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PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E OS TRATADOS DE PAZ A Primeira Guerra Mundial foi assim chamada por envolver todas as grandes potências do mundo ocidental da época, caracterizando um confronto bélico sem precedentes históricos. No esforço de guerra, cada Estado assumiu o controle absoluto da economia e todos os cidadãos foram recrutados para participar tanto do exército quanto da produção industrial, principalmente de armamentos. Os tanques de guerra, os encouraçados, os submarinos, os obuses de grosso calibre e a aviação, entre outras inovações tecnológicas da época, constituíram artefatos bélicos de um poder de destruição até então inimaginável. De forma sintética, podemos dizer que foram duas as fases do conflito: em 1914, houve a guerra de movimento e, de 1915 em diante, a guerra de posição ou de trincheiras. A primeira fase estava relacionada ao Plano Schlieffen, estratégia ofensiva alemã elaborada ainda em 1905, sob os efeitos do dima de revanchismo que preponderava em sua política externa. Esse plano previa a mobilização de boa parte do exército alemão para invadir o território francês, pela Bélgica e pela Alsacia-Lorena, e render Paris ao final de seis semanas. Alcançado tal intento, os alemães julgavam que estariam livres para enfrentar os russos, direcionando suas tropas para o ataque e a invasão daquele país. Para a execução da ofensiva à França, os alemães violaram a neutralidade da Bélgica, ao invadirem o seu território. Esse foi o pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha. Mesmo assim, a execução do Plano Schlieffen permitiu aos exércitos alemães marcharem em direção a Paris, surpreendendo as tropas francesas. Do lado oeste, uma ofensiva russa inesperada, ainda em 1914, obrigou as forças alemās a se dividirem, deslocando tropas para a região da ex-Prússia Oriental. A França, beneficiando-se do apoio inglês, salvou-se do fulminante ataque alemão na batalha do Marne, em setembro do mesmo ano. Com o fracasso da guerra de movimento, teve início a guerra de posição ou de trincheiras. Outras potências entraram no conflito, posicionando-se ao lado da Tríplice Entente (França, Inglaterra e Rússia): Japão (1914), Itália (1915), Romênia (1916) e Grécia (1917). Ao lado das chamadas potências centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) colocaram-se o Império Turco-Otomano (1914) e a Bulgária (1915). Enquanto na frente ocidental a guerra entrava na fase das trincheiras, com cada país defendendo, palmo a palmo, o território conquistado, na frente oriental ocorria uma seqüência de vitórias alemās, como na batalha de Tannenberg, na qual cem mil russos foram aprisionados. Em 1916, em Verdun, frustra-se nova ofensiva alemã contra a França, mantendo- se em geral as posições já existentes. O ano de 1917, ao contrário, foi marcado por acontecimentos decisivos para a guerra. As contínuas derrotas russas aceleraram a queda da autocracia czarista, culminando nas revoluções de 1917, que implantaram o regime socialista. Com a ascensão do novo governo, concluiu-se um acordo de paz em separado, o tratado de Brest-Litovski, de 1918, oficializando a saída dos russos da guerra. No mesmo ano, a derrota italiana na batalha de Caporetto possibilitou as potências centrais voltarem-se para a frente ocidental franco-inglesa, e a Alemanha intensificou o bloqueio marítimo a Inglaterra, objetivando deter seus movimentos e o abastecimento da ilha da Grã-Bretanha. Sentindo-se ameaçados pela agressividade marítima alemã, os Estados Unidos, que até então se mantinham neutros, embora abastecessem os países da Entente de alimentos e armamentos, usaram como pretexto o afundamento do seu transatlântico Lusitânia e do navio Vigilentia para a declaração de guerra contra as potências centrais. A entrada desse país na guerra, em 1917, com seu imenso potencial industrial e humano, reforçou o bloco liderado pela Inglaterra e pela França. A abundante oferta de novas armas - tanques, navios e aviões de guerra possibilitou aos países da Entente impor sucessivas derrotas aos alemães. A derrota das potências centrais diante da superioridade econômico-militar dos Aliados acarretou a renúncia do próprio Kaiser alemão, em novembro de 1918, e a assinatura do armisticio de Compiègne. O cessar-fogo foi conseguido por meio de um plano de paz formulado pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson (os chamados 14 Pontos de Wilson), que pregava "uma paz sem vencedores". OS TRATADOS DE PAZ: SEMENTES PARA A GUERRA Com o fim das operações militares, os vitoriosos reuniram-se em janeiro de 1919, no palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, para as decisões do pós-guerra. O encontro foi dirigido pelo presidente norte-americano Wilson e os chanceleres Lloyd George, da Inglaterra, e Georges Clemenceau, da França. O plano proposto pelo presidente norte-americano foi inviabilizado por diversos acordos paralelos e, principalmente, por pressão da França e da Inglaterra. As conversações resultaram no tratado de Versalhes, que considerou a Alemanha culpada pela guerra e criou uma série de determinações que visavam enfraquecê- la e desmilitarizá-la. Por esse tratado, estabelecia-se a devolução da Alsacia-Lorena à França e o acesso da Polônia ao mar por uma faixa de terra dentro da Alemanha que desembocava no porto livre de Dantzig - seria o chamado "corredor polonês". A Alemanha perdia todas as suas colônias ultramarinas e parte de seu território europeu para os franceses, ingleses e seus aliados. Perdia também a artilharia e a aviação e passava a ter um exército limitado a cem mil homens, além de ficar proibida de construir navios de guerra. Estava obrigada ainda a indenizar as potências aliadas pelos danos causados, num total aproximado de 30 bilhões de dólares, valor que foi sendo renegociado nos anos 20, até ser extinto em 1932, na Conferência Internacional de Lausanne. O tratado de Versalhes também oficializou a criação da Liga das Nações, que funcionaria como um fórum internacional no interesse da paz mundial. Essas pretensões, porém, não se concretizariam, pois a liga não contaria no início com a participação da Alemanha e da Rússia nem do próprio país que a idealizara e que se transformara na maior potência mundial, os Estados Unidos. Por discordar de muitas das decisões de Versalhes, os norte-americanos preferiram assinar com a Alemanha um acordo de paz em separado. No mesmo ano de 1919, o Império Austro-Húngaro foi desmembrado, pelo tratado de Saint Germain. A Áustria perdia a saída para o mar e era forçada a reconhecer a independência da Polonia, da Tchecoslováquia, da Hungria e a criação do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (que, em 1929, adotaria o nome de lugoslávia), perdendo, assim, a maior parte de seu território. Com a Hungria foi assinado o tratado de Trianon; com a Bulgária, o de Neuilly, e com a Turquia, o de Sèvres, este último reformado por um outro tratado bem mais tarde, o de Lausanne em 1923, por causa da reação turca ás imposições de Sèvres. O conjunto de tratados assinados entre 1919 e 1921 selou, enfim, não só a desintegração territorial dos impérios Austro-Húngaro, Turco-Otomano e Alemão, como determinou o início do processo de consolidação da independência de novos Estados, cujas soberanias foram ratificadas pelos povos atingidos, por meio de plebiscitos. Tais países, quase todos situados na península Balcânica e constituidos de etnias eslavas, passaram a integrar as novas áreas para a atuação dos interesses capitalistas das potências vencedoras.
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