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UNIP - Universidade Paulista _ DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos_8

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21/10/2021 20:56 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
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Neste módulo vamos tecer algumas considerações a respeito do positivismo e do ordenamento jurídico. Para tanto, discorremos, ainda que brevemente, a respeito das concepções desenvolvidas por Hans Kelsen,
Norberto Bobbio e Miguel Reale.
Assim, vamos começar pelas considerações de Hans Kelsen.
O ordenamento jurídico segundo Hans Kelsen sustenta-se nas relações lógico-formais entre as normas. Verifica-se, então, que o ordenamento circunscreve-se na lógica interna, portanto, coerência e hierarquia entre as
normas: 
"A norma é a expressão da ideia de que algo deve ocorrer e, em especial, de que um indivíduo deve se conduzir de certa maneira. Nada é dito pela norma sobre o comportamento efetivo do indivíduo em questão. A
afirmação de que um indivíduo “deve” se conduzir de certo modo significa que essa conduta está prescrita por uma norma – ela pode ser uma norma moral, jurídica ou de algum outro tipo. O dever-ser simplesmente
expressa o sentido específico em que a conduta humana é determinada por uma norma." (Hans Kelsen, 1998:51). 
A norma e todas as instituições e todos os procedimentos jurídicos são entendidos por Kelsen como objetos específicos de uma área de conhecimento próprio. Acrescenta-se ainda que Kelsen identifica a ordem jurídica
como ordem coercitiva e o Direito como ciência e técnica específica, portanto, diferencia a esfera jurídica de qualquer outra ordem, e o Direito de qualquer outra ciência, particularmente da sociologia.
Tal concepção, evidentemente, tem como parâmetro o estabelecimento do Direito como ciência. A preocupação kelseniana de situar o Direito como ciência exigiu a identificação de um objeto exclusivo. Um objeto que
não pudesse ser reduzido a nenhum outro campo de conhecimento. Isso porque se um objeto já é investigado, estudado por outro campo científico, seria por demais redundante que outra ciência também tivesse esse
mesmo objeto com a mesma metodologia. Seria como que criar uma ciência que já existe.
Para melhor explicitar tal afirmação, cabe a seguinte citação: 
"Na afirmação evidente de que o objeto da ciência jurídica é o Direito, está contida a afirmação menos evidente de que são as normas jurídicas o objeto da ciência jurídica, e a conduta humana só o é na medida em que é
determinada nas normas jurídicas como pressuposto ou consequência, ou por outras palavras na medida em que constitui conteúdo de normas jurídicas. Pelo que respeita à questão de saber se as relações inter-humanas
são objeto da ciência jurídica, importa dizer que elas também só são objeto de um conhecimento jurídico enquanto relações jurídicas, isto é, como relações que são constituídas através de normas jurídicas." (KELSEN,
2000:79). 
Assim, 
O direito tem como objeto de estudo a norma - nela e por ela mesma - acrescida de todas as esferas atinentes a suas origens e aplicações. 
Portanto, a logicidade se impõe como condição, senão excludente de outras, pelo menos como a mais significativa, o que exclui a multidisciplinaridade do Direito. Não incorpora a investigação do social ou dos valores
sociais ou mesmo a formação histórico-cultural, mas só a formação histórica da própria norma.
Desse modo, a pressuposição de Kelsen é de que o Direito caracteriza-se particularmente por regular a sua própria criação. Isso significa que há normas cuja marca maior é o de produzirem outras normas.
As normas produzidas vão encontrar sua validade exatamente por serem originadas de conformidade com a norma anterior. Isso é possível se, e tão somente se, entendermos que existe uma relação entre as normas, uma
relação lógica entre elas.
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A norma geradora será sempre superior, enquanto a norma produzida é denominada de inferior. Acrescenta-se ainda que tal relação lógica entre as normas permite verificar a validade das mesmas: a norma superior é a
que dá validade para a norma inferior.
Desse modo, é possível, então, verificarmos que a unidade do ordenamento jurídico é uma determinação de dependência, pois a norma inferior é sempre dependente da norma superior. Se visualizarmos tal dependência
como um desenho só nos resta a visualização em vertical, há um encadeamento vertical no ordenamento. Pode-se, então, segundo Kelsen fazermos a seguinte exposição: 
constituição-legislativo (deve-ser)
 &
processo judicial e administrativo
Particularmente quanto à lei, esta é de responsabilidade do legislativo, enquanto os decretos e/ou decretos-leis podem ser elaboradas por autoridade administrativa. A lei é entendida no que se refere ao seu tipo: material
e formal. Material é a mais geral; enquanto a formal é aquela norma geral que agora se apresenta como lei anunciada pelo legislativo. O ordenamento jurídico é assim entendido como um sistema de normas que se
apresentam interligadas (norma superior-norma inferior).
Acrescenta-se ainda que no ordenamento de Kelsen inclui a comunidade jurídica que também é formada pela mesma ordem com poderes para elaboração de normas. Desse modo, o ordenamento é operacional, pois
permite tanto a criação de normas como também a sua efetiva aplicação através de órgãos competentes. Aqui não há, segundo Kelsen, uma oposição entre a criação e a aplicação, pois ambas são simultâneas.
O sistema de normas jurídicas possui necessariamente um caráter dinâmico, pois, como vimos, o Direito contém particularidades e dentre elas a de criar e regular a si mesmo. Assim, a validade de uma norma não é
definida pelo conteúdo, mas pela validade, por ser gerada de uma forma determinada, ou melhor, se é gerada dentro do sistema de inter-relações entre as normas, enfim dentro do ordenamento jurídico:
Elaboração da constituição (geral) abstrato 
 &
Legislação e costume
 &
Decisão judicial
 &
Execução da sanção (particular / individual) concretude
 
Dinâmica do Direito
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Agora, vamos considerar algumas das lições de Norberto Bobbio.
A concepção de ordenamento jurídico de Norberto Bobbio vincula-se muito às características gerais do significado de ordenamento como unidade, coerência, completude e relações entre ordenamentos.
Assim, é possível dizer que, como complementação, há na exposição de Bobbio:
"O Direito não como norma ou como campo distinto de tantos outros campos de conhecimento, pelo estudo da norma, mas pelo ordenamento jurídico. Isso implica na sua pressuposição explícita de que o Direito se
distingue por ser um ordenamento jurídico não passível de ser confundido com qualquer outro tipo de ordenamento."
Em outras palavras, Bobbio desloca o estudo do Direito da norma para o ordenamento jurídico.
A compreensão de que o estudo do Direito não compreende o estudo de uma norma isolada, mas de um conjunto de normas, é o pressuposto inicial para a caracterização de alguns traços profundamente marcantes na
compreensão do Direito, segundo a exposição de Norberto Bobbio, em sua obra Teoria do ordenamento jurídico.
Bobbio inicia sua exposição dizendo que:
"as normas jurídicas nunca se apresentam de modo isolado, mas muito pelo contrário elas existem sempre em um conjunto, ou melhor, usando as palavras do próprio autor de um contexto de normas e, é nesse contexto
que se estabelecem relações muito particulares e podemos acrescentar, singulares entre si."
Desse modo é o contexto de normas, das articulações entre elas que se denomina de ordenamento. Por consequência, é possível, então, o ordenamento normativo como o objeto do Direito ou, ainda, como o próprio
Direito. Isso porque a relevância da norma isolada paraa compreensão do fenômeno Direito não é suficiente, é imperiosa a incorporação do conjunto de normas articuladas. Por conseguinte, desloca-se da norma para o
ordenamento, em outras palavras, da norma para o conjunto ordenado:
"[...] o que comumente chamamos direito é mais uma característica de certos ordenamentos normativos que de certas normas. Se aceitarmos essa tese, o problema da definição do Direito se torna um problema de
definição de um ordenamento normativo e, consequentemente, diferenciação entre este tipo de ordenamento normativo e um outro, não o de definição de um tipo de normas. Nesse caso, para definir a norma jurídica
bastará dizer que a norma jurídica é aquela que pertence a um ordenamento jurídico, transferindo manifestamente o problema da determinação do significado de 'jurídico' da norma para o ordenamento." (BOBBIO,
1997, p. 28)
O Direito, a partir desse princípio, é um complexo de normas que se organiza em um sistema de regras de conduta. Acrescentando-se que o Direito é um conjunto de regras que valem, mesmo que pela aplicação da
força. O direito é, assim, um ordenamento normativo de eficácia reforçada, que se faz valer pelo direito de coação. Tal poder só é possível de existir por um conjunto de órgãos ordenadamente, posto que aplica mesmo
que pela força - a coerção.
Quem tem a condição de exercer o poder pela força? O soberano retém o poder de exercer a força para aplicar a norma efetivamente. Esse poder é constituído por órgãos que, por sua vez, são estabelecidos pelo próprio
ordenamento normativo.
A expressão soberania permite apresentar não a norma, mas uma articulação de normas, portanto, um conjunto complexo. Não é norma isolada, mas sim o seu ordenamento que apreende ainda as instituições jurídicas de
um modo geral.
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Assim a norma é acompanhada de sua obrigatoriedade, que Bobbio qualifica como convicção ou crença de obrigatoriedade de obediência. Por que de obediência? Porque se por ventura a norma for violada ocorrerá ação
do poder judiciário e poderá ocorrer, em consequência dessa ação, a aplicação de uma sanção. A norma jurídica caracteriza-se assim pelo seu poder de coerção.
O Direito tem sua existência sustentada pela organização sistematizada das normas. É o conjunto que sobressai como fundamental e não a norma. Por consequência, a norma será jurídica e não qualquer outra, será
somente aquela que pertence ao ordenamento jurídico.
Desse modo, segundo Norberto Bobbio, o fenômeno jurídico é bem melhor compreendido ou explicado por intermédio de uma teoria do ordenamento jurídico, que passa a ser o parâmetro para identificar a norma pelo
conjunto que pertence.
Ora, e as normas que não expõem a sanção por não prescreverem modos de condutas? Ou de outro modo, como incluir no ordenamento normas que se identificam, não como prescritivas de condutas ou de
comportamentos, mas que designam competência ou esclarecimentos? Por se tratar de conjunto normativo é evidente que sempre haverá necessidade desse tipo de norma, então, as normas não seguidas de sanção
também fazem parte do ordenamento jurídico, pois é uma necessidade implícita ao procedimento jurídico a designação de outras normas que não determinam sanções, mas determinam competências.
Ao expandir suas reflexões, Norberto Bobbio apresenta ainda a validade e a eficácia como características fundamentais das normas. Tendo como parâmetro o ordenamento e a articulação que se
verificam nesse conjunto, a validade é proveniente da inclusão no ordenamento. Em outras palavras, a norma é válida por pertencer explicitamente ao conjunto das normas.
A eficácia é apreendida por sua efetiva aplicação, ou seja, a norma é eficaz se for aplicada em concreto pelos procedimentos jurídicos. 
Assim é possível que tenhamos normas válidas, porém não eficazes se porventura não houve a aplicação prática, se não houve nenhuma ação jurídica proveniente dessas normas. Se determinada norma pertence ao
conjunto, é caracterizada como válida, mas não necessariamente eficaz, pois não foi possível sua verificação na realidade jurídica. A eficácia é uma característica da norma que está intimamente vinculada à sua
aplicação.
A estrutura do ordenamento jurídico, na análise Norberto Bobbio, é formada pelas normas de estrutura ou de competência. Assim, as normas que prescrevem ou delegam competências, ou as condições bem como os
procedimentos, enfim aquelas que regulam interesses, formam o quadro ou a moldura, constituem a forma estrutural da qual originam as normas de condutas válidas.
Desse modo é possível, segundo o autor em estudo, que exista ordenamento com uma única norma de estrutura, da qual decorrem várias normas de conduta. Por que várias normas de conduta e uma norma de estrutura?
Porque é possível que uma única norma estrutural seja suficiente para organizar todas as outras normas decorrentes, ao passo que as condutas obrigam necessariamente uma enorme quantidade de normatização, o
controle é muito mais complexo quando se refere ao comportamento. 
A unidade como marca fundamental do ordenamento, exige segundo a concepção exposta por Norberto Bobbio, a existência de uma referência que irá organizar de modo a formar uma unidade. Essa referência é
entendida a partir da inclusão da fonte das fontes. O que vem a ser isso?
A problemática da unidade dos ordenamentos em geral está vinculada às fontes de Direito. Assim, há ordenamentos jurídicos simples cujas normas que os constituem são provenientes de uma única fonte e os
ordenamentos jurídicos complexos em que as normas que os constituem são geradas por duas ou mais fontes de Direito.
Podemos expor através do seguinte esquema a exposição das fontes:
1. fontes originárias;
2. fontes derivadas que, por sua vez, desdobram-se em fontes reconhecidas e fontes delegadas:
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Fontes:
1. originárias
2. derivadas
a) reconhecidas
b) delegadas
As fontes originárias são aquelas que dão origem ao complexo jurídico, ou de outro modo, são originárias juridicamente, o que implica evidentemente em não ser originárias na perspectiva da história. Isso porque muito
do que é instituído juridicamente é originário de antecedentes históricos às vezes até mesmo anterior, a formação do próprio Estado.
As fontes derivadas são aquelas que decorrem das originárias e são subdivididas em reconhecidas e delegadas: as reconhecidas, cujo exemplo mais relevante é o costume que é reconhecidamente aceito pela sua
constante presença nas relações entre as pessoas e, portanto, adquirem o estatuto de reconhecimento quando aplicadas; as fontes delegadas cujo exemplo mais significativo são os regulamentos, normalmente delegados
pelo Legislativo ao Executivo.
Não é a quantidade de fontes que qualifica um dado ordenamento jurídico, mas sim que o ordenamento exponha regras de comportamento e regras de produção para outras normas.
Continuando, cabe a verificação do que é fonte, pois se o ordenamento está intimamente vinculado a fonte geradora de Direito, é imperioso que a definição de fonte seja explicitada. Para tanto, a elaboração de tal
definição incorpora os termos fatos e atos. São estes que identificam a fonte, evidentemente atos e fatos dos quais o ordenamento faz depender a produção de normas jurídicas. Isso significa que as fontes do Direito são
compostas por fatos ou atos que, quando analisados na perspectiva do ordenamento ou tendo o ordenamento como parâmetro, são geradores de normas jurídicas.
A ideia de ordenamento significa que existe, como vimos anteriormente, uma referência, um ponto de apoio que estabelece a unidade, ou seja, para que determinado conjunto seja denominado de ordenado, é imperiosa a
condição unificadora.
Assim, Norberto Bobbio irá participarda mesma ideia de Hans Kelsen, quanto ao ponto de referência unificador, que irá estabelecer a unida: a norma fundamental. Desse modo, apresenta-se a mesma consequência já
apontada pelo pensador alemão, a hierarquia das normas, pois a partir da norma fundamental, todas as demais são dela derivadas em escalas: 
"Então diremos que a norma fundamental é o critério supremo que permite estabelecer se uma norma pertence a um ordenamento; em outras palavras, é o fundamento de validade de todas as normas do sistema.
Portanto, não só a exigência de unidade do ordenamento, mas também a exigência de fundamentar a validade do ordenamento induzem a postular a norma fundamental, qual é, simultaneamente, o fundamento de
validade e o princípio unificador das normas de um ordenamento. E como um ordenamento pressupõe a existência de um critério para estabelecer se as partes pertencem ao todo, e um princípio que as unifique, não pode
existir um ordenamento sem norma fundamental." (BOBBIO, 1997, p. 62)
Evidentemente, a concepção de Norberto Bobbio tem que justificar essa norma geradora das demais. Tal justificativa é encontrada através da própria fundamentação de tal norma, ou seja, é preciso obedecer ao poder
originário. O que vem a ser esse poder originário? Nada mais que o poder político que, ao tomar ou assumir o poder, insere um novo ordenamento jurídico.
Por que tomar ou assumir? Segundo Norberto Bobbio, é por demais a redução do Direito ao poder de força, isso porque é perfeitamente verificável na realidade que o poder pode ser tanto tomado pela força, aqui
entendido como força física, quanto pelo consenso.
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Apesar de ocorrer a mesma interpretação de Hans Kelsen quanto à norma fundamental, Norberto Bobbio se distancia, fazendo uma crítica a Hans Kelsen quando aborda a definição do Direito. Há, segundo Norberto
Bobbio, um deslocamento da definição do Direito de Hans Kelsen, pois emerge uma confusão, um equívoco de considerar a parte como um todo e o instrumento com o fim.
De um modo geral, verifica-se uma identificação entre ordenamento jurídico e Direito com a definição do próprio Direito estabelecido por Bobbio. Pode-se confirmar essa afirmação por uma análise de sua obra Teoria
do ordenamento jurídico, que investiga exatamente a noção de unidade, de coerência e de completude do ordenamento e as relações entre os ordenamentos: "O termo 'direito', na mais comum acepção de Direito
objetivo, indica um tipo de sistema normativo, não um tipo de norma". (BOBBIO, 1997, p. 31).
 Por derradeiro, cumpre-nos dedicarmos às lições de Miguel Reale, notadamente no que tange à sua teoria tridimensional do direito.
O ordenamento jurídico, segundo Miguel Reale, possui o caráter normativo e, por consequência desse caráter, certa graduação, pois a natureza das normas é diferente, mas não se circunscreve exclusivamente ao lógico
formal, isso porque incorpora outros fatores como o social e o histórico.
Por incluir fatores históricos, sociais e culturais, o ordenamento não é assim um conjunto só linear e lógico, mesmo porque a linearidade não é o traço característico do social e do histórico, pois os valores sociais são
passíveis de mutações, modificam-se, transformam-se no decorrer de um período histórico.
Podemos entender a exposição do significado de ordenamento jurídico, segundo Miguel Reale, através suas Lições Preliminares de Direito, a partir de uma conduta dedutiva em que o mais geral é o conjunto de normas
e os modelos jurídicos que possuem como marcas a vigência e a eficácia em um determinado território.
Acrescenta-se aqui que conforme a relação de complexidade há uma graduação no ordenamento, o que significa dizer que podemos compreender uma relação do maior para o menor. A referência máxima para
estabelecimento dessa graduação do menor para o maior é o próprio ordenamento jurídico do Estado. Esse conjunto forma um sistema que passa a ser denominado ordenamento jurídico:
"[...] podemos dizer que o ordenamento jurídico pode ser visto como um macromodelo, cujo âmbito de validade é traçado em razão do modelo constitucional, ao qual devem imperativamente se adequar todos os
modelos jurídicos." (REALE, 1995, p. 196)
Desse modo, pelo fato de especificar em cada território, verifica-se, então, que em cada país haverá um ordenamento jurídico próprio gerado por sua história, pelas relações sociais estabelecidas; enfim, o ordenamento,
corresponde às necessidades ou complexidades sociais de cada sociedade.
Decorrente da inclusão do valor, não é possível circunscrever a compreensão do ordenamento jurídico somente em um sistema de leis ou em um sistema de normas como exclusivamente exposições de proposições
lógicas. O ordenamento é o sistema de normas jurídicas presentes, por isso vigentes e eficazes, incluindo-se as fontes de Direito e seus conteúdos e, por ser entendido como presente, incorpora também as possíveis
projeções.
Portanto, o ordenamento é o sistema de normas na sua real e concreta exposição de realidade. Qual a constituição do ordenamento de forma mais objetiva? Qual ou quais os elementos que formam o ordenamento a partir
daquele mais geral para o mais particular dentro do sistema?
Segundo o autor em estudo, por entender que a experiência jurídica é fator determinante na compreensão do Direito, ele expõe o que podemos entender como primeiro momento do ordenamento jurídico, denominados
instrumentos lógicos e linguísticos que formam a sustentação básica do Direito. Tal instrumentação é assim exposta: categorias, figuras, institutos, instituições, sistemas.
Decorrentes, e agora entendido como segundo momento do princípio para o ordenamento jurídico, decorrem as seguintes categorias: competência, tipicidade, culpabilidade etc.
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Como terceiro momento do ordenamento, apresentam-se as categorias que vão se incorporando ao sistema, evidentemente, agora como resultante da experiência jurídica de uma determinada sociedade em um
determinado momento histórico. 
Finalmente, as normas, as figuras, os institutos e as instituições se articulam de forma lógica, o que implica em dizer que tal articulação gera ordenadamente:
O ordenamento jurídico, conforme o exposto por Miguel Reale, inclui dois fatores: primeiro, a história de uma determinada sociedade, suas marcas culturais, seu desenvolvimento; enfim características que podemos
dispor como eventos sociais; segundo, a experiência jurídica ou a própria vivência de práticas jurídicas dentro da esfera da efetiva realização das normas ou de efetiva interferência no social. 
Assim:
O ordenamento jurídico não poderia deixar de ser normativo, mas não se caracteriza como um conjunto de normas expostas, de modo que apresentem uma escala ou uma hierarquia e muito menos como uma exposição
sistemática de proposições lógicas.
Agora, por que não é uma sistematização lógico-formal? Isso evidentemente é decorrência das interferências das práticas sociais e das práticas técnicas do Direito em cada configuração social, ou melhor, das correlações
entre essas práticas.
A teoria tridimensional, por incluir a formação história-cultural e a experiência jurídica, admite a norma como a última etapa de um longo processo e por ser processo implica dinâmica, que tem seu ponto de partida no
fato acrescido dos valores que os mesmos podem incorporar.
Além dessas características, a teoria tridimensional permite qualificar as regras conforme sua natureza, pois elas não possuem idênticas naturezas. Umas direcionam a prescrição de comportamento ou de conduta; outras
se referem à distribuição de competência; e outras ainda têm como objetivo especificar, ou melhor, dirimir ou esclarecer as demais.
Dentro dessas esferas de diferentes naturezas não hápossibilidade de uma escala, de uma linha reta, mas quando muito uma certa relação ou, como o próprio Miguel Reale diz, correlação entre elas. A correlação daria
assim o caráter de unidade.
Oportuno, nesse instante de nossas reflexões, atermos ao princípio do ordenamento como expressão de uma experiência social, ou histórico-social. A história não é construção única, mas múltipla, vários são os
constituintes da história, múltiplos são os fatores, portanto, não se verifica uma história social com fatos que se apresentam de modo hierárquico ou de modo que podemos qualificar como relação de causa e efeito de
modo linear e único.
Consequentemente, a experiência jurídica como resultante dessa vivência social não irá, evidentemente, apresentar linearidade de exposição.
Enfim, qual a validade do ordenamento assim entendido? Qual o pressuposto que sustenta a validade de um determinado ordenamento jurídico? A concepção em estudo irá designar uma razão de ordem prática, em
outras palavras é a prática como resultado do Direito ser entendido como uma experiência com três dimensões: fato, valor e norma.
Aqui se verifica que outro pressuposto para a definição do Direito sustenta a compreensão de ordenamento jurídico. De imediato, a inclusão do social e do histórico, como fatores importantes e não excludentes do
ordenamento, implica em entender que o Direito é uma ciência social e como tal, apesar de ter seu objeto específico, esse objeto é formado ou tem outras determinações que não só a norma por ela mesma, nem o fato ou
o valor isoladamente:
"A integração de três elementos na experiência jurídica (o axiológico, o fático e o técnico formal) revela-nos a precariedade de qualquer compreensão do Direito isoladamente como fato, como valor ou como norma, e,
de maneira especial, o equívoco de uma compreensão do Direito como pura forma, suscetível de albergar, com total indiferença, as infinitas e conflitantes possibilidades dos interesses humanos." (REALE. 1996, p. 699)
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Assim, o fato social historicamente construído adquire significativa importância não só como sustentação do Direito, mas também releva a importância do Direito que incorpora marcas que escapam a interpretação
meramente lógico-formal:
"O certo é que, enquanto que para um adepto do formalismo jurídico a norma jurídica se reduz a uma 'proposição lógica', para nós, como para os que se alinham numa compreensão concreta do Direito, a norma jurídica,
não obstante a sua estrutura lógica, assinala o 'momento de integração de uma classe de fatos segundo uma ordem de valores', e não pode ser compreendida sem referência a esses dois fatores, que ela dialeticamente
integra em si e supera." (REALE. 1995, p. 104)
Percebe-se que ao associar o caráter social e/ou cultural ao ordenamento, a unidade não está só presente pela logicidade da disposição das normas, mas também pela correspondência ou adequação com as necessidades
apresentadas pela realidade social.
Referências bibliográficas
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução de Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. 10. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997. 
IAMUNDO, Eduardo. Sociologia e antropologia do direito. São Paulo: Saraiva, 2013.
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. Tradução de Luís Carlos Borges. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_____________.Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
REALE, M. Filosofia do Direito. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
____________.Lições preliminares de Direito. 22.ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

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