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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 1 CONCEITO O direito das obrigações regula a relação jurídica pessoal entre dois sujeitos determinados, de um lado o sujeito ativo (credor) e do outro lado o sujeito passivo (devedor). Obs.: a relação jurídica real tem características próprias, dentre as quais está a tipicidade. Toda relação real tem previsão legal. Não se inventa direitos reais. Já a relação obrigacional não exige tipicidade. A obrigação propter rem, de natureza híbrida ou mista (real e obrigacional), é aquela que vincula pessoas (credor e devedor) e se justapõe a uma coisa, acompanhando-a. Ex.: Obrigação de pagar taxa de condomínio. Em qualquer relação obrigacional as partes devem atuar segundo a cláusula geral de boa-fé, com lealdade, equilíbrio e harmonia recíprocos. Nova visão do direito civil, ligado à eticidade, boa-fé, função social do contrato. Exemplo de cooperação observa-se no instituto norte-americano do duty to mitigate the loss – dever de mitigar a perda. Por meio do “dever de mitigar”, à luz do princípio da boa-fé, na relação obrigacional, até mesmo o credor, em cooperação com o devedor, deve atuar para mitigar a extensão do débito. Pode-se dizer como exemplo o fato do CPC buscar a execução menos grave para o devedor. O que é fonte da obrigação? É o fato jurídico que constitui a relação obrigacional. Elas sem classificam em: a) Atos negociais (contrato, promessa de recompensa, testamento); b) Atos não negociais (fato da vizinhança); c) Atos ilícitos. CLASSIFICAÇÃO BÁSICA DAS OBRIGAÇÕES: http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 2 1) Dar: A obrigação de dar tem por objeto a prestação de coisa (transferir propriedade, posse ou restituir). a) Dar coisa certa: CC, a partir do art. 233. A obrigação de dar coisa certa traduz a prestação de coisa determinada, individualizada. Responsabilidade civil pela perda ou deterioração da coisa certa. (Arts. 234-236) Na teoria das obrigações, as perdas e danos pressupõem culpa do devedor. E quando não houver culpa do devedor, normalmente será extinta a responsabilidade. b) Dar coisa incerta: nos termos do art. 243 CC, obrigação de dar coisa incerta é aquele indicada apenas pelo gênero e quantidade, faltando-lhe a qualidade da coisa. Em geral, na teoria das obrigações, a escolha é feita pelo devedor. – Art. 244 CC A doutrina denomina concentração do débito ou da prestação devida o ato de escolha na obrigação de dar coisa incerta. Uma pessoa se obriga a dar um gado, ainda não especializado. Uma enchente vem e mata todo o rebanho do devedor. Este não poderá alegar caso fortuito ou força maior para se eximir da obrigação. * É dogmático o pensamento no direito civil brasileiro, segundo o qual o gênero não perece nunca: antes da escolha, não pode o devedor alegar caso fortuito ou força maior para se eximir da obrigação de pagar (art. 246 CC). http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 3 2. Fazer (art. 247 e ss): A obrigação de fazer é aquela em que o interesse jurídico do credor é a própria atividade do devedor. a) Fungíveis: é aquela que admite ser cumprida não apenas pelo devedor, mas também por terceiro. Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. b) Infungíveis: é personalíssima, não admitindo ser cumprida por terceiro. Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. 3. Não fazer (arts. 250 e 251 CC) A obrigação de não fazer tem por objeto uma obrigação negativa, ou seja, um comportamento omissivo do devedor. O devedor assume uma obrigação de não realizar uma conduta (abstenção juridicamente relevante). Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES 1. Obrigações Solidárias: existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou obrigado a toda dívida (art. 264 CC). http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 4 Obs: Na forma do Art. 265 CC, é dogma do direito obrigacional que solidariedade NÃO SE PRESUME: resulta lei ou da vontade das partes. 1.1. Solidariedade Ativa: Art. 267 CCB - Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Art. 268 - Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Art. 269 - O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago Obs.: Na forma do art. 272 CC, na solidariedade ativa, qualquer dos credores também pode perdoar toda a dívida, respondendo em face dos outros credores. Exemplos de solidariedade ativa por foca de lei: art. 2º da Lei 8245/91 1.2. Solidariedade Passiva A disciplina dessa matéria no CC é feita a partir do Art. 275 - O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Obs.: Qual é a diferença entre a remissão (perdão da dívida) e a renúncia da solidariedade passiva? Na forma dos arts. 277 e 282 do CC, renunciando à solidariedade em face do um dos devedores, só poderá o credor cobra-lhe a sua parte na dívida (pois não houve perdão); quanto aos outros devedores, ainda unidos em solidariedade, terá o credor o direito de cobrar o restante da dívida. Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 5 Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Na solidariedade passiva, vale relembrar o art. 281 do CC, que cuida das exceções (defesas) que o devedor solidário pode manejar. Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoaisa outro co-devedor. No que tange à responsabilidade dos devedores solidários, o art. 279 do CC mantém a regra geral, segundo a qual pelas perdas e danos só responderá o culpado. Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Exemplos de solidariedade passiva: a) um contrato que explicitamente preveja solidariedade entre os devedores (contrato de locação em geral prevê que o fiador se vincula solidariamente ao devedor). b) Solidariedade passiva em virtude de lei: Art. 932 CCB – responsabilidade por fato de terceiro. 2. Obrigações Alternativas: a obrigação alternativa é aquela que tem objeto múltiplo, de maneira que o devedor se exonera cumprindo uma das prestações devidas. No que tange à impossibilidade das obrigações alternativas, quer seja total, quer seja parcial, veja a partir do art. 254 do CC. Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. § 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. § 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 6 § 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. 3. Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Conceito: As obrigações divisíveis são aquelas que admitem cumprimento fracionado ou parcial da prestação; já as indivisíveis somente podem ser cumpridas por inteiro (arts. 257 e 258 do CC): Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume- se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Exemplo de indivisibilidade legal: pequena propriedade do módulo rural, prevista no Estatuto da Terra. Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. A indivisibilidade se refere ao objeto e a solidariedade se refere aos sujeitos. Não tendo sido pactuada solidariedade ativa, o pagamento de prestação indivisível a um dos credores deverá observar o que dispõe o art. 260 do CC acima transcrito. A caução de ratificação http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 7 somente é necessária na obrigação indivisível. Se a obrigação for solidária, não precisará de caução de ratificação. 4. Obrigações de Meio e de Resultado A obrigação é denominada de meio quando o devedor se obriga a empreender sua atividade, sem garantir o resultado esperado. Já a obrigação de resultado, é aquela em que o devedor assume a realização do fim projetado. Ex.: em geral o médico assume uma obrigação de meio, empreender todos esforços e a melhor técnicas para a cura do paciente. O advogado também assume obrigação de meio, uma vez que não pode garantir sucesso na demanda. 5. Obrigação Natural: é aquela em que posto figurem credor e devedor, é desprovida de coercibilidade jurídica, juridicamente inexigível. Ex.: dívida de jogo e dívida prescrita (arts. 882 e 814 CC). Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível. Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. Uma obrigação natural, embora juridicamente inexigível, gera alguma conseqüência jurídica? Sim, já que pode haver retenção do pagamento feito espontaneamente feito pelo devedor. Se pagou espontaneamente não poderá exigir a repetição. TEORIA DO PAGAMENTO Pagamento significa cumprimento ou adimplemento voluntário da prestação. O que é a teoria do adimplemento substancial? Trata-se de instituto desenvolvido no Direito anglo- saxônico. Segundo esta teoria, de possível aplicação ao contrato de seguro, em respeito aos http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 8 princípios da boa-fé objetiva e da equivalência material (que traduz o necessário equilíbrio entre as prestações), não se reputa justo resolver um contrato quando o devedor, posto não haja cumprido a prestação de forma perfeita, substancialmente a realizou. Ex.: carro financiado em 60 meses, pagou 58, atrasou a parcela n.º 59, não se deve deferir a liminar de busca e apreensão, pois substancialmente o devedor cumpriu o pagamento. Ex. 2.: Prêmio do seguro dividido em 05 pagamento, pagou 04 atrasou um dia o pagamento da 5ª prestação, dia em que ocorreu o sinistro. STJ tem entendimento no sentido de que tal teoria não pode ser utilizada em casos de alienação fiduciária de bens móveis regidos pelo Decreto-lei 911/69. (RESP 1.622.555/MG). Pelo CCB a seguradora não precisará pagar a indenização, pois estava em atraso no dia do sinistro (Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.). Porém, pela teoria do adimplemento substancial, não é justo que a seguradora se furte ao pagamento, pois, houve o adimplemento substancial. Condições ou requisitos do pagamento. a) Subjetivas (quem deve pagar - art. 304 do CC - e a quem se deve pagar) - Quem deve pagar. Em primeiro plano quem deve pagar é o devedor ou se fazer representar. O terceiro também pode pagar, pelo sistema jurídico brasileiro. Mas existem dois tipos de terceiro: o interessado e o não interessado. Terceiro interessado é aquele que, mesmo não sendo parte, vincula- se à obrigação (fiador, avalista). Já o terceiro não interessado não se vincula juridicamente à obrigação, detendo apenas um interesse meta-jurídico. Quando o terceiro interessado paga, ele se sub-roga nos direitos, privilégios e garantias do credor originário. Já o terceiro não interessado que paga, duas situações podem ocorrer: se pagar em seu próprio nome não se sub-roga completamente na posição do credor, mas tem pelo menos direito ao reembolso; se pagar em nome do devedor, não tem direito a nada. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico RamosCurso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 9 Obs.: O devedor poderá se opor ao pagamento feito por terceiro, nos termos do art. 306 do CC (O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.). O artigo diz que não haverá o reembolso se o devedor tinha meios para pagar e o terceiro entrou na frente e pagou. Entende-se também que o devedor pode se opor o pagamento de terceiro, alegando que a dívida está prescrita. Stolze entende também que o devedor pode se opor ao pagamento pelo terceiro alegando direito seu da personalidade (entendimento civil-constitucional). Ex.: Inimigo fica sabendo da dívida de seu desafeto, paga, para poder tê-lo como seu devedor. A quem se deve pagar: ao credor ou a seu representante. O sistema jurídico, todavia, admite também que o pagamento possa ser feito a um terceiro, nos termos dos arts. 308 e 309 do CC: Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Caso seja feito o pagamento a um terceiro, para que tenha eficácia, o credor deverá ratificá-lo ou, não o ratificando, poderá o devedor provar que o pagamento reverteu em proveito do credor. À luz dos princípios da boa-fé e da confiança, com fundamento doutrinário na teoria da aparência, admite o Art. 309 do CC o pagamento feito ao credor aparente ou putativo. b) Objetivas (objeto do pagamento; prova do pagamento; lugar do pagamento e tempo do pagamento). Tempo do pagamento. Em regra, as obrigações devem ser cumpridas no seu vencimento. Caso não tenha vencimento certo, dispõe o art. 331 do CC que a obrigação pode ser exigida de imediato: Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 10 Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Obs.: No caso do mútuo feneratício (empréstimo de bem fungível a título oneroso) tem-se norma especial, Art. 592, II, não se estipulando o vencimento, o prazo mínimo do pagamento é de 30 dias. O CC estabelece no Art. 333 situações especiais de vencimento antecipado das dívidas: Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. Lugar do pagamento. A regra geral do direito brasileiro é no sentido de que o pagamento deverá ser feito no domicílio do devedor. Excepcionalmente, nos termos do art. 327 do CC, o pagamento poderá ser feito no domicílio do credor, casa em que a dívida é portável. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Obs.: CUIDADO!! O p.u. do art. 327 do CC, estabelece que, havendo dois ou mais lugares para pagamento, a escolha é feita pelo credor (Atenção! Quebra a tradição do CC que normalmente defere as escolhas ao devedor). Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 11 Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. (venire contra factum proprium – proíbe comportamento contraditório, quebra a boa-fé objetiva). Prova do pagamento. Tecnicamente o ato jurídico que comprova o pagamento denomina-se quitação, nos termos do art. 319 do CC. Recibo é o documento da quitação, é o que materializa a quitação. Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. O Enunciado 18 da 1ª Jornada de D. Civil, atento à realidade dos dias de hoje, admite a quitação eletrônica: 18 – Art. 319: A “quitação regular” referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação a distância”, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes. Presunções de pagamento: mesmo não havendo quitação formal, presume-se que o devedor pagou. Essas presunções são relativas, juris tantum, portanto, admitem prova em contrário: Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 12 Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. Objeto do pagamento. (arts. 313-316 do CC). Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. (ninguém tem direito de pagar parcelado, se isso não foi acertado) Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. (o credor não está obrigado a receber cheque ou cartão). O que é o Princípio do Nominalismo? Art. 315 do CC/2002. Esse princípio sustenta que o devedor se libera da obrigação pecuniária pagando ao credor a mesma quantidade de moeda previstano título da obrigação. Não se atém à desvalorização da moeda. Se se contrai uma dívida de R$ 10.000,00 para pagar um ano após, segundo esse princípio, no momento do pagamento o devedor terá de pagar somente os mesmos R$ 10.000,00. Este princípio é amplamente flexibilizado por mecanismos de correção monetária, a exemplo do INPC e IGPM, etc. Com isso, tenta-se evitar a depreciação do poder aquisitivo da moeda. Não se aplica hoje o Nominalismo puro. Obs.: A correção monetária foi consagrada no Brasil pela famosa Lei 6.899/81 que estabeleceu sua incidência nos débitos decorrente de decisão judicial. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Embora o Art. 316 disponha a respeito do aumento progressivo de prestações, alguns autores como Mario Delgado, para tentar salvá-lo, sustentam que o codificador apenas previu a atualização http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 13 monetária das prestações. Para Pablo Stolze, esse artigo é de legalidade duvidosa, pois, em verdade, permite o aumento do próprio débito em sua base. Obs.: A CRFB/88, Art. 7º, VI veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim. O Art. 1.710 CCB, por sua vez, proíbe a vinculação do salário mínimo para o cálculo de pensão alimentícia. Art. 1.710. As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial regularmente estabelecido. Essa norma caiu em desuso. O próprio STF de longa data tem admitido essa vinculação (RE 170.203). FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO. 1. Pagamento com sub-rogação (substituição): trata-se de uma forma especial de pagamento, disciplinada a partir do art. 346 do CC, por meio da qual a dívida é cumprida por terceiro que se sob-roga no direito do credor originário. É uma forma de extinção da obrigação, pois o credor originário sai da relação obrigacional. Nasce outra relação a partir daí, envolvendo, agora, novo credor e devedor antigo. Obs.: O que diferencia a cessão de crédito do pagamento com sub-rogação, é que a primeira pode ser gratuita e a segunda não. Efeitos do pagamento com sub-rogação: Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Obs.: o art. 350 do CC limita o direito do novo credor ao valor efetivamente pago. Se o fiador paga a dívida com desconto, não poderá cobrar do devedor principal o valor sem o desconto, somente pode cobrar o que efetivamente pagou. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 14 Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Obs.: Caso o fiador na locação efetue o pagamento ao credor originário, sub-rogando-se na posição dele, não poderá com isso pretender penhorar, em ação de regresso, bem de família do devedor: a norma que admite a constrição do seu imóvel residencial (Art. 3º, VII Lei 8.009/90) não comporta interpretação extensiva. Além do que é nova relação jurídica que se forma, agora, com novo credor e devedor antigo. Espécies de pagamento com sub-rogação: – Legal (art. 346) Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. (Ex.: fiador) – Convencional (art. 347) Art. 347. A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. 2. Imputação do pagamento: trata-se de um meio de determinação de pagamento em que uma das dívidas é indicada para ser solvida, havendo outras da mesma natureza, entre as mesmas partes. (se há mais de uma dívida, e o devedor pagar somente uma delas, terá que indicar qual está pagando). http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 15 A regra número 01 é no sentido de que a imputação será feita pelo devedor, art. 352 do CC. Regra número 02: se o devedor não imputar, a imputação será feita pelo credor, art. 353 do CC. Regra número 03: caso não tenha havido imputação feita pelo devedor ou pelo credor, aplicam-se subsidiariamente as regras da imputação legal. Arts. 354 e 355 do CC. Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. Obs.: Se todas as dívidas, na imputação legal, forem vencidas ao mesmo tempo e igualmente onerosas, o CCB não indica como será feita a imputação. Assim, na falta de regra, o juiz decidirá por equidade em cada caso concreto. 3. Dação em pagamento: trata-se de uma forma de pagamento satisfativa do interesse do credor. Regulada a partir do art. 356 do CC, a dação em pagamento opera-se quando o credor, na mesma relação obrigacional, aceita receber prestação diversa da que lhe é devida. Requisitos da dação em pagamento (in solutum): a) existência de uma dívida vencida; b) consentimento do credor; (STJ, HC 20.317/SP,) STJ aceitou a dação em pagamento de imóvel para cumprimento de pensão alimentícia em atraso, para liberar da prisão. c) cumprimento de uma prestação diversa; d) animus solvendi. Evicção da coisa dada em pagamento – art. 359 Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 16 Ex.: devedor de um veleiro, propõe ao credor dar-lhe em pagamento um carro e não o veleiro. O credor aceita. Após, o credor perde o carro em virtude de direito de outrem anteriormente existente (evicção). Nesse caso, restabelecer-se-á a obrigação originária (veleiro). Porém, se o veleiro já tiver sido vendido a terceiro de boa-fé, a obrigação principal não será restabelecida, resolver-se-á em perdas e danos. 4. Novação: disciplinada a partir do art. 360 do CC, dá-se a novação quando, mediante estipulação negocial, as partes criam uma OBRIGAÇÃO NOVA destinada a substituir e extinguir a obrigação anterior. Sempre decorre da autonomia da vontade das partes, não existindo novação legal. (recomeça nova contagem de prazos, tem de se tirar o nome do devedor dos cadastros de proteção ao crédito, pois se tem novo negocio jurídico,no qual o devedor ainda não está em mora.) Requisitos da novação: a) Existência de uma obrigação anterior: nos termos do art. 367 do CC, vale lembrar que obrigação extinta ou nula não poderá ser novada, mas a obrigação simplesmente anulável pode! A obrigação anulável, por ser menos grave, pode ser confirmada e novada. Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. b) Deve haver a criação de uma obrigação nova, substancialmente diversa da primeira. Deve, pois, concorrer um elemento novo (aliquid novi). É muito importante pontuar que a novação pressupõe a criação de uma obrigação nova, com a consequente quitação da primeira dívida. Assim, se as partes apenas renegociam a mesma obrigação (pactuando um parcelamento ou reduzindo uma multa), novação não há! c) ânimo de novar - o CC, assim como a esmagadora maioria dos códigos do mundo, não exige a declaração expressa da intenção de novar. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 17 O STJ, já firmou entendimento (Ag.Rg. no Ag. 801.930/SC, bem como Súmula 286 - A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.) no sentido de que mesmo tendo havido renegociação da mesma dívida ou novação, é possível a impugnação a posteriori de cláusula inválida e a revisão do contrato. O princípio do non venire contra factum proprium não pode chancelar ilegalidades. Assim, parte renegocia sua dívida com o banco e depois verifica uma cláusula ilegal, poderá sim revisar o contrato. Espécies de novação: a) Objetiva: art. 360, I, CC. Na novação objetiva, as mesmas partes criam obrigação nova destinada a substituir e extinguir a obrigação anterior. b) Subjetiva: Art. 360, II e III, CCB/02, poderá ser ativa ou passiva. b.1) Ativa: neste caso, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este. b.2) Passiva: opera quando um novo devedor sucede ao antigo, considerando criada a partir daí uma obrigação nova. Esta novação subjetiva passiva, pode se dar de duas maneiras: por delegação ou por expromissão. b.2.1) Na delegação, o antigo devedor participa do ato novatório, aquiescendo. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 18 b.2.2) Na expromissão, diferentemente, art. 362 do CC, a novação subjetiva passiva realiza-se sem o consentimento do devedor originário. O credor simplesmente comunica o devedor antigo que a obrigação está sendo extinta e que a obrigação está sendo assumida por novo devedor. Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. Efeitos da novação: a novação tem um efeito liberatório do devedor, inclusive no que tange aos acessórios e garantias da obrigação primitiva, nos termos dos arts. 364 e 366. Diferentemente do que ocorre com o pagamento com sub-rogação, art. 349 (comparar). Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. Obs.: Interpretando o art. 365 do CC, cumpre advertir que, em havendo novação feita por um dos credores solidários, os outros credores terão o direito de exigir daquele que novou, as suas respectivas partes no crédito. Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados. 5. Remissão e confusão: a remissão traduz o perdão da dívida, disciplinada a partir do art. 385 do CC. Ela tem condão bilateral, pois o devedor deve aceitá-la. Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 19 Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. Confusão: a confusão se opera quando na mesma pessoa agregam-se as condições de credor e devedor (art. 381 do CC). Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. 6) Compensação: opera-se, nos termos do art. 368 do CC, se duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credora e devedora uma da outra. Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas. Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 20 Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente. Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação. Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento. Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhoradoo crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. Espécies de compensação: a) Legal: se opera, por manifestação do interessado, quando reunidos os requisitos da lei (art. 369 CCB/02), devendo o juiz declará-la. A compensação é matéria de defesa, preliminar de mérito indireta. a.1) Requisitos da compensação legal: I – reciprocidade de dívidas; Obs.: Vale anotar que este requisito sofre certa mitigação por forca do art. 371 do CC, que admite a possibilidade de um terceiro compensar uma dívida que não é dele (fiador). O fiador, quando demandado pelo credor, pode alegar compensação um crédito que o devedor principal tem com o credor. Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. II – Para que haja compensação legal é preciso que haja liquidez das dívidas, tem de ser certas. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 21 III – Para que haja compensação legal as dívidas devem ser exigíveis, ou seja, vencidas. Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. IV - Para que haja compensação legal é preciso que as dívidas sejam da mesma natureza, ou seja, homogêneas. Obs.: Ainda que sejam do mesmo gênero, as coisas fungíveis, objeto das duas prestações recíprocas, se diferirem na qualidade, a compensação legal não será possível. Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato. Obs.: à luz do princípio da eticidade, mesmo que tenha sido concedido prazo de favor, é possível a alegação de compensação, nos termos do art. 372 do CC. Ex.: `A` deve a `B`, venceu a dívida, `A` pediu mais um prazo e `B` concedeu (prazo de favor). Nesse meio tempo `B`, por algum motivo, se torna devedor de `A`. `A` ingressa com a ação, mesmo não tendo vencido o prazo de favor, `B` poderá alegar compensação. Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação. O enunciado 19 da I Jornada de Direito Civil estende a proibição da aplicação direta do CCB/02 inclusive para dívidas fiscais e parafiscais dos outros entes da federação. 19 – Art. 374: A matéria da compensação no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais de estados, do Distrito Federal e de municípios não é regida pelo art. 374 do Código Civil. Obs.: Regra geral, as causas das dívidas não interferem na compensação, com as exceções do art. 373. Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 22 I - se provier de esbulho, furto ou roubo; II - se uma se originar de comodato, depósito (para evitar quebra de confiança) ou alimentos; *Obs.: Em regra, é aceitável o entendimento segundo o qual não pode haver compensação de débitos alimentares. Porém, o STJ excepcionalmente tem admitido a compensação, para evitar enriquecimento sem causa (REsp.: 202.179-GO e REsp.: 982.857-RJ/2008). III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. O STJ, no AgRg. 353.291-RS, deixou claro que, dada a sua impenhorabilidade como regra, o salário não pode ser objeto de compensação automática pelo banco. b) Convencional: se opera, em virtude do ajuste entre as partes, independentemente dos requisitos de lei. c) Judicial: diferentemente das duas anteriores pode ser feita de ofício pelo juiz. Trata-se da compensação que se opera por ato judicial no bojo do processo. Ex.: Art. 21 CPC: Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES I – Cessão de crédito: trata-se de uma forma de transmissão no polo ativo da relação obrigacional, por meio da qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o crédito ao cessionário, mantida a mesma relação obrigacional com o devedor (cedido). Art. 286 do CC. Não se confunde com a novação subjetiva ativa, pois preserva-se o mesmo negócio jurídico, mesmos prazos e valores. Apesar de haver um ponto de contato com o pagamento com sub-rogação, diferencia pelo fato de que a cessão de crédito pode ser gratuita. O ponto de contato somente se dá quando a cessão de crédito é onerosa. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 23 Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Exemplo em que a lei impede a cessão de crédito: art. 1.749, III. Pode também ser proibida a cessão de crédito por convenção das partes. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. O devedor precisa autorizar a cessão de crédito? NÃO! O sistema brasileiro não concede esse poder ao devedor. No entanto, a luz do princípio da boa-fé objetiva, e com amparo no dever de informação, a teor do Art. 290 CCB/02, é preciso que o devedor seja comunicado da cessão feita, como conseqüência lógica do próprio ato de cessão, especialmente para que saiba a quem pagar e contra quem se defender (arts. 292 e 294 do CC) Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. II – Cessão de débito (assunção de dívida, não havia no CC/16): na cessão de débito, o devedor, com expresso consentimento do credor, transmite o débito a terceiro, mantida a mesma relação obrigacional. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 24 Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Obs.: Com a assunção da dívida, a regra é de que o devedor primitivo está exonerado, no entanto, se o novo devedor era insolvente e o credor de nada sabia, a obrigação do antigo devedor se restabelece. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazoao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo. (Ex.:dolo) TEORIA DO INADIMPLEMENTO Inadimplemento traduz descumprimento da obrigação, desdobrando-se em: inadimplemento absoluto culposo ou fortuito e inadimplemento relativo (mora). http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 25 I – Inadimplemento Absoluto: traduz o descumprimento total da obrigação. Ele pode ser: a) Fortuito: deriva de fato não imputável ao devedor, decorrente de caso fortuito ou força maior (art. 393 do CC). Em geral, a conseqüência do descumprimento fortuito é a extinção da obrigação sem perdas e danos. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Obs.: Excepcionalmente, poderá o devedor assumir os efeitos decorrentes do caso fortuito ou da força maior, como se dá com as companhias de seguro. Obs.: Vale lembrar que o STJ tem mantido a tese segundo a qual assalto a mão armada em ônibus traduz evento fortuito, excluindo a responsabilidade civil da empresa viária. Veja o artigo 399: Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. b) Culposo: deriva de fato imputável ao devedor (culpa ou dolo), impondo-se a obrigação de pagar perdas e danos sem prejuízo de eventual tutela jurídica específica (art. 389 do CC). Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 26 O que se entende por perdas e danos? As perdas e danos, nos termos do art. 402 do CC, consistem no prejuízo efetivo sofrido pelo credor (dano emergente), compreendendo também o que aquilo que ele razoavelmente deixou de lucrar (lucro cessante). Pagar perdas e danos, portanto, significa indenizar a vítima, restituindo ao status quo ante. Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. OBS: A moderna doutrina tem entendido que o descumprimento de deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva (informação, lealdade...) determina responsabilidade civil OBJETIVA - VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO (Enunciado 24 da I Jornada de D. Civil). 24 – Art. 422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. II – Inadimplemento relativo ou mora: ocorre a mora, espécie de inadimplemento relativo, quando o pagamento não é feito no tempo, lugar e forma convencionados. a) Espécies de mora: Havendo mora do credor e do devedor, deverá o juiz, na medida do possível, compensá-las, ficando tudo como está. a.1) Mora accipiendi ou credendi (do credor) – art. 394 e 400. Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 27 Ex.: vendido um boi, no dia combinado o devedor do animal o leva e o credor, injustificadamente, se nega a receber, só recebendo depois de alguns dias. Se a arroba do boi variar nesse tempo de mora do credor, o devedor terá o direito de receber pelo melhor preço nesse período. a.2) Mora solvendi ou debendi (do devedor). STJ, Súmula 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros de mora poderão ser fixados em até 1% ao mês. Conceito: a mora do devedor, em linhas gerais, traduz o retardamento culposo no cumprimento da obrigação. Requisitos: I – Existência de dívida liquida e certa; II – Vencimento da dívida ou sua exigibilidade: quando a obrigação tem vencimento certo, a constituição em mora do devedor opera-se de pleno direito, segundo o aforisma dies interpellat pro homine – o dia interpela pelo homem. Neste caso fala-se que a mora é ex re (art. 397, caput). Todavia, caso o credor necessite constituir em mora o devedor, interpelando-o, a mora será ex persona (Art. 397, p.u.). Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. III – Culpa (art. 396 do CC) - Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. IV – Viabilidade do cumprimento tardio da obrigação. Na forma do p.u.do art. 395 do CC, a luz do Enunciado 162 da III Jornada de D. Civil, se a prestação, objetivamente considerada, não for mais http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 28 de interesse do credor, não há que se falar em simples mora e sim em inadimplemento absoluto da obrigação, resolvendo-se em perdas e danos. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos. 162 - Art. 395: A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor. Efeitos da mora do devedor: I – Responsabilidade civil pelos prejuízos causados ao credor em virtude da mora (art. 395, caput). II – Responsabilidade civil do devedor pela integridade da coisa devida, em outras palavras, perpetuatio obligationis (art. 399 do CC). Art. 399. O devedorem mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Nos termos do art. 399, firma-se a regra geral, segundo a qual, durante a mora, o devedor responde pela integridade da coisa, mesmo havendo caso fortuito ou força maior. Poderá, todavia, alegar, em defesa: que não teve culpa no atraso do pagamento ou que mesmo que houvesse desempenhado oportunamente a prestação, o dano ainda assim sobreviria. CLÁUSULA PENAL: também denominada pena convencional, consiste em um pacto acessório por meio do qual as partes visam a antecipar a indenização devida em caso de inadimplemento absoluto ou relativo (função precípua economicidade, pré-liquidação virtual de indenização – antecipação de indenização). http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 29 Segundo Cristiano Chaves, a cláusula penal tem uma função secundária intimidatória. Obs.: Tecnicamente, a multa tem uma função precípua sancionatória e não de ressarcimento. Cláusula penal tem natureza indenizatória, compensatória; já a multa é punição. A disciplina da cláusula penal é feita a partir do art. 408 do CC, desdobrando-se em duas espécies fundamentais: a) Cláusula penal compensatória (arts. 408 e 40 do CC). Obs.: Lembra-nos Guilherme Gama que, por exceção, o jogador de futebol que resolva exercer o direito de desistir do contrato, mesmo não estando tecnicamente descumprindo obrigação, poderá ser compelido a pagar cláusula penal (Art. 28, Lei 9.615/98). O valor da cláusula penal não poderá ultrapassar, sob pena de enriquecimento sem causa, o valor da obrigação principal – Art. 412 CC. Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. O credor, nos termos do art. 410 do CC, tem a alternativa de exigir a obrigação descumprida (v.g. via tutela especifica) ou executar a cláusula penal. Se o prejuízo do credor ultrapassar o valor estipulado na cláusula penal, é possível a ele pedir indenização suplementar? O p.u. do Art. 416 do CC estabelece que a indenização suplementar é possível se houver previsão contratual. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 30 Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. b) Cláusula penal moratória (Art. 411 do CC). A doutrina tem dito que a cláusula penal moratória é pactuada para o caso de mora ou de descumprimento de alguma cláusula isolada do contrato. (Limite de cláusula penal moratória no CDC é 2%). Hipóteses de redução da cláusula penal. Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Obs.: A cláusula penal que estipule a perda de todas as prestações pagas passou a ser passível de revisão, segundo as características do caso concreto após a entrada em vigor do CDC (REsp.: 399.123/SC e REsp.: 435.608/PR) STJ, Súmula 380: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor. STJ, Súmula 381: Nos contratos bancários é vedado ao julgador conhecer de ofício a abusividade de suas cláusulas. A doutrina moderna, a exemplo de Flávio Tartuce, tem sustentado que, à luz do princípio da função social, o juiz deve, de ofício, reduzir o valor excessivo da cláusula penal. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 31 RESPONSABILIDADE CIVIL O instituto da responsabilidade civil pressupõe a agressão de um interesse particular da vítima a partir da violação pelo agente de uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), sujeitando este infrator à restauração do estado anterior quando possível, ou ao pagamento de compensação pecuniária. A depender da natureza da norma jurídica violada pelo agente causador do dano, é possível realizar uma subdivisão da responsabilidade civil, quando se pode tipificá-la em responsabilidade civil contratual, decorrente infração à norma contratual anteriormente fixada pelas partes, ou responsabilidade civil extracontratual (também chamada de aquiliana), que se vê a partir do desrespeito a uma norma disposta em texto de lei. Há quem critique esta dualidade de tratamento, entendendo que independentemente dos aspectos que dão origem à responsabilidade civil (contrato ou norma legal), os efeitos são uniformes; mas fato é que majoritariamente os Tribunais fazem esta distinção para apuração da responsabilidade civil do agente e seu consequente dever de indenizar. Para se caracterizar a responsabilidade civil é necessário que se coadunem quatro elementos, a saber: a ação ou omissão do agente, a culpa ou o dolo do agente, a relação ou o nexo de causalidade e o dano. A Responsabilidade Civil Contratual, como o nome mesmo já sugere, ocorre pela presença de um contrato existente entre as partes envolvidas, agente e vítima. Assim, o contratado ao unir os quatro elementos da responsabilidade civil (ação ou omissão, somados à culpa ou dolo, nexo e o consequente dano) em relação ao contratante, em razão do vínculo jurídico que lhes cerca, incorrerá na chamada Responsabilidade Civil Contratual. Ela é tratada no Direito das Obrigações, até porque sabemos que o contrato gera obrigações. Em relação à Responsabilidade Civil Extracontratual, também conhecida como aquiliana, o agente não tem vínculo contratual com a vítima, mas tem vínculo legal, uma vez que, por conta do descumprimento de um dever legal, o agente por ação ou omissão, com nexo de causalidade e culpa ou dolo, causará à vítima um dano. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 32 Ambas as figuras de responsabilidade civil estão fundamentadas, genericamente, nas palavras do artigo 186 do Código Civil, in verbis: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Desse modo, pode-se verificar que a única diferença entre as duas figuras de responsabilidade civil encontra-se no fato de a primeira existir em razão de um contrato que vincula as partes e, a segunda surge a partir do descumprimento de um dever legal. A responsabilidade civil contratual é regulamentada nos artigos 389 a 393 do Código Civil: Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizaçãomonetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 33 Já a responsabilidade extracontratual (ou aquilina) tem regramento no artigo 927 e seguintes do Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Feitas essas considerações iniciais, passemos à análise da teoria do dano. Quando falamos em responsabilidade civil, pensamos logo na teoria do dano. O que é dano? Qual o conceito mais adequado? Dano é a lesão a um bem jurídico, que pode ser patrimonial ou moral. Dano patrimonial se caracteriza quando uma pessoa é ofendida em seus atributos econômicos, financeiros. Quando se fala em dano patrimonial, lembramos da ideia de perdas e danos. Dano patrimonial é gênero que compreende duas espécies: danos emergentes (prejuízos efetivamente sofridos pela vítima em razão da lesão, ou seja, é tudo aquilo que saiu do bolso do lesado em virtude da ofensa) e lucros cessantes (é tudo aquilo que o lesado razoavelmente deixou de aferir em virtude da lesão). Um exemplo é o motorista de táxi que tem seu carro abalroado por um motorista bêbado. O taxista tem seu carro destruído e fica internada por dois meses, não podendo dirigir por um ano em virtude da gravidade das lesões sofridas. Como advogado do taxista, o que você pediria? A título de danos emergentes, pede-se as despesas com hospital, medicamentos e o valor do conserto do veículo. Já os lucros cessantes abrangem tudo que o taxista deixou de ganhar na condição da taxista pelo período em que teve de ficar afastado. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 34 Há hipóteses em que a vítima poderá pleitear apenas lucros cessantes; em outras, apenas danos emergentes. Os nossos Tribunais são muito rígidos na fixação do lucro cessante, porque o artigo 402 do Código Civil assevera que: Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Entenda esse “razoavelmente” como “certamente”, ou seja, o magistrado só concede lucros cessantes quando o lesado comprova de forma clara que se o dano não tivesse ocorrido, ele certamente experimentaria um ganho econômico. Nenhum Tribunal concede lucros cessantes com base em uma possibilidade de ganho, com base em meras conjecturas. Ex: José da Silva é camelô e inicia uma briga com um fiscal, porque este assevera que fará a apreensão dos bens que José pretende vender. Neste momento, o fiscal empurra o camelô, ele cai no chão, quebra a perna e tem sua barraca destruída. José pode pleitear as despesas com hospital, com a destruição da barraca (danos emergentes), mas jamais poderá pleitear lucros cessantes, uma vez que ele não convencerá qualquer juiz de que seu ganho era certo, sobretudo por se tratar de atividade ilegal. Há diversas decisões relativas a danos emergentes e lucros cessantes no homicídio. Ex: Plínio é um pai de família, que tem cinco filhos, sendo três menores e dois maiores. A esposa de Plínio também é dependente econômica dele. Ele, na condição de pedreiro, aufere 1200 reais mensais. Um dia, Plínio é atropelado por um ônibus, tendo vindo a óbito. O evento danoso decorreu de negligência do motorista do veículo. O artigo 948 do Código Civil estabelece: Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 35 I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; (danos emergentes) II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. (lucros cessantes) No que se refere aos lucros cessantes, haverá um pensionamento em virtude da morte prematura daquele pedreiro. Os Tribunais, em regra, fixam essa pensão em dois terços dos rendimentos do falecido. Como a renda dele era de 1200 reais, os menores e a esposa receberão 800 reais mensais. A lógica da fixação desse valor é que um terço do valor seria gasto pelo falecido, com suas despesas pessoais. Até quando essa família receberá esses 800 reais? A viúva receberá até que complete 70 anos de idade, desde que não case novamente, ou não viva em união estável. E os filhos receberão até que completem 25 anos de idade. E se o Plínio, no momento do atropelamento, fosse um senhor de 78 anos que vendia balas? A verba devida seria a mesma? Os lucros cessantes serão fixados porque, apesar da idade avançada, ele desenvolvia atividade lucrativa. Só que, nesse caso, fixa-se lucros cessantes por um prazo de 5 anos, contado do óbito. Outra questão interessante relativa aos lucros cessantes no homicídio se dá quando o atropelado no ônibus não é o Plínio, mas o filho de Plínio, que tem 12 anos de idade. Nesse caso, a família de Plínio receberia lucros cessantes? O STF já fixou a orientação no sentido de que se este menino, mesmo não sendo trabalhador, se for originário de família pobre, há uma presunção de que ele fatalmente trabalharia e contribuiria para o sustento da família. Com base nessa presunção de ganhos, fixa-se uma verba, com base no salário mínimo, dos 14 aos 25 anos, em favor de seus pais. http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 36 (Mesmo que ele tenha falecido com 10, ou 11 anos. Fala-se em 14, porque é a idade mínima que a Constituição prevê para o exercício de atividade laboral. Por outro lado, 25 é a idade em que provavelmente ele se casaria e deixaria de contribuir para o sustento de seus pais). Isso vai depende do caso concreto. Há casos em que serão fixados lucros cessantes até os 65 anos, mas após os vinte e cinco anos, o valor deve ser reduzido à metade, pois mesmo se presumindo que ele contribuiriapara os pais, teria despesas com sua própria família a partir do momento em que se casasse. Observação importante: nos exemplos dados, o causador do evento danoso sempre foi a empresa de ônibus. Como essa sociedade empresária, em regra, tem grande capacidade financeira, a família da vítima pode exigir a constituição de um capital. O Código Civil foi além disso. O parágrafo único do artigo 950 prevê que a família da vítima pode requerer que o causador do dano efetue o pagamento de uma só vez. Isso serve para garantir segurança jurídica, retirando da família o temor de que algo ocorra com aquela empresa e impossibilite o pagamento da verba alimentar. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. Outra questão interessante é relativa à teoria da perda de uma chance. Ex: Heloane é uma estudante de concurso que obteve aprovação nas 3 fases do concurso para ingresso no Ministério Público do Estado de Goiás. No dia da prova oral, ao atravessar a Avenida http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 37 Fued Sebba, Heloane é atropelada por Renan, motorista bêbado, que lhe causa uma fratura exposta, ficando ela impedida de se submeter ao exame. Na condição de advogado de Heloane, você pediria, a título de lucros cessantes, todos os salários que ela receberia, como Promotora de Justiça, pelos próximos 30 anos? Não, uma vez que não há qualquer certeza de que ela seria aprovada no concurso. Ela, então, não pode pleitear lucros cessantes. Entretanto, ela perdeu a chance de se tornar Promotora de Justiça. Isso tem valor econômico... Quando alguém, injustamente, frustra essa chance, deve restituir financeiramente a perda dessa chance. O caso mais famoso no Brasil é o da baiana Ana, que respondeu à pergunta dos 500 mil reais no programa “Show do Milhão” e, ao ver a pergunta que valia 1 milhão de reais, desistiu, indo embora apenas com os 500 mil. A pergunta era: “Qual o percentual estabelecido na Constituição Federal de terras para os indígenas?” Ao chegar em casa e ver que a Constituição não fixava esse percentual, ela ingressou com ação de indenização em face do SBT, pedindo os outros 500 mil reais. O Juiz monocrático, na Bahia, concedeu os 500 mil reais. O TJ/BA confirmou a sentença monocrática. Entretanto, o STJ reformou a decisão, sob o fundamento que não havia garantia alguma de que ela acertaria a pergunta. Isso não se caracteriza como lucros cessantes. O STJ, entretanto, entendeu que ela perdeu uma chance. Logo, ela recebeu 125 mil reais, o que corresponde a 25% do valor (como eram quatro assertivas, a chance dela responder à correta era de 25%). Outro exemplo: você ingressa com uma ação de indenização, pedindo 100 mil reais. O pedido é julgado improcedente e você, embora queira recorrer, não pode em virtude de seu advogado ter perdido o prazo recursal. Você pode pleitear esses 100 mil reais do seu advogado? Claro que não. O TJ/RS tem feito o seguinte cálculo: http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 38 De cada 10 ações, quantas foram revertidas em segundo grau? Vinte por cento. Então, o que você pode pedir de seu advogado é vinte por cento do valor pleiteado, ou seja, vinte mil reais. Trata-se da teoria da perda de uma chance. Entre o dano emergente e o lucro cessante, tem-se um terceiro gênero, que seria a teoria da perda de uma chance. Essa teoria pode ser vista, ainda, por outro ângulo, ou seja, ela pode ser analisada quando alguém perde a chance de sobreviver, ou a chance de se curar. Ex: você faz uma cirurgia, que é bem sucedida, mas o médico deixa um instrumento cirúrgico dentro de você. Depois de um tempo, você tem dores fortes e morre em virtude de infecção decorrente desse instrumento que fora deixado dentro de você. Os lucros cessantes, no caso de acidente de trabalho, são fixados da seguinte forma: Art. 950 - Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Ex: se o marceneiro ganhava 2 mil reais por mês e, em virtude de acidente de trabalho, teve 40% de redução de sua capacidade contributiva, ele deverá receber a quantia de 800 reais mensais, além dos danos emergentes e dos lucros cessantes. Essa pensão é vitalícia, ou seja, personalíssima (se ele morrer, não é transmitida aos herdeiros). Essa pensão não se confunde com o benefício previdenciário que deve ser pago pelo INSS. Esta verba relativa ao pensionamento pelo ato ilícito não é compensado pelo valor que é pago pelo INSS. A pensão tem natureza indenizatória, ao passo que a do INSS tem natureza securatória (é um http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 39 seguro previdenciário decorrente de toda uma ideia de risco social que o Estado deve dar proteção). Nada impede que elas sejam cumuladas. Artigo complementar: RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DO TEMPO - Pablo Stolze. 1. A Importância do Tempo em Nossas Vidas Existe algo inexplicável por trás desta nossa complexa realidade. O que de fato faz a sua vida ter sentido? A posição social que você alcança? O cargo cobiçado que você tanto almeja? O dinheiro que você acumula? Sem menoscabar a importância dessas metas materiais de vida, o fato é que, um dia, você compreenderá a verdade cósmica dita pelo profeta RAUL SEIXAS, na música “Ouro de Tolo”: Eu que não me sento No trono de um apartamento Com a boca escancarada Cheia de dentes Esperando a morte chegar... Porque longe das cercas Embandeiradas, Que separam quintais, No cume calmo Do meu olho que vê Assenta a sombra sonora De um disco voador... Esta “sombra sonora de um disco voador” traduz, na linguagem da crença religiosa, física, poética ou matemática da cada um, este “algo inexplicável” que une pessoas e vidas, molda sonhos e firma http://goiania.proordem.com.br/ http://www.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES e RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 40 projetos, espancando, de uma vez por todas, a falsa ideia de que a vida é um mero conjunto de coincidências. E, por isso, o nosso tempo tem um profundo significado e um imenso valor, que não podem passar indiferentes ao jurista do século XXI. Certamente, ao longo de todo o bacharelado, você conheceu diversas figuras jurídicas: o contrato, a família, a propriedade, a posse, a empresa.
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