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TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO

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FACULDADE CARAJÁS
MIRIAN DOS SANTOS SILVA
RESUMO DO LIVRO TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
MARABÁ
2021
MIRIAN DOS SANTOS SILVA
RESUMO DO LIVRO TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
Trabalho de produção textual interdisciplinar individual apresentado à Faculdade Carajás como requisito parcial de média semestral na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito
Professor: Antônio Henrique
MARABÁ
2021
Sumário
I - DA NORMA JURÍDICA AO ORDAMENTO JURÍDICO	6
II - A UNIDADE DO ORDENAMENTO JURÍDICO	6
III - A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO	10
IV - A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO	13
V - AS RELAÇÕES ENTRE OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS	16
I - DA NORMA JURÍDICA AO ORDAMENTO JURÍDICO
O autor inicia se referindo ao fato de que as normas jurídicas não se dão isoladamente, considerando que para estas existirem tem de haver um contexto de normas que se relacionam particularmente, o que se pode resumir como “ordenamento”. O autor destaca a existência desde muito tempo dos estudos sobre as normas sempre de maneira muito individual e nunca como um todo, como citado no texto sobre forma de metáfora, considerava-se sempre o a arvore e não a floresta. 
O ponto de destaque desse primeiro capítulo é exatamente sobre não haver possibilidade de encontrar o DNA do direito em uma específica característica endógena da norma jurídica como exposto no livro anterior Teoria da Norma jurídica. Quanto à norma, o que se pode destacar é que a principal característica advém do plano da lógica e da linguística, quando da afirmação de sua estrutura básica ser de uma proposição prescritiva e conforme a necessidade. 
Voltando o estudo da norma jurídica para o âmbito do ordenamento, há que se falar em dois pontos, sendo o primeiro o surgimento de novos problemas e o segundo o surgimento de novas formas de olhar para um mesmo problema jurídico. Pode-se ter como exemplo:
[...] desse modo o problema deixa de ser aquele [...]: “Qual é o caráter distintivo de uma norma jurídica consuetudinária em relação a uma regra do costume?” e passa a ser outro: “Quais são os procedimentos por meio dos quais uma norma consuetudinária passa a integrar um ordenamento jurídico?” (BOBBIO, 2010, p. 195)
Outro exemplo deste segundo ponto seria se diante de um o problema, buscássemos encontrar a resposta na estrutura de uma específica norma jurídica e a partir do fracasso, houvesse a possibilidade de resolver determinado problema dentro de uma perspectiva sistêmica, ou seja, considerando o todo, o ordenamento jurídico
II - A UNIDADE DO ORDENAMENTO JURÍDICO 
O que se sabe é que um ordenamento jurídico é constituído por normas que possuem inúmeras fontes, de tal forma “a imagem de um ordenamento composto apenas de dois personagens, o legislador [...] e os súditos [...] é puramente didática” (p. 201).
A nível de exemplificação sobre a ótica familiar em metáfora, pode-se demonstrar o legislador como pai, que recebe as instruções de como fazer as regras de seu núcleo familiar como forma de experiencia, que por vezes delega à mulher e/ou ao primogênito o poder que possui. Esse exemplo é capaz de demonstrar que mesmo que num grupo pequeno e sem institucionalização como numa família, há uma pluralidade de fontes normativas. 
Quanto aos ordenamentos jurídicos, há dois tipos de fonte, as diretas e as indiretas. Quando às fontes indiretas, o legislador recorre a dois expedientes principais:
- Recepção de normas preexistentes ao ordenamento = a fonte dessas normas posteriormente recepcionadas é chamada de fonte reconhecida, já que a recepção nada mais é do que o reconhecimento do valor jurídico de determinada lei.
- Delegação do poder normativo = Exemplo: o poder normativo conferido aos poderes Executivo e Judiciário, através de regulamentos, decretos, portarias etc. São as fontes delegadas, que vão produzir normas após o legislador delegar essa tarefa.
Quanto aos tipos de fontes e formação histórica do ordenamento, é fato que a ideia de poder originário é uma construção teórica e que serve como forma de conferir unidade ao ordenamento jurídico, e não um poder cronologicamente ou historicamente originário. Sendo que o ordenamento se vale exatamente destes dois movimentos para que seu corpo normativo seja constituído. De forma que:
- Recepção: “[...] a sociedade civil em que se vai formando um ordenamento jurídico, como o do Estado, não é uma sociedade natural, [...] mas uma sociedade em que vigem normas de vários tipos, morais, sociais, religiosas, comportamentais, costumeiras, convencionais e assim por diante. O novo ordenamento que surge nunca elimina completamente [...] as (normas) que o precederam: parte daquelas regras passa a integrar, através de uma recepção expressa ou tácita, o novo ordenamento, que, desse modo, surge limitado pelos ordenamentos anteriores. (p. 205)
- Delegação: “O poder originário [...] cria [...] novas centrais de produção jurídica, atribuindo a órgãos executivos o poder de emanar normas integradoras subordinadas àquelas legislativas, [...] a cidadãos privados (dão) o poder de regular os próprios negócios através de negócios jurídicos [...]. Nesse caso, [...] autolimitação do poder soberano, que subtrai a si mesmo uma parte do poder normativo para atribuí-lo a outros órgãos ou organismos. = limite interno do poder normativo originário.
No livro é exposto que esses dois fenômenos têm certa implicação filosófica quanto a transformação da sociedade natural para a civil, considerando a modernidade e ao processo de formação dos Estados nacionais. De tal forma esse binômio se mostra destacado no interior da teoria contratualista. Para a corrente hobbesiana, o poder originário estatal não tem limites, é ele quem funda todo o ordenamento, ou seja, “o ordenamento positivo é concebido como se fizesse tábula rasa de todo direito preexistente”. Para a corrente lockiana, o poder originário estatal tem por objetivo garantir à sociedade o gozo dos direitos naturais (vida, propriedade, liberdade etc), de tal forma que ele já nasce limitado por esses predicados.
Segundo Bobbio, a própria ideia de contrato social é uma tentativa de fazer uma ligação entre o estado de natureza (no qual se encontram os direitos naturais já mencionados) e a civilização, considerando que o que faz é dizer que o homem abre mão desses direitos naturais com a instituição de um poder originário, que irá revogar tacitamente essas leis naturais para pôr as suas próprias leis (direito posto = direito positivo).
Assim Bobbio encerra a seção mencionando o poder negocial no âmbito deste dilema entre delegação e recepção: “Quanto ao poder negocial, ele pode ser explicado com ambas as hipóteses, ora como uma espécie de direito do estado de natureza (Kant), [...] ora como uma delegação do Estado aos cidadãos” (p. 207).
Em relação as fontes do direito, Bobbio assevera que:
O que nos interessa notar em uma teoria geral do ordenamento jurídico não é quantas e quais são as fontes do direito de um ordenamento jurídico moderno, mas o fato de que, no mesmo momento em que se reconhece a existência de atos ou fatos de que depende a produção de normas jurídicas, se reconhece também que o ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo como dever ser produzidas as regras. Costuma-se dizer que o ordenamento jurídico regula a própria produção normativa. [...] regulam o modo de regular [...]. (p. 208)
Nesse sentido, ao se chamar as normas que prescrevem determinada conduta de imperativos de primeira instancia, podemos chamar as normas que comandam outras normas de imperativos de segunda instancia. 
A classificação dos imperativos de segunda instância é um pouco maior e mais complexo que os de primeira. Enquanto os de primeira instância se dividem em 3 (permissivas, proibitivas e imperativas) – que para mim poderiam ser divididas em duas sem prejuízo-, os imperativos de segunda instância dividem-se em:
1.      Normas que comandam comandar;
2.      que proíbem comandar;
3.      que permitem comandar;4.      que comandam proibir;
5.      que proíbem proibir;
6.       que permitem proibir;
7.      que comandam permitir;
8.       que proíbem permitir;
9.      que permitem permitir;
Apesar de todo o exposto, embora o ordenamento surja a partir de múltiplas fontes, isso não significa que ele não possui uma unidade. A partir do que expõe Kelsen, existea hierarquia das normas jurídicas dentro deste ou daquele ordenamento, sendo que última instância, sabe-se que há uma norma que não se justifica com base em outra, sendo que todas as normas remetem a ela, direta ou indiretamente: trata-se da norma fundamental, ou Grundnorm.
Segundo Bobbio, “se observarmos melhor a estrutura hierárquica do ordenamento, perceberemos que os termos execução e produção são relativos” (p.213). Isto é, toda norma ao mesmo tempo produz (normas inferiores) e executa normas hierarquicamente superiores.
 Nas palavras do autor:  
Em uma estrutura hierárquica, [...] os termos “execução” e “produção” são relativos, pois a mesma norma pode ser considerada, ao mesmo tempo, executiva e produtiva: Executiva em relação à norma superior; produtiva em relação à norma inferior. As leis ordinárias executam a Constituição e produzem os regulamentos. Os regulamentos executam as leis ordinárias e produzem os comportamentos conformes a elas. (BOBBIO, 2010, p. 213).
  Por fim:
Esse duplo processo ascendente e descendente (produção e exeução) pode ser esclarecido também com duas outras noções características da linguagem jurídica: poder e dever. Enquanto a produção jurídica é a expressão de um poder (originário ou derivado), a execução revela o cumprimento de um dever. [...] Chama-se poder, numa das suas mais importantes acepções, a capacidade que o ordenamento jurídico atribui a esta ou àquela pessoa de gerar obrigações em relação a outras pessoas; chama-se obrigação o comportamento que deve ter aquele que está sujeito ao poder. Não existe obrigação em um sujeito sem que exista um poder em outro sujeito. (p. 214)
A primeira coisa a se falar da norma fundamental, ou Grundnorm, é que ela não é expressa: é sempre uma norma tácita. Embora nunca seja expressa, a grundnorm é “a norma jurídica que produz o Poder Constituinte” (p. 221).
            Em outras palavras, a norma fundamental é uma construção teórica que inaugura e fundamenta o Poder Constituinte, que é o poder que irá estabelecer uma Constituição (e, consequentemente, dará início a todo ordenamento jurídico). a origem da grundnorm pode ser investigada em outros campos do saber que não o da dogmática jurídica, como, por exemplo, um marxista poderia associar a grundnorm à vontade/arbítrio da classe detentora dos meios de produção, de maneira a relacionar a grundnorm à institucionalização das relações sociais e econômicas da burguesia. Ou seja, este marxista fictício estaria buscando explicar a grundnorm dentro do esquema de estrutura/superestrutura próprio do materialismo histórico que, embora plausível, em nada se confunde com o estudo da dogmática jurídica (são campos com objetos e implicações totalmente distintas).
Por fim, Bobbio elenca 3 explicações exógenas sobre o fundamento da grundnorm: 1) Teológica = omnis potestas nisi a Deo (todo poder vem de Deus);         2) Jusnaturalista = aqui, o dever de obedecer o poder constituído vem de uma lei natural predecessora, lei esta que é descoberta pela razão humana, e não colocada à força por este ou aquele indivíduo; 3) Contratualista = o dever de obedecer ao poder constituído deriva de uma convenção originária, a partir da qual o poder constituinte se legitima e se justifica.
III - A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
“Quando nos perguntamos se um ordenamento jurídico constitui um sistema, perguntamo-nos se as normas que o compõem estão em relação de compatibilidade entre si e em que condições é possível essa relação” (p. 231).
A classificação que é primeiramente apresentada neste capítulo é a de Kelsen, que divide da seguinte forma: 
- Estáticos: São aqueles sistemas erigidos em torno de um conteúdo material. Exemplo disso seria um sistema moral, que se justifica com base em valores (conteúdo material).
- Dinâmicos: São aqueles sistemas justificados por expedientes formais. Segundo Kelsen, os ordenamentos jurídicos são deste tipo, já que suas normas remetem sempre a uma autoridade superior (até chegar ao poder soberano com sua norma fundamental). Nas palavras do autor, “o ordenamento jurídico é um ordenamento em que a pertinência das normas é julgada com base num critério meramente formal, ou seja, independentemente do conteúdo” (p. 233). Um ordenamento de inspiração teocrática também seria dinâmico, na medida em que remeteria a essa autoridade superior chamada Deus.
Para explicar em nível de exemplo, Bobbio se vale do seguinte exemplo:
Por exemplo, um pai ordena ao filho que faça a lição, e o filho pergunta por quê. Se o pai responde: “porque você deve aprender”, a justificação tende à construção de um sistema estático; se responde: “Porque você deve obedecer ao seu pai”, a justificação tende à construção de um sistema dinâmico. Suponhamos que o filho, não satisfeito, peça uma ulterior justificação. No primeiro caso perguntará: “Por que devo aprender?”. A construção do sistema estático levará a uma resposta desse tipo: “Porque você precisa passar de ano”. No segundo caso perguntará: “Por que devo obedecer a meu pai?”. A construção do sistema dinâmico levará a uma resposta desse tipo: “Porque seu pai foi autorizado a comandar pela lei do Estado”. (BOBBIO, 2010, p. 233)
O sistema pode ser significado de 3 formas, de modo que O 1º significado de sistema consiste na ideia de um sistema dedutivo. Isto é, o ordenamento jurídico seria um sistema, na medida em que ele decorre/deriva de alguns princípios gerais. Num sistema dedutivo, uma contradição é capaz de fazer desmoronar todo aquele conjunto. Inclusive, “uma das mais constantes pretensões dos jusnaturalistas modernos, pertencentes à escola racionalista, foi a de construir o direito natural como um sistema dedutivo” (p. 236),
O 2º significado de sistema remonta a Savigny, e consiste num movimento diametralmente oposto àquele primeiro significado empregado por Leibniz e pelos demais jusnaturalistas. Aqui a ideia de sistema ganha uma conotação empírica, indutiva, e não dedutiva. Além disso, neste caso o sistema parte do particular para se chegar ao geral, tal qual a classificação sistemática da zoologia (na qual os biólogos criam as classificações dos seres vivos a partir da experiência empírica de descoberta e catalogação de espécimes individuais, para só então ensaiarem alguma forma de classificação geral).
Já o 3º significado de sistema traz uma definição negativa, a de sistema como uma ordem que exclui a incompatibilidade de suas normas consideradas individualmente. Diz-se “individualmente” porque a incompatibilidade se dá aqui entre 2 normas. Essa incompatibilidade não é capaz de pôr em xeque o ordenamento, mas apenas aquela norma considerada extravagante ou, no máximo, as duas normas em conflito. esta 3ª definição de sistema, entende-se que compatibilidade ≠ coerência (como demonstrado no exemplo), bastando que as normas não se contradigam uma à outra, ainda que versem sobre conteúdos totalmente distintos.
No que tange as antinomias podem elas ser definidas como a incompatibilidade de duas normas entre si, que ocorrem especificamente no plano formal, ou seja no âmbito da estrutura lógica de cada norma.
Partindo da tábua de oposições oriunda da Lógica aristotélica, observamos 6 relações distintas entre as proposições prescritivas, quais sejam:
a.     O - O não = relação entre Obrigatório e Proibido (CONTRÁRIOS)
b.     O - Não O = Obrigatório x Permissão negativa (CONTRADITÓRIOS)
c.     O não - não O não = Proibição x permissão positiva (CONTRADITÓRIOS);
d.     O - Não O não = Obrigatório x permissão positiva (SUBALTERNOS);
e.       O não - não O = Proibição x Permissão negativa (SUBALTERNOS);
f.     não O não - não O = Permissão positiva x Permissão negativa (SUBCONTRÁRIOS).
Pode-se verificarque só há incompatibilidade nos 3 primeiros casos, ou seja, só são incompatíveis entre si as proposições contrárias ou contraditórias. As proposições subalternas e subcontrárias podem ser compatíveis.
Voltando para as proposições incompatíveis, temos 3 casos:
1)     Uma norma O (obrigação) em conflito com uma norma O não (proibição) = contrariedade.
2)  Uma norma O (obrigação) e uma não O (permissão negativa) = contraditoriedade;
3)      Uma norma O não (proibição) e uma não O (permissão negativa) = contraditoriedade.
O autor fornece três exemplos para ilustrar essas três relações de incompatibilidade entre normas jurídicas:
Primeiro caso: o art. 27 da Constituição italiana, no qual se lê: “a responsabilidade penal é pessoal”, está em contraste com o art. 57, alínea 2, do Código Penal italiano, que atribui ao diretor do jornal uma responsabilidade pelos crimes cometidos por meio da imprensa por seus colaboradores. [...] Trata-se de dois artigos destinados aos órgãos judiciários, sendo que o primeiro pode ser formulado do seguinte modo: “Os juízes devem não condenar quem não seja pessoalmente responsável”; o segundo de modo oposto: “Os juízes devem condenar qualquer pessoa (no caso específico, o diretor do jornal), ainda que não seja pessoalmente responsável”. Tendo em vista que uma norma obriga e a outra proíbe o mesmo comportamento, trata-se de duas normas incompatíveis por contrariedade.
Segundo caso: o art. 18 [...] das Leis sobre a Segurança Pública, diz: “Aqueles que promoverem uma reunião em local público ou aberto ao público devem comunicar a respeito, com no mínimo três dias de antecedência, ao comandante da polícia”; o art. 17, alínea 2, da Constituição, diz: “Para as reuniões, mesmo que em lugar aberto ao público, não se requer aviso antecipado”. Nesse caso, o contraste é claro: o art. 18 [...] obriga a fazer o que o art. 17 da Constituição permite não fazer (permissão negativa). Trata-se de duas normas incompatíveis, pois são contraditórias.
Terceiro caso: o art. 502 do Código Penal italiano considera a greve um crime; o art. 40 da Constituição diz que: “O direito de greve é exercido no âmbito das leis que o regulam”. O que a primeira norma proíbe, a segunda norma considera lícito, ou seja, permite fazer (embora dentro de certos limites). Essas duas normas também são incompatíveis por contrariedade. (BOBBIO, 2010, p. 244 – 245)
Exposto o conceito de antinomia, passamos à questão: como resolver uma antinomia? Quais são os critérios para a solução desse conflito entre normas jurídicas?
As regras fundamentais para a solução das antinomias são 3:
1)     Critério cronológico = lex posterior derogat priori; (obs: este é o + fraco dos três critérios, vide a seção “conflitos dos critérios”, p. 262 e ss.)
2)      Critério hierárquico = lex superior derogat inferiori;
3)     Critério da especialidade = lex specialis derogat generali.
Embora a justificativa para as duas primeiras seja mais simples, é necessário fazer uma breve consideração sobre a justificativa para o critério da lex specialis: Observe-se que a ideia de tornar a lei mais minuciosa obedece a um princípio do direito romano, o suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu), já que uma lei mais geral é menos sensível à complexidade das relações sociais concretas, problema este que se procura resolver tornando a lei cada vez mais específica.
Há casos em que se verifica antinomia entre 2 normas que são, ao mesmo tempo, 1) contemporâneas, 2) do mesmo nível hierárquico e 3) ambas gerais.
Em termos de jurisprudência, diante da insuficiência dos três principais critérios de resolução de antinomias, o método mais utilizado é:
 
4)     Critério da Lex Favorabilis = a partir deste preceito, “se de duas normas incompatíveis uma é IMPERATIVA ou PROIBITIVA e a outra é PERMISSIVA, PREVALECE A PERMISSIVA” (p. 255).
4.1.) O problema da Lex Favorabilis: A diferença entre a l. favorabilis e a l. odiosa pode ser meramente um problema de perspectiva subjetiva, senão vejamos: “é claro que se interpreto uma norma da maneira mais favorável ao devedor, [...] essa minha interpretação é odiosa em relação ao credor” (p. 256).
No caso de conflito entre duas normas, para o qual não é possível aplicar nenhum desses 4 critérios, o intérprete, seja ele um magistrado ou um jurista, tem diante de si três caminhos para seguir:
a.     Eliminar uma das normas;
b.      Eliminar ambas as normas;
c.     Conservar ambas as normas;
            Segundo Bobbio, o caminho ao qual o jurista e o magistrado mais recorrem, por ser uma solução menos drástica para o conflito, é o de conservar ambas as normas. “O jurista e o juiz tendem, o máximo possível, à conservação das normas dadas. É sem dúvida uma regra tradicional da interpretação jurídica que o sistema deve ser mantido com a mínima perturbação” (p. 261).
IV - A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO
A ideia de que o ordenamento jurídico é completo surgiu num momento histórico muito específico, que foi aquele no qual os jovens Estados modernos buscavam legitimar seu monopólio da produção jurídica, o que já fora mencionado no Teoria da Norma Jurídica (BOBBIO, 2010, p. 23).
Admitir que o ordenamento jurídico estatal não era completo significava introduzir um direito concorrente, romper com o monopólio da produção jurídica estatal. E é por isso que a afirmação do dogma da completude caminha pari passu com a monopolização do direito por parte do Estado. Para manter o próprio monopólio, o Estado deve servir a todos os usos. (p. 276)
Em relação a completude a uma crítica e que em direção oposta à da Escola da Exegese, o jurista alemão Eugen Erlich vai criticar o monopólio estatista da produção jurídica e essa falsa crença da completude dos ordenamentos, o que é eventualmente é chamado pejorativamente de fetichismo legislativo. A corrente de Erlich e correlatos é chamada de escola do direito livre.
Com a reação da escola do direito livre a esse juspositivismo hermético “o dogma da completude caía, como inútil e perigosa resistência à adequação do direito às exigências sociais” (p. 282). Assim, “passou a ocupar o seu lugar a convicção de que o direito legislativo era lacunoso, e que as lacunas podiam ser preenchidas não mediante o próprio direito estabelecido” (p. 282).
Após isso é importante frisar o conceito de espaços jurídicos vazios, que foi uma espécie de “contrarreforma” do positivismo jurídico após o “golpe” que sofreu o dogma da completude do sistema, o qual, como visto acima, foi abalado irreversivelmente pelas críticas da escola do direito livre.
O primeiro esforço nesse sentido se deu com o jurista alemão Karl Bergbohn em 1892. Nos termos propostos por Bobbio, resumidamente, o que Bergbohm afirma é o seguinte:
Um caso ou é regulado pelo direito, e então é um caso jurídico ou juridicamente relevante, ou não é regulado pelo direito, e então pertence àquela esfera de livre manifestação da atividade humana, que é a esfera do juridicamente irrelevante. Não existe espaço para as lacunas do direito. [...] Um espaço intermediário entre aquele juridicamente cheio e aquele juridicamente vazio [...] não existe. Ou existe o ordenamento jurídico, e então não se pode falar de lacuna; ou existe a chamada lacuna, e então não existe mais o ordenamento jurídico, e a lacuna deixa de ser lacuna, pois não representa uma deficiência do ordenamento, mas seu limite natural. (p. 284)
Em observação: 
a.      Espaço jurídico cheio = é, para Bergbohm, o âmbito da atividade humana que é regulado por normas jurídicas (também chamada de esfera do juridicamente relevante).
b.     Espaço jurídico vazio = a parte da vida humana não regulada pelo direito, sendo indiferente a ele e, portanto, *PERMITIDA. Ou seja, é a esfera do que é juridicamente irrelevante.
Assim, conforme o que se pode verificar sobre a completude do ordenamento se sabe também sobre as lacunas ideológicas.  Esta teoria foi proposta por Brunetti. Segundo este jurista, existem algumas situações em que se discute sobre a completude:
1)    Considerando o ordenamento em si mesmo, sem compará-loa nada: neste caso a pergunta sobre completude não faz sentido. Perguntar se um ordenamento jurídico é ontologicamente completo tem a mesma estrutura lógica de perguntar se o céu é completo, se o ouro é completo, se o azul é completo.
2)    Considerando o ordenamento a) em relação a um tipo ideal de ordenamento ou b) em relação ao conteúdo que ele pretende representar (p. ex. a vontade do Estado ou do povo): Aí temos como falar em completude ou incompletude. Note-se, portanto, que, para Brunetti, as lacunas só podem ser ideológicas, ou seja, só podem referir-se a um certo ideal ainda não alcançado, e não a uma completude ontológica que não tem sentido lógico algum, como demonstrado no “1”.
De tal forma, assim como existem lacunas, existem as formas de solução destas: 
HETEROINTEGRAÇÃO = método de solução de lacunas que consiste basicamente em a) recorrer a outros ordenamentos ou b) recorrer a fontes de direito diferentes da fonte dominante, que em um sistema legal é a lei.
Assim, a heterointegração nos oferece 3 métodos distintos:
à Recorrer a um OUTRO ORDENAMENTO POSITIVO, como p. ex. recorrer à lei italiana para resolver uma lacuna no direito brasileiro.
à Recorrer ao DIREITO NATURAL, entendido aqui como um ordenamento não positivo.
à Recorrer à fonte COSTUME;
à Recorrer à fonte EQUIDADE, que consiste no poder criativo do juiz, eventualmente chamado de DIREITO JUDICIÁRIO. +++
à Recorrer à fonte DOUTRINA, a qual Savigny tomava por DIREITO CIENTÍFICO.
AUTOINTEGRAÇÃO = solução de lacunas buscada no interior daquele mesmo ordenamento lacunoso, mediante a) ANALOGIA ou b) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.
à ANALOGIA:
Conceito: Procedimento pelo qual se atribui a um caso não regulado por lei a mesma disciplina de um caso regulado de maneira semelhante.
A partir daí, é necessário entender a sua estrutura lógica e como se dá o problema da semelhança.
O raciocínio por analogia remonta a Aristóteles, sob o nome de paradigma. A fórmula do raciocínio por analogia pode ser expressa esquematicamente.
Esquema:
 
S         é          P
Z         é          semelhante a S
Z         é          P
Exemplos:
1)
Os homens são mortais;
Os cavalos são semelhantes aos homens;
Os cavalos são mortais;
Sendo assim, o que se pode perceber é o conjunto das normas e todo a sistematização desse ordenamento, de forma que tudo está intimamente ligado.
V - AS RELAÇÕES ENTRE OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS
Aceita a teoria pluralista institucional, segundo a qual existem não apenas inúmeros ordenamentos estatais, mas também ordenamentos não estatais – posto que onde há instituição humana, i. e. onde há um grupo social organizado, há direito-, podemos tratar de algumas classificações pertinentes e também de alguns problemas relativos à dinâmica entre esses ordenamentos.
          1ª classificação:
Relações de subordinação x relações de coordenação (entre ordenamentos). Como os termos sugerem, esta classificação tem uma dimensão hierárquica, e pressupõe um ordenamento superior (como uma CF) em relação a ordenamentos parciais (associações, partidos etc, que possuem estatuto próprio, mas cuja validade deriva do Estado).
            2ª classificação:
a.      Relações de exclusão total;
b.     Relações de inclusão total;
c.      Exclusão/inclusão parcial;
            3ª classificação:
a.       Indiferença: (ex: o estado não obriga a pagar dívidas de jogo)
b.     Recusa: Aqui o estado não apenas é indiferente a outro ordenamento, como se porta de maneira diametralmente contrária. Assim, o que o ordenamento ‘a’ proíbe, o ord. ‘b’ obriga.
c.      Absorção:
c.1. Recepção: um ordenamento (geralmente o estatal) absorve normas de outro ordenamento (geralmente o costume), transformando-o em direito positivo (exemplo: os códigos comerciais surgiram do costume dos comerciantes e navegadores, conforme Bobbio explica na p. 322);
c.2. Reenvio: um ordenamento (estatal) concede validade a outro ordenamento (costume) naquele âmbito particular dele, isto é, o estado renuncia a regular uma dada matéria e acolhe, naquele âmbito, a regulamentação estabelecida por outro ordenamento (ex: o estado brasileiro reconhecer o costume de alguns povos indígenas no âmbito próprio deles)
Ainda podemos classificas as relações entre os ordenamentos sob três ângulos distintos e complementares entre si:
1.      Temporal – p. 325. Ex: A CF/88, a CF/67 e a CF/69 se deram no mesmo âmbito espacial e material, mas em tempos distintos.
2.      Espacial = territorial (p. 329). Ex: O ordenamento brasileiro fica circunscrito no território brasileiro, embora coincida temporalmente e materialmente com outras constituições vigentes.
3.      Material: (p. ex o ordenamento estatal é materialmente distinto do ordenamento da Igreja Católica, embora ambos possam existir num mesmo tempo histórico e num mesmo território).
            Essa última classificação pode ser combinada com as anteriores no afã de se compreender a relação entre os ordenamentos. Por exemplo, sabendo que o ordenamento estatal e o religioso podem se sobrepor num mesmo território e no mesmo tempo histórico, é possível imaginarmos que entre eles deve haver alguma forma de subordinação/coordenação entre eles (ou então de indiferença/recusa/absorção etc).
Com tudo isso Bobbio expõe que o Direito regula geralmente relações intersubjetivas referentes as coisas, bens e serviços atinentes a determinado território. Apesar de existir as hipóteses de estarem os dois lados no mesmo Estado, existem as hipóteses contrárias, onde haverá a situação em que um espaço terá que buscar juntamente com o outro buscar a ideal solução do conflito.
De tal forma é fundamental observar toda a situação envolta a aplicação de normas, considerando que estas servem para garantir o direito do cidadão independente de onde este pertencer.

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