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Roberto Figueiredo Direito Civil Redes Sociais Instagram: @Roberto_civil Telegram: Roberto Figueiredo Civil Ou https://t.me/joinchat/AAAAAFkYYWZrmHvBTgLonw Youtube: Professor Roberto Figueiredo Manual de Direito Civil 2020 Editora Juspodivm Sumário de Aula Direito das Obrigações 1. Introdução. Conceito Básico: Débito e Responsabilidade. O que significa a palavra obrigação? E juridicamente? A obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. (GONÇALVES, Carlos Roberto) A obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação economicamente apreciável. (PEREIRA, Caio Mário da Silva) Deste conceito clássico é possível extrair os seguintes elementos da relação obrigacional: a) o caráter transitório; b) o vínculo jurídico com exigibilidade patrimonial; c) a prestação exigível; d) a relação existente entre pessoas. O vigente Código Civil, em comparação ao anterior, promoveu importante mudança no ramo obrigacional, ao vê-lo como a parte geral da parte especial (Orlando Gomes). A clássica relação jurídica obrigacional é erigida sob dois pilares: débito (schuld) e responsabilidade (haftung) – obrigação civil ou perfeita (Brinz). O que é o débito? O que é a responsabilidade? É patrimonial ( Das Leis das XII Tábuas, de 450 a. C. – tábua terceira – à Lex Poetelia Papiria – 428, a. C.)? A responsabilidade patrimonial é ilimitada? Vejamos o que informa o art. 391 do CC/02: CC, art. 391: Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Necessidade de uma leitura sistemática do art. 391 do CC com os valores constitucionais: Teoria Jurídica do Patrimônio Mínimo (Luis Edson Fachin) e o Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo (Ana Paula Barcelos). Alguns exemplos de limites: a) Direito à Moradia (art. 6 da CF/88). Bem de Família (Lei 8.009/90, arts. 1.711 e ss. do CC/02 e Súmula 364 do STJ); b) Impenhorabilidades do CPC/15 (Art. 833). Interpretação sistemática que se impõe na esteira no art. 2, parágrafo 2 da LINDB (Barbosa Moreira): LINDB, Art. 2, parágrafo 2: § 2 A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. Melhor intelecção do legislador processualista: CPC/15, Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. Se a responsabilidade é patrimonial, cabe prisão civil? A CF/88 veicula duas hipóteses de prisão civil (Art. 5, LXVII): CF, art. 5, LXVII: LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; Todavia, haja vista a adoção da tese da supralegalidade da Convenção de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), não mais é possível a prisão civil de depositário infiel – decisão de 03 de dezembro de 2008 (RE 349703 – Inf. 531/STF). A isto chamam alguns da convencionalização do direito civil. Hoje a questão está pacificada, persistindo apenas a prisão civil do devedor de alimentos. STF, Súmula Vinculante 25: É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. STJ, Súmula 419: Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel. Sabe-se que a regra geral é que débito e responsabilidade caminhem juntos. Mas seria possível se falar em responsabilidade sem débito e débito sem responsabilidade? Sim! O débito sem obrigação: obrigações naturais ou imperfeitas. CC, Art. 882: Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível. Responsabilidade sem débito: relações de garantia. Responsabilidade patrimonial seria patrimonialização? O que é responsabilidade executória secundária? CPC/15, Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. § 1o O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade. § 2o Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1o nomear quantos bens da sociedade situados na mesma comarca, livres e desembargados, bastem para pagar o débito. § 3o O sócio que pagar a dívida poderá executar a sociedade nos autos do mesmo processo. § 4o Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a observância do incidente previsto neste Código. CC, Art. 1.643: Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir. CC. Art. 1.644: Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente ambos os cônjuges. 2. A Novel Leitura do Direito Obrigacional. A Relação Jurídica Obrigacional como um Processo. Hodiernamente não mais deve ser enxergada a relação jurídica obrigacional apenas com base no débito e na responsabilidade (antiga e nominada obrigação simples). Hoje há conceito complexo, funcionalizado (vínculo dinâmico) da obrigação como um processo (Heinrich Siber, Karl Larenz e Clóvis Couto e Silva). A obrigação é o conjunto de atividades necessárias à satisfação do interesse do credor. (COUTO E SILVA, Clóvis) Não há apenas direitos ao credor. O devedor também os tem, como a constituição daquele em mora. Idem sobre os deveres. Visão não mais de uma partida de tênis, mas de um jogo de frescobol. Dessa maneira, há novos elementos integrantes da relação jurídica obrigacional: a) ordem de cooperação entre as partes; b) deveres anexos impostos a ambas as partes; c) cumprimento mais largo (não basta adimplir os deveres obrigacionais do contrato). Evolução de uma relação obrigacional egoística para uma relação pautada em solidariedade social e dignidade humana (relação colaborativa). A concepção atual de relação jurídica, em virtude da incidência do princípio da boa-fé, é a de uma ordem de cooperação, em que aluem as posições tradicionais do devedor e do credor. (COUTO E SILVA, Clóvis. A obrigação como processo, São Paulo: José Butschasky, 1976, p.120) Não se quer com isso negar que a relação jurídica obrigacional está destinada à satisfação do interesse do credor, mas enfatizar a necessidade de que este também deve cooperar na consecução deste fim. (PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil, Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p.212) A partir desta leitura dinâmica e social, a eticidade - através da boa-fé - e a sociabilidade - mediante a função social - ganham importante espaço como balizadores da relação jurídica obrigacional. 2.1 A Eticidade Obrigacional. A Boa-Fé. A boa-fé objetiva (treu und glauben – lealdade e confiança) como princípio das relações obrigacionais (CC, arts. 113 e 422); CC, Art. 113: Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. CC, Art. 422: Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. a) base constitucional (arts. 1º, III, 3º, III, e 5º) e previsão do CDC (arts. 4º, III, e 51, IV); b) disposição de caráter abstrato e função de flexibilizar o sistema (oportunidade de adequar a decisão judicial no caso concreto às novas diretrizes do sistema obrigacional); A boa-fé objetiva não pode ser aplicada da mesma forma às relações de consumo e às relações mercantis ou societárias, pela simples razão de que os ‘standards’ de comportamento são distintos. (TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson,“A boa-fé objetiva no Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, In TEPEDINO, Gustavo – coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil-constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.40) c) a tríplice função da boa-fé objetiva (Judith Martins Costa): função interpretativa, função integrativa e função restritiva ou limitadora. - Função Interpretativa ou de otimização dos contratos (art. 113 do CC). CJF, Enunc. 27: En. 27. Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. - Função Integrativa ou de reequilíbrio dos contratos (art. 422 do CC - deveres de conduta, anexos, instrumentais, laterais, acessórios, de proteção ou de tutela). Adimplir significará atender a todos os interesses envolvidos na obrigação, abarcando tanto os deveres ligados à prestação propriamente dita, como àqueles relacionados à proteção dos contratantes em todo o desenvolvimento do processo obrigacional. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Obrigações, Salvador: JusPodivm, 2013, p.377) Deveres de conduta são taxativos ou exemplificativos (Carneiro de Frada)? Classificação de Menezes de Cordeiro dos deveres de conduta: a) Deveres de proteção, de esclarecimento e de lealdade. CJF, Enunc. 24: En. 24.: Art. 422.: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação aos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. O descumprimento de tais deveres denomina-se de violação positiva do contrato ou adimplemento fraco, sen-do reconhecido pelo STJ na hipótese de não observância do dever de informação: Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé contratual. Deveres anexos ao contrato. - O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao contrato, que são decorrência lógica deste princípio. - O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade dentro da relação contratual. - A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe tenha dado causa. - A alteração dos valores arbitrados a título de reparação de danos extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso Especial, nos casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou exagerado. Recursos não providos. (REsp 595631 / SC. Relatora Ministra Nancy Adrighi. 3 Turma. Julgado em:08.06.2004.) No mesmo sentido: REsp 1276311/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. DJe 17.10.2011. O CJF reconhece como um dos deveres anexos o de mitigação por parte do credor - Duty to Migate the Loss ou o dever do credor de mitigar as próprias perdas: CJF, Enunc. 169: E. 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo Idem sobre o nemo potest venire contra factum proprium CJF, Enunc. 362 A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. O que são os deveres acessórios da obrigação principal (indenizar a mora)? - Função Restritiva ou Limitadora (art. 187 do CC): CJF, Enunc. 26: En. 26 Art. 422.: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. Aplicação: Do pré-contrato ao pós-contrato? CJF, Enunc. 25: En. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual. CJF, Enunci. 170: En. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 2.2 A Sociabilidade Obrigacional: A Função Social. O princípio da função social do contrato tem base constitucional, encontrando fundamento na princípio da solidariedade e na afirmação do valor social da livre iniciativa. O CC apenas consolidou, no ordenamento infraconstitucional, a ideia de que o contrato deve ser funcionalizado, i.e., elaborado e interpretado sempre de forma a não causar influência negativa no meio social, bem como observado por terceiros, dos quais se exige que ‘respeitem as situações jurídicas anteriormente constituídas. (COSTA, Pedro Oliveira da, “Apontamentos para uma visão abrangente da função social do contrato”, In TEPEDINO, Gustavo – coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil- constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.57) O tema resta disciplinado no art. 421 do CC: CC, Art. 421: Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Observa-se que a função social mitiga, mas não extingue, a autonomia da vontade – Enunciado 23 do CJF: CJF, Enunc. 23: En: 23.: Art. 421.: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia individual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. A relativização do alcance estrito das relações obrigacionais: tutela externa e interna do crédito. O terceiro ofendido e o terceiro ofensor. O terceiro ofensor ou terceiro cúmplice e o exemplo da prestação se serviços. CC, Art. 608: Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. Outro importante caso do terceiro cúmplice: caso Zeca Pagodinho. Ainda que a AMBEV não tenha sido signatária do contrato entre Zeca Pagodinho e Schincariol, sua conduta, ao deixar de observar o pacto da exclusividade nele contido, é potencialmente apta a gerar dano indenizável. (TJ/SP. Ac. Unâm. 7 Câmara de Direito Privado. AgInstrum. 346.344.4/8 – São Paulo. Rel. Des. Roberto Mortari. J. 31.2.2004. O terceiro ofendido e o exemplo do seguro: Considerando que o segurado não teria recursos para indenizar a vítima pelos danos causados, é possível condenar diretamente a seguradora a pagar à vítima o valor da indenização prevista em caso de sinistro.” (STJ, REsp.97.590/RS, rel. Min. Ruy Rosado Aguiar, RSTJ 99:230) Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano. O que seria a equivalência ou justiça contratual? CJF, Enunc. 22: En 22.: Art. 421.: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas Exemplos no Código Civil de busca da Justiça Contratual: CC, Art. 317: Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. CC, Art. 478: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Súmulas do STJ que se preocupam com o princípio da justiça contratual: STJ, Súmula 297: Súmula 297 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. STJ, Súmula 302: Súmula 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limitano tempo a internação hospitalar do segurado. Boa-fé e função social: retratos de um sistema aberto. Tese do adimplemento Substancial. O que é? Portanto, “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar à função social do contrato e o princípio da boa-fé, balizando a aplicação do art. 475” (Enunciado 361 do CJF). A substantial performace significa isto: adimplida quase toda a obrigação, não caberá a extinção do contrato, mas apenas outros efeitos jurídicos visando sempre a manutenção da avença como numa “eficácia interna da função social dos contratos, entre as partes contratantes” (Enunciado 360 do CJF). Também entende a doutrina que para a caracterização do adimplemento substancial se deve levar em conta “tanto os aspectos quantitativos quanto qualitativos” (Enunciado 586 do CJF). Por isto, “A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor” (Enunciado 354 do CJF e STJ, AgRg no REsp. 903.592/RS, Relator Ministro Menezes Direito). Como o assunto é visto no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA? Já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, verbi gratia, que a falta de pagamento de apenas uma prestação no contrato de financiamento não autoriza busca e apreensão do bem, mas apenas ação de cobrança ante o adimplemento substancial pelo devedor do contrato, sob pena de ferida à boa-fé objetiva (REsp. 272.739-01-MG). Idem sobre o atraso no pagamento da última parcela do prêmio, a qual não permite a seguradora suscitar inadimplemento absoluto do segurado (REsp. 293.722-SP). Alienação Fiduciária. Busca e apreensão. Deferimento liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando o pequeno valor do bem e o fato de que este é essencial à atividade da devedora. Recurso não conhecido (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, REsp. 469.577/SC). Encargos excessivos. Ausência de mora. Repetição dos valores. Na linha da jurisprudência firmada na Segunda Seção deste Tribunal, a cobrança de encargos ilegais e abusivos descaracteriza a mora do devedor. A jurisprudência desta Corte já assentou que aquele que recebe pagamento indevido deve restituí-lo para impedir o enriquecimento indevido, prescindindo da discussão a respeito de erro de pagamento. Agravo regimental desprovido (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, AgRg no REsp. 903.592/RS). A cobrança de encargos excessivos descaracteriza a mora do devedor, entendimento que tem amparo na jurisprudência pacificada da Segunda Seção do STJ [...] Agravo improvido (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, AgRg. No REsp. 793.588/RS). 3. Obrigação como Relação Jurídica Patrimonial. Como Distingui-la dos Direitos Reais? O que são relações jurídicas patrimoniais? O Código Civil é monista/unitário ou binário/dualista (Pietro Perlingieri)? Direitos Reais Direitos Obrigacionais Numerus Clausus – Taxativos ou Típicos. Numerus apertus – exemplificativos. Direito de sequela – reivindicar a coisa onde quer que esteja e nas mãos de quem quer que esteja. Não há sequela – executa-se o contrato apenas, incidindo a sanção pelo descumprimento no patrimônio do devedor. Eficácia erga omnes – opõe-se contra todos. Eficácia inter-partes – relativos. Registrabilidade e publicidade – submetem-se ao registro. Forma livre, em regra (Art. 107 do CC) – não exigem registro, nem publicidade. A relação jurídica se estrutura entre uma pessoa e a própria coisa (jus in re – direito sobre a coisa). A relação jurídica se estrutura entre pessoas determinadas ou determináveis (jus ad rem– direito contra a pessoa). Direito de preferência. Direito quirografário (comum). Inerência ou aderência – acompanha, adere, às mutações da coisa. Não inerência – não acompanha as mutações da coisa, pois gira em torno da prestação. Encerra direito de gozo, fruição ou garantia sobre coisa corpórea Encerra direitos de crédito a uma prestação entre sujeitos 3.1 Zonas de Confluência. Figuras Híbridas Relativas às Relações Patrimoniais. a) Obrigações Propter Rem; b) Obrigações de Ônus Real e c) Obrigação de Eficácia Real. a) Obrigações Propter Rem (Ob Rem, In Rem, Ambulatoriais ou mistas) O que é? Exemplos IPTU, ITR, IPVA e as taxas condominiais (Informativo 291, STJ e REsp. 659.584-SP). Como se pronunciou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema? O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já entendeu que a obrigação de recuperar área ambiental degradada é do atual proprietário, independente deste ter sido o autor da degração, porque isto decorre de uma “obrigação propter rem, que adere ao título de domínio ou posse”. Também a obrigação tributária real de pagar o IPTU (REsp. 840.623- BA) e as taxas condominiais (REsp. 717.265-SP). b) Obrigações de Ônus Real O que é? Exemplo: Rendas constituídas sobre imóveis CC, Art. 803: Art. 803. Pode uma pessoa, pelo contrato de constituição de renda, obrigar- se para com outra a uma prestação periódica, a título gratuito. Como as diferenciar da propter rem? c) Obrigação de Eficácia Real O que é? Exemplo: Lei 8.245/91, art. 8: Lei 8.245/91, Art. 8: Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES OBRIGAÇÕES PROPTER REM, OBRIGAÇÕES DE ÔNUS REAL E OBRIGAÇÕES DE EFICÁCIA REAL São figuras híbridas, mistas ou simbióticas. Confluem elementos de direitos reais e elementos de direitos pessoais a um só tempo. a) Obrigações propter rem. São as próprias da coisa (propter rem), ou na coisa (in rem), ou da coisa (ob rem), também denominadas de obrigações ambulatoriais, reais ou mistas. São impostas ao titular do direito real simplesmente por esta sua condição. Exemplos: taxas condominiais, IPTU, ITR: Como o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já entendeu esta questão? No AgRg no AG 776.699-SP, a 3ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA reconheceu que as despesas de condomínio constituem obrigação propter rem, de modo que são de responsabilidade do proprietário da unidade “que tem posterior ação de regresso contra o ex-mutuário”. Já no REsp. 829.312-RS, a 4ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA afirmou que “o adquirente, em adjudicação, responde pelos encargos condominiais incidentes sobre o imóvel adjudicado”, também admitindo o caráter propter rem da obrigação condominial. Em 2017 afirmou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, através da Súmula 585, que a responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se refere ao período posterior à sua alienação. A explicação é cristalina: após a alienação a incumbência de pagamento do IPVA passará a ser do novo proprietário, tendo em vista a já citada natureza propter rem desta obrigação. O mesmo STJ afirma que o promitente comprador tem legitimidade passiva para figurar na ação de cobrança de condomínio, ainda que a referida promessa não esteja registrada, desde que o condomínio saiba da aludida promessa (REsp 657.506/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Direito, j. 07.12.2006). Tal posicionamento, igualmente, tem embasamento legal, especificamente no art. 1.334, parágrafo segundo do Código Civil. Ainda nas pegadas do mesmo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, verifica-se que este já consignou que a obrigação de recuperar área ambiental degradada é do atual proprietário, independente deste ter sido o autor da degradação, porque isto decorre de uma “obrigação propter rem, que adere ao título de domínio ou posse”. Na mesma linha afirma o Tribunal da Cidadania ser propter rem a obrigação tributária real de pagar o IPTU (REsp. 840.623-BA). Informativo n. 471. REsp. 1.237.071-PR. b) Obrigação de ônus real éaquela que limita o uso e o gozo da propriedade, consistindo em um gravame. É um direito sobre coisa alheia, oponível erga omnes. Verifica-se esta casuística na renda constituída sobre imóvel, na qual há um direito temporário que grava determinado bem, obrigando o seu proprietário a pagar prestações periódicas (art. 803 do CC). Exemplifica-se: João doa uma fazenda para Maria, obrigando esta (Maria) a destinar 50% (cinquenta por cento) da safra colhida, todo ano, para Caio. Enquadra-se igualmente aqui a hipoteca, o penhor e a anticrese, que são direitos reais de garantia, posto darem garantia a uma obrigação pré- existente, onerando um bem. c) A obrigação de eficácia real é aquela que, sem perder o ser caráter de direito pessoal, ou direito a uma prestação, ganha oponibilidade contra terceiros, que adquiram direitos sobre determinado bem, tendo em vista o seu registro. É o que tecnicamente chama-se de oponibilidade erga omnes. São obrigações que se transmitem. Exemplifica-se com o direito de preferência, em um contrato de locação devidamente registrado, conforme previsto no art. 33 da Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91). Outro exemplo é o registro do contrato de locação com cláusula de vigência, com o escopo de proporcionar sua continuidade, mesmo na hipótese de alienação do imóvel (art. 8° da Lei 8.245/91). São obrigações que atingem até mesmo o terceiro adquirente, ante ao seu registro. Atenção! Já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (REsp. 252.158-RJ) que o direito de preferência previsto na Lei de Locações e no Código Civil (8.245/91, arts. 27 e 33, e no CC, art. 576), quando não respeitado, enseja perdas e danos. Isto não impede que o interessado requeira a adjudicação do imóvel. Lembra-se que a referida adjudicação demanda a prévia averbação do instrumento contratual de locação no cartório imobiliário, pelo prazo de ao menos 30 (trinta) dias antes da alienação. Outrossim, o pedido de adjudicação há de ser realizado no prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados da venda. No mesmo sentido caminha o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, na Súmula 488. CLASSIFICAÇÃO BÁSICA DAS OBRIGAÇÕES OBRIGAÇÃO DE DAR (OBLIGATIO AD DANDUM) As obrigações de dar têm por objeto prestação de coisas e consistem na atividade de: a) Dar: Transferindo a propriedade das coisas; b) Entregar: Transferindo a posse ou detenção das coisas; c) Restituir: Devolução ao credor da posse ou detenção da coisa. A obrigação de dar pode ser dividida em um dar coisa certa (arts. 233 usque 242 do CC) e dar coisa incerta (arts. 243 a 246 do CC). Obrigação de Dar Coisa Certa Nas obrigações de dar coisa certa o objeto está completamente individualizado; leia-se: tem gênero, quantidade e qualidade. (Exempo - a entrega de um veículo de marca, ano, placa policial e chassi identificados). Nas pegadas do art. 233 do CC e à luz do princípio segundo o qual o acessório segue a sorte do principal, nas obrigações de dar coisa certa, as benfeitorias e os demais acessórios, à exceção das pertenças (arts. 93 e 94 do CC), devem acompanhar a transferência ou a restituição do bem principal. Enquanto a coisa certa não for dada, mediante tradição ou registro, a propriedade não será transferida, vigorando o princípio res perit domino suo. E se houver o perecimento (perda total) do bem antes da entrega? O tema é tratado nos arts. 234 do CC, cuja leitura recomendamos. Assim: a) Se ocorrer sem culpa do devedor, a exemplo de um caso fortuito ou força maior, antes da tradição ou pendente condição suspensiva, aplicar- se-á a regra do res perit domino. O devedor experimenta o prejuízo e restitui eventual crédito recebido. b) Se houver culpa do devedor, o credor terá direito de restituição do equivalente mais as perdas e danos, ante a presença da culpa. E se houver a deterioração (perda parcial) do bem antes da entrega? Quem se dedica ao assunto são os arts. 235 e 236 do CC, cuja leitura é indicada. a) Se a deterioração ocorrer sem culpa do devedor, a exemplo de um caso fortuito ou força maior, o credor poderá optar entre o abatimento proporcional do preço ou resolução da obrigação. b) Contudo, se houver culpa do devedor, o credor poderá optar entre o abatimento proporcional do preço, somado as perdas e danos; ou a resolução da obrigação, somada as perdas e danos. Aqui se abre ainda ao credor o direito de exigir o equivalente do objeto. E como proceder com os melhoramentos e acréscimos? Os arts. 237 e 238 do CC regulam o direito aos cômodos, os quais envolvem os melhoramentos, acréscimos e frutos. Segundo a regra, até a tradição pertence a coisa ao devedor, com os seus acréscimos e melhoramentos. Significa isto que o devedor possui direito de exigir do credor a complementação do preço, para a hipótese de valorização da coisa, antes da entrega, sob pena de desfazimento do negócio. Portanto, o art. 237 do CC constitui importante exemplo de relativização do pacta sunt servanda, diante da função social do contrato, a qual exige a equivalência material entre as prestações, evitando-se o enriquecimento sem causa e o locupletamento ilícito. Quanto aos frutos, antes da tradição ou do registro (antes da entrega), é importante lembrar que estes podem ser colhidos naturalmente, precipitadamente ou, ainda, podem estar pendentes à época da transferência (da entrega). Os frutos naturalmente colhidos são do dono à época da colheita; ou seja: do devedor que ainda não entregou o bem, haja vista ainda não ser o momento da entrega. Aplica-se, para este caso, o princípio segundo o qual o acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica, art. 92 do CC). À vista desta regra também é possível afirmar que se o fruto está pendente à época da transferência, o credor que recebe a coisa passa a titularizar o direito pelo acessório, de modo que será dono do fruto, devendo reembolsar as despesas de produção e custeio. Se o fruto, porém, é colhido precipitadamente, antes da tradição ou do registro, significa dizer que o devedor praticou ato ilícito, pois retirou o fruto anter tempus. Neste caso, o princípio segundo o qual ninguém pode se beneficiar da própria torpeza prevalece em detrimento do princípio segundo o qual o acessório segue a sorte do principal. Haverá o devedor de indenizar tais frutos. E se a obrigação for de restituir? a) Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder (perecer), antes da tradição, sofrerá o credor a perda e a obrigação se resolverá. b) Se a coisa se perder (perecer) por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais as perdas e danos. c) Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização. d) Se houver culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais as perdas e danos. Em relação aos melhoramentos, acréscimos e frutos na obrigação de restituir, há duas possibilidades Se tais benefícios são agregados à coisa principal, sem concurso de vontade ou despesas do devedor, lucra o credor, sem direito à indenização (art. 241 do CC); Caso os benefícios tenham exigido concurso de vontade ou despesas para o devedor, o Código ordena que se apliquem as regras relativas aos efeitos da posse (art. 242 do CC); ou seja: (i) Possuidor de Boa-Fé: Terá direito de indenização e retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis. Em relação às voluptuárias, poderá levantá-las, sem detrimento da coisa principal. Será indenizado pelo valor atual. (ii) Possuidor de Má-Fé: Terá apenas direito de indenização pelas benfeitorias necessárias. Aqui o reivindicante poderá optar, ainda, se indenizará pelo valor atual ou de custo. São disposições muito próximas à perda do objeto na obrigação de dar coisa certa. Justo por isto, informa o Enunciado 15 do CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL que as disposições do art. 236 do CC – que autorizam, na hipótese de culpa do devedor, que o credor exija o equivalente, ou aceitea coisa no estado em que se ache, com direito a reclamar, em ambos os casos, perdas e danos – também se aplicam ao art. 240. Vale dizer: nas obrigações de restituir deve-se aplicar a mesma lógica jurídica do que está previsto no art. 236, em fiel respeito ao princípio da conservação do negócio jurídico e da autonomia privada. Obrigação de Dar Dinheiro (Pecuniária) Digno de nota a novidade trazida pelo Código Civil quanto à positivação da obrigação pecuniária. Em verdade, nada mais é senão uma obrigação de dar dinheiro, modalidade, portanto, de uma obrigação de dar coisa certa. Consistem na entrega, pelo devedor ao credor, de um determinado valor em dinheiro, havendo adimplemento obrigacional. Na forma dos arts. 315 e 947 do CC, sem precedentes na legislação anterior, as dívidas pecuniárias devem ser pagas em moeda corrente, no lugar do cumprimento, pelo valor nominal (princípio do nominalismo). Este valor é aquele fixado pelo Poder Público quando da emissão ou cunhagem da moeda, como adverte CARLOS ROBERTO GONÇALVES. In Direito das Obrigações – Parte Geral. V. 5. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 62. Obrigação de Dar Coisa Incerta ou Genérica A obrigação de dar coisa incerta, também denominada de obrigação genérica, é aquela cujo objeto está individualizado apenas no seu gênero (espécie) e quantidade, carecendo de qualidade (art. 243 do CC). Exemplifica-se com a obrigação de entregar 15 (quinze) sacas de cacau. Há espécie (cacau) e quantidade (quinze sacas). Todavia, como não houve ainda individualização, não há qualidade. Malgrado ser possível o objeto incerto (determinável), o fato é que, em algum momento, a coisa haverá de ser acertada, individualizada ou determinada. Ao gênero e quantidade haverá de ser somada a qualidade. Mas, como isto irá acontecer? Malgrado a doutrina falar em espécie, o Código Civil utiliza-se da expressão gênero. Apesar do art. 243 do CC afirmar que a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade, tecnicamente é mais correto utilizar o signo espécie no lugar do gênero, termo extremamente genérico. A operação jurídica que transforma o incerto (determinável) em certo (determinado) é denominada de concentração do débito ou da prestação. Esta, salvo disposição em contrário, caberá ao devedor (CC, art. 244). Nada impede, por conseguinte, que as próprias partes pactuem a escolha por parte do credor ou de terceiro. A norma é dispositiva ou supletiva: aplica-se apenas no silêncio das partes. A escolha deverá guiar-se por um critério médio. Não deverá ser escolhido nem o melhor e nem o pior objeto, mas sim o médio (intermediário), segundo o viés da boa-fé e eticidade (CC, arts. 113 e 245). Após a escolha, passam a serem aplicadas as regras da obrigação de dar coisa certa. A incerteza do objeto obrigacional é sempre transitória (relativa). Atenção! Está consolidada no direito civil a expressão segundo a qual o gênero não perece nunca (genus nunquam perit). Desta forma, não se deve aplicar para as obrigações de dar coisa incerta, antes da escolha do objeto, o regramento do res perit domino. É o que prescreve o art. 246 do CC. Sendo assim, se a perda do objeto ocorrer antes da concentração do débito, responderá o devedor, ainda que diante de um caso fortuito ou força maior. OBRIGAÇÃO DE FAZER (OBLIGATIO AD FACIENDUM) Trata-se de uma obrigação positiva que impõe uma conduta, um facere, uma prestação de fato para o devedor. E é justamente através da prática desta ação específica, entabulada na obrigação, que o devedor irá adimplir sua prestação. Fungível: Aqui pouco importa quem está cumprindo com a prestação (arts. 816 e 817 do CPC). Infungível: Personalíssima, seja pela natureza do bem, seja pela convenção das partes. Nesta, o devedor é o elemento causal da obrigação. Mas, como proceder na hipótese de descumprimento da obrigação de fazer? A problemática do inadimplemento da obrigação de fazer deve considerar a presença, ou não, do elemento culpa no caso concreto. É dizer: sem culpa, resolve-se a relação obrigacional. Com culpa, surge o dever de reparar, pois a hipótese é de responsabilidade civil subjetiva por ato próprio, onde a Teoria da Culpa está presente. Caso no descumprimento culposo a prestação não mais interesse ao credor, a solução será o ressarcimento em perdas e danos. Exemplifica-se com o longo atraso, culposo, de um animador de festa ao aniversário de uma criança. O aludido animador possuía uma obrigação de fazer pactuada. Ocorre que, ante ao descumprimento culposo, provavelmente o credor não mais tenha interesse na prestação. Aqui, a solução, será a busca da reparação integral. A obrigação fungível é substituível. Assim, diante do descumprimento obrigacional culposo, poderá o credor, que ainda tem interesse no cumprimento, exigir que outra pessoa adimpla a obrigação, às custas do devedor, sem prejuízo da indenização cabível (CC, art. 249). Atenção! Polêmica interessante diz respeito à revogação, ou não, do art. 249 do Código Civil, em face do novel art. 816 do Código de Processo Civil. Com efeito, o art. 816 do CPC firma que se o executado não satisfizer a obrigação no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do processo, requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se converterá em indenização. Vê-se, da redação processual, que haveria uma aparente alternância, possibilitando-se ao lesado ou o pedido de cumprimento obrigacional ou as perdas e danos. Infere-se, portanto, saída processual diversa do Código Civil, o qual possibilita ao lesado cumulação do pedido de cumprimento obrigacional com as perdas e danos pelo atraso, acaso não seja do interesse do lesado conversão integral em perdas e danos.. E então? Teria o Código de Processo Civil revogado a possibilidade de cumulação do Código Civil? A resposta é negativa. Mesmo diante do art. 816 do Código de Processo Civil, poderá o exequente – em execução de obrigação de fazer fungível, decorrente do inadimplemento relativo, voluntário e inescusável do executado – requerer a satisfação da obrigação por terceiro, cumuladamente ou não, com as perdas e danos. Isto, porque, o caput do art. 816 do CPC não derrogou o caput do art. 249 do Código Civil. Como pouco importa quem venha a cumprir com a obrigação, em caso de urgência poderá o credor, de próprio punho e independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido, como numa espécie de autotutela civil ou justiça de mão própria, elogiada por SILVIO DE SALVO VENOSAA expressão “será livre” é, de certo modo, polêmica, na medida em que enseja debate sobre a (des)necessidade de o credor atuar sem passar, digamos assim, pelo Judiciário. Já a obrigação infungível é insubstituível. Assim, diante do descumprimento culposo, inicialmente poderá o credor, ainda interessado no adimplemento obrigacional, valer-se do pedido de tutela específica (medida de apoio), a exemplo de uma multa diária – astreintes (CPC, art. 497 e CDC, art. 84)– somada ao pleito de perdas e danos (CC, art. 248). Caso não haja mais interesse, ou possibilidade de adimplemento, tudo será convertido em perdas e danos. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 83. Já houve tempo em que o direito enxergava a liberdade humana como plena. Neste cenário, a Teoria da Incoercibilidade da Vontade Humana era absoluta. Ou seja: se o devedor não deseja cumprir com a sua obrigação de fazer pessoal, a única via possível seria a reparação pecuniária do credor. Isto, porém, gerava um grande senso de irresponsabilidade, mormente para os mais abastados. Com o passar do tempo, o Processo Civil passou a flexibilizar a Teoria da Incoercibilidade Humana, desde que respeitados os direitos fundamentais. Passaram a ser utilizados mecanismos de coerção, com tutelas específicas, com o fito de proporcionar o adimplemento in natura, sem embargo das perdas e danos.O Enunciado 589 do CJF cristalizou o entendimento segundo o qual a compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo admitida a reparação “in natura, na forma de retratação pública ou outro meio”. Neste cenário, sintetizando o tema, eis um quadro ilustrativo da Tutela Jurisdicional de Obrigação de Fazer e das medidas as quais o magistrado pode lançar mão: Tutela Inibitória Tutela Sub-Rogatória Tutela de Remoção do Ilícito NCPC, art. 497. NCPC, art. 497. Lei 11.340/06, art. 22. Inibe o devedor mediante multa diária (astreintes). O Juiz fixa prazo para cumprimento da prestação. A sentença substitui a vontade do inadimplente. Supre a vontade não emitida. Chega-se ao efeito prático equivalente. A medida de remoção do ilícito pode ser ilustrada com o mandado de distanciamento da Lei Maria da Penha, a demolição de um muro, o desbloqueio de uma rua. Atenção! O CPC assume posição visivelmente enfática ao resultado prático do processo, prestigiando as diretrizes da simplificação, economia, celeridade e efetividade. Desta maneira, a tutela jurisdicional específica que assegure o resultado útil e prático da demanda e que melhor se adeque ao bem da vida objeto de proteção judicial. A tutela específica é numerus apertus de forma que o magistrado estará autorizado, nos limites das garantias fundamentais e dos direitos sociais, a conceder toda e qualquer medida à justa atividade judiciária. Em arremate, cumpre anotar algumas considerações quanto ao rol de tutelas específicas do art. 497 do NCPC: • Trata-se de rol meramente exemplificativo, sendo possível a utilização de outras medidas. • As medidas específicas podem ser concedidas de ofício. • É possível, durante o processo, que o juiz amplie, reduza ou modifique a tutela específica até que encontre a medida adequada. • O descumprimento das medidas impostas pelo juiz configura crime de desobediência (CP, art. 330), quanto ao particular; e de prevaricação, quanto ao servidor público, além das demais sanções processuais, como a litigância de má-fé a quem é parte ou o contempt of court a quem não é parte (NCPC, art. 77, §6º). Caso a tutela específica não gere o cumprimento obrigacional, caberá ao credor apenas as perdas e danos (CC, art. 248). Isto se justifica ante o princípio da conservação dos negócios jurídicos, que mantém íntima relação com o princípio da função social dos contratos (Enunciado 22, CJF). OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (OBLIGATIO AD NON FACIENDUM) A obrigação de não fazer está prevista nos arts. 250/251 do CC. É a única obrigação negativa admitida no Direito Privado. Configura-se pelo compromisso de abstenção de uma conduta, de modo que o devedor fica proibido de praticar um determinado ato, sob pena de inadimplemento. É uma abstenção juridicamente relevante. Exemplo: não despejar lixo em determinado local; não divulgar segredo industrial; não construir acima do terceiro andar; não abrir um estabelecimento comercial nesta vizinhança; não poluir o meio ambiente; não concorrer num determinado ramo do comércio, etc. Obrigação de não fazer instantânea Obrigação de não fazer permanente Inadimpl emento Perdas e danos Desfazimento do ato CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DOS ELEMENTOS OBRIGACIONAIS Simples são as obrigações que se caracterizam pela singularidade de sujeitos e de prestação. São aquelas que só possuem um credor, um devedor e uma prestação. Compostas são as obrigações com mais de um objeto ou sujeito. São aquelas caracterizadas ou pela multiplicidade de objetos, ou de sujeitos. OBRIGAÇÕES COMPOSTAS PELA MULTIPLICIDADE DE OBJETOS As obrigações compostas pela multiplicidade de objetos podem ser (i) comutativas-conjuntivas ou (ii) alternativas-dijuntivas. Em regra, a escolha do objeto (concentração da prestação) caberá ao devedor, se outra coisa não se estipular, ou não se extrair da interpretação do caso concreto. Aqui se insere o brocardo: electa una via, altera non datur; ou seja: eleita uma via, não há retorno. Se houver uma pluralidade de optantes, a escolha haverá de ser unânime. Em não existindo unanimidade no prazo delineado na obrigação, a escolha caberá ao juiz (CC, art. 252, §3º). Se não houver prazo estabelecido no vínculo obrigacional, este será de 10 (dez) dias, contados da citação (NCPC, art. 800). No silêncio, o magistrado irá suprir a escolha. E poderia o devedor concentrar o débito parcialmente em uma prestação e parcialmente em outra? Em sendo a obrigação de trato sucessivo, ou diferida no tempo, como proceder a escolha? Sendo a obrigação de trato sucessivo, diferida no tempo, o direito de escolha poderá ser realizado em cada um dos respectivos momentos, ante o jus variandi na hipótese. GUSTAVO TEPEDINO denomina tal casuística de balanceamento da concentração. Assim, em cada pagamento será exercido o direito de escolha. Como proceder na hipótese de perda do objeto nas obrigações alternativas? Assim como na obrigação de dar coisa certa, aqui irão influir de sobremaneira perquirir se a perda é total (perecimento), ou parcial (deterioração), e a verificação se há, ou não, culpa na aludida perda. In Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 529. Vamos iniciar tratando do perecimento (perda total): a) Se o perecimento foi sem culpa do devedor, a exemplo de um caso fortuito ou força maior, a obrigação se resolve (CC, art. 256). b) Se a escolha caberia ao devedor e o perecimento foi com culpa, haverá de adimplir ao credor o valor equivalente da prestação que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos. c) Se a escolha caberia ao credor e houve culpa do devedor no perecimento, o credor poderá escolher o valor de quaisquer das prestações impossibilitadas, mais as perdas e danos (CC, art. 255). Já diante da deterioração (perda parcial): a) Se a deterioração foi sem culpa do devedor, o débito será concentrado na prestação remanescente (CC, art. 253). b) Se a deterioração foi com culpa do devedor: b.1)e a escolha caberia ao credor, este poderá exigir a prestação remanescente, ou o equivalente da impossibilitada, mais as perdas e danos (CC, art. 255); b.2)e a escolha cabe ao devedor, basta que este concentre o débito na prestação remanescente (CC, art. 253). Atenção! No campo do Direito Processual, o art. 325 do NCPC autoriza a elaboração de pedidos alternativos, toda vez que a obrigação, no plano do direito material, for alternativa. Uma questão controvertida na doutrina é a denominada obrigação facultativa, também chamada de obrigação com faculdade alternativa ou obrigação com faculdade de substituição. Apesar de não prevista explicitamente com este nome na lei, é defendida por parte da doutrina. Nesta modalidade obrigacional (para quem admite a existência da mesma), haveria apenas uma prestação, acompanhada por uma faculdade a ser exclusivamente realizada pelo devedor, de acordo com a sua opção ou conveniência, no sentido de substituir a prestação, de modo que o credor não poderia exigir qualquer tipo de alternância. Portanto, a obrigação facultativa seria uma obrigação simples, como sustentam MARIA HELENA DINIZ e SILVIO DE SALVO VENOSA, trazendo a doutrina o exemplo do contrato estimatório ou por consignação (CC, art. 534). O poder de substituição da prestação é exclusivo do devedor. Seguindo nas suas ilações, SÍLVIO DE SALVO VENOSA apresenta o conceito da obrigação facultativa que se encontra no art. 643 do Código Civil Argentino, segundo o qual obrigação facultativa é aquela que, não tendo por objeto senão uma única prestação, dá ao devedor a faculdade de substituir essa prestação por outra. Trata-se de importante preceito que pode servir como um parâmetro ao entendimento da matéria no Brasil. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 124. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 360. In Direito Civil. 7. ed.São Paulo: Atlas, 2007. p. 89. Exemplifica-se: o devedor deve entregar um carro, mas, acaso não o tenha, deverá adimplir com uma prestação de serviço. Trata-se de uma relação de preferência, e não de alternância. OBRIGAÇÕES COMPOSTAS PELA MULTIPLICIDADE DE SUJEITOS As obrigações solidárias são aquelas compostas pela multiplicidade dos sujeitos que a integram, seja no polo ativo (solidariedade ativa), seja no polo passivo (solidariedade passiva), seja em ambos (solidariedade mista). Também se caracteriza pela unidade objetiva da obrigação (CC, art. 264). Duas questões devem, inicialmente, serem lembradas: (i) A solidariedade não se presume, decorre de lei (solidariedade legal) ou da vontade das partes (solidariedade convencional) – CC, art. 265. Pode decorrer da lei, por exemplo, quando consequente de um ato ilícito, a exemplo dos arts. 932 e 942 do CC, bem como no art. 7º, parágrafo único, do CDC, segundo o qual tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação de danos. Outros exemplos de solidariedade legal são vistos na pluralidade de inquilinos de um mesmo imóvel urbano (art. 2º da Lei 8.245/91); pluralidade de fiadores (art. 829 do CC) e pluralidade de comodatários (art. 585 do CC). (ii) Decorrendo da autonomia privada, nada impede que a solidariedade seja pura ou simples, condicional, a termo ou com modo ou encargo, conforme rol exemplificativo do art. 266 do CC e o Enunciado 347 do CJF: “A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol previsto no art. 266 do Código Civil”. Com efeito, é até mesmo possível que a solidariedade seja, em um mesmo vínculo, pura para um dos devedores e condicionada para outro. Afirma-se que na solidariedade há uma relação jurídica interna (dentro do polo ativo ou do polo passivo), ao lado de uma relação jurídica externa (entre o polo ativo e o passivo). Isto é facilmente percebido pelo fato daquele que adimpliu poder exigir reembolso dos demais codevedores que não o tenham ajudado no pagamento (relação interna no polo passivo após a conclusão da relação externa entre credor e devedor). O mesmo ocorre com quem receber toda a dívida (relação externa), pois terá que redistribuir observando a quota- parte dos demais credores (relação interna no polo ativo). Para SÍLVIO DE SALVO VENOSA a solidariedade se trata de um artifício técnico utilizado com o objetivo de reforçar o vínculo e facilitar o cumprimento da dívida, de modo que a totalidade do seu objeto pode ser reclamada por qualquer um dos credores ou dos devedores, configurando, pois, obrigação unitária, in solidum. Um belo exemplo dessa tese pode ser identificado no conteúdo da súmula 581 do STJ, segundo a qual “A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória”. A solidariedade, neste caso, facilita o cumprimento da dívida. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 98/99. A solidariedade ativa (CC, 268) pode gerar, para o caso de um credor ajuizar ação judicial, o instituto da prevenção judicial, “podendo a satisfação da obrigação somente ocorrer em relação àquele que promoveu a ação”, como sustenta MARIA HELENA DINIZ. O instituto da prevenção judicial é bem simples. Enquanto não houver demanda alguma, qualquer credor pode, extrajudicialmente, receber todo o valor; e qualquer devedor quitar toda a prestação. Contudo, acaso um dos credores, por hipótese, venha a ajuizar ação de cobrança, por exemplo, nenhum devedor poderá mais realizar o pagamento de modo extrajudicial. A prevenção impõe que o pagamento somente aconteça dentro do processo. Importante lembrar que a prevenção ocorre a partir da distribuição ou do registro da inicial. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 299. A denominada refração do crédito solidário é prevista no art. 270 do CC, que traz disciplina sobre eventual morte de um dos credores no bojo de uma relação que contenha solidariedade ativa. Sabe-se que a obrigação se transmite causa mortis até as forças da herança, de modo que, com o óbito, haverá a refração do crédito, ou seja, da obrigação, nos limites da quota hereditária recebida. Ex: credor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) falece e deixa 3 (três) filhos herdeiros. Cada um destes herdeiros somente poderá exigir uma quota de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). A regra só não incide acaso a obrigação seja indivisível, por razões óbvias. A refração do débito solidário, por sua vez, está prevista no art. 276 do CC. Se um dos devedores solidários falecer e deixar herdeiros, estes serão obrigados a pagar apenas a quota que corresponder ao quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Sendo a dívida indivisível, qualquer herdeiro pode ser constrangido a realizar toda a prestação. Sendo divisível, ou se pretende contra o herdeiro, nos limites do seu quinhão, ou se pretende contra todos, reunidos na qualidade de litisconsórcio passivo necessário. Atenção! A morte cessa a solidariedade, responsabilizando-se eventuais herdeiros apenas até os limites da força da herança. Como já vimos, para tal hipótese incide o instituto da refração do crédito ou do débito solidário, o que se conforma com o instituto processual da saisine (CC, art. 1.784) e das forças da herança (CC, art. 1.792). O devedor solidário demandando em processo poderá arguir as suas exceções (defesas) pessoais e as demais defesas (exceções) comuns. As exceções pessoais são incomunicáveis, pois relacionadas apenas ao sujeito. Exemplifica-se com um vício de consentimento, a exemplo de um devedor que fora coagido a celebrar o contrato. Apenas ele – o coagido – poderá arguir tal fato em defesa, buscando a anulabilidade do vínculo (art. 171 do CC). O outro codevedor solidário não poderá fazê-lo. Caso, porém, tenha havido a quitação por parte de um dos codevedores, quaisquer um deles poderá arguir, pois é uma questão comum (CC, art. 281). Ainda neste sentido, o art. 273 prevê que o devedor não pode opor exceções pessoais indistintamente aos credores solidários, ante a natureza personalíssima destas. Ex: “se o devedor foi coagido por um credor solidário a celebrar determinado negócio jurídico, a anulabilidade do negócio somente poderá ser oposta em relação a esse credor, não em relação aos demais credores, que nada têm a ver com a coação exercida”, na lição de FLÁVIO TARTUCE. Importante, para não se dizer polêmico, é o assunto abordado no art. 274 do CC, ao informar que o julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; enquanto que o julgamento favorável aproveita-lhes, ao menos que se funde em exceção pessoal. In Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Método, 2009. p. 101. Outrossim, o art. 275 codificado aduz ainda que a propositura de ação em face de um, ou alguns dos devedores, não exonera os demais, os quais persistem solidariamente obrigados. Logo, se “A” é credor de “B”, “C” e “D” (devedores solidários), e propõe ação apenas em face de “B”, isso não quer significar que ele está renunciando a solidariedade em face de “C” e “D”. O que fazer na hipótese de perda culposa do objeto na obrigação solidária? Na hipótese de perda do objeto da obrigação solidária por culpa de um dos devedores, todos subsistem solidariamente obrigados a indenizar o credor pelo equivalente da perda. Todavia, em relação às perdas e danos, apenas será devida pelo culpado (CC, art. 279). Exemplifica-se. Imagine que “B”, “C” e “D” são devedores solidários, por força do contrato, da entrega de um caminhão de soja para “A”. Fica a cargo de “B” levar a aludida carga. “B”, por desídia sua – embriaguez, por exemplo – tomba o caminhão e perde toda a carga. Aqui, “B”, “C” e “D” subsistem solidariamente obrigados pelo equivalente da carga, inclusive a mora, mas apenas “B”, o culpado, arcará com asperdas e danos (obrigação acrescida). Ainda no tratamento da solidariedade, a dívida paga pelo devedor solidário a quem interessar exclusivamente o cumprimento da obrigação, impossibilita o direito ao regresso (CC, art. 285). Assim, se há solidariedade entre o devedor principal e os fiadores, em função da renúncia ao benefício de ordem (art. 827/828 do CC), e o devedor principal quita com a sua dívida, logicamente não há de se falar em ação regressiva em face dos demais devedores solidários – que seriam meros garantidores/fiadores. Tendo em vista ser a solidariedade uma classificação afeta aos sujeitos da obrigação, a conversão do objeto em perdas e danos não a atingirá, persistindo a solidariedade (CC, art. 271). CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DIVISIBILIDADE DO OBJETO Quando falamos em obrigações solidárias, estamos a nos referir aos sujeitos. Já ao falarmos das obrigações indivisíveis, tratamos do objeto. O art. 87 do CC já disciplinava, na Parte Geral, os bens divisíveis como os que podem se partir em porções iguais, autônomas e distintas, sem alteração da substância. O art. 257 do CC avança para situações ainda mais complexas de indivisibilidade, para além da natureza do bem em si, disciplinando a obrigação divisível da seguinte maneira: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”. Portanto, segundo a lei, é possível que uma relação obrigacional seja fixada de modo a se admitir uma pluralidade de devedores ou credores, os quais arquem apenas com parte da dívida fracionável. Eis o brocardo concursu partes fiunt (em havendo concurso de credores ou devedores a obrigação fraciona-se). Nesta senda, estaríamos diante das obrigações fracionárias ou parciais que não constituem um crédito coletivo, como as que decorrem de um condomínio, na forma do art. 3º da Lei 2.757/56 e do art. 1.317 do CC. São obrigações passíveis, pois, de divisão (divisíveis). A obrigação será indivisível quando sua prestação não puder ser fracionada, seja ante a natureza do objeto, por motivo de ordem econômica, ou em decorrência da vontade dos contratantes, que podem inserir esta cláusula nos negócios jurídicos. É o que afirma o art. 258 do CC. Os condôminos responderão proporcionalmente pelas obrigações previstas nas leis trabalhistas, inclusive as judiciais e extrajudiciais. O módulo rural a que se refere a Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra) e as servidões prediais do art. 1.386 do CC são exemplos de indivisibilidade legal. Portanto, segundo a lei, é possível que uma relação obrigacional seja fixada de modo a se admitir uma pluralidade de devedores ou credores, os quais arquem apenas com parte da dívida fracionável. Eis o brocardo concursu partes fiunt (em havendo concurso de credores ou devedores a obrigação fraciona-se). Nesta senda, estaríamos diante das obrigações fracionárias ou parciais que não constituem um crédito coletivo, como as que decorrem de um condomínio, na forma do art. 3º da Lei 2.757/56 e do art. 1.317 do CC. São obrigações passíveis, pois, de divisão (divisíveis). A obrigação será indivisível quando sua prestação não puder ser fracionada, seja ante a natureza do objeto, por motivo de ordem econômica, ou em decorrência da vontade dos contratantes, que podem inserir esta cláusula nos negócios jurídicos. É o que afirma o art. 258 do CC. A grande discussão na obrigação indivisível é: como proceder com o pagamento caso haja uma pluralidade de credores? Dois caminhos possíveis (CC, art. 260): a) O devedor convocar todos os credores para a entrega conjunta da coisa; b) O devedor cumprir a obrigação em face de um só credor, desde que obtenha deste a caução de ratificação dos demais. Trata-se de uma garantia pela qual este confirma que repassará o correspondente aos demais credores. O art. 263 do CC traz a principal diferença entre a obrigação indivisível e solidária, qual seja: a perda do caráter daquela (indivisibilidade) quando convertida em perdas e danos. Isto jamais ocorre na solidariedade. Explica- se: na forma do art. 263 do CC, a obrigação indivisível perde esta natureza quando convertida em perdas e danos; o que não ocorre com a solidária ativa, que permanece com o dever do sujeito passivo obrigacional pagar a quem quer que seja. Nessa ordem de ideias, informa o Enunciado 540 do CJF que em havendo perecimento do objeto indivisível, todos os devedores haverão de arcar proporcionalmente com o fato, de forma divisível. Todavia, as perdas e danos apenas serão devidos pelo culpado.Isto porque a indivisibilidade relaciona-se ao objeto. Com efeito, perdas e danos consistem em um objeto divisível. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO FIM: OBRIGAÇÕES DE MEIO, RESULTADO E GARANTIA Existem obrigações que são de resultado, porque o devedor se compromete (assume o risco) com a ocorrência de um determinado evento futuro, sob pena de responsabilidade civil. Leia-se: apenas há cumprimento obrigacional, acaso atingido o resultado. Exemplo: “Eu prometo que você estará em casa às 8h, afinal de contas o meu transporte jamais atrasou, de modo que garanto, você não perderá o compromisso ajustado naquele horário”. Visível que nesta hipótese o devedor assume não apenas a execução da atividade, como também a consecução do fim desejado, ou seja, do resultado pretendido pelo credor. Na lição de SÍLVIO DE SALVO VENOSA, nesta modalidade de obrigação o resultado é o que importa, independente dos meios utilizados para tanto, de modo que apenas assim a obrigação será considerada adimplida. O fundamental é saber o que o devedor prometeu e o que o credor pode razoavelmente esperar. Exemplifica-se com o contrato de transporte (CC, art. 737). Neste o transportador haverá de lhe levar de um ponto a outro, sob pena, em regra, de responsabilidade civil. Ainda na legislação codificada, outro exemplo é a promessa de fato de terceiro (CC. Art. 439 do CC). Aqui, se o contratado prometeu que o terceiro cumprirá com a avença, este haverá de fazê-lo. Pouco importa afirmar que encetou todos os esforços para tanto. A obrigação é de resultado. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 52/53. Na obrigação de resultado cabe arguição de excludente de responsabilidade civil? Sim! No caso de contrato de transporte, por exemplo, malgrado resistências doutrinárias, que serão enfrentadas quando da análise das excludentes de responsabilidade civil, o art. 737 do CC firma a possibilidade de arguição da força maior, especialmente o fortuito externo. Como se posicionou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema? Em outubro de 2012 o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu que processo alérgico posterior à cirurgia plástica estética é fortuito. Desde que o médico tenha agido com toda a diligência possível, não há de ser responsabilizado (REsp 985888 / SP. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. Quarta Turma. Publicado em: 13/03/12). Outras obrigações são as de meio. Nestas, o devedor não tem como (ou não deseja) se comprometer com o resultado. Ex: “prometo que utilizarei todos os recursos existentes na medicina para lhe salvar, mas não tenho como garantir o resultado disto”. O devedor, portanto, obriga-se apenas a executar a atividade, com a maior probidade e diligência possível. Nada mais. Mais uma vez, a doutrina de SÍLVIO DE SALVO VENOSAé esclarecedora ao sustentar o exemplo com o médico e o advogado. Aquele não pode garantir a cura. O advogado, muito menos, o ganho da causa. Apenas poderão “empregar toda a sua técnica e diligência no sentido de que tais objetivos sejam alcançados”. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 53. Nos termos do art. 14, §4º do CDC os profissionais liberais, como o advogado e o médico, por exemplo, assumem apenas obrigação de meio, daí porque a responsabilidade civil destes será subjetiva (responsabilidade civil por ato próprio, Teoria da Culpa). No mesmo sentido os profissionaisda saúde a que se refere o art. 951 do CC. Já na obrigação de garantia o devedor, mediante contraprestação pecuniária, assume (garante) um risco. O garantidor tem como principal compromisso eliminar os riscos do credor. SÍLVIO DE SALVO VENOSAsustenta que o conteúdo desta modalidade reside no desejo de se eliminar um risco, que pesa sobre o credor. Dessa forma, a simples assunção do risco pelo devedor da garantia representa o adimplemento da prestação. Assim, em um contrato de segurança patrimonial prestado por empresa especializada, onde este negócio jurídico se apresenta ao lado de uma obrigação de meio, ou ainda nos casos de seguro e fiança, quando se tem uma típica obrigação exclusivamente de garantia (garantia pura). In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 52/53. Como se pronunciou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema? Por essência, a obrigação de garantia é acessória de uma principal, de modo que o adimplemento da primeira extingue a segunda, como já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (REsp 174.246). CLASSIFICAÇÃO QUANTO À LIQUIDEZ O CC/16 veiculava em seu art. 1.533 o conceito de obrigação líquida como aquela “certa, quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto”. Trata-se de um importante parâmetro para a compreensão desta modalidade. A obrigação ilíquida, em sentido inverso, é aquela na qual seu objeto não está delineado, determinado. É uma dívida não individuada. Realizando diálogo com o Direito Processual Civil, diz o art. 509 do CPC que quando a sentença não determinar o valor devido, proceder-se-á a sua liquidação. Esta liquidação ocorre mediante peticionamento do credor e intimação do advogado já constituído nos autos. Pode ser requerida, até mesmo, na pendência do recurso, hipótese na qual autos apartados devem ser formados no juízo de origem. Tal ônus processual é do liquidante, já que o processo está em grau de recurso. Tal liquidação dar-se-á: (i) Liquidação por Cálculo Aritmético (CPC, art. 509, §2º): é a mais comum e ocorre quando já se tem nos autos todas as informações necessárias à identificação do quantum debeatur; leia-se: do valor devido. Neste caso, o credor deve requerer o cumprimento da sentença, na forma do art. 523 do NCPC, instruindo o pedido com a memória de cálculos. Aqui haverá a incidência de uma multa de 10% (dez por cento) e honorários advocatícios também de 10% (dez por cento) se a dívida não for paga no prazo processual para o adimplemento da sentença. Atenção! Eis a redação do art. 523, §1º do CPC: “Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento”. Para SÍLVIO DE SALVO VENOSAtrata-se da mais simples hipótese de liquidação, na qual sequer há necessidade de contador judicial, ante a simplicidade dos cálculos. Apesar disto, o art. 475-B autoriza o magistrado a valer-se de “contador do juízo”. É uma faculdade a cargo do Juiz. (ii) Liquidação por Arbitramento (CPC, art. 510): acontece quando determinada pela sentença, convencionada pelas partes, ou quando exigir a natureza do objeto da liquidação. Aqui não existem elementos objetivos, nem dentro, nem fora dos autos, para fixação do montante. É a casuística do dano moral. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 113. Atenção! CPC, Art. 510: “Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar; caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial”. (iii) Liquidação por Artigos: apesar de o CPC não mencionar este procedimento, entendemos que o mesmo ainda permanece, em tese, possível de ser aplicado pelo magistrado. Nesta modalidade os elementos de quantificação da dívida ainda não se encontram nos autos, aspecto a exigir um incidente de instrução do feito para se provar o denominado fato novo. De acordo com HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, o credor indicará os fatos a serem provados (um em cada artigo), para servir de base à liquidação. Não caberá aqui debate indiscriminado sobre qualquer fato, mas apenas os arrolados e articulados que tenham influência na fixação do valor da condenação, ou na individualização do objeto, sendo vedado rediscutir a lide já sentenciada. In Curso de Direito Processual Civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. v 2, p. 95. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DO ELEMENTO ACIDENTAL (i) obrigação sujeita ao elemento acidental da condição. Trata-se de elemento que traz dentro de seu conceito as noções de futuridade e incerteza (elemento futuro e incerto), geralmente acompanhado da palavra “se”. Ex., doação feita a nascituro (CC, art. 542): “Dou parte da minha propriedade ao nascituro se ele nascer, evidentemente”. (ii) obrigação sujeita ao elemento acidental termo. Trata-se de elemento que traz dentro de seu conceito as noções de futuridade e certeza. A certeza da ocorrência do termo é o que o distingue da condição. O termo diz respeito a evento futuro e certo. Ex. Doação na qual o donatário fica com o bem por um lapso temporal: “quando você completar a maioridade perderá a propriedade resolúvel do bem”. (iii) obrigação sujeita ao elemento acidental modo ou encargo. A futuridade também estará presente. Contudo, nesta hipótese, ao invés de se ter uma incerteza, ou uma certeza, o que se ajusta será um sacrifício, um trabalho, um múnus, sem o qual o negócio obrigacional não acontecerá. Ex. A doação onerosa referida no art. 540 do CC. As expressões “para que” e “desde que” bem identificam o modo ou encargo. Ilustre-se: “deixo-lhe uma biblioteca para que você ministre aulas de português naquele lugar”. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DEPENDÊNCIA O art. 92 do CC afirma ser principal a coisa que existe sobre si, abstrata ou concretamente. Já a acessória é aquela cuja existência pressupõe a da principal. No dizer de SÍLVIO DE SALVO VENOSAexistem obrigações que nascem e existem por si mesmas, independentes. Outras surgem apenas para se agregar, de modo que sua existência está na razão de ser da principal, e em torno desta gravitam (princípio da gravitação jurídica). Pode-se afirmar, assim, que as obrigações acessórias dependem das principais como acontece com a fiança, o aval, o seguro, a hipoteca, o penhor e a anticrese, afinal de contas o acessório segue a sorte do principal. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 112. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MOMENTO DE CUMPRIMENTO As obrigações podem ser momentâneas, sejam instantâneas ou diferidas no tempo, e de trato sucessivo, continuada ou duração. Pode ser de prazo determinado ou indeterminado. Momentâneas são as obrigações que se cumprem em um único momento. Instantâneas são aquelas em que se cumpre logo após a pactuação da obrigação. Ocorre, por exemplo, quando se pactua uma compra e venda com pagamento à vista. Já nas diferidas, cumpre-se em um único momento, porém não logo após o contrato. Exemplifica-se com a compra e venda na qual fica acertado que o pagamento e a entrega do objeto ocorrerão 30 (trinta) dias após o pacto. Trato sucessivo, duração ou continuada são aquelas que se renovam no tempo, seja por prazo determinado ou indeterminado. Não serão, porém, eternas, porque o contrato não é eterno. Nem o casamento é um contrato eterno. Do adimplemento e da extinção das obrigações (teoria do pagamento direto) NOTA INTRODUTÓRIA: NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS DE VALIDADE DO PAGAMENTO As pessoas, ao que parecem, contratam para adimplir. Essa é a presunção jurídica (a da boa-fé) a ser feita na tutela da confiança e das legítimas expectativas nutridas por quem contrata. O adimplemento pontual da prestação é a mola propulsora do direito obrigacional. Este deve ser compreendido e construído dentro de um eixo (o eixo do adimplemento), em torno do qual a teoria do pagamento é impulsionada. O pagamento,denominado pelos romanos de solutio, deve ser enquadrado dentro do terceiro degrau da Escada Ponteana: no plano da eficácia do negócio jurídico (efeitos). Implica na extinção da obrigação. A este respeito é cristalina a redação do Enunciado 425 da V Jornada do CJF: “O pagamento repercute no plano da eficácia, e não no plano da validade, como preveem os arts. 308, 309 e 310 do Código Civil”. CARLOS ROBERTO GONÇALVES afirma que as obrigações têm um ciclo vital, pois nascem de diversas fontes, vivem, desenvolvem-se por meio de suas várias modalidades (dar, fazer ou não fazer) e, finalmente, morrem (extinguem-se). A sua forma usual de extinção é, justamente, mediante o cumprimento obrigacional; digo: pagamento ou adimplemento da prestação. In Direito Civil Brasileiro – Teoria Geral das Obrigações, Vol. 2. São Paulo: Saraiva. 2012, p. 252. O art. 924, II do CPC é esclarecedor a respeito do assunto. Afirma que a execução se extingue quando o credor satisfaz a obrigação. Atenção! Pagamento aqui é expressão jurídica técnica, sinônima de adimplemento. Portanto, significa o cumprimento da prestação, que pode ser de dar, fazer ou não fazer. Logo, não se deve confundir a expressão usual do pagamento como transferência de valores. Também é importante lembrar que as obrigações podem ser extintas sem pagamento. Exemplo disto é a confusão, a remissão e a compensação. Nestes três casos estaremos diante da extinção do vínculo obrigacional sem, contudo, ter qualquer pagamento efetivamente realizado. Alguns denominarão isto de meios anormais de extinção do vínculo obrigacional, os quais serão estudados no capítulo que versa sobre o pagamento indireto. ELEMENTOS SUBJETIVOS DO ADIMPLEMENTO O cumprimento da obrigação é iluminado por dois princípios específicos, quais sejam o princípio da pontualidade e o princípio da diligência normal. Esta é a lição de CARLOS ROBERTO GONÇALVES. In Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil, Vol. 4. São Paulo: Saraiva. 2010, p. 252. QUEM DEVE PAGAR (SOLVENS)? Os arts. 304 usque 307 do CC disciplinam a figura do solvens (aquele que deve pagar). É o sujeito ativo do pagamento, pois firma o adimplemento obrigacional. Atenção! O sujeito ativo do pagamento não deve ser confundido em sua prova com o sujeito ativo da obrigação. Isto porque, nada obstante o credor ser o sujeito ativo da obrigação; o do pagamento, em regra, é o devedor, pois é quem paga. Percebe- se, assim, que o sujeito passivo da obrigação torna-se o ativo do pagamento. De acordo com a legislação, qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor, a exemplo de uma consignação em pagamento, prevista tanto no CPC (art. 539), quanto no CC (art. 334). Como o Superior Tribunal de Justiça se posicionou sobre o tema? No REsp. 85.551-PB, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA entendeu ser possível ao terceiro “requerer a consignação” admitindo-se, no caso concreto, que um descendente-sucessor se utilize da medida judicial de forma legítima. Mas o que eu devo entender por terceiro interessado? O interesse referido pela lei seria apenas o jurídico, ou também englobaria o moral? Caso o terceiro interessado realize o pagamento, ele sub-roga-se (substitui-se) na posição do credor originário. A hipótese será de sub-rogação legal (CC, art. 349), de modo a ocupar a posição do credor originário com todos os direitos, ações e garantias. Por razões lógicas, recorda CARLOS ROBERTO GONÇALVESa impossibilidade de aplicação do dispositivo legal acima para as obrigações intuito personae, haja vista serem pautadas em condições ou qualidades pessoais do devedor, autorizando ao credor não aceitar o pagamento por ninguém mais, na forma do art. 247 do CC. In Direito Civil Brasileiro – Teoria Geral das Obrigações. Vol. 2. São Paulo: Saraiva. 2010, p. 258. Além do terceiro interessado, o pagamento poderá ser realizado pelo desinteressado (não interessado). Neste cenário, mister verificar se tal pagamento fora realizado em nome próprio (do terceiro), ou em nome do devedor. Para tanto, basta verificar o recibo de quitação, inexistindo, aqui, qualquer presunção legal na hipótese de inexistência do recibo de quitação. Com efeito, esta informação - em nome de quem fora realizado o pagamento -, no recibo de quitação, é de suma importância, pois revelará diferentes rumos jurídicos à situação. Vejamos: • Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome, terá direito ao reembolso do que pagou, através de uma ação em regresso. Não se sub- roga, registre-se. O que há é mera ação em regresso. Se pagar antes de vencida a dívida, somente terá direito ao reembolso quando do vencimento da mesma (CC, art. 305). • Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em nome e conta do devedor, sem oposição deste, não terá direito a exigir o reembolso. Neste caso, estar-se-á diante de uma mera obrigação natural, já mencionada nesta obra (CC, art. 304). Importante advertir que o art. 304 do CC sofreu alteração, comparado ao CC/16, na última parte do parágrafo único, de modo a prestigiar o princípio da eticidade e da própria função social do pagamento de boa-fé. Trata-se da possibilidade, agora, do devedor não aceitar que o terceiro não interessado efetue o pagamento, respeitando-se razões de ordem moral, religiosa ou até mesmo pessoal, todas juridicamente relevantes. Importante regra está contida no art. 306 do CC. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga este a reembolsar aquele que pagou, se tinha meios para ilidir a ação. Trata-se de preceito que corresponde ao art. 932 do CC/16 e que recebeu modificação relevante no sentido de eximir o devedor do reembolso ao terceiro nos casos em que poderia quitar sozinho, ou mesmo apresentar defesas pessoais a repelir a cobrança. Em arremate, o art. 307 do CC trata do pagamento efetuado mediante transmissão da propriedade, também denominado de alienação a non domino. Tal conduta é ineficaz, pois se refere a uma alienação feita por quem efetivamente não é o dono do bem. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Histórico: O presente artigo sofreu emenda por parte da Câmara dos Deputados no período inicial de tramitação do projeto. A redação original proposta pelo Prof. Agostinho Alvim no anteprojeto repetia a redação do art. 933 do Código Civil de 1916. A emenda do Deputado Ernani Sátyro apenas substituiu a expressão “Só valerá o pagamento” por “Só terá eficácia o pagamento”. E o fez atendendo a ponderação do Prof. Miguel Reale. Segundo Reale, a emenda teve por fim colocar o dispositivo em consonância com os demais artigos do projeto, em que a validade sempre se refere à vigência, enquanto a eficácia se refere à consequência do ato, ou a sua aplicação. A QUEM PAGAR (ACCIPIENS)? Os arts. 308 a 312 do CC disciplinam a figura do accipiens, quem seja: aquele que deverá receber o pagamento. Trata-se do sujeito passivo do pagamento. O pagamento deve ser feito, evidentemente, ao credor, a quem de direito o represente e, excepcionalmente, a terceiro. Esta é a regra e está prevista no art. 308 do CC para a validade do pagamento. Atenção! Quando do tratamento do sujeito passivo do pagamento, mesmo a letra da lei abordando supostamente o plano da validade (o pagamento só vale), a doutrina afirma, através do Enunciado 424 do CJF, que o pagamento repercute no plano da eficácia, de forma que há de se compreender a expressão legal como “só terá eficácia” caso feito ao credor, seu representante ou, eventualmente, a um terceiro. No que tange ao representante legal do credor, é preciso recordar que o ordenamento jurídico admite a figura dos representantes legal, judicial e convencional. Nas hipóteses dos representantes legal e judicial, somente estes poderão receber. No caso do representante convencional,
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