES DEFENDEM QUE SE DEVA BUSCAR NA ORIGEM DO PENSAMENTO
(OCIDENTAL, PELO MENOS) A BASES PARA A COMPREENSÃO DA PSICOLOGIA.
ESSA PERSPECTIVA É CHAMADA DE:
A) Perspectiva filosófica
B) Perspectiva fisiológica
C) Perspectiva psicológica original
D) Perspectiva funcionalista
E) Perspectiva associacionista
2. NO ÂMBITO DA PERSPECTIVA FISIOLÓGICA DA PSICOLOGIA, FUNDAMENTADA
NAS TEORIAS DE WEBER, FECHNER, HELMHOLTZ E WUNDT, MERECE DESTAQUE O
PENSAMENTO DESTE ÚLTIMO FILÓSOFO, ESPECIALMENTE POR TER SIDO
DESIGNADO, ESPECIFICAMENTE, COMO O PRIMEIRO A SER RECONHECIDO COMO
PSICÓLOGO. ANALISE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR SOBRE SEU PENSAMENTO:
I. WUNDT FOI O PRIMEIRO FISIOLOGISTA A CRITICAR OS LABORATÓRIOS DE
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL QUE COMEÇAVAM A APARECER, NA ALEMANHA, EM
FINS DO SÉCULO XIX.
II. WUNDT CRITICAVA A PSICOLOGIA DE SUA ÉPOCA, POIS ESTA TRATAVA A MENTE
HUMANA COMO UMA SUBSTÂNCIA METAFÍSICA.
III. PARA WUNDT, A PSICOLOGIA DEVERIA SER ENTENDIDA COMO ACIÊNCIA DO
INCONSCIENTE, E TODO MÉTODO PSICOLÓGICO DEVERIA SER BASEADO NA
OBSERVAÇÃO DO INCONSCIENTE DO INDIVÍDUO.
ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMAÇÃO(ÕES):
A) I apenas
B) II apenas
C) III apenas
D) I e II
E) I e III
GABARITO
1. A Psicologia recebeu seu estatuto de ciência apenas no século XIX. Entretanto, as demandas
psicológicas estão presentes na história desde que se constituiu a própria humanidade. Por isso,
alguns autores defendem que se deva buscar na origem do pensamento (ocidental, pelo menos) a
bases para a compreensão da Psicologia. Essa perspectiva é chamada de:
A alternativa "A " está correta.
A perspectiva filosófica é aquela que busca na história da Filosofia – desde a Filosofia Clássica (grega),
passando pela Filosofia Medieval até chegar à Filosofia Moderna – as bases teóricas que fundamentam o
nascimento da Psicologia como ciência no século XIX.
2. No âmbito da perspectiva fisiológica da Psicologia, fundamentada nas teorias de Weber, Fechner,
Helmholtz e Wundt, merece destaque o pensamento deste último filósofo, especialmente por ter sido
designado, especificamente, como o primeiro a ser reconhecido como psicólogo. Analise as afirmações
a seguir sobre seu pensamento:
I. Wundt foi o primeiro fisiologista a criticar os laboratórios de Psicologia Experimental que começavam
a aparecer, na Alemanha, em fins do século XIX.
II. Wundt criticava a Psicologia de sua época, pois esta tratava a mente humana como uma substância
metafísica.
III. Para Wundt, a Psicologia deveria ser entendida como a ciência do inconsciente, e todo método
psicológico deveria ser baseado na observação do inconsciente do indivíduo.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões):
A alternativa "B " está correta.
Wundt considerava a Psicologia como ciência da experiência e foi o primeiro a fundar laboratórios de
Psicologia Experimental. Por esse mesmo motivo, combatia o pensamento de sua época, que via na Psicologia
uma experiência metafísica, desconectada da experiência real dos indivíduos. Da mesma forma, ele entendia a
Psicologia como uma ciência da experiência consciente, e não do inconsciente.
MÓDULO 3
 Identificar as principais abordagens teóricas e seus respectivos objetos de estudo
OBJETOS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Como vimos no módulo anterior, as pesquisas em Psicologia, inicialmente vinculadas à Filosofia, tinham a
alma como objeto de estudo. Aliás, a palavra Psicologia tem sua origem no grego:
PSIQUE = ALMA, ESPÍRITO
LOGOS = ESTUDO
Ao se desvincular da Filosofia, a Psicologia passou a se ligar à Medicina, mais especificamente à Fisiologia e à
Neurofisiologia, ascendendo de acordo com os padrões da ciência da época (século XIX). A partir de então, os
estudos em Psicologia passaram a ser laboratoriais e o comportamento se instituiu como objeto de estudo.
Contudo, no século XX, a Psicologia assumiu um papel para além dos laboratórios. Nesse cenário,
destacaram-se três teorias: Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise. Cada uma tem relevância única na forma de
compreender o ser humano, conforme veremos a seguir.
BEHAVIORISMO
O termo Behaviorismo foi inaugurado por John Broadus Watson (1878-1958) em seu artigo intitulado
Psicologia: como os behavioristas a veem. Embora essa terminologia seja a mais utilizada no Brasil, outras
denominações também são conhecidas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001):
COMPORTAMENTALISMO
TEORIA
COMPORTAMENTAL
ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO
ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO
PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL
Nesta abordagem, dois pensadores se destacaram: John Broadus Watson e Burrhus Frederic Skinner
(1904-1990). Watson é considerado o porta-voz da abordagem behaviorista; já Skinner, o principal autor dessa
abordagem. Ao primeiro, deve-se o behaviorismo metodológico, enquanto ao segundo, o behaviorismo radical.
Vejamos mais detalhadamente cada um deles.
BEHAVIORISMO METODOLÓGICO
John Broadus Watson destacou-se como behaviorista. Como vimos, tornou o comportamento como objeto de
estudo da Psicologia em contraposição à abordagem mentalista que vigorava na época.
A teoria behaviorista surgiu numa época em que as investigações na área da Psicologia eram realizadas por
meio da introspecção. Contudo, os behavioristas metodológicos acreditavam que o autoexame não era
suficiente para conferir à Psicologia o caráter de ciência. Então, propuseram um enfoque no mundo objetivo, ou
seja, no comportamento observável.
 ATENÇÃO
Assim como os behavioristas da época, Watson não ignorava os sentimentos, a emoção e a subjetividade, mas
acreditava que esses aspectos não podiam ser concebidos como objetos de estudo da Psicologia, pois não
eram mensuráveis.
O Behaviorismo metodológico ficou conhecido como Teoria S-R (estímulo-resposta) e fundamentou-se nos
experimentos do fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936).
Em seus estudos, Pavlov percebeu que os cães, que estavam no laboratório havia algum tempo, começavam a
salivar antes de serem alimentados. Para tentar explicar essa salivação antecipada, ele desenvolveu uma série
de experimentos.
Para Pavlov, no condicionamento clássico ou respondente, a aprendizagem sempre começa com uma
resposta não aprendida, evocada por um estímulo específico. Essa relação entre estímulo (comida) e resposta
(salivação) incondicionados foi chamada de reflexo ou resposta incondicionada.
Depois, o fisiologista associou aos seus estudos um estímulo neutro (som de um sino) e o estímulo
incondicionado (comida). O som do sino, por si só, começou a evocar a salivação como resposta. Esse som
ficou conhecido como o estímulo condicionado, e a salivação em resposta ao sino foi denominada resposta
condicionada.
Foto: Rklawton / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0
 Um dos muitos cães usados por Pavlov nas suas experiências, Museu Pavlov, Rússia.
Os behavioristas metodológicos, especialmente Watson, adaptaram esses conceitos voltados aos animais para
o estudo do comportamento humano, reproduzindo experimentos principalmente com crianças.
Para Watson, nascemos praticamente iguais, com um pequeno repertório de respostas (como medo, raiva e
amor) dirigidas a alguns estímulos específicos. Ao longo da vida, aprendemos a associar esses
comportamentos a outros estímulos, muitas vezes sem significado emocional.
Para ilustrar seu experimento, Watson desenvolveu uma demonstração bastante conhecida (e polêmica), em
que tentou condicionar um corajoso bebê de 11 meses a sentir medo de um rato branco – e, por transferência,
medo de outros elementos com os quais já havia brincado anteriormente.
QUANDO WATSON CONDICIONOU UM BEBÊ DE 11 MESES
Um bebê saudável de 11 meses, chamado de Albert B., participou desse estudo. Albert foi escolhido devido a
sua estabilidade emocional, já que, antes do experimento, não demonstrava nenhuma reação de medo diante
de uma série de animais e objetos, como, por exemplo, rato branco, coelho, cachorro, algodão, máscara com e
sem cabelo e jornais em chamas. Nos testes iniciais, o bebê só mostrava medo diante de ruídos intensos e
repentinos. Dessa forma, para que o medo fosse condicionado, os experimentadores apresentavam a Albert
um rato branco (estímulo que, inicialmente, era neutro, porque não eliciava nenhuma reação desse tipo), e,
assim que o bebê tocava o animal, era produzido um som alto (de um martelo batendo em uma barra) atrás de
sua cabeça (supostamente um estímulo aversivo incondicional). Inicialmente, foram feitos dois pareamentos
entre o rato e o som. Depois do primeiro pareamento, o bebê saltou violentamente, tombou para frente,
escondeu o rosto, mas não chorou. Na segunda apresentação dos estímulos, Albert saltou, tombou novamente
para frente e começou a choramingar (BISACCIONI; CARVALHO NETO, 2010, p. 493).
Mais do que contribuir para avanços nessa linha teórica, Watson foi um grande divulgador do behaviorismo nos
Estados Unidos. Embora seus resultados não tenham passado por testes de validação, muitas de suas ideias
tiveram grande influência nas práticas educacionais. SAIBA MAIS
A noção de que as condições ambientais são elementos poderosos para moldar padrões comportamentais, em
detrimento da genética, perdurou por muito tempo. Além disso, o controle das emoções e o condicionamento
emocional ainda são utilizados por pais e professores em vários países ocidentais.
BEHAVIORISMO RADICAL
Burrhus Frederic Skinner aceitava o condicionamento clássico de Pavlov, mas acreditava que a ideia era válida
apenas para uma variedade limitada de comportamentos humanos: apenas os que poderiam ter uma resposta
inicial provocada por um estímulo conhecido.
Defensor do Behaviorismo radical, Skinner propôs que o objeto de estudo da Psicologia deveria ser o
comportamento dos seres vivos, especialmente o do homem. Todavia, ao usar o termo comportamento,
Skinner não se referia apenas aos comportamentos observáveis, mas também a eventos considerados
“encobertos”, tais como o pensamento e a emoção — sentimentos acessíveis apenas ao próprio sujeito.
Para Skinner, o organismo age voluntariamente no ambiente. Disso resulta sua proposta de
condicionamento operante. Enquanto para Pavlov, as respostas eram provocadas por um estímulo
(comportamento respondente), para Skinner, as repostas eram emitidas pelo indivíduo (comportamento
operante). Os resultados da resposta seriam centrais para a aprendizagem, ou seja, as consequências do
comportamento determinariam a probabilidade de ele ocorrer de novo.
Para mensurar os comportamentos em suas pesquisas, Skinner utilizava sua invenção: a câmara de
condicionamento operante (caixa de Skinner).
Imagem: Andreas1 / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0.
 Câmara de condicionamento operante (caixa de Skinner).
A partir dessa caixa, Skinner fez observações sistemáticas sobre reforçamento e punição, detalhando
objetivamente elementos como aquisição, extinção, esquecimento, generalização e discriminação, sempre
baseado nas respostas observáveis. Segundo ele, os conhecimentos advindos dessas experiências e desses
estudos poderiam ser transferidos para as diferentes situações cotidianas das pessoas.
 SAIBA MAIS
O Behaviorismo tornou-se uma importante escola da Psicologia que permite a análise, o reforço e a
modificação dos comportamentos.
GESTALT
A Gestalt surgiu na Alemanha, em 1912, e foi introduzida nos Estados Unidos oito anos depois. Seus principais
seguidores foram Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), os
quais se basearam em estudos psicofísicos que relacionavam a forma e sua percepção. Talvez o nome mais
conhecido, por conta da criação da Gestalt Terapia, seja Friederich Salomon Perls.
Uma das principais contribuições da Gestalt para a Psicologia refere-se à concepção do homem de forma
integrada. A teoria afirma que só é possível compreender o homem e a situação a ele relacionada por meio do
conhecimento de todas as partes envolvidas no todo. O lema da Gestalt é: “O todo é mais que a soma de
suas partes”.
FRIEDERICH SALOMON PERLS
Frederick Salomon Perls (1893-1970), também conhecido como Fritz Perls, insatisfeito com as
proposições adotadas no método clínico psicanalítico, iniciou o desenvolvimento de um projeto
terapêutico que, em 1951, passaria a chamar Gestalt Terapia: uma teoria e prática clínica sustentada em
aportes advindos da Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teoria Organísmica, filosofias de base
fenomenológica, entre outros. A Gestalt tomou uma forma peculiar de sustentação teórica e ação
terapêutica. (COMUNIDADE GESTÁLTICA, 2021).
O objetivo dessa teoria é estudar como os seres vivos percebem as coisas, entre elas, os objetos, as imagens
e as sensações. O conceito central da Gestalt é a percepção. A disposição em que os elementos são
apresentados à percepção é muito importante. A percepção do homem não ocorre por meio de pontos
isolados, de forma fragmentada, mas sim por uma visão do todo.
Segundo a Gestalt, existe uma dependência entre as partes, pois não as percebemos de forma isolada, mas
pelo estabelecimento das relações entre elas. Desse modo, para o homem é considerado sempre a soma das
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
partes que constituem sua totalidade. Por isso, essa teoria analisa a vida psíquica sob a ótica da combinação
dos elementos, que seriam as sensações e as imagens que a constituem (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
De acordo com os estudiosos da Gestalt, diferentemente do que propõem os behavioristas, entre o estímulo
que o meio fornece e a resposta do indivíduo existe o processo de percepção, que interfere diretamente na
compreensão do comportamento humano. Ambas as teorias definem a Psicologia como a ciência que estuda o
comportamento, mas o Behaviorismo o faz a partir da relação estímulo-resposta, isolando o estímulo
relacionado à resposta esperada e desconsiderando os aspectos da consciência. Já a Gestalt entende que o
comportamento não pode ser estudado sem levar em consideração as condições que alteram a percepção do
estímulo.
A indissociabilidade da parte em relação ao todo permite que, quando o indivíduo observa o fragmento de um
objeto, ocorra uma tendência natural à restauração do equilíbrio da forma, proporcionando, assim, o
entendimento do que foi percebido. Esse fenômeno perceptivo é norteado pela busca de fechamento,
simetria e regularidade dos pontos que compõem uma figura (objeto).
Outro tópico importante diz respeito à boa forma. Por meio da percepção, é possível compreender aquilo que
foi observado. Quanto mais clara estiver a forma (boa forma), mais clara será a separação entre figura e fundo.
PERCEPÇÃO
Conjunto de funções psicológicas que permitem ao corpo adquirir informações sobre o estado e as
mudanças de seu ambiente, graças à ação de órgãos especializados, como visão, audição, olfato,
paladar e toque (GALIMBERTI, 2002, p. 801).
Em contrapartida, se os elementos percebidos não apresentam equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e
regularidade, não é possível alcançar a boa forma. Portanto, o elemento que objetivamos compreender deve
ser apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a tendência à boa forma conduza ao
entendimento.
A tendência da percepção em buscar a boa forma permite a relação figura-fundo. Buscamos organizar as
percepções do objeto observado (figura) e o plano contra o qual ele se destaca (fundo). Na figura a seguir, a
imagem se destaca de forma mais substancial e se sobressai do fundo. Além disso, quanto mais clara a forma
(boa forma), mais perceptível a distinção entre a figura e o fundo.
Imagem: John Smithson / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Percepção figura-fundo.
Outro conceito importante é o de campo psicológico, entendido como um campo de força que atua na
percepção, que leva à procura da boa forma. Figurativamente, podemos relacioná-lo a um campo magnético
criado por um imã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que
garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas.
Para os defensores da Gestalt, no processo de aprendizagem, a experiência e a percepção são mais
importantes que as respostas a cada estímulo. A preocupação reside na totalidade do comportamento,
deixando em segundo plano as respostas isoladas e específicas.
Essa valorização da totalidade do comportamento também está fundamentada nos princípios da psicologia
da Gestalt. São eles:
Imagem: Shutterstock.com
PROXIMIDADE
Tendemos a agrupar os objetos ou elementos perceptuais por sua proximidade.
SIMILARIDADE
Objetos parecidos tendem a ser percebidos como relacionados entre si.
SEMELHANÇA
As partes semelhantes pretendem ser percorridas unidas, constituindo um conjunto.
CONTINUIDADE
Os fenômenos perceptivos tendem a ser considerados contínuos. Assim, continuamos a ver a linha curva como
única, mesmo que haja uma reta cortando-a.
FECHAMENTO
Tendemosa completar uma figura. Quando olhamos uma imagem incompleta, tendemos a percebê-la como
um desenho completo.
PSICANÁLISE
A Psicanálise originou-se na prática clínica do médico e fisiologista Josef Breuer (1842-1925), mas foi criada
efetivamente pelo médico Sigmund Schlomo Freud (1856-1939).
Foi a partir da prática médica que Freud postulou como objeto de estudo da Psicologia os processos mentais
inconscientes, além de teorizar sobre a estrutura e o funcionamento da mente humana, quebrando a tradição
da Psicologia como ciência da consciência e da razão.
Como metodologia de investigação, Freud inaugurou o método psicanalítico e uma prática profissional
terapêutica: a Terapia Psicanalítica ou Psicanálise. Esta terapia se caracteriza pelo método interpretativo,
busca o significado oculto das ações, dos comportamentos e das palavras, além de usar os sonhos, os delírios,
as associações livres e os atos falhos no processo psicanalítico.
Com a Psicanálise, a preocupação da Psicologia se deslocou do comportamento observado para a busca de
seu possível significado ou sentido oculto, manifestado nos sintomas por meio de palavras, atos ou produções
imaginárias (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
INCONSCIENTE E PULSÃO
O conceito central da teoria psicanalítica é o inconsciente. A consideração de que existem processos
psíquicos inconscientes que determinam a vida psíquica é o fator diferencial dessa teoria.
O inconsciente é formado por conteúdos psíquicos inacessíveis, em primeira instância, à consciência. Ele
influencia o pensamento, o comportamento, as escolhas, as opiniões, ou seja, a vida consciente. Entre os
conteúdos inconscientes podemos listar:
Acontecimentos do passado
Fatos imaginados
Cenas presenciadas na primeira infância
Acontecimentos presenciados não percebidos pela consciência
Lembranças recalcadas
Sigmund Freud chegou ao inconsciente, primeiramente, por meio dos sonhos. Também afirmou que os atos
falhos – como, por exemplo, palavras ditas sem a intenção de dizê-las – e os lapsos (falhas) de memória são
caminhos para se chegar ao inconsciente.
A pulsão refere-se à força que move a psique em determinada direção. É como um impulso, uma energia
originada no próprio corpo, em um órgão ou parte do corpo (chamado de fonte), que se dirige à psique. A
pulsão não pode ser identificada diretamente, mas por meio de seus representantes psíquicos, que podem ser
ideias ou afetos.
Apesar de ter origem orgânica, o conceito de pulsão não pode ser reduzido à ideia de instinto:
Instinto
Para Freud, refere-se a um comportamento hereditário, adaptado a seu fim.

Pulsão
Busca a satisfação, pois seu princípio é o prazer. Como força e impulso, a pulsão constitui e direciona o
desenvolvimento da psique.
Há diferentes pulsões. Inicialmente, Freud identificou a pulsão de natureza sexual, denominada libido: a força
que busca o prazer. Posteriormente, outros tipos de pulsão foram nomeados, como a pulsão do ego, que é a
tendência à autopreservação.
Em sua segunda teorização sobre pulsão, Freud postulou dois tipos básicos. São eles:
Eros
Designa os impulsos que tendem para a vida, o prazer, o amor, a amizade e a sexualidade, incluindo os
impulsos para a organização, a união, a criação e a construção.
Thánatos (tânatos)
Designa as tendências para a supressão das necessidades, das angústias e dos desejos, isto é, as tendências
para a inatividade e para a morte, incluindo os impulsos de destruição e desagregação. É na relação
conflituosa entre essas duas forças que se desenvolve a vida psíquica.
ORGANIZAÇÃO DO PSIQUISMO
Em 1900, Freud publicou o livro A interpretação dos sonhos – um marco na história da Psicanálise. Ele
apresentou a primeira concepção da estrutura e do funcionamento do aparelho psíquico, postulado em sua
“primeira tópica”: consciente, pré-consciente e inconsciente.
Por aparelho psíquico, Freud se refere à noção de que a psique pode ser compreendida como uma
organização de diferentes sistemas. Para ele, a mente seria subdividida em instâncias — cada uma com sua
função própria (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
Consciente — É somente uma pequena parte da mente, que inclui tudo que se conhece em um dado período.
É chamado de sistema do aparelho psíquico, que recebe as informações do mundo externo e do mundo
interno ao mesmo tempo.
Pré-consciente — É um componente do inconsciente, mas um elemento que pode se tornar consciente com
facilidade. Os pedaços da memória que são compreensíveis fazem parte do pré-consciente.
Inconsciente — Nesta primeira teoria, é o lugar em que ficam os elementos naturais, que jamais foram
conscientes e que não são compreensíveis à consciência. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico
regido pelas próprias leis de funcionamento.
Imagem: Shutterstock.com
Com base em seus estudos posteriores, em 1920, Freud remodelou a teoria do aparelho psíquico e propôs
uma “segunda tópica”: id, ego e superego (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
Imagem: Shutterstock.com
Id — É o reservatório da energia psíquica, totalmente inconsciente, em que se encontrariam as pulsões que
movem o homem.
Ego — É regido pela realidade e, em sua maior parte, é consciente — apesar de também apresentar uma
parte inconsciente (defesas psíquicas). Ele é o mediador da busca por satisfação, considerando as condições
objetivas da realidade. Suas funções básicas são: percepção, pensamento, sentimento e memória.
Superego — É o representante psíquico das exigências culturais e sociais, ou seja, ele se constitui das
proibições, dos limites, da autoridade internalizada. Portanto, assume o papel da moral, responsabilizando-se
pela construção de ideais a partir de modelos externos.
Outra importante contribuição de Freud para a compreensão do aparelho psíquico refere-se aos processos
denominados mecanismos de defesa do ego, usados para evitar o desprazer.
Além de Sigmund Freud, outros pesquisadores contribuíram para o desenvolvimento da Psicanálise com suas
próprias teorias, algumas das quais apresentaram discordâncias com as ideias freudianas. Entre eles,
especialmente discípulos de Freud, estão:
Alfred Adler (1870-1937)
Carl Gustav Jung (1875-1961)
Melanie Klein (1882-1960)
Anna Freud (1895-1982)
Donald Woods Winnicott (1896-1971)
Wilhelm Reich (1897-1957)
Jacques Lacan (1901-1981)
Vamos entender um pouco mais a diferença entre a abordagem behaviorista, gestaltista e psicanalista?
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AS TRÊS MAIS IMPORTANTES TENDÊNCIAS TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO
SÉCULO XX SÃO CONSIDERADAS, POR INÚMEROS AUTORES, O BEHAVIORISMO, A
GESTALT E A PSICANÁLISE. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A ALTERNATIVA
INCORRETA:
A) O Behaviorismo nasceu com Watson e teve um desenvolvimento grande nos Estados Unidos em função de
suas aplicações práticas.
B) A Psicanálise reforçou a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão.
C) A Gestalt surgiu como uma negação da fragmentação das ações e dos processos humanos, realizada pelas
tendências da Psicologia Científica do século XIX, postulando a necessidade de se compreender o homem
como uma totalidade.
D) O Behaviorismo tornou-se importante por ter definido o objeto da Psicologia de modo concreto, com base na
noção de comportamento (behavior) observável.
E) A Psicanálise nasceu com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recuperando para a Psicologia a
importância da afetividade e postulando o inconsciente como objeto de estudo.
2. A RESPEITO DAS ESCOLAS DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA QUE, NO SÉCULO XX,
FOMENTARAM O DESENVOLVIMENTO DE OUTRAS ABORDAGENS TEÓRICAS,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) A Psicanálise caracteriza-se por estudar as verdades existenciais por meio da ação e por adotar como
método a pesquisa e a intervenção nas relações interpessoais em grupos.
B) A Psicanálise mobiliza o reconhecimento das diferenças e dos conflitos, com o objetivo de que se vivencie a
realidade, e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo osrecursos
disponíveis.
C) O Behaviorismo de Watson defende uma filosofia de ciência do comportamento, partindo da premissa de
que o ser humano é um ser ativo, social e histórico, e que o sujeito e o mundo são âmbitos distintos, mas
criados no mesmo processo e se completam.
D) Retomando parte da compreensão da Psicologia em sua origem – basicamente uma ciência experimental e
observável –, Skinner, defensor do Behaviorismo radical, compreende que o comportamento dos animais pode
ser observado e controlado.
E) Uma das principais contribuições da Gestalt para a Psicologia refere-se à concepção do homem
fragmentado.
GABARITO
1. As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia no século XX são consideradas, por
inúmeros autores, o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Sobre o assunto, assinale a alternativa
incorreta:
A alternativa "B " está correta.
A compreensão da Psicologia como ciência da consciência e da razão está vinculada às origens da Psicologia
em seu estatuto como ciência. Por isso, seu nascimento está relacionado com os laboratórios experimentais.
Freud trouxe à tona o valor do inconsciente, e toda a teoria psicanalista é baseada, de alguma forma,
exatamente nesse componente.
2. A respeito das escolas da Psicologia Científica que, no século XX, fomentaram o desenvolvimento de
outras abordagens teóricas, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
O Behaviorismo ou a Psicologia entendida como ciência do comportamento ganhou grande incentivo com
Skinner, seja porque ele deu seguimento ao estatuto original da Psicologia, seja porque seus experimentos,
fundamentados no condicionamento operante, tiveram grande impacto real na compreensão do
comportamento humano.

Outros materiais