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Cultura, democracia e ética Reflexões comportamentalistas Carolina Laurenti Carlos Eduardo Lopes (orgs.) SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LAURENTI, C., and LOPES, CE., orgs. Cultura, democracia e ética: reflexões comportamentalistas [online]. Maringá: Eduem, 2015. ISBN 978-85-7628-692-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org/>. http://books.scielo.org/ Cultura, democracia e ética: reflexões comportamentalistas EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ REITOR Prof. Dr. Mauro Luciano Baesso VICE-REITOR Prof. Dr. Julio César Damasceno DIRETORA DA EDUEM Profa. Dra. Terezinha Oliveira EDITORA-CHEFE DA EDUEM Profa. Dra. Sonia Silva Marcon CONSELHO EDITORIAL PRESIDENTE Profa. Dra. Terezinha Oliveira EDITORES CIENTÍFICOS Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues, Profa. Dra. Angela Mara de Barros Lara, Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer, Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva, Profa. Dra. Cecília Edna Mareze da Costa, Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, Profa. Dra. Elaine Rodrigues, Profa. Dra. Larissa Michelle Lara, Prof. Dr. Luiz Roberto Evangelista, Profa. Dra. Luzia Marta Bellini, Prof. Me. Marcelo Soncini Rodrigues, Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado, Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo, Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado, Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima, Prof. Dr. Raymundo de Lima, Profa. Dra. Regina Lúcia Mesti, Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias, Profa. Dra. Rozilda das Neves Alves, Prof. Dr. Sezinando Luiz Menezes, Profa. Dra. Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA FLUXO EDITORIAL Edneire Franciscon Jacob, Mônica Tanamati Hundzinski, Vania Cristina Scomparin PROJETO GRÁFICO E DESIGN Luciano Wilian da Silva, Marcos Kazuyoshi Sassaka, Marcos Roberto Andreussi MARKETING Marcos Cipriano da Silva COMERCIALIZAÇÃO Gerson Ribeiro de Andrade, Paulo Bento da Silva, Solange Marly Oshima Carolina Laurenti Carlos Eduardo Lopes Organizadores Cultura, democracia e ética: reflexões comportamentalistas Prefácio Maura Alves Nunes Gongora Eduem Maringá 2015 C968 Cultura, democracia e ética [livro eletrônico]: reflexões comportamentalistas / Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes(organizadores). – Maringá: Eduem, 2015. 329 Kb; ePUB ISBN 978-85-7628-692-9 1. Psicologia. 2. Cultura. 3. Política. 4. Ética. 5. Behaviorismo radical. I. Laurenti, Carolina, org. II. Lopes, Carlos Eduardo, org. III. Título. CDD 21.ed. 150.1943 Copyright © 2015 para os autores Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, dos autores. Todos os direitos reservados desta edição 2015 para Eduem. Revisão textual e gramatical: Maria Dolores Machado Normalização textual e de referência: Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes Projeto gráfico/diagramação: Marcos Kazuyoshi Sassaka Capa - arte final: Luciano Wilian da Silva Ficha catalográfica: Marinalva Aparecida Spolon Almeida (CRB 9- 1094) Fonte: Garamond Tiragem - versão impressa: 500 exemplares Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Eduem - UEM, Maringá – PR., Brasil) Editora filiada à Associação Brasileira das Editoras Universitárias Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá-Paraná - Fone: (0xx44) 3011-4103 - Fax: (0xx44) 3011-1392 www.eduem.uem.br - eduem@uem.br http://www.eduem.uem.br/ mailto:eduem@uem.br Sumário Apresentação Capítulo 1 Reflexões comportamentalistas sobre a maldade contemporânea Capítulo 2 O conceito de sobrevivência das culturas e suas implicações para uma ética skinneriana Capítulo 3 Skinner, democracia e anarquia Capítulo 4 Seleção pelas consequências como norte funcional para políticas públicas Sobre os autores Prefácio Antes de apresentar meus comentários a respeito do livro preciso dizer algo sobre os autores. Fiquei feliz em ver aqui reunidos incansáveis estudiosos do comportamentalismo radical e da análise do comportamento que muito contribuem para manter vivo o debate nesses dois domínios. Sinto-me honrada em poder comentar aqui os seus textos. Quanto ao livro, antes de dizer qualquer outra coisa sobre seus méritos, já posso adiantar que recomendo a leitura de todos os seus capítulos para aquelas pessoas que se interessam pelos problemas atuais de nossa sociedade e queiram entender em que medida o comportamentalismo radical, como sistema filosófico, pode fundamentar a compreensão de tais problemas e, ainda, indicar possibilidades de intervenções que possam solucioná-los. São quatro capítulos distintos, que podem ser lidos em qualquer ordem, mas que se apresentam completamente integrados por relatarem análises de questões relativas à cultura. O resultado é um belo conjunto de textos que compartilham diferentes qualidades entre as quais gostaria de destacar ao menos quatro. Em primeiro lugar, todos os capítulos apresentam exames da obra de Skinner com destaques para seus pontos mais consistentes e também para suas inconsistências, ou seja, são análises ponderadas e nada dogmáticas. Em segundo, ao longo do livro, os autores retomam diversas questões conceituais a respeito do modelo de seleção por consequências. Isto confere ao livro mais um mérito: permite ao leitor aprofundar a compreensão e a reflexão sobre aspectos conceituais desse modelo. A análise do nível cultural, conduzida em diferentes dimensões pelos diversos autores, certamente contribui para diminuir a carência que temos de estudos e de bibliografia relativa a esse nível seletivo. Além disso, a linguagem bastante acessível de todos os capítulos permite que sejam consultados tanto por alunos de graduação quanto por estudiosos de áreas afins. Em terceiro lugar, além de aprofundar na análise dos processos culturais, mencionados acima, o livro tem o mérito de enfrentar, com competência, dois dos temas mais difíceis da obra skinneriana (e, naturalmente, do comportamentalismo radical): a ética e a política. Em quarto, as reflexões apresentadas são extremamente atuais e urgentes. Aplicam-se a problemas não só do futuro, mas a questões atuais que nos afetam diretamente, como o governo por oligarquias, o esgotamento de recursos naturais, a criminalidade, o imediatismo, a impessoalidade das relações mediadas por burocracia e tecnologia, a dificuldade em mudar práticas culturais indesejáveis, e assim por diante. Gostaria, ainda, de mencionar ao menos um ponto, entre tantos que apreciei, em cada um dos capítulos. No primeiro capítulo, Lopes e Laurenti surpreenderam-me ao tratar de um tema que está praticamente todo dia na pauta da mídia: a maldade. Aqui, meu destaque é para a tese corajosa e totalmente pertinente que defendem: não há uma essência humana, boa ou má. O ser humano só é (bom ou mau) em contexto. Embora o foco de análise desse capítulo seja a maldade, essa tese permite discutir possibilidades de se promover a bondade, por meio de condições favoráveis à ocorrência do bem ou de comportamentos bons. Entre as reflexões desse capítulo gostaria, ainda, de indicar aos leitores especial atenção à discussão da importância do desenvolvimento da ‘sensibilidade ao outro’. O capítulo seguinte, de Melo e Castro, é extremamente esclarecedor de posicionamentos éticos de Skinner. Uma contribuição especial dessas autoras está na elucidação e análise da ‘ética aplicada’ defendida por esse autor e que sempre foi o centro de seus interesses. Nessa análise pode-se destacar uma crítica contundente das autoras aos posicionamentos de Skinner no campo da ética: sua tentativa de manter-se apenas no domínio da ética descritiva sem assumir, ostensivamente, que também defendia uma ética prescritiva. No terceiro capítulo, Abib trata de um tema raramenteabordado com propriedade em nossas fontes bibliográficas: um exame fundamentado das posições políticas de Skinner. Entre outros esclarecimentos destacam-se aqueles relativos à guinada de Skinner que, ao analisar a democracia, passou a tratar de cultura. O autor esclarece como Skinner relaciona democracia com cultura e como passa a criticar as ‘mediações’ que dão errado no mundo (cultura) ocidental. A elucidação de um tipo de anarquismo defendido por Skinner, no meu entender, representa mais uma contribuição inédita de Abib às reflexões deste livro relativas à obra skinneriana. No último capítulo, Carrara escreve como quem tem experiência prática em pesquisa com intervenção cultural. Aborda as dificuldades de se planejar, bem como as dificuldades de se conseguir adesão nos planejamentos culturais e nas políticas públicas. Mas também aponta algumas saídas e até sugere uma ferramenta de apoio construída por seu grupo de pesquisa. Neste capítulo, chamou-me especial atenção a argumentação de Carrara no sentido de defender as possibilidades da análise do comportamento contribuir para mudar o mundo. Sua argumentação apresenta-se criteriosa e cuidadosa, mas, mantendo-se otimista e contrapondo-se a uma declaração pessimista do próprio Skinner que, em uma de suas palestras, chegou a duvidar dessa possibilidade. Gostaria de encerrar cumprimentando os autores pela maneira elucidativa e não dogmática com que trataram cada tema e por compartilharem com Carrara a defesa de possibilidades das intervenções comportamentais fazerem diferença nas soluções de nossos graves problemas sociais. Foi muito bom verificar que, ainda que ponderado, o que predomina ao longo do livro é um tom otimista. E, para encerrar, gostaria de reforçar algo já pontuado pelos organizadores Lopes e Laurenti na apresentação: espero que este livro seja um convite para que seus leitores, sejam eles planejadores culturais ou não, coloquem na pauta das suas reflexões a análise dos valores subjacentes às nossas práticas culturais atuais. Maura Alves Nunes Gongora Universidade Estadual de Londrina (UEL) Apresentação O comportamentalismo radical, a filosofia da análise do comportamento, foi alvo de muitas críticas desde o seu alvorecer com as reflexões de B. F. Skinner (1904-1990). Essas críticas resvalam em diferentes aspectos e, algumas delas, estendem-se até hoje, como é o caso de um conjunto de restrições que atinge os pressupostos éticos e políticos dessa filosofia. O comportamentalismo já foi acusado, por exemplo, de orientar uma prática psicológica voltada à manipulação dos indivíduos em favor da classe dominante. No contexto dessa crítica, a análise do comportamento seria uma psicologia preocupada com o ‘controle’ e o ‘condicionamento’ do comportamento humano, e essas aspirações estariam balizadas por uma concepção de ser humano passivo, entendido à imagem e semelhança de uma máquina ou, no máximo, de um rato branco – um mero fantoche à mercê das determinações do ambiente natural e social. Acompanhando ainda o argumento de seus detratores, a ciência do comportamento preocupar- se-ia com o controle justamente para poder condicionar os indivíduos de modo que se tornem dóceis e susceptíveis aos ditames daqueles que detêm o poder. E, para arrematar, tal controle seria inspirado por tendências antidemocráticas, fascistas e conservadoras. A análise do comportamento é uma proposta psicológica que, como qualquer outra, apresenta limitações que precisam ser identificadas, explicitadas e problematizadas. No entanto, as objeções anteriormente arroladas destoam das reflexões skinnerianas sobre a ética e a política e, consequentemente, dos desideratos de uma ciência comportamentalista tal como apresentados por essas acusações. O livro Cultura, democracia e ética: reflexões comportamentalistas coloca essas críticas em perspectiva, já que, inspirado pelo comportamentalismo radical, discute questões ético- políticas, mostrando seus desdobramentos no contexto das possibilidades de atuação profissional. Em que pesem essas pretensões, o livro não tem o intuito de ser o porta-voz da interpretação cabal, ou mesmo oficial, da análise do comportamento e do comportamentalismo radical. Trata-se, pois, de ‘uma’ interpretação pautada por ‘reflexões comportamentalistas’, que situa o texto skinneriano como ponto de partida, mas não necessariamente de chegada; são reflexões ‘com’ Skinner e não simplesmente ‘sobre’ ele. O primeiro capítulo, intitulado ‘Reflexões comportamentalistas sobre a maldade contemporânea’, busca entender um dos principais problemas a serem enfrentados pela sociedade: a maldade. Para tanto, visita análises de autores de outras áreas de conhecimento – como Bauman – e de outras propostas psicológicas – como as de Milgram e Zimbardo – tentando delimitar algumas contingências responsáveis pela ocorrência de atos de maldade. A despeito do foco na maldade humana poder incitar uma postura pessimista e derrotista, não é isso que o capítulo tenciona. Ao contrário, na esperança de construir um mundo melhor, lança o desafio de encontrarmos alternativas à maldade, apontando, ao final, direções concretas de como fazê-lo. Não obstante esse otimismo, a lógica pragmatista subjacente a este livro entende que a busca por técnicas que subsidiem estratégias de intervenção para lutar contra o mal precisa ser orientada por uma reflexão ético-política. É preciso, pois, resgatar o sentido aristotélico de prática, que foi subvertido na história da psicologia. Para Aristóteles, ação prática (práxis) é ação ético-política e não ação técnica (techné). A psicologia aplicada ou prática perdeu de vista a acepção aristotélica de ‘prático’ e acabou identificando ‘prático’ a ‘aplicado’ e ‘aplicado’ a ‘técnico’. Quando não orientada por uma reflexão ética e política, a técnica pode, subvertendo seu próprio sentido de meio ou instrumento, tornar-se um fim em si mesma. Tal subversão pode ter efeitos nefastos no contexto profissional: sendo virtualmente cega a valores, uma atuação pautada exclusivamente pela técnica pode orientar propostas de intervenção que acabam mantendo os problemas sociais que, a princípio, pretendiam superar. Ou, ainda, podem, lamentavelmente, acabar fomentando outros e mais sérios problemas, a despeito da mais pura das intenções. Considerando esses pontos, o segundo e o terceiro capítulos compõem o contexto das reflexões ético-políticas, preparando o caminho para pensar, à luz desses pressupostos, as possibilidades de atuação profissional problematizadas no quarto e último capítulo. O segundo capítulo, ‘O conceito de sobrevivência das culturas e suas implicações para uma ética skinneriana’, descreve as principais características da proposta ética de Skinner, apresentando seus fundamentos e implicações sociais. Contudo, no curso dessa exposição, o texto não se exime de indicar algumas controvérsias e limitações que cercam a própria teoria ética skinneriana, e que se fazem notar logo na proposição da sobrevivência das culturas como valor primordial dessa teoria. Esse capítulo é sucedido por ‘Skinner, democracia e anarquia’, que expõe algumas tensões no posicionamento político skinneriano. No entanto, o capítulo dá encaminhamento a essas questões, pondo às claras as inconsistências das leituras antidemocrática e conservadora dos compromissos políticos do comportamentalismo radical. Para tanto, caminha por textos da filosofia política, problematizando o conceito de cultura e suas relações com diferentes formas de governo, em especial, a democracia. O último capítulo, intitulado ‘Seleção pelas consequências como norte funcional para políticas públicas’, recupera o desafio de mudança social indicado pelo primeiro capítulo, enfrentando o suposto pessimismo suscitado pela constatação da complexidade dos problemas sociais que nos afligem, e pelo reconhecimento das dificuldades de encontrar caminhos efetivos para superá-los.O capítulo mostra as possíveis contribuições que uma ‘teoria consequencialista’ do comportamento pode trazer ao delineamento de políticas públicas, discutindo exemplos concretos de projetos voltados à transformação social. Estamos em uma sociedade marcada pelo imperativo da busca por soluções cada vez mais rápidas e imediatas aos problemas que enfrentamos. Afinado com a lógica da tecnociência, esse imperativo tem orientado investigações predominantemente tecnocráticas desses problemas sendo, portanto, míopes quanto a valores e destinos últimos de suas intervenções. A proposta deste livro é a de endossar movimentos que seguem na contramão dessa tendência, que alimenta a ilusão de uma solução estritamente tecnocrática dos problemas sociais. Sem ignorar, contudo, as contribuições da ciência para um mundo mais humanizado, Cultura, democracia e ética: reflexões comportamentalistas faz um convite à discussão ético-política das propostas de intervenção social, que se fazem prementes na contemporaneidade. Essa reflexão é imprescindível para que os interessados na mudança do comportamento humano sejam parte da solução e não dos problemas sociais que, em seu discurso, almejam superar. Por fim, as reflexões deste livro pretendem contribuir, ainda que modestamente, com a superação de um pessimismo paralisante, incitando um otimismo circunstanciado às possibilidades de concretização de intervenções locais, mas que trazem consigo um potencial revolucionário. Carolina Laurenti e Carlos Eduardo Lopes Capítulo 1 - Reflexões comportamentalistas sobre a maldade contemporânea Carlos Eduardo Lopes, Carolina Laurenti Considerações iniciais Desde a modernidade, a maldade humana é pensada a partir de uma contraposição entre natureza e cultura, o que deu origem a dois posicionamentos antagônicos em relação ao assunto. De um lado, a vertente hobbesiana1 viu na natureza a fonte dos problemas humanos e, por isso, justificou sua exploração científico-tecnológica, apostando no desenvolvimento da racionalidade e da civilidade como modos de solucionar a maldade. De outro lado, a vertente rousseauniana culpou a civilização pelas mazelas da humanidade, defendendo que em tempos pré-modernos a simplicidade e o contato direto com a natureza caracterizavam uma humanidade completamente livre do mal (cf. ROUSSEAU, 1978). Estudos atuais têm criado dificuldades para a manutenção dessa visão dicotômica, ao mesmo tempo em que abrem espaço para se pensar o mal em outras bases. Investigações sobre a história da espécie humana têm questionado a visão estritamente hobbesiana de natureza. Evolucionistas contemporâneos têm mostrado que comportamentos de empatia, gentileza e cooperação estão presentes entre os animais gregários, incluindo os grandes primatas, questionando, assim, a visão de que a natureza é necessariamente egoísta, competitiva e violenta (cf. WAAL, 2010). Além disso, estatísticas atuais sobre a história da cultura moderna mostram que a vida social pré-moderna estava longe de ser pacífica e isenta de maldade, como defendeu a visão rousseauniana. Pautando-se nesses dados, alguns autores argumentam que a civilidade ajudou a diminuir drasticamente certos tipos de violência comuns em séculos passados, como perseguições religiosas, torturas, execuções públicas, entre outros (cf. PINKER, 2013). Tomados em conjunto, os dados apresentados por esses estudos sobre a história da espécie e a história da cultura, ao invés de resolverem o problema, parecem criar um novo desafio. A história da cultura contada com base nas estatísticas mais atuais mostra que o processo civilizador ajudou na redução da maldade, o que nos faz pender a favor da visão hobbesiana. No entanto, os dados evolutivos impedem que adotemos essa visão, na medida em que nos mostra uma abundância de exemplos de bondade em diferentes espécies, incluindo os grandes primatas. Além disso, se hobbesianos estivessem corretos, e o processo civilizador fosse capaz de eliminar a maldade humana, os exemplos de maldade na atualidade seriam escassos, o que não é confirmado pela história do século XX, com suas duas guerras mundiais, e pelas ocorrências de maldade que temos presenciado nesse início do século XXI. Mesmo os autores que destacam a presença da cooperação e da empatia nos grandes primatas não humanos recusam a conclusão de que isso é uma evidência a favor da visão rousseauniana de natureza. Isso porque a presença do que poderíamos considerar atos de maldade nos grandes primatas é um dado bastante conhecido (WAAL, 2010). Os chimpanzés, por exemplo, muitas vezes formam bandos que invadem o território de outros clãs, atacando e matando indivíduos que encontram pelo caminho, sem qualquer justificativa ligada à sobrevivência (WRANGHAM; PETERSON, 1998). Uma interpretação analítico-comportamental do assunto talvez possa encaminhar uma solução para esse impasse, ajudando na compreensão da maldade humana fora das visões hobbesiana e rousseauniana. De um ponto de vista analítico-comportamental, o comportamento individual situa-se no entrelaçamento da história da espécie humana com a história da cultura, de modo que natureza e cultura contribuem para a constituição do indivíduo, embora nenhuma dessas histórias tenha, necessariamente, um caráter preponderante sobre a outra. Isso quer dizer que natureza e cultura são campos de possibilidades e, como tais, não determinam unidirecionalmente os rumos da vida individual. Encontramos na natureza um conjunto de predisposições, não só egoístas e violentas, mas também empáticas e cooperativas. Nesse sentido, a natureza não é a fonte de nossos problemas e, consequentemente, as práticas culturais não são um antídoto à natureza. Por outro lado, a cultura não evolui sempre para melhor. Na história das culturas, determinadas práticas, adotadas e transmitidas para outras gerações, podem melhorar a vida dos membros do grupo, mas também podem colocar em risco a existência da cultura e dos próprios indivíduos. Uma cultura que institucionaliza torturas e execuções públicas, por exemplo, acaba criando um sentimento de insegurança pública, bem como legitimando o uso desmedido da força. A interpretação comportamentalista, proposta aqui, sugere que a solução para os problemas humanos consiste em aproveitar o que há de melhor na natureza e na cultura, ao mesmo tempo em que é preciso abandonar as contribuições perniciosas e destrutivas dessas histórias. No que diz respeito à história da nossa espécie, como mencionado alhures, encontramos não só uma tendência à competição e agressividade, mas também à empatia e cooperação. No entanto, a presença de uma tendência inata originada por nossa história evolutiva, seja uma tendência à maldade ou à bondade, não pode ser considerada como determinante dos fenômenos culturais. A biologia evolutiva esclarece esse ponto fazendo uma distinção entre causa última e causa próxima do comportamento individual. A causa última é “[...] a razão por que um comportamento se desenvolveu numa espécie ao longo do processo evolutivo [...]” (WAAL, 2010, p. 323); já a causa próxima é “[...] o modo como esse comportamento é produzido pelos indivíduos no aqui e agora” (WAAL, 2010, p. 323, grifo do autor). A confusão entre causa última e causa próxima parece estar na base de algumas interpretações reducionistas difundidas pela sociobiologia, considerando, por exemplo, a guerra entre países como uma expressão de tendências filogenéticas de defesa de território (cf. SKINNER, 1981, p. 503). Waal (2010) argumenta a favor de uma ‘autonomia motivacional’ para o comportamento individual, o que quer dizer que os motivos para a ocorrência de um comportamento atual devem ser buscados em causas próximas, o que muitas vezes contraria os motivos evolutivos que explicam a origem filogenética desse tipo de comportamento. Nas palavras desse autor: A ideia por trás da autonomia motivacional é de queas motivações que levam a um comportamento não são limitadas pela causa última da existência desse comportamento. Ainda que determinado comportamento tenha evoluído por razões egoístas, estas não precisam fazer parte daquilo que motiva um indivíduo a colocá-lo em prática, do mesmo modo como uma aranha não precisa estar determinada a apanhar moscas no momento em que está tecendo sua teia (WAAL, 2010, p. 324, grifo do autor). De um ponto de vista analítico-comportamental isso equivale dizer que a compreensão de um comportamento atual depende da descrição das contingências atuais que promovem e mantêm esse comportamento, e que, por mais que esse comportamento possa ter raízes filogenéticas, os motivos da seleção na história da espécie e na história de vida do indivíduo não precisam ser, e geralmente não são, os mesmos. Dessa forma, se quisermos entender a maldade cometida pelos indivíduos precisamos nos voltar para as condições atuais responsáveis por atos maus. Partindo dessa conclusão, temos que nos voltar para o esclarecimento dessas condições; temos que explicitar o contexto em que a maldade ocorre, para, em seguida, pensar como mudar esse contexto de modo a promover a bondade. Em relação à primeira tarefa, não é difícil constatar que os problemas relacionados à maldade humana, que reclamam uma solução premente, ocorrem no âmbito cultural. São fenômenos como guerras, genocídios, e violência urbana em geral, que claramente pertencem ao terceiro nível de variação e seleção do comportamento humano. Isso quer dizer que o contexto para a compreensão da maldade humana é a cultura, ou, mais especificamente, o comportamento que ocorre no grupo. Além disso, os exemplos mais emblemáticos e intrigantes de maldade, sobretudo os ocorridos no século XX, parecem, de modo geral, terem sido perpetrados por grupos de pessoas. Isso não significa que a maldade só é cometida por grupos, ou que um indivíduo isoladamente não pode ser cruel; mas não podemos questionar o fato de que a maldade coletiva é um fenômeno contemporâneo que tem produzido resultados assustadores. Como exemplo desse tipo de maldade, basta lembrar da Segunda Guerra Mundial e do papel do nazismo nesse episódio sombrio da história recente da humanidade. A primeira parte deste ensaio consiste em uma tentativa de explicitar contingências que podem estar operando no contexto desses grupos que perpetram o mal. Para tanto, iniciaremos com alguns exemplos de maldades cometidas por grupos nas últimas décadas, buscando avaliar explicações tradicionais para esses atos. Na segunda parte, apresentaremos uma explicação alternativa do mal, proposta pelo sociólogo Zygmunt Bauman (1925-). Isso se justifica pelo fato de suas análises ajudarem na construção de uma interpretação comportamentalista do assunto, na medida em que permitem a identificação de algumas das condições sociais para a maldade, considerando o papel das consequências das ações nesse contexto – uma perspectiva que coaduna com uma teoria consequencialista do comportamento. Por fim, apontaremos algumas práticas culturais que parecem ainda manter o risco da maldade coletiva nos dias de hoje, o que nos coloca o desafio de como substituir a maldade pela bondade na sociedade contemporânea. 1. Sobre o mal O mal é um assunto tratado por muitos autores em diferentes contextos. A presença do mal no mundo e sua compatibilidade com a existência de Deus era tema recorrente em tratados filosóficos medievais (FERRATER MORA, 2001); as ricas descrições do inferno – um lugar em que as mais variadas formas de maldade são castigadas com maldades ainda piores – são uma marca indelével de obras renascentistas (DANTE ALIGHIERI, 2001). Nas artes plásticas, a representação do mal cruzou os séculos caminhando lado a lado com a beleza e a bondade (ECO, 2007). Dada a extensão do assunto, parece pouco plausível admitir que o mal tenha uma definição unívoca compartilhada em todos esses contextos. Mesmo a concepção religiosa abriga diversas possibilidades, que vão desde explicações do mal recorrendo a demônios ou espíritos que desviariam o ser humano de suas virtudes, até uma culpabilização inata, e de certa forma irremediável, do homem, marcado pelo pecado original. Assim, é necessário esclarecer o que estamos denominando de mal neste ensaio. Como mencionado alhures, nosso interesse é discutir o mal em uma perspectiva comportamentalista, o que nos leva a delimitar a maldade como uma característica humana, mais especificamente, como uma propriedade de alguns comportamentos humanos. Mantendo-se nessa perspectiva, para definir ‘mal’ precisamos, inicialmente, delimitar as características de uma ação má. Definiremos ‘mal’ como um conjunto de ações, que se caracterizam por agressão, abuso, humilhação, exploração, desprezo, acarretando o sofrimento de outras pessoas e, em situações limite, a sua morte. Em linhas gerais, o mal está nos comportamentos que promovem o dano e o sofrimento ao outro (ZIMBARDO, 2012). Na medida em que os comportamentos individuais têm explicações idiossincráticas, a explicação da maldade centrada em um indivíduo particular não nos ajuda na compreensão da maldade como fenômenos humano. Em outras palavras, contingências de reforçamento e punição que explicam um comportamento mau de uma pessoa, isoladamente, não podem ser transpostas como regra para todo comportamento mau. Isso nos obriga a outro refinamento em relação à análise da maldade pretendida por este ensaio. Examinaremos, aqui, a maldade cometida por grupos de pessoas, levantando de antemão a hipótese de que, nesses casos, deve haver contingências compartilhadas pelos membros do grupo que poderiam explicar a maldade em larga escala, que ocorreu e continua ocorrendo na sociedade contemporânea. Exemplos de maldade de grupos marcaram o século XX, desafiando psicólogos e sociólogos a explicar a ocorrência de massacres que pareciam improváveis para uma sociedade moderna. Provavelmente o primeiro e mais discutido caso de maldade extrema do século XX tenha sido o Holocausto ocorrido na Alemanha nazista. As primeiras execuções conduzidas oficialmente pelo regime nazista ocorreram a partir de 1939, com a adoção da política de eutanásia dirigida a pessoas portadoras de deficiência consideradas incuráveis. Embora a política de eutanásia tenha sido abandonada em 1941, as execuções continuaram em número crescente em campos de extermínio criados para judeus, eslavos, polacos, ciganos e outras pessoas consideradas racialmente inferiores. Os números de mortes são impressionantes. No campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, estima-se que até 6.000 pessoas eram assassinadas por dia no auge das deportações de judeus (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, s.d.). Além da crueldade, ricamente descrita na maioria dos relatos de sobreviventes, o que causa perplexidade no caso do Holocausto é que a maioria dos executores eram pessoas comuns, pais de família, agricultores e jovens que, por ocasião da guerra, foram obrigados a se alistar no exército (BAUMAN, 1998). Esse dado é impressionante porque sugere que a maldade está mais próxima do que podemos pensar e, como veremos, ela não é exclusiva do contexto do Holocausto. Outro exemplo de maldade bem mais atual e igualmente assustador é o genocídio de Ruanda. Dados das Nações Unidas estimam que, em 1994, num período de apenas três meses, em torno de 800 mil a 1 milhão de ruandeses foram exterminados. Na época, Ruanda era composta predominantemente por dois grupos étnicos: os hutus, os tutsi2. A separação hierárquica desses grupos, que estaria na raiz do conflito, foi promovida pelos colonizadores europeus, inicialmente alemães e posteriormente belgas (RWANDA..., s.d.). Os tutsi foram considerados superiores na hierarquia social, até a introdução do cristianismo em Ruanda, na década de 1940, quando os hutus assumiram sua posição. Com o apoio dos colonizadores belgas, oshutus passaram a ocupar a maioria dos cargos administrativos, elegendo um presidente de sua etnia. Com a independência, em 1962, os hutus, maioria em Ruanda, mantiveram-se no poder, mesmo com o golpe militar que depôs o presidente eleito e instituiu um regime militar, em 1973. Nesse período, a perseguição e a morte de cidadãos tutsi fizeram com que essa etnia se exilasse em países vizinhos. A partir de 1990, Ruanda sofreu uma guerra civil e, com o apoio de países vizinhos, os refugiados tutsi puderam voltar a Ruanda em 1993, quando foram assinados acordos que previam a partilha de poder entre as etnias. Em 1994, um acidente de avião que matou o presidente, de etnia hutu, funcionou como estopim para o que se tornou um genocídio. Os extremistas da etnia hutu interpretaram a morte do presidente como uma conspiração tutsi e convocaram, por meio de programas de rádio e outros meios de comunicação, os hutus ao extermínio de todos os tutsi (OLIVEIRA; GROSSMANN, 2012). O resultado do conflito entre essas etnias foi o aniquilamento de cerca de três quartos de toda a população tutsi. Além dos números, o que impressiona são as armas utilizadas pelos hutus no ataque aos tutsis, que vão desde armas de fogo até facões, porretes com pregos e pedras. Outra arma usada nesse massacre, com a justificativa até de poupar munição, foi o estupro de mulheres e crianças (ZIMBARDO, 2012). A prática do estupro no genocídio de Ruanda, além dos danos psicológicos, foi responsável pela proliferação de doenças sexualmente transmissíveis às outras gerações tutsis. Mas talvez o aspecto que mais chame a atenção no episódio de Ruanda seja o fato de que, na maioria das vezes, esses atos cruéis contra os tutsis foram perpetrados por pessoas conhecidas. Muitos hutus, a mando, mataram antigos amigos, vizinhos de rua, e colegas de trabalho. Em uma entrevista, dada algumas décadas depois, alguns hutus descreveram que: “a pior coisa do massacre foi matar o meu vizinho; costumávamos beber juntos e seu gado pastava na minha grama. Ele era como um parente”. Uma mãe hutu descreveu como espancou até a morte as crianças da vizinha, que olhavam-na com olhos arregalados de assombro, pois tinham sido amigos e vizinhos durante toda a vida. Ela relatou que alguém do governo lhe dissera que os tutsis eram seus inimigos, e lhe deram um porrete e a seu marido um facão, para que usassem contra a ameaça. A mulher justificou o massacre dizendo estar fazendo um “favor” àquelas crianças, que se tornariam órfãs indefesas, visto que os pais já haviam sido assassinados (ZIMBARDO, 2012, p. 34). Não é preciso continuar descrevendo detalhes horripilantes de como os vizinhos hutus estupraram suas colegas, as filhas delas, e de como forçavam os filhos dos tutsis a estuprar suas próprias mães e irmãs (cf. ZIMBARDO, 2012). O que merece ser destacado é que esse massacre foi executado por colegas e vizinhos, e as justificativas dadas pelos assassinos é que eles estavam simplesmente seguindo ordens. O terceiro exemplo de maldade é ainda mais recente. Veio a público mundialmente em maio de 2004, com a divulgação das cenas de abusos e diversas formas de tortura cometidas por jovens norte- americanos, homens e mulheres, contra detentos da prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Os soldados norte-americanos, responsáveis pelos prisioneiros, tiraram fotos das perversidades que cometiam contra eles e as exibiam como troféus. Uma das torturadoras, uma militar de 21 anos, relatou que esses atos eram apenas ‘curtição’ (ZIMBARDO, 2012). Essas curtições consistiam em: [...] socos, tapas, chutes em detentos; pulos sobre seus pés; detentos desnudos à força, encapuzados, enfileirados uns sobre os outros formando uma pirâmide; homens nus forçados a usar roupas íntimas femininas sobre as cabeças; homens obrigados a se masturbarem ou a simularem sexo oral enquanto eram fotografados ou filmados ao lado de militares do sexo feminino sorrindo ou encorajando tais ações; prisioneiros presos nos caibros das celas durantes longos períodos; arrastados para lá e para cá com coleiras amarradas aos seus pescoços; sendo assustados por cachorros de ataque sem mordaça (ZIMBARDO, 2012, p. 42). Uma das cenas mais perturbadoras, e que ganhou o mundo rapidamente pela internet e outros meios de comunicação, foi a do “homem triângulo” (cf. ZIMBARDO, 2012, p. 42). Esse prisioneiro foi colocado em uma posição bastante desconfortável – encapuzado, de pé em cima de uma pequena caixa com os braços abertos – e induzido a acreditar que poderia ser eletrocutado se saísse dessa posição por qualquer motivo. Como argumenta Zimbardo (2012, p. 42), “[...] não importa que os fios terminassem em lugar algum; importa que ele [o prisioneiro] acreditava na mentira, e deve ter experimentado uma tensão considerável”. Novamente, os protagonistas dos atos de maldade não apresentavam nenhum indício anterior que permitisse prever esse tipo de comportamento. Pelo contrário, eram jovens considerados corretos, saudáveis e bem treinados pelas forças armadas; jovens que poderiam ser nossos vizinhos, amigos ou parentes, e que, provavelmente, nesses contextos, seriam considerados acima de qualquer suspeita3. Isso nos conduz a uma questão fundamental em uma análise comportamentalista da maldade: o que explica a ocorrência de ações desse tipo? Será que essa explicação deve ser buscada na constituição dos indivíduos que cometeram esses atos? O Holocausto, por exemplo, poderia ser pensado como uma conjunção infeliz de pessoas desajustadas, de psicopatas, que tomaram o poder. Ou talvez o nazismo seja um desdobramento quase inevitável do espírito alemão, mais especificamente, de sua herança romântica irracionalista. Tanto em um caso como no outro, tendemos a nos sentir aliviados, uma vez que esse tipo de maldade pertenceria a indivíduos específicos ou a determinada cultura, distante de nós. Mas se esse fosse o caso, como explicar os outros exemplos, em que os protagonistas de atos cruéis eram, até então, considerados pessoas comuns, pais de família, comerciantes, vizinhos que conviviam sem grandes problemas? Parece pouco sensato apelarmos para uma coincidência que aproximou desajustados nesses casos, tampouco podemos encontrar traços culturais específicos que aproximem jovens norte-americanos de hutus. Assim, retomamos nossa questão inicial: como explicar a ocorrência da maldade? 2. Propostas tradicionais de explicação do mal A primeira explicação tradicional do mal é de natureza sociológica. Ela interpreta os atos de maldade como situações excepcionais de nossa sociedade civilizada, ou como um indicativo de falta de civilidade em sociedades primitivas4. Tratar-se-iam, portanto, de exemplos atípicos, incidentes singulares, anomalias, resquícios de barbárie que ainda sobrevivem em nossa sociedade moderna, racional e civilizada. Esses episódios ocorreriam quando o ser humano deixa de pensar, abandona sua racionalidade e dá vazão aos seus instintos primitivos, necessariamente bárbaros e violentos. Nesse sentido, seriam exemplos para pensarmos o ser humano ou uma sociedade patológica e não o ser humano e a sociedade normais. Tais situações ilustrariam, no máximo, onde o processo civilizatório ainda não chegou. Portanto, se acelerássemos o processo civilizatório, barbáries como essas não aconteceriam mais. O principal problema dessa visão é que ela retoma a dicotomia natureza-cultura em bases hobbesianas. Em outras palavras, para que essa tese se sustente é preciso garantir que a natureza seja essencialmente egoísta e violenta, ao passo que a civilidade aparece como um antídoto cultural que nos levaria à promoção da bondade. Como vimos anteriormente, é possível encontrar na natureza exemplos de gentileza, empatia e cooperação (cf. WAAL, 2010). Diferente do que defende a tese hobbesiana, os animais, sobretudo os antropoides superiores, são capazes de resolver impasses sem recorrer à agressão.Além disso, a cultura está longe de ser uma fonte exclusiva de bondade. Nessa direção, Bauman (1998) considera que o Holocausto não é um desvio no caminho reto do nosso progresso cultural, mas “uma possibilidade que a modernidade contém” (p. 24). Dessa forma, o Holocausto seria um produto do próprio processo civilizatório, uma vez que praticamente todas as características desse processo foram mantidas, e não suprimidas, durante o extermínio de judeus no nazismo. Dando voz a Bauman (1998, p. 27, grifo do autor): A verdade é que todos os ingredientes do Holocausto – todas as inúmeras coisas que o tornaram possível – foram normais; [...] no sentido de plenamente acompanhar tudo o que sabemos sobre a nossa civilização, seu espírito condutor, suas prioridades, sua visão imanente do mundo – e dos caminhos adequados para buscar a felicidade humana e uma sociedade perfeita. Com a tese de que o Holocausto é um produto da modernidade, fica impedida uma interpretação estritamente local desse acontecimento – como algo específico de uma cultura ou povo; uma radicalização da história de perseguição aos judeus –, o que legitima a opinião comum de que o que aconteceu na Alemanha nazista não teve e não tem nada a ver conosco, com o que acontece hoje. Para Bauman (1998), o Holocausto não é um episódio da experiência particular dos judeus e daqueles que os odiavam; é um episódio da modernidade, cujas características continuam preservadas e influenciando nossas vidas. Além disso, a interpretação de Bauman (1998) se opõe à visão de que o Holocausto seria um retrato da dificuldade de domar nossos impulsos primitivos, uma visão que culmina na exaltação dos processos civilizatórios e das propostas de especialistas para resolver o problema de nossa agressividade inata (cf. PINKER, 2013). Nas palavras de Bauman (1998, p. 31), o Holocausto deveria ser visto como um ‘laboratório sociológico’, como uma espécie de situação ou ‘teste raro’ capaz de mostrar as “possibilidades ocultas da sociedade moderna [...]” e do próprio processo civilizatório. Em suma, o Holocausto não é um acontecimento que mostra um local refratário à civilização, ou um exemplo de seu fracasso. Outra explicação tradicional para o mal é de natureza psicológica. Negando a possibilidade de que pessoas comuns ou ‘normais’ sejam capazes de cometer atos de maldade, essa explicação invoca o seguinte argumento: esses atos são perpetrados por pessoas com problemas severos de personalidade, por personalidades cruéis, autoritárias, perversas etc. Embora tal explicação usualmente não se dedique ao exame das condições que geram pessoas com personalidades assim, a ideia é a de que crimes hediondos cometidos por um grupo, como aqueles perpetrados pelos nazistas, pelos hutus e pelos jovens militares norte-americanos podem ser entendidos como um acúmulo ou conjunção infeliz de personalidades desviantes especiais em um local e momento histórico particulares. Exemplificando: o nazismo era cruel, porque foi cometido por pessoas cruéis e pessoas cruéis tendem a ser nazistas. Com base nessa explicação circular, o mundo, então, passa a ser dividido entre “[...] protonazistas de nascença e suas vítimas” (BAUMAN, 1998, p. 180). Bauman (1998) também critica com veemência essa tese. Todas as pessoas que cometeram esses atos atrozes eram pessoas comuns, pais de família, vizinhos, colegas de trabalho, com quem eventualmente poderíamos sair para tomar cerveja, ou que poderiam frequentar nossas casas. No caso dos estupros em Ruanda, por exemplo, os perpetradores dos crimes eram homens comuns, fazendeiros, frequentadores de igrejas e antigos professores (cf. ZIMBARDO, 2012, p. 37). No caso do Holocausto, os 6 milhões de judeus, 3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos, 2 milhões de poloneses e centenas de milhares de pessoas ‘indesejáveis’ como os ciganos (cf. ZIMBARDO, p. 33) foram exterminados por pessoas comuns, acima de qualquer suspeita. O fato de esses crimes terem sido cometidos por pessoas normais abalou toda representação que tínhamos do mal. Bauman (1998) descreve esse ponto de modo esclarecedor: O Holocausto fez minguar todas as imagens lembradas ou herdadas do mal. Com isso, inverteu todas as explicações estabelecidas dos feitos maléficos. De repente ficou claro que o mais terrível dos males de que se tinha memória não resultou de uma ruptura da ordem, mas de um impecável, indiscutível e inatacável império da ordem. Não foi obra de uma turba ruidosa e descontrolada, mas de homens uniformizados, obedientes e disciplinados, cumpridores das normas e meticulosos no espírito e na letra de suas instruções. Bem cedo se soube que esses homens, sempre que estavam à paisana, não eram de modo algum maus. Portavam-se de forma bem parecida à de todos nós. Tinham esposas que amavam, filhos que paparicavam, amigos que ajudavam e consolavam no infortúnio. Parecia inacreditável que, uma vez uniformizadas, essas mesmas pessoas fuzilassem, asfixiassem com gás ou presidissem ao fuzilamento e asfixia de outras milhares de pessoas, inclusive mulheres que eram esposas amadas de outros homens e bebês que eram filhos queridos de alguém. Era não só inacreditável, mas aterrador (BAUMAN, 1998, p. 178). Dizer que atos cruéis são cometidos por pessoas com uma propensão patológica, anormal ou perversa, obscurece o triste mas evidente fato de que pessoas comuns, gentis, normais, podem se tornar cruéis se tiverem uma chance (cf. BAUMAN, 1998, p. 180). Nesse sentido, Bauman adverte que “a notícia mais assustadora trazida pelo Holocausto e pelo que soubemos acerca de seus executores não foi a probabilidade de que isso pudesse acontecer a nós, mas a ideia de que nós poderíamos perpetrá-lo” (BAUMAN, 1998, p. 179, grifo do autor). 3. Uma explicação alternativa para o mal As críticas baumanianas das explicações tradicionais – explicações que endossam a opinião de que é impossível ao homem civilizado, racional, cometer atos atrozes – encaminham a discussão à primeira tese alternativa sobre o mal. A maldade pode surgir no coração de condições sociais modernas ou civilizadas. Essa tese é amparada em evidências empíricas obtidas por dois estudos clássicos de psicologia social experimental, que lançaram luz sobre a problemática da maldade. Trata-se dos experimentos de Stanley Milgram sobre obediência à autoridade, e o experimento de Phillip Zimbardo sobre as consequências psicológicas de condições de aprisionamento. O experimento de Milgram, realizado em 1961, foi publicado no periódico The journal of abnormal and social psychology, em 1963, e discutido em pormenores no livro Obedience to authority: an experimental view, publicado em 1974. Os participantes da pesquisa foram recrutados com a informação de que fariam parte de um estudo sobre aprendizagem e memória, mais especificamente, sobre o papel da punição na aprendizagem. Participaram 40 homens, com idade entre 20 e 50 anos, das mais diversas ocupações como funcionários do correio, professores, engenheiros, e com níveis de escolaridade variados (desde aqueles que não tinham completado o ensino médio até aqueles com doutorado). Cada sessão do experimento envolvia três pessoas: o sujeito da pesquisa, que desempenhava o papel de professor, um experimentador, de 31 anos, cujo papel era desempenhado por um professor de biologia do ensino médio, e uma pessoa com 47 anos, um contador, que fazia o papel de aprendiz. No experimento, o pesquisador e o aprendiz eram cúmplices, e sabiam, de antemão, tudo o que iria acontecer. O procedimento consistia na apresentação de uma tarefa de memorização dada ao aprendiz, e o professor (o sujeito da pesquisa) era instruído a dar um choque no aprendiz toda vez que ele errava a tarefa. O aprendiz ficava em uma espécie de cadeira elétrica, com eletrodos em seus pulsos. Esses eletrodos estavam conectados a um simulador de produção de choques. Os comandos que supostamente liberavamos choques variavam de 15 a 450 volts. Essas voltagens foram distribuídas em categorias tais como: choque leve, moderado, forte, muito forte, intenso, extremo, e perigo: choque severo. A cada erro do aprendiz, acendia-se uma luz acima do simulador de choque, que sinalizava o próximo passo a ser executado pelo professor: dar o choque. A cada erro o professor deveria dar um choque mais forte que o anterior. Antes de administrar o choque o professor deveria anunciar qual era a voltagem que seria empregada. Vale destacar que o aprendiz não estava recebendo choque de verdade. Ele estava apenas simulando; ele gritava, gemia, suplicava para o sujeito parar de aplicar o choque quando se tratava das voltagens mais elevadas; mas tudo era uma simulação. Apenas o sujeito que fazia o papel de professor não sabia da encenação; ele acreditava piamente que estava administrando choques com fins pedagógicos (MILGRAM, 1983). Milgram pediu a 14 psicólogos experientes que fizessem uma previsão dos resultados considerando cem participantes hipotéticos. De acordo com a avaliação dos especialistas, desses cem apenas três chegariam a administrar choques de 450 volts, ou seja, pouquíssimos participantes iriam além do choque ‘muito forte’. Os resultados contrariaram essas expectativas. Dos 40 participantes, nenhum deles parou antes de administrar choque de 300 volts; 14 foram um pouco mais adiante, mas desistiram de participar do experimento, desobedecendo às ordens do pesquisador de ir até o fim. Os outros 26 sujeitos foram até o final, administrando o nível de choque mais potente. Os resultados mostraram que as pessoas, agindo contra seus valores e convicções comuns, obedeceram a uma autoridade, infligindo um grave dano a outra pessoa, mesmo diante dos protestos da vítima. Vale ressaltar que essa autoridade não tinha nenhum poder especial sobre os participantes, não poderia prejudicá-los durante ou após o experimento (MILGRAM, 1983). Dez anos depois dos estudos de Milgram, em 1971, Zimbardo realizou seu experimento nos porões da Universidade de Stanford. Ele construiu um ambiente experimental simulando uma prisão. Participaram do estudo 24 universitários normais, sadios e inteligentes (todos foram submetidos a testes padronizados de personalidade). O objetivo do experimento era investigar a dinâmica comportamental em situações de aprisionamento. Mais especificamente, a ideia era verificar em que medida o arranjo de um contexto institucional específico, no caso o de uma prisão, poderia se sobrepor às personalidades de pessoas ‘normais’ nessas situações. Para tanto, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos de 12 pessoas cada. O primeiro grupo representaria o papel de guardas, recebendo, para tanto, instruções, uniformes e equipamentos específicos; outro grupo representaria os prisioneiros, sendo literalmente apreendidos em suas casas por policiais, e mantidos sob o poder dos guardas da prisão experimental. O experimento estava programado para durar duas semanas, mas teve que ser interrompido no sexto dia, pois os jovens que assumiram o papel de guardas começaram a submeter seus ‘prisioneiros’, também universitários, a situações humilhantes e vexatórias: eles pisavam nas costas dos colegas quando faziam flexões, os humilhavam sexualmente, os forçavam a cantarolar músicas obscenas, os obrigavam a limpar privadas sem luvas, a defecar em baldes, removiam das celas colchões como punição contra eventuais rebeliões, exigindo que os prisioneiros dormissem nus no chão de concreto. Por parte dos prisioneiros, observou-se greve de fome, distúrbios emocionais chegando à despersonificação; na verdade, alguns dos prisioneiros tiveram de sair mesmo antes do término precoce do experimento, pela sua precária situação emocional (ZIMBARDO, 2012). Os estudos de Milgram e Zimbardo mostraram que pessoas psicologicamente normais poderiam cometer atos cruéis dadas certas condições. Enfim, o mal emana menos de personalidades autoritárias do que de condições sociais que o favoreçam. Essas evidências empíricas foram discutidas por Bauman no livro Modernidade e holocausto e, com base nelas, e em suas análises teóricas sobre as condições sociais que propiciaram os atos atrozes no Holocausto, o sociólogo polonês concluiu que: [...] a crueldade relaciona-se a certos padrões de interação de maneira muito mais íntima que às características de personalidade ou outras idiossincrasias individuais dos seus executores. A crueldade é social na origem, muito mais do que fruto de caráter. Sem dúvida alguns indivíduos tendem a ser cruéis se colocados num contexto que enfraquece as pressões morais ou legitima a desumanidade (BAUMAN, 1998, p. 194). Com efeito, os binômios racionalidade/humanidade e irracionalidade/ desumanidade foram colocados em xeque. Essas análises mostram que racionalidade e desumanidade podem caminhar juntas, lado a lado, em cooperação, uma alimentando a outra. Se a maldade pode ser um produto de condições sociais modernas, civilizatórias, em quais circunstâncias podemos fazer o mal? 4. Condições modernas para o mal As análises sociológicas de Bauman sobre o Holocausto, bem como os experimentos de Milgram e Zimbardo, ensejaram a descrição de uma série de condições sociais catalisadoras do mal. Destacaremos, neste ensaio, duas delas: a) mediação da ação e b) responsabilidade flutuante. O conceito de mediação da ação está pautado em uma relação muito simples: a maldade é uma função direta da distância social. Dessa forma, quanto mais fragmentada for a nossa ação, quanto maior for a distância entre nossa ação e as consequências que ela produz, maiores as chances de cometermos atos atrozes. No caso do Holocausto, a ação da elite do exército nazista de ordenar as execuções era mediada por uma longa cadeia hierárquica, recortada em especializações funcionais, que terminava no soldado que executava a ordem fuzilando as pessoas ou acionando os dispositivos das câmaras de gás. O comandante não via, não tocava, não experienciava diretamente as consequências de sua ação de ordenar a morte de milhares de pessoas. Os resultados de algumas manipulações experimentais nos estudos de Milgram endossam essa análise: quando os professores tinham que pegar na mão do aprendiz, e colocá-la no aparato que, supostamente, dispararia o choque, o número de obedientes era em torno de 30%, mas essa porcentagem aumentava na medida em que aumentava a distância entre professor e aprendiz. Quando os professores não podiam ver os aprendizes, que ficavam escondidos atrás de uma parede, a porcentagem de professores obedientes aos comandos do pesquisador chegou a mais de 60%. Isso mostra que quanto mais mediada for a nossa ação, quanto mais estiver distante das consequências que ela produz, mais suscetíveis somos de cometer atos cruéis. Trata-se de uma conclusão que também é conhecida pela análise do comportamento, que há muito argumenta que o efeito das consequências depende de seu caráter imediato, ou seja, a ação só pode ser fortalecida ou punida se as consequências reforçadora ou punidora forem imediatamente apresentadas depois da ação. Assim, quando nossa ação leva ao sofrimento de outras pessoas, a distância nos poupa da agonia de testemunhar os resultados de nossos atos. Por isso, Bauman (1998, p. 183, grifo do autor) conclui que “quanto mais racional a organização da ação, mais fácil se torna produzir o sofrimento – e ficar em paz consigo mesmo”. A modernidade cria, então, uma “moralidade da tecnologia”, na qual nossa atenção não está voltada para o objeto final de nossa ação, ou para quem sofrerá o impacto dela, mas para a eficiência da realização da ação, para o quanto ela está em conformidade com as regras prescritas e com as ordens dadas (BAUMAN, 1998, p. 188). Isso acontece não só quando a ação é mediada, mas também quando a ação participa da mediação da ação de outros. Em outras palavras,é mais fácil ignorarmos nossa responsabilidade quando somos apenas um elo intermediário numa cadeia de ações maléficas, cuja consequência final está longe de nossos olhos. Nesse contexto, o objetivo de nossa ação é apenas encetar outra ação e, nessa dinâmica, a relação entre nossa ação e o sofrimento de outrem é diminuída. A segunda condição catalisadora do mal, destacada por Bauman (1998), é a responsabilidade flutuante, que se caracteriza pelo ato de investir outra pessoa (geralmente uma autoridade) da responsabilidade por nossas ações. Em formas modernas de organização social, nas quais as ações são mediadas, é comum imputar ao outro a responsabilidade de nossas ações. Com isso, reitera-se a cadeia mediacional das ações sempre se deslocando a responsabilidade a uma camada superior da hierarquia5. Assim, com a instauração de uma responsabilidade flutuante somos afastados moralmente das consequências de nossas ações. Dessa maneira, a mediação da ação complementa e é complementada pela responsabilidade flutuante, fazendo com que ninguém se sinta moralmente ligado às consequências de suas ações. Se os comandantes no Holocausto dos judeus e nos estupros de Ruanda ficaram insensíveis moralmente, pela sua distância das vítimas, os executores não se sentiam responsáveis pelos crimes, com a justificativa de que estavam apenas cumprindo ordens. Além disso, essa insensibilidade é fortalecida por mecanicismos de organização racional da sociedade moderna, que privilegiam a compartimentalização e a especialização da ação, que valorizam a ação não pelo seu impacto no objeto da ação, mas pela sua eficiência e rigor na execução da tarefa e na conformidade às regras institucionalizadas. 5. Entendendo o mal na contemporaneidade As análises anteriores suscitam um questionamento inquietante: será que as condições propiciadoras do mal estão presentes ainda hoje? Bauman (1998) descreveu essas condições no contexto da modernidade, mas elas poderiam ser estendidas à contemporaneidade? Teríamos superado essas práticas que sustentaram a maldade de grupos no século XX? O próprio Bauman sugere que essas condições para o mal ainda estão presentes e, por isso, atos cruéis em grande escala podem acontecer não só em qualquer lugar, mas a qualquer momento. O que torna essa situação muito mais perturbadora é a consciência de que isso poderia acontecer nessa escala maciça em outro lugar, portanto poderia acontecer em qualquer lugar; está tudo dentro da ordem das possibilidades humanas e, gostem ou não, Auschwitz expande o universo da consciência não menos do que o pouso na lua. Dificilmente pode ser reduzida a ansiedade, tendo em vista o fato de que nenhuma das condições que tornaram Auschwitz possível realmente desapareceu e nenhuma medida efetiva foi tomada para evitar que tais possibilidades e princípios gerem catástrofes semelhantes a Auschwitz (BAUMAN, 1998, p. 30). Vale acrescentar que além dessas condições ainda estarem presentes e, em alguns casos, até exacerbadas, qualquer um de nós pode realizar esses atos cruéis. Como é que pessoas comuns, como eu ou você, podiam fazer aquilo? Com certeza, de alguma forma, ainda que por uma pequenina diferença, elas devem ter sido diferentes, pessoas especiais, diversas de nós, não? Certamente devem ter escapado ao impacto enobrecedor, humanizante, de nossa sociedade civilizada, iluminada. Ou, quem sabe, podem ter sido estragadas, corrompidas, submetidas a alguma combinação infeliz e viciosa de fatores educacionais, que resultaram numa personalidade falha, doentia. Provar que todas essas suposições estavam erradas não seria acolhido não apenas porque isso desmoronaria a ilusão de segurança pessoal que a vida numa sociedade civilizada promete. Seria mal recebido também por uma razão muito mais significativa: porque exibiria a irredimível ineficácia de toda autoimagem moralmente virtuosa e de toda consciência tranquila. A partir de agora, toda consciência só podia ficar tranquila até segunda ordem (BAUMAN, 1998, p. 178-179, grifo do autor). Como podemos entender essa possibilidade em termos comportamentalistas? A resposta a essa questão pode ser encontrada em alguns pontos discutidos pelo próprio Skinner, sobretudo no campo da ética e da política. Mas antes de adentrar nesse ponto, cumpre esclarecer algumas proposições comportamentalistas. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o comportamento é um fenômeno que tem em sua base um organismo sensível ao mundo. Skinner (1981, 1984) esclarece essa tese quando apresenta a história do comportamento, defendendo que a sensibilidade às consequências produzidas pela ação teria sido crucial para o comportamento, em especial, e para a vida, em geral. Isso afasta terminantemente uma concepção mecanicista de comportamento, na qual as ações do organismo seriam meras reações a eventos anteriores, e ‘cegas’ ou insensíveis aos seus efeitos no mundo. A compreensão da própria capacidade de aprendizagem operante, ou condicionamento operante, depende do abandono dessa concepção mecanicista: alterações na probabilidade de ocorrência de ações futuras dependem de uma história em que consequências reforçadoras são consistentemente produzidas pelas ações. Além disso, se o comportamento é “[...] a atividade contínua e coerente de um organismo integral” (SKINNER, 1953, p. 116), essa continuidade e coerência dependem justamente da sensibilidade subjacente ao fenômeno comportamental. Nesse sentido, podemos entender a ocorrência do mal a partir de contingências que diminuem ou bloqueiam a sensibilidade do comportamento ao mundo, sobretudo, quando outras pessoas participam desse mundo. Isso ocorre quando certas contingências interpõem ‘barreiras’ ou mediações entre a ação e o mundo social no qual essa ação opera. Esses mediadores podem ser variados, mas vale mencionar alguns exemplos bastante presentes na nossa vida atualmente. O primeiro exemplo de mediação da ação são as regras institucionalizadas que governam nosso comportamento no âmbito da sociedade contemporânea, fazendo com que nossa ação em relação a outras pessoas fique mais sob o controle da norma, do regulamento, da burocracia, do que da pessoa que sofre os efeitos de nossa ação. Esse controle é especialmente importante para nossa discussão quando se trata de regras organizadas e mantidas por agências controladoras (SKINNER, 1953, 1978). Skinner (1953) definiu uma agência controladora como uma parte organizada do grupo social que estabelece um controle mais homogêneo sobre um grande número de pessoas que participam do grupo. Esse efeito amplo das agências controladoras é obtido graças à formalização de normas ou regras que passam a operar no interior da agência, bem como de sistemas de reforçamento e principalmente de punição que levam os membros do grupo a agirem de acordo com as normas instituídas. Pelo menos desde Foucault (1979), sabemos o quanto normas, leis, ou regras difundidas por agências controladoras – o que esse autor denominava ‘poder disciplinar’ – conduzem a uma padronização acrítica do comportamento humano, vinculando-se, de modo geral, ao discurso sobre a verdade, e criando estratégias para punir a desobediência. Quando o controle pela agência é eficaz o resultado são pessoas obedientes às regras e, portanto, insensíveis às contingências diferentes daquelas descritas pelas regras. Interessante nesse caso é que, geralmente, a justificativa para a criação e a manutenção das regras institucionalizadas é evitar o mal, evitar que o grupo incorra em um caos social, que indivíduos isoladamente perturbem o funcionamento do ‘coletivo’. Tudo se passa como se caso não houvesse regras mediando o convívio social, se não houvesse uma normatização das relações interpessoais, seríamos bárbaros, violentos, insensíveis. A tese aqui é justamente a inversa: quanto mais ficarmos sob um controle estrito de regras, normas, regulamentos, menos sensíveisseremos ao outro e, consequentemente, maior a chance de fazermos mal a ele. Nas palavras de Skinner (1978, p. 12, grifo do autor): O comportamento de seguir regras é inferior ao comportamento modelado pelas contingências descritas pelas regras. […]. Aprendendo as regras de uma cultura somos capazes de lidar eficazmente com pessoas, mas nosso comportamento será mais sensível às contingências mantidas “pela pessoa” quando somos diretamente censurados e elogiados, e as regras da cultura […] esquecidas. Isso não quer dizer que algumas regras sociais não sejam importantes para as relações interpessoais. Não podemos negar que um bom convívio entre pessoas depende do respeito mútuo, e que a educação e a civilidade, um conjunto de regras difundido socialmente nos últimos três ou quatro séculos, facilitaram muito a vida na sociedade moderna (cf. ELIAS, 2011). O problema está em regras institucionalizadas, que representam os interesses de uma ou mais agências controladoras e, por isso, despersonificam as ações. Um funcionário do serviço público de saúde, por exemplo, tem pelo menos duas fontes de controle de seu comportamento de atender as pessoas. De um lado, regras institucionalizadas que orientam rigidamente sua ação em diferentes situações. De outro lado, contingências presentes que envolvem as pessoas que ele precisa atender. Se o comportamento do funcionário estiver sob controle exclusivo da regra institucionalizada, ele será insensível à pessoa que está atendendo, mesmo que isso gere sofrimento a essa pessoa. Já se ele estiver sob controle da pessoa, a regra será colocada em perspectiva, e a prioridade será o atendimento e os efeitos gerados imediatamente na pessoa atendida. O segundo exemplo de contingências que promovem a insensibilidade ao outro, muito presente no nosso cotidiano, diz respeito às mediações tecnológicas que têm se proliferado nas relações interpessoais. Talvez o início mais conspícuo dessa prática tenha sido a difusão dos telefones celulares. A telefonia móvel tornou mais fácil conversar com uma pessoa por telefone do que pessoalmente, uma vez que com o celular é possível falar em diferentes lugares e situações, diminuindo muito o custo da resposta de conversar. O próximo passo foi a mudança de mediação da ligação telefônica, que ainda mantinha algumas das características de uma conversa face a face, para a mensagem de texto. Agora se torna possível escrever uma mensagem para alguém em diferentes situações, e até mesmo fazendo outras coisas, com um baixo custo de resposta e também com a diminuição do custo financeiro (desde o início da telefonia móvel é mais barato uma mensagem do que uma ligação, e hoje todas as operadoras oferecem pacotes promocionais em que as mensagens são ilimitadas pagando-se um valor fixo). Por fim, complementando e acentuando esse processo de mediação tecnológica das relações interpessoais, desenvolveram-se as denominadas ‘relações virtuais’, consagradas nas redes sociais. Com a sociabilidade virtual, boa parte do que já acontecia com o celular foi transferido para a internet, com o msn, post’s, twitter’s etc. Tudo isso com baixo custo de resposta, maior imediaticidade, e cada vez mais barato. Qual o resultado dessa revolução nas relações interpessoais? Muitas vezes ouvimos dizer que nesses contextos virtuais as pessoas ‘falam o que pensam’, sugerindo, com isso, que elas são mais autênticas e espontâneas. No entanto, frequentando um ambiente virtual é muito comum encontrarmos ‘conversas’ insensíveis, grosseiras, depravadas. O interessante é que raramente essas pessoas comportam-se dessa forma em relações interpessoais não mediadas; pelo contrário, em contextos não virtuais as pessoas são retraídas, contidas, tímidas, impessoais, discretas. Será que isso quer dizer que o contexto ‘real’ é castrador, repressor, e as redes sociais libertárias e democráticas? Subjaz a essa interpretação a crença de que o ser humano é ‘essencialmente’ mal e que o convívio social sem mediação mascara essa maldade. A tese aqui é outra. Em primeiro lugar, não há uma essência humana, boa ou má. O ser humano só é ‘em contexto’. Nesse sentido, em um contexto não mediado as relações sociais têm mais chances de se autorregularem, isso quer dizer que na ausência de mediações o comportamento do outro controla diretamente nosso comportamento, e, por isso, temos um impacto direto do mal ou do bem que estamos fazendo a ele. Por outro lado, em uma relação mediada, como no caso das relações virtuais, essa sensibilidade é impedida ou desviada, o que faz com que não tenhamos acesso imediato ao que estamos promovendo na outra pessoa. Além disso, mesmo que estejamos fazendo mal a ela, esse efeito nos afetará tardiamente, sendo, por isso, ineficaz para mudar o comportamento que promoveu o mal. Podemos encontrar amparo para essas análises no próprio texto skinneriano, sobretudo, em algumas de suas recomendações políticas. De um ponto de vista skinneriano, a política é o campo de discussão e planejamento do controle social, mais especificamente, do controle que há entre pessoas, o que, geralmente, envolve a participação de agências controladoras, como a economia e o Estado. Assim, um dos temas da política é o papel que as agências controladoras têm na regulação do comportamento individual. Discrepando de críticas comumente dirigidas à análise do comportamento (cf. CARRARA, 2005), Skinner (1978) defende que a melhor forma de política é o controle face a face, o controle de pessoas por pessoas, com a menor mediação institucional possível. Nas palavras desse autor: Quando delegamos o controle de pessoas a instituições políticas e econômicas, renunciamos ao controle face a face de um governo equitativo de pessoas por pessoas, e é um erro supor que o reconquistamos restringindo o escopo daqueles a quem delegamos o controle. Uma estratégia melhor é fortalecer o controle face a face. Um ambiente social, ou cultura, pode operar sem a ajuda de governantes e empresários usurpadores ou delegatários, e ele é mais claramente um governo de pessoas pelas pessoas quando faz isso (SKINNER, 1978, p. 9, grifo do autor). Um dos principais motivos para essa recomendação política está no modo de funcionamento das agências controladoras responsáveis pela difusão de regras institucionalizadas. De acordo com Skinner (1953), depois que uma agência controladora se consolida, ela passa a funcionar para o seu próprio bem, para manter-se, e, consequentemente, normas, regulamentos e regras difundidas por essa agência começam a ser usadas apenas com essa função. Identificadas as situações contemporâneas que facilitam a maldade, talvez seja possível combatê-la. Se comportamentos maus dependem de contingências sociais, mais especificamente, se eles ocorrem com mais facilidade em grupos permeados pela autoridade e por ações mediadas, precisamos arranjar práticas para que os grupos não se organizem em torno dessas características. Em poucas palavras, precisamos aumentar as chances da ocorrência do bem. 6. Há possibilidades para o bem? Todas as análises feitas até aqui parecem consistentes com uma proposta comportamentalista, na medida em que o mal é uma propriedade do comportamento, e não uma referência que transcenda o campo comportamental. Enfim, para nenhum dos autores citados existe o mal em si, algo de ‘fora’ do comportamento que o influencia ou determina. Consequentemente, a discussão é encarnada, é terrena, ou seja, é um assunto humano. O mesmo raciocínio vale para o bem. A bondade deve ser definida a partir do comportamento; ela diz respeito ao que o ser humano faz, ao que ele faz consigo mesmo, com o mundo físico e, principalmente, com o mundo social. Precisamos combater o mal com o bem. O que nos remete à questão: o que é o bem? O que é a bondade? Em que condições ela surge? As análises anteriores sugerem que o combate à maldade e a promoção da bondade estão emcontingências que desburocratizam as relações interpessoais, aumentando, assim, nossa sensibilidade ao outro. Dessa forma, é uma condição para a bondade que a relação entre a ação e o mundo social, no qual essa ação opera, seja a mais direta possível, sem mediações. Talvez possamos ampliar a recomendação do controle face a face, mencionada alhures, para situações cotidianas criando uma alternativa viável e concreta para se combater as contingências responsáveis pela maldade. Em primeiro lugar, o controle face a face acaba, por definição, com a mediação da ação (SKINNER, 1978) e, por isso, esse tipo de relação tende a ser mais calorosa, humana, sensível. Para evitar o mal e aumentar as chances de promover o bem deveríamos preferir relações interpessoais mais diretas, menos mediadas; deveríamos, portanto, preferir conversar pessoalmente a conversar pelo telefone, deveríamos preferir conversar pelo telefone a mandar uma mensagem, deveríamos preferir nos relacionar com pessoas a máquinas. O controle face a face também é uma alternativa à responsabilidade flutuante. Quando diminuímos a interposição entre nossa ação e os efeitos que produzimos no outro, sentimos-nos mais responsáveis pelo que fazemos com ele, uma vez que somos afetados direta e imediatamente por esses efeitos. Consequentemente, nessa contingência tornamo-nos sensíveis a outrem. Vale lembrar que há diferentes tipos de interposição que precisam ser evitados, como a tecnológica (sociabilidade virtual) e a burocrática (regras, normas e regulamentos institucionalizados). Assim, além de preferir conversar pessoalmente, deveríamos conversar com pessoas e não com cargos. Considerações finais Depois de todo esse percurso podemos finalmente levantar a seguinte questão: é possível fazer o bem? As análises apresentadas anteriormente vão na direção de uma resposta positiva, desde que nos empenhemos em promover algumas mudanças. Em primeiro lugar, precisamos romper com a lógica medieval de que o ser humano tende naturalmente ao mal, de que ele é manchado pelo pecado original, de que sem uma regulação externa, sem uma padronização as relações interpessoais serão necessariamente violentas. É justamente essa imagem de um ser humano ‘decaído’ que povoa os argumentos a favor da manutenção do poder das agências controladoras. Precisamos combater esse argumento mostrando o que corre nos bastidores dessas agências, a função reacionária dos regulamentos, das normas e da burocracia em geral. Enfim, precisamos aprender a desobedecer quando necessário. Além disso, é preciso insistir que o bem e o mal são inerentes ao comportamento, e que não somos vítimas do mundo, mas somos, sobretudo, responsáveis, já que construímos (ou destruímos) o mundo com nossas ações. Isso quer dizer que a chave para a bondade está em como agimos, como nos relacionamos com o outro, quanto lutamos pelo contato face a face, e quanto resistimos à mediação das nossas ações. É possível, portanto, fazer o bem, mas isso exige, antes de tudo, uma maior atenção às condições responsáveis pelo mal, que continuam mais presentes do que nunca em nossa sociedade atual. Referências ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. 3. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Tradução M. Penchel. 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Obviamente, tal leitura não é isenta de controvérsias; para uma análise mais detalhada desse assunto, consultar (TUCK, 2011). 2 Havia também uma minoria, cerca de 1%, da etnia Twa (OLIVEIRA; GROSSMANN, 2012). 3 Muitos outros exemplos de maldade poderiam ainda ser mencionados em diferentes partes do mundo, incluindo a América http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005220 http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005220 Latina, com as perseguições políticas e mortes ocorridas durante os regimes ditatoriais, que se estenderam por boa parte do século XX nos países dessa região. No Brasil, em particular, há também o caso ocorrido no Colônia, maior hospício do país, na cidade mineira de Barbacena, no qual cerca de 60 mil pessoas morreram de fome, frio, doenças,
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