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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS DE BOTUCATU/SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS FENOLOGIA DE Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. NA REGIÃO DE BOTUCATU/SP ALUNA: EMILY TOLEDO COUTINHO ORIENTADOR: FILIPE PEREIRA GIARDINI BONFIM Relatório do Trabalho de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Agronômicas para a obtenção do título de Engenheira Florestal. Botucatu – SP 2018 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS DE BOTUCATU/SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS RELATÓRIO DO TRABALHO DE CURSO EMILY TOLEDO COUTINHO ORIENTADOR: Filipe Pereira Giardini Bonfim Botucatu – SP 2018 3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COUTINHO, E. T. Fenologia de Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. na região de Botucatu/SP. 2018. 25 f. Relatório de Trabalho de Curso para obtenção do título de Engenheira Florestal, Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2018. 4 EMILY TOLEDO COUTINHO FENOLOGIA DE Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. NA REGIÃO DE BOTUCATU/SP Relatório do Trabalho de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Agronômicas para a obtenção do título de Engenheira Florestal. Orientador: Filipe Pereira Giardini Bonfim Data de aprovação: ___/___/____ MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Filipe Pereira Giardini Bonfim Universidade. Membro Titular: Renata Cristina Batista Fonseca Universidade. Membro Titular: Helena Souza Ronchi Externo. Local: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP – Campus de Botucatu 5 O VÔO Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti. Não indagues se nossas estradas, tempo e vento, desabam no abismo. Que sabes tu do fim? Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas. Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto. No deslumbramento da ascensão se pressentires que amanhã estarás mudo esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta. Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória. Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro. Desce que nasceste não és mais que um vôo no tempo. Rumo do céu? Que importa a rota. Voa e canta enquanto resistirem as asas. - Menotti Del Picchia E que sempre haja perseverança para lutarmos pelas causas em que acreditamos. 6 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, por todo apoio e confiança. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela bolsa concedida. Aos meus colegas de graduação, por todos os momentos de alegria, aprendizados e superação que compartilhamos. Aos meus amigos de coração Eduardo, Maria Eugênia, Beatriz e Isabela, pois com vocês a vida se torna mais leve. Aos professores da Faculdade de Ciências Agronômicas, especialmente à Renata, Vera, Magali e Carmen, por lecionarem com brilho nos olhos e nos inspirarem. Ao Grupo de Horticultura Orgânica e Biodiversidade, por me fazer enxergar oportunidades, especialmente à Helena, Isabela e ao professor Filipe. E à Natureza, pois sem ela nada somos. 7 RESUMO Em 2004, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com outras instituições iniciou o projeto Plantas para o Futuro, com o intuito de promover a conservação e uso sustentável da biodiversidade. A partir deste projeto, o primeiro material, divulgado em 2011, contou com informações de cerca de 750 espécies, incluindo aquelas que apresentam potenciais alimentício e medicinal, estimulando a conservação e uso das mesmas. De acordo com este projeto, a espécie Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. apresenta grande potencial para cultivo com fins econômicos imediatos e a divulgação e valorização do potencial econômico da espécie é uma das medidas mais importantes para a conservação da espécie, visto que estimula o cultivo e possibilita o manejo sustentável em ambientes naturais. De acordo com Pinto (2015), a fenologia serve como ferramenta para compreender a biologia da espécie em seu habitat natural, fornecendo suporte científico para técnicas silviculturais. Tal estudo também viabiliza planejamentos de manejo sustentável e contribui fortemente para a realização de projetos de restauração (ao informar a época correta de frutificação, facilita a coleta de sementes). Observando a espécie V. quercifolia, notou-se forte correlação com o clima da região para a ocorrência de suas fenofases. A espécie apresenta sua fenofase reprodutiva fortemente relacionada com o aumento de temperatura média (>20°C) ocorrendo o florescimento entre os meses de setembro e dezembro e a frutificação de dezembro a fevereiro, além de apresentar forte correlação da queda foliar com baixas temperaturas. 8 ABSTRACT In 2004, the Ministry of the Environment (MMA), in partnership with other institutions, started the Plantas para o Futuro project with the aim of promoting the conservation and sustainable use of biodiversity. From this project, the first material, released in 2011, had information about 750 species, including those that present potential food and medicinal, stimulating conservation and use. According to this project, the species Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. presents great potential for cultivation with immediate economic purposes and the dissemination and appreciation of the economic potential of the species is one of the most important measures for the conservation of the species, since it stimulates the cultivation and allows the sustainable management in natural environments. According to Pinto (2015), phenology serves as a tool to understand the biology of the species in its natural habitat, providing scientific support for silvicultural techniques. This study also enables sustainable management planning and contributes strongly to the accomplishment of restoration projects (by informing the correct time of fruiting, facilitates the collection of seeds). Observing the species V. quercifolia, a strong correlation with the climate of the region was observed for the occurrence of its phenophases. The species presents its reproductive phenomena strongly related to the increase in average temperature (> 20 ° C), with flowering occurring between September and December, and fruiting from December to February, in addition to showing a strong correlation of leaf fall with low temperatures. 9 ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Mapa de localização dos indivíduos de Vasconcellea quercifolia ........................................... 16 Figura 2 Placas de numeração dos indivíduos ....................................................................................... 16 Figura 3 Fenofases de V. quercifolia A- Senescência; B - Folhas maduras; C - Brotação; D - Floração; E - Frutificação; F - Queda foliar ............................................................................................................... 19 Gráfico 1 Fenofase Queda Foliar ........................................................................................................... 20 Gráfico 2 Fenofase Floração .................................................................................................................. 21 Gráfico 3 Temperatura máxima, média e mínima de Maio/2017 a Março/2018 ................................ 21 Gráfico 4 Fenofase Frutificação............................................................................................................. 22 10 Sumário AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 6 RESUMO ................................................................................................................................... 7 ABSTRACT ............................................................................................................................... 8 ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 9 INTRODUÇÃO GERAL ......................................................................................................... 11 Uso e Conservação dos Recursos Florestais Não Madeireiros no Brasil ................................. 11 A espécie Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. ........................................................................ 12 Fenologia .................................................................................................................................. 13 ESTUDO FENOLÓGICO DA ESPÉCIE VASCONCELLEA QUERCIFOLIA A. ST.-HIL. NA REGIÃO DE BOTUCATU/SP ................................................................................................ 15 Introdução ................................................................................................................................. 15 Metodologia ............................................................................................................................. 16 Resultados e discussão ............................................................................................................. 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 23 11 INTRODUÇÃO GERAL Uso e Conservação dos Recursos Florestais Não Madeireiros no Brasil O Brasil possui em sua extensão cerca de 8,5 milhões de km² de território, de modo a abranger regiões com características edafoclimáticas, socioeconômicas e culturais muito distintas entre si e ao mesmo tempo muito complementares, apresentando grande interdependência, principalmente no que se refere aos biomas e ecossistemas. Por conta de sua peculiar composição, o país é considerado o mais biodiverso de todo o planeta, abrigando mais de 20% de todas as espécies da Terra sendo que, das 35 mil espécies de plantas catalogadas, aproximadamente 55% são espécies endêmicas de ecossistemas do país e 6% estão ameaçadas de extinção (STEHMANN & SOBRAL, 2017 apud MAIA, 2017). Toda essa biodiversidade brasileira está distribuída em seis biomas de diferentes extensões, sendo a Amazônia o maior deles e que possui preocupação mundial frente ao seu desmatamento, além dos outros cinco: Pampa, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Caatinga. O estado de São Paulo compreende, de modo geral, os biomas Cerrado e Mata Atlântica, dois hotspots presentes neste estado que é, segundo o IBGE (2010), o mais populoso do país, com uma população rural de 4,1%, contra 95,9% urbana. Essa numerosa população urbana acaba exercendo indiretamente uma enorme pressão sobre os remanescentes florestais, os quais necessitam de atenção, pesquisa e incentivos de políticas públicas. Tendo em vista tanta riqueza de flora e fauna em território nacional e, mais especificamente, no estado de São Paulo, contrapondo com o constante desenvolvimento associado aos índices de desmatamento, é necessário que haja uma pausa para reflexão sobre como o uso da terra e de nossos recursos florestais está sendo feito, assim como nas consequências dessas ações principalmente para as gerações futuras. Conforme avança o conhecimento sobre a grande biodiversidade brasileira, inclusive através do estudo dos usos tradicionais, há o aumento da variedade de espécies úteis para alimentação, de parentes silvestres de espécies cultivadas, óleos essenciais e uma diversidade de outros produtos (SCARAMUZZA, 2016) além do reconhecimento da necessidade de maiores estudos na área relacionada ao manejo dessas espécies, para assegurar a conservação. 12 Em 2004, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com outras instituições iniciou o projeto Plantas para o Futuro, com o intuito de promover a conservação e uso sustentável da biodiversidade. A partir deste projeto, o primeiro material, divulgado em 2011, contou com informações de cerca de 750 espécies, incluindo aquelas que apresentam potenciais alimentício e medicinal, estimulando a conservação e uso das mesmas. Entre essas espécies, está a Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil, a qual será o objeto deste estudo que pretendeu oferecer uma informação de base, o estudo fenológico, para posteriores avanços do uso e conservação da espécie no Estado de São Paulo. A espécie Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. A família Caricaceae apresenta 35 espécies pertencentes a seis gêneros (Carica, Jarilla, Vasconcellea, Jacaratia, Cylicomorpha e Horovtizia). No Brasil, há os gêneros Carica, Vasconcellea e Jacaratia, sendo o Carica de maior importância econômica com C. papaya L. e o Vasconcellea o mais numeroso da família, com 21 espécies (COSTA, 2008). As espécies pertencentes ao gênero Vasconcellea apresentam na literatura muitas informações utilizando o gênero Carica por conta de alterações realizadas por St. Hilaire, que criou o gênero Vasconcellea em 1837, por Solms que escreveu sobre as espécies transferindo-as para o gênero Carica em 1889 e por Badillo em 1971, reagrupando as espécies em diferentes seções e em 2000, reabilitando Vasconcellea como um gênero da família Caricaceae, por apresentar características morfológicas, taxonômicas e moleculares distintas do gênero Carica (COSTA, 2008; BADILLO, 2000). Todas essas alterações fizeram com que os estudos referentes à Vasconcellea ficassem dispersos na literatura, necessitando de uma ordenação dos dados mais detalhada. A espécie Vasconcellea quercifolia A.St.-Hil. não é endêmica do país, apresentando-se também no sul do Peru, norte da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, em regiões úmidas, formações xerófitas e montanhas altas (COSTA, 2008). V. quercifolia é conhecida popularmente por mamãozinho-do-mato, mamute, jaracatiá, mamoeiro-do- mato e mamão-do-mato, sendo uma planta arborescente, decídua, dioica, latescente, com altura variando de 4 a 8 metros e diâmetro entre 30 e 60 centímetros. As folhas são grandes, com uma variação de 8 a 35 centímetros, simples, com margens lobadas irregularmente, longos pecíolos e nervura principal mais clara e bem marcada. Os frutos 13 são fusiformes, amarelados, tipo baga e com polpa carnosa. As flores femininas localizam-se solitárias um em racemos e as masculinas em racemos axilares, ambos de cor amarelo-creme (KINUPP & LORENZI, 2014). As plantas alimentícias não-convencionais (PANCs) são aquelas que não fazem parte do consumo cotidiano da sociedade (KINUPP, 2007). Tais espécies têm conquistado cada vez mais a atenção da população brasileira, embora o acesso a muitas destas espécies ainda não seja tão viável. A espécie Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil., faz parte do grupo de plantas conhecido como PANCs e apresenta diversas características favoráveis para a sua inserção no mercado. Além do consumo do fruto in natura a espécie apresenta outros usos potenciais, a utilização de seus ramos para a fabricação de doces, como é feito no sul do país, o doce- de-pau-ralado, onde a medula dos ramos de V. quercifolia é ralada e cozida com açucar cristal, acrescida de leite condensado, além de outros produtos preparados tanto com a medula: bolos, compotas, doces,quanto com o fruto: licores, sorvetes, doces, geleias e sucos ((CORADIN; SIMINSKI; REIS, 2011; KINUPP & LORENZI, 2014). Além disso, a espécie apresenta a característica de resistência ao PRSV-P – vírus causador de uma das principais doenças do mamoeiro – fazendo com que V. quercifolia tenha importância econômica também em estudos de melhoramento genético e hibridação com C. papaya, já que o Brasil é o maior produtor e um dos maiores exportadores de mamão do mundo (COSTA, 2008). A espécie também apresenta a papaína, uma enzima proteolítica utilizada industrialmente como amaciante de carne e clareadora de cervejas (KINUPP & LORENZI, 2014), entretanto seu uso vai além, sendo utilizada na indústria farmacêutica como aceleradora de processos de cicatrização e propriedades antiinflamatórias (PISSATO, 2015). Estudos relatam que a atividade proteolítica de V. quercifolia é mais intensa que a de C. papaya (TORRES et al., 2010; TORRES et al., 2012), oferecendo mais um mercado potencial para a espécie. Fenologia A fenologia é uma ciência definida por Lieth (1974) como o “estudo de eventos biológicos repetitivos” que acontece a partir do monitoramento das épocas de ocorrência das fenofases em indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes em seus períodos 14 vegetativos e reprodutivos, com base na análise de correlação entre estes eventos com fatores bióticos e abióticos, ou seja, com fatores edafoclimáticos e a fisiologia da planta. De acordo com Pinto (2015), a fenologia serve como ferramenta para compreender a biologia da espécie em seu habitat natural, fornecendo suporte científico para técnicas silviculturais. Tal estudo também viabiliza planejamentos de manejo sustentável e contribuem fortemente para a realização de projetos de restauração (ao informar a época correta de frutificação, facilita a coleta de sementes). Além disso, segundo Engel (2001), trata-se de uma ferramenta fundamental para o manejo sustentável das florestas tropicais, pois a partir do conhecimento das estratégias reprodutivas das espécies é possível orientar para os melhores períodos de manejo e colheita de modo a garantir populações viáveis e também servir de indicador de sustentabilidade em florestas alteradas. Van Schaik et al. (1993) ressaltam que a época de ocorrência de uma fenofase está mais associada ao clima, ao passo que a intensidade de resposta da espécie está relacionada a fatores bióticos. Entretanto, Engel (2001), cita que a interpretação fenológica com base apenas no clima apresenta-se muitas vezes limitada, pois muitos fatores endógenos também influem na periodicidade das fenofases. Tal questão pode ser melhor compreendida com o estudo de Borchert (1992), onde diz que a periodicidade dos eventos é resultado de uma aclimatação fisiológica à sazonalidade climática, sendo portanto, uma resposta da espécie ao conjunto de fatores bióticos e abióticos ocorridos ao longo do tempo. Nos estudos fenológicos, alguns termos são utilizados de forma padronizada para facilitar a comunicação entre os pesquisadores. Sendo assim, neste trabalho foi observado a sazonalidade da espécie, termo definido por Morellato (1992) como a associação de certo evento fenológico com determinada estação climática definida, a intensidade das fenofases, de acordo com a metodologia proposta por Fournier (1974) e o sincronismo, sendo este último definido como sincrônico ou assincrônico a partir da porcentagem de indivíduos apresentando simultaneamente uma fenofase, conforme Bencke & Morellato (2002). 15 ESTUDO FENOLÓGICO DA ESPÉCIE VASCONCELLEA QUERCIFOLIA A. ST.-HIL. NA REGIÃO DE BOTUCATU/SP Introdução De acordo com a publicação “Plantas do Futuro – Região Sul” (CORADIN; SIMINSKI; REIS, 2011), a espécie Vasconcellea quercifolia A. St.-Hil. apresenta grande potencial para cultivo com fins econômicos imediatos e a divulgação e valorização do potencial econômico da espécie é uma das medidas mais importantes para a conservação da espécie, visto que estimula o cultivo e possibilita o manejo sustentável em ambientes naturais. É uma espécie utilizada tradicionalmente para produção de doces a partir do seu parênquima medular (PISSATO, 2015) e reconhecida no mercado farmacêutico e alimentício pela grande quantidade de papaína que é possível extrair de seus frutos, sendo uma proteína com propriedades anti-inflamatórias e utilizada na indústria alimentícia como amaciante de carne e clareador de cervejas (PISSATO, 2015; KINUPP, LORENZI, 2014). Para que a utilização dos recursos florestais não madeireiros seja feita de forma sustentável de fato, é importante que alguns parâmetros sejam analisados com cautela. Tais parâmetros incluem informações ecológicas, botânicas e agronômicas e podem estar agrupados no cálculo do chamado “Valor Potencial de Exploração Sustentável” (VPES), sendo útil para caracterizar as espécies mais indicadas para que um investimento tanto científico, no âmbito de pesquisas mais aprofundadas na espécie, quanto econômico, no sentido da exploração e comercialização propriamente dita, sejam indicados para a região (UBESSI-MACARINI et al., 2011). Tal cálculo foi realizado para V. quercifolia presente na região da APA Corumbataí – Botucatu – Tejupá Perímetro Botucatu e a espécie apresentou boa resposta social, porém a escassez de algumas informações de importância silvicultural, impossibilitou que o seu VPES fosse o ideal para confirmar sua potencialidade (COUTINHO et al., 2018, no prelo). Através deste estudo, pretendeu-se obter maiores informações sobre o comportamento fenológico da espécie na região de Botucatu/SP a fim de estimular sua utilização e conservação por produtores rurais do município. 16 Metodologia Foi realizado o levantamento dos indivíduos de V. quercifolia presentes no campus da Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP/Botucatu (Figura 1), totalizando 12 indivíduos de diferentes idades, distribuição e ecossistemas. Conforme apresentado no mapa abaixo, há 8 (oito) indivíduos em área parcialmente antropizada (vermelho), com vegetação predominantemente composta por Eucalyptus spp, 1 (um) indivíduo isolado em área de terra nua (azul), localizada no pomar da faculdade e 3 (três) indivíduos em sistema agroflorestal (laranja). Todos os indivíduos foram devidamente plaqueados com numeração em lâminas de alumínio numeradas de 01 a 12 e amarradas ao caule principal com arame largo (Figura 2). Figura 1 Mapa de localização dos indivíduos de Vasconcellea quercifolia Figura 2 Placas de numeração dos indivíduos 17 Análise Qualitativa Pesquisa de campo: A análise qualitativa consistiu na observação quinzenal da presença ou ausência dos eventos fenológicos reprodutivos (floração e frutificação) e vegetativos (brotação, folhas maduras, senescência e queda foliar). Técnicas na Pesquisa: Caminhadas livres, Fichas de monitoramento e Diário de Campo. Espécie vegetal: O material botânico foi coletado ao longo do projeto a fim de obter fotografias de suas partes vegetativas e reprodutivas durante o período de um ano. Análise Semi-Quantitativa Intensidade dos eventos fenológicos: foi estimada individualmente, através de uma escala semi-quantitativa com valores variando entre 0 e 4, onde: 0 = ausência da fenofase; 1 = magnitude da fenofase entre 1% e 25%; 2 = magnitude da fenofase entre 26% e 50%; 3 = magnitude da fenofase entre 51% e 75%; 4 = magnitude da fenofase entre 76% e 100% (FOURNIER, 1974). Os indivíduos levantados foram avaliados quinzenalmente a partir do dia 10 de maio de 2017 até a última avaliação em 18 de abril de 2018. Para a avaliação destes indivíduos, foi elaborada uma tabela simplificada para a coleta das informações de campo necessárias, sendo o preenchimento feito com os níveis de intensidade das fenofases descritas na metodologia (Tabela 1).Os dados completos obtidos durante os 12 meses de observação constam no Anexo I. Tabela 1 Modelo utilizado para coleta de dados de campo ANÁLISE QUALITATIVA DATA N° ID Brotamento Folhas maduras Senescência Floração Frutificação Queda foliar Observações 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 18 Os valores obtidos foram utilizados para calcular o “Porcentual de intensidade de Fournier”, ou seja, a porcentagem de intensidade da fenofase. Para cada avaliação, realizou-se a soma dos valores de intensidade (0 a 4) obtidos para todos os indivíduos. Tal soma foi dividida pelo valor máximo possível (número de indivíduos multiplicado por quatro). O valor obtido foi multiplicado por 100, para transformá-lo em um valor porcentual (BENCKE, 2005). Coeficiente de correlação de Spearman: realizado para verificar a existência de correlação entre as fenofases e as variações ambientais de umidade, temperatura (máxima, mínima e média), precipitação e radiação global. Para estimar a sincronia das fenosafes, utilizou-se a metodologia proposta por Bencke & Morellato (2002), conhecida por “índice de atividade ou porcentagem de indivíduos”, tal que é considerado um evento fenológico não sincrônico ou assincrônico aquele que apresentar valores inferiores a 20% de indivíduos na fenofase, pouco sincrônico de 20 a 60% de indivíduos na fenofase e sincronia alta para valores maiores que 60% de indivíduos na fenofase. Resultados e discussão A espécie Vasconcellea quercifolia é caducifólia, ou seja, em determinado período do ano apresenta perda total de suas folhas como estratégia de sobrevivência em períodos desfavoráveis. Para V. quercifolia, no período estudado, essa característica apresentou-se de forma bem definida durante o inverno. Após o início do inverno (junho) e condições mínimas e/ou nulas de precipitação, a espécie apresentou 100% de queda foliar, sendo que as folhas maduras só começaram a surgir novamente após o fim do inverno (setembro). Em relação às fenofases reprodutivas, a espécie apresentou floração de setembro a dezembro e frutificação mais intensa de dezembro a fevereiro. Cada fase fenológica foi fotografada em determinado período de avaliação para fins de representação das fases fenológicas neste relatório. 19 Figura 3 Fenofases de V. quercifolia A- Senescência; B - Folhas maduras; C - Brotação; D - Floração; E - Frutificação; F - Queda foliar 20 A seguir, os da correlação de Spearman (Tabela 3): Tabela 2 Coeficiente de correlação de Spearman CORRELAÇÕES FENOFASES TEMPERATUR A MÁXIMA TEMPERATUR A MÍNIMA UMIDADE RELATIVA PRECIPITAÇÃO RADIAÇÃO TEMPERATURA MÉDIA Brotamento 0,639099964 0,463689506 -0,395525558 -0,095189169 0,377635552 0,576639685 Folhas Maduras 0,5612193 0,760338573 0,639910624 0,523729819 0,228883063 0,634418568 Senescência -0,014327798 0,19244246 0,420468821 0,252943371 0,017054563 0,100061068 Floração 0,494281959 0,18747754 -0,347628539 -0,057204061 0,571682594 0,365130422 Frutificação 0,498826236 0,655541187 0,462002158 0,325645618 0,205675903 0,550726809 Queda foliar -0,790390858 -0,812864617 -0,153021073 -0,403935411 -0,43481557 -0,807820263 Analisando o coeficiente de Spearman, há uma correlação negativa moderada entre Queda Foliar e Precipitação (-0,40) e uma correlação forte entre Queda Foliar e Temperatura Média (-0,80). Este dado indica que a fenofase de queda foliar está diretamente relacionada às condições de baixas temperaturas e baixa precipitação (Gráfico 1). Gráfico 1 Fenofase Queda Foliar A fenofase de floração ocorreu de forma mais intensa entre os meses de setembro a dezembro. Analisando a fenofase, há uma correlação positiva moderada com temperatura máxima (0,49) e radiação global (0,57). Pode-se observar que quando há aumento 0 20 40 60 80 100 120 Temperatura Média X Precipitação X Folhas Maduras X Queda Foliar Tméd Prec Folhas maduras Queda foliar 21 significativo de temperatura, há o início desta fase fenológica (Gráfico 2). Na região estudada, das avaliações de agosto para as avaliações de setembro houve um aumento médio da temperatura máxima de 5°C (Gráfico 3). Gráfico 2 Fenofase Floração Gráfico 3 Temperatura máxima, média e mínima de Maio/2017 a Março/2018 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Floração x Temperatura Máxima x Radiação Tmax Radiação Floração 0 5 10 15 20 25 30 35 TEMPERATURA (°C) Tmax Tmin Tméd 22 Em relação ao evento fenológico da frutificação, não se pode constatar uma forte correlação entre as variáveis climáticas, entretanto, há correlação positiva moderada entre a frutificação e a temperatura média (0,55), o que é possível notar no gráfico abaixo, pois é a partir do momento que a temperatura aumenta que a intensidade de frutificação também aumenta (dezembro a fevereiro). Outra observação interessante de se fazer é que essa fenofase intensifica-se quando a temperatura média ultrapassa os 20°C, sendo mais constante entre os meses de dezembro a fevereiro (Gráfico 4). Gráfico 4 Fenofase Frutificação A partir do cálculo do índice de atividade dos eventos fenológicos manifestados pelos indivíduos (Tabela 4), foi observado que a espécie apresentou alta sincronia (>60%) entre todos os indivíduos avaliados, independentemente de sua localização (a pleno sol, sistema agroflorestal e área parcialmente sombreada por Eucalyptus spp.). Tabela 3 Índice de atividade dos eventos fenológicos da espécie Vasconcellea quercifolia, em porcentagem, no município de Botucatu/SP. Espécie Brotamento Folhas maduras Senescência foliar Floração Frutificação Queda foliar V. quercifolia 90,5% 97,2% 82,4% 83,3% 98,0% 91,7% O evento fenológico de brotamento ocorreu em maior porcentagem de indivíduos entre os meses de agosto e fevereiro. Para a ocorrência de folhas maduras, a maior porcentagem ocorreu entre outubro e junho. A floração ocorreu entre os meses de 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Frutificação x Temperatura Média Tméd Frutificação 23 setembro e novembro e a frutificação entre novembro e abril. Queda foliar também apresentou alta sincronia entre os meses de abril e agosto. A determinação da sincronia é um fator muito importante na produção pois implica diretamente no planejamento e nas técnicas de manejo utilizadas em campo. Quanto maior a sincronia da fenofase de interesse maiores são as facilidades de manejo da espécie. No caso da espécie estudada, a alta sincronia na fenofase de frutificação é um fator positivo, sendo o fruto uma das matérias-primas que podem ser exploradas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Visto que a espécie já apresenta uma cadeia produtiva estabelecida no sul do país e tendo o conhecimento básico da fenologia reprodutiva e vegetativa da espécie na região de Botucatu, sendo estas diferentes das épocas do Sul, é possível auxiliar os produtores rurais a desenvolver um comércio com a espécie no município de Botucatu/SP e região. Pensando no pequeno produtor e em alternativas para a utilização da reserva legal, é possível que este possa alternar a exploração sustentável desta espécie com a de outros recursos florestais madeireiros e não madeireiros, obtendo renda considerável com sua área de reserva legal. Outros estudos precisam ser desenvolvidos com a espécie para que haja informações suficientes em relação a sua silvicultura, possibilitando um manejo sustentável, visto que além das vantagens econômicas, a V. quercifolia apresenta muitas vantagens ecológicas que devem ser levadas em consideração. Além disso, ações na área social são fundamentais para que a espécie alcance popularidade de consumo noEstado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BADILLO, V. M. Carica L. vs. Vasconcella St. Hil.(Caricaceae) con la rehabilitación de este último. Ernstia, v. 10, n. 2, p. 74-79, 2000. BENCKE, C. S. C. Estudo Da Fenologia De Espécies Arbóreas Em Uma Floresta Semidecídua No Parque Estadual De Itapuã, Viamão, RS. 2005. 65f. Tese (Doutorado em Ecologia) - Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul, Porto Alegre. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/10000/000580385.pdf BENCKE, C. S. C.; MORELLATO, L. P. C. Comparação de dois métodos de avaliação da fenologia de plantas, sua interpretação e representação. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 25, n. 3,p. 269-275, 2002. BORCHERT, R. Computer simulation of tree growth periodicity and climatic hydro periodicity in tropical forests. Biotropica, v. 24, n. 3, p. 385-395, 1992. 24 CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. 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