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MODELO ARTIGO 2021

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28
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Direito
A ATIVIDADE DO DELEGADO DE POLÍCIA COMO VETOR DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
HELLENY DHAIANE DE SOUSA
Natal/RN
2021.2
HELLENY DHAIANE DE SOUSA
A ATIVIDADE DO DELEGADO DE POLÍCIA COMO VETOR DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. 
Orientador(a): Prof. Ulisses Pessoa dos Santos
Natal/RN
2021.2
RESUMO
O trabalho tem o objetivo de demonstrar a possibilidade e vantajosidade da aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia durante a persecução penal, antes mesmo de instaurada a ação penal, homenageando também os princípios da economia e da celeridade processual, evitando-se, assim, o abarrotamento de processos judiciais e, comumente, o encarceramento em massa, especificamente no que tange às diversas espécies de prisões provisórias. No intuito de atingir esse objetivo, será demonstrado o histórico legislativo da atividade de delegado de polícia, desde os tempos de colônia de Portugal até a contemporaneidade. Serão abordados, ainda, os princípios mais relevantes da persecução penal. 
Palavras-chave: Delegado de Polícia. Princípio da Insignificância. Princípio da Economia Processual. Princípio da Celeridade Processual. Resolução de Conflitos.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO. 2 DESENVOLVIMENTO: 2.1 OPERADORES DO DIREITO: DELEGADO DE POLÍCIA; 2.2 PRINCÍPIOS RELATIVOS À PERSECUÇÃO PENAL; 2.2.1 Princípio da isonomia; 2.2.2 Princípio da dignidade da pessoa humana; 2.2.3 Princípio da economia processual; Princípio da celeridade processual; Princípio da insignificância; 2.3 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE POLÍCIA: OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO. 3 CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.
1 INTRODUÇÃO
A persecução penal é termo jurídico que envolve um caminho extenso dentro da seara penal, que surge desde a fase administrativa, com o inquérito policial dirigido pelo delegado de polícia, passando pela análise de um promotor de justiça para avaliar se é o caso de proposição da denúncia, até chegar ao juiz criminal que eventualmente conduzirá a ação penal.
A despeito de parecer fácil, a persecução está longe de ser elementar, pois envolve bem mais pessoas do que citado anteriormente, e em cada fase, sob a ingerência de cada operador do direito, ela cuida de uma engrenagem complexa que muitas vezes resulta na deficiência de atuação do Estado pelo excesso de burocracia. 
A partir desse panorama, construiu-se a seguinte problematização a ser enfrentada: Como a aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia durante a persecução penal poderá contribuir para a otimização da resolução dos conflitos que motivam a persecução penal, reduzindo-se a demanda do judiciário e o inadmissível encarceramento em massa, muitas vezes provocado por desnecessárias prisões provisórias? 
A justificativa do tema abordado se fundamenta, então, no fato de o delegado de polícia ser o primeiro a participar da persecução penal, de modo que sua função pode ir muito além do que a mera investigação criminal, sem, contudo, fugir às suas atribuições legais, notadamente pela possibilidade de aplicar o princípio da insignificância em casos incontroversos, os quais expressem a junção de requisitos atualmente sedimentados jurisprudencialmente no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.
Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo geral demonstrar como a aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia é capaz de reduzir a demanda do judiciário e o encarceramento em massa, em casos que reúnam de forma incontroversa os requisitos assentados jurisprudencialmente, culminando no reconhecimento da atipicidade da conduta do agente antes mesmo da instauração do inquérito policial, sujeitando-se a recurso administrativo perante o Chefe de Polícia do Estado, como medida segurança jurídica, sem olvidar da possibilidade de instar o Ministério Público e/ou recorrer diretamente ao Poder judiciário.
Para isso é preciso dirigir o estudo discorrendo sobre objetivos específicos, quais sejam: expor breve histórico acerca da gênese da função de delegado de polícia; discorrer sobre princípios que possuem relação direta com a persecução penal e a atividade policial, enfatizando-se os princípios da insignificância, economia processual e celeridade processual; e, em arremate, discorrer acerca do inegável benefício que a aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia poderia gerar para a eficiência da prestação jurisdicional e a redução do encarceramento em massa provocado por prisões provisórias.
O método de abordagem norteador do trabalho é o dedutivo, partindo de premissas lançadas pelo direito positivo e pelas construções cientificas já concebidas. Proceder-se-á na pesquisa a partir do método dissertativo e exploratório, tendo como base a análise bibliográfica e a análise sistemática dos dispositivos legais, além dos julgados que refletem a jurisprudência assente sobre o tema abordado.
2 DESENVOLVIMENTO 
2.1 OPERADORES DO DIREITO: DELEGADO DE POLÍCIA
O ordenamento jurídico brasileiro possui uma série de normas materiais que regulam a vida dos indivíduos – em seu sentido literal – e também da coletividade, mas esse arcabouço normativo por vezes é concretizado a partir de um procedimento, de uma lei processual que envolve uma série de operadores do direito, como é o caso do Código de Processo Penal, sem o qual o direito penal seria inócuo.
Dentre as figuras que compõem a persecução penal está a do delegado de polícia, cuja função atualmente é regulada pela lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013, mas cuja atividade em si, guardada a devida proporção, existe há séculos nas sociedades ocidentais. No Brasil, há notícia de função parecida desde as Ordenações Manuelinas, depois nas Ordenações Filipinas, enverando pelo período imperial, e posteriormente na transmutação em República, até a atual Constituição de 1988.
Nas Ordenações Manuelinas é destacável a figura do Corregedor da Corte de Feitos Crimes, a cuja função pertencia o conhecimento de todos os malefícios cometidos em terras portuguesas, e ainda abrangendo o raio de cinco léguas, contra outro cortesão ou morador do lugar onde a Corte estivesse[footnoteRef:1]. A mesma função é mantida no texto das Ordenações Filipinas, inclusive sem alteração de forma e critérios de atuação[footnoteRef:2]. [1: BRASIL. Câmara dos Deputados. Ordenações Manuelinas. 1512, p. 64. Disponível em: https:/ /bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/17841. Acesso em: 06 set. 2020.] [2: BRASIL. Senado Federal. Ordenações Filipinas. 1603, p. 26. Disponível em: https://www2. senado.leg.br/bdsf/handle/id/242733?show=full. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Perazzoni[footnoteRef:3] dá relevante destaque à evolução das polícias no Brasil: [3: PERAZZONI, Franco. Comentários ao art. 3º da Lei 12.830/13. In: Investigação Criminal Conduzida por Delegado de Polícia – Comentários à Lei 12.830/2013. Curitiba: Juruá, 2013, p. 220.] 
Por longo tempo as atividades jurídico-policiais, a par daquelas de índole político-administrativas, incumbiram às Câmaras Municipais, cabendo aos capitães-mores, aos alcaides, aos quadrilheiros e aos almotacés auxiliar os Juízes Ordinários e de Fora, além dos Corregedores e Ouvidores, na faina criminal.
Apenas posteriormente, em 1808, com a chegada da Corte portuguesa no Brasil, foi criada a Intendência Geral de Polícia, cuja chefia era desempenhada por um desembargador, nomeado Intendente Geral de Polícia, com status de ministro de Estado.
Dadas às peculiaridades e extensão do território nacional, o intendente podia autorizar outra pessoa a representá-lo nas províncias, surgindo desta atribuição o uso do termo “delegado” no Brasil.
Este “delegado” exercia, contemporaneamente,funções típicas de autoridade policial (tanto administrativa como investigativa) e judiciais.
Foram as Ordenações Filipinas que mais tempo vigoraram na colônia do Brasil, sendo substituídas pela Constituição do Império de 1824, a qual passou a tratar a autoridade policial de modo mais consentâneo com o formato existente atualmente, notadamente no art. 89 daquele texto constitucional[footnoteRef:4]. Este artigo plantou as bases para organização das polícias administrativa e judiciária, criando os cargos de Chefe de Polícia e Delegado de Polícia, os quais se mantiveram até o vigente Código de Processo Penal, além do Subdelegado de Polícia, cargo suprimido do ordenamento jurídico brasileiro. [4: BRASIL. Secretaria de Estado dos Negocios do Imperio do Brazil. Constituição (1824). Constituição Politica do Império do Brazil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constituicao24.htm. Acesso em: 06 set. 2020.] 
A reforma do Código de Processo Criminal Imperial concede diversas competências ao Chefe de Polícia, ao Delegado de Polícia e ao Subdelegado de Polícia na persecução penal, consoante se observa nos artigos 4º e 5º da Lei nº 261/1841[footnoteRef:5]. [5: BRASIL. Secretaria de Estado dos Negocios do Imperio do Brazil. Lei nº 261, de 3 de dezembro de 1841. Reforma do Código de Processo Criminal Imperial. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/lim/LIM261.htm. Acesso em: 06 set. 2020.] 
No entanto, a primeira normativa propriamente organizativa da polícia ocorre com a edição do Regulamento nº 120, de 31 de janeiro de 1842, no qual se discorre acerca dos expedientes específicos das funções de Chefe de Polícia, Delegado de Polícia e os Subdelegados, consoante artigos dispostos no Capítulo II daquele regulamento[footnoteRef:6]. [6: BRASIL. Secretaria de Estado dos Negocios do Imperio do Brazil. Regulamento nº 120, de 31 de janeiro de 1842. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Regulamentos/R120.htm. Acesso em: 06 set. 2020.] 
O modo como regulada ainda em tempos de Império do Brasil deu o contorno inicial da função de delegado de polícia, cujas atribuições legais e forma de organização perduram, em essência, até os dias de hoje. É claro que atualmente a função tem sido mais valorizada, inclusive com a exigência de determinados requisitos para o ingresso na carreira, como a formação em direito e, em alguns casos, experiência pretérita na atividade jurídica, assim como ocorre nas carreiras de magistratura e promotores de justiça. 
À época das ordenações, inexistia pouca ou nenhuma sistemática organizativa da função de polícia, tampouco as técnicas atuais, consoante afirma Santana[footnoteRef:7]: [7: SANTANA, Adalberto Santos. Pode-se admitir a ampla defesa e o contraditório no inquérito policial? 2013. Conteudo Juridico: Brasilia-DF. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/ consulta/Artigos/36709/pode-se-admitir-a-ampla-defesa-e-o-contraditorio-no-inquerito-policial. Acesso em: 06 set. 2020.] 
No entanto não havia disciplina para o inquérito policial. Ao chefe de polícia e ao delegado cabiam, inclusive, atribuições próprias de juiz, como expedir mandados de busca, conceder fianças, julgar crimes comuns e, ainda, proceder à formação de culpa. Desde essa época a instrução criminal passou a ser matéria de polícia. Já o inquérito policial, só foi criado em 1871, pela lei n. 2.033, regulamentada pelo decreto n. 4.824, de 22 de novembro do mesmo ano, que separou justiça e polícia de uma mesma organização. Somente com a promulgação do Código de Processo Penal de 1941, onde o inquérito policial é previsto e disciplinado, é que o mesmo fica, de fato, consolidado.
A especialização da carreira tornou a função cada vez mais competente e imprescindível no ordenamento jurídico brasileiro, não sendo à toa que, via de regra, é o primeiro operador do direito a atuar na persecução penal. E tão relevante quanto era nos tempos de colônia portuguesa, passando pelo período imperial, ainda é hoje nos tempos de república, merecendo lugar especial na legislação ordinária e mais ainda na Constituição Federal, especificamente no art. 144, § 4º, cujo capítulo é especialmente destinado à Segurança Pública.
Acaso se fossem esmiuçar as legislações antigas que tratam da polícia, seria possível observar seu caráter eminentemente político. A despeito de a função ser imprescindível à harmonia social e garantia da lei e da ordem, percebe-se que a forma de ingresso no cargo ocorria de forma pouco isonômica, prestigiando-se muito mais a continuidade do poderio político de determinado grupo do que propriamente a meritocracia e imparcialidade da função.
Neste sentido é a afirmação de Carvalho[footnoteRef:8]: [8: CARVALHO, José Murilo de. O Brasil da independência a meados do século XIX. In: BETHELL, Leslie (org). História da América Latina: Da independência a 1870, volume III. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.] 
Todos os juízes, de desembargador e juiz de direito a juiz municipal, deviam ser nomeados pelo ministro da Justiça. Sobretudo os juízes de direito tiveram seus poderes reforçados. Somente os juízes de paz locais continuaram independentes do poder central. Mas cuidou-se disso também: a nova lei criou chefes de polícia em todas as capitais das províncias – nomeados pelo ministro da Justiça. No município e na freguesia, os chefes de polícia eram representados por delegados e subdelegados, civis nomeados pelos presidentes de província por recomendação dos próprios chefes de polícia. A maioria das atribuições de justiça e de polícia, até então exclusivas dos juízes de paz, foram transferidas para os delegados e subdelegados, reduzindo à impotência os juízes eleitos, que perderam também para esses delegados a tarefa de organizar a lista de jurados e de nomear inspetores de quarteirão.
É perceptível a intervenção política na atividade policial, algo que perdura até hoje, embora de forma mais mitigada, até mesmo em observância do princípio da impessoalidade administrativa. Todavia, ainda há centelhas de interferências de pequenos grupos pouco republicanos que não se pode ignorar. De toda sorte, foi logo na instauração do Império que o país começou a vislumbrar certos avanços na atividade policial, começando com a destinação de legislações específicas para regular a atividade policial.
Segundo Soares[footnoteRef:9]: [9: SOARES, Joice de Souza. Polícia e política no Rio de Janeiro do século XIX: um estudo sobre a Secretaria de Polícia da Corte e a construção da ordem na capital imperial (1833-1850). Rio de Janeiro: UNIRIO. 2014, p. 56.] 
A novidade trazida pela lei de 1841 é esta: a imposição do governo central sobre a organização da instituição policial. Se, em 1832, os juízes de paz – que eram eleitos localmente – desempenhavam as principais atividades policiais; agora, com a nova lei, a atividade policial seria desempenhada por indivíduos escolhidos a dedo pelo imperador, na Corte, ou pelo presidente, nas províncias.
De lá para cá, por outros tantos altos e baixos passou a atividade policial no Brasil. Hoje, as condições de ingresso na carreira de delegado, e nos cargos públicos em geral, obedecem ao mínimo de impessoalidade possível, partindo-se da premissa de que para adentrar na carreira é preciso ser aprovado em concurso público de provas e títulos. Isso dá ao delegado de polícia o mínimo conhecimento técnico que exige a função, notadamente porque para se chegar ao cargo é preciso estar entre os melhores no certame.
Com efeito, a mesma formação acadêmica que se exige atualmente de um delegado de polícia é exigida de um candidato a juiz, promotor de justiça, defensor público, procurador de ente federativo etc., demonstrando-se a equivalência de conhecimento na área, ao menos no que tange às disciplinas a que se submetem durante a prova. 
Obviamente não se pretende comparar a intelectualidade das funções, mesmo que se pudesse. No entanto, é preciso destacar que as exigências programáticas de uma prova para qualquer dos cargos mencionadospossuem certa equivalência, até mesmo porque, embora o delegado atue exclusivamente no âmbito criminal, é preciso domínio mais do que razoável nos diversos ramos do direito, face às condutas criminosas descritas na gama de legislações penais extravagantes do ordenamento jurídico pátrio.
Eugênio Pacelli[footnoteRef:10], por exemplo, já deixou bem assentada a relevância funcional do delegado de polícia com os seguintes dizeres: [10: OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 18. Atualizações sobre a Lei 12.850/2013. Disponível em: https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/ ANEXOS/INF_264_Organizacoes_criminosas_pacelli.pdf. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Nada temos e nada poderíamos ter (quem sabe apenas em um passado longínquo e sombrio…) contra a autoridade e contra a importância do Delegado de Polícia na estrutura da investigação. Ainda que se modifique o quadro nacional, com a instituição, por exemplo, de Juizados de Instrução, sob a presidência de um juiz nas investigações, a corporação policial deverá seguir se guiando por uma hierarquia administrativa, no comando de suas funções.
Neste jaez, seria obtuso pensar que o delegado de polícia não possui as faculdades imprescindíveis à análise de eventual atipicidade de conduta delituosa em face do princípio da insignificância. Ao contrário, é preciso aproveitar o conhecimento técnico do qual é dotado para evitar o abarrotamento do judiciário e do sistema prisional, sobretudo porque muitas ações penais em curso, depois de anos de tramitação, acabam chegando aos tribunais superiores e ao Pretório Excelso onde se atesta o preenchimento dos requisitos para o reconhecimento da atipicidade da conduta.
2.2 PRINCÍPIOS RELATIVOS À PERSECUÇÃO PENAL
Os princípios tiveram uma evolução particular no Direito. O constitucionalismo moderno os colocou num patamar de grande importância, pois sua aplicação não se faz apenas para iluminar a interpretação da norma, como foi pensado antigamente, mas sim como elemento normativo de fato. 
 A aplicação do direito, então, deixa de vincular-se à norma em sentido estrito, passando a considerar com força normativa os princípios, os quais são vistos como normas abstratas, não delimitadas ao caso concreto. Nesse sentido é a lição de Barroso e Barcellos[footnoteRef:11]: [11: BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O Começo da História. A Nova Interpretação Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro, 2011, p. 11. Disponível em: https://www.camara.rj.gov.br%2Fsetores%2Fproc%2Frevistaproc%2Frevproc 2003%2Farti_histdirbras.pdf&usg=AFQjCNFAwasqsX_3lPk1_W9H5oFcSF3xRw. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Regras são, normalmente, relatos objetivos, descritivos de determinadas condutas e aplicáveis a um conjunto delimitado de situações. Ocorrendo a hipótese prevista no seu relato, a regra deve incidir, pelo mecanismo tradicional da subsunção: enquadram-se os fatos na previsão abstrata e produz-se uma conclusão. A aplicação de uma regra se opera na modalidade tudo ou nada: ou ela regula a matéria em sua inteireza ou é descumprida. Na hipótese do conflito entre duas regras, só uma será válida e irá prevalecer. 
Distintos das normas, os princípios têm um grau de abrangência maior quando se fala em efetividade do direito, conforme ensinam Barroso e Barcellos[footnoteRef:12]: [12: BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O Começo da História. A Nova Interpretação Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro, 2011, p. 11-12. Disponível em: https://www.camara.rj.gov.br%2Fsetores%2Fproc%2Frevistaproc%2Frev proc2003%2Farti_histdirbras.pdf&usg=AFQjCNFAwasqsX_3lPk1_W9H5oFcSF3xRw. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Princípios, por sua vez, contêm relatos com maior grau de abstração, não especificam a conduta a ser seguida e se aplicam a um conjunto amplo, por vezes indeterminado, de situações. Em uma ordem democrática, os princípios frequentemente entram em tensão dialética, apontando direções diversas. Por essa razão, sua aplicação deverá se dar mediante ponderação: à vista do caso concreto, o intérprete irá aferir o peso que cada princípio deverá desempenhar na hipótese, mediante concessões recíprocas, e preservando o máximo de cada um, na medida do possível. Sua aplicação, portanto, não será no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas por outras normas ou por situações de fato.
Os princípios são, portanto, normas abstratas dependentes da interpretação hermenêutico-jurídica no caso concreto, de modo a ponderá-los e aplicá-los na medida adequada requerida pela demanda. Em relação à persecução penal, é certo que todos os princípios penal-constitucionais estão envolvidos. Envolvem-se especialmente os princípios constitucionais da isonomia – visto sob a ótica da atuação profissional –, da dignidade da pessoa humana, e no contexto em que é abordado o tema em discurso, de profunda relevância se revelam os princípios da economia processual, da celeridade processual, e da insignificância.
2.2.1 Princípio da isonomia
O princípio da isonomia é de todos o de mais fácil compreensão, sendo previsto no artigo 5º da Constituição Federal, segundo o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”[footnoteRef:13]. [13: BRASIL. Congresso. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui caoCompilado.htm. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Este princípio é dividido doutrinariamente em igualdade formal e igualdade material. No primeiro caso, fala-se da condição de todos os indivíduos serem tratados igualmente pela lei, que deve dispensar tratamento uniforme a todos. A igualdade material, porém, trata-se da condição concreta de tratamento, pela qual aqueles que estão em situação de igualdade na vida real, devem ser tratados da mesma forma. Na mesma linha, aqueles que não estão em condições de igualdade na vida real devem ser tratados de forma diferente, pois não possuem as mesmas condições, sendo injusto que suas diferenças não sejam levadas em conta.
O consagrado jurista Ruy Barbosa[footnoteRef:14] ensina de forma bastante eloquente a diferença entre as duas especiais de igualdade: [14: BARBOSA, Ruy. Oração aos moços. Edição popular anotada por Adriano da Gama Kury. 5. ed. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1997, p. 26. Disponível em: http://www.casarui barbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_aos_mocos.pdf. Acesso em: 06 set. 2020.] 
A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.
Geralmente, ao se invocarem princípios constitucionais, estar-se-ia discorrendo sobre sua aplicabilidade aos agentes do fato típico. No entanto, desvie-se o olhar para o mesmo princípio, desta feita sob a perspectiva daqueles que atuam na persecução penal. Dito isto, percebam-se as qualificações de que cada um – juiz, promotor de justiça, defensor, delegado de polícia. Ora, é de se cogitar que cada um destes possui, em tese, faculdades intelectuais que os capacitam a decidir sobre questões do direito. 
Em sendo o delegado de polícia pessoa atuante na seara criminal, conhecedor da legislação, doutrina e jurisprudência correlatas, nada mais sensato do que permitir que decida sobre a evolução ounão de uma noticia criminis para inquérito policial, máxime em razão de ser o detentor legal da presidência do inquérito, bem como estar diante de processo meramente administrativo, sobre o qual possui a expertise necessária à equilibrada condução. 
2.2.2 Princípio da dignidade da pessoa humana
De todos os princípios constitucionais usados como parâmetro para intepretação das normas, o princípio da dignidade da pessoa humana assumiu nesses últimos tempos um lugar especial na mente do intérprete, após a percepção de que não há exercício de direito fundamental de forma plena que esteja alheio à dignidade humana. Isto é, impossível considerar, por exemplo, o exercício do direito constitucional à vida se esta é vivenciada de forma degradante, sem o mínimo existencial à sobrevivência.
No entanto, a efetividade do princípio da dignidade humana encontrou certo obstáculo, em face de sua grande abertura interpretativa, tendo em vista que a conceituação de dignidade humana não está em nenhuma lei, e teve de encontrar na doutrina a melhor forma de ser definido, conforme afirmam Barroso e Barcellos[footnoteRef:15]: [15: BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O Começo da História. A Nova Interpretação Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro, 2011, p. 13-14. Disponível em: https://www.camara.rj.gov.br%2Fsetores%2Fproc%2Frevistaproc%2Frev proc2003%2Farti_histdirbras.pdf&usg=AFQjCNFAwasqsX_3lPk1_W9H5oFcSF3xRw. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Pode ocorrer ainda, em relação aos princípios, uma dificuldade adicional: o fim a ser atingido ou o estado ideal a ser transformado em realidade pode não ser objetivamente determinado, envolvendo uma integração subjetiva por parte do intérprete. Um princípio tem um sentido e alcance mínimos, um núcleo essencial, no qual se equiparam às regras. A partir de determinado ponto, no entanto, ingressa-se em um espaço de indeterminação, no qual a demarcação de seu conteúdo estará sujeita à concepção ideológica ou filosófica do intérprete. Um exemplo é fornecido pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Além de não explicitar os comportamentos necessários para realizar a dignidade humana – esta, portanto, é a primeira dificuldade: descobrir os comportamentos – poderá haver controvérsia sobre o que significa a própria dignidade a partir de um determinado conteúdo essencial, conforme o ponto de observação do intérprete.
Por isso este princípio é considerado importantíssimo durante a persecução penal, porquanto deve ser observado sob diversas perspectivas, incluindo vítima, acusado, e até mesmo a coletividade, representada pelo Estado. É por causa dele que existem olhares atentos à condição degradante que ainda vive o preso no Brasil, fato que pode buscar auxílio na figura do delegado de polícia, notadamente na possibilidade de dar resolução a conflitos cujas circunstâncias são incontroversas e resultarão no reconhecimento do princípio da insignificância pelo Poder judiciário, porém, sabem-se lá quantos anos depois do fato. 
2.2.3 Princípio da economia processual
A efetividade da justiça parte de dizer o direito – iuris dictio –, cujo caminho para se alcançar a resposta final do Estado-Juiz é longa e por vezes penosa. Foi no intuito de reduzir os entraves do processo que a partir do séc. XX se começou a avaliar com atenção os efeitos de sua massificação, tendo em vista a crescente universalização do acesso à justiça. 
A economia processual surge, então, como medida de acesso mais amplo à jurisdição, mas aliado à adoção de meios que possam torná-lo mais rápido, com menos atos processuais, dando-se relevância aos atos úteis, desprezando-se erros formais irrelevantes, inclusive em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, e, sobretudo, com menos custos para o Estado.
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart[footnoteRef:16] compilaram valiosa lição acerca da economia processual: [16: ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D.; MARINONI, L. G. Novo curso de processo civil. v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 296.] 
Minimizando-se o procedimento tendente ao oferecimento da prestação jurisdicional, ganha-se de forma menos complicada uma resposta jurisdicional mais barata e rápida, o que é fundamental para estimular o acesso à justiça.
Mesmo buscando fundamento em dois processualistas civis, a premissa é plenamente aplicável no âmbito da persecução penal, dado que, se no âmbito patrimonial o processo precisa dar uma resposta eficiente no menor tempo e com o menor custo para o Estado, quanto mais o tem de ser na seara penal, na qual liberdade das pessoas e a satisfação das vítimas são tanto ou mais importantes.
2.2.4 Princípio da celeridade processual
O princípio da celeridade processual possui íntima relação com os princípios da economia processual e da efetividade da justiça, fazendo parte de algo que é mais propriamente um objetivo do que um princípio, e está presente na Constituição Federal de 1988: a duração razoável do processo.
É importante que o processo seja menos custoso, dure o mínimo possível, mas importantíssimo também que seja rápido, de modo que os atos processuais sejam ágeis e minimamente burocráticos, evitando-se protelações acintosas que pretendam apenas retardar a resposta indesejada para o protelador.
Alexandre de Freitas Câmara[footnoteRef:17] assim afirma: [17: CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: uma abordagem crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2007, p. 23.] 
Todo processo precisa de um tempo para poder produzir os resultados que dele são esperados. É preciso tempo para que o demandado seja citado; tempo para que, uma vez citado, o demandado elabore sua defesa; tempo para a instrução probatória; tempo para que o juiz, valorando a prova produzida e examinando as questões de direito, forme seu convencimento e elabore a sentença; tempo para que as partes possam elaborar e interpor seus recursos; tempo para que o recurso seja apreciado adequadamente etc.
O processo penal, iniciado na fase administrativa sob a ingerência do delegado de polícia, possui tantas fases quanto as que foram mencionadas anteriormente, guardadas as devidas proporções. Há vários atos processuais a serem praticados, inclusive durante o inquérito policial. Se assim não fosse, o Código de Processo Penal não teria destinado 19 artigos de lei somente para tratar do IP. 
Um processo, seja de que natureza for, possui diversos possíveis atos a serem praticados. O quanto mais simples forem os modos de praticá-los, atendendo-se ao fim e ao cabo seus objetivos, mais rápidos serão esses processos, e consequentemente mais efetiva será a resposta do Estado. 
Ao invés de esperar anos para que a resposta seja dada em uma ação penal, muito mais célere seria a resposta dada pelo delegado de polícia antes mesmo da instauração do IP no que concerne à decretação de atipicidade da conduta lastreada no princípio da insignificância, porquanto há condições técnicas para que esta medida seja possível.
2.2.5 Princípio da insignificância
O princípio da insignificância surgiu para dar fim a casos que ao final de uma ação penal longa e penosa se mostram irrelevantes, desnecessários e consequentemente custosos para o Estado, sobretudo porque as condutas praticadas não se mostraram capazes de atrair a aplicabilidade do direito penal, o que, dentro outros postulados, intervenção mínima, da fragmentariedade e o da lesividade.
No entanto, por mais que se procure no arcabouço legislativo do ordenamento jurídico pátrio a definição e/ou a forma rigorosa de aplicação deste princípio, o pesquisador perceberá que inexiste previsão legal do mesmo. O princípio da insignificância é uma criação doutrinária, como tantos outros institutos jurídicos, os quais passaram a ser defendidos em inúmeros processos judiciais até serem aceitos pelas Cortes Superiores e pelo Pretório Excelso a ponto de se tornarem jurisprudência harmônica.
Nesse sentido, importante a lição de Bonfim e Capez[footnoteRef:18]: [18: BONFIM, EdilsonMougenot; CAPEZ, Fernando. Direito Penal – Parte Geral. São Paulo: Saraiva. 2004, p. 121-122, item n. 2.1.] 
Na verdade, o princípio da bagatela ou da insignificância (...) não tem previsão legal no direito brasileiro (...), sendo considerado, contudo, princípio auxiliar de determinação da tipicidade, sob a ótica da objetividade jurídica. Funda-se no brocardo civil ‘minimis non curat praetor’ e na conveniência da política criminal. Se a finalidade do tipo penal é tutelar um bem jurídico quando a lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não será possível proceder a seu enquadramento típico, por absoluta falta de correspondência entre o fato narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. É que, no tipo, somente estão descritos os comportamentos capazes de ofender o interesse tutelado pela norma. Por essa razão, os danos de nenhuma monta devem ser considerados atípicos. A tipicidade penal está a reclamar ofensa de certa gravidade exercida sobre os bens jurídicos, pois nem sempre ofensa mínima a um bem ou interesse juridicamente protegido é capaz de se incluir no requerimento reclamado pela tipicidade penal, o qual exige ofensa de alguma magnitude a esse mesmo bem jurídico.
O Supremo Tribunal Federal, mediante julgamento do Habeas Corpus nº 98.152/MG, de 19 de maio de 2009, de relatoria do Ministro Celso de Melo, juntamente com toda a Segunda Turma do Excelso Pretório, buscaram dar contornos rígidos à aplicação do princípio da insignificância, dando fim à celeuma que há muito criava divergências jurisprudenciais. 
O julgado foi assim ementado[footnoteRef:19]: [19: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. Relatoria do Min. Celso de Melo. Habeas Corpus nº 92.152/MG, de 19 de maio de 2009. Disponível em: https://www.migalhas.com.br /arquivo_artigo/art20090526-04.pdf. Acesso em: 06 set. 2020.] 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE FURTO - CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE IDADE – ‘RES FURTIVA’ NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61% DO SALÁRIO MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) – DOUTRINA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO DEFERIDO. - O princípio da insignificância – que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. - Tal postulado – que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público em matéria penal. Isso significa, pois, que o sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificarão quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. - O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. 
Primeiramente, é preciso destacar que o fato de se considerar o princípio da insignificância a partir da conjugação dos vetores assinalados não quer dizer que o autor do fato não possa ser sancionado em outras searas do direito. Apenas que a privação de liberdade, ou mesmo as outras sanções de natureza penal, não se mostram razoáveis ao fato.
Com efeito, são quatro os vetores a que refere o ministro relator: mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
A mínima ofensividade da conduta do agente se revela no grau de ofensa que aquela ação poderia provocar. A conduta ofensiva deve ser mínima, a ponto de se considerar irrelevante, notadamente o efeito simbólico negativo que reveste a conduta em si. É claro que cuida de análise subjetiva, mas cujos parâmetros partem daquilo que a própria sociedade pode considerar como de pouco efeito negativo. Está basicamente no âmbito da capacidade de resignação da vítima, sobretudo quando se leva em consideração todo o aparato estatal que será mobilizado para a resolução do conflito.
Mesmo a análise do primeiro vetor se mostrando substancialmente subjetiva, ela tomará nota do segundo vetor para chegar a alguma conclusão, porquanto este se trata da ausência de periculosidade social da ação, revelada na total inexistência de clamor social quanto ao fato praticado, tampouco efeito capaz de provocar temor na sociedade. É como dizer que a conduta do agente sequer foi merecedora da atenção da sociedade, face ao risco zero de se verem prejudicados por conduta semelhante.
O terceiro vetor é o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente, que na verdade é consequência dos vetores anteriores, na medida em que os próprios valores éticos daquela determinada sociedade pouco foram contrariados, ou são capazes de dar pouca ênfase à reprovabilidade daquela determinada conduta.
O quarto e último vetor é o da inexpressividade da lesão jurídica provocada pelo agente, que pode parecer muito com o primeiro vetor, mas enquanto os três primeiros dizem respeito ao desvalor da ação, este último diz respeito ao resultado, materializado na redução do bem jurídico tutelado.
Note-se que o ministro relator afirma categoricamente que a conjugação dos vetores indicados “reclama e impõe [...] a intervenção mínima do Poder Público em matéria penal”. Desse modo, não se trata exclusivamente da atuação do Poder judiciário, ou mesmo do Ministério Público, mas do próprio Estado. Quer dizer que, em se conjugando os vetores para caracterização do princípio da insignificância, este deve ser aplicado. 
Com efeito, se a porta da persecução penal é, comumente, a delegacia de polícia, nada mais consentâneo com o julgado do STF que o próprio delegado de polícia, depois de acurada análise preliminar da noticia criminis, possa reconhecer o princípio da insignificância em casos de incontroversa conjugação dos vetores sedimentados jurisprudencialmente.
2.3 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE POLÍCIA: OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO
É preciso compreender que a persecução penal, muito mais do que um fenômeno jurídico, trata-se de um caminho longo que envolve uma diversidade de profissionais do direito, especificamente envolvendo os ramos do direito penal e processual penal, com o fito de dar uma resposta à sociedade acerca de um fato que possivelmente se enquadra em algum tipo penal.
Edilson Mougenot Bonfim[footnoteRef:20] assim leciona sobre a persecução penal: [20: BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 99.] 
É o caminho percorrido pelo Estado-Administração para que seja aplicada uma pena ou medida de segurança àquele que cometeu uma infração penal, consubstanciando-se em três fases: Investigação preliminar – ação penal e execução penal.
A despeito da visão minimalista do autor ao reduzir à persecução penal à aplicação de uma sanção, obviamente pelo fato de este fenômeno na verdade exprimiro objetivo de perseguir uma resposta do Estado-juiz no âmbito penal, é correto dizer que se inicia na investigação preliminar, cuja normalidade imputa tal atribuição à autoridade policial, sendo possível ser conduzida pelo Ministério público, mas não vem ao caso.
Foi dito e se ratifica que a persecução penal comumente se inicia na delegacia de polícia, e é dado ao delegado o dever de conhecer do fato possivelmente criminoso em todos os seus aspectos, sendo o primeiro operador do direito a perseguir (persecutio) a verdade real e dar a primeira resposta do Estado.
Na maioria dos casos, o desenrolar do futuro processo penal dependerá substancialmente da atuação do delegado de polícia. Se este fizer um bom trabalho na fase investigatória, é bem provável que a duração do processo criminal seja comprimida em face do bom trabalho investigativo, seja para condenar ou até mesmo para absolver o eventual réu, notadamente porque não é função da autoridade policial somente buscar a acusação e/ou condenação futuras do investigado. Mais do que isso: é sua função coletar todas as informações, indícios e provas sobre um determinado fato, independentemente dos resultados. O delegado deve fazer suas conclusões a partir do que foi angariado durante o inquérito, e não conduzir o inquérito conforme conclusões preestabelecidas.
Em se tratando de direito penal e processual penal, dispensam-se estatísticas para demonstrar o quão superlotados estão os tribunais brasileiros com processos dessa natureza parados por meses ou anos. E quantos presos provisórios estão custodiados em estabelecimentos prisionais sem nenhuma perspectiva de condenação ou mesmo de liberação, justamente por causa do excesso de processos nas varas criminais sem o quantitativo de magistrados, serventuários e auxiliares da justiça, ou até mesmo promotores e delegados suficientes para dar conta do sem número de processos. 
Nesse sentido, afirma GIanberardino[footnoteRef:21]: [21: GIANBERARDINO, André. Encarceramento em massa e os terraplanistas do direito penal. CONJUR, 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-abr-02/tribuna-defensoria-encarcera mento-massa-terraplanistas-direito-penal. Acesso em: 06 set. 2020.] 
No sítio virtual do World Prison Brief (acesso em 22/03/2019), a mais importante referência para comparações entre países, já são levados em conta os dados do CNJ, e não os do DEPEN. De acordo com informações do BNMP/CNJ, de fevereiro de 2019, o Brasil teria 719.998 pessoas presas acrescidas de uma estimativa de 36.765 pessoas custodiadas em delegacias de polícia, com nível de ocupação (superlotação) de 166.2%. Não são dados muito distantes do relatório referente ao 2º trimestre de 2018 do CNMP, segundo o qual haveriam 680.441 pessoas presas para 417.135 vagas, com taxa de ocupação de 163,12%, sem contabilizar presos em delegacias de polícia. Se excluídos aqueles em regime aberto – e não está claro como o CNMP chega a esse dado, já que só há visitas e inspeções em unidades de fechado ou semiaberto – seriam 9.311 presos a menos.
O abarrotamento de processos criminais pelos tribunais do Brasil e o correlato encarceramento em massa é uma realidade antiga e cruel, que é conhecida pelo mais leigo indivíduo, e condenado mundialmente pelos diversos organismos internacionais. Frise-se que ao fazer essa afirmativa não se quer insistir no superado discurso de que os envolvidos no problema não estão fazendo nada quanto. Seria hiperbólico; um verdadeiro exagero. Mas é preciso fazer bem mais, com certeza.
Os governantes, o poder judiciário, os ministérios públicos, as defensorias públicas, advocacia privada (OAB), conselhos nacionais da magistratura e dos ministérios públicos etc., possuem suas metas e programas institucionais com o escopo de modificar essa realidade indesejada. O CNJ, por exemplo, instituiu diversas metas relacionadas ao julgamento de processos antigos, bem como tem dado atenção especial aos estabelecimentos prisionais. 
A solução para esta problemática não será alcançada com apenas um ou dois planos de ação, mas dependerá da soma de diversos possíveis planos de atuação dos envolvidos na persecução. E um dos possíveis planos parte da otimização do fluxo de processos que chega ao poder judiciário, capitaneado pelo delegado de polícia ainda na fase preliminar à instauração do inquérito policial.
Destaque-se que seria bem possível que até mesmo durante o inquérito policial o plano de ação sobre o qual se discorrerá poderia ser aplicado, mas esbarra na vedação legislativa de que a autoridade policial não pode arquivar de per si o IP, devendo submetê-lo sempre ao crivo do juiz competente, que por sua vez dependerá da promoção de arquivamento levada a efeito pelo MP, devido este ser o detentor exclusivo do direito de promover a ação penal. Aury Lopes Jr.[footnoteRef:22] afirma, inclusive que, “recebendo o IP, o promotor poderá: oferecer a denúncia; pedir o arquivamento; solicitar diligências ou realizar diligências”. [22: LOPES Jr., Aury. Direito processual penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 150.] 
A eventual retirada deste obstáculo parte simplesmente da mudança na legislação ordinária, um procedimento relativamente simples quanto comparado com o quórum necessário para a edição de emenda constitucional. No entanto, consoante se observa nos últimos dez anos, há um lobby de outros setores públicos para não conceder maiores atribuições aos delegados de polícia, sobretudo quando estas atribuições tiverem de ser transferidas de outro grupo para eles, ou mesmo compartilhadas. 
O problema do excesso de processos criminais nos tribunais brasileiros e o encarceramento em massa não podem esperar essa eterna briga de egos corporativos, razão pela qual, ao menos nas condições atuais, a contribuição dos delegados de polícia não pode depender de uma mudança legislativa, mas deve partir do que se tem atualmente e que pode favorecer esta tomada de iniciativa.
Com efeito, é sabido que o delegado não pode arquivar o inquérito. Tendo-o instaurado, está sujeito a conclui-lo e submetê-lo ao juiz, que por sua vez o remeterá a um promotor de justiça (MP estadual) ou procurador federal (MP federal). E mesmo que opine – como de fato pode opinar – pelo arquivamento pelas variadas razões, poderá ter suas conclusões rejeitadas, sujeitando-se à requisição de diligências complementares, mesmo que inócuas.
Hoje, o modo como podem ajudar os delegados de polícia parte, então, da dedicação acurada na análise preliminar dos crimes, buscando identificar aqueles que apontam para a atipicidade da conduta. Mas como fazê-lo sem se imiscuir na função de julgador? 
Em primeiro lugar, deve-se ratificar que a solução para os problemas apontados não será uma só. É preciso – diga-se mais uma vez – engendrar várias frentes de batalha. Em segundo lugar, é possível que o delegado de polícia, munido do conhecimento do julgado do Habeas Corpus nº 92.152/MG, de 19 de maio de 2009, mais especificamente dos requisitos que foram assentados jurisprudencialmente como sendo o parâmetro para identificar a atipicidade da conduta baseada na aplicação do princípio da insignificância, que o faça ainda na fase preliminar ao inquérito policial.
O delegado de polícia é operador do direito tão capaz quanto qualquer outro. É detentor de notório saber jurídico, colocado à prova em difícil certame público, razão pela qual não lhe foge à competência técnica as condições favoráveis a aplicação do referido princípio. 
O Supremo Tribunal Federal, na pessoa do relator do processo, o Ministro Celso de Melo, deixou clarividente que o julgado em questão se destina à “intervenção mínima do Poder Público em matéria penal”. Note-se que não foi exclusivamente ao julgado ou ao órgão acusador que se destinou as conclusões do julgado, mas a todo o poder público, nos seus diversos atores do processo penal, notadamente também à autoridade policial.
A fase investigativa da persecução penal possui natureza administrativa, e, portanto, cabe ao coordenador desta fase – o delegado – a decisão sobre os rumosda investigação, inclusive a condição em que serão classificadas as pessoas incluídas nesta fase: suspeitos, investigados, indiciados, vítimas, testemunhas, condutores etc.
A investigação preliminar é assim tratada por Andressa Tomazini[footnoteRef:23]: [23: TOMAZINI, Andressa. Investigação preliminar: conceito e natureza jurídica. Canal ciências criminais, 2017. Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/536178340/ investigacao-preliminar-conceito-e-natureza-juridica. Acesso em: 06 set. 2020.] 
A fase investigativa ou investigação preliminar consiste no primeiro grande momento da persecução penal, anterior ao processo, visto que possui a finalidade de, através da reunião de atos de averiguação das circunstâncias, indícios de autoria e materialidade advindas da notitia criminis, dar subsídios (quando for o caso) ao oferecimento da denúncia e à instrução penal.
Vale lembrar: a notícia-crime não necessariamente corresponderá a uma infração penal, desta forma, trata-se de notificação da Autoridade Policial, a qual preside todas as atividades investigativas, acerca da suposta ocorrência de um suposto fato criminoso. Isso porque, não quer dizer que ele ocorreu e não quer dizer que tal fato corresponde a um crime - lato senso.
No sentido do já exposto, a natureza jurídica da Investigação Preliminar, a qual determina-se pelo sujeito que preside os atos e natureza dos atos realizados, é variável.
[...].
Em território brasileiro, a natureza jurídica é de procedimento administrativo pré-processual, visto que ligado a membros do Poder Executivo: Polícia ou Ministério Público.
O delegado de polícia pode muito bem deixar de avançar da fase preliminar para o inquérito policial, porquanto o ato de indiciamento, inclusive, é ato privativo seu, o qual parte de análise técnico-jurídica quanto à existência de arcabouço mínimo que indique a prática de conduta típica, consoante preconiza a Lei nº 12.830/2013. 
Adotar essa postura de forma uniforme pelos delegados de polícia seria uma novidade no ordenamento jurídico pátrio pela unanimidade. Mas segundo Freitas e Efraim[footnoteRef:24], o fato só não seria totalmente inédito porque já existe texto normativo determinando que esta seja a postura comum no âmbito das delegacias de polícia do Estado de São Paulo, conforme se verifica na Portaria DGP nº 18, de 25 de novembro de 1998, a qual “dispõe sobre medidas e cautelas a serem adotadas na elaboração de inquéritos policiais e para a garantia dos direitos da pessoa humana”. [24: FREITAS, João Gabriel Menezes de; EFRAIM, Rosely da Silva. A aplicabilidade do princípio da insignificância pelo delegado de polícia. Revista Humanidades, v. 5, n. 1, fev. 2016. Disponível em: http://revistahumanidades.com.br/arquivos_up/artigos/a92.pdf. Acesso em: 06 set. 2020.] 
Na lição de Távora e Alencar[footnoteRef:25], “só cabe falar em indiciamento se houver um lastro mínimo de prova vinculando o suspeito à prática delitiva, o que se faz após análise técnico-jurídica do fato, indicando-se autoria, materialidade e circunstâncias”. [25: TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2014, p. 144.] 
Com efeito, se após análise técnico-jurídica, restar flagrante que o autor do fato reúne sobre si e sobre o fato objeto de análise os requisitos assentados no Habeas Corpus nº 92.152/MG, razão nenhuma haveria para evoluir de procedimento preliminar para inquérito policial, pois somente postergaria um resultado inevitável, qual seja: a promoção de arquivamento do inquérito pelo Ministério Público. E na pior das hipóteses: a absolvição do réu por atipicidade de conduta, face à aplicação do princípio da insignificância. Esta última hipótese, muito provavelmente, claro, depois de alguns anos de custos para o Estado.
A possibilidade de atuação pelo delegado nos contornos apontados não seria a solução final e imediata para os problemas que o sistema penal brasileiro enfrenta com o excesso de processos penais parados e a superlotação carcerária. Porém, é axiomático que a resolução de conflitos no início da persecução penal certamente contribuiria substancialmente para a mitigação desses problemas.
A redução significativa do curso da persecução penal seria a maneira mais clara de se homenagear a duração razoável do processo, porque o que a fase investigativa senão um processo administrativo. A economia processual seria enorme, sem falar na celeridade com que a resposta do Estado chegaria à sociedade.
Outro fator de grande relevância é que, como dito anteriormente, a implantação desta medida independeria de nova legislação, bastante a simples inclinação da autoridade policial para realizar uma análise preliminar dos fatos e, se conjugados de forma incontroversa os requisitos da insignificância do delito, consoante preconizado no HC 92.152/MG, que simplesmente fizesse relatório minudente acerca dos fatos e razões de conclusão, determinando em seguida o encerramento do processo ligado à notícia crime. 
É uma medida barata para o Estado, obviamente porque se sustenta na própria capacidade técnico-jurídica do delegado de polícia, dispensando-se quaisquer investimentos acessórios em materiais ou equipamentos tecnológicos, mas tão somente no recurso humano qualificado. E mais, sequer seria imputada ao delegado nova atribuição legal que necessitasse eventualmente de modificação legislativa, porquanto faz parte da natureza de sua função analisar se há lastro probatório mínimo que impulsione a evolução do procedimento administrativo.
É certamente uma medida simples, barata e eficaz que seria muito bem-vinda no ordenamento jurídico pátrio se fosse uniformizada pelos Estados. O resultado não tardaria e o poder judiciário e o sistema prisional do país seriam bastante beneficiados.
3 CONCLUSÃO
A atividade policial coordenada pelo delegado de polícia é muito mais do que simplesmente prender criminosos e apresentá-los à justiça. Distante disso, é uma atividade técnica que requer qualificação para o seu desempenho, calcada na ciência jurídica penal, cujo objetivo é bem mais do que punir, mas é dar uma resposta efetiva sobre eventual fato criminoso. E essa resposta pode ser que o fato simplesmente é irrelevante para ser colocado ao crivo do judiciário.
É nesta perspectiva que se desenvolveu o presente trabalho, demonstrando de forma inconteste que a função de delegado de polícia pode contribuir substancialmente para a redução de processos inúteis nas varas criminais do país, fato que resultaria diretamente na redução da superlotação do sistema prisional. E frise-se: não seria a solução única e definitiva, mas uma contribuição inegável.
Os problemas do sistema penal, muito mais do que o combate corpo a corpo com o crime, parte da adoção de estratégias cuja ferramenta mais útil é a mente, e não a arma. Não se quer dizer com isso que a impunidade deva ser prestigiada. Pretende-se dizer é que algumas questões podem ser facilmente resolvidas com o intelecto, como é o caso de impedir que um processo criminal dure vários anos somente para que o magistrado absolva o réu com base no princípio da insignificância, quando o delegado, ainda quando detinha sob sua vista uma notícia crime, poderia fazê-lo.
A economia processual e a celeridade processual seriam os princípios mais observados acaso esta medida passasse a ser adotada de forma sistemática e uniforme pelas polícias judiciárias, tanto estaduais quanto federal, porquanto as fases processuais que seriam evitadas, bem como a rapidez com que a resolução da celeuma chegaria, obviamente seriam dignas de aplauso e estímulo estatal.
Os problemas no sistema penal são passíveis de resolução, basta implantar medidas que ajudem aos operadores do direito a atuarem conforme a qualificação técnica que está à sua disposição lhes permitem, desprezando-se os lobbys que por vezes travam a melhor eficiência do Estado, os quais se dedicam tão somente a angariar privilégios incompatíveis o dever favorecimento à coletividade e não a um grupo.
Deixarnas mãos dos delegados de polícia ao menos a análise dos casos nos quais seja incontroversa a aplicação do princípio da insignificância será a decisão mais acertada dos governantes e do legislativo estadual e federal. Algo que trará benefícios tão rápido quanto imaginados.
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