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Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO → O SNA, em conjunto com o sistema endócrino, coordena a regulação e a integração das funções corporais → Sistema endócrino → hormônios → SNA → impulsos elétricos percorrem as fibras efetoras até os órgãos-alvo Fármacos autonômicos → São fármacos que funcionam primariamente modulando a atividade do SNA Simpaticomiméticos Agonistas simpáticos Agonistas adrenérgicos: adrenalina, salmeterol, fenilefrina Simpaticolíticos Antagonistas simpáticos Antagonistas adrenérgicos: betabloqueadores, fentolamina, reserpina Parassimpaticomiméticos Agonistas do parassimpático Agonistas colinérgicos: acetilcolina, pilocarpina, neostigmina Parassimpaticolíticos Antagonistas do parassimpático Antagonistas colinérgicos: atropina, escopolamina, nicotina, succinilcolina Introdução ao sistema nervoso → Duas seções anatômicas: o SNC e o Sistema Nervoso Periférico (neurônios fora do encéfalo e da medula espinal; isto é, são os nervos que entram e saem do SNC) → O SNP é dividido em aferente e eferente Divisão funcional → A porção eferente do SNP é dividida em: - Sistema somático: Controle voluntário (músculos esqueléticos) - Sistema Nervoso Autônomo: Regulação das funções vitais sem a participação consciente do cérebro Sistema Nervoso Autônomo → Também é denominado sistema vegetativo ou involuntário → Composto por fibras eferentes que inervam os músculos lisos das vísceras, o do coração, o vascular e as glândulas exócrinas → Controla a digestão, o débito cardíaco, o fluxo sanguíneo e as secreções glandulares → Anatomia: Neurônios eferentes - O neurônio pré-ganglionar tem seu corpo no cérebro e fazem sinapse na periferia, nos gânglios - O neurônio pós-ganglionar tem corpo no gânglio, em geral não é mielinizado e termina nas fibras que atingem os órgãos efetores Neurônios aferentes - São importantes como sensores, fazendo o feedback no SN - Ex: os baroceptores Neurônios simpáticos - O SNA: simpático, parassimpáticos e entérico - Neurônios simpáticos: emergem através das regiões torácica e lombar da medula espinal (de T1 a L2) e fazem sinapse em cadeias de gânglios paravertebrais (fibra pré-ganglionar é curta) = Chamada divisão toracolombar - Um neurônio pré se relaciona a vários pósganglionares Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Obs: a medula da suprarrenal é uma espécie de “gânglio modificado” Neurônios parassimpáticos - Emergem como fibras com os nervos craniais III (oculomotor), VII (facial), IX (glossofaríngeo) e X (vago) e da região sacral (S2 a S4), fazendo sinapse em gânglios próximos aos órgãos efetores - Inervam a maioria dos órgãos das cavidades torácica e abdominal - Divisão craniossacral - Fibras pré-ganglionares longas - Relação um-pra-um (neurônios pré e pósganglionares) Neurônios entéricos - Uma coleção de fibras que inervam o TGI, pâncreas e vesícula biliar - É o “cérebro do intestino” - Funciona independentemente do SNC Controla motilidade, as secreções endógenas e exógenas e a microcirculação do TGI - É modulado tanto pelo simpático quanto pelo parassimpático Funções do SN Simpático → Resposta a situações estressantes: trauma, medo, frio, hipoglicemia e exercício 1. Efeitos da estimulação simpática: aumentar PAS, FC, mobilizar energia, direcionar fluxo sanguíneo para os órgãos vitais 2. A resposta de “luta e fuga”, ou melhor “lute ou fuja”: atividade como uma unidade do simpático Funções do SN Parassimpático → Envolvida na homeostasia corporal → Mantém as funções corporais essenciais → Em parte, atua opondo-se ao simpático → Domina nas situações de repouso e de digestão → Não costuma atuar (disparar em bloco); se acontecer → sintomas indesejáveis, com descontrole das evacuações; síndrome vaso vagal Papel do SNC no controle das funções autonômicas → Homeostase por retroalimentação → Arcos reflexos: a maioria dos impulsos aferentes não passa pela consciência → O arco compreende um ramo sensorial (aferente) e um motor (eferente) → Emoções e SNA: estímulos que provocam sensações fortes (raiva, medo, prazer) podem modificar a atividade do SNA Inervação pelo SNA 1. Inervação dupla → Pelo simpático e pelo parassimpático → Em geral, um é predominante, ajuste fino e dinâmico → A maioria dos órgãos 2. Órgãos que só recebem inervação simpática → Medula suprarrenal, os rins, os músculos piloeretrores e as glândulas sudorípara → Controle da PAS SN Somático Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Um único neurônio motor mielinizado vai do SNC até o músculo efetor (sem gânglios intermediários) → Controle voluntário → Respostas mais rápidas que as dos SNA Sinalização química entre as células → Espectro de mediação: hormônios, mediadores locais e neurotransmissores Sinalização sináptica Sinalização endócrina - Mais rápida - Alta concentração - Receptores menos sensíveis - Local específico - Mais lenta - Baixa concentração - Receptores de grande sensibilidade - Difusa Neurotransmissores → São unidades distintas → Sem continuidade estrutural entre si → Comunicação por emissão de sinais químicos específicos (neurotransmissores): potencial de ação, papel do íon cálcio, exocitose de vesículas sinápticas, difusão pelo espaço sináptico, ligação a receptores no botão pós-sináptico → Mais de 50 já foram identificados → Seis são os mais relevantes: norepinefrina (NE) ou noradrenalina (NA), acetilcolina (ACh), dopamina (D), serotonina (5HT), histamina (His), ácido γ-amino butítico (GABA) → Cada neurotransmissor se liga a uma família de receptores mais ou menos específicos → Os principais sinalizadores no SNA são acetilcolina e noradrenalina → Outros cotransmissores podem ser liberados em conjunto (como ATP, p. ex.) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Acetilcolina → Se a transmissão for mediada por acetilcolina o neurônio é dito “colinérgico” → Faz a sinalização sobre os gânglios autônomos do simpático e do parassimpático e sobre a suprarrenal → Na maioria dos casos para o parassimpático e em apenas alguns casos para o simpático, a fibra pós- ganglionar também opera liberando acetilcolina → A transmissão na junção neuromuscular (JNM) também é colinérgica Noraepinefrina e Epinefrina → Nesse caso, a fibra é denominada adrenérgica → Diferença nas estruturas: grupo metil na epinefrina no lugar de um hidrogênio da noraepinefrina → No simpático é a noradrenalina que é liberada pelos neurônios das fibras pósganglionares → Obs1: Poucas fibras simpáticas, como as envolvidas na sudoração, são colinérgicas → Obs 2: O músculo liso renal pós-ganglionar é inervado por dopamina Sistemas de segundo mensageiro na resposta intercelular → Segundo mensageiro é a molécula intracelular que se forma para mediar os efeitos da ligação do mensageiro intercelular ao receptor celular (de membrana ou intracelular) → Receptores de membrana que afetam a permeabilidade iônica → Regulação envolvendo moléculas segundo mensageiras → É necessário levar em conta a anatomia do sistema nervoso, para entender a sua relevância fisiológica e daí, então, poder compreender como funcionam os fármacos que modulam o SNA Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 AGONISTAS COLINÉRGICOS → Fármacos que atuam no SNA são divididos em dois grupos: os colinérgicos e os adrenérgicos → Eles atuam estimulando ou bloqueando cada tipo de transmissão Ação direta Ação indireta (reversíveis) Ação indireta (irreversível) Acetilcolina Betanecol Carbacol Cevimelina Nicotina Pilocarpina Ambenônio Donepezila Edrofônio Fisostigma Galantamina NeostigminaPiridostigmina Rivastigmina Ecotiofolato Reativador da acetilcolinesterase Pralidoxima Neurônio colinérgico → Usam acetilcolina como transmissor → A fibra pré-ganglionar que termina na adrenal → As fibras pré-ganglionares dos gânglios autônomos, tanto o simpático quanto o parassimpático → As fibras pós-ganglionares da divisão parassimpáticas → Neurônios colinérgicos que inervam os músculos do sistema somático → A divisão pós-ganglionar das fibras simpáticas que inervam as glândulas sudoríparas → Pacientes com doença de Alzheimer tem perda de neurônios colinérgicos em lobo temporal e no córtex entorrinal → A maioria dos fármacos disponíveis para tratar essa doença são inibidores da acetilcolinesterase A neurotransmissão nos neurônios colinérgicos → Envolve 6 etapas sequenciais 1. Síntese de acetilcolina - A colina é transportada do LEC para o citoplasma do neurônio colinérgico - Sistema de cotransporte com Na+ - Inibido por hemicolínio - É o passo limitante da síntese - Acetil Coa-A vem da mitocôndria 2. Armazenamento de acetilcolina em vesículas - Ach é “empacotada” em vesículas présinápticas - Por antiporte com H+ - A vesícula contém também ATP, o qual funciona como cotransmissor 3. Liberação de acetilcolina - Potencial de ação se propaga por canais de Na+ voltagem-dependentes - Abrem canais de Ca++ voltagemdependentes na membrana pré-sináptica Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 4. Ligação com o receptor - Após a difusão na fenda, pode haver ligação aos receptores pós-sinápticos no botão, ao receptor pré- sináptico ou a outro receptor em outra célula alvo 5. Degradação de acetilcolina - O sinal é interrompido rapidamente por degradação - Hidrólise pela acetilcolinesterase - Existe uma butirilcolinesterase no plasma (mas seu papel é muito pequeno na fenda sináptica) 6. Reciclagem da colina - Sistema de alta afinidade para recaptação - Dentro do neurônio a colina é novamente acetilada Receptores colinérgicos (colinoceptores) → Existem duas famílias, os muscarínicos e os nicotínicos, diferenciados inicialmente pela afinidade de ligação a substâncias como a muscarina e a nicotina Receptores muscarínicos Características São receptores da família dos metabotrópicos (acoplados à proteína G). Cinco subclasses identificadas (M1, M2, M3, M4 e M5), mas só os três primeiros estão bem caracterizados funcionalmente. Localização - Gânglios do SNP - Órgãos efetores: coração, músculo liso, cérebro e glândulas exócrinas - No cérebro: todos - M1: nas células parietais gástricas - M2: célula cardíacas e músculo liso - M3: Bexiga, glândula exócrinas e músculo liso Mecanismos de transdução de sinal pela acetilcolina - M1 ou M3 → Gq (ativa a fosfolipase C) → DAG e IP3 (segundos mensageiros); IP3 → elevação do [Ca++]ic → estimular ou inibir enzimas, hiperpolarização, secreção ou contração - M2 → Gi(inibe a adenililciclase) → aumento da condutância para K+ no músculo cardíaco (bradicardia) Agonistas e antagonistas muscarínicos - Esforço para obter agentes mais específicos - Ex: pirenzepina é mais específica para M1 (mucosa gástrica) → menos efeitos adversos, mas causa taquicardia reflexa por bloquear M2 cardíacos... - Nenhum fármaco atualmente importante atua apenas sobre M4 ou M5 Receptores nicotínicos Características Composto por cinco subunidades, atua como um canal iônico disparado por ligante. A nicotina em baixa concentração estimula o receptor; em alta, bloqueia Localização - Localizam-se no SNC, na suprarrenal, nos gânglios autonômicos e na junção neuromuscular - Ex.: os receptores ganglionares são bloqueados seletivamente por hexametônio e os da JNM por tubocurarina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Agonistas colinérgicos de ação direta → Mimetizam os efeitos da Ach → Dois grupos: os ésteres da colina (Ach, carbacol, betanecol) e os alcaloides de ocorrência natural (pilocarpina) → Obs: pilocarpina e betanecol (são úteis na clínica) se ligam preferencialmente a receptores muscarínicos; contudo, agonistas de ação direta têm uso limitado → Efeitos adversos: náuseas, emergências diuréticas, diarreia, diadorese (suor excessivo), miose (característica marcante) Acetilcolina → Não penetra através das membranas → Tem pouca importância terapêutica em função dos múltiplos efeitos (ação difusa) e à sua rápida inativação pela acetilcolinesterase → Tem atividade nicotínica e muscarínica → Possui diversas ações: → Diminuição da frequência e do débito cardíaco: mimetiza efeito da estimulação vagal; diminui FC e volume sistólico, por interferência via nodo SA → Diminuição da PAS: por vasodilatação, ativando receptores M3 (libera NO – vasodilatador) → Outras: aumenta salivação e estimula secreções e motilidade intestinal, ajuda na emissão da urina, contrai o músculo ciliar do olho e provoca miose → Obs: solução de ACh (1%) é instilada na câmara ocular, durante cirurgia oftalmológica para provocar miose Betanecol → O betanecol não é hidrolisado pela colinesterase! → Forte atividade muscarínica, sem atividade nicotínica, agindo na musculatura lisa da bexiga urinária e no TGI → Aumenta a motilidade e o tônus intestinal → Estimula o músculo detrusor da bexiga, enquanto relaxa o trígono e os esfíncteres → Usado para o tratamento de bexiga atônica, particularmente na retenção urinária não obstrutiva, no pós- parto ou no pós-operatório; também para bexiga com atonia neurogênica e no megacólon Carbacol (carbamilcolina) → Apresenta ações muscarínicas e nicotínicas → É estimulante ganglionar, com efeito pronunciado no TGI e no coração (primeiro estimula e depois deprime esses sistemas) → Pode mimetizar a ação da nicotina, liberando epinefrina (é parassimpático mimético, mas, por essa ação, pode ter um pouco de ação simpática) → No olho, se instilado, causa espasmo e acomodação com miose persistente → É usado topicamente para diminuir a pressão intraocular de ângulo amplo ou estreito, particularmente em pacientes que se tornaram tolerantes à pilocarpina → Pouco ou nenhum efeito adverso, nas doses utilizadas em oftalmologia Pilocarpina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Resiste à hidrólise pela AChE → É menos potente que outros colinomiméticos diretos → Apresenta atividade muscarínica e tem uso primário oftalmológico → Produz rápida miose com paralisia da acomodação visual (efeito contrário ao da atropina) → É um dos mais potentes estimuladores das secreções (suor, lágrimas e saliva) → uso limitado pela falta de seletividade → Útil nos pacientes com xerostomia por irradiação de cabeça e pescoço, na síndrome de Sjögren (xerostomia e falta de lágrimas) → Possui uso terapêutico para a redução de emergência da pressão intraocular, no glaucoma de ângulo estreito e no de ângulo amplo → É amina terciária não ionizada que pode entrar no SNC → Obs: a acetazolamida e o timolol são eficazes no tratamento crônico do glaucoma, mas não na emergência → A pilocarpina pode causar distúrbios no SNC, sudorese excessiva e salivação (efeitos similares aos do consumo dos cogumelos do gênero Inocybe; podem ser revertidos com atropina) Agonistas colinérgicos de ação indireta: inibidores da acetilcolinesterase (reversíveis) → São fármacos que podem produzir efeitos em todos os neurônios colinérgicos → Os inibidores reversíveis podem ser classificados como fármacos de ação curta ou intermediária Edrofônio → É o protótipo do inibidor de ação curta → 10 a 20 minutos (rápida eliminação renal) → Ações limitadas à periferia → Usado no diagnóstico de miastenia grave (provoca rápido reestabelecimento da força muscular) → O excesso desse fármaco pode provocar crise colinérgica(reversível com atropina) → Pode ser usado para reverter os efeitos de bloqueadores neuromusculares competitivos não despolarizantes após a cirurgia → Seu uso tornou-se limitado pela disponibilidade de fármacos mais novos Fisostigmina → Forma complexo com a AChE, potencializando a atividade colinérgica em todo o organismo → Efeitos amplos (nicot. e muscar.) → Duração de 2 a 4 horas (fármaco de ação intermediária) → Aumenta motilidade do intestino e da bexiga urinária; no olho produz miose e espasmo de acomodação, com diminuição da PIO → Pode ser usada no tratamento do glaucoma, mas a pilocarpina é mais eficaz Usada como antídoto para fármacos anticolinérgicos → Efeitos adversos: no SNC pode provocar convulsões; pode ocorrer contração do músculo liso visceral, miose, pode haver bradicardia e queda da PAS; pode acumular ACh na junção neuromuscular e provocar paralisia ao final → esses efeitos são raros em doses terapêuticas Neostigmina → Similar à fisostigmina → Ação de 30 min a 2 horas Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Usada para estimular bexiga e TGI e como antagonista da tubocurarina, no tratamento da miastenia grave → Efeitos adversos: síndrome de estimulação colinérgica generalizada → É contraindicada se houver obstrução intestinal ou na bexiga e nos pacientes com peritonite o DII Piridostigmina e ambenônio → Outros inibidores da acetilcolinesterase usados no tratamento da miastenia grave → Duração de ação intermediária (de 3 a 6 e de 4 a 8 horas) Tacrina, denepezila, rivastigmina e galantamina → Usados como potencializadores cognitivos para amenizar sintomas na doença de Alzheimer → Não curam ou revertem a doença, mas melhoram sintomas → Pode ser usado com memamtina em doença moderada à grave → A tacrina foi o primeiro, mas é muito hepatotóxica. → Efeito adverso comum: distúrbio TGI Agonistas colinérgicos de ação indireta: anticolinesterásicos (irreversíveis) → Vários organofosforados sintéticos ligamse covalentemente à AChE → Aumento de longa duração nos níveis de Ach na fenda sináptica → São tóxicos, usados como armas químicas ou como pesticidas; pouco uso clínico (exceção: ecotiofato) Ecotiofato → Se liga covalentemente à enzima → Após um tempo (envelhecimento) ocorre perda do grupo acila, impedindo a ação de fármacos que possam regenerar a enzima, como a pralidoxima → Causa estimulação colinérgica generalizada, com paralisia da função motora e convulsões → Provoca intensa miose e pode ter uso clínico para isso; parte dos efeitos são revertido por altas doses de atropina Toxicologia dos inibidores da acetilcolinesterase → Usados como inseticidas: olhos, boca, pele e nariz sõa vias de contaminação → Casos de intoxicação acidentais são comuns (pralidoxima é antidoto na periferia, mas não entra no SNC) → Com substâncias mais novas, para as quais o envelhecimento da enzima é mais rápido, a pralidoxima é ineficaz → Usa-se também atropina, como antídoto dos efeitos muscarínicos, e diazepam para prevenir e tratar as convulsões Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS → Bloqueadores colinérgicos, ou parassimpaticolíticos, ligam-se aos receptores colinérgicos, mas não causam efeitos mediados por esses receptores → Os mais úteis são os que fazem bloqueio seletivo dos receptores muscarínicos dos nervos parassimpáticos → Os bloqueadores ganglionares (são menos usados, clinicamente) → Os bloqueadores neuromusculares são úteis no relaxamento muscular em cirurgia, anestesia, na intubação e em vários procedimentos ortopédicos Antimuscarínicos Bloqueadores ganglionares Bloqueadores neuromusculares Atropina Benztropina Ciclopentolato Cloreto de tróspio Darifenacina Escopolamina Fesoterodina Ipratrópio Oxibutinina Solifenacina Tiotrópio Tolterodina Triexifenidila Tropicamida Nicotina Cisatracúrio Pancurônio Rocurônio Succinilcolina Vecurônio Fármacos antimuscarínicos → Atropina e escopolamina → Bloqueiam receptores muscarínicos pós-ganglionares de acetilcolina – SN Parassimpático → Não atuam em receptores adrenérgicos e nicotínicos → Causam inibição de todas as funções muscarínicas → Bloqueiam as poucas fibras colinérgicas simpáticas (glândulas sudoríparas e salivares) → Possuem vários usos clínicos → Pouca ação na junção neuromuscular e nos gânglios autonômicos (não bloqueiam os receptores nicotínicos) → Obs: vários anti-histamínicos e antidepressivos também têm atividade antimuscarínica Atropina → Bloqueador competitivo da acetilcolina → Age central e perifericamente → Efeitos duram cerca de 4 horas → Quando aplicada no olho, o efeito pode durar dias (beladona – planta que causa midríase) → Órgãos neuroefetores têm sensibilidade variável → Os efeitos inibidores mais intensos se dão nos brônquios e nas secreções de suor e de saliva → Ações: - Olho: midríase persistente; ausência de resposta à luz; cicloplegia (diminuem a resposta da movimentação e da foto sensibilidade do globo ocular); PIO pode aumentar no glaucoma de ângulo estreito (perigosamente). Nos exames oftalmológicos são preferidos a tropicamida (antimuscarínico) ou a fenilefrina (α-adrenérgico) para provocar midríase, ambos de ação mais curta - Trato gastrointestinal: antiespasmódico (hiosciamina), reduz motilidade (não tem muito efeito na secreção gástrica) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Sistema urinário: reduz a hipermotilidade da bexiga, pode ser usada no tratamento da enurese em crianças (mas agonistas α-adrenérgicos são melhores) - Cardiovascular: efeitos divergentes, dependendo da dose Em dose baixa Diminui FC por bloqueio M1 em receptores pré-sinápticos, aumentando a liberação de ACh Em dose alta Aumento modesto da FC por bloqueio M2 PAS não é afetada, mas pode haver vasodilatação em doses altas - Secreções: bloqueia glândulas salivares, causa xerostomia, afeta glândulas sudoríparas e lacrimais (a pouca sudorese pode implicar em hipertermia em pacientes vulneráveis, idosos e, principalmente, crianças, por exemplo) → Usos terapêuticos: - Oftálmico (midríase e cicloplegia): mas 7 a 14 dia de efeito! Tropicamida e ciclopentolato (antimuscarínicos de ação mais curta, só 6 a 24 horas). - Antiespasmódico (L-hiosciamida): relaxar a bexiga e o TGI - Antagonista de agonista colinérgicos: antídoto em intoxicações (inseticidas inibidores da acetilcolinesterase, cogumelos) - Antissecretor: antes de cirurgia do trato respiratório superior e inferior → Farmacocinética: bem absorvida. Parcialmente metabolizada no fígado; eliminada pela urina. Meia-vida de 4 horas → Efeitos adversos: constipação, retenção urinária, visão borrada, confusão mental, midríase persistente → Doses baixas de fisostigmina (inibidor da colinesterase) podem ser usadas para neutralizar a toxicidade da atropina Idosos → risco de manifestar glaucoma latente Crianças → risco de hipertermia Escopolamina → Produz efeitos periféricos similares à atropina, na periferia → Ação maior no SNC → Duração mais longa → É um dos fármacos anticinetósicos mais eficientes → Bloqueia a memória de curta duração → Produz sedação em doses usuais; em doses mais altas pode produzir excitação → Pode causar euforia e ser utilizada abusivamente → Usos terapêuticos: prevenção de doenças do movimento, como viagens, no carro ou mar (cinetose) e amnésia pode ser útil como complemento em procedimentos que requeiram anestesia → Farmacocinética e efeitos adversos similares aos da atropina Ipratrópio e tiotrópio → São derivados quaternários da atropina → Usados por inalação → Derivados da atropina → Usados como broncodilatadores (na DPOC, na bronquite crônica e no enfisema e na asma)→ Efeito periférico (não entram no SNC) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Tropicamida e ciclopentolato → Usados como soluções oftálmicas para midríase e cicloplegia → Duração de efeito mais curta do que a atropina Benztropina e triexifenidila → Foram úteis como complementos no tratamento da Doença de Parkinson e como antiparkinsonianos no tratamento de efeitos adversos extrapiramidais induzidos por antipsicóticos → Porém foram substituídos por fármacos como levodopa/carbidopa → Continuam uteis para tratar parkinsonismo por síndrome extrapiramidal secundária ao uso de antipsicóticos, por exemplo (relativamente úteis em pacientes geriátricos, que não toleram outros fármacos mais excitatórios) Darifenacina, fesoterodina, oxibutinina, solifenacina, tolterodina e cloreto de tróspio → Like-atropina → Usados no tratamento da doença da bexiga superativa → Diminuem a pressão intravesical → A oxibutinida está disponível de forma transdérmica, com efeitos adversos mais toleráveis (menos xerostomia) Bloqueadores ganglionares → Atuam particularmente nos gânglios autonômicos (simpático e parassimpático), nos receptores nicotínicos → Alguns bloqueiam os canais iônicos dos gânglios autonômicos → Não são eficazes como antagonistas musculares pela falta de especificidade → Bloqueiam completamente o impulso no SNA por receptores nicotínicos → Exceto a nicotina, os demais, nessa classe, são antagonistas não despolarizantes competitivos → As respostas bloqueadoras não-despolarizantes são complexas → Conhecendo-se o tônus predominante em cada sistema, é possível prever o efeito do bloqueio, sempre no sentido contrário ao tônus (por exemplo, nas arteríolas o tônus simpático é predominante; assim o bloqueio provoca vasodilatação) → Raramente têm uso na terapêutica; seu principal uso é experimental Nicotina → Uso médico se restringe aos adesivos para tratamento antitabágico → Em doses baixas (estimulação dos gânglios) → aumento da PAS e da FC e aumenta motilidade e a produção de secreções → Em doses altas (despolarização) → cai a PAS e a atividade em TGI e bexiga diminui Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Mecamilamina → Produz bloqueio competitivo nos gânglios → Foi suplantada por fármacos com menos efeitos adversos Fármacos bloqueadores neuromusculares → Bloqueiam a transmissão colinérgica entre o terminal nervoso motor e o receptor nicotínico no músculo esquelético → São análogos estruturais da acetilcolina → Podem atuar como antagonistas (não despolarizantes) ou como agonistas (despolarizantes) nos receptores da placa motora da junção neuromuscular → São úteis clinicamente para facilitar intubação endotraqueal e oferecer relaxamento muscular completo Bloqueadores não despolarizantes (competitivos) → Protótipo: curare → Depois: tubocurarina → Na sequência: cisatracúrio, pancurônio, rocurônio e vencurônio (menos efeitos adversos) → Aumentaram significativamente a segurança da anestesia (menos anestésico, recuperação mais rápida e completa após a cirurgia) → Porém, não servem como substitutos para os anestésicos! → Mecanismo de ação: - Os não despolarizantes bloqueiam completamente o receptor de acetilcolina, impedindo a despolarização e inibindo a contração muscular - A ação competitiva pode ser superada com o uso de inibidores da colinesterase (em doses baixas) - A monitorização do efeito pode ser feita através de estímulo elétrico (se doses baixas; em doses altas e com bloqueio completo, não) → Músculos pequenos e de contração rápida são mais suscetíveis, na face, seguidos dos de dedos, pernas, músculos do pescoço e do tronco, intercostais e diafragma → Os músculos se recuperam na ordem inversa → Farmacocinética: todos são usados IV, ocasionalmente IM. Não penetram pelo intestino nem atingem o SNC → Efeitos adversos mínimos → Interações farmacológicas: - Inibidores da colinesterase: podem antagonizar o efeito do relaxante - Anestésicos hidrocarbonetos halogenados: potencializam o bloqueio por ação estabilizante na JNM Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Aminoglicosídeos: gentamicina e tobramicina inibem a liberação de ACh dos nervos colinérgicos; podem aumentar o bloqueio - BCC: podem aumentar o bloqueio Fármacos despolarizantes → Atuam por despolarização similar à da Ach, mas são fármacos mais resistentes à ação da colinesterase, produzindo despolarização persistente → A succinilcolina é o único relaxante muscular despolarizante utilizado atualmente → Mecanismo de ação: de início, a ação sobre o receptor provoca abalos musculares (fase I), a partir do qual persistindo a ligação não são mais possíveis novos estímulos sobre a placa motora, levando ao relaxamento do músculo (fase II) → Os músculos respiratórios são paralisados por último → Como pode causar dor no início do uso, pode-se usar pré-medicação com o agente não-despolarizante → A duração é extremamente curta (rápida hidrólise pela pseudocolinesterase), mas a molécula que alcança a junção neuromuscular fica protegida da hidrólise → Útil na intubação endotraqueal rápida durante a indução da anestesia (essencial para prevenir aspiração de conteúdo gástrico) → Usada no preparo da eletroconvulsoterapia (tratamento de transtornos psiquiátricos) → Farmacocinética: injetada por via IV. Breve ação devido à redistribuição rápida (poucos minutos). Por vezes, se usa infusão contínua → Efeitos adversos: hipertermia maligna em pacientes suscetíveis, apneia (nos pacientes com deficiências genéticas de colinesterase), hiperpotassemia (pode haver liberação de potássio das reservas intracelulares, particularmente perigosa em pacientes queimados ou com lesão tecidual extensa, nos quais o potássio é perdido rapidamente pelas células) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 AGONISTAS ADRENÉRGICOS Ação direta Ação indireta Ação mista (direta e indireta) Clonidina Dobutamina* Dopamina* Epinefrina* Fenilferina Fenoldopam Formoterol Isoproterenol* Mirabegrona Norepinefrina* Salbutamol Salmeterol Terbutalina *Catecolaminas Anfetamina Cocaína Efedrina Pseudoefedrina → Simpaticomiméticos: atuam sobre receptores adrenérgicos, ativando-os. Podem ter ação direta (agindo diretamente como agonistas de receptores adrenérgicos), ação indireta (aumentando a liberação ou inibindo a recaptação de noradrenalina) ou ação mista → Simpaticolíticos: diminuem a atividade adrenérgica Neurônio adrenérgico → Norepinefrina é o transmissor primário → Encontrados no SNC e no periférico Neurotransmissão nos neurônios adrenérgicos 1. Síntese de norepinefrina (NE) 2. Armazenamento de NE em vesículas 3. Liberação de NE 4. Ligação aos receptores 5. Remoção de NE 6. Possíveis destinos Receptores adrenérgicos (adrenoceptores) → Tipos de receptores e afinidade de ligação: RECEPTOR α RECEPTOR β Maior afinidade com epinefrina, e menor com isoproterenol. Maior afinidade com isoproterenol, e menor com noraepinefrina. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Potência (norepinefrina X epinefrina) → Norepinefrina “ganha” para α1 e β1 → Epinefrina (Adr) “ganha” para α2 e β2 → Empate para β3 → A potência em cada tecido será determinada pelo tipo de receptor que está mais expresso Existem 5 tipos de adrenoceptores: 2 do tipo α e três do tipo β. Todos os receptores são ligados à proteína G, mas: - β: agem de modo estimulatório, aumentando a produção de AMPc pela adenilil-ciclase. - α: agem ativando a fosfolipase C e produzindo IP3 (trifosfato de iositol) e DAG (di-acilglicerol) * α2 DIMINUI a quantidadede AMPc = atividade inibitória na adenilil-ciclase α1 α2 β1 β2 β3 NE Adr ISO (NE > Adr) ISO (Adr > NE) ISO (NE = Adr) - Vasoconstrição - Aumento da resistência periférica - Aumento da PAS - Midríase - Maior fechamento do esfíncter interno da bexiga urinária - Inibição da liberação de NE - Inibição da liberação de acetilcolina - Inibição da liberação de insulina - Taquicardia - Aumento da lipólise - Aumento da contratilidade do miocárdio - Aumento da liberação de renina - Vasodilatação - Diminuição da resistência periférica - Broncodilatação - Aumento da glicogenólise hepática e muscular - Aumento da liberação de glucagon - Relaxamento da musculatura uterina - Lipólise - Músculo detrusor da bexiga α1A, α1, α1C, α1D α2A, α2B, α2C Dessensibilização dos β-receptores. Ocorre com a exposição prolongada por três mecanismos: (1) sequestro dos receptores de forma que ficam indisponíveis para ligação, (2) desaparecimento do receptor por destruição ou diminuição da síntese ou (3) incapacidade de acoplar-se à proteína G por fosforilação do domínio IC. → A clonidina é um agonista do receptor α2 pré-sináptico → A tansulosina é um antagonista seletivo α1A, usada para o tratamento da hiperplasia benigna de próstata, com poucos efeitos adversos cardiovasculares porque o subtipo α1A é encontrado no TGI e na próstata, enquanto o α1B é encontrado nos vasos Características dos agonistas adrenérgicos → Catecolaminas - Alta potência (α e β) - Inativação rápida (pela COMT pós-sinapticamente e pela MAO na parede intestinal e no fígado) - Escassa penetração no SNC (mas o que lá chega causa sintomatologia e sinais clínicos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Aminas não-catecólicas - Não são metabolizadas pela COMT e são mal metabolizadas pela MAO (meia-vida mais longa), e são mais lipossolúveis (chegam mais ao SNC → Substituições no nitrogênio amínico - É importante determinante da beta-seletividade Mecanismo de ação dos agonistas adrenérgicos → Ação Direta: atuam diretamente nos receptores. Ex.: epinefrina, norepinefrina, isoproterenol e fenilefrina → Ação Indireta: podem bloquear a captação da norepinefrina (p.ex., a cocaína) ou promover a sua liberação (p.ex., anfetaminas) → Ação mista: ex: a efedrina e a pseudoefedrina estimulam adrenorreceptores diretamente e promovem a liberação de norepinefrina Agonistas adrenérgicos de ação direta Epinefrina → Interage com receptores α e β → Em doses baixas predominam os efeitos β (vasodilatação) → Em doses altas predominam os efeitos α (vasoconstrição) → Sistema cardiovascular: - Reforça a contratilidade (inotropismo +): β1 - Aumenta FC (cronotropismo +): β1 - Aumenta DC - Promove a liberação de renina: β1 - Contrai arteríolas da pele, das mucosas e das vísceras: α - Dilata os vasos que vão ao fígado e ao músculo esquelético: β2 - Efeito combinado na PAS: aumenta sistólica e diminui a diastólica → Sistema respiratório: - Broncodilatação: β2 - Inibe a liberação de mediadores de alergia: histamina dos mastócitos → Hiperglicemia: - Aumenta a glicogenólise: β2 - Aumenta a liberação de glucagon: β2 - Diminui a liberação de insulina: α2 → Lipólise Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Aumenta: β3 → Usos terapêuticos: - Broncoespasmo: na emergência adrenalina é o fármaco de escolha; noutros casos, são preferidos os β2–agonistas (salmeterol) - Choque anafilático: é o fármaco de escolha para o tratamento das reações de hipersensibilidade do tipo I (incluindo anafilaxia), independentemente da causa - Parada cardíaca: reestabelecimento do ritmo, independentemente da causa - Anestesia: aumentando a duração da anestesia local, por ser vasoconstrictor → Pode ser usada IM, IV, SC e em aerossol; escassa penetração no SNC → Efeitos adversos: ansiedade, medo, tensão, cefaleia e tremores (SNC); arritmias, edema pulmonar (cardiovasculares); anestésicos inalatórios sensibilizam o coração, assim como hipertireoidismo. Pode haver aumento da RVP e da PAS, em altas doses. Norepinefrina → Cardiovascular: - Vasoconstrição: aumento da RVP, com constrição da maior parte dos leitos vasculares, incluindo o renal - O efeito vasoconstritor é maior do que o da adrenalina → Reflexo barorreceptor: pelo aumento da PAS, há reflexo vagal → bradicardia reflexa → Pode ser usada no tratamento do choque, pois aumenta a resistência vascular e a PAS → Não possui outros usos clínicos significativos → Efeitos adversos são similares aos da epinefrina, com mais efeito vasoconstritor (palidez e descamação cutânea no local de injeção) Isoproterenol → É uma catecolamina sintética → Raras vezes usado por falta de seletividade beta → Aumenta pressão sistólica, mas diminui a diastólica e a média → É um broncodilatador potente (β2) → β1: aumento do débito cardíaco → β2: vasodilatação periférica → Seu uso foi amplamente substituído por outros fármacos, mas pode ser útil no bloqueio AV Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Dopamina → Efeito estimulante nos receptores β1 cardíacos (inotrópico e cronotrópico + = aumento do débito cardíaco) → Dilata as arteríolas renais e esplâncnicas → É o fármaco de escolha contra o choque cardiogênico e séptico, administrada por infusão contínua → A grande vantagem da dopamina sobre a norepinefrina é aumentar o fluxo renal! → A dopamina também é usada para tratar hipotensão grave, particularmente na IC grave e em pacientes com oligúria → Ação dopaminérgica: aumento do fluxo sanguíneo Outros agonistas diretos → Fenoldopam: é um vasodilatador rápido, que pode ser usado em hipertensão grave → Dobutamina: uma catecolamina sintética que pode ser usada na IC aguda e para efeito inotrópico + pós-cirurgia; como vantagem, não aumenta significativamente o consumo miocárdico de oxigênio → Oximetazolina: em descongestionante nasais e colírios oculares de venda livre → Fenilefrina: usada em descongestionantes nasais (substituiu a pseudoefedrina) → Clonidina: anti-hipertensivo de ação central (agonista β2 présináptico) → Salbutamol e terbutalina: broncodilatadores, com ação relaxante na musculatura uterina (uso off-label no TPP) → Salmeterol e fenoterol: broncodialtadores eficazes em associação com corticoide (uso em asma noturna) → Mirabegron: é um agonista β3, que relaxa o músculo detrusor da bexiga, usado na bexiga hiperativa Agonistas adrenérgicos de ação indireta Anfetamina → Ação psicoestimulante, aumenta a PAS, aumenta a liberação não vesicular de catecolaminas (dopamina e NE) Tiramina → Não é um fármaco clinicamente útil → É uma substância encontrada em alimentos fermentados, como alguns queijos e vinhos; pode ocorrer episódios vasopressores graves em pacientes recebendo iMAO (a tiramina entra no terminal nervoso e desloca a norepinefrina armazenada a qual é liberada) Cocaína → É substância única, entre os anestésicos locais, que tem a propriedade de bloquear o transportador de NE dependente de sódio-cloreto,necessário para a captação celular de NE no neurônio noradrenérgico → acúmulo de NE na fenda sináptica → É uma droga de abuso Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Agonistas adrenérgicos de ação mista Efedrina e pseudoefedrina → Tem ação longa (maus substratos para MAO e COMT) → Em desuso atualmente → Efeitos adversos observados com os agonistas adrenérgicos: insônia, náusea, tremores, arritmia, cefaleia, hiperatividade Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares –ATM 2024 ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS α-bloqueadores β-bloqueadores Afeta a captação ou a liberação de neurotransmissor Alfuzosina Doxazosina Fenoxibenzamina Fentolamina Ioimbina Prazosina Tansulosina Terazosina Acebutolol Atenolol Betaxolol Bisoprolol Carteolol Carvedilol Esmolol Labetalol Metoprolol Nadolol Nebivolol Penbutolol Pindolol Propanolol Timolol Reserpina Bloqueadores α-adrenérgicos Fenoxibenzamina → É um bloqueador irreversível (ligação covalente) → Os efeitos duram cerca de 24 horas (o corpo precisa fabricar novos receptores) → Ações cardiovasculares: impede a vasoconstrição, reduz RVP (e provoca taquicardia reflexa), aumenta o DC (por bloqueio pré-sináptico) → Reversão da epinefrina: reverte as ações da epinefrina, mas não do isoproterenol (que é beta-agonista puro) → Usos terapêuticos: no tratamento do feocromocitoma (antes da remoção cirúrgica para prevenir crise hipertensiva e é útil no tratamento de manutenção para tumores não operáveis) → Efeitos adversos: hipotensão postural (podendo resultar em síncope/desmaio), congestão nasal, náuseas e êmese, pode inibir a ejaculação, taquicardia reflexa Fentolamina → Produz bloqueio competitivo dos receptores α1 e α2, que dura 4 horas após injeção única → Provoca hipotensão e taquicardia reversa → Pode causar angina e arritmias (contraindicada na IC) → É útil no tratamento da crise hipertensiva (na retirada abrupta de clonidina ou nos pacientes que usam iMAO e consumiram alimentos ricos em tiramina) Prazosina, terazosina, doxazosina, tansulosina e alfazosina → São bloqueadores competitivos seletivos dos receptores α1 → São úteis no tratamento da HAS e no tratamento da HBP → Diminuem resistência vascular → Cuidado na primeira dose (crise hipotensiva)! → Cuidado no uso concomitante com os inibidores da PDE-5 (medicamentos para disfunção erétil) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Ioimbina → É bloqueador competitivo seletivo dos receptores α2 → Tem sido usado como estimulante da ereção (off-label) → Atua no SNC → Contraindicada em doença cardiovascular, condições psiquiátricas e nas disfunções renais → Muito usada na pesquisa básica Bloqueadores β-adrenérgicos → Todos são antagonistas competitivos → Não seletivos: atuam em β1 e β2 → Cardiosseletivos: atuam principalmente em β1 → Reduzem PAS, mas baixo risco de causar hipotensão postural (o controle simpático normal dos vasos é mantido) → Eficazes no tratamento da HAS, angina, arritmias, IAM, IC, hipertireoidismo e glaucoma β -bloqueadores não seletivos Propanolol → É o protótipo de β -bloqueador não seletivo → Cardiovascular: diminui DC, efeitos cronotrópico (-) e inotrópico (-), limita FC (no exercício), diminui o trabalho cardíaco, efeito antiarrítmico → Vasoconstrição periférica: impede a vasodilatação nos músculos esqueléticos, mas diminui a PAS → Broncoconstrição → Distúrbios no metabolismo da glicose: diminui a glicogenólise e a gliconeogênese → Bloqueio das ações o isoproterenol → Usos terapêuticos: HAS (por diminuição do DC e por inibição da liberação de renina), angina pectoris (diminui consumo miocárdio de oxigênio), IAM (efeito protetor, acelera a recuperação do miocárdio e previne arritmias), enxaqueca (uso profilático reduz episódios; há outros fármacos importantes), hipertireoidismo (diminui a ampla estimulação simpática; pode salvar vidas nas tempestades tireóideas) → Efeitos adversos: disfunção sexual, arritmias (após interrupção abrupta do uso), fadiga, brococonstrição (contraindicação relativa em pacientes com hipersensibilidade brônquica/asma) Nadolol e timolol → β -bloqueadores não seletivos → São mais potentes que o propranolol → Nadolol tem duração de ação muito longa → O timolol reduz a produção de humor aquoso (usado topicamente no tratamento do glaucoma de ângulo aberto) → Os β-bloqueadores não afetam tamanho da pupila e capacidade de fazer o foco (melhores do que as drogas colinérgicas); mas no glaucoma agudo a pilocarpina continua sendo o fármaco preferido, para redução de emergência da PIO Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Classes dos fármacos usados no tratamento do glaucoma: β-bloqueadores seletivos Acetabulol, atenolol, betaxolol, bisoprolol, esmolol, metoprolol e nebivolol → São os β1-bloqueadores (cardiosseletivos) → Preferidos para o tratamento das patologias cardiovasculares, pois não acarretam efeitos via β2 (ainda assim, requerem cuidado na asma) Indicações clínicas de β-bloqueadores: - Hipertensão: propranolol, metoprolol, timolol → diminuem o DC e a secreção de renina - Glaucoma: timolol → diminui a secreção de humor aquoso - Enxaqueca: propranolol apresenta efeito profilático - Tirotoxicose: propranolol → diminui a FC e o potencial de arritmias - Profilaxia de arritmias pós-infarto do miocárdio: propranolol e metoprolol → diminuem o DC e a secreção de renina - Taquicardia supraventricular: propranolol e esmolol → diminuem a velocidade de condução AV - Angina percotis: propranolol e nadolol → reduzem a FC e a força de contração cardíaca Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Labetalol e carvedilol → São antagonistas α e β → Produzem vasodilatação periférica enquanto reduzem a PAS → São úteis na HAS quando o aumento da RVP é indesejável → O labetalol é alternativa à metildopa no tratamento da hipertensão induzida pela gestação → Pode ocorrer hipotensão ortostática e tontura (efeito do bloqueio alfa) Fármacos que afetam a liberação ou a captação do neurotransmissor → Poucos fármacos dessa classe são utilizados → A reserpina bloqueia o transporte dependente de Mg++/ATP de aminas biogênicas (NE, dopamina e serotonina) do citoplasma para as vesículas de armazenamento → A função simpática é bloqueada → Foi usada no tratamento da HAS, mas praticamente em desuso atualmente → A reserpina pode causar episódios de depressão Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 PSICOFÁRMACOS – PARTE I → Droga é um composto químico que ao ser administrado ao organismo pode causar uma mudança do seu funcionamento → Podem ser utilizadas para diagnosticar, tratar ou prevenir doenças, para aliviar sofrimento psíquico ou físico Substâncias psicoativas (SPA) → São as substâncias cuja atuação influencia o humor, o pensamento ou o comportamento → Podem ser utilizadas para tratar doenças mentais (ou neuropsicológicas) → Incluem tanto as drogas de uso médico, como as drogas de abuso (de uso não médico, não prescritas) Psicofármacos Drogas de abuso Uso médico Uso não médico (recreacional, abusivo) Tratar os sintomas, melhorar a vida do paciente, controlado, uso ocorre dentro do padrão normal Alteração de humor, deterioração da vida do indivíduo, ilegal, uso corre em festas ou locais sociais - Psicofármacos são tipicamente drogas de uso médico, mas também podem vir a ser utilizadas como drogas de abuso (uso não médico, não prescritas) - As drogas de abuso são as substâncias consumidas por motivos não médicos, muitas vezes até o ponto de prejudicarem as funções do usuário, podendo causar dependência química - Algumas drogas psicoativas também podem atuar como toxinas causando doenças, dano cerebral ou mesmo morte → Entre outras coisas, os efeitos dependem de como a substância é consumida, em que quantidade e sob que circunstâncias = depende de como é a sua farmacocinética → Para ser eficaz a droga psicoativa precisa alcançar seu alvo no SN → A eficiência e eficácia nesse propósito depende da via de administração → Eficaz: quando a droga funciona → Eficiência: é a potência da eficácia, de que maneira lago foi eficaz (ex. é eficaz encher umapiscina com copos de água, mas não é eficiente) → Vias de administração: oral (comprimidos, goras, xarope), retal (supositório), subcutânea, nasal, intravenosa, intramuscular, transcutânea (adesivo), intracerebral (injeção), intraóssea... Barreira hematoencefálica - Protege o encéfalo. Dificulta a passagem da maioria das substâncias, apesar da imensa vascularização do encéfalo - Não há neurônio distante mais do que 50 μm de um capilar - O desempenho da BHE é tão bom que é muito difícil encontrar drogas novas que a atravessem - Protege o cérebro de hormônios circulantes e de toxinas - Auxilia a manter os níveis de eletrólitos estáveis na vizinhança dos neurônios Regiões cerebrais que não possuem BHE: glândula pineal, hipófise e área postrema Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Considerando-se os múltiplos obstáculos que as SPA encontram em seu caminho da boca ao cérebro, fica clara a vantagem das vias inalatória e intravenosa → Regra prática: a cada obstáculo que se reduz no caminho, a dose poderia ser 10 vezes menor e, ainda assim, se conseguiria manter os efeitos → As drogas são eliminadas envolvendo múltiplos sistemas (rins, fígado, bile, suor, perspiração, etc) → Drogas comerciais são frequentemente projetadas para terem uma eliminação mais lenta → Além disso, algumas toxinas são dificilmente eliminadas do organismo (p.ex. metais pesados) → Diferenças individuais na resposta às drogas: sexo, tamanho, idade, estado alimentar, genética → Entre outras coisas, os efeitos dependem de como a substância interfere na fisiologia das células = farmacodinâmica → Drogas e sinapses = agonistas (aumentam a eficiência) e antagonistas (diminuem a eficiência) → Avalia-se a necessidade de uso de SPA e a resposta à farmacoterapia indicada por meio do exame clínico, particularmente do exame do estado mental → O exame clínico é a maneira como o clínico entende e avalia o funcionamento global de um paciente (físico e psíquico) → Há muitos métodos diagnósticos auxiliares, mas a clínica continua soberana. Isto é, anamnese e exame clínico (exame físico e exame do estado mental) → Exame de estado mental: forma analítica e descritiva de descrever o comportamento de uma pessoa, avaliando consciência, atenção, sensopercepção, orientação, memória, inteligência, afeto, pensamento, juízo crítico, conduta, linguagem (Exame de estado mental) → Utiliza-se psicofármacos quando houver sofrimento psíquico, distúrbio, transtorno a ser corrigido. Quando a normalidade for “perdida” → Critérios de normalidade: 1. Ausência de doença, isto é, um dos critérios para saúde 2. Ideal: uma norma socialmente constituída e referendada, por vezes é um ideal utópico 3. Estatística: norma, frequência, médias e desvios... 4. Bem-estar: remete à definição da OMS de saúde como “completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas como ausência de doença” 5. Funcional: o fenômeno é disfuncional quando provoca sofrimento e/ou disfunção 6. Processo: considera os processos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial 7. Subjetiva: orienta-se pela percepção do próprio sujeito que está em avaliação 8. Liberdade: para os autores de orientação fenomenológica a doença mental é uma perda da liberdade existencial 9. Critério operacional: assumidamente arbitrário, um a priori. Estar dentro de um perfil para exercer determinada atividade https://brpucrs-my.sharepoint.com/personal/carolina_soares99_edu_pucrs_br/Documents/Exame%20de%20estado%20mental.docx Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Doença, transtorno, sofrimento, deficiência → Natureza: contínuo (um espectro) ou categorial (entidades bem definidas) → Origem: mental, psíquica ou cerebral → Os critérios diagnósticos, e os que são usados para definir a própria normalidade, embora limitados e, por vezes até, criticáveis, são extremamente úteis → Esses critérios nosológicos diferenciam os grupos de estudos nos ensaios farmacológicos que permitem avaliar a eficiência/eficácia de um tratamento, permitem realizar consensos terapêuticos e, dessa forma, permitem realizar um atendimento que seja embasado em evidências → Precisamos conhecer melhor as grandes síndromes psiquiátricas e os diagnósticos que mais frequentemente necessitam tratamento farmacológico → Principais síndromes: - Síndrome psicótica: situação em que o paciente rompe com a realidade, de forma que passa a enxergar um mundo que não existe. Principais alterações na sensopercepção (alucinações) e pensamento (delírios). Comportamento paranoide, anedonia, falta de motivação, são sintomas comuns. Ex: esquizofrenia, transtornos delirantes - Síndrome ansiosa: conjunto de situações em que a ansiedade está fora do normal e causa sofrimento intenso, podendo ser agudo (transtorno do pânico) ou continuado (transtorno de ansiedade generalizada). Na maioria das vezes relacionadas a sintomas físicos, como hiperatividade simpática. - Síndrome de alteração do humor: humor persistentemente deprimido, exageradamente exaltado ou oscilando demais. - Síndrome cognitiva (antiga síndrome cerebral orgânica): delirium (delírio = síndrome psicótica). Ex: demência. - Síndromes relacionadas ao uso de SPA: intoxicação ou abstinência podem gerar alterações de comportamento mimetizando qualquer quadro psiquiátrico. Classificação das SPA → É tarefa difícil desenvolver um sistema de classificação para as milhares de drogas psicoativas → Sistemas baseados na estrutura fracassaram, pois fármacos com estruturas semelhantes podem desenvolver efeitos diversos (e vive-versa) → Esquemas de classificação com base em receptores cerebrais também, pois as drogas costumam agir em mais de um receptor. Idem para sistemas baseados nos neurotransmissores afetados. 1. Classificação relacionada as principais síndromes Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Sedativo-hipnóticos e angentes ansiolíticos: barbitúricos (agentes anestésicos), álcool, benzodiazepínicos (diazepam – Valium) - Agentes antipsicóticos: fenotiazinas (clorpromazina) e butirofenonas (haloperidol) - Antidepressivos: inibidores da MAO, antidepressivos tricíclicos (imipramina – Tofranil), antidepressivos atípicos (fluoexitina – Prozac) - Estabilizadores de humor: lítio e anticonvulsivantes - Analgésicos narcóticos: morfina, codeína, heroína - Estimulantes psicomotores: cocaína, anfetamina, cafeína, nicotina - Psicodélicos e alucinógenos: anticolinérgicos (atropina), noradrenérgicos (mescalina), serotoninérgicos (LSD, psilocibina), tetraidrocanabinol (maconha), antiparkinsonianos... 2. Fármacos de atuação primordial no SNC (seletivos X não-seletivos) 3. Psicofarmacologia dos transtornos mentais Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 4. Classificação conforme os principais efeitos no SNC Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 PSICOFÁRMACOS – PARTE II → É tarefa difícil desenvolver um sistema de classificação para as milhares de drogas psicoativas → Sistemas baseados na estrutura fracassaram, pois fármacos com estruturas semelhantes podem desenvolver efeitos diversos (e vice-versa) → Esquemas de classificação com base em receptores cerebrais também, pois as drogas costumam agir em mais de um receptor → Idem para sistemas baseados nos neurotransmissores afetados → Devido à dificuldade de desenvolver um sistema de classificação para as milhares de drogas psicoativas, devemos olhar mais detidamente para as seguintes classes: antipsicóticos, antidepressivos, moduladores de humor e ansiolíticos Antipsicóticos → Drogas que tratam psicose (delírios, alucinações) → Também conhecidas como neurolépticos ou tranquilizantes maiores →A maioria é antagonista de dopamina, mas o seu efeito e mesmo a causa da psicose ainda não estão bem compreendidos → Algumas substâncias, alterações de sono, entre outras coisas podem estar associadas ao desenvolvimento de quadros de psicose → Síndrome: conjunto de sinais e sintomas. Quando se conhece a fisiopatologia que desencadeia a síndrome, chamamos de doença. Ex: síndrome parkinsoniana (alterações na motricidade, alterações de humor e comportamento) X Doença de Parkinson (degradação dos neurônios dopaminérgicos = 70% das síndromes parkinsonianas). → Agem principalmente em três vias dopaminérgicas: mesocortical, mesolímbica e nigroestriatal Esquizofrenia – vias neurais envolvidas: - Via meso-cortical: área tegmentar ventral → córtex pré-frontal • Inibida na esquizofrenia • Sintomas negativos (indiferença, apatia) • Bloqueadores do receptor de 5HT, como risperidona, aumentam a liberação de dopamina para o alívio de sintomas negativos - Via mesolímbica: área tegmentar ventral → núcleo acumbente • Desinibida na esquizofrenia • Sintomas positivos (delírios, alucinações) • Bloqueadores dos receptores D2, como haloperidol, inibem a liberação de dopamina e aliviam os sintomas positivos - Via nigroestrial: substância negra → corpo estriado • Efeitos adversos (parkinsonismo) • A inibição da liberação de dopamina resulta na inibição dos neurônios excitatórios de acetilcolina no corpo estriado → A descoberta dos antipsicóticos pode ser considerada a verdadeira revolução “antimanicomial”, pois permitiu que os pacientes deixassem as instituições psiquiátricas e voltassem à comunidade → Classificação farmacológica dos antipsicóticos disponíveis no Brasil: vários tipos diferentes, multiplicidade de moléculas e estruturas que agem não só na dopamina, mas também em outros sistemas, melhorando sintomas negativos e positivos presentes principalmente em esquizofrenia e transtornos de humor Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Os antipsicóticos de primeira geração (típicos) agem em maior ou menor intensidade no sistema dopaminérgico, principalmente bloqueando os receptores pós-sinápticos D2 → Os antipsicóticos atípicos, são os mais modernos, agem em outras regiões e outros sistemas de transmissão e costumam ter melhor efeito. → A clorpromazina bloqueia os receptores D2, e o estimulante anfetamina causa a liberação de dopamina pela terminação axônica. → A cocaína e a anfetamina bloqueiam o transportador que leva a dopamina de volta à terminação, causando sintomas de esquizofrenia → A possível redução dos sintomas esquizofrênicos pela clorpromazina, enquanto o abuso de anfetamina ou cocaína é capaz de produzi-los, sugere que a atividade excessiva no receptor de dopamina esteja relacionada à esquizofrenia → Outro possível mecanismo de ação dos antipsicóticos, particularmente daqueles de segunda geração (atípicos), seria o bloqueio balanceado de uma combinação de sistemas de neurotransmissão, especialmente os sistemas dopaminérgico e serotoninérgico → Indicações: os antipsicóticos são utilizados para o tratamento sintomático de diversos transtornos mentais. Seu uso ainda é estabelecido de maneira empírica, cabendo ao clínico o julgamento da indicação do antipsicótico, levando em conta riscos e benefícios, bem como outras possibilidades terapêuticas para cada caso. Os antipsicóticos podem ser indicados em quadros agudos ou por tempo prolongado, conforme o quadro clínico do paciente. → Transtornos mentais agudos e crônicos (quadros psicóticos, demenciais, agitação, agressividade), esquizofrenia e outros quadros do espectro da esquizofrenia (transtornos delirantes persistentes, transtornos esquizoafetivos), transtornos de humor, quadros de agitação psicomotora (independentemente da etiologia), profilaxia de recidiva de quadros psicóticos, transtornos de personalidade, transtornos invasivos de desenvolvimento, transtornos da conduta, como ansiolítico ou hipnótico e outros quadros (doença de Huntington, náuseas, vômitos) → Eletroconvulsoterapia: indicada para casos mais graves; é um bom tratamento, mas caro Antidepressivos → Principais classes: - IMAO (inibidores da monoamino-oxidase) - Tricíclicos (serotonina, noradrenalina e acetilcolina... + histamina e, um pouco menos, dopamina) - ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) – menos efeitos adversos → Mecanismo incerto → Teoria das monoaminas (não explica) → ECT: libera de forma aguda muitos neurotransmissores (“reset”) → Interação dos alimentos ricos em tiramina (síndrome do queijo) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Antidepressivos diferentes agem sobre a sinapse serotoninérgica de maneiras diferentes a fim de aumentar a disponibilidade dessa substância. Depressão - É um estado mediado bioquimicamente, mais provavelmente com base em anormalidades no metabolismo de 5- HT e norepinefrina - A síndrome clínica se caracteriza por retraimento, raiva, frustração, falta de vontade (avolição), anedonia (falta de prazer) - Pode ser típica ou atípica → Antidepressivos selecionados Classe Fármaco Mecanismo de ação Agentes tricíclicos Amitriptilina Clomipramina Desipramina Doxepina Imipramina Nortriptilina Protriptilina Inibem não-seletivamente a captação de 5HT e noradrenalina - Muitos efeitos adversos (certa toxicidade) Fármacos heterocíclicos Amoxapina Bupropiona Maprotilina Mirtazapina Nefazodona Trazodona Venlafazina Inibem não-seletivamente a captação de 5HT e noradrenalina ISCSs Citalopram Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Sertralina Excitalopram Inibem seletivamente a captação de 5-HT iMAOs Fenelzina Tranilcipromina Inibem a biotransformação das aminas - São pouco utilizados na clínica, pois interagem muito com alimentos → Antidepressivos também são úteis no tratamento de transtornos de ansiedade (em longo prazo), como transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico e transtorno obsessivo compulsivo → Indicações de uso de antidepressivos: depressão, transtornos de ansiedade (em longo prazo), tratamento da tensão pré-menstrual, quadros dolorosos (como fibromialgia), ejaculação precoce, entre outros. → Mesmo após o aparecimento de medicamentos mais seguros e com menos efeitos colaterais, nenhuma alternativa mostrou-se mais eficaz que os antidepressivos de “primeira geração” (tricíclicos e iMAOs) e a ECT para o tratamento da depressão → A descoberta dos mecanismos de ação dos antidepressivos não resolveu definitivamente a questão das bases neuroquímicas da depressão, pois medicamentos com mecanismos de ação totalmente diferentes produzem resultado comportamental semelhante Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → A depressão não é apenas um desequilíbrio de monoaminas e, possivelmente, segundos-mensageiros intracelulares estão envolvidos → A diversidade de medicamentos eficazes impõe uma escolha individualizada de tratamento para cada paciente, levando-se em conta não apenas a eficácia absoluta do antidepressivo, mas também o seu perfil de efeitos adversos, a segurança, as interações medicamentosas, as características especiais do paciente (idosos, crianças, gestantes) e a experiência do profissional com o fármaco → A Tiramina não é uma droga usada clinicamente, mas é encontrada em alimentos fermentados, como queijos e bebidas fermentadas. Tiramina é um produto do metabolismo da tirosina. Normalmente, é oxidada pela MAO, mas se o paciente estiver tomando um inibidor da MAO (antidepressivo), pode levar a sérios quadros de hipertensão. Como as anfetaminas, a tiramina pode entrar no terminal nervoso e deslocar a Nor estocada. → Reação do queijo: a tiramina é degradada pela monoamina oxidase no intestino e no fígado,quando a atividade desta enzima se encontra inibida os níveis de tiramina aumentam causando efeitos simpaticomiméticos, como elevação acentuada da pressão arterial, cefaleia pulsátil severa e hemorragia intracraniana. Dessa forma, esses alimentos devem ser evitados em pacientes hipertensos tratados com um IMAO. Anticonvulsivantes e moduladores de humor → A maioria dos anticonvulsivantes é também útil na modulação do humor (alguns não, como a gabapentina) → Lítio é um excelente modulador de humor, mas não possui efeito anticonvulsivante → Alguns antipsicóticos de nova geração são bons moduladores de humor, mas carecem de ação anticonvulsivante → Transtorno emocional bipolar: episódios maníacos = Lítio é um antimaníaco → O estabilizador de humor ideal deveria ser um fármaco eficaz no tratamento da mania aguda e da depressão bipolar, além de prevenir os episódios de mania e depressão. Se considerarmos essa definição, nenhum medicamento preenche totalmente esses critérios. → O lítio é o que mais se aproxima dessa definição, já que é eficaz na prevenção dos episódios de mania e depressão e tem boa ação antimaníaca, mas sua ação antidepressiva é moderada → O valproato é eficaz no tratamento de mania aguda, sendo superior ao placebo e comparável ao lítio no tratamento desse transtorno → Vários estudos sugerem que o valproato diminui a frequência e a intensidade dos episódios maníacos e depressivos em alguns pacientes, inclusive naqueles com ciclagem rápida, episódio misto, bipolar II e esquizoafetivo → Doença bipolar – tratamento: início com monoterapia de lítio para casos leves e moderados, casos graves, tratamento combinado e ECT → Uso de anticonvulsivantes na epilepsia (não como estabilizadores de humor) → Paciente em estado epilético: Diazepam + Fetoina + Fenobarbital, se não eficazes, + fármacos bloqueadores neuromusculares (como curare) ou anestesia geral → fármacos administrados IV Agentes sedativo-hipnóticos e ansiolíticos → Os efeitos dependem da dose (sono, aliviar ansiedade, anestesia geral, coma) → Podem apresentar tolerância cruzada (se a pessoa usa cronicamente um depressor do SNC, o tônus excitatório é elevado) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Tolerância cruzada: forma de tolerância na qual a resposta a uma nova droga é reduzida em decorrência da tolerância desenvolvida em resposta a uma droga relacionada → Agem sobre os receptores de GABAa (canais de cloreto - hiperpolarização) → Circuitos inibitórios gabaérgicos existem por todo o encéfalo → Em função da ação aditiva, drogas hipnóticas e sedativas não devem ser usadas concomitantemente (risco de depressão mais grave, possivelmente letal) → Agente ansiolítico: tipo de droga que reduz a ansiedade. As benzodiazepinas e os agentes sedativo- hipnóticos também são ansiolíticos → Regiões do cérebro associadas à síndrome do pânico e à ansiedade: núcleo da estria terminal, amigdala, locus ceruleus → Classe de sedativo-hipnoticos: álcoois, barbituratos, benzodiazepínicos, carbamatos, entre outros → Benzodiazepínicos são úteis a curto prazo, podem causar tolerância e dependência se usados por longos períodos. → A psicofarmacologia, hoje, é sobretudo praticada com base em evidências de base clínica. É um assunto complexo e é necessário o conhecimento das bases moleculares, neuroatômicas, das possíveis interações medicamentosas e do perfil de parefeitos. Outras substâncias psicoativas de maior interesse para o clínico → Depressores: álcool, hipnóticos/sedativos, solventes (clorofórmio, éter, tolueno), narcoanalgésicos (codeína, morfina, elixir paregórico), barbitúricos → Analgésicos narcóticos: grupo de drogas que induz o sono (narcótica) e alivia a dor (analgésico). Opioides endógenos (endorfinas) e derivados do opio e drogas sintéticas. Antagonistas: naloxona e nalorfina → Anestésicos: utilizados em procedimentos cirúrgicos. Podem ser inalatórios (mecanismo de ação não é totalmente conhecido) ou intravenosos - Barbitúricos: facilitam a ação inibitória do GABA, aumentando o tempo de abertura dos canais de cloreto, levando à hiperpolarização - Benzodiazepínicos: facilitam a ação inibitória do GABA, aumentando a frequência de abertura dos canais de cloreto - Opioides: agonistas dos receptores de opioides no SNC - Dissociativos (anestesia sem perda de consciência): antagonista no subtipo NMDA do receptor excitatório do glutamato → Estimulantes: são tipicamente usados como drogas recreacionais ou de abuso. Aumentam a atividade dos neurônios. Dividem-se em 4 grupos: comportamentais (cocaína e anfetamina), convulsivantes, gerais (cafeína) e drogas psicodélicas (LSD, canabinóides) – efeito simpaticomimético Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Antiparkinsonianos e outras drogas para o manejo de efeitos adversos → Anticolinérgicos, anti-histaminicos, betabloqueadores: medicamentos usados no tratamento de sintomas extrapiramidais. Outros medicamentos usados no tratamento dos efeitos adversos decorrentes do uso de antipsicóticos. Medicamentos utilizados no tratamento do alcoolismo → Embora amplamente utilizados, o uso profilático de anticolinérgicos não é totalmente recomendado Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANSIOLÍTICOS E HIPNÓTICOS → Transtornos de ansiedade são muito comuns → Em excesso, a ansiedade é um estado desagradável de tensão, apreensão e inquietação – um temor que pode ter origens em fontes conhecidas ou desconhecidas → Episódios leves são comuns → Episódios agudos e mais intensos ou a ansiedade crônica, por sua vez, podem exigir tratamento → Como muitos ansiolíticos causam sedação, podem ser utilizados como indutores do sono ou hipnóticos → Ademais, para o tratamento crônico as substâncias mais indicadas são os antidepressivos, os quais serão estudados, de fato, mais adiante Benzodiazepínicos Barbitúricos Outros hipnóticos Alprazolam Clonazeam Clorazepate Clordiazepóxido Diazepam Estazolam Flurazepam Lorazepam Midazolam Oxazepam Quasepam Temazepam Triazolam Amobarbital Fenobarbital Pentobarbital Secobarbital Tiopental Anti-histamínicos Doxepina Eszopiclona Ramelteona Zaleplona Zolpidem Antagonista benzodiazepínico Flumazenil Outros ansiolíticos Antidepressivos Buspirona Benzodiazepínicos → São os ansiolíticos mais utilizados → São fármacos muito mais seguros que os anteriormente utilizados como ansiolíticos e indutores de sono (barbitúricos) → Contudo, podem não ser a melhor escolha! → Para ansiedade pode se preferir os ISRS → Para a indução do sono, podem ser melhores os indutores não-BZD e os anti-histamínicos → Os benzodiazepínicos são relativamente seguros, pois a dose letal é mais de 1000 vezes maior que a dose terapêutica típica → O alvo são os receptores GABAa → O GABA é o principal neurotransmissor inibitório no SNC → Quando GABA liga no canal, ocorre a sua abertura → entrada de Cl- → hiperpolarização da célula (neurônio) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Os BZD ligam-se a sítios específicos (aumentando a frequência de abertura dos canais, a qual é produzida por GABA; em outras palavras, dependem da presença do GABA para agirem) → Redução da ansiedade: característica em doses baixa nos neurônios do sistema límbico que têm a subunidade 2 em seus receptores GABAa → Efeito hipnótico/sedativo: ocorre em doses mais elevadas sobre neurônios que expressam a subunidade 1 em seus receptores GABAa → Amnésia anterógrada: também é mediada através da subunidade 1, comprometendo o aprendizado (formação de novas memórias) → Efeito anticonvulsivante: efeito parcialmente mediadopela subunidade 1 → Relaxamento muscular: em doses elevadas, ocorre diminuição da espasticidade do músculo esquelético, provavelmente aumentando a inibição pré-sináptica na medula espinal, onde predominam os receptores 2 → O baclofeno é um relaxante muscular que atua nos receptores GABA na medula espinal → Existem pequenas diferenças nas propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes e sedativas entre os diferentes BZD: distúrbios de ansiedade, distúrbios do sono, amnésia, convulsões e distúrbios musculares 1. Distúrbios de ansiedade - Transtorno de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade social, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade de desempenho, fobias específicas, sintomas ansiosos associados a quadros depressivos ou psicóticos - Atualmente, no DSM-5, o TOC é classificado em um capitulo a parte dos transtornos de ansiedade! - Nesse contexto, os fármacos devem ser reservados para quadros mais graves - Não devem ser utilizados para manejar estressores usuais da vida comum (diária) - Potencial para adição (dependência, tolerância) → uso por curto prazo - A tolerância está associada à diminuição da densidade de receptores GABAa - Se houver necessidade de maior tempo de tratamento, prefere-se os de meia vida de média a longa, como clonazepam, lorazepam, diazepam - Não devem ser utilizados em conjunto com álcool 2. Distúrbios de sono Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Poucos BZD são úteis - Diminuem latência para dormir e aumentam o estágio II (não-REM) - Podem causar ressaca - São utilizados os de ação intermediária e curta (triazolam) - No entanto, em poucos dias costuma ocorrer tolerância e a eficácia desaparece 3. Amnésia - Usados como pré-medicação (curta ação) em procedimentos que provocam ansiedade e desconforto, como endoscopias, procedimentos odontológicos e angioplastia - Sedação consciente (permitem colaboração) - Midazolam facilita amnésia 4. Convulsões - Clonazepam pode ser usado para tratar alguns tipos de convulsão (crises mioclônicas, Síndrome de West, Síndrome de Lennox-Gastaut, ver Cap. 12) - Lorazepam e diazepam servem para interromper estado convulsivo - Servem também para tratar abstinência de etanol 5. Distúrbios musculares: - O diazepam é útil para o tratamento de espasmos dos músculos esqueléticos (estiramento, espasticidade por doenças degenerativas, como a esclerose múltipla e paralisia cerebral) → Farmacocinética: os BZD são lipofílicos, rápida e completamente absorvidos, se distribuem por todo o organismo, incluindo SNC → A meia vida é muito importante clinicamente (curta, intermediária e longa duração) → No entanto, nem sempre a ação clínica se correlaciona à meia-vida (metabólitos por vezes são ativos e há também razões farmacodinâmicas, como o tempo de ligação aos receptores) → A metabolização ocorre pelo sistema microssomal hepático e a redistribuição é fator importante para o término da ação de uma dose de um BZD → Atravessam a placenta e podem deprimir o neonato; o uso não é recomendado durante a gestação; lactantes podem ser expostos através do leite materno → Pode ocorrer dependência tanto física quanto psicológica → Interrupção abrupta resulta em sintomas de abstinência (confusão, ansiedade, insônia, tensão; convulsão é rara, mas pode ocorrer) → Quanto menor a meia-vida, pior a crise de abstinência → Os fármacos que são mais potentes e rapidamente eliminados (triazolam) causam problemas de abstinência mais frequentes e graves; enquanto os fármacos menos potentes e mais lentamente eliminados (flurazepam) continuam a estimular o sono mesmo após a interrupção → Sedação e confusão são os efeitos adversos mais comuns → Ataxia, em doses elevadas → Comprometimento cognitivo → Piora da memória (retenção e evocação) → Exige-se cautela em pacientes com doença hepática → Devem ser evitados em pacientes com glaucoma de ângulo fechado agudo → Álcool e outros depressores do SNC potencializam o seu efeito depressor Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Antagonista de receptor benzodiazepínico → O flumazenil é um antagonista do receptor GABA que pode reverter os efeitos dos BZD → Usado por via IV → Início de ação é rápido, mas duração é curta → Pode precipitar síndrome de abstinência em dependentes ou desencadear convulsões (quando o BZD é usado como anticonvulsivante) → Pode causar tontura, náuseas/vômito e agitação Outros ansiolíticos Antidepressivos → Vários são efetivos e de primeira escolha para a ansiedade crônica (ISRS, como o escitalopram, e ISRSN ou duplos, como a duloxetina) → São usados em conjunto com BZD nas primeiras 4 a 6 semanas → Em geral, usados por longo período de tratamento Buspiroona → É útil no tratamento do TAG (transtorno de ansiedade generalizada) → Início de ação lento → Não são eficazes em curto prazo → Ações são mediadas por receptores de serotonina (5-HT1A) e, em parte, também por D2 e 5-HT2A → Não apresenta propriedades anticonvulsivantes e miorrelaxantes → Baixa frequência de efeitos adversos → A buspirona mostra menor interferência com as funções motoras, sendo uma vantagem particularmente importante em pacientes mais idosos Barbitúricos → Induzem muitos sintomas de tolerância e dependência → Provocam síndromes de abstinência grave → Tem janela terapêutica estreita → Foram amplamente substituídos pelos BZD → Interagem com GABAa por ligação em sítio diferente do sítio dos BZD → Prolongam o tempo de abertura do canal de cloreto → Além disso, podem bloquear os receptores excitatórios de glutamato → Pentobarbital (anestésico) bloqueia canais de sódio também → São classificados de acordo com a duração da sua ação → Depressão do SNC: com o aumento da dose: sedação (calmante) → hipnose (sono) → anestesia → coma → morte → Não aumentam o limiar da dor; e podem exacerbá-la Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Depressão respiratória: suprimem a resposta à hipóxia e aos quimioceptores de CO2, podendo levar à depressão respiratória seguida de morte → Anestésico: o de ação ultracurta, como o tiopental (IV),mas foram substituídos → Anticonvulsivante: o fenobarbital é usado como anticonvulsivante, usado apenas se outros tratamentos falharem (deprime o funcionamento cognitivo) → Hipnoticossedativo: uso antigo; não é mais um uso aceitável → Bem absorvidos por VO e distribuídos por todo o organismo → Atravessam a placenta e podem deprimir o feto → Metabolizados no fígado e os metabólitos excretados na urina → Efeitos adversos: sonolência, dificuldade de concentração, preguiça mental e física, causam “ressaca”, induzem P450, contraindicados na porfiria intermitente aguda, abstinência grave, pode ser fatal Outros hipnóticos Zolpidem → É um indutor de sono, agonista não benzodiazepínico do receptor benzodiazepínico → Sem propriedades anticonvulsivantes ou miorrelaxantes → Efeito hipnótico dura 5 horas; há forma de liberação prolongada → Efeitos adversos: pesadelos, agitação, amnésia, distúrbios TGI, sonolência diurna → Outros similares ao zolpidem: zaleplona (menos efeitos residuais, rápida eliminação), eszopiclona → Ramelteona: é um agonista seletivo dos receptores de melatonina MT1 e MT2 servindo para auxiliar na manutenção do ritmo circadiano Anti-histamínicos → Difenidramina, hidroxizina, doxilamina, prometazina (contudo têm efeitos adversos indesejados, como os anticolinérgicos) Antidepressivos → Doxepina, trazodona, mirtazapina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANESTÉSICOS LOCAIS E ANESTÉSICOS GERAIS→ A anestesia é um estado reversível de depressão do sistema nervoso central, causando perda da percepção e da resposta a estímulos → Vantagens da anestesia em procedimentos cirúrgicos: sedação e diminuição da ansiedade, perda da consciência e amnésia, relaxamento da musculatura esquelética, supressão dos reflexos indesejados e analgesia → A anestesia ideal pode requerer a associação de vários fármacos para obter as vantagens desejadas → Medicação pré-anestésica: acalmar o paciente, aliviar a dor e prevenir efeitos indesejados do anestésico administrado na sequência ou do próprio procedimento cirúrgico → Bloqueadores neuromusculares: facilitar a intubação e a cirurgia → Vias de administração de anestésicos gerais potentes: inalação ou IV → Com exceção do óxido nitroso, os inalatórios são hidrocarbonetos halogenados voláteis → Os anestésicos IV pertencem a diversas classes químicas Pré-anestésicos Anestésicos gerais inalatórios Anestésicos gerais intravenosos Bloqueadores neuromusculares Anestésicos locais: Amidas Ésteres Antiácidos Anticolinérgicos Antieméticos Anti-histamínicos Benzodiazepínicos Opioides Desflurano Halotano Isoflurano Óxido nitroso Sevoflurano Barbitúricos Benzodiazepínicos Cetamina Dexmedetomidina Etomidato Opioides Propofol Cisatracúrio Pancurônio Rocurônio Succinilcolina Vecurônio Bupivacaína Lidocaína Mepivacaína Ropivacaína Cloroprocaína Procaína Tetracaína Fatores do paciente na seleção da anestesia → Situação dos sistemas orgânicos: Cardiovascular - Anestésicos suprimem a função cardiovascular - Pode ocorrer hipotensão durante a anestesia - Halotano, por exemplo., aumenta o risco de arritmias Respiratório - Asma ou anormalidades na ventilação/perfusão complicam a anestesia - Fármacos inalados deprimem a ventilação, mas são broncodilatadores - Analgésicos IV e opioides deprimem a ventilação Fígado e rins - São importantes para a distribuição e depuração das drogas - Flúor, bromo e outros metabólitos podem impactar o fígado Sistema nervoso - Distúrbios neurológicos influenciam a escolha do anestésico Gestação - Preocupações sobre os efeitos na organogênese fetal (começo da gestação) - Óxido nitroso → anemia aplásica no feto - BZD não devem ser utilizados no parto, pois provocam atonia temporária e alterações na termorregulação do recém-nascido → Uso simultâneo de outros fármacos - Fármacos adjuvantes múltiplos: bloqueadores H2 (redução da acidez gástrica), BZD (calmante), analgésicos opioides ou não-opiáceos, anti-histamínicos (prevenção de reações alérgicas), antieméticos (evitar a aspiração do conteúdo estomacal e náuseas e êmese no período pós-operatório), anticolinérgicos (para prevenir bradicardia), bloqueadores neuromusculares (facilitar a intubação e o relaxamento) - Uso simultâneo de outros fármacos: uso prévio e crônico pode modificar a suscetibilidade aos agentes anestésicos Estágios e profundidade da anestesia 1. Indução: usualmente fármaco IV, com inconsciência por 30 a 40 segundos; com inalação adicional para ajustar a profundidade desejada Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 2. Manutenção da anestesia: monitorização dos sinais vitais e das funções para ajuste frequente das drogas utilizadas. Junto com anestésicos inalatórios é comum o uso de opioides para providenciar a analgesia (fentanila). 3. Recuperação: para a maioria dos anestésicos a recuperação é o inverso da indução. A redistribuição determina a recuperação. Monitorização para assegurar a completa recuperação: respiração espontânea, PAS aceitável, FC normal, reflexos preservados. Agentes mais lipofílicos: recuperação mais lenta (fica “armazenado” na gordura. → Profundidade da anestesia: 4 estágios sequenciais, caracterizados por depressão crescente do SNC Perada da sensação de dor (analgesia) Comportamento agressivo/desinibido (excitação) Anestesia cirúrgica Paralisia bulbar e morte → Esses estágios são mais bem observados nos anestésicos antigos como éter. Com os mais novos, rapidamente chega-se ao estágio III Anestésicos inalatórios → Usados para a manutenção → A profundidade da anestesia pode ser controlada rapidamente → Sistema de reaproveitamento para evitar o desperdício → Curvas de dose-resposta íngremes e JT estreita Características comuns dos anestésicos inalatórios → Fármacos não inflamáveis e não explosivos (oxido nitroso e hidrocarbonetos halogenados) → Diminuem resistência cerebrovascular → Causam broncodilatação → Diminuem ventilação espontânea → A solubilidade no sangue e nos tecidos determina o movimento do fármaco através dos tecidos Potência → Definida através da concentração alveolar mínima, capaz de paralisar os movimentos de 50% dos pacientes → Quanto menor a CAM, mais potente o anestésico! → Fatores que podem reduzir a CAM e tornar o paciente mais sensível: idade avançada, hipotermia, gestação, sepse, intoxicação aguda, anestésicos IV, agonistas adrenérgicos alfa-2 Absorção e distribuição dos anestésicos inalatórios → Os alvéolos são “a janela para o cérebro” → No equilíbrio: Palvéolo = Psangue = Pcérebro Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → O tempo para chegar ao equilíbrio é determinado por: 1. Invasão alveolar (wash-in – varia diretamente com a frequência respiratória) e 2. Captação anestésica (remoção a outros tecidos periféricos, além do cérebro) Captação anestésica (remoção a outros tecidos periféricos, além do cérebro) → Solubilidade no sangue: é determinada pelo coeficiente de partição (propriedade física do gás) Baixa solubilidade Alta solubilidade equilíbrio rápido, poucas moléculas adicionais são necessárias para manter a anestesia o equilíbrio demora mais par ser atingido; tempo de indução e de recuperação são mais longos; mas ocorrem menos alterações na profundidade da anestesia → Débito cardíacos: afeta a remoção do anestésico nos tecidos periféricos, mas não no local de ação. Para os inalatórios, por diminuir a absorção alveolar, o aumento do DC aumenta o tempo para se atingir o equilíbrio. DC baixo (choque acelera a velocidade do aumento de concentração alveolar) e tem o efeito inverso → Gradiente alveolar-venoso da pressão parcial anestésica: é a “força-motriz” da distribuição anestésica. A circulação arterial distribui o gás e o gradiente impulsiona a captação do anestésico Efeito de diferentes tipos de tecidos na distribuição do anestésico → O tempo para um tecido alcançar o estado de equilíbrio com a pressão parcial de um gás anestésico na mistura inalada é: - Inversamente proporcional ao fluxo de sangue - Diretamente proporcional à capacidade do tecido em acumular o anestésico (a qual depende do volume do tecido e ao coeficiente de solubilidade tecido/sangue para o anestésico) → Quatro compartimentos teciduais principais determinam o tempo de captação do anestésico: Cérebro, coração, fígado, rins e glândulas endócrinas Altamente irrigados → rápida distribuição Músculos esqueléticos Pouco perfundidos → distribuição mais lenta Gordura Pouco perfundida, mas muitos anestésicos são lipossolúveis → uma oferta baixa para um compartimento avantajado pode prolongar o tempo de distribuição para o equilíbrio Ossos, ligamentos e cartilagens Pouco perfundidos e pouco volume → impacto mínimo Remoção/saída (wash out) → Os mesmos fatores que influenciam a entrada, influenciam a saída do fármaco do organismo Mecanismo de ação → Não foi identificado um receptor específico como local de ação do anestésico geral. → Uma variedade de mecanismo parece contribuir para o efeito → Os anestésicos aumentam a sensibilidade dos receptores GABAA Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → O oxido nitroso e a quetamina nãoagem sobre GABAA; seus efeitos possivelmente sejam mediados por inibição de receptores NMDA (para o glutamato) → A atividade de receptores para glicina também é afetada por anestésicos, por mecanismos ainda não completamente elucidados Halotano → É o protótipo da classe → O halotano vem caindo em desuso, frente aos mais novos → É anestésico potente, mas analgésico fraco → Não se demonstra hepatotóxico em crianças; em adultos, sim → Mesmo em pediatria o sevoflurano é o fármaco de escolha atualmente → Reações de toxicidade em adultos: febre, anorexia, N/V e sinais de hepatite (1:10.000) → Baixo risco de toxicidade renal → Pode ocorrer necrose hepática. Para evitá-la, não se administra em intervalos menores do que 2 a 3 semanas → É vagomimético, podendo causar bradicardia → Sensibilidade às catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina) → Causa arritmias cardíacas → Diminui o débito cardíaco → Reflexos respiratórios inibidos → Produz hipotensão concentração-dependente; mas pode provocar hipertermia maligna Isoflurano → Não é hepato ou nefrotóxico → Odor pungente dificulta a sua utilização → Produz hipotensão concentração-dependente → Diminui, menos que o halotano, o débito cardíaco Desflurano → Bom para procedimentos ambulatoriais, pois tem ação/recuperação rápida → Produz hipotensão concentração-dependente → Produz hipotensão concentração-dependente → Baixo risco de hepato e nefrotoxicidade Hipertermia maligna: pode ser potencializada por succinilcolina. Em geral há uma predisposição AD. Deve- se retirar o anestésico inalatório; administrar dantroleno (bloqueador do canal de rianodina para o cálcio) e resfriar o corpo do paciente Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Sevoflurano → Adequado para pacientes pediátricos, ação rápida → Pode ser nefrotóxico → Produz hipotensão concentração-dependente → Produz hipotensão concentração-dependente Óxido nitroso → É o gás hilariante → Analgésico potente, mas anestésico fraco → Sozinho não produz anestesia cirúrgica; combinado, sim → Usado por dentistas → Provavelmente seja o anestésico inalatório mais seguro, desde que usado com quantidades adequadas de oxigênio Anestésicos intravenosos → Causam indução rápida, dentro do ‘tempo de circulação braço-cérebro” → Depois a anestesia é mantida com fármaco inalatório → Podem ser os agentes únicos em procedimentos curtos, ou mesmo infundidos em procedimentos mais longos → Em doses baixas, usados para sedação Indução → Podem se ligar às proteínas plasmáticas. → Da circulação venosa, passa pelos pulmões e é entregue à circulação arterial, uma parte significativa do bolus atinge o SNC. → Lipossolubilidade e grau de ionização determinam a passagem do fármaco para o cérebro Recuperação → Após a infusão repetida do fármaco, a depuração hepática e a eliminação renal tornam-se importantes → Para uma injeção in bolus o tecido adiposo influencia pouco, mas para infusões repetidas é preciso considerá-lo como um segundo compartimento ativo, quando a recuperação pode ficar mais demorada Efeito do baixo débito cardíaco nos anestésicos intravenossos → Quando o DC está baixo (choque, velhice, doença cardíaca) o organismo compensa desviando mais fluxo para o cérebro, acentuando o efeito do anestésico → Além disso, há prolongamento do tempo de circulação → A lenta titulação de uma dosagem reduzida de anestésico IV é a chave para indução segura em pacientes com DC diminuído Propofol → Largamente usado, substituiu o tiopental como primeira escolha para a indução de anestesia geral e sedação → Usado em emulsão, de aspecto leitoso → Deprime o SNC, pode ser acompanhado de fasciculações musculares, movimentos espontâneos, bocejos e soluços → Diminui PAS, diminui PIC → Não produz analgesia → Infundido em dosagens menores para sedação Barbitúricos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → O tiopental é o único com propriedades lipossolúveis e de ação ultracurta → Anestésico potente; analgésico fraco → Em vários países não está mais disponível Benzodiazepínicos → São utilizados junto com anestésicos para obter sedação → Midazolam é o mais comumente empregado (diazepam, lorazepam são alternativas) → Efeitos cardiovasculares mínimos, mas potenciais efeitos depressores respiratórios → Costuma haver amnésia anterógrada Opioides → Usados pelas propriedades analgésicas → Mais usados: fentanila, sufentanila e reifentanila (mais rápidos do que a morfina) → Administrados IV, epidural ou intratecal (no líquor) Etomidato → Utilizado somente em pacientes que apresentam doença coronariana ou disfunção cardiovascular → Pouco efeito cardiovascular → Não deve ser usado por tempo longo Quetamina → Anestésico não barbitúrico de ação curta → Induz estado dissociativo (paciente parece acordado) → Produz analgesia → Não tem sido muito utilizada, pois produz alucinações → Uso como droga de abuso → Estudada atualmente como possível antidepressivo Dexmedetomidina → Sedativo usado em UTI e cirurgias Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Sedação sem depressão respiratória → É alfa-2 agonista em certas regiões do cérebro (como a clonidina) → efeito simpaticolítico Bloqueadores neuromusculares → São usados para abolir reflexos, facilitar a intubação endotraqueal e obter relaxamento muscular → O mecanismo de ação é o bloqueio dos receptores nicotínicos de acetil-colina na JNM → Ex: cisatracúrio, pancurônio, rocurônio, succinilcolina, vecurônio Anestésicos locais → Bloqueia a condução dos impulsos sensoriais e, em concentrações mais altas, os impulsos motores da periferia ao SNC → Os canais de sódio são bloqueados, interrompendo a propagação do potencial de ação → As técnicas de administração incluem uso tópico, infiltração, bloqueio de nervo periférico e bloqueio neuraxial (espinal, epidural ou caudal) → As fibras não mielinizadas, pequenas, para dor, temperatura e atividade autônoma são as mais sensíveis → Todos os anestésicos incluem em sua estrutura um grupo lipofílico unindo uma ligação amida ou éster a uma cadeia de carbono, que, por sua vez, se liga a um grupo hidrofílico → Biotransformação majoitariamente hepática → O início e a duraço do efeito dependem de diversos fatores: pH do meio, circulação, morfologia dos nervos → Causam vasodilatação (em razão disso se usa em conjunto epinefrina. Pelo efeito vasoconstritor) → São comuns reações alérgicas (muitas vezes em decorrência da epinefrina) → Se ocorrer alergia a um éster, não se deve usar outro AL éster Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Alergias verdadeiras a AL amida são muito raras → Cuidado com a dose máxima em crianças! → Em idosos, é prudente ficar bem abaixo da dose máxima recomendada, por haver menor depuração hepática e potencial cardiotoxicidade Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTIDEPRESSIVOS → Os sintomas de depressão incluem sensação de tristeza e desesperança, incapacidade de sentir prazer em atividades usuais (anedonia), perda da vontade (avolição), alterações nos padrões de sono e apetite, perda do vigor e pensamentos suicidas → A mania se caracteriza, pelo contrário, por entusiasmo, raiva, pensamentos e fala rápidos, extrema autoconfiança e diminuição da autocrítica → As principais classes são: iMAO (inibidores da monoamino-oxidase), tricíclicos (serotonina, noradrenalina e acetilcolina... + histamina e, um pouco menos, dopamina), ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina), os duplos (ISRSN/ICSN) Inibidores seletivos da captação de serotonina (ISCS) Inibidores da captação de serotoninae norepinefrina (ICSN) Antidepressivos atípicos Antidepressivos tricíclicos (ADT) Inibidores da monoaminoxidase (iMAO) Para tratar distúrbios bipolares e mania Citalopram Escitalopram Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Sertralina Desvenlafaxina Duloxetina Levomilnaciprana Venlafaxina Bupropiona Mirtazapina Nefazodona Trazodona Vilazodona Vortioxetina Amitriptilina Amoxapina Clomipramina Desipramina Doxepina Imipramina Maprotilina Nortriptilina Protriptilina Trimipramina Fenelzina Isocarboxazida Selegilina Tranilcipromina Ácido valproico Carbamazepina Lamotrigina Lítio → Mecanismo incerto: não é apenas falta de serotonina, é necessário tratamento contínuo → Teoria das monoaminas não explica a depressão, nem o seu tratamento → Eletroconvulsoterapia → Interação dos alimentos ricos em tiramina, principalmente ao usar iMAOs (aumento dos níveis de tiramina pela ingestão de alimentos como lacticínios e vinho + iMAOs = efeitos simpaticomiméticos – “reação do queijo”) → Mesmo após o aparecimento de medicamentos mais seguros e com menos efeitos colaterais, nenhuma alternativa mostrou-se mais eficaz que os antidepressivos de “primeira geração” (tricíclicos e iMAOs) e a ECT para o tratamento da depressão → Também são úteis no tratamento de transtornos de ansiedade (em longo prazo) e outros como o TOC → Indicação de antidepressivos: depressão, transtornos de ansiedade, tratamento da tensão pré-menstrual, quadros dolorosos (como fibromialgia), ejaculação precoce, entre outros. Mecanismo de ação dos antidepressivos → A maioria dos fármacos úteis, direta ou indiretamente aumentam a ação de serotonina e/ou norepinefrina no cérebro → Teoria das monoaminas → A modulação dos níveis dos neurotransmissores é um efeito inicial dos fármacos, o qual segue-se de outros → A descoberta dos mecanismos de ação dos antidepressivos não resolveu definitivamente a questão das bases neuroquímicas da depressão, pois medicamentos com mecanismo de ação totalmente diferentes produzem resultado comportamental semelhante → A depressão não é apenas um desequilíbrio de monoaminas e, possivelmente, segundos-mensageiros intracelulares estão envolvidos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Inibidores seletivos da captação de serotonina → Os ISRS têm seletividade entre 300 e 3000 vezes maior para 5HT do que para NE; os tricíclicos e os duplos fazem isso de forma não-específica → Pouco bloqueio muscarínico, histamínicos e -adrenérgico → menos efeitos adversos (visão turva, hipotensão ortostática, xerostomia) → Substituíram os tricíclicos e os IMAO como tratamento para a depressão Ações → Bloqueiam a recaptação de serotonina, aumentando a concentração desse neurotransmissor na fenda sináptica → Em geral precisam 2 semanas para começar a produzir melhora do humor → O benefício máximo pode levar até 12 semanas → Pode não haver resposta a um primeiro AD; pelo menos 80% dos pacientes vão responder a algum AD Usos terapêuticos → Indicação primária: depressão (tão eficazes quanto os antidepressivos tricíclicos – ADT –, porém com efeitos adversos mais benignos) → TOC, transtornos psicóticos, transtorno de ansiedade generalizada, TEPT, transtorno de ansiedade social, transtorno disfórico pré-menstrual, bulimia (fluoxetina) Farmacocinética → Boa absorção por VO → Picos séricos entre 2 e 8 horas → Pouca influência da alimentação (a absorção da sertralina aumenta com alimentos) → Meia-vida entre 16 e 36 horas (a fluoxetina possui meia vida mais longa) → Biotransformaçao pelo citocromo P450 + conjugação → Fluoxetina e paroxetina inibem CYP2D6 (interações com ADT, AP, antiarrítmicos e -bloqueadores) → Outros AD: CYP 2C9/19, 3A4, 1A2 → Na insuficiência hepática: necessita-se redução da dosagem Efeitos adversos → Menos efeitos adversos do que os ADT, mas causam cefaleia, sudoração, ansiedade, agitação, efeitos gastrintestinais, fraqueza, cansaço, alterações de libido, de peso e de sono. → Distúrbios do sono: Paroxetina e fluvoxamina são, em geral, mais sedativas do que estimulantes; fluoxetina e sertralina, em geral, são mais estimulantes → Disfunções sexuais: incluem perda de libido, ejaculação retardada e anorgasmia. Opções: diminuir a dosagem ou trocar por bupropiona ou mirtazapina → Uso em crianças e adolescentes: uso com cautela. Cuidar risco de suicídio → Superdosagem: em geral, não ocorre arritmia (exceto com citalopram). Pode ocorrer diminuição do limiar convulsivante, síndrome serotoninérgica (hipertermia, rigidez muscular, sudoração, mioclonias e alteração do estado mental e dos sinais vitais) → Síndrome da interrupção: cefaleia, mal-estar, sintomas gripais, agitação, irritabilidade, nervosismo e alteração nos padrões de sono. Fluoxetina tem menos chance, dada a meia-vida longa Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Inibidores da captação de serotonina e norepinefrina → São os AD “duplos” como a venlafaxina e a duloxetina → Podem ser efetivos nos pacientes em que os ISRS não conseguiram → São os antidepressivos indicados para os pacientes com dor crônica (neuropatia diabética periférica, neuropatia pós-herpética, fibromialgia, dor lombar) Venlafaxina e desvenlafaxina → Potente IRS; em doses médias e altas IRN → Possui como metabólito ativo a desvenlafaxina → Pode aumentar PAS e FC → EA: náuseas, cefaleia, tontura, insônia, disfunção sexual, sedação e constipação Duloxetina → Inibe a recaptação de 5HT e NE em todas as dosagens → Pode aumentar PAS e FC → Efeitos adversos: similares aos da venlafaxina (mais xerostomia) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Antidepressivos atípicos → São um grupo de fármacos que têm ação em vários locais diferentes → Por exemplo, entre outros: bupropiona, mirtazapina, nefazodona, trazodona e vortioxetina Bupropiona → É um inibidor da captação de dopamina e norepinefrina fraco → Também é útil no tratamento de estado de fissura por alguma substância ou atenuar os sintomas de abstinência de nicotina, por exemplo → Efeitos adversos: boca seca, sudorese, nervosismo, tremores e um aumento dose-dependente do risco de convulsões → Baixa incidência de efeitos sexuais → Deve-se evitar nos pacientes com bulimia e naqueles com risco aumentado para convulsões Mirtazapina → Aumenta a neurotransmissão por 5HT e NE e funciona como antagonista dos receptores pré-sinápticos 2 - adrenérgicos → É antagonista 5-HT2A → Tem efeito sedativo, por ação histaminérgica → Não apresenta efeitos antimuscarínicos significativos → Não interfere na libido, mas está associado ao aumento da massa corporal Nefazodona e trazodona → São inibidores fracos da recaptação de serotonina → É antagonista 5-HT2A pós-sináptico → São sedativos, por bloqueio H1 → Tem uso extrabula, para insônia → Riscos de priapismo (trazodona) e de hepatotoxicidade (nefazodona) → Bloqueio leve dos receptores 1 – adrenérgicos Vilazodona → É inibidor seletivo da recaptação da serotonina (ISRS) e um agonista parcial dos receptores serotoninérgicos 5-HT1A → É mais recente (menos tempo no mercado) Vortioxetina → Efeito combinado: inibição da recaptação da serotonina; agonismo 5-HT1A; e antagonismo 5-HT3 e 5-HT7 → Efeitos adversos incluem náuseas/vômitos e constipação, em função dos efeitos serotoninérgicos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Antidepressivos tricíclicos → São fármacos que bloqueiam a captação de norepinefrina e de serotonina no neurônio présináptico → Nesse sentido, são como os ISRSN (duplos), mas possuem um perfil de efeitos adversos bem mais amplo → A classe inclui aminas terciárias (imipramina, clomipramina e doxepina,entre outras) e aminas secundárias (como a desipramina e a nortriptilina, por exemplo) → Os AD tetracíclicos (maprotilina e amoxapina, por exemplo) são frequentemente incluídos na mesma classe, junto com os tricíclicos Mecanismo de ação → Inibição da captação do neurotransmissor: os ADT e a amoxapina são inibidores potentes da recaptação de NE e 5-HT. Maprotilina e desipramina são relativamente seletivos para a inibição da recaptação de NE → Bloqueio de receptores: também ocorre bloqueio de receptores de serotonina, histamina, -adrenérgicos e muscarínicos (não se sabe o quanto isso contribui para o efeito antidepressivo). A amoxapina também bloqueia 5-HT2 e D2 Ações → Melhoram o humor e o alerta mental → Aumentam a atividade física → Reduzem a preocupação mórbida → Início da melhora é lento (mais de 2 semanas) → Titulação da dose → Retirada lenta para evitar síndrome de abstinência Usos terapêuticos → Depressão moderada e grave → Transtornos psiquiátricos → Enurese em crianças com mais de 6 anos (imipramina) → Profilaxia de enxaqueca e nas síndromes de dor crônica (amitriptilina) → Doses baixas de doxepina para insônia Farmacocinética → Bem absorvidos por VO → Bastante lipofílicos → Penetram bem no SNC → Metabolizados pelos citocromos hepáticos e conjugados com ácido glicurônico, com excreção renal Efeitos adversos → Bloqueio muscarínico causa visão turva, xerostomia, retenção urinária, taquicardia sinusal, constipação e agravamento de glaucoma de ângulo estreito → Alteração da condução cardíaca, com prolongamento do QT, podendo causar arritmias Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Hipotensão ortostática, tonturas e taquicardia reflexa, por bloqueio -adrenérgico → Sedação por bloqueio H1 → Aumento do IMC → Disfunção sexual (em uma minoria dos pacientes, menos do que com ISRS) Cuidados → Usar com cautela no THB (mesmo na fase depressiva; risco de virada maníaca) → Índice terapêutico estreito (pacientes com alto RS devem receber pouca quantidade de medicação de cada vez, a dose diária apenas) → Os ADT podem agravar HBP, epilepsia e arritmias pré-existentes → Cuidar interações medicamentosas! Inibidores da monoaminoxidase → A MAO é uma enzima mitocondrial encontrada no SN, no intestino e no fígado, entre outros tecidos → No neurônio, a MAO funciona como uma “válvula de segurança”, desaminando oxidativamente e eliminando o excesso que houver (de dopamina, norepinefrina ou serotonina) → A inibição da MAO pode ser reversível ou irreversível, dependendo do agente → Com a inibição, os neurotransmissores se acumulam e vazam para fenda sináptica → Quatro iMAO atualmente disponíveis para o tratamento da depressão: fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida e seleginina (esta também é útil no tratamento do Parkinson) → Uso limitado, devido às complicações (interações com alimentos e com outros medicamentos) Mecanismo de ação → A maioria forma complexos estáveis inativando irreversivelmente a enzima → Inibem as enzimas hepática e intestinal, prejudicando a metabolização de fármacos e substâncias que podem se acumular, como a tiramina → A seleginina, administrada na forma de adesivo transdérmico, produz menor inibição da MAO hepática e intestinal em dosagens baixas porque evita a biotransformação de primeira passagem Ações → Embora a MAO esteja completamente inibida em poucos dias, o efeito terapêutico demora várias semanas para ocorrer → O efeito estimulante, por sua vez, é semelhante ao das anfetaminas, podendo causar insônia e agitação Usos terapêuticos → A depressão atípica pode responder melhor aos iMAOs Depressão típica X atípica A depressão atípica é um subtipo de depressão que envolve vários sintomas específicos. A principal diferença dela com uma depressão típica talvez seja que ela conta com períodos de melhoria do humor em resposta a eventos ambientais positivos. Esse humor, que reage com mais vigor às circunstâncias ambientais, é extremamente sensível à rejeição. A depressão atípica é mais ou menos o mesmo que a distimia, algo diferente da depressão maior, composta por sintomas bastante semelhantes a ela, mas caracterizada pela reatividade do humor relacionada a eventos positivos. Normalmente os pacientes que sofrem de outros tipos de depressão não reagem emocionalmente, mesmo quando expostos a eventos positivos. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Indicado para pacientes que não respondam ou sejam alérgicos aos ADT → São os fármacos de última escolha (devido à interação com alimentos) Farmacocinética → Bem absorvidos por VO → A regeneração da enzima demora semanas após a interrupção do fármaco → assim, quando houver troca de antidepressivos, deve haver intervalo mínimo de duas semanas após o tratamento com iMAO, para iniciar um AD de qualquer outra classe Efeitos adversos → São justamente os efeitos adversos graves, ocasionados por interações com alimentos e fármacos, um tanto quanto imprevisíveis em magnitude, que limitam o emprego dos iMAOS → A “síndrome do queijo”: o excesso de tiramina acaba liberando uma quantidade significativa de catecolaminas, provocando crise hipertensiva, com cefaleia occipital, rigidez de pescoço, taquicardia, náuseas, arritmias cardíacas, convulsões e colapso. → A fentolamina e a prazosina podem ser úteis no tratamento deste tipo de crise hipertensiva → A diversidade de medicamentos eficazes impõe uma escolha individualizada de tratamento para cada paciente, levando-se em conta não apenas a eficácia absoluta do antidepressivo, mas também o seu perfil de efeitos adversos, a segurança, as interações medicamentosas, as características especiais do paciente (idosos, crianças, gestantes) e a experiência do profissional com o fármaco Tratamento da mania e do distúrbio bipolar → É um tipo de situação cuja identificação (diagnóstico) e a terapêutica têm se ampliado atualmente Lítio → É considerado o padrão-ouro como estabilizador de humor → Eficaz em 60 a 80% dos pacientes em mania e hipomania A Tiramina não é uma droga usada clinicamente, mas é encontrada em alimentos fermentados, como queijos e bebibas fermentadas. Tiramina é um produto do metabolismo da tirosina. Normalmente, é oxidada pela MAO, mas se o paciente estiver tomando um inibidor da MAO (antidepressivo), pode levar a sérios quadros de hipertensão. Como as anfetaminas, a tiramina pode entrar no terminal nervoso e deslocar a Nor estocada. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Vários processos celulares são inibidos pelo lítio, incluindo a reciclagem de fosfatidilinosinol, no entanto o mecanismo de sua ação ainda persiste, no todo, desconhecido → Baixo índice terapêutico → Efeitos adversos: cefaleia, tremores, xerostomia, polidipsia, poliúria, polifagia, distúrbios gastrintestinais, fadiga, sedação → A toxicidade pode ser indicada por fala arrastada, ataxia, tremor, confusão e convulsões → Pode causar hipotireoidismo → Cautela em pacientes com insuficiência renal, pois a menor eliminação pode ocasionar toxicidade → Em alguns casos, a litemia pode estar baixa mesmo com o paciente usando o medicamento de forma correta → O lítio e o humor estão correlacionados e se influenciam Outros fármacos → Vários anticonvulsivantes (mas nem todos) têm se mostrado bons estabilizadores do humor: → Valproato, lamotrigina, carbamazepina → Alguns antipsicóticos também têm efeito na modulação do humor: Olanzapina, risperidona, quetiapina Anticonvulsivantes e moduladores de humor → A maioria dos anticonvulsivantes é também útil na modulação do humor (alguns não, p.ex., a gabapentina) → Lítio é um excelente modulador do humor, mas não possui efeito anticonvulsivante→ Alguns antipsicóticos de nova geração são bons moduladores do humor, mas carecem de ação anticonvulsivante → O valproato é eficaz na mania aguda, sendo superior ao placebo e comparável ao lítio no tratamento deste transtorno → Numerosos estudos abertos sugerem que o valproato diminui a frequência e a intensidade dos episódios maníacos e depressivos em alguns pacientes, inclusive naqueles com ciclagem rápida, episódio misto, bipolar II e esquizoafetivo. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTIPSICÓTICOS → Os fármacos antipsicóticos também são conhecidos como neurolépticos ou tranquilizantes maiores → Usados para tratar transtornos psicóticos, incluindo a esquizofrenia → Não são fármacos curativos, nem eliminam a disfunção básica que subjaz à doença psicótica, mas aliviam sintomas disfuncionais e podem auxiliar na prevenção da progressão da doença (quando não tratada) Antipsicóticos de primeira geração Antipsicóticos de segunda geração (atípicos) Baixa potência Alta potência Aripiprazol Asenapina Clozapina Iloperidona Lurasidona Olanzapina Paliperidona Quetiapina Risperidona Ziprasidona Clorpromazina Tioridazida Flufenazina Haloperidol Loxapina Perfenazina Pimozida Proclorperazina Tiotixenp Trifluoperazina → Existem antipsicóticos de primeira geração (mais antigos) e os de nova geração (mais novos) → Entre os de primeira geração: existem os de baixa e os de alta potência → não é um parâmetro de eficácia, mas de afinidade de ligação aos receptores D2 de dopamina Antipsicóticos de primeira geração → Tradicionais, típicos ou convencionais → Inibidores competitivos de vários receptores (ação principal por bloqueio de D2 de dopamina) → São os que mais causam sintomas extrapiramidais (SEP); mais provável com os mais potentes → Sintomas extrapiramidais = acinesia (capacidade de iniciar movimento) e acatisia (incapacidade de se manter imóvel), transtornos de movimentos (como discinesia tardia), distonia, parkinsonismo, agitação, sensação de aperto no peito, falta de ar, angústia, ansiedade e sensação de falta de autocontrole → Ou atípicos (lembre-se: um nome ruim!) → Sua ação se deve a um bloqueio mais balanceado de receptores dopaminérgicos, serotoninérgicos e outros → Menor incidência de SEP → Eficácia semelhante; alguns, de fato, são superiores aos “típicos” (clozapina) Esquizofrenia → É um tipo de psicose crônica → Caracterizada por alucinações (vozes) e transtornos da fala e do pensamento (delírios) → Acomete cerca de 1% da população → Apresenta um forte componente genético (multigênico) → A maioria das vezes com anomalias na transmissão dopaminérgica em vias mesolímbicas e/ou mesocorticais → Agentes antipsicóticos agem principalmente em três vias dopaminérgicas: mesocortical, mesolímbica e nigroestrial Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Maior risco de efeitos adversos metabólicos (obesidade, DM) → São tratamento de primeira escolha na esquizofrenia atualmente → Para os pacientes com esquizofrenia refratária (10 a 20%), que não respondem aos AP de primeira geração, nem a maioria do de segunda, a clozapina é uma opção consistente! → O problema é o risco de agranulocitose (supressão da medula óssea), além de convulsões e efeitos cardiovasculares como a ortostasia Mecanismo de ação → Antagonismo de dopamina no cérebro e na periferia → Bloqueio de receptores de serotoninda → Bloqueio de 5-HT2A (risperidona, olanzapina) → A clozapina tem alta afinidade por D1, D4, 5-HT2A, muscarínicos e adrenérgicos (e é um antagonista fraco de D2 ) → O aripiprazol é agonista parcial de D2 e 5- HT1A e antagonista de 5-HT2A → A quetiapina é um antagonista fraco de D2 e 5-HT2A (baixo risco de SEP) → A maioria dos antipsicóticos tem afinidade pelos receptores dopaminérgicos D2 proporcionais à potência clínica → A clozapina se diferencia dos antipsicóticos típicos por apresentar afinidade similar pelos receptores dopaminérgicos D1 e D2 Ações → Além de bloquear dopamina e serotonina é comum haver também bloqueio colinérgico, adrenérgico e histaminérgico (não se conhece se há alguma ação antipsicótica desses outros bloqueios; mas os efeitos indesejáveis são bem estabelecidos) Efeito antipsicótico Efeitos extrapiramidais Efeito antiemético Efeito anticolinérgico Outros efeitos - Diminui alucinações e delírios (sintomas positivos) → ação por bloqueio dopaminérgico D2 no sistema mesolímbico - Os sintomas negativos, como falta de modulação do afeto, apatia e falta de motivação não respondem tão bem com o AP de 1ª geração; alguns AP de 2ª geração, como a clozapina, possuem melhor ação - Podem ocorrer no uso agudo ou crônico: distonias, parkinsonismo, acatisia, discinesia tardia - O bloqueio dos receptores dopaminérgicos da via nigroestriatal está associado a esses efeitos - Menos comuns com os AP de 2ª geração - O efeito antiemético é mediado pelo bloqueio dos receptores D2 da zona quimioceptora bulbar (aripiprazol é excessão) - Os antieméticos podem ser utilizados contra náuseas devido a vertigens, a doenças do movimento e à quimioterapia do câncer - Visão turva, boca seca, confusão e inibição dos músculos lisos do TGI e urinário, com constipação e retenção da urina - São comuns com tioridazina, clorpromazina, olanzapina e clozapina (mas esta dá sialorreia e não boca seca) - Os efeitos anticolinérgicos reduzem o risco de SEP - Bloqueio - adrenérgico causa hipotensão ortostática e cefaleia leve - Os AP alteram o controle da temperatura corporal (poiquilotermia) - Provocam aumento da prolactina - Causam sedação (por efeito de bloqueio H1) - Disfunção sexual (por vários mecanismos) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Usos terapêuticos → Tratamento da esquizofrenia (são os únicos medicamentos eficazes) → Prevenção de náuseas e êmese (úteis na êmese provocada por fármacos, embora haja alternativas melhores atualmente) → Outros usos , como APM (tranquilizantes), soluço intratável (clorpromazina), tiques fônicos, doença de Tourette (pimozida), comportamento inconveniente e irritabilidade em autismo (risperidona e aripiprazol), depresão bipolar (lurasidona e quetiapina), transtorno esquizoafetivo (paliperidona), depressão refratária, como adjuvantes (aripiprazol e quetiapina) Absorção e biotransformação → Após administraçao oral, os AP sofrem absorção que é variável, mas não é afetada por alimentos (exceto ziprasidona e paliperidona, cuja absorção aumenta nesse caso) → Boa passagem pela BHE → Volumes de distribuição grandes → Metabolizadas por diversos citocromos diferentes → Alguns metabólitos são ativos, como Paliperidona (AP, metabólito da risperidona) e Amoxapina (AD, metabólito da loxapina) Medicação Depot (injetável) → Alguns AP estão disponíveis para uso injetável (flufenazina, haloperidol e outros), com duração terapêutica de 2 a 4 semanas (usados em pacientes que não aderem à medicação VO) Efeitos adversos → Ocorrem em praticamente todos os pacientes → São mais significativos em, pelo menos, 80% dos pacientes 1. Efeitos extrapiramidais - No estriado: equilíbrio entre neurônios dopaminérgicos (-) e colinérgicos (+) - Bloqueio de dopamina → excesso de influência colinérgica → efeitos motores extrapiramidais - Depende do tempo: distonias → de poucas horas a dias de tratamento, parkinsonismo → de semanas a meses, discinesia tardia → de meses a anos e pode ser irreversível - O bloqueio de colinérgico (benzotropina, biperideno) → reequilíbrio → diminuição dos efeitos motores extrapiramidais - Acatisia pode responder melhor aos - bloqueadores ou a benzodiazepínicos 2. Discinesia tardia - Pode ocorrer em tratamentosde longa duração - Movimentos involuntários, faciais, de língua (caça à mosca) e de mandíbula (bilaterais) - A interrupção prolongada pode fazer os sintomas desaparecerem com o tempo; em alguns casos, no entanto, é irreversível - Se acredita que ocorra por up-regulation persistente - Cuidado! Medicações anti-SEP tradicionais podem piorar essa condição!!! 3. Síndrome do antipsicótico maligno - “Síndrome neuroléptica maligna” AP com forte ação anticolinérgica → menos SEP (tioridazina) AP com fraca ação anticolinérgica → mais SEP (haloperidol, flufenazina) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Reação potencialmente fatal - Rigidez muscular, febre, alteraçãodo estado mental e estupor, PAS instável, mioglobinemia - Tratamento: interrupção do AP e medidas de apoio - Administração de dantroleno e/ou bromocriptina pode ser útil 4. Outros efeitos - Sonolência, por depressão do SNC e por efeitos antihistamínicos - Confusão - Os AP com forte ação antimuscarínica → xerostomia, retenção urinária e constipação - Bloqueio -adrenérgico → alteração da PAS e hipotensão ortostática - Os AP deprimem o hipotálamo → desregulação da temperatura, amenorreia, galactorreia, ginecomastia, infertilidade e disfunção erétil - Aumento do IMC → doenças metabólicas (hiperglicemia e dislipidemias) - Prolongamento do intervalo QT → arritmias (tioridazina, ziprasidona) 5. Cautela e contraindicações - Pode ocorrer redução do limiar convulsivo (risco aumentado na abstinência de álcool) - Cuidar risco de suicídio nos pacientes (ideação e plano) Tratamento de manutenção → Pacientes com dois ou mais episódios psicóticos por esquizofrenia devem receber tratamento por pelo menos 5 anos e, em muitos casos, a recomendação é o tratamento para toda a vida → Doses baixas são menos eficazes → Os AP de 2ª geração podem ser melhores no tratamento de manutenção → Pacientes tratados com antipsicótico atípico risperidona apresentam menos recaídas do que os tratados com haloperidol, um antipsicótico típico de alta potência → A eletroconvulsoterapia (ECT) é um tratamento que deve ser considerado Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTICONVULSIVANTES → 10% da população tem pelo menos uma convulsão ao longo da vida → É o terceiro distúrbio neurológico mais comum (após doença cerebrovascular e Alzheimer) → É um conjunto de situações em que há atividade elétrica anormal no córtex, resultando numa variedade de efeitos → Variedade de eventos: perda da consciência, movimentos anormais, comportamento atípico, alterações perceptuais (podendo envolver alucinaçãoes e delírios, devido à hiperexcitabilidade cortical) → O local de origem dos disparos anormais determina o tipo de síndrome Córtex motor → movimentos anormais Parietal ou occipital → alucinações auditivas, olfativas ou visuais → Tratamento farmacológico é a forma mais comum (controle em 75% dos pacientes) → Pode ser necessária mais de uma medicação para o devido controle Aprovados antes de 1990 Aprovados depois de 1990 Carbamazepina Diazepam Divalproex Etossuximida Fenitoína Fenobarbital Lorazepam Primidona Clobazam Eslicarbazepina Ezogabina Felbamato Fosfenitoína Gabapentina Lacosamida Lamotrigina Levetiracetam Oxcarbazepina Perampanel Pregabalina Rufinamida Tiagabina Topiramato Vigabatrina Zonisamida → É importante ressaltar que vários desses fármacos têm algum emprego para além do tratamento de convulsões, como para o tratamento da modulação do humor, na profilaxia de enxaqueca, eventualmente em algumas situações de distúrbio de comportamento e transtornos de conduta. Além disso, alguns têm uso off-label para produzir emagrecimento. Etiologia das convulsões → A maioria dos casos não tem uma causa perfeitamente identificável → Pode envolver aspectos da genética, alteração estrutural ou metabólica → Fatores diversos podem ativar áreas focais, incluindo alterações em: gases sanguíneos, pH, eletrólitos, glicemia (hipoglicemia predispõe à convulsão) → Técnicas para tentar identificar a região do cérebro envolvida na gênese de uma atividade epiléptica: eletroencefalografia (EEG) e técnicas de neuroimagem, como IRM e PET Região do cérebro de um indivíduo epilético mostrando aumento do fluxo sanguíneo durante uma crise Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Convulsão tônico-clônica generalizada → É a mais comum 1. Fase de contração tônica dos músculos (podendo levar à cianose); contração generalizada do tronco e dos membros. 2. Pode ocorrer um grito no momento de expulsão do ar, e pessoa entra em opistótono (posição em que a pessoa fica rígida, com as costas arqueadas e a cabeça jogada para trás) e começa a se debater, caracterizando a fase clônica. 3. Na fase clônica ainda pode haver cianose, incontinência, com a liberação dos esfíncteres, e abalos musculares tônico clônicos. Membros ficam contraindo de forma ritmada 4. Fase de depressão pós-ictal: depressão EEG Estado epiléptico é quando essas convulsões clônicas generalizam e se mantêm por mais de 10-15 minutos. Se houver manutenção delas por mais de um minuto e meio tem indicação de reversão com benzodiazepínico (injeção de Diazepam, por exemplo) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → A epilepsia pode ser de origem genética, estrutural/metabólica ou desconhecida GENÉTICA ESTRUTURAL/METABÓLICA DESCONHECIDA - Anormalidades herdadas no SNC - Algumas mutações estão associadas a crises convulsivas - Anamnese e história familiar são muito importantes! - Inúmeras causas (fármacos ilícitos, tumores, traumatismo cranioencefálico -TCE-, hipoglicemia, infecção meníngea, retirada rápida de álcool) - Se for possível corrigir ou remover a causa, pode não ser necessária medicação anticonvulsivante específica; quando a causa primária não pode ser corrigida, indica-se a medicação - Quando não há evidência de causa anatômica, metabólica ou genética - É a maioria dos casos! Classificação das crises → A classificação adequada permite o tratamento correto! → A classificação leva em conta: o local de origem, etiologia, correlação eletrofisiológica e apresentação clínica das crises → Existe uma nomenclatura padrão pela International League Against Epilepsy em dois grandes grupos principais: FOCAIS x GENERALIZADAS FOCAIS - Envolve somente uma porção do cérebro *** Uma crise parcial simples pode se alastrar e se tornar complexa e, então, evoluir para uma convulsão generalizada secundária. PARCIAIS SIMPLES PARCIAIS COMPLEXAS A descarga não se alastra e não há perda da consciência ou da percepção; pode haver movimento anormal de algum segmento corporal. Com alucinações complexas e distorção mental; disfunção motora pode envolver movimentos mastigatórios, diarreia ou micção; altera a consciência. GENERALIZADAS - Podem começar localizadas e evoluir - As primárias podem ser convulsivas ou não-convulsivas - Usualmente há perda imediata da consciência TÔNICO-CLÔNICAS AUSÊNCIAS MIOCLÔNICAS CLÔNICAS TÔNICAS ATÔNICAS Nesse tipo, há perda de consciência, rigidez e tremor pelo corpo e, em alguns casos, perda do controle da bexiga e da língua. É o tipo de crise mais conhecido, quando o paciente fica se debatendo. É também um dos tipos mais frequente, junto com a crise de ausência É como se a pessoa sumisse do ambiente. Ela fica olhando “para o nada”, aérea e pode fazer movimentos sutis, como um piscar de olhos. Geralmente, atinge crianças Se caracterizam por movimentos bruscos, como empurrões repentinos ou espasmos nos braços e pernas São responsáveis por causar movimentos rítmicos ou repetitivos. Em geral, atingem áreas como rosto, braços e pescoçoCausa rigidez muscular e geralmente afetam os músculos dos braços, pernas e costas. Também podem ocasionar quedas Esse tipo de crise provoca a perda de controle muscular, podendo levar à quedas repentinas Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Mecanismo de ação das medicações antiepilépticas → Os fármacos diminuem as crises pelos seguintes mecanismos: - Bloqueio dos canais voltagem-dependentes (Na+ e Ca++) - Potencialização de impulsos inibitórios gabaérgicos - Diminuição da transmissão excitatória glutamatérgica → Obs: alguns fármacos têm múltiplos alvos; outros têm mecanismo incerto (desconhecido) Seleção do fármaco → Escolha baseada no tipo de crise, nas variáveis do paciente e nas características do fármaco → Início em monoterapia (melhor aderência, menor incidência de efeitos adversos); se necessário, associação; se falhar, tratamentos alternativos (estimulação vagal, cirurgia) Ao diagnóstico de uma nova epilepsia devemos considerar iniciar o tratamento a partir da segunda crise Escolher o fármaco apropriado para o tipo de crise do paciente: considerar a toxicidade do fármaco e as características do paciente. Deve-se titular a dosagem gradualmente ao máximo tolerado e/ou que produz o controle ideal das crises A partir disso, as crises podem desaparecer ou persistir. Em casos nos quais as crises persistem, deve-se tentar utilizar um fármaco de segunda escolha. O segundo fármaco é titulado até a concentração que controla as convulsões antes de reduzir e interromper o fármaco anticonvulsivante original. Se o primeiro fármaco está associado com efeitos adversos significativos, ele deve ser reduzido gradualmente enquanto o segundo fármaco está sendo introduzido Se ainda houver persistência das crises, utiliza-se associação racional de dois fármacos (observar mecanismo de ação, local de ação...) ou tratamento farmacológico alternativo Em casos refratários, deve-se considerar estratégias não farmacológicas como cirurgia e estimulação do nervo vago Antiepiléticos → Vários medicamentos novos surgiram nas últimas duas décadas → Pode haver vantagens (farmacocinéticas, efeitos adversos), mas não são fármacos necessariamente mais eficazes → Os principais efeitos adversos dos anticonvulsivantes incluem náuseas e êmese, sedação e sonolência, ataxia, eritema, hiponatremia, ganho ou perda de massa corporal, teratogenicidade, osteoporose Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Ácido valproico e Divalproex → Mecanismo: bloqueio de canais de sódio, bloqueio da transaminase GABA e ações em canais de cálcio tipo T → Amplo espectro de ação → Divalproato possui menos efeitos adversos no TGI (melhor tolerabilidade) Benzodiazepínicos → Mecanismo: ligação aos receptores GABA e diminuição da taxa de disparo dos neurônios → Usados em emergência (crises agudas) → Clonazepam e Clobazam podem ser utilizados em tratamentos mais longos para certas crises → Diazepam retal para interromper status epilepticus (Grande Mal) Carbamazepina → Bloqueia canais de sódio → Evita o alastramento da crise → Também é usada para a neuralgia do trigêmeo e o transtorno bipolar → Vários efeitos adversos e interações medicamentosas! Eslicarbazepina → É um pró-fármaco (convertido em liscarbazepina) → Bloqueia canais de sódio Etossuximida → Reduz a propagação da atividade elétrica anormal no cérebro, provavelmente inibindo os canais do tipo T → Só tem eficácia, de fato, para crises de ausência Ezogabina → Parece abrir os canais de potássio do tipo M operados por voltagem → estabilização do potencial de repouso → Efeitos adversos: pele azulada, prolongamento do QT, retenção urinária Felbamato → Tem um amplo espectro de ação anticonvulsivante → Múltiplos efeitos: bloqueio de canais de sódio, competição com a glicina (que é coagonista no receptor de NMDA) → É reservado para síndromes refratárias (Lennox-Gastaut) → Risco de anemia aplástica (1:4000) e insuficiência hepática Fenitoína → A fenitoína bloqueia os canais de sódio (VD) ligando-se seletivamente ao estado inativo e tornando lenta a sua recuperação Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Ocorre depressão do SNC, principalmente no cerebelo e no sistema vestibular (nistagmo e ataxia) → Pode ocorrer neuropatia periférica, osteoporose e hiperplasia gengival → Efeito não linear da dosagem de fenitoína sobre a sua concentração plasmática. Quando o sistema de hidroxilação hepático se torna saturado, pequenos aumentos na dose de fenitoína provocam um grande aumento na concentração plasmática do fármaco → Não é possível controlar uma crise convulsiva com fenitoína IM, porque pode causar necrose. Essa é uma vantagem da fosfenitoína sobre a fenitoína. Fosfenitoína → É um pró-fármaco que rapidamente é convertido em fenitoína → Pode ser administrado por via IM (a fenitoína não pode, já que causa necrose local) Fenobarbital e Primidona → Mecanismo primário: potenciação dos efeitos inibitórios do GABA → A primidona é biotransformada em fenobarbital e fenil-etil-malonamida (ambos com propriedades anticonvulsivantes) → O fenobarbital é atualmente usado quando outros fármacos falharam Gabapentina → É análogo do GABA, mas não atua em receptores para GABA, nem potencializa as ações do GABA, nem se converte nele... Mecanismo ainda desconhecido! → Bem tolerada em idosos → Poucas interações farmacológicas Lancosamida → Estabiliza membranas neuronais hiperexcitáveis por ligação aos canais de sódio VD → Também se liga a uma proteína que controla o crescimento axonal (função desconhecida) Lamotrigina → Bloqueia os canais de sódio → Eficaz em uma boa variedade de crises → Também é usada para o controle do transtorno bipolar → Coadministração com ácido valproico aumenta o seu nível sérico; outros anticonvulsivantes em geral diminuem o seu nível sérico - Vantagem: pode-se usar menos quantidade de lamitrigina quando é coadministrada com ácido valproico, tornando o tratamento financeiramente melhor (já que a lamotrigina é mais cara) - Desvantagem: tanto a lamotrigina quanto o ácido valproico aumentam o risco de Síndrome de Stevens-Johnson → Titulação lenta, por isso não é usada para tratamento de casos agudos. → Risco de reações graves de pele (SSJ e outras) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Levetiracetam → Para crises focais mioclônicas e tônico-clônicas primárias generalizadas em adultos e em crianças → Mecanismo de ação exato é desconhecido Oxcarbazepina → É um pró-fármaco, rapidamente convertido em 10-moidroxi (MHD) que é o agente anticonvulsivante → O MHD bloqueia canais de sódio (talvez haja modulação de canais de cálcio também) → Hiponatremia é um efeito adverso frequente; limita seu uso em idosos → Uso off-label para provocar sonolência Perampanel → Reduz a atividade excitatória → É antagonista do ácido-alfa-amino-3- hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico → É um anticonvulsivante novo; pouco conhecido ainda → Pode ser usado uma vez ao dia (meia-vida longa) Pregabalina → Liga-se a uma subunidade dos canais de cálcio disparados por voltagem, diminuindo a liberação de neurotransmissores excitatórios → O fármaco é útil em neuropatia diabética, crises focais, neuralgia pós-herpética e fibromialgia → Tem eficácia em TAG (transtorno de ansiedade generalizada) Rufinamida → Atua nos canais de sódio → Não pode ser usada em pacientes com QT longo Tiagabina → Bloqueia a captação de GABA pelos neurônios pré-sinápticos, aumentando os níveis de GABA e a atividade inibitória→ Em pacientes que não têm epilepsia, ocorreram convulsões. → Uso off-label foi tentado para estabilização do humor e da depressão bipolar → Ela não deve ser utilizada para outra finalidade! Topiramato → Múltiplos mecanismos de ação: bloqueia canais de sódio voltagem-dependente, diminui correntes de cálcio de alta voltagem (tipo L), inibe a anidrase carbônica e pode atuar em receptores NMDA → Também é aprovado para o tratamento de enxaqueca → Efeitos adversos: perda de peso, oligoidrose, glaucoma e cálculos renais → Uso off-label para emagrecimento → Diminui a capacidade cognitiva Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Vigabatrina → Atua como inibidor irreversível da transaminase GABA (diminuindo a sua metabolização) e das correntes de cálcio do tipo T → Pode causar oligoidrose e hipertermia Zonisamida → Um derivado sulfonamida com amplo espectro de ação: bloqueio de canais de sódio voltagem-dependentes Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Estado epiléptico → Ocorrem duas ou mais crises sem recuperação plena da consciência → Podem ser crises focais ou generalizadas primárias; podem ser convulsivas ou nãoconvulsivas → É uma condição ameaçadora da vida → Deve ser medicado prontamente com diazepam, por exemplo, seguido de uma medicação de ação mais lenta como a fenitoína Saúde da mulher e epilepsia → Mulheres em idade fértil demandam cuidados particulares → Vários anticonvulsivantes podem diminuir a eficácia de anticoncepcionais orais hormonais → Quando e planejar/considerar gestação → pré-natal (ácido fólico, entre outros) em conjunto com o acompanhamento da epilepsia → Muitos anticonvulsivantes têm efeitos teratogênicos → Valproato/divalproato devem ser evitados (por aumentar risco de defeitos de tubo neural e de desenvolvimento cognitivo) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 SUBSTÂNCIAS DE ABUSO Substâncias psicoativas (SPA) → São as substâncias cuja atuação influencia o humor, o pensamento ou o comportamento → Podem ser utilizadas para tratar doenças mentais (ou neuropsicológicas) → Incluem tanto as drogas de uso médico, como as drogas de abuso (de uso não médico, não prescritas) Uso médico → Psicofármacos Uso não médico (isto é, recreacional, abusivo) → Drogas de Abuso Psicofármacos X Drogas de Abuso → Psicofármacos são tipicamente drogas de uso médico, mas também podem vir a ser utilizadas como drogas de abuso (uso não médico, não prescritas) → As drogas de abuso são as substâncias consumidas por motivos não médicos até o ponto de prejudicarem as funções do usuário, podendo causar dependência química → Algumas drogas psicoativas também podem atuar como toxinas causando doenças, dano cerebral ou mesmo morte Histórico → Uso de SPA faz parte da história → Rituais místicos, religiosos ou culturais → Ex: uso milenar de maconha, ópio e álcool → O uso em contextos rituais ou religiosos reduzia em grande parte o seu potencial para o abuso → Hoje, houve desvinculação desse contexto e o mais comum é o uso recreacional → Trata-se de um campo “dado a novidades”: “Drogas novas são desenvolvidas com velocidade admirável, provocando microepidemias e prometendo prazer intenso sem danos. Promessas nunca cumpridas, pois uma substância psicoativa acaba tendo ações inesperadas em múltiplos sistemas cerebrais e orgânicos” → Dependência química vista como uma doença cerebral: “Um dos marcos importantes na história contemporânea das SPA é a caracterização da dependência química como doença cerebral, o que lhe possibilita, além do tratamento, a desestigmatização”. (Leshner, 1997 apud Ribeiro e Andrade) → O dependente químico deve ser visto com portador de doença multicausal, que necessita, no curso de seu tratamento, de intervenções de diversos níveis para melhora e estabilização: familiar, medicamentoso, psicoterápico, social Zonas cerebrais de recompensa → Sistema dopaminérgico via mesocortico-límbica (núcleo accumbens), sistema límbico, sistema de recompensa. Dopamina é muito importante, mas não está sozinha. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 DEPRESSORES → No início da sua ação podem promover Inibição dos centros inibidores (desinibição), causando euforia → Álcool → Hipnóticos/ sedativos → Solventes (clorofórmio, éter, tolueno, xileno...) → Narcoanalgésicos (codeína, morfina, elixir paregórico...) → Barbitúricos ANALGÉSICOS NARCÓTICOS → São um grupo de drogas que possui as propriedades de induzir o sono (narcótica) e aliviar a dor (analgésica) → Opioides endógenos (endorfinas) → Derivados do ópio e drogas sintéticas: codeína, morfina → heroína, antagonistas: naloxona e nalorfina → O ópio é obtido de sementes de papoula. A morfina é extraída do ópio, e a heroína é sintetizada a partir da morfina ESTIMULANTES → Substâncias, que em sua maioria, são tipicamente utilizadas como drogas recreacionais ou como drogas de abuso → Aumentam a atividade dos neurônios → Dividem-se em 4 grupos: 1. Estimulantes comportamentais: cocaína e anfetamina 2. Convulsivantes: usadas como modelos experimentais em laboratório 3. Estimulantes gerais: cafeína 4. Drogas psicodélicas: mescalina, canabinóides (THC), LSD, psilocibina → Estão associados a atividades simpáticas (“poder”): cefeína, nicotina, anfetamina e derivados (inibidores de apetite), cocaína (pó e pasta básica – crack), descongestionantes nasais → A cocaína é obtida das folhas da coca. O crack é uma forma de cocaína quimicamente alterada que evapora ao ser aquecida. → Efeitos: excitação, desenvoltura na fala, sensação de segurança, perda de apetite, redução do cansaço, alerta, insônia, modificação do humor, desorientação, taquicardia, hipertensão, arritmias, convulsão, coma FÁRMACOS DE ABUSO → Várias situações propiciam o início de uso de SPA e o seu abuso... → São casos em que “as substâncias estão sendo usadas para efeitos não terapêuticos no corpo ou na mente” → O abuso está ligado a diversas situações: curiosidade, necessidade de integração/ pertencimento, vida tediosa, facilidade de acesso à substância, aceitação cultural do hábito Estimulantes Alucinógenos Outros Anfetaminas Catinonas sintéticas (“sais de banho”) Cocaína Metilenodioximetanfetamina (MDMA) Canabinoides sintéticos Dietilamida do ácido lisérgico (LSD) Maconha (marijuana) Etanol Fármacos sujeitos à prescrição (particularmente opioides) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 SIMPATICOMIMÉTICOS → São estimulantes que ativam o sistema nervoso simpático ou mimetizam a sua ação → Produzem aumento da transmissão adrenérgica e noradrenérgica → São agentes obtidos a partir de fontes naturais ou sintetizados → Vários causam prazer → potencial de adição Cocaína → É derivada do arbusto Erythoxylon coca, que cresce ao pé da cordilheira dos Andes → Inibe a recaptação de norepinefrina, da dopamina e da serotonina → Biodisponibilidade mínima por VO → O pó de cloridrato de cocaína é aspirado ou solubilizado e injetado → O pó não pode ser fumado; o crack cocaína é uma forma que pode ser fumada (o pó não) → Presença de adulterante: talco, levamisol (anti-helmíntico) → Usuários são frequentes em emergências: alterações psiquiátricas, convulsões, hipertermia, isquemia cardíaca, lesão pulmonar... → Pode haver morte → Uso conjunto com etanol → metabólito cocaetileno (bastante cardiotóxico) TRATAMENTO DA TOXICIDADE DA COCAÍNA - Acalmar o paciente - Resfriar = Hipertermia é umas das principais causas de mortalidades - Obs: a hipertermia é uma das principaiscausas de morte no paciente intoxicado por cocaína - BZD (acalmam e previnem as convulsões) - Anti-hipertensivos de ação curta - Medidas de apoio → Principais efeitos: euforia, taquicardia, aumento da frequência respiratória, agitação, hipertensão, dispneia, convulsão, arritmias cardíacas, insuficiência respiratória, morte Anfetaminas → São simpaticomiméticos com efeitos clínicos muito similares aos da cocaína → Podem ser mais longos → Com maior estimulação e menor euforia que a cocaína → O tratamento da toxicidade é similar ao da cocaína → (Os usos terapêuticos das anfetaminas são apresentados no próximo capítulo). Metilenodioximetanfetamina → É a MDMA, também conhecida ecstasy ou Molly, uma anfetamina alucinógena com acentuado efeito liberador de serotonina → É referida com empatógena, aumentando a sensação de estimulação tátil → O usuário precisa beber água para evitar a desidratação e a IR: tem ocorrido intoxicação hídrica e hiponatemia → Pode causar bruxismo e trismo (pirulitos são populares entre os usuários) → Vários nomes e formulações → Propensão para hipertermia intensa Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Estado mental alterado → Distúrbios de movimento (por síndrome serotoninérgica) → O tratamento da intoxicação envolve: BZD, relaxante muscular, intubação endotraqueal, e ciproeptadina (um antagonista de serotonina, para tratar a síndrome serotoninérgica). Cationas sintéticas → É um componente psicoativo de um arbusto sempre verde, chamado Khat, nativo da África Oriental e da Península Arábica → Catinonas sintéticas são conhecidas como sais de banho → Não são facilmente detectadas nos exames toxicológicos de rotina → Metcatinona, butilona, metilenodoxipirovalerona e nafirona são catinonas sintéticas → Aumentam a liberação de catecolaminas (NE, EPI e DA) → Um início de ação com estimulação rápida é comum → Em geral são inalados ou ingeridos, podendo ser injetados → O tratamento da intoxicação é similar ao da cocaína ALUCINÓGENOS → Categoria que incluem, entre outras substâncias, a maconha, o LSD e os canabinoides sintéticos → Drogas psicodélicas: cacto peyote, folha de maconha, cogumelo/ psilocibina → Cannasbis (maconha), LSD (dietilamida do ácido lisérgico), cogumelos, ayahuasca (Santo-Daime), colírios anticolinérgicos → Efeitos: alterações no humor, alterações na percepção de tempo e de espaço, síndrome amotivacional, alterações no apetite, congestão ocular, despersonalização, flash-back Dietilamida do ácido lisérgico (LSD) → Uma droga que foi criada em 1938, a partir de um fungo → Popularizada por Timothy Leary (psicólogo de Harvard) → É um agonista potente de serotonina nos receptores 5-HT-2A → Produz alucinações multicoloridas e alterações de humor, distúrbios de sono e ansiedade Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Uso repetido produz tolerância por dessensibilização (down-regulation) dos receptores de serotonina → Efeitos físicos são mínimos, mas pode haver hipertensão, taquicardia, hipertermia, tontura, sudoração e diminuição do apetite → Perda do juízo crítico → Bad trips (incluindo risco de suicídio) → Flash backs Maconha → Uso milenar (6 a 10 mil anos) → Em contexto religioso ou ritualístico → Atualmente as plantas estão sendo selecionadas e apresentam índices maiores e THC e maior risco de indução de psicose → É uma das substâncias ilícitas mais consumidas → É a droga ilícita mais utilizada por novos usuários → O principal alcaloide psicoativo é o delta9-tetraidrocanabinol (THC) → A concentração de THC na planta cultivada aumentou cerca de 20 vezes nos últimos 50 anos → Receptores específicos para canabinoides, os CB1, foram descobertos na década de 80 → Os efeitos produzidos incluem: hiperfagia, relaxamento físico, redução da coordenação motora, conjuntivite e algum controle da dor → Dependendo da situação social pode haver euforia, seguida de sonolência e relaxamento → Alucinações podem ocorrer, mas não são tão comuns quanto com LSD → Ao estimular a amigdala, há sensação de novidade com os estímulos → Os usuários pesados costumam perder a vontade, perder a sensibilidade à novidade → Síndrome amotivacional → Diminuem a capacidade de memória de curta duração nos usuários, via GABA → Diminui a força muscular e prejudica a realização de atividades que requeiram perícia (como dirigir um automóvel) → Os efeitos aparecem logo que é fumada, em 20 minutos e tendem a desaparecer em 3 horas. → Uso crônico: bronquite, progressão da SIDA, câncer de mama, agravamento de doença mental → Pode ser encontrada no organismo em até 3 meses para usuários crônicos → Abstinência pode incluir depressão, dor e irritabilidade → Existe potencial uso (de algum dos compostos presentes na planta) para epilepsia, para náuseas e vômitos na quimioterapia, na caquexia secundária ao câncer, na esclerose múltipla, no glaucoma e na ansiedade. → Via de regra, no entanto, há outros fármacos mais seguros e de primeira escolha para a maioria dessas situações. → Efeitos: taquicardia, comprometimento da memória, alucinações (não muito comum), conjuntivite, aumento do apetite, comprometimento da coordenação Canabinoides sintéticos → Comercializados como “Spice” ou “K2” → Foram criados em 2008 para uso médico; de lá pra cá, perdeu-se o controle. → Estrutura química muito diferente dos canabinoides naturais. → Efeitos até 800 vezes maiores que a substância natural. → Alucinações extremas são uma situação de risco significativo. → Maior risco: alucinações e desencadeamento de esquizofrenia. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Outros Etanol → Produzido a partir da fermentação de grãos, frutas ou vegetais, por leveduras → É um depressor do SNC → Principal causa de acidentes fatais (afogamentos, quedas, trânsito), fator importante relacionado às hospitalizações → É a substância de abuso mais usada na sociedade moderna → Alcoolismo reduz expectativa de vida em 10 a 15 anos e impacta uma em cada três famílias → Efeitos mediados pelo receptor GABA, incluindo a liberação de mediadores opioides endógenos e alterando os níveis de serotonina e dopamina → É um depressor seletivo do SNC (inicialmente desinibição, em baixas doses; coma e morte, em altas doses) → Usado em bebidas, absorvido no estômago e duodeno → Maior sensação subjetiva de alcoolização enquanto os níveis estão aumentando → Pico entre 20 min e 1h → Relação sangue-ar de 2100:1 permite o uso de amostras de ar expirado (etilômetro) → Alimento retarda a sua absorção → Biotransformação hepática: na mitocôndria e pelo sistema microssomal → Cinética de eliminação é de ordem zero (entre 15-40 mg/dL/h) → Manejo da intoxicação aguda: suporte + tiamina e ácido fólico (prevenção de Síndrome de Wernicke- Korsakoff) → O abuso crônico pode causar hepatopatia (cirrose), lesões pulmonares, cardíacas, alterações hematológicas e metabólicas → A síndrome de abstinência alcoólica é grave, potencialmente fatal (exige cuidados especiais) Uso crônico de etanol → Vários problemas, além dos hepáticos: cardiovasculares (miocardiopatias), pulmonares, hematológicos, endócrinos e no SNC = mudanças degenerativas no cérebro, miopatia (necrose muscular), pancreatite, fígado gorduroso, hepatite alcoólica, comprometimento da absorção no intestino delgado, atrofia testicular e infertilidade em homens, síndrome alcoólica fetal e aborto espontâneo em mulheres → Interrupção abrupta pode desencadear síndrome de abstinência → A dependência de álcool tem sido tratada com o uso de fármacos como o dissulfiram, a naltrexona e ao acamprosato Dissulfiram → Inibe a oxidação do acetaldeído a ácido acético → O acetaldeído que acumula ébastante tóxico, causando terrível mal-estar (rubor, taquicardia, hiperventilação e náusea). → A ideia é criar uma resposta aversiva, condicionada, que iniba a busca por álcool Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Naltrexona → É um antagonista opioide de longa duração, utilizado em conjunto com psicoterapia de apoio → É bem tolerada e não produz as reações adversas do dissulfiram Acamprosato → Fármaco usado em programas de tratamento de dependência → É um análogo gabamimético. → Atravessa a barreira hematoencefálica, estimulando a transmissão gabaérgica, inibindo alguns dos transmissores que estimulam a crise de abstinência ocasionada pelo álcool. → Dessa forma o efeito de certos neutransmissores excitatórios responsáveis pelos sintomas de abstinência ao álcool são atenuados. → Em estudos realizados no Brasil o fármaco demonstrou eficiência no tratamento do alcoolismo em indivíduos do sexo masculino. Abuso de fármacos sujeitos à prescrição → É um problema crescente, no mundo todo → Opioides, benzodiazepínicos, barbitúricos → Atualmente, analgésico matam mais do que cocaína e heroína juntas... → Em parte, deve-se ao aumento da ênfase no tratamento da dor, como o “quinto sinal vital”. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL → Estimulantes psicomotores e alucinógenos são os dois principais grupos de fármacos que atuam primariamente como estimulantes do SNC → Os estimulantes psicomotores causam excitação e euforia, diminuindo a sensação de fadiga e aumentando a atividade motora → Os alucinógenos produzem efeitos pronunciados sobre os padrões de pensamento e no humor, com pouco efeito no tronco cerebral e na medula espinal Etimulantes psicomotores Anfetamina Armodafinila Atomoxetina Cafeína Cocaína Dexmetilfenidato Dextroanfetamina Lisdexanfetamina Metanfetamina Metilfenidato Modafinila Nicotina Teofilina Vareniclina Metilxantinas → Incluem a teofilina, a teobromina e a cafeína Mecanismo de ação → Vários → Em doses baixas, bloqueio dos receptores de adenosina (quando tomamos café, bloqueamos os receptores de adenosina, o que tira a sonolência) → Translocação do cálcio extracelular → Aumento do AMPc (por inibição da fosfodiesterase) Ações → No SNC: diminuição da fadiga, aumento do nível de alerta mental (1 a 2 xícaras de café); → 1,5g de cafeína produz ansiedade e tremores (até menos do que isso!); → 2g a 5g estimulam a medula espinal (convulsões são possíveis) → A tolerância pode ser rapidamente desenvolvida → Abstinência pode provocar sensação de fadiga e sedação → Cardiovasculares: doses altas têm efeito inotrópico e cronotrópico positivos → Aumento da quantidade pode ser prejudicial em pacientes com angina pectoris → Aumento da frequência pode provocar contrações prematuras → Ação diurética: aumenta o débito urinário (Ação leve) e aumenta a excreção de sódio, potássio e cloreto → Na mucosa gástrica: Estimulam a secreção de ácido gástrico (por isso devem ser evitadas em indivíduos com úlcera péptica) Farmacocinética → Bem absorvidas por via oral → Ampla distribuição → Atravessam a placenta → Secretadas no leite materno Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Metabolizadas no fígado pela CYP1A2 → Excretadas na urina Efeitos adversos → Insônia → Ansiedade (polimorfismo nos receptores de adenosina, especialmente A2A) → Agitação → Êmese e convulsões → Dose letal é de 10g (100 xícaras de café expresso) → Em consumo maior do que 600mg, na interrupção tem-se síndrome de abstinência (letargia, irritabilidade, cefaleia) Nicotina → É o componente ativo do tabaco → Não é um fármaco amplamente usado de forma terapêutica → É muito usado em conjunto com a cafeína → Quanto maior o consumo de cafeína, maior a vontade de usar nicotina, vice e versa. → Alcatrão e o CO encontrados na fumaça oferecem riscos à saúde (enfisema, câncer...) → A nicotina tem potencial de viciar bastante alto e a dependência é de difícil tratamento e controle Mecanismo de ação → Em doses baixas é estimulador ganglionar (por despolarização) = desperta e relaxa → Em doses altas causa bloqueio ganglionar = pode causar paralisia respiratória → O mecanismo de ação e o efeito comportamental dependem da dose. Ações → SNC: a nicotina é muito solúvel, atravessando facilmente a BHE → Em numerosos receptores de nicotina no SNC responde pelos efeitos psicoestimulantes → Em doses baixas: leve euforia e diminuição da ansiedade → Em doses altas: irritabilidade e aumento da ansiedade (pode haver paralisia respiratória e hipotensão por paralisia bulbar) → Efeitos periféricos complexos → Estimulação dos gânglios simpáticos e da suprarrenal (aumento da PAS e da FC) → O fumo é prejudicial para os hipertensos e para os pacientes com DVP (doença vascular periférica) → A estimulação dos gânglios parassimpáticos aumenta a atividade motora intestinal; mas em doses elevadas a atividade cai, assim como na bexiga 30-40 min após fumar um cigarro, a pessoa vai querer fumar outro, porque diminui o nível sérico de nicotina. Isso pode levar a pessoa a fumar até 20 cigarros por dia. Farmacocinética → Atinge a maioria dos órgãos → Passa a placenta e sai no leite materno → Ao fumar, o fumante médio absorve de 1mg a 2 mg de nicotina → A dose letal aguda é de 60 mg → A depuração envolve o pulmão e o fígado e a excreção é urinária Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → A tolerância aos efeitos tóxicos se desenvolve rapidamente, em geral dentro de poucos dias Efeitos adversos → Irritabilidade e tremores → Cólicas intestinais → Diarreia → Aumento da FC e da PAS → Além disso, ocorre aumento da biotransformação de diversos fármacos Síndrome de abstinência → Irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, cefaleia e insônia. → O apetite é afetado (aumenta). → Dor GI é comum. → Adesivos transdérmicos e gomas de mascar podem auxiliar a abstinência nos programas de cessação do tabagismo. → A bupropiona tem sido utilizada com êxito (relativo). Vareniclina → É um agonista parcial nos receptores de Ach neuronais, no SNC → Produz menos efeitos euforizantes → Pode ser útil nos pacientes com abstinência → Tende a atenuar o efeito sobre o sistema de recompensa, em caso de recaída → Os pacientes precisam ser monitorados com relação a ideação suicida, pesadelos e alterações do humor Cocaína → É um fármaco estimulante altamente viciante e facilmente obtido (Estudado no capítulo anterior) → Bloqueia a captação de NE, 5-HT e DA nos terminais pré-sinápticos → A euforia se dá por efeito do aumento de DA → Há esgotamento da DA com o consumo crônico de cocaína → compulsão pelo uso (para aliviar temporariamente uma depressão intensa) → Alto potencial de abuso → Não tem muitos usos clínicos, mas poderia ser um anestésico local Anfetaminas → A anfetamina é uma amina simpática com efeitos neurológicos e clínicos similares aos da cocaína → O principal membro da classe é a dextroanfetamina → Existem também a metanfetamina e um derivado desta, a MDMA (metilenodioximetanfetamina), com propriedades alucinógenas e estimulantes Mecanismo de ação → Como a cocaína, trata-se de um efeito indireto Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Em parte, ocorre através da liberação dos estoques intracelulares de catecolaminas (as catecolaminas causam o efeito direto) → Em parte, por inibição da MAO → E parte por ser um fraco inibidor da recaptação Ações → SNC: estimula todo o eixo cerebroespinal, o córtex,o tronco cerebral e o bulbo → Aumenta o estado de alerta, diminui a fadiga e o apetite e causa insônia → Em doses elevadas podem ocorrer psicoses e convulsões → SN simpático: atua no sistema adrenérgico, estimulando indiretamente a liberação de NE Usos terapêuticos → Os efeitos estimulantes da anfetamina e seus derivados levaram a seu uso em TDAH, em narcolepsia e como inibidor do apetite No TDAH → Pode haver melhora de vários sintomas ligados à atenção e concentração e à hipercinesia → A lisdexanfetamina é convertida após a absorção em dextroanfetamina → A atomoxetina é um fármaco não estimulante aprovado para uso em crianças e em adultos → Não deve ser usada com IMAOS ou em pacientes com glaucoma de Ângulo fechado) → Age mais em NE e é considerada um fármaco com menor potencial de abuso Na narcolepsia → Distúrbio relativamente raro → Sono incontrolável durante o dia → Algumas vezes é acompanhado de catalepsia, perda do controle muscular ou mesmo paralisia provocada por emoções fortes como risadas → O modafinil e o seu isômero amodafinila são considerados drogas de primeira linha nessa patologia (promovendo vigília, mas produzindo menos efeitos eufóricos e psicoativos, menos alterações de humor e de percepção, bem como menos alterações no pensamento). → Seu mecanismo de ação persiste desconhecido. Podem ter algum potencial de abuso. Na supressão do apetite → Fentemina e dietilpropiona são aminas simpaticomiméticas relacionadas estruturalmente com a anfetamina e usadas no tratamento da obesidade Farmacocinética → A anfetamina é completamente absorvida no TGI → Biotransformação hepática → Os adictos administram por via IV ou através do fumo → A euforia dura cerca de 4 a 6 horas (portanto, um efeito mais duradouro do que o da cocaína) Efeitos adversos → Vicio, tolerância, dependência, potencial de abuso → SNC: insônia, irritabilidade, fraqueza, tonturas, vertigem, tremores e reflexos hiperativos; confusão, crises de pânico, psicose (psicose anfetamínica no uso crônico); efeito anorexígeno no hipotálamo → Cardiovasculares: palpitações, arritmia, hipertensão, dor anginosa e colapso circulatório → TGI: anorexia, náuseas, êmese, cólicas abdominais e diarreia Contraindicações Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Em pacientes com hipertensão, doença cardiovascular, hipertireoidismo, glaucoma, história de abuso ou naqueles que usam IMAO Metilfenidato → Possui propriedades estimulantes do SNC similares às da anfetamina. → Também pode levar a abuso (potencial controverso). → É um dos fármacos mais prescritos para crianças, atualmente. → Possui um isômero, também de uso clínico, o dexmetilfenidato. Mecanismo de ação → Crianças com TDAH podem produzir fracos sinais de dopamina, sugerindo que atividades geralmente gratificantes ofereçam pouca gratificação para essas crianças → O metilfenidato é um inibidor do transporte de DA e NE, aumentando a concentração de ambas as moléculas no espaço sináptico → Obs: acredita-se que o metilfenidato apresenta menor potencial de abuso do que a cocaína, pois entra no cérebro mais lentamente, não elevando os níveis de DA tão rapidamente Usos terapêuticos → É usado há décadas no tratamento de TDAH (incluindo crianças) → É eficaz na narcolepsia (o dexmetilfenidato, por sua vez, não é indicado para essa doença) Farmacocinética → Boa absorção VO → Existe formulação de liberação prolongada → O produto desesterificado (o ácido ritalínico) é eliminado na urina. Efeitos adversos → Náuseas/vômitos são os efeitos adversos mais comuns → Outros: anorexia, insônia, nervosismo, febre. → Pode piorar a frequência de convulsões em pacientes convulsivos (especialmente se coadministrado com antidepressivo). → É contraindicado em pacientes com glaucoma. → Pode inibir a transformação da varfarina, fenitoína, fenobarbital, primidona e dos ADTs. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 EMERGÊNCIAS E TRATAMENTO DE TRANSTORNOS DE USO DE SPA → Mudanças no diagnóstico da dependência química (DSM-5) → A dependência de substâncias sofreu importantes modificações. → A dicotomia entre os diagnósticos de abuso e de dependência de substâncias deixou de existir → Além disso, a história de problemas com a lei em decorrência do uso de substâncias não faz mais parte dos 11 critérios diagnósticos. Em seu lugar, entrou a presença de fissura (craving) → Assim, pela nova classificação, o paciente pode ter os seguintes diagnósticos: Transtorno de uso leve Transtorno de uso moderado Transtorno de uso grave Presença de dois ou três dos onze critérios por um período de um ano Presença de quatro ou cinco dos onze critérios por um período de um ano Presença de mais de seis dos onze critérios por um período de um ano → Os 11 critérios são: - Uso em quantidades maiores ou por mais tempo que o planejado - Desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo - Gasto importante de tempo em atividades para obter a substância - Fissura importante - Deixar de desempenhar atividades sociais, ocupacionais ou familiares devido ao uso - Continuar o uso apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais - Restrição do repertório de vida em função do uso - Manutenção do uso apesar de prejuízos físicos - Uso em situações de exposição a risco - Tolerância - Abstinência → Outra novidade no DSM-5 foi a inclusão da síndrome de abstinência de maconha e de cafeína entre os transtornos induzidos pelo uso de substâncias. Transtorno de uso de álcool → Similar ao transtorno de uso de canabis → Pelo menos dois dos 11 critérios ocorrendo no período de 12 meses (não precisam aparecer simultaneamente) → Existem especificadores para remissão precoce (3 meses – 12 meses), remissão sustentada (mais de 12 meses), situações em que o ambiente pode estar controlado e condição baseada na gravidade Intoxicação por álcool → Recente ingestão de álcool → Alterações psicológicas e comportamentais problemáticas significativas, como conduta sexual inapropriada, comportamento agressivo, juízo prejudicado, que se desenvolvem durante ou logo depois da ingesta de álcool → Um ou mais dos seguintes sintomas desenvolvidos durante ou logo após o uso de álcool: fala enrolada, incoordenação, marcha instável, nistagmo, déficit de atenção ou memória, coma Abstinência por álcool → Pessoa parou de beber ou diminuiu a quantidade de álcool que foi utilizado intensamente por muito tempo Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Presença de dois ou mais dos seguintes sintomas se desenvolvendo horas ou dias após diminuir ou parar o uso de álcool: hiperatividade autonômica (sudorese, aumento FC), aumento do tremor das mãos, insônia, náusea/vômito, alterações transitórias do tipo alucinações ou ilusões (auditiva, tátil ou visual), agitação psicomotora, ansiedade, convulsões tônico-clônicas generalizadas → Especificadores: prejuízo significativo na vida da pessoa; sintomas não são atribuídos a outra condição médica Transtornos de uso relacionados à cafeína Intoxicação por cafeína → Consumo de cafeína (tipicamente 250 mg ou mais) → Apresentar 5 ou mais dos seguintes sintomas durante ou logo após a ingestão de cafeína: desassossego, nervosismo, inquietude/excitação, insônia, ruborização facial, aumento da diurese, alterações gastrintestinais, espasmos musculares, fluxo de pensamento ou fala alterado, taquicardia ou arritmia, períodos de inexaustibilidade, agitação psicomotora Transtornos de uso relacionados à Cannabis → Pelo menos dois dos 11 critérios ocorrendo no período de 12 meses (não precisam aparecer simultaneamente) Intoxicação por Cannabis → Uso recente → Apresentar durante ou logo após o uso alteraçõesproblemáticas psicológicas comportamentais, prejuízo da coordenação motora, euforia, ansiedade, sensação de passagem diminuída do tempo, prejuízo do julgamento, isolamento social → Apresentar dois ou mais dos seguintes sinais 2 horas após o uso de cannabis: hiperemia conjuntival, aumento do apetite, boca seca, taquicardia Abstinência por Cannabis → Parado ou diminuído o alto e prolongado consumo (diariamente por semanas ou meses) → Apresentar três ou mais dos seguintes sintomas desenvolvidos aproximadamente 1 semana após a diminuição do consumo: irritabilidade/raiva/agressividade, nervosismo/ansiedade, dificuldades de sono (insônia, distúrbios de sonho...), perda de apetite/peso, desassossego, humor deprimido, pelo menos um dos seguintes sintomas físicos causando desconforto significativo: dor abdominal, tremores, sudorese, febre, calafrios, dor de cabeça Emergências associadas ao álcool e às drogas de abuso → Quadros de intoxicação podem precipitar: ideação e tentativa de suicídio e homicídio, episódios de agitação psicomotora (APM), síndromes psicótica,maníaca, depressivas e ansiosas, síndromes clínica: coma e convulsões (risco para a vida) Epidemiologia → Problemas relacionadas a drogas de abuso perfazem 15% de todos os atendimentos em salas de emergências nos EUA: acidentes, overdoses e complicações clínicas → Principais: alcool, cocaína, maconha e heroína → 10% dos pacientes com comorbidade psiquiátrica (quase 70% desses com depressão) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Intoxicação e abstinência são frequentes em internações de hospitais gerais (10 a 20% dos pacientes são alcoolistas, até 49% dos homens) Avaliação → Informações colaterais → Screening toxicologico e bafômetro → Avaliar se há risco de morte iminente → Se houver risco → AMPLA (Alergias, Medicamentos em uso, Patologias prévias, Líquidos e alimentos ingeridos, Ambiente onde foi encontrado o paciente) → Paciente fora de risco deve-se obter informações sobre a subtância utilizada, o uso de múltiplas drogas, a estimativa da quantidade, a frequência do uso (o uso crônico ou esporádico permite inferir a tolerabilidade da dose ingerida) e o tempo decorrente desde o último consumo (indicativo do tempo para surgimento dos sintomas iniciais de privação) Intoxicação e overdose Depressores do SNC → Efeito: diminuição reversível da atividade excitatória do SNC → Se houver diminuição do nível de consciência, pesquisar: álcool, BZD, barbitúricos, opioides Álcool → Um homem de 70 kg metaboliza 15 mg/dL de álcool por hora. Entretanto, um dependente de álcool pode metabolizar até 30 mg/dL por hora. → Em pessoas dependentes de álcool, alcoolemias tão altas quanto 250 mg/dL podem ter poucos comemorativos clínicos. → Pacientes que apresentam alcoolemias acima de 150 mg/dL sem sinais de intoxicação devem ser considerados como prováveis dependentes → Monitorar SV (sinais vitais) → Proporcionar ambiente tranquilo e seguro Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Posicionar o paciente em decúbito lateral → Exame neurológico cuidadoso (pensar em quedas, fraturas e hematomas subdurais) → Descartar hipoglicemia e intoxicação por outras substâncias → Evitar uso de medicações de efeito sinérgico → Se APM: lorazepam 1-2mg VO ou haloperidol 5mg VO ou IM Benzodiazepínicos → Monitorar SV → Proporcionar ambiente tranquilo e seguro → Posicionar o paciente em decúbito lateral → Se ingesta recente → esvaziamento gástrico e carvão ativado (isso não é feito com álcool, porque ele é rapidamente absorvido, não tem tempo) → Pode-se usar o antagonista específico de BZD, flumazenil, em ambiente hospitalar: 0,2 a 0,3 mg EV em 15 segundos e depois 0,3 mg a cada minuto até, no máximo 2mg. Barbitúricos → Lavagem gástrica até 24 horas após a ingestão, após intubação endotraqueal → Carvão ativado (1g/Kg peso até 30 g, por dose em 4 horas por SNG) Alcalinização da urina → Hemodiálise Opioides → Tríade: miose, depressão respiratória e coma → Edema pulmonar, hipóxia, bradicardia, hipotermia, hipotonia e hipomotilidade gastrointestinal (íleo paralítico) → Tratamento: intubação, VM, CTI se overdose → O antagonista opioide naloxona deverá ser utilizado: 0,8mg para 70 kg, IV lentamente. → Sinais de melhora são rápidos (sobe FV e as pupilas aumentam), caso contrário, repetir a dose em alguns minutos → Manter 0,4 g/h por mais 12 horas Estimulantes do SNC → A cocaína e os anfetamínicos apresentam ação simpaticomimética, por: aumento da atividade das catecolaminas, bloqueio da recaptação e aumento da liberação pré-sináptica → Se houver pupilas dilatadas, aumento da FC, boca seca, hipertemia, sudorerse, hiper-reflexia e alterações comportamentais, considerar abuso Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Ansiedade e crises de pânico podem ser desencadeadas por estimulantes, assim como quadros psicóticos, nos quais, inicialmente, ocorrem desconfiança e hipervigilância, seguidos por delírios paranoides, com ideias de referência e isolamento. → Aparecem alterações de sensopercepção, caracteristicamente táteis, de insetos andando sobre a pele (cocaine bugs), mas também alucinações auditivas e visuais. → Conduta agressiva pode ocorrer, especialmente após o uso de crack Tratamento → Tentar manejo não-farmacológico → SN (ansiedade): BZD → SN (psicose): haloperidol (menos efeitos anticolinérgicos, mas baixa o limiar convulsivante) → Contenção mecânica só se houver risco de violência, pois facilita a rabdomiólise, hipertermia e IR → Hipertermia necessita tratamento agressivo → Acidificação da urina e lavagem gástrica Perturbadores do SNC → Alucinógenos → Maconha → Fenciclidina → Tratamento: principal objetivo é manter a segurança do paciente → Poucas preocupações (risco para a vida) com alucinógenos e maconha Inalantes Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 MDMA (metilenedioximetanfetamina) Abstinência Álcool → Preditores da gravidade na abstinência alcoólica: história prévia de abstinência grave, altos níveis de álcool sérico e poucos sintomas de intoxicação, presença de sintomas de privação com alcoolemia elevada > 300mg%, idade avançada, uso concomitante de hipnóticos e sedativos, problemas clínicos prévios. → Começa em poucas horas, pico entre 24 e 36 horas e sintomas graves por até 14 dias → Monitoras sintomas (ABC) de hora em hora Tratamento → A: BZD (diazepam 10 mg de hora em hora) + carbamazepina (excluir gestação!) ou ácido valpróico → B: Clonidina 0,1mg VO 2/2h até PAS < 140/90 mmHg e FC < 100 bpm + beta-bloqueadores SN (propranolol) → C: haloperidol Complicações → Alucinose alcoólica (sem hiperatividade autonômica, ao contrário do DT – dellirium tremens) → Convulsão alcoólica → risco de AVC → Delirium tremens (DT): psicose orgânica reversível, ocorre em 5% dos pacientes Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Confusão, tremor, delírios, alucinações, letargia, agitação, insônia, hiperatividade autonômica, motora e na fala → Alta mortalidade: 20% sem tratamento e 5-10% com tratamento → Síndrome de Wernicke e Korsakoff Síndrome de Wernicke-Korsakoff → Associada a déficit de tiamina → Ocorre em 5% dos pacientes → Sinais neurológicos (ataxia, disartria paralisia do VI par craniano, paralisia oculomotora) Benzodiazepínicos → Quadro variável → Tratamento: substituição do BZD por um de meia-vida maior → Quanto maior a meia-vida do benzodiazepínicos, mais tempo demora para iniciar a síndrome de abstinência → Quando a dose-equivalência é desconhecida, o desafio com fenobarbitalpode ser realizado. Uma dose de 200 mg de fenobarbital é administrada ao paciente, e o nível de sedação é avaliado. Enquanto o paciente não demonstrar sinais de sedação, 100 mg de fenobarbital são administrados a cada hora. Opioides → Tratamento: excluir co-morbidades e outras intoxicações → Avaliar necessidade de internação → Agonistas opioides: metadona (meia-vida mais longa) → Agonista alfa-2-adrenérgico (clonidina): diminuição dos sintomas autonômicos → Antagonistas opioides: naltrexona → Buprenorfina: reúne propriedades da metadona e da naltrexona Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS → A maioria dos fármacos que afetam o SNC agem através da modificação de alguma das etapas do processo de neurotransmissão → Podem atuar na sinapse influenciando: produção, armazenamento, liberação ou término de ação de NT → Outros fármacos podem atuar ativando ou bloqueando receptores pós-sinápticos → Este capítulo dá ênfase à etiologia e ao tratamento farmacológicos de doenças como: Parkinson (DP); Alzheimer (DA); Esclerose Múltipla (EM); e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) Antiparkinsonianos Contra Alzheimer Antiesclerose múltipla Anti ELA Amantadina Apomorfina Benztropina Biperideno Bromocriptina Carbidopa Entacapona Levodopa (+ carbidopa) Pramipexol Prociclidina Rasagilina Ropinirol Rotigotina Selegilina (deprenila) Tolcapona Triexifenedil Donepezila Galantamina Memantina Rivastigmina Azatioprina Ciclofosfamida Dalfampridina Dexametasona Dimetilfumarato Fingolimode Glatiramer Beta-interferona 1a Beta-interferona 1b Mitoxantrona Natalizumabe Prednisona Teriflunomida Riluzol Neurotransmissão no SNC → É similar à que foi estudada para o SNA → Transmissão sináptica é chave → Mas existem várias diferenças entre os neurônicos do SNC e do SN periférico → No SNC: os circuitos são mais complexos, há mais neurônios, há uma potente rede inibitória e são múltiplos sistemas de NT Potenciais sinápticos → Os receptores no SNC estão, na maioria das sinapses, acoplados a canais iônicos → Abertura rápida e transitória desses canais → Potencial pós-sináptico é afetado: despolarização ou hiperpolarização Vias Excitatórias Vias Inibitórias Efeitos combinados de potenciais pós- sinápticos excitatórios e inibitórios Ação excitatória: através da despolarização. PPSEs (potenciais pós-sinápticos excitatórios), gerados por: estimulação de neurônio excitatório, liberando NT (canais de Na+) → influxo de Na+ → despolarização. Se houver aumento do número de neurônios excitatórios estimulados → mais NT é liberado → PPSE ultrapassa o valor limiar (potencial de tudo-ou-nada) Movimento de íons causando hiperpolarização, levando a potenciais pós-sinápticos inibitórios (PPSIs), gerados pelos seguintes fatores: estimulação de neurônios inibitórios liberando GABA ou glicina → aumento da permeabilidade de K+ ou Cl- → influxo de Cl- ou efluxo de K+ causa hiperpolarização → afasta o potencial do limiar de disparo A maioria dos neurônios do SNC recebe PPSEs e PPSIs, simultaneamente. Vários tipos de neurotransmissão podem atuar, cada NT ligando-se em seu receptor específico. A distribuição de neurônios não é uniforme ao longo do SNC, havendo agrupamentos funcionais em determinadas áreas. Vários tratos são “codificados quimicamente”, assim, há oportunidade para modulação seletiva de certas vias neuronais Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Doenças Neurodegenerativas → As graves doenças aqui estudadas se caracterizam por perda progressiva de neurônios específicos em áreas cerebrais limitadas, resultando em distúrbios do movimento, disfunção cognitiva ou ambas as coisas Doenças de Parkinson → É um distúrbio progressivo do movimento muscular → Caracterizado por: tremores, rigidez muscular e bradicinesia. Além de anormalidades de postura e de marcha, fácies cérea (inexpressiva, congelada, “de cera”) → Maioria dos casos em indivíduos com mais de 65 anos (1 a cada 100) Etiologia → Desconhecida (sistema da ubiquitinaproteossomo? Parkina? Alfa- sinucleína?) → Degeneração de neurônios dopaminérgicos na substância negra → Menor ação da dopamina no corno estriado (controle motor) Substância negra → É parte do sistema extrapiramidal → É a origem dos neurônios dopaminérgicos que terminam no estriado → As projeções dopaminérgicas da substância negra disparam tonicamente, contínua, sobre a atividade motora e não em resposta a um movimento específico Neoestriado → O neoestriado está ligado à substância negra através de neurônios inibitórios GABAérgicos (além de receber, dela, ação inibitória dopaminérgica) → A destruição dos neurônios dopaminérgicos implica em uma superprodução ou hiperatividade relativa de ACh pelos neurônios estimulantes no estriado, resultando na perda do controle muscular Parkinsonismo secundário → Diversos fármacos (fenotiazínicos, haloperidol) ao bloquear dopamina podem produzir sintomas de parkinsonismo (pseudoparkinsonismo) Estratégias de tratamento → Vários dos sintomas da doença de Parkinson refletem um desequilíbrio entre os neurônios colinérgicos excitatórios e o número muito diminuído de neurônios inibitórios dopaminérgicos → O tratamento dirige-se: ao aumento da atividade dopaminérgica e ao antagonismo de atividade colinérgica Fármacos usados da doença de Parkinson → Levodopa e carbidopa; Seleginina e rasalagina (inibidores da MAO-B); Inibidores da COMT; Agonistas de dopamina; Amantadina (ação NMDA) Levodopa e Carbidopa → Levodopa é o precursor metabólico da dopamina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → No início da doença há cerca de 20% de neurônios dopaminérgicos na substância negra (população residual) → Como tempo, mais células são perdidas e começam a ocorrer flutuações na resposta (no controle motor) → O alívio é sintomático apenas → A carbidopa é um inibidor da dopadescarboxilase periférica, permitindo que mais levodopa chegue inalterada ao SNC Mecanismo de ação → Dopamina não atravessa a BHE → Levodopa (um aminoácido) atravessa = Precisa ser administrada em conjunto com a carbidopa, para evitar transformação periférica → A carbidopa é um inibidor da dopadescarboxilase: não passa a BHE. Age na periferia. Diminui a dose necessária de levodopa em 4 a 5 vezes. Tratamento combinado: Levodopa + Carbidopa Precursor da dopamina Inibidor da dopa descarboxilase Atravessa BHE Não atravessa BHE Usos terapêuticos → Eficaz na DP → Reduz rigidez, tremores e outros sintomas do parkinsonismo → Em 2/3 dos pacientes a associação levodopa/carbidopa é efetiva nos primeiros anos da doença → Do terceiro ao quinto ano usualmente ocorre diminuição da resposta → A retirada do fármaco deve ser gradual Absorção e biotransformação → A levodopa é rapidamente absorvida no intestino delgado, em jejum → Meia-vida curta (1-2 horas) → Efeito on-off (flutuações na resposta, independentes dos níveis séricos) → Refeições ricas em proteína podem interferir no transporte de levodopa ao SNC → Por isso, deve ser ingerida em jejum, 30 minutos antes das refeições Levodopa X Dieta hiperproteica → A levodopa tem a ação terapêutica inibida por dieta HIPERproteica; entretanto, uma dieta HIPOproteica potencializa e estabiliza esse efeito → Esse efeito está relacionado com o fato dos aminoácidos competirem com a levodopa tanto pela absorção intestinal quanto pela penetração no cérebroBases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → O biotransportador que transporta a L-dopa do sangue para dentro do SNC (através da BHE) é o mesmo que transporta aminoácidos Efeitos adversos → Efeitos periféricos: Náuseas/vômitos (estimulação da zona quimiorreceptora); anorexia; taquicardia e extrassístoles (efeito no coração); hipotensão; midríase (ação adrenérgica); a saliva e a urina ficam de coloração marrom por produção de melanina → Efeitos no SNC: alucinações visuais e auditivas; movimentos involuntários (discinesia); problemas psiquiátricos. São efeitos opostos aos dos sintomas de Parkinson e refletem hiperatividade dopaminérgica nos gânglios basais → Questão ainda em aberto: ocorreria aumento da neurotoxidade e progressão acelerada da doença? Interações e complicações → Piridoxina (vitamina B6) aumenta a hidrólise de dopamina e diminui sua eficácia → Administração de IMAO não seletivo pode causar crise hipertensiva = contraindicada! → Levodopa piora psicose. → Possível desenvolvimento de arritmias em pacientes cardiopatas → Fármacos antipsicóticos são, em geral, contraindicados na doença de Parkinson; contudo, por vezes, é necessário usá-los (os atípicos) em baixas doses IMAOs X Tiramina → A tiramina é um derivado do aminoácido tirosina, que provoca um aumento da pressão arterial. Normalmente, ela é metabolizada pela MAO → Se o paciente estiver usando um inibidor inespecífico da MAO, pode ocorrer um acúmulo de tiramina no organismo e, consequentemente, uma crise hipertensiva → Por isso, pacientes que utilizam IMAOs, precisam evitar alimentos ricos em tiramina, como queijos maturados, carnes, vinhos, cerveja, uva passa, molho de soja... → Os cuidados com a dieta devem ser mantidos por 15 dias após a interrupção do tratamento com IMAOs, pois a inibição da MAO continua por 15 dias. Seleginina e rasagilina → Seleginina (deprenila) inibe seletivamente a MAO-B (em dose usual) → Diferentemente dos IMAO-A ou não seletivos, há pouca chance de haver crise hipertensiva (pois não deve ocorrer inibição do metabolismo de NE e 5-HT) → É biotransformada em anfetamina e metanfetamina (risco de insônia) → A rasagilina é um inibidor irreversível da MAO-B. Cinco vezes mais potente que a seleginina e não é biotransformada em anfetamina ou metanfetamina Inibidores da COMT → A metilação da levodopa pela COMT em 3- O-metildopa é uma via menos importante na sua metabolização → Contudo, quando a atividade periférica da dopamina-descarboxilase é inibida pela carbidopa, forma-se muita 3-O-metildopa (que compete com a levodopa pelo transporte ativo para o SNC) → A inibição da COMT é útil nesse contexto, diminuindo a formação de 3-O-metildopa e permitindo que mais levodopa entre no SNC Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Farmacocinética → Boa absorção VO → Sem influência da alimentação → Extensa ligação à albumina → Tolcapona tem duração de ação relativamente longa → Ajuste de dose em pacientes com cirrose Efeitos adversos → Diarreia, hipotensão postural, náuseas, anorexia, discinesias, alucinações e distúrbios do sono → Com a tolcapona, pode ocorrer necrose hepática fulminante. Seu uso deve ser utilizado apenas quando as outras opções falharem. → A entacapona é considerada segura! → Enterocapona (VO): não penetra no SNC → Tolcapona (VO): penetra no SNC Agonistas de receptor de dopamina → Temos a bromocriptina (um derivado do ergot - fungo) e os não derivados do ergot (ropinirol, pramipexol, rotigotina e a apomorfina). → Duração de ação mais longa que a levodopa, eficazes nos pacientes com flutuações on-off. → A apomorfina é usada injetável em complemento a doses orais de outros fármacos em estágios graves e avançados da doença. → Efeitos adversos: sedação, alucinações, confusão, náusea, hipotensão → Os agonistas dopaminérgicos retardam as complicações motoras e geralmente são iniciados antes da levodopa em pacientes que têm doença leve e menos idade no início, pois pode retardar a necessidade de começar o tratamento com levodopa Bromocriptina → Ações similares às da levodopa, mas mais efeitos adversos psíquicos e TGI e menos discinesia. → Pode piorar as condições em doenças psiquiátricas → Potencial para fibrose pulmonar e retroperitoneal Apomorfina, pramipexol, ropinirol e rotigotina → Não são derivados do ergot Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Permitem retardar a necessidade de usar levodopa no início da doença → Não agravam distúrbios vasculares, nem causam fibrose → Pramipexol exige ajustes na IR → Interações via CYP1A2 (fluoroquinolonas, p. ex.) e na secreção tubular (cimetidina, p. ex.) Amantadina → É um antiviral (usado na gripe - influenza) → Tem ação antiparkinsoniana (uma descoberta acidental) → A ação primária é, possivelmente, sobre os receptores de glutamato do tipo NMDA → Mas libera dopamina, entre outras substâncias. → É menos eficaz que a levodopa e desenvolvese tolerância com mais facilidade; mas apresenta menos EA. Fármacos antimuscarínicos → São menos eficazes que a levodopa → Tem papel auxiliar → Benzotropina, triexifenidil, prociclidina e biperideno possuem ações, em tese, similares (mas que podem variar de pessoa para pessoa) → O bloqueio da transmissão colinérgica ajuda a reequilibrar o funcionamento desbalanceado → Podem provocar xerostomia, alterações do humor, constipação e alterações visuais (bloqueio muscarínico); são contraindicados em pacientes com glaucoma, hiperplasia de próstata ou estenose pilórica Agentes neuroprotetores → Antagonistas glutamatérgicos (protegem contra a excitotoxicidade associada ao influxo de Ca++ no neurônio via receptor NMDA) → Antioxidantes → Coenzima Q10 → Anti-inflamatórios Estimulação cerebral profunda (DBS) → Estimulação do globo pálido e/ou do núcleo subtalâmico → A estimulação deprime a ativação anormal e ativa neurônios inibitórios que, em conjunto, suprimem os movimentos anormais → A terapia ajuda a modular os efeitos hipocinéticos e hipercinéticos Discinesias induzidas por fármacos - Os sintomas da Doença de Parkinson (extrapiramidais) podem ser induzidos por fármacos que bloqueiam os receptores da dopamina no cérebro, como antipsicóticos (haloperidol) e antieméticos (metoclopramida) - O MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetraidropiridina), que é um subproduto da síntese de derivados ilícitos da meperidina, pode provocar doença de Parkinson irreversível através da destruição dos neurônios dopaminérgicos no trato nigroestriatal. Terapia farmacológica Distonia aguda Distonia tardia - Bloqueador muscarínico (benzotropina) - Anti-histamínico (difenidramina – ação anticolinérgica) - Benzodiazepínico (Diazepam) Não há tratamento farmacológico Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Doença de Alzheimer → Há três características importantes: acúmulo de placas senis (beta-amiloides), formação de numerosos entrelaçados neurofibrilares e perda de neurônios corticais (colinérgicos) → O tratamento visa a melhorar a transmissão colinérgica no SNC ou evitar as ações excitotóxicas resultantes da superestimação de receptores NMDA glutamatérgicos → São intervenções paliativas → Nenhum fármaco até aqui alterou a fisiopatologia subjacente → Acúmulo de peptídeo beta-amiloide (placas senis) = EXTRACELULAR → Formação dos emaranhados neurofibrilares (proteína TAU) = INTRACELULAR Inibidores da acetilcolinesterase → A inibição da acetilcolinesterase é capaz de melhorar a atividade dos neurônios que continuam funcionando → São a donepezila, a a galantamina e a rivastigmina (tem seletividade pelo SNC) → Promovem melhora da função cognitiva, em curto prazo, mas não modificammuito a velocidade de progressão da doença → Efeitos adversos: tremores, bradicardia, náuseas, diarreia, anorexia, mialgia Antagonistas de receptores de Nmetil-D-aspartato (NMDA) → A melhora da função glutamatérgica é importante para a formação de memórias → A superestimulação, contudo, pode ser neurotóxica (apoptose via Ca++) → A memantina é um antagonista NMDA indicado para a doença de Alzheimer moderada ou grave → É administrada em função dos seus efeitos neuroprotetores, juntamente com os inibidores da acetilcolinesterase Esclerose Múltipla → A EM é uma doença desmielinizante inflamatória autoimune do SNC → De evolução variável → Historicamente foram utilizados corticoides para tratar as exacerbações agudas → Quimioterápicos como azatioprina e ciclofosfamida também tem sido utilizados Tratamentos modificadores da doença → O principal objetivo dessas medicações é modificar a resposta imune por meio da inibição dos processos inflamatórios mediados por leucócitos, os quais lesam a mielina → E com isso diminuir as taxas de recaídas e/ou, em alguns casos, prevenir o aumento das limitações → Beta-interferon 1a e 1b → Glatirâmer (um polipetdídeo sintético, que funciona como chamariz para os leucócitos) → Fingolimode (altera a migração de leucócitos) → Teriflunomida (inibidor da síntese de pirimidina, reduz a concentração de leucócitos ativos no SNC) → Dimetilfumarato (altera estresse oxidativo) → Natalizumabe (anticorpo monoclonal, usado como segunda linha) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Mitoxantrona (é uma análogo antraciclina citotóxico que mata células T) Tratamento sintomático → Várias classes de fármacos são usadas para tratar sintomas específicos → Em particular, a dalfampridina (um bloqueador de canais de potássio, de uso oral) melhora a velocidade de ambulação em pacientes com EM Esclerose Lateral Amiotrófica → A ELA se caracteriza pela degeneração progressiva de neurônios motores, resultando na inabilidade de iniciar ou controlar o movimento muscular → Causa desconhecida (enzima SOD???) → Os sintomas manifestam-se após os 50 anos de idade → Principais sintomas: fraqueza muscular, fasciculações, atrofia dos músculos (amiotrófica), geralmente em um lado do corpo (lateral) Riluzol (antagonista NMDA) → É o fármaco atualmente disponível para esse manejo → Parece atuar por inibição da liberação de glutamato e por bloqueio de canais de sódio → Pode aumentar o tempo de sobrevida e retardar a necessidade de suporte ventilatório em portadores de ELA Doença de Huntington → Doença hereditária autossômica dominante → Caracteriza-se por coreia e demência progressivas → A coreia resulta da perda de funções GABAérgicas e potencialização da atividade dopaminérgica → Os sintomas manifestam-se entre 30-50 anos de idade → Principais sintomas: espasmos e outros movimentos involuntários (coreia), dificuldade para deglutir e/ou falar, distúrbios cognitivos, distúrbios psiquiátricos (depressão) Tratamento → Farmacológico: medicamentos utilizados para diminuir a atividade dopaminérgica → A terapia com fármacos que potencializam as atividades do GABA e da acetilcolina no cérebro não tiveram sucesso em pacientes com essa doença → Tratamento cirúrgico → Medicamentos utilizados para diminuir a atividade dopaminérgica: Reserpina (VO) e Tetrabenazina (VO). Ação: depletam a dopamina. Efeitos adversos: sonolência, hipotensão e depressão Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OBESIDADE → Obesidade é um termo utilizado para indivíduos com IMC maior do que 30 kg/m2 → Ocorre quando o consumo de calorias excede o gasto metabólico → Quando o IMC >30 ou o IMC>27 com duas comorbidades, o indivíduo é candidato ao tratamento farmacológico da obesidade Anorexígenos Inibidores da lipase Agonistas serotoninérgico Associações Dietilpropiona Fentermina Orlistate Lorcaserina Fentermina + topiramato → A maioria desses fármacos deve ser utilizado por curto prazo apenas. Alguns, contudo, foram aprovados para tratamento de longo prazo → Anorexígenos deveriam, quando utilizados, ter uso curto para evitar dependência → O inibidor da lipase, orlistat, está disponível já há vários anos → Recentemente, o agonista serotoninérgico, lorcaserina, e a associação de fentermina com topiramato foram aprovados para o tratamento da obesidade → Esses fármacos são considerados eficazes se conseguirem reduzir 5% do peso corporal em comparação com o placebo. Usualmente conseguem promover redução entre 5 e 10% do peso Anorexígenos → São os supressores do apetite, fentermina e dietilpropiona Mecanismo de ação → Fentermina: liberação de NE e DA nos terminais e inibindo a recaptação desses neurotransmissores → A dietilpropiona tem efeito similar sobre a NE → Em semanas ocorre tolerância ao efeito da redução da massa corporal e a perda de peso alcança um platô (recomenda-se descontinuação) Farmacocinética → Variável de indivíduo para individuo para a fentermina → A dietilpropiona é rapidamente absorvida e sofre excreção renal → A meia-vida dos metabólitos é de 4 a 8 horas Afeitos adversos → Potencial para dependência e abuso (fármacos de uso controlado) → Pode haver aumento da frequência cardíaca e da PAS → Xerostomia, cefaleia, insônia → Arritmias → IC ou AVE → Uso concomitante de anoréxicos e IMAOS é contraindicado! Inibidores da lipase → O orlistate é o representante → Utilidade clínica bastante limitada pelos efeitos no TGI Mecanismo de ação → É um éster pentanoico que inibe as lipases gástricas e pancreáticas → Diminui a absorção de gorduras em 30 % Farmacocinética Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Administrado por VO. Tem absorção sistêmica mínima → Excretado junto com as fezes → Não necessita ajuste de dose na IR ou na IH Efeitos adversos → Flatulência, manchas oleosas, urgência evacuatória, diarreia (esteatorreia) → Efeitos podem ser minimizados por dieta pobre em gordura (mas essa dieta realmente faz bem?) → Interfere na absorção de vitaminas lipossolúveis (K, A, D e E) e betacarotenos → Interfere na absorção de outros medicamentos: Amiodarona; Ciclosporina; Levotiroxina (precisa haver afastamento de pelo menos quatro horas entre o uso de ambas as medicações) Agonistas serotoninérgicos → A locarserina ativa seletivamente os receptores 5-HT2C → Esses receptores são encontrados quase que exclusivamente no cérebro → É usada para o controle crônico do peso → Outros agonistas serotoninérgicos mais antigos foram retirados do mercado em função dos efeitos adversos fatais: valvulopatias com hipertensão pulmonar Mecanismo de ação 1. Ativação seletiva dos receptores 5-HT2C 2. Isso estimula neurônios POMC que ativam receptores de melanocortina 3. Os quais, por sua vez, diminuem o apetite → Se não houver redução da massa corporal em 5% após 12 semanas, o fármaco é descontinuado. Farmacocinética → É extensamente biotransformada no fígado até dois metabólitos inativos que são eliminados na urina → Não foi estudada na IH grave e não é recomendada na IR grave Efeitos adversos → Os efeitos adversos mais comuns são náuseas, cefaleia, boca seca, tonturas, constipação e letargia → Raramente, alterações de humor e ideação suicida → Pode haver síndrome serotoninérgica ou síndrome neuroléptica maligna → O uso concomitante com inibidores da MAO é contraindicado → Recomenda-se cautela em indivíduos com IC pelo risco de valvulopatia (incerto ainda) Associação de fármacos → A associação de fentermina com topiramato foi aprovada para uso prolongado no tratamento da obesidade → O topiramato promove perda de peso, mas tem efeito sedativo leve, o qual pode sercompensado pela fentermina, que, além disso, promove perda de peso adicional → A medicação é iniciada de forma escalonada e continua a ser usada se promover redução de 5% da massa corporal em 12 semanas → Em caso de descontinuação, ela deve ser também gradual → Risco de malformações fetais com o topiramato → Parestesias, ideação suicida, disfunção cognitiva → Efeitos adversos potenciais com a fentermina (já discutidos) → Risco de hipopotassemiana com a associação de fentermina e diuréticos não poupadores de potássio → O topiramato pode reduzir a eficácia de ACO Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 OBESIDADE – FUNDAMENTOS METABÓLICOS → A obesidade é um distúrbio dos sistemas reguladores do peso corporal e se caracteriza por um acúmulo anormal de gordura → Nas sociedades primitivas, quando as necessidades energéticas corporais (para atividade muscular e aquecimento) eram consideráveis, o acúmulo de gordura corporal representava maior chance de sobrevivência → Ocorre um aumento do consumo de calorias, em combinação com a redução da atividade física Prevalência → Aumenta com a idade → É alarmante o seu aumento entre crianças → Há no mundo hoje mais indivíduos obesos do que subnutridos Determinação da obesidade Índice de Massa Corporal (IMC) → A quantidade de gordura corporal é difícil de ser medida diretamente → A medida indireta usual é IMC = (massa em kg)/(altura em metros)2 Diagnóstico quantitativo da obesidade Tabelas peso x altura IMC Somatória das medidas das pregas cutâneas Impedância bioelétrica de frequência única Espctroscopia bioelétrica de frequência múltipla Condutibilidade elétrica corpóreas total (Tobec) Absorpciometria dual de raios X (DXA) Tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética Potássio corpóreo total Água duplamente marcada Diferenças anatômicas na deposição de gordura Androide → Excesso de gordura localizado na região central do corpo (andróide, em “forma de maçã” ou gordura na região da cintura) → Maior risco para HAS, resistência à insulina, diabetes, dislipidemia, doenças cardíacas coronorianas Ginecoide → Excesso de gordura localizado ao redor do quadril e das coxas e da região glútea (ginecóide, em “forma de pêra” ou gordura na região do quadril) → É definida como uma razão cintura quadril menor do que 0,8 par as mulheres e menor do que 1,0 para os homens → É relativamente benigna (menor risco associado) Medida da cintura → Valores normais: cintura < 95 cm (homens) e cintura < 80 cm (mulheres) → Risco elevado se: cintura > 104 cm (homens) [101, Pamela; 105 por outros estudos] e cintura > 88 cm (mulheres) [90, Pamela; 95 por outros estudos] Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Diferenças bioquímicas nos depósitos regionais de gordura → Células adiposas abdominais são bem maiores do que as de outra região e apresentam uma taxa de renovação mais alta do que as da região do quadril → Os homens tendem a acumular mais a gordura abdominal (e assim também perdem peso com mais facilidade) → As substâncias liberadas pela gordura abdominal têm acesso direto à veia porta (e ao fígado) → o aumento da captação de AGs pode levar à RI, a um aumento da biossíntese de TAG (e VLDL) Número de células adiposas → A capacidade de uma célula adiposa se expandir é limitada → Após este limite, ela se divide → A obesidade parece envolver um aumento tanto do número quanto do tamanha dos adipócitos → Quando um indivíduo perde peso, seus adipócitos diminuem, mas não desaparecem Regulação do peso corporal → O peso corporal da maioria dos indivíduos tende a variar cerca de 10% em torno de um valor de referência → Isso reflete o balanço das calorias ingeridas e do gasto metabólico Contribuições genéticas → A obesidade reflete, em parte, o comportamento alimentar; contudo, a genética é outro fator muito importante (tendência familiar) → Se os pais são obesos, há uma chance de 70-80% dos filhos também serem obesos → Apenas 9% das crianças são gordas quando os pais são magros → Não é um padrão mendeliano simples (herança poligênica complexa e interação como o ambiente) Contribuições ambientais e comportamentais → A epidemia de obesidade verificada nos últimos anos não pode ser explicada por variações genéticas, que demandariam uma escala de tempo bem maior → Fácil disponibilidade de alimentos (palatáveis e ricos em energia) → Estilo de vida sedentário (TV, automóvel, computadores, eletrodomésticos, vidro elétrico) → Ver: efeito do estilo de vida sobre populações que emigram Moléculas que influenciam a obesidade → A obesidade resulta de uma ingestão de calorias que supera o gasto energético → O mecanismo subjacente a este processo envolve a interação de diversos fatores: bioquímicos, neurológicos, ambientais e psicológicos → O apetite é influenciado por: - Sinais aferentes (entrada): sinais neurais, hormônios, metabólitos - Sinais eferentes (saída): peptídeos hipotalâmicos, sinais neurais Hormônios do tecido adiposo → O papel principal do adipócito é armazenar gordura; contudo ele também funciona como uma célula endócrina que libera numerosas moléculas regulatórias: leptina, adiponectina, resistina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Leptina → Estudos sobre a genética molecular da obesidade com camundongos identificaram pelo menos 6 genes associados → Um deles quando knock-out produzia camundongos com obesidade hereditária e grave → Identificou-se que esse gene (Ob) expressa a uma proteína chamada leptina → A leptina é produzida proporcionalmente à massa do adipócito → Assim, os níveis de leptina informam ao encéfalo a quantidade de gordura armazenada e serve para que este regule a quantidade de gordura corporal através do apetite e da regulação do gasto calórico → A secreção de leptina é deprimida pelo jejum e aumentada pelo estado alimentado → A leptina administrada a camundongos obesos (e também aos não obesos) diminui a sua massa corporal → Em humanos, a coisa não é tão simples → Ela aumenta a taxa metabólica e diminui o apetite → Mas os humanos obesos geralmente já têm níveis normais de leptina → Provavelmente ocorra resistência à leptina e não a sua deficiência Outros hormônios do adipócito → A adiponectina e a resistina podem mediar a resistência à leptina observada na obesidade → Atualmente procura-se identificar possíveis defeitos envolvendo a transdução de sinal da leptina que estejam associados à obesidade em humanos Outros hormônios que influenciam a obesidade → A grelina, um peptídeo secretado principalmente pelo estômago – é o único hormônio estimulador do apetite conhecido. Em roedores, grelina IV produz diminuição do gasto calórico e do metabolismo de gorduras e aumenta a ingestão de calorias → CCK (liberada no intestino) pode atuar como sinais de saciedade no cérebro → A insulina não apenas influencia o metabolismo, mas – no cérebro – produz uma diminuição da ingestão de alimentos energéticos Alterações metabólicas observadas na obesidade → Os efeitos predominantes incluem: dislipidemia, intolerância à glicose, resistência à Insulina → Os principais alvos incluem: fígado, músculo e tecido adiposo Síndrome metabólica → Associação entre a obesidade abdominal e um grupo de condições: intolerância à glicose, hiperinsulinemia, resistência à insulina, dislipidemia – com baixos níveis de HDL e altos níveis de VLDL, hipertensão → Risco aumentado para: diabetes e morte por causa cardiovascular (3 - 4 x) Dislipidemia → Resistência à insulina → Hiperinsulinemia → Aumento da atividade da HSL → aumento dos níveis de AGs circulantes (no jejum) → Simultaneamente ocorre aumento da síntese de TAG e de colesterol (VLDL) no alimentado → Concomitantementeocorre diminuição do HDL Obesidade e saúde → Risco aumentado de mortalidade, doenças do espectro da síndrome metabólica, alguns tipos de câncer Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Resultado polêmico: homens “não-gordos” (IMC<25), mas sedentários apresentam um risco de mortalidade duas vezes superior a homens com sobrepeso (IMC27,8) mas em boas condições físicas Redução de peso → Objetivo imediato do manejo de peso: induzir um balanço energético negativo para reduzir o peso corporal → Reduzir ingestão calórica → Aumentar o gasto energético → O seu objetivo secundário: manter a redução da massa corporal Atividade física → Pode induzir o déficit (pelo aumento do gasto energético) → Pode melhorar as condições cardiorrespiratórias → Reduz risco cardiovascular mesmo quando não ocorre queda do peso → Expectativa de perder 5-10% do peso corporal durante um programa de treinamento físico → O exercício é essencial para a manutenção da perda do peso Restrição calórica → 1 kg de tecido adiposo equivale a 7700 kcal → O principal determinante é a redução das calorias mais do que do tipo de componente da dieta → Perdas de 10% do peso frequentemente reduzem a pressão sanguínea, os níveis de lipídeos e melhoram o controle sobre o DM2 Tratamento farmacológico e cirúrgico → Estão aprovadas pelo FDA para uso em adultos com IMC>30 → Sibutramina (inibidor da recaptação tanto da serotonina quanto da noradrenalina) → Orlistat (inibidor das lipases gástrica e pancreática) → Além disso, a cirurgia se configura numa opção para os indivíduos com maior risco e que não tenham respondido a outras formas de tratamento Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANALGÉSICOS OPIOIDES → Controlar a dor é um dos maiores desafios da clínica médica. → Dor é um fenômeno complexo. → É fenômeno subjetivo. → Depende em grande parte de sua configuração: nociceptiva (AINES) ou neuropática (anticonvulsivantes) → Opioides são boa opção para a dor grave ou crônica (por malignidade ou não). → São divididos em classes conforme suas estruturas químicas. → Isso é útil para identificar alergias e reações cruzadas → Todos os opioides agem ligando-se a receptores específicos no SNC para produzir efeitos que imitam a ação de neurotransmissores específicos (p.ex., endorfinas, encefalinas e dinorfinas). → Possuem muitas ações, mas a mais significativa é o alívio da dor. → Os que produzem euforia apresentam potencial para abuso e suas complicações. → Os antagonistas são clinicamente úteis para reverter ações em casos de intoxicação. → Opiáceo: substância natural (plantas) de ação opioide → Opioide: mais amplo, incui substâncias naturais, sintéticas e semissintéticas Agonistas potentes Agonistas moderados/fracos Agonistas-antagonistas mistos e agonistas parciais Outros analgésicos Antagonistas Alfentanila Fentanila (S) Heroína Hidrocodona (SS) Hidromorfona (SS) Meperidina (S) Metadona (S) Morfina (N) Oxicodona (SS) Oximorfona (SS) Remifentanila Sufentanila Codeína (N) Buprenorfina Butorfanol Nalbufina Pentazocina Tapendatol (S) Tramadol (S) Naloxona Naltrexona *** N: natural; SS: semissintético; S: sintético RECEPTORES OPIOIDES → Os efeitos mais importantes ocorrem através de três tipos de receptores: (mi ou “mü”), (capa) e (delta). → Os fármacos se ligam com especificidade diferente a cada uma dessas famílias de receptores. → As encefalinas interagem com os três tipos de receptores na periferia. → Essas três famílias de receptores são do tipo acoplado à proteína G e estão associadas a canais iônicos (aumentando a saída de K+ e diminuindo a entrada de Ca++, o que impede o disparo neuronal e a liberação de NT). → Propriedades analgésicas: mediadas principalmente por (modulam as respostas nociceptivas térmicas, mecânicas e químicas). → Receptores (no corno dorsal) também modulam a sensibilidade térmica e química. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Agonistas opioides → A morfina é o principal fármaco analgésico presente no ópio bruto. → É o protótipo de um agonista potente. → O ópio também contém codeína, em menores quantidades. → Os opioides disponíveis são comparados em relação à morfina. Morfina Mecanismo de ação → Interage com receptores em células específicas do SNC, do TGI e na bexiga. → Atua principalmente sobre receptores . → Também atua em receptores na lâmina I e II do corno dorsal da medula espinal. → Provoca diminuição da liberação da substância P (que modula a percepção da dor na coluna espinal). → Parece inibir a liberação de diversos neurotransmissores excitatórios nos terminais nervosos que levam o estímulo nociceptivo. Ações → Analgesia: causa alívio da dor sem perda da consciência; aumentando o limiar para a dor na medula espinal e alterando a percepção da dor no cérebro. → Euforia: forte sensação de contentamento e bem-estar, provavelmente por desinibição dos neurônios dopaminérgicos da área tegmentar ventral. → Respiração: causa depressão ventilatória por dessensibilização ao dióxido de carbono nos neurônios do centro respiratório. É a causa mais comum de morte na overdose! A tolerância se desenvolve rapidamente (o que permite o uso em pacientes com dor, mas pode estar envolvida da gênese da intoxicação letal). → Depressão do reflexo da tosse: propriedades antitussígenas da morfina e da codeína, provavelmente por ação mediada por outros receptores, diversos dos que provocam analgesia. → Miose: pupila puntiforme é característica; não há tolerância para esse efeito (mediado por e ). = Importante para o diagnóstico, já que muitas outras causas de coma e depressão ventilatória causam dilatação pupilar! → Êmese: a morfina estimula diretamente a ZQR na área postrema, provocando o vômito. → TGI: alivia a diarreia ao diminuir a motilidade e aumentar o tônus do músculo liso intestinal; aumenta o tônus do esfíncter anal; provoca constipação, com pouca tolerância ao efeito; também a aumenta a pressão no trato biliar e constrição do esfíncter biliar. → Sistema cardiovascular: em doses baixas, pouco efeito; em doses altas, pode haver bradicardia e hipotensão. → Pela retenção de CO2, os vasos centrais dilatam e aumentam a pressão do LCE (CSF) → a morfina está contraindica em pacientes com lesão grave na cabeça (TCE). → Liberação de histamina: liberada dos mastócitos, urticária, sudoração e vasodilatação; pode causar broncoconstricção → cautela em paciente com asma! → Ações hormonais: aumenta a liberação de GH e a secreção de prolactina; aumenta o ADH, causando retenção urinária. → Parto: pode haver prolongamento do segundo estágio do parto; diminuindo temporariamente força e frequência das contrações. Farmacocinética → Grande biotransformação de primeira passagem; usa-se IM, SC ou IV. → VO tem absorção errática, mas pode ser usada em formulação de liberação lenta. → Perfil farmacocinético é linear. → Uma porção pequena passa a BHE, pois é o opioide menos lipofílico de todos (outros, como a fentanila e a metadona, penetram facilmente no SNC) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Distribui-se rapidamente na maioria dos tecidos, incluindo o feto da gestante; não deve ser usada no trabalho de parto → RN de mães aditas manifestam síndrome de abstinência → Sofre conjugação: um dos metabólitos (a morfina-6- glicuronídeo) é um analgésico potente; o outro não (a morfina-3-glicuronídeo, a qual pode provocar efeitos excitatórios no SNC). → O efeito é mais demorado quando injetada no espaço epidural (pela baixa lipossolubilidade) → Idosos são mais sensíveis (metabolismo mais lento) e neonatos não devem receber morfina(devido a sua baixa capacidade de conjugação) → Ocorre dependência física e tolerância aos efeitos depressores respiratórios, analgésico, euforizante e sedativo. → A síndrome de abstinência é dramática, mas raramente leva à morte. → Efeitos adversos e interações farmacológicas: hipotensão, disforia (ansiedade, depressão e mal-estar), sedação, constipação, retenção urinária, náusea, potencial para dependência (vício), depressão respiratória (DR) Codeína → É um opioide de ocorrência natural, um analgésico mais fraco que a morfina. → Usada apenas para dor moderada. → É convertida em morfina (de uma forma que varia bastante entre os pacientes). → Usada frequentemente em conjunto com paracetamol. → Boa atividade antitussígena (porém, atualmente, se indica em seu lugar o dextrometorfano, pelo menor potencial de abuso). Oxicodona → É um derivado semissintético da morfina. → É ativa por VO. → Pode ser usada com AAS ou paracetamol. → As formas de liberação lenta estão associadas com risco de óbito. Oximorfina → É um analgésico opioide semissintético. → Por via parenteral é cerca de 10 x mais potente que a morfina; por VO, 3 x mais potente que a morfina. → Não apresenta interações significativas com outros fármacos. Hidromorfona e Hidrocodona → Hidromorfona é análogo semissintético da morfina → Hidrocodona é análogo semissintético da codeína → Ativas por VO. → A hidromorfona é de 9 a 10 x mais potente que a morfina e preferida em pacientes com doença renal. → A hidrocodona tem potência similar à morfina Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Fentanila → É um opioide sintético quimicamente relacionado à meperidina. → 100 X mais potente que a morfina, sendo utilizado em anestesia. → Altamente lipofílica, rápido início de ação e curta duração. → Usada por via IV, epidural ou intratecal. → Existem adesivos transdérmicos e formas de administração pela mucosa (usada em pacientes com câncer e dor com tolerância aos opioides). Sufentanila, Alfentanila e Remifentanila → São agentes opioides relacionados à fentanila. → Diferem em potência e metabolismo. → A sufentanila é mais potente que a fentanila, os outros dois são menos potentes e têm ação mais curta. → Usados, pelas propriedades analgésicas, em procedimentos cirúrgicos que requeiram anestesia. Metadona → É um opioide sintético, eficaz por VO, com potência similar à morfina, mas causa menos euforia e tem ação um pouco mais longa. → As suas ações são mediadas pelos receptores e, além disso, por antagonismo do receptor NMDA e por inibição da captação de norepinefrina e de serotonina. → Tem eficácia no tratamento da dor nociceptiva e da dor neuropática. → É usada na retirada controlada de opioides e heroína em adictos (a síndrome de abstinência que provoca é mais suave, embora seja mais longa). → Não provoca neurotoxicidade, pode aumentar o intervalo QT. → É bem absorvida por via oral e muito lipossolúvel (pode haver intoxicação se não houver cuidado na sua prescrição e atenção para a sua meia-vida longa). Meperidina → É um opioide sintético de menor potência e não-relacionado à morfina. → Usado contra a dor aguda e que atua primariamente nos receptores . → Muito lipofílica e apresenta efeitos anticolinérgicos (incidência elevada de delírio). → Possui um metabólito ativo (normeperidina), excretado por via renal. → Tem ação neurotóxica (mioclonias, convulsões, delírio e hiperreflexia). → Não pode ser usada na IR, IH, em idosos, em pacientes com comprometimento respiratório ou concomitantemente com os iMAO. → Foi descrita síndrome serotoninérgica no uso com ISRS. Agonistas parciais e agonistas-antagonistas mistos → Os agonistas parciais se ligam aos receptores opioides, mas têm atividade intrínseca menor que a dos agonistas totais. → Há um teto para o efeito farmacológicos dessas drogas. → Já os fármacos que estimulam um receptor, mas bloqueiam outro são chamados “agonistas-antagonista”! → Os efeitos desses fármacos dependem da exposição prévia aos opioides. → Em indivíduos que não usaram antes, eles possuem atividade agonista e podem ser usados para o alívio da dor Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Em pacientes dependentes de opioides, os principais efeitos são bloqueadores (produzindo sintomas de abstinência) Buprenorfina → Agonista parcial em receptores . → Atua como morfina em pacientes naïve, mas provoca abstinência em usuários. → O principal uso é na desintoxicação por opioides. → Causa pouca sedação, depressão respiratória ou hipotensão, mesmo em doses elevadas. → Usada por via SL, parenteral ou transdérmica. → Longa duração de ação. → Existe formulação em combinação com a naloxona (para evitar o abuso de buprenorfina). → Se causar depressão respiratória, essa não é facilmente revertida pela naloxona. Pentazocina → É agonista forte e fraco agonista e . → Promove analgesia e usada para controle da dor moderada. → Produz menos euforia do que a morfina. → Em doses altas, provoca depressão respiratória, delírio, disforia, alucinações → Não antagoniza a depressão respiratória causada pela morfina, mas pode provocar abstinência em usuários desse fármaco. → Deve ser usada com cautela em pacientes com angina ou doença coronariana, pois aumenta a PAS e pulmonar e, assim, o trabalho cardíaco. Nalbufina e Butorfanol → São agonistas-antagonistas opioides mistos. → Papel limitado no tratamento da dor crônica. → O butarfanol é usado para cefaleias intensas (uso nasal), mas pode haver abuso → Causa menos psicose que a pentazocina. → A nalbufina não afeta o coração. → Apresentam efeito teto na depressão respiratória (a vantagem e a segurança relativa). Outros analgésicos Tapentadol → É um analgésico de ação central → Agonista → Inibidor da captação de NE → Como não possui metabólitos ativos não é necessário ajuste de dose na IR. → Deve ser evitado em paciente que usam ou receberam iMAO nos últimos 14 dias. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Tramadol → É um analgésico de ação central, agonista e inibidor fraco da captação de NE e de 5HT. → Provoca menos DR que a morfina. → A naloxona só reverte parcialmente a analgesia produzida pelo tramadol. → Pode haver toxicidade se usado com iMAO ou ADT. → Pode haver mau uso e abuso. Antagonistas opioides → Ligam-se com alta afinidade aos receptores opioides, mas não desencadeiam a sua resposta. → Não produzem efeitos significativos em indivíduos “normais”, isto é, não usuários de opioides; no entanto, em pacientes dependentes de opioides, os antagonistas revertem rapidamente os efeitos dos agonistas, como a morfina e outros agonistas totais e precipitam sintomas de abstinência de opioides. Síndrome de abstinência aos opioides → Estágio I: até 8 horas = ansiedade, suplicando pela “droga” → Estágio II: 8 a 24 horas = ansiedade, insônia, distúrbios GI, rinorreia, midríase, diaforese → Estágio III: até 3 dias = taquicardia, náusea/êmese, hipertensão, diarreia, febre, calafrios, tremores, convulsões, espasmos musculares Naloxona → É um antagonista competitivo dos receptores , e . → Usada para reverter o coma e a DR causados por intoxicação por opioides. → Desloca rapidamente a imensa maioria das moléculas do agonista que estão ligadas ao receptor. → A reversão é rápida (dentro de 30 segundos após a injeção IV). → A afinidade por é 10 x maior do que por (por isso a capacidade de reverter a DR). → Tem meia-vida de 30 a 81 minutos; por isso, pode haver retorno da intoxicação após esse período. Cuidado! Naltrexona → Possui ações similares à naloxona. → Tem duração de ação mais longa do que analoxona. → Uma dose única bloqueia o efeito da morfina por 24 horas! → É hepatotóxica. → A naltrexona associada à clonidina (e, algumas vezes, à buprenorfina) é usada na desintoxicação rápida de opioides. → Como já estudado, pode ser útil no tratamento crônico do alcoolismo, embora sejam preferidos, no caso, os BZD e a clonidina. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES (AINEs) → A inflamação é uma resposta fisiológica de reparação tecidual. → Nos tecidos lesados por trauma físico, agentes químicos, infecção... → Quando exagerada, torna-se patológica e demanda tratamento. → Pode advir de disfunção do sistema imune. → Lembrete: Vale revisar a fisiopatologia da inflamação (estimulação de linfócitos T, FNT-, IL-1, PGs, proteína C reativa...) AINEs Outros analgésicos Contra artrite reumatoide Contra gota Ácido acetilsalicílico Ácido mefenâmico Celecoxibe Cetoprofeno Cetorolaco Diclofenaco Diflunisal Etodolaco Fenoprofeno Flurbiprofeno Ibuprofeno Indometacina Meclofenamato Meloxicam Nabumetona Naproxeno Oxaprozina Piroxicam Salicilato de metila Salsalato Sulindaco Tolmetina Paracetamol (acetaminofeno) Abatacepte Adalimumabe Anacinra Certolizumabe Etanercepte Golimumabe Hidroxicloroquina Infliximabe Leflunomida Metotrexato Rituximabe Tocilizumabe Tofacitinibe Alopurinol Colchicina Febuxostate Pegloticase Probenecida Prostaglandinas → Todos os AINEs atuam diminuindo a síntese de prostaglandinas. → Assim, é necessário revisar a sua síntese, a partir do ácido araquidônico. Papel das PGs como mediadores locais → São hormônios locais produzidos em quantidades diminutas em praticamente todos os tecidos. → Tromboxanos e leucotrienos são outros eicosanoides (lipídeos relacionados) Síntese de PGs 1. Via da cicloxigenase → Sintetiza os eicosanoides com estrutura anelar (PGs, TXs e PCs). → Usa duas isoenzimas (a COX-1 e a COX-2). → A COX-1 é constitutiva em todos os tecidos. → A COX-2 está presente no cérebro, rins e osso, de forma constitutiva, podendo ser induzida em outros tecidos. → A expressão da COX-2 pode ser induzida por FNT- e por IL-1 – e pode se inibida por costicosteroides! 2. Via da lipoxigenase → Forma os leucotrienos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Ações das PGs → Medidas por ligação a uma ampla gama de receptores de membrana celular (acoplados à proteína G). → Atuam como mediadores locais fazendo o ajuste fino para o funcionamento celular. → Suas ações variam amplamente de tecido para tecido e, muitas vezes, são complementares ou oposta, p. ex.: - A liberação de TXA2 das plaquetas, durante lesão tecidual, inicia o recrutamento de novas plaquetas e promove a sua agregação e vasoconstrição local; já a PGI2 (prostaciclina) tem o efeito oposto, inibindo a agregação plaquetária e produzindo vasodilatação. - O efeito “líquido” depende do balanço entre esses dois prostanoides! Usos terapêuticos das PGs → Papel na modulação da dor, da inflamação e da febre! → Controle de funções fisiológicas, como: secreção ácida no estômago; produção de muco no TGI; contração uterina; e fluxo sanguíneo nos rins. → As PGs são mediadores liberados nos processos alérgicos e inflamatórios. → A sua modulação é útil no manejo de inúmeros distúrbios, discutidos a seguir. Alprostadil → É uma PGE produzida naturalmente em tecidos como as vesículas seminais, tecido cavernoso, placenta e o ducto arterioso (feto). → Usado para: tratamento de disfunções eréteis; manutenção da patência do ducto arterioso (em RNs com algumas malformações cardiovasculares, até que uma cirurgia possa ser realizada). Lubiprostona → É um derivado da PGE. → Usado no tratamento de: constipação crônica induzida por opioides; e síndrome do intestino irritável com constipação. → Age estimulando os canais de cloreto nas células luminais do epitélio intestinal, estimulando a secreção de líquido. → Náuseas e diarreia são reações adversas Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Misoprostol → É um análogo da PGE. → Indicado para a proteção da mucosa do TGI em tratamento crônico com AINEs. → Interage com os receptores de prostaglandinas nas células parietais gástricas, reduzindo a secreção de ácido gástrico; além disso, tem efeito citoprotetor gastrointestinal por estimular a produção de bicarbonato. → Por isso, diminui a incidência de úlceras gástricas produzidas por AINEs. → Uso extra-bula para indução do parto, aumentando as contrações uterinas. → Risco de aborto em gestantes! Análogos da PG F2 → Bimatoprosta, latanoprosta, tafluprosta e travoprosta. → Indicados para tratamento de glaucoma de ângulo aberto. → Aumentam o efluxo uveoescleral e diminuem a pressão ocular. → Usados em soluções oftálmicas, 1 x ao dia. → O bimatoprosta aumenta a proeminência e o comprimento dos cílios (usado na hipotricose ciliar) → Vários efeitos adversos: visão turva, pigmentação acastanhada da íris, irritação ocular, sensação de corpo estranho. Análogos da prostaciclina → O epoprostenol, a forma farmacêutica da PGI2, de ocorrência natural, e os análogo sintéticos da PGI2 (iloprosta e treprostinila) são vasodilatadores potentes pulmonares, usados no trtamento da hipertensão arterial pulmonar. → Algumas reações adversas ao iloprosta são tonturas, cefaleia, rubor, desmaios Anti-inflamatórios não esteroides → São um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos, com ação antipirética, analgésica e anti- inflamatória. - Derivados do ácido salicílico (AAS, difunisal, salsalato) - Derivados do ácido propiônico (ibuprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno, cetoprofeno, naproxeno e oxaprozina) - Derivados do ácido acético (diclofenaco, etodolaco, indometacina, cetorolaco, nabumetona, sulindaco e tolmetina) - Derivados do ácido enólico (meloxicam e piroxicam) - Dos fenamatos (ácido mefenâmico e meclofenamato) - E do inibidor COX-2 seletivo (celecoxibe) → Diferenças na segurança e na eficácia dos AINE, em parte ao menos, pode ser explicada pela diferente afinidade de inibição das isoformas da COX. → Inibição da COX-2: mais efeito anti-inflamatório e analgésico. → Inibição da COX-1: prevenção de eventos cardiovasculares, mas mais efeitos adversos. Ácido acetilsalicílico (AAS) e outros AINEs → Efeito anti-inflamatório apenas em dosagens relativamente altas. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Mais usado em doses baixas para prevenir eventos isquêmicos vasculares (IAM, AVCisq). → É um inibidor irreversível da COX, diferentemente dos outros AINEs Ações → Mecanismo de ação: por inibição irreversível da COX. → Ácido acetilsalicílico inibe a COX-1 das plaquetas → Ação anti-inflamatória: diminuindo a formação de PGs; os AINEs inibem a inflamação na artrite, mas não impedem o avanço da doença nem induzem remissão. → Ação analgésica: acredita-se que a PGE2 sensibilize as terminações nervosas à ação da bradicinina, da histamina e de outros mediadores liberados pela inflamação. A ação analgésica decorreria, portanto, da diminuição da síntese dessa prostaglandina. → Ação antipirética: a febre também ocorre por ação da PGE2 aumentando o set-point do regulador hipotalâmico. Os AINES não “baixam a temperatura normal no organismo”, apenas a febre! Usos terapêuticos → Como anti-inflamatório e analgésico: no tratamento da osteoartrite, gota e da AR. → Nas condições comuns que requeiram analgesia (cefaleia, artralgia, mialgia e dismenorreia). Em dores mais graves, sua adição pode permitir doses menores de opioides. → O efeito anti-inflamatório requer doses mais altas. → Como antipirético: AAS, ibuprofeno e naproxenosão muito usados. → O AAS deve ser evitado em pacientes febris com menos de 20 anos! Risco de síndrome de Reye (hepatite fulminante com edema cerebral). → Nas prevenções cardiovasculares: para inibir a agregação plaquetária. → Outros usos: usado topicamente para tratamento da acne, de calosidades (calos ósseos e verrugas); contrairritante cutâneo em linimentos. Farmacocinética AAS → Rapidamente desacetilado no TGI por estearases, produzindo salicilatos, os não-ionizados são facilmente absorvidos. → Os salicilatos (exceto o diflunisal) atravessam a BHE e a barreira placentária. → Metabolização hepática por conjugação. Em doses altas pode haver saturação da enzima de conjugação, aumentando a meiavida. → Secreção pela urina, podendo interferir na excreção de ácido úrico (em doses baixas pode inibir, evita-se em pacientes com gota que usem probenecida). Outros AINEs → A maioria tem boa absorção VO e circula ligada a proteínas plasmática. → Metabolização hepática, alguns poucos têm metabólitos ativos. → Eliminação pela urina. Efeitos adversos → Para evitá-los, recomenda-se usar a menor dosagem eficaz, pelo menor tempo possível! AAS dose baixa → tempo de meia-vida = 3 horas AAS dose alta → tempo de meia-vida = 15 horas Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Efeitos GI: são os efeitos adversos mais comuns. Dispepsia e sangramento (desequilíbrio da mucosa). Se precisar usar AINE em paciente com alto risco GI, remenda-se usar PPI em conjunto. → Aumento do risco de sangramentos (efeito antiplaquetário): por isso recomenda-se suspensão do uso, uma semana antes de procedimentos cirúrgicos eletivos. Os AINEs podem “cortar” o efeito antiagregante plaquetáro do AAS se usados concomitantemente. → Ação sobre os rins: a PGE2 é importante na manutenção do fluxo sanguíneo renal. Maior risco em pacientes com IR e IC. → Efeitos cardíacos e encefálicos: fármacos com maior seletividade para a COX-2 estão implicados em risco para o coração (IAM) e AVE. O uso de AINEs, exceto o AAS, é desaconselhado para pacientes com doença cardiovascular estabelecida. → Outros efeitos adversos: pode aumentar as manifestações na asma (por desvio para a síntese dos leucotrienos), alergias. Interações farmacológicas → Grande ligação dos salicilatos às proteínas plasmáticas. → Pode haver deslocamento de fármacos que também se liguem a essas proteínas, aumentando a concentração de: Varfarina, Fenitoína e Ácido valproico Toxicidade → Intoxicação de gravidade variável. → Salicilismo (forma leve): náuseas/vômitos, hiperventilação, cefaleia, confusão mental, tontura e zumbido. → Doses elevadas (intoxicação grave): agitação, delírio, alucinações, convulsão, coma, acidose metabólica, morte por insuficiência respiratória. → Crianças são vulneráveis (10 g de AAS pode levar ao óbito). Gestação → Categoria C para a maioria dos AINEs. → O paracetamol é o mais usado na gestação (mas não está livre de riscos). → Devem ser evitados no último trimestre da gestação (risco de fechamento prematuro do ducto arterioso). Celecoxibe → É um inibidor seletivo da COX-2, reversível. → Usos terapêuticos: AR, osteoartrite e dor levem à moderada. Farmacocinética → Absorção fácil por VO, biotransformado no fígado (CYP2C9), excretado nas fezes e na urina. → Usado uma ou duas vezes as dia. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Deve ser evitado em pacientes com doença renal grave e a dosagem deve ser reduzida pela metade em pacientes com IH grave. → Efeitos adversos: cefaleia, dispepsia, diarreia e dor abdominal. Risco de eventos cardiovasculares similar aos outros AINEs. Risco de sensibilidade cruzada em alérgicos às sulfas. Paracetamol (Acetaminofeno) → É o N-acetil-p-aminofenol, o qual inibe síntese de PGs no SNC, o que explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. → Usos terapêuticos: boa opção em pacientes com problemas GI. É o analgésico/antipirético de escolha em crianças com infecções virais. → Farmacocinética: rapidamente absorvido no TGI. Conjugado no fígado. Uma parte é hidroxilada a (N-acetil- pbenzoquinonaimina), um metabólito altamente reativo e tóxico, se usado em doses altas. Em doses baixas, não. Excretado pela urina. → Efeitos adversos: em dosagens baixa, quase nada; em doses alta, hepatotoxicidade potencialmente fatal, por necrose hepática. Deve ser evitado em pacientes com IH grave. Fármacos antirreumáticos modificadores da doença (FARMD) → Os FARMD são utilizados no tratamento da AR e são úteis para desacelerar o curso da doença, prevenindo dano adicional. → Devem ser iniciados dentro de três meses, do diagnóstico de AR. Escolha do fármaco → Nenhum FARMAD é eficaz e seguro em todos os pacientes. → Monoterapia com qualquer um deles (metrotexato, leflunomida, hidroxicloroquina ou sulfassalazina) em pacientes com baixa atividade da doença. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Para atividade moderada a alta, pode ser requerido tratamento combinado, com dois fármacos ou em combinação com fármacos anti-FNT. → Para doença já estabelecida, o tratamento biológico (anticorpos) é indicado. → A maioria desses fármacos são contraindicados em gestantes. Metotrexato (MTX) → É a base de tratamento de pacientes com AR ou artrite psoriática. → É um antagonista do ácido fólico, o qual inibe a produção de citocinas e a biossíntese de nucleotídeos purínicos, com efeitos imunossupressores e anti-inflamatórios. → A resposta leva de 3 a 6 semanas. → As dosagens são muito menores do que as demandadas no tratamento do câncer. Usado 1 x por semana. → Efeitos adversos comuns: ulceração de mucosa e náuseas. → Na administração crônica, pode haver anemia, cirrose hepática. Usa-se profilaticamente ácido fólico 1 x ao dia. → Requer monitorização de enzimas hepáticas e atenção para infecções! Hidroxicloroquina → Em geral, é usada em associação ao MTX. → Também usado no tratamento da malária e do lupus. → Seu mecanismo de ação em doenças autoimune persiste desconhecido. → Demora de 6 semanas a 6 meses para mostrar ação. → Menos efeitos sobre o fígado e o sistema imune que outros FARMDs, mas pode causar toxicidade ocular (lesão irreversível na retina e depósitos na córnea), alterações na pele, distúrbios no SNC e no TGI. Leflunomida → É um imunomodulador que causa o aprisionamento dos linfócitos autoimunes pela ação na di-hidro-orotato desidrogenase (DIODI). → Após a biotransformação a leflunomida torna-se um inibidor irreversível dessa enzima. → Aprovada para tratamento da AR. → Efeitos adversos: náuseas/vômitos, diarreia, cefaleia, urticária, perda da massa magra, alopecia e hipopotassemia. → Contraindicada na IH. Minociclina → É um antibacteriano (tetraciclina) que funciona como FARMD. → Em geral, não é a primeira escolha. Sulfassalazina → Também para tratamento da AR. → Início de ação em 1 a 3 meses. → Mecanismo ainda não elucidado. → Pode causar leucopenia Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Glicocorticoides → São anti-inflamatórios potentes usados no tratamento da AR como ponte até que o FARMD seja eficaz. → A redução/interrupção é necessária para evita os efeitos adversos associados ao uso prolongado Tratamento biológico para artrite reumatoide → Os inibidores do FNT- (adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, golimumabe e infliximabe) diminuem os sinais e sintomas de AR, diminuindo a progressão da lesão estrutural e melhorando a função física. → Resposta clínica em 2 semanas de tratamento. Em 3 meses, pode-se decidir continuar ou interromper o uso dos FARMDs em curso). → Esses fármacos podem ser usados juntamente com qualquer outra drogaAR (exceto os tratamentos biológicos não FNT (abatacepte, rituximabe, tocilizumabe e tofacitinibe, p. ex.). → Há risco de infecções (tuberculose, sepse, fungos)! → Não se deve utilizar vacinas vivas no período de tratamento! Tratamento biológico sobre o TNF- → Adalimumabe: anticorpo monoclonal, se liga ao FNT- e impede a sua ação. Indicações: AR, psoríase, doença de Crohn. Usado SC, 1 x semana. → Certolizumabe: bloqueador do FNT- que contém um fragmento humanizado. Usado SC a cada 2 semanas. Indicações similares ao adalimunabe. → Etanercepte: é uma proteína de fusão do receptor totalmente humano, que se liga ao FNT-. Usos na AR, na espondilite anquilosante e na psoríase. Usado SC a cada 2 semanas. → Golimumabe: liga-se ao FNT- e bloqueia a sua atividade. Usado SC 1 x ao mês. → Infliximabe: anticorpo monoclonal quimérico. Bloqueia a atividade do FNT- . Indicações: AR, psoríase em placa, colite ulcerativa, espondilite anquilosante e doença de Crohn. Usado IV a cada 8 semanas Tratamento biológico não TNF- → Não devem ser usados com inibidores do TNF- pelo risco aumentado para infecções! → Abatacepte: previne a ativação da célula T por interagir com a proteína CD28, interferindo na apresentação do antígeno. Usado na AR, IV a cada 4 semanas. → Rituximabe: anticorpo monoclonal quimérico que causa depleção de células B. Usado na AR, IV A cada 16 a 24 semanas. → Tocilizumabe: anticorpo monoclonal que inibe a ação da IL-6, bloqueando seu receptor. Usado na AR, IV A cada 4 semanas. → Tofacitinibe: um inibidor da janus cinase (proteína intracelular que modula a atividade das células imunitárias em resposta à ligação de mediadores inflamatórios na membrana celular). Uso oral para a AR. Risco de malignidade secundária ao uso! → Anacinra: antagonista do receptor de IL-1. Uso infrequente na AR, por causar neutropenia. Fármacos usados para tratar gota → Doença causada pelo acúmulo de ácido úrico no sangue, formando cristais (articulações e rins). → A deposição de cristais de urato inicia um processo inflamatório, com infiltração de macrófagos. → A maioria das estratégias terapêuticas contra a gota envolve a redução do nível de ácido úrico abaixo do ponto de saturação (6mg/dl): interferindo-se na síntese do ácido úrico ou aumentando a sua excreção Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Tratamento da gota aguda → As crises podem ser desencadeadas por consumo de álcool, dieta rica em purinas ou doença renal. → Uso de AINEs , corticosteroides e colchicina são alternativas para o manejo da gota aguda. → Uso clássico da indometacina. → Uso intra-articular de corticoides pode ser realizado (quando poucas articulações estão acometidas; quando muita estão, o tratamento sistêmico com corticoides está indicado). → Deve-se passar a realizar tratamento profilático para prevenir a ocorrência de novas crises, quando ocorrem mais de duas crises por ano, ou na vigência de doença renal crônica, cálculo renal ou tofo (depósito de cristais de urato em articulações, ossos, cartilagens ou outra superfície corporal) Tratamento de gota crônica → As estratégias incluem o uso de inibidores da xantina oxidase (alopurinol e febuxostate, para inibir a síntese), como primeira linha, ou o uso de uricosúricos (probenecida, para aumentar a excreção) nos pacientes intolerantes aos inibidores da síntese. → O início de uso pode precipitar crise de gota, pela alteração brusca dos níveis de urato. Colchicina → É um alcaloide vegetal usado para o tratamento de ataques agudos de gota. Não é uricosúrico nem inibidor da síntese, mas alivia a dor. → Mecanismo de ação: ligação à tubulina, causando despolimerização e desorganizando as funções celulares, modificando a atividade de granulócitos. → A atividade anti-inflamatória da colchicina é específica contra a gota, ocorrendo dentro de 12 horas (precisa ser administradas dentro de 36 horas do início do ataque para ser eficaz). Por razões de segurança, foi completamente substituída pelos AINEs. → EA: náuseas e êmese, diarreia, dor abdominal no uso agudo; no uso crônico: miopatia, agranulocitose, neutropenia, anemia aplástica e alopécia. Alopurinol → É um análogo de purina, inibidor da xantina -oxidase. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Uso na gota e na hiperuricemia secundária a outras patologias. → É bem tolerado, mas podem ocorrer reações de hipersensibilidade (eritemas cutâneos). → Pode interferir na metabolização de outros fármacos (mercaptopurina, azatioprina, teofilina). Febuxostate → É um inibidor da xantina-oxidase não relacionado ao alopurinol. → Mesmo perfil de interações e de EA, porém com reações de hipersensibilidade menos graves Probenecida → É um uricosúrico. → É um ácido orgânico fraco que promove a eliminação renal de ácido úrico, impedindo a reabsorção tubular deste. Pegloticase → É uma forma recombinante da enzima uratoxidase ou uricase. → Atua convertendo ácido úrico em alantoína. Indicado para os pacientes com gota quando falha o tratamento padrão. → Usada em infusão IV a cada 2 semanas. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 FÁRMACOS USADOS PARA TRATAR CEFALEIA → As dores de cabeça mais comuns são a enxaqueca (migrânea), a cefaleia em salvas e a cefaleia tensional. → A enxaqueca: dor pulsante e latejante. Usualmente de 1 a 5 ataques por mês. → A cefaleia em salvas é torturante, aguda e constante. → A cefaleia tensional é uma dor persistente e com sensação de compressão da cabeça. → O manejo envolve evitar as causas deflagradoras (álcool, chocolate e estresse) e realizar tratamento que interrompam as crises, bem como tratamento profilático em pacientes com enxaquecas frequentes ou graves. Tipos de enxaqueca → A enxaqueca é frequentemente agravada por atividade física e acompanhada de náuseas/vômitos, fotofobia, fonofobia. → Sem aura (a maioria dos pacientes). → Com aura: a cefaleia é precedida de sintomas neurológicos conhecidos como auras, os quais podem ser visuais ou sensoriais e/ou causar distúrbios de fala ou motores; mais comumente, esses sintomas prodrômicos são visuais (flashes, linhas em zigue-zague e ofuscamento ocorrendo cerca de 20 a 40 minutos antes do início da cefaleia. Ocorre em 15% dos pacientes → Ambos os tipos de enxaqueca são 3 x mais prevalentes em mulheres. Triptanos Ergôs AINEs Profiláticos Almotriptana Eletriptana Frovatriptana Naratriptana Rizatriptana Sumatriptana Zolmitriptana Di-hidroergotamina Ácido acetilsalicílico Cetorolaco Ibuprofeno Indometacina Naproxeno Anticonvulsivantes Antidepressivos tricíclicos Beta-bloqueadores Bloqueadores dos canais de cálcio Bases biológicas das enxaquecas → Fenômenos como a depressão alastrante (um fenômeno eletrofisiológico, observável em EEG) estão envolvidos. → Redução do fluxo sanguíneo na parte mais posterior do hemisfério cerebral, a qual se alastra gradualmente para a região anterior e outras áreas corticais. → Os fenômenos vasculares se acompanham de alterações funcionais. → Na enxaqueca sem aura, não costuma haver hipoperfusão. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → A dor está mais associada à vasodilatação arterial, tanto extra quanto intracaniana, com liberação de moléculas neuroativas (substância P, neurocinina A e o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina). Tratamento sintomático da enxaqueca aguda → Os tratamentos não-específicos incluem analgésicos como os AINEs e antieméticos (proclorperazina). → Os opioides ficam reservados como medicação de último recurso. → Os tratamentos específicos incluem: triptanos (agonistas 5HT1B/1D) e os alcaloides do ergot(agonistas 5- HT1D). → A ativação dos receptores 5HT1 por esses fármacos levaria à vasoconstrição ou inibiria a liberação de neuropeptídeos próinflamatórios no nervo trigêmio, que inerva os vasos sanguíneos craniais. Triptanos → Almotriptana, eletriptana, frovatriptana, naratriptana, rizatriptana, sumatriptana e zomitriptana. → A sumatriptana é o protótipo da classe. → Eficazes em até 70% dos pacientes. → A sumatriptana é administrada SC, intranasal ou oral (disponível também em combinação com naproxeno). → Início de ação: em 20min, por via intranasal; por via oral, em 1 a 2 horas. → Por cautela, em geral, não são administrados em pacientes com fatores de risco coronariano. Alcaloides do ergot → Ergotamina e di-hidroergotamna, um derivado semissintético da ergotamina. → Ação complexa, ligando-se aos receptores 5-HT1 e a receptores -adrenérgicos e a receptores de dopamina. → Provocam vasoconstrição nos vasos intracranianos. → Existe ergotamina SL, mais eficaz se usada no início da crise. → Deve ser usada com limite de dose (diária e semanal) para não causar cefaleia de rebote ou dependência. → Di-hidroergotamina é usada IV ou intranasal, com eficácia igual ou superior ao sumatriptano. Uso limitado a casos graves de enxaqueca, estando contraindicada em pacientes com angina ou com doença vascular periférica, por serem vasoconstritores significativos. Profilaxia da enxaqueca → Feito quando o paciente tem duas ou mais crises por mês o quando a cefaleia é intensa e complicada por sinais neurológicos graves. → Os -bloqueadores são os fármacos de escolha (propranolol, metoprolol, atenolol, nadolol). → Outra opção: o verapamil (BCC). → Anticonvulsivantes (divalproato, topiramato) e antidepressivos tricíclicos também tem utilidade, especialmente em pacientes com transtorno de humor em comorbidade. Fármacos contra a cefaleia tensional e em salvas → O paracetamol, o AAS e AINEs analgésicos como o naproxeno e o ibuprofeno) são utilizados para alívio sintomático da cefaleia tensional. → Podem ser combinados com a cafeína (a qual parece aumentar a eficácia central do paracetamol e do AAS). → O butalbital é um barbitúrico também utilizado. → Uma estratégia para a supressão da crise nas cefaleias em salva é a inalação de oxigênio (100%) e triptanos (sumatriptano) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisofi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ESTEROIDES SUPRARRENAIS SUPRARRENAL → Córtex (glicocorticoides e mineralocorticoides) → Medula (epinefrina) → Três zonas corticais: 1. Glomerulosa (externa): mineralocorticoides (aldosterona) → regulação de sais e água 2. Fasciculada (intermediária): glicocorticoides (cortisol) → metabolismo normal e reposta ao estresse 3. Zona interna: hormônios androgênicos suprarrenais → As zonas intermediária e interna são controladas por ACTH (em parte a externa é um pouco também). → Os glicocorticoides fazem feedback (-) sobre a secreção de ACTH e CRH. Corticosteroides Inibidores da biossíntese ou função dos adrenocorticoides Betametasona Cortisona Dexametasona Fludrocortisona Hidrocortisona Metilprednisolona Prednisolona Prednisona Triancinolona Cetoconazol (antifúngico) Eplerenona (diurético) Espironolactona (diurético) Corticosteroides → São hormônios, lipossolúveis, que se ligam a receptores intracelulares citoplasmáticos específicos → Após a ligação o complexo hormônio-receptor, o receptor forma um dímero e é translocado para o núcleo, promovendo seletivamente a transcrição gênica (estimula ou inibe a atividade de um promotor adjacente, que inicia ou inibe a transcrição de um gene) → É um mecanismo que demanda tempo; contudo, alguns efeitos são imediatos, como as interações com as catecolaminas para mediar o relaxamento da musculatura brônquica Glicocorticoides → O principal em humanos é o cortisol → Produção diurna (pico principal no final da madrugada e início da manhã e um pico secundário no final da tarde) Funções → Promoção do metabolismo intermediário normal - Gliconeogênese, proteólise muscular, captação de aminoácidos pelo fígado e rim, lipólise. - Insuficiência de corticoides pode causar hipoglicemia de jejum! → Aumento da resistência ao estresse: fornecendo energia para a luta e a fuga. → Alteração do nível das células sanguíneas no plasma: causam diminuição dos níveis de eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos (circulação → tecido linfoide) → Ação anti-inflamatória Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 - Potente ação anti-inflamatória e imunossupressora - Diminuição dos leucócitos circulantes - Diminuição da resposta dos leucócitos e macrófagos em responder a mitógenos e antígenos - Diminuem a produção e a liberação de citocinas pró-inflamatórias (inibindo a fosfolipase A2 e bloqueando a liberação de ácido araquidônico → diminuição da síntese de prostaglandinas e de leucotrienos) - Estabilização da membrana de mastócitos, diminuindo a liberação de histamina → Efeitos sobre outros sistemas - Inibição da secreção de ACTH - Níveis adequados de corticoides são essenciais para a filtração glomerular normal Mineralocorticoides → Auxiliam no controle do volume de água e da concentração de eletrólitos, regulando especialmente sódio e potássio. → A aldosterona age nos túbulos distais e ductos coletores no rim, causando reabsorção de água, sódio e bicarbonato. → Causa eliminação de potássio e de H+ na urina. → Níveis elevados podem causar: alcalose, hipopotassemia, retenção de sódio e água, aumento do volume sanguíneo e da PAS) → O modo de interação hormônio-receptor é similar ao dos glicocorticoides. Usos terapêuticos → Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison) - Diagnosticada pela falta de resposta ao ACTH - Usa-se hidrocortisona (idêntica ao cortisol natural), 2/3 da dose de manhã e 1/3 à tarde - Pode ser necessária administrar a fludrocortisona, um mineralocorticoide quando há deficiência também de mineralocorticoide → Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal secundária ou terciária - Defeito na produção de CRH (hipotálamo) ou ACTH (hipófise) - Usa-se hidrocortisona - Em geral a síntese de mineralcocorticoides é menos prejudicada → Diagnóstico da síndrome de Cushing - Causada por hipersecreção de glicocorticoides (hipercortisolismo), por excesso de ACTH - Pode ser iatrogênico, por excesso de administração de glicocorticoide - Diagnosticada pelos níveis de cortisol plasmático e urinário e pelo teste de supressão com dexametasona (ocorre supressão apenas nos indivíduos normais; na síndrome, não) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita (HAC) - HAC é um defeito enzimático na síntese de esteroides - Pode haver virilização em mulheres - A reposição de corticoide suprime a liberação de ACTH e de CRH - A escolha do hormônio mais adequado depende do defeito enzimático específico → Alívio dos sintomas inflamatórios - Em AR e condições inflamatórias da pele; asma, DII (doença inflamatória intestinal), na osteroartrite (mesmo quando não-inflamatória de origem) → Tratamento de alergias - Rinite, reações alérgicas a fármacos e a soro (transfusões) - Na asma a fluticasona é aplicada topicamente por inalação → Aceleração da maturação pulmonar - Na SARA em recém-nascidos imaturos - Regime de betametasona ou dexametasona IM 48 horas antes do parto prematuro pode acelerar a maturação do pulmão do feto Farmacocinética → Boa absorção por administração VO → Alguns compostos podem ser usados IV, IM ou por injeção intra-articular(infiltração), topicamente ou inalados → Pode haver supressão do eixo HHS com qualquer via; mas, obviamente, é menos provável que ocorra na aplicação tópica → 90 % fica ligado à proteínas plasmáticas (proteínas ligadoras de corticosteroide ou a albumina) → Metabolizados no fígado, por enzima microssomais e conjugação, com excreção pelos rins → Em gestante prefere-se a prednisona (menos efeitos sobre o feto, pois é um pró-fármaco que não é convertido ao composto ativo a prednisolona no fígado fetal). → Dosagem: complexo → é preciso olhar as recomendações para cada tratamento em específico Efeitos adversos → São comuns vários EA em tratamentos de longa duração → Em geral são dose-dependentes → Em pacientes com AR → alta dose → osteoporose (previsível). Precisa haver suplementação profilática de cálcio e vitamina D → Os bisfosfonatos são úteis na osteoporose induzida por glicoorticoides → Aumento do apetite pode ser ou não um efeito adverso; em quimioterapia pode ser desejável Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Retardo do crescimento em crianças, glaucoma, osteoporose, aumento do risco de infecções, aumento do risco de diabetes, distúrbios emocionais, hipopotassemia, hipertensão, edema periférico → Síndrome de Cushing clássica (redistribuição de gordura, face em lua cheia, hirsutismo, aumento do apetite) é observada na reposição excessiva de glicocorticoides → Outras complicações: cataratas, hiperglicemia → Tratamento tópico: estrias, equimoses e atrofia da pele Retirada → Retirada súbita pode ser um grave problema em pacientes que tiver o eixo HHS suprimido, causando insuficiência adrenal aguda, a qual pode ser fatal. → A dosagem deve ser lentamente diminuída e o paciente deve ser rigorosamente monitorado Inibidores da biossíntese ou função dos adrenocorticoides Cetoconazol → É um antifúngico que inibe fortemente a síntese de todos os hormônios esteroides gonadais e suprarrenais; é usado no tratamento de pacientes com síndrome de Cushing Espironolactona → É um anti-hipertensivo que compete com o receptor de mineralocorticoide, inibindo a reabsorção de sódio e podendo antagonizar a síntese de aldosterona e de testosterona → sintomas adversos → É eficaz no tratamento do hiperaldosteronismo e usado também na IC com fração de ejeção reduzida → Útil no tratamento do hirsutismo em mulheres → EA: ginecomastia, hiperpotassemia, irregularidades menstruais e erupções cutâneas Eplerona → Ligação mais específica ao receptor de mineralocorticoide; menos EA endócrinos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 FARMACOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO → Principais patologias: asma, DPOC e rinite alérgica → Tosse é um sintoma comum, por vezes, incoercível → Asma: mais de 500 mil hospitalizações por ano e mais de 2 milhões de atendimentos de emergência (EUA) → DPOC é a quarta causa de morte no mundo → Rinite alérgica afeta 20% da população (EUA) → Tratamento: mudança de estilo vida + medicação Asma Fármacos preferidos no tratamento → A obstrução do fluxo aéreo resulta de bronco constrição (contração da musculatura lisa dos brônquios, inflamação da parede brônquica e aumento da secreção de muco) → Há hiper-reatividade das vias aéreas Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Não é necessariamente uma doença progressiva, mas, se não tratada, pode haver remodelamento das vias aéreas, piorando o quadro Objetivos do tratamento → Diminuir intensidade e a frequência dos sintomas e o grau de limitação para o paciente → Medicação de alívio rápido para os sintomas agudos (beta 2 - agonista de curta ação) → Tratamento farmacológico de longo prazo, para prevenir a inflamação das vias aéreas Beta 2 – agonistas adrenérgicos → Relaxa diretamente o músculo liso das vias aéreas → Alívio rápido (p. ex., salbutamol) - Rápido início de ação (5-30 min) e alívio por 4-6 horas. - Todos os pacientes com asma devem dispor de um BACA (betaagonista de curta ação) para as emergências. - Não são medicamentos úteis (em monoterapia) como tratamento para a asma crônica. - A inalação (versus IV) minimiza os EA. → Controle de longo prazo (p. ex., salmeterol) - Os beta-agonistas de longa ação (BALA), proporcionam broncodilatação por 12 horas. - Não são os fármacos indicados para alívio rápido. - Os corticosteroides por via inalatória (CSI) persistem os medicamentos de escolha para a asma crônica Corticosteroides → Produzem efeito anti-inflamatório direto nas VA → Nenhuma outra medicação é tão eficaz para o controle em longo prazo. → Devem ser usados regularmente → Ações no pulmão: não afetam diretamente o músculo liso das VA; ao diminuir a cascata inflamatória, diminuem a reatividade aos fatores irritantes → Vias de administração - Inalação: diminui a necessidade de uso de esteroide sistêmico; menos efeitos adversos → exige boa técnica - Oral/sistêmico: se houver agravamento, pode ser necessário o uso de metilprednisolona IV ou prednisona oral - Em geral, como o curso é curto, não há supressão do eixo → Efeitos adversos (ver aula passada) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Fármacos alternativos → Nos pacientes mal controlados ou com efeitos adversos intoleráveis aos corticosteroides, outros fármacos podem ser tentados → Esses fármacos devem ser usados juntamanente com os CSI e não como monoterapia! Fármacos modificadores de leucotrienos → Os leucotrienos (LTs) B4 e os cisteinil-leucotrienos (LTC4, LTD4, LTE4) são produzidos a partir do ácido araquidônico pela via da 5- lipoxigenase → Essa enzima é encontrada em mastócitos → O LTB4 é um potente atrator químico de neutrófilos e eosinófilos e os cistenil-leucotrienos promovem a broncoconstrição e a secreção de muco → A zileutona é um inibidor específico da 5-lipoxigenase, prevenindo a formação desses mediadores → O zafirlucaste e o montelucaste são antagonistas específicos dos receptores para leucotrienos (cistenil- leucotrieno-1) → Esse antagonismo é eficaz para prevenir o broncoespasmo induzido por exercício → Farmacocinética: ativos por VO, ligam-se às proteínas plasmáticas → Efeitos adversos: elevação das aminotransferases hepáticas, cefaleia, dispepsia Cromolina → É um anti-inflamatório profilático que inibe a desgranulação e a liberação de histamina dos mastócitos → É útil na asma leve persistente, não serve para manejo da crise, pois não é broncodilatadora → Exige de 3 a 4 doses diárias → EA mínimos Antagonistas colinérgicos → Usa-se o ipratrópio Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Os anticolinérgicos bloqueiam a contração do músculo liso das vias aéreas e a secreção de muco mediadas pelo vago → Não é um broncodilatador usado de rotina, pois tem ação mais lenta; pode ser útil nos pacientes que não toleram os BACA → Pode ser usado em conjunto com os BACA → EA: xerostomia e gosto amargo Teofilina → É um broncodilatador → Tem atividade anti-inflamatória → Já foi a base para o tratamento da asma → Janela terapêutica estreita → Dosagens excessivas podem causar convulsão ou arritmia Omalizumabe → É um anticorpo monoclonal derivado de DNA recombinante que inibe seletivamente a IgE humana, ligando- se a ela e impedindo sua ligação às membranas de mastócitos e basófilos → Limita a liberação de mediadores da reposta alérgica → É indicado no tratamento da asma persistente, moderada ou grave → Uso limitado em função do alto custo → EA: reação anafilática, artralgia, urticária, malignidade secundária Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica → A DPOC é uma doença obstrutiva crônicae irreversível do fluxo aéreo → Sintomas: tosse, produção de muco, falta de ar, compressão torácica, fadiga... → Principal fator de risco: fumo (declínio do VEF1) → Medidas antitabágicas + farmacológicas → O tratamento farmacológico para alívio da sintomatologia inclui, sobretudo, o uso de broncodilatadores e de corticoides Broncodilatadores → Beta-agonistas adenérgicos → Anticolinérgicos (ipratrópio, tiotrópio) → Preferem-se os fármacos de longa ação (BALAs e tiotrópio) → A associação é útil Corticosteroides → São usados em associação com os broncodilatadores de ação longa, em geral naqueles pacientes com VEF1 menor do que 60% do predito → Por outro lado, aumenta-se o risco para pneumonia → Corticosteroides orais não são recomendados em regime de longo prazo, embora possam ser úteis na crise Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Outros fármacos → Roflumilaste é um inibidor da fosfodiesterase-4, de uso oral, usado para diminuir as exacerbações em pacientes com bronquite crônica grave → Não é broncodilatador, não servindo para tratar a crise de broncoespasmo Técnicas de inalação Inaladores de dose mensurada e de pó seco → O inalador de dose mensurada (IDM) tem propelentes que expelem a medicação. → O paciente deve inalar lenta e profundamente, antes e durante a atuação do inalador, para evitar deposição do fármaco sobre a laringe → Uma fração grande (80-90%) acaba se depositando na cavidade oral e laringe e é deglutida; 10-20% do fármaco chega às VA → Já os inaladores de pó seco (IPS) precisam de inspiração rápida e profunda para que o pó chegue aos pulmões Espaçadores → É uma câmara de grande volume conectada a um IDM → Melhoram a oferta de glicocorticoide inalado e são recomendados para todos os pacientes Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Rinite alérgica → A rinite é uma inflamação das membranas da mucosa do nariz e é caracterizada por espirros, prurido nasal e ocular, rinorreia aquosa, congestão nasal e, algumas vezes, tosse improdutiva. → Crises são desencadeadas por alérgenos (pó, pólen, pelos). → IgE evocada pelo alérgeno interage com os mastócitos que liberam leucotrienos. Anti-histamínicos (bloqueadores do receptor H1) → Úteis no manejo da rinite associada à liberação de histamina. → Mais eficazes na prevenção do que no tratamento da crise já estabelecida. → Os de primeira geração (difenidramina e clorfeniramina) causam mais sedação e podem interferir na performance de anticolinérgicos, por isso, em geral, não são usados → Os de segunda geração (fexofenadina, loratadina, desloratadina, cetirizina, azelastina) costuma ser mais bem tolerados. → Podem ser combinados com descongestionantes nasais. Corticosteroides → Corticoides intranasais, como a beclometasona, budesonida, fluticasona e triancinolona, são as medicações mais eficazes para o tratamento da rinite alérgica. → Os pacientes devem ser instruídos a não inalar profundamente, para evitar a absorção sistêmica. → A melhora costuma ser percebida com 1 a 2 semanas de tratamento. Agonistas alfa-adrenérgicos → Os alfa-agonistas adrenérgicos de curta ação são descongestionantes nasais, como a fenilefrina, contraindo as arteríolas dilatadas da mucosa nasal e reduzindo a resistência das vias aéreas. → Não devem ser usadas por mais de 3 dias, pelo risco de congestão nasal de rebote (rinite medicamentosa). → Não são fármacos que devam ser usados no controle de rinite crônica. Outros fármacos → Cromolina intranasal: útil quando administrada antes do contato com o alérgeno. → Alguns antagonistas de leucotrienos podem ser utilizados, embora com resposta clínica mais fraca. → Ipratrópio de administração tópica intranasal. Tosse → A tosse é um mecanismo de defesa importante. → Tosse incoercível pode ter várias etiologias: resfriado, sinusite, doença respiratória subjacente. → Quando defesa contra uma infecção bacteriana subjacente, a tosse não deve ser suprimida. → Deve-se ter certeza de que um tratamento antitussígeno é adequado, quando essa for a intenção. Opioides → Usa-se codeína para diminuir a sensibilidade do centro da tosse no SNC Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Efeito que ocorre com doses menores do que as analgésicas. → Podem ocorrer EA: constipação, disforia, fadiga. → Há potencial de adição. → O dextrometorfano pode ser usado (um derivado sintético da morfina), em doses baixas não é analgésico , nem causa dependência e tolerância, possuindo um perfil de EA mais seguro do que a codeína Benzonatato → É uma droga que suprime a tosse por ação periférica. → Anestesiando os receptores de estiramento localizados nas passagens respiratória nos pulmões e na pleura. → EA: tontura, dormência na língua, na boca e na garganta. Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 FARMACOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO → São quatro as condições médicas de interesse: úlceras pépticas e doença de refluxo gastroesofágico (DRGE), êmese produzida por drogas antineoplásicas, diarreia e constipação → Alguns fármacos úteis já foram estudados anteriormente, como, p.ex., os opioides (difenoxilato) Antimicrobianos Bloqueadores do receptor H2 da histamina Inibidores da bomba de prótons (IBP) Antiácidos Prostaglandinas Amoxicilina Claritromicina Compostos de bismuto Metronidazol Tetraciclina Cimetidina Famotidina Nizatidina Ranitidina Dexlansoprazol Esomeprazol Lansoprazol Omeprazol Pantoprazol Rabeprazol Bicarbonato de sódio Carbonato de cálcio Hidróxido de alumínio Hidróxido de magnésio Misoprostol Antimuscarínicos Dicilomina Protetores da mucosa Subsalicilato de bismuto Sucralfato FÁRMACOS USADOS PARA TRATAR ÚLCERAS PÉPTICAS E REFLUXO GASTRESOFÁGICO → Fatores de risco principais: infecção por Helicobacter pylori e o uso de AINEs → Aumento da secreção ácida também tem papel nesse quadro. → O tratamento inclui: erradicação do H. pylori (antibióticos); diminuição da secreção ácida (PPI ou antagonistas H2) e fármacos protetores da mucosa (misoprostol, sucralfato) Antimicrobianos → Visando à erradicação do H. pylori → Diagnóstico via biópsia ou por outros métodos não-invasivos (sorologia e ureia expirada) → Erradicação → cicatrização da úlcera ativa e baixa taxa de recorrência (15% contra algo entre 60-100%) → Várias combinações de antibióticos são possíveis (taxa de sucesso de 80-90%) → Atualmente o tratamento de escolha inclui: PPI (IBP) com amoxicilina (ou metronidazol) e claritromicina. → Outra opção: tratamento quádruplo (subsalicilato de bismuto + metronidazol + claritromicina + IBP) – em regiões onde é elevada a resistência → Obs: a DRGE não está associada ao H. pylori e não responde aos antibióticos Agonistas de receptor H2 e regulação da secreção gástrica → A secreção gástrica é estimulada por acetil-colina, histamina e gastrina, as quais estimulam a bomba de H+/K+-ATPase → Bloqueando os receptores de histamina, há diminuição da secreção ácida. → Cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina bloqueiam até 90% da secreção ácida. → A cimetidina é o protótipo, mas possui muitos EA e interações, limitando seu uso Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Ação → Bloqueio seletivo dos receptores H2 Usos terapêuticos → O uso diminuiu após a liberação dos IBP, mas inclui: → Úlceras pépticas: em pacientes com úlcera secundária ao uso de AINE deve se utilizar IBP → Úlceras de estresse agudo: são usados anti-histaminícos IV; uso adjuvante de IBP vem se tornando mais comum → DRGE: eficazes em cerca de 50% dos pacientes (demoram cercade 45 min para agir; antiácidos provocam alívio mais imediato, mas têm efeito temporário e há rebote, daí a preferência atual por IBP) Farmacocinética → Ampla distribuição, incluindo placenta e BHE. A meia-vida pode aumentar em pacientes com IR, exigindo ajuste. Efeitos adversos → Em geral são bem tolerados; cimetidina possui efeitos endócrinos, podendo atuar como antiandrogênio não esteroidal (ginecomastia e galactorreia) IBPs: inibidores da bomba de prótons H+/K+ – adenosina trifosfatase → Se ligam à enzima, suprimindo a secreção de íon hidrogênio. Ações → São pró-fármacos, com revestimento entérico ácidoresistente, removido no pH alcalino do duodeno. Ligam- se irreversívelmente à enzima. Interrompem a secreção por até 18 h (então, ocorre ressíntese da enzima). Usos terapêuticos → São superiores aos bloqueadores H2 na inibição da secreção ácida. → Uso na profilaxia de úlceras de estresse, DRGE, esofagite erosiva, úlcera duodenal ativa e condições hipersecretoras patológicas (Doença de ZollingerEllison). → Diminuem risco de sangramento em úlceras por uso de AINEs. → Usados 1 ou 2X ao dia. Uma estratégia é usar IBP de manhã e bloqueador H2 pela tarde. Farmacocinética → São eficazes por VO; devem ser ingeridos de 30 a 60 minutos antes do desejum ou da maior refeição do dia. Já existem algumas formulações de liberação lenta. Efeitos adversos Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 → Em geral, são drogas bem toleradas, mas podem interferir com o clopidogrel, atrapalhando o efeito preventivo de eventos trombóticos, podem interferir na absorção da vitamina B12 e pode haver prejuízo na absorção de cálcio. → Pode ocorrer diarreia e colite por Clostridium difficile. → Hipermagnesia e aumento da ocorrência de pneumonia também estão descritos → Náuseas, diarreia, cefaleia, distúrbios gastrintestinais, fraturas ósseas (o risco aumenta com o uso prolongado – pelve, punho e vértebras) Prostaglandinas → A prostaglandina E2, inibe a secreção de ácido e estimula a secreção de muco protetor e de bicarbonato. → A sua deficiência pode estar implicada na gênese das úlceras pépticas. → O misoprostol é um análogo da prostaglandina E2. → Uso profilático pode ser indicado; contraindicado na gestação, por ser abortivo. Antiácidos → São bases fracas, que neutralizam o excesso de prótons. → Podem reduzir a atividade da pepsina, por alterar o pH. → Diversos compostos são úteis: sais de alumínio e de magnésio, carbonato de cálcio, cloreto de cálcio, bicarbonato de cálcio (usO prolongado é contraindicado, pois provoca alcalose metabólica) → Usos terapêuticos: alívio dos sintomas na úlcera péptica, na DRGE, devendo ser administrados após as refeições. → Efeitos adversos: sais de alumínio → constipação; sais de magnésio → diarreia. Pode haver acúmulo de eletrólitos em pacientes com IR. Fármacos protetores da mucosa → São citoprotetores, aumentando a proteção da mucosa. → Sucralfato: é um complexo de hidróxido de bismuto e sacarose que se liga às proteínas da mucosa normal e necrótica, protegendo-a, através de um gel. Não é curativo, mas pode aliviar sintomas. Não deve ser administrada ao mesmo tempo que os IBP, antagonistas H2 ou antiácidos. → Subsalicilatos de bismuto: usados como parte do tratamento quádruplo para úlceras. Tem ação antimicrobiana e inibe a atividade da pepsina. Além disso, forma um revestimento que protege a mucosa Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 FÁRMACOS USADOS PARA CONTROLAR NÁUSEA E ÊMESE CAUSADAS POR QUIMIOTERAPIA → Podem ocorrer em diversas situações clínicas, mas são preocupantes, por exemplo, no uso de drogas antineoplásicas, afetando a qualidade de vida e causando abandono do tratamento. O mecanismo que inicia a êmese → São dois os locais, no tronco cerebral, que tem papel chave na via da êmese reflexa: a zona disparadora quimiorreceptora (CTZ), na área postrema (estrutura circunventricular na extremidade caudal do quarto ventrículo), fora da BHE (sentinela!); → E a na formação reticular lateral do bulbo, área que coordena as ações motoras para o reflexo do vômito, respondendo aos impulsos aferentes do sistema vestibular (cinetose), laringe e das estruturas corticais superiores e do tronco cerebral. Ações eméticas dos quimioterápicos → Os quimioterápicos podem ativar a CTZ ou o centro da êmese bulbar. → Vários neurorreceptores tem papel importante, incluindo o receptor de dopamina D2 e de serotonina 5-HT3. → Estímulos corticais superiores (cor, odor). → Atuação periférica por irritação ou lesão do TGI (liberando serotonina – a partir do TGI – e causando resposta emética). ANTIEMÉTICOS → Uma variedade de classes: → Fenotiazínicos: prorcloperazina, forma os primeiros antieméticos, são bloqueadores de dopamina. → Bloqueadores dos receptores 5-HT3: ondansetrona e granisetrona, p.ex., são importantes no tratamento das náuseas provocadas por quimioterapia; por vezes podem provocar aumento do QT. → Benzamidas substituídas: p. ex, metoclopramida; efeitos adversos, incluindo os extrapiramidais impedem o uso prolongado. Obs: já foi utilizada no tratamento de DRGE, como pró-cinético, mas caiu em desuso frente aos IBP. → Butirofenonas: droperidol e haloperidol. São antieméticos moderadamente eficazes, por bloqueio dopaminérgico → Benzodiazepínicos: lorazepam e alprazolam tem baixa potência antiemética. As propriedades sedativas parecem ajudar, particularmente na êmese por antecipação. → Corticosteroides: dexametasona e metilprednisolona, se usadas sozinhas são eficazes contra a náusea da quimioterapia, desde que leve a moderada. O mecanismo antiemético não está firmemente estabelecido, acredita-se que seja pelo bloqueio da síntese de PGs. → Bloqueador de receptor da substância P/neurocinina-1: O aprepitanto atua no receptor de neurocinina no cérebro e bloqueia as ações dessa substância natural. Geralmente utilizada na náusea grave, em associação com corticoides. → Regimes associados: é comum haver necessidade associação para potencialização do tratamento antiemético. Fenotiazínicos Benzamidas substituídas Corticosteroides Proclorperazina Metoclopramida Dexametasona Metilprednisona Bloqueadores do receptor 5-HT3 da serotonina Dolasetrona Granisetrona Ondasetrona Palonosetrona Butirofenonas Bloqueador do receptor da substância para neurocinina – 1 Droperidol Haloperidol Aprepitano Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 ANTIDIARREICOS → Usados para controlar a motilidade que, se aumentada, pode prejudicar a absorção de nutrientes e de líquidos. Antimotilidade Adsorventes Modificadores do transporte de líquidos e eletrólitos Difenoxilato + Atropina Loperamida Hidróxido de alumínio Metilcelulose Subsalicilato de bismuto Antimotilidade → Dois fármacos importantes: o difenoxilato e a loperamida → Ambos são análogos da meperidina (com ações opioides no intestino). → Ativam receptores opioides pré-sinápticos no SN entérico par inibir a liberação de ACh. → Diminuem o peristaltismo. → Em doses usuais não têm efeito analgésico. → Não devem ser usados em crianças ou pacientes com colite grave (podem causar megacólon tóxico) Adsorventes → Hidróxido de alumínio e metilcelulose. → Adsorvem toxinas intestinais ou microorganismos e/ou revestem a mucosa protegendo a parede intestinal. → São muito menos eficazes que os fármacos antimotilidade e podem interferir na absorção de alimentos. Fármacos que modificam o transporte de líquidos e eletrólitos → O salicilato de bismuto, usado na diarreia do viajante, diminui a secreção de líquidos no intestino. → EA: língua escurecida e fezes pretas. Bases da Terapêutica II– Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 LAXANTES → São comumente utilizados contra a constipação, para acelerar o movimento do alimento por meio do TGI. → Classificados com base no seu mecanismo de ação. → Podem comprometer a absorção de outros fármacos. → Risco de desequilíbrio hidroeletrolítico e de dependência. Irritantes e estimulantes Laxantes salinos e osmóticos Laxantes lubrificantes Bisacodilo Óleo de rícino Sena Citrato de magnésio Hidróxido de magnésio Lactulose Polietilenoglicol Óleo mineral Supositórios de glicerina Laxantes volumosos Amolecedores de fezes Ativadores de canais de cloretos Metilcelulose Psyllium Docusato Lubiprostona Irritantes e estimulantes → Sena: amplamente usado. Causa evacuação dentro de 8 a 10 horas, usado por VO. Causa secreção de água e de eletrólitos para a luz do TGI. Útil no tratamento da constipação secundária ao uso de opioides. → Bisacodil: Usado como supositório ou comprimidos revestidos entéricos. É um potente estimulador do cólon do intestino, atuando diretamente nas fibras nervosas do plexo mioentérico. → Óleo de rícino: é um produto irritante do intestino, que aumenta o peristaltismo. Deve ser evitado em gestantes, pois estimula a contração do útero. Lazantes aumentadores de volume → São formadores de bolo. → Formam géis no intestino, causando retenção de água e distensão que favorece o peristaltismo. → Metilcelulose e linho têm ações similares. → Em pacientes imobilizados podem causar obstrução intestinal (cuidado!) Laxantes salinos e osmóticos → Os catárticos salinos (citrato de magnésio, hidróxido de magnésio e fosfato de sódio) são sais não absorvíveis que retém água no intestino → distensão → aumento do peristaltismo. → Soluções com polietilenoglicol são usadas na preparação do intestino para procedimentos endoscópicos e radiológicos. → A lactulose é um dissacarídeo semissintético que também atua como laxante osmótico; também tem uso no tratamento da encefalopatia hepática, por reduzir os níveis de amônia. Laxantes emolientes ou surfactantes → Atuam em superfícies, se tornando emulsificados com as fezes, as quais ficam amolecidas e facilitando a sua progressão. → Docusato de sódio, docusato de cálcio. → Podem levar dias para fazer efeito. → Não devem ser usados simultaneamente com óleo mineral (por risco de facilitar a absorção do óleo) Bases da Terapêutica II – Prof. Eduardo Ghisolfi Carolina Boeira Soares – ATM 2024 Laxantes lubrificantes → Óleo mineral e os supositórios de glicerina. → São lubrificantes. → Óleo mineral deve ser ingerido em posição ereta (de pé) para evitar a aspiração e o risco de pneumonia lipídica ou lipoide. Ativadores de canais de cloro → A lubiprostona é o único fármaco da classe, em uso. → Atua ativando os canais de cloreto para aumentar a secreção de líquidos do lúmen intestinal. → Facilita a progressão das fezes e causa pouca alteração no equilíbrio hidroelétrolítico. → É útil no tratamento da constipação crônica. → Isenta de intolerância ou interações importantes.