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A POSSIBÍLIDADE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE POLÍCIA

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A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE POLÍCIA 
 
THE POSSIBILITY OF APPLYING THE PRINCIPLE OF 
INSIGNIFICANCE BY THE POLICE DELEGATE 
 
 
 Cláudio Barboza1 
Julia Dambrós Marçal2 
 
RESUMO: No presente artigo será feita uma análise acerca do princípio da insignificância, 
introduzido no direito penal pelo jurista alemão Claus Roxin, no ano de 1964, com intuito de 
excluir a tipicidade de pequenos delitos irrelevantes. A análise a ser feita consiste em verificar 
a possibilidade da aplicação deste princípio pelo delegado de polícia, na fase pré-processual. O 
princípio da bagatela, como também é conhecido, exclui a tipicidade material do delito, ou seja, 
embora tal conduta esteja expressa em lei como crime, é afastada pela ínfima lesão ao bem 
jurídico tutelado, que na maioria dos casos está atrelada ao crime de furto. Após longos debates 
doutrinários, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu requisitos, que se preenchidos, devem 
ser aplicados pelo delegado, promotor e juiz aplicar, excluindo o delito praticado, uma vez que 
o direito penal não deve preocupar-se com crimes ínfimos. O método de pesquisa utilizado 
consistiu em bibliografias, sites e jurisprudência de tribunais superiores. 
 
Palavras-chaves: Direito penal. Princípio da insignificância. Delegado de polícia. 
 
ABSTRACT: In this article an analysis will be made about the principle of insignificance, 
introduced in criminal law by the German jurist Claus Roxin, in 1964, in order to exclude the 
typicality of minor irrelevant crimes. Analysis to be made is whether there is a possibility of 
applying this principle by the police chief, being in the pre-procedural stage. The trifle principle, 
as it is also known, excludes the material typicality of the crime, that is, although such conduct 
 
1 Acadêmico do Curso de Graduação em Direito do UNIDEP. Endereço eletrônico: claudiobz@outlook.com 
2 Mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, (UNOESC) Câmpus de 
Chapecó – SC (2014). Graduada em Direito na Universidade do Oeste de Santa Catarina Campus de Xanxerê-SC 
(2012). Foi bolsista de iniciação científica no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC nos 
anos de 2011 e 2012. Atualmente é Professora do curso de Direito do Centro Universitário de Pato Branco - PR 
(UNIDEP). Endereço eletrônico: juliadmarcal@gmail.com 
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is expressed in law as a crime, it is ruled out by the slightest injury to the protected legal 
property, which in most cases is linked to the crime of theft . After lengthy doctrinal debates, 
the Federal Supreme Court established requirements that, if fulfilled, the delegate, the 
prosecutor and the judge must apply this principle, thus excluding the offense committed, as 
criminal law should not be concerned with minor, irrelevant crimes. The research method used 
was website bibliographies and the jurisprudence of higher courts. 
 
Keywords: Criminal law. Principle of insignificance. Chief of police. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa tem como objeto de estudo o princípio da insignificância e a 
possibilidade de o delegado de polícia realizar sua aplicação, deixando de lavrar o auto de prisão 
em flagrante. 
Na sociedade moderna, face ao advento da Constituição Federal de 1988, o delegado de 
polícia deixou apenas de instaurar inquéritos e conduzir investigações para atuar também, na 
garantia de direitos. 
O princípio da bagatela é tema exclusivo que trata da matéria de direito processual penal 
e direito penal, não previsto em lei mas que se trata de uma criação doutrinária e jurisprudencial, 
deste modo vale destacar que tal princípio não exclui a tipicidade formal do delito, mas a 
tipicidade material. 
Ainda será feita uma análise em enunciados formulados em encontro nacional de 
delegados, uma busca em informativos do centro de apoio das promotorias do Paraná, 
analisando a posição doutrinária acerca dessa possibilidade, de maneira a desmistificar o 
assunto e pontuar superficialmente em quais casos são cabíveis aplicação princípio da bagatela 
e em quais não serão. 
Consoante ao exposto, propõe-se a pergunta de pesquisa: É possível o delegado realizar 
aplicação do princípio da insignificância de ofício deixando de lavrar o auto de prisão em 
flagrante? 
Na pesquisa realizada neste artigo foi utilizado o método hipotético-dedutivo. 
 
 
 
 
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1. CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME (FATO TÍPICO, ILÍCITO, CULPAVÉL) 
 
Sob o enfoque analítico, o conceito de crime encontra-se estruturado em partes visto que 
a teoria prevalecente é tripartida e para que o crime exista, o fato deve ser típico, ilícito e 
culpável. 
No fato típico há alguns elementos dirigidos a uma finalidade antijurídica e reprovável: 
conduta, dolo, resultado e nexo de causalidade. 
O agente que deve agir de forma voluntária, livre e consciente, ter realmente a intenção 
da prática do delito. Mirabete e Fabbrini (2010, p.89) pontuam que “no crime doloso, a 
finalidade da conduta é a vontade de concretizar um fato ilícito”. Trata-se da vontade livre e 
consciente devendo haver consciência em relação ao ato, independentemente de saber se é 
ilícito ou não. Dentro disso, há o resultado que é aquilo que decorre da conduta do autor, pois 
todo crime necessita de um resultado para existir. 
Além disso, há o nexo de causalidade caracterizado por unir a conduta ao resultado, 
servindo para saber se quem praticou a conduta é quem vai responder pelo resultado. Na 
Constituição Federal de 1988, artigo 5º, XXXIX, afirma-se que: “Não há crime sem lei anterior 
que o defina nem pena sem prévia cominação legal” (BRASIL, 1988), portanto para uma prática 
ser considerada crime deve estar tipificada em lei. 
Trata-se, então, de uma incompatibilidade entre a conduta e o ordenamento jurídico, 
sendo contrário ao direito, de modo que exclui o Estado da necessidade de legítima defesa, 
estrito cumprimento de um dever legal e o exercício regular do direito, impossibilitando 
aplicação das causas excludentes de ilicitude. 
Rogerio Grecco (2013, p.309) complementa que: 
 
É claro que para que possamos falar em ilicitude, é preciso que o agente contrarie uma 
norma, pois, se não partimos dessa premissa, sua conduta, por mais antissocial que 
seja, não poderá ser considerada ilícita, uma vez que não estaria contrariando o 
ordenamento jurídico-penal. 
 
Como último elemento, há a culpabilidade, que trata da reprovação de uma conduta pela 
prática de um fato típico e reprovável, propondo uma análise dos fatos excluindo-se o direito 
penal do autor. 
Luiz Regis Prado (2012, p. 226) define que: 
 
A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão 
típica e ilícita. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa 
existir ação típica e ilícita inculpável. Devem ser levados em consideração, além de 
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todos os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica e ilícita realizada, também, 
suas circunstâncias e aspectos relativos à autoria. 
 
Deste modo, compreende-se que, na culpabilidade, o agente poderia ter agido de forma 
diversa, mas não o fez. 
 
2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: ORIGEM E DEFINIÇÃO 
 
Princípio significa origem ou começo de algo, cuja função é nortear o ordenamento 
jurídico dando maior segurança na criação e aplicação de leis que são as bases para o Direito e 
à garantia social. 
Rodrigo Padilha (2019, p. 103) complementa que “os princípios são multifuncionais, ou 
seja, servem para produzir, interpretar e aplicar leis, extraídas de enunciados jurídicos de alto 
grau de abstração e generalidade, prescrevendo um valor fundamental, e não situação de fato”. 
Em sentido corroborativo, Luiz Regis Prado (2012. p. 157), pontua que: 
 
Tais princípios são considerados como diretivas ou cardeais que regulam a matéria 
penal,sendo verdadeiros “pressupostos técnico-jurídicos que configuram a natureza, 
as características, os fundamentos, a aplicação e a execução do Direito Penal. 
Constituem, portanto, os pilares sobre os quais assentam as instituições jurídico-
penais: os delitos, as contravenções, as penas e as medidas de segurança, assim como 
os critérios que inspiram as exigências político-criminais. 
 
Deste modo, conclui-se que princípios são fontes para aplicação da norma jurídica, 
atuam como garantias individuais e a sua aplicação se dá conforme o caso concreto. 
O princípio da insignificância consiste na ausência de tipicidade pela inexistência de 
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Esse princípio é originário do direito romano, 
tendo encontrado suas bases no brocardo “mínima non curat praetor”, que orienta que o direito 
não deve preocupar se com coisas irrelevantes. De acordo com Capez (2018, p. 57), tal princípio 
ganhou força na Europa mais precisamente na Alemanha com as crises sociais, em maior escala 
com a (segunda guerra mundial entre 1939-1945) onde pela instabilidade social, tomado pelo 
desemprego e a falta de alimento entre outros fatores, a sociedade passou a ter um surto de 
pequenos furtos, subtração de relevância mínima, onde passou a ser denominado “criminalidade 
de bagatela”. Mas foi introduzido no direito penal, pelo jurista alemão Claus Roxin, no ano de 
1964, com intuito de excluir a tipicidade de pequenos delitos irrelevantes. 
O doutrinador Fernando Rocha (2004, p.198) destaca que “visando ressaltar que o fato-
crime possui especial significado para a ordem social, Claus Roxin introduziu no Direito Penal 
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a teoria da insignificância da lesão ao bem jurídico, segundo a qual excluem-se do tipo os fatos 
considerados de pequena importância”. 
Com o passar do tempo, o princípio da insignificância foi desenvolvendo em conjunto 
com princípio da legalidade – “nullun crimen nulla poena sine leg”, pois, reza o princípio da 
legalidade que não pode haver crime nem pena sem lei prévia. 
Diante disso, a primeira constituição a aderir ao princípio da “bagatela” foi a inglesa 
mais precisamente em (1891). 
Luiz Flávio Gomes (2017, p. 19) conceitua o princípio da insignificância da seguinte 
forma: 
 
Infração “bagatelar” ou delito de bagatela ou crime insignificante expressa o fato de 
ninharia, de pouca relevância, ou seja, insignificante. Em outras palavras, é uma 
conduta ou um ataque ao bem jurídico tão irrelevante que não requer a (ou não 
necessita da) intervenção penal. Resulta desproporcional a intervenção penal nesse 
caso. O fato insignificante, destarte, deve ficar reservado para outras áreas do Direito 
(civil, administrativo, trabalhista etc.). Não se justifica a incidência do Direito penal 
com todas as suas pesadas armas sancionatórias sobre o fato verdadeiramente 
insignificante. 
 
Segundo Igor Luiz (2016, p.197), o princípio da insignificância exige uma lesão 
relevante ao bem jurídico tutelado, para que seja considerada determinada conduta 
materialmente atípica, uma vez que a insignificância do fato perpetrado acarreta na exclusão da 
atipicidade. 
Para Luiz Regis Prado (2012, p. 146), as infrações de menor relevância que produzem 
uma ínfima lesão ao bem jurídico protegido, não devem ter a imposição de uma pena privativa 
de liberdade, de modo que seria desproporcional tal imposição, visto que se não ouve danos, 
exclui-se a tipicidade da conduta em caso de irrisória lesão. 
Para Ivan Luiz da Silva, (2011, p. 87), o princípio da insignificância atua de maneira 
restritiva, de modo a medir o grau de lesividade da conduta do agente, excluindo a incidência 
penalizadora de tipos penais insignificantes, como ensina a doutrina “nullum crimen sine” ou 
seja, não há crime sem lei. 
Portanto, entende a doutrina que o direito penal não deve preocupar-se com fatos 
irrelevantes situações ínfimas, devendo ser manifesto somente em situações de maiores 
relevâncias, crimes mais gravosos, pois, trata-se de um meio de evitar instauração de inquéritos 
de menor relevância e, consequentemente, dar uma maior agilidade em crimes que produzem 
maiores resultados. 
 
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3. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA EM CONSONÂNCIA COM O PRINCÍPIO DA 
PROPORCIONALIDADE 
 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 consagrou diversos 
princípios, entre eles o princípio da proporcionalidade, o qual está relacionado com a gravidade 
do fato e a sanção da pena imposta, caracterizando-se por ser um princípio de equilíbrio, que 
tendo em vista o princípio da bagatela deve se levar em consideração a conduta do agente e se 
é de tamanha proporção a instauração de inquérito policial. 
Lemes (2018, p. 83) pontua que: “a Proporcionalidade está intimamente ligada com a 
modalidade indicadora de que a severidade da sanção deve corresponder a maior ou menor 
gravidade da infração penal quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena”. 
Nas lições de Lenza (2015, p. 230), verifica-se que: 
 
O princípio da proporcionalidade na sua essência apresenta uma natureza axiológica 
que provem diretamente de ideias de justiça, equidade, bom senso, prudência, 
moderação, justa medida, proibição de excesso, direito justo e valores afins; precede 
e condiciona a positivação jurídica, inclusive de âmbito constitucional; e enquanto 
princípio geral do direito, serve de regra de interpretação para todo o ordenamento 
jurídico. 
 
Deste modo, compreende-se que o princípio da proporcionalidade busca a justa 
aplicação da pena, proibindo o excesso, a fim de que lhe seja aplicada uma pena 
desproporcional à prática de um delito. 
Já o princípio da insignificância, não está previsto expressamente na legislação 
brasileira, mas vem sendo aplicado de maneira frequente pelos tribunais superiores e também 
na fase judicial por juízes e promotores, de modo que serve para delimitar as condutas que serão 
tidas como insignificantes, dando uma maior agilidade ao judiciário. 
Fernando Capez (2018, p.57) ressalta que: 
 
O Direito Penal não deve preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não 
podem ser admitidos tipos incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar 
o bem jurídico. A tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem jurídico 
protegido, pois é inconcebível que o legislador tenha imaginado inserir em um tipo 
penal condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o interesse protegido. 
 
Tal princípio vem sendo aplicado em diversos delitos, o mais comum é o crime de furto, 
em que geralmente são subtraídos de supermercados, farmácias, objetos como garrafa de 
bebidas, chocolates, desodorantes, entre outros. No entanto, para sua aplicabilidade é necessário 
que exista o preenchimento de alguns requisitos. O Supremo Tribunal Federal (HC 84412 
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MC/SP) já estabeleceu um rol com quatro requisitos em habeas corpus concedido: 1) a mínima 
ofensividade da conduta do agente; 2) a nenhuma periculosidade social da ação; 3) o 
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e 4) a inexpressividade da lesão 
jurídica provocada. 
Diante disso, ficaram estabelecidos os quatro vetores para sua aplicação. Agora vejamos 
o caso prático em que foi aplicado pela primeira vez o princípio da insignificância: 
 
Princípio da insignificância. Identificação dos vetores cuja presença legitima o 
reconhecimento desse postulado de política criminal. Consequente descaracterização 
da tipicidade penal, em seu aspecto material. Delito de furto. Condenação imposta a 
jovem desempregado, com apenas 19 anos de idade. "res furtiva" no valor de R$ 25,00 
(equivalente a 9,61% do salário mínimo atualmente em vigor). Doutrina. 
Considerações em torno da jurisprudência do STF. Cumulativa ocorrência, na espécie, 
dos requisitos pertinentes à plausibilidade jurídica do pedido e ao "periculum in 
mora". Medida liminar concedida. (HC 84412 MC/SP. STF. Relator: MinistroCelso 
de Mello). 
 
O fato ocorreu no estado de São Paulo, o agente subtraiu uma fita de videogame, 
avaliado no valor de R$ 25,00 (vinte e cinco reais), sendo condenado a uma pena de oito meses 
de reclusão. A defesa alegou que seria desproporcional a pena imposta, pelo fato de a vítima 
ter recuperado o bem subtraído não havendo nenhum prejuízo, o ministro sustentou em sede de 
habeas corpus concedido que o valor do bem subtraído é equivalente a 9,61 % do salário mínimo 
vigente, sendo assim acatou os pedidos da defesa e suspendeu, integralmente, a condenação. 
O princípio da insignificância orienta no sentido do direito penal não se preocupar com 
pequenos delitos, evitando a instauração de inquéritos policiais desnecessários. De certo modo, 
trata-se de um princípio que veio para dar agilidade em delitos sem muita relevância para o 
direito penal. 
O princípio da bagatela como também é conhecido, afasta tipicidade material da conduta 
do agente, pois, entende-se que o delito com a mínima ofensividade ao bem jurídico tutelado 
da vítima, não deve se prolongar a esfera judicial, deste modo exclui a tipicidade penal do 
agente e consequentemente o delito, assim é evidente que o princípio da insignificância é causa 
excludente de ilicitude. 
Rogerio Sanches (2019, p. 31) orienta, no mesmo sentido, que “assim, se o fato for 
penalmente insignificante significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. 
Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com 
fundamento no art. 386, III, do Código de processo penal”. 
Mirabete e Fabbrini complementam (2010, p.104) que: 
 
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Nos pequenos casos de ínfima afetação do bem jurídico, o conteúdo do injusto é tão 
pequeno que não subsiste nenhuma razão para o pathos ético da pena. É indispensável 
que o fato tenha acarretado uma ofensa de certa magnitude ao bem jurídico protegido 
para que se possa concluir por um juízo positivo de tipicidade. 
 
Por meio deste princípio empregado pela doutrina o encarceramento de delitos 
insignificantes vem sendo evitados, gerando uma economia processual e menos gastos para o 
Estado. Também é necessária uma análise ao caso concreto para aplicação deste princípio e ao 
preenchimento de quatro requisitos essenciais para aplicação, são eles: 
a) mínima ofensividade da conduta do agente, no momento da prática em sua conduta 
se houver ao menos exposição de perigo ao bem jurídico relevante, como por exemplo, a vida, 
estaria ausente este já a possibilidade de aplicação, visto que se trata de um bem maior; 
b) nenhuma periculosidade social da ação, ou seja, na prática do delito deve estar 
presente a mínima ofensividade do agente, ausência de periculosidade social da ação, pois sua 
conduta não trouxe perigo à sociedade; apesar de existir reprovabilidade em seu 
comportamento, este se mostra reduzido não causando mal a toda sociedade; 
c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, ou seja, embora seja a prática 
de um delito, sua conduta não é tão mal vista pela sociedade, exemplo, se o agente subtrai algo 
para comer o que caracteriza um estado de necessidade, neste caso embora seja uma conduta 
típica estamos diante de algo maior, que seria a necessidade do mesmo em se alimentar; 
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada, em caso leve-se em consideração a 
situação econômica da vítima, se o bem subtraído causar lesão à vítima não há possibilidade da 
aplicação da bagatela, se o bem subtraído for expressivo para vítima não há aplicação da 
bagatela, exemplo; subtrair a bicicleta da vítima que é utilizada para o trabalho todos os dias 
para vender algum determinado produto, neste caso detém um valor expressivo visto que 
necessita para trabalhar todos os dias (HC 84412 MC/SP. STF. Relator: Ministro Celso de 
Mello). 
Tais requisitos foram formulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e servem de 
norte para delegados, juízes, promotores, que ao se depararem com uma ínfima conduta devem 
aplicar tal princípio. 
Porém, há alguns casos em que não cabem aplicação da bagatela, como nos crimes de 
violência ou grave ameaça, neste caso há risco à integridade física e psicológica da vítima 
afastando a possibilidade da aplicação, também não é cabível nos crimes ambientais como 
decidiu recentemente o (TJPR). 
 
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Recurso em sentido estrito. Crime ambiental (art. 34, caput e parágrafo único, inc. II, 
da Lei nº 9.605/98). Rejeição da denúncia ante o princípio da insignificância, nos 
termos do art. 395, inc. II, do CPP. Insurgência ministerial pelo recebimento da 
denúncia. acolhimento. Inaplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes 
ambientais. Legislação ambiental que trata de direitos difusos, os quais, devem ser 
protegidos por todos. Presunção de ofensa ao meio ambiente. Revogação da decisão 
singular, com o consequente recebimento da denúncia e o prosseguimento do processo 
criminal. Recurso provido. (TJPR - 2ª C. Criminal – ser 1743965-5 - Região 
metropolitana de Maringá – foro central de Maringá – relator: Desembargador José 
Mauricio Pinto de Almeida – unânime – J. 24.01.2019). 
 
Visto que neste caso é atingida toda a coletividade, por se tratar de um bem de todos. É 
também inaplicável em crimes contra administração pública, mesmo que seja um valor ínfimo, 
havendo a criação da súmula 699 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); “O princípio da 
insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública”. 
Os agentes públicos devem zelar pelos princípios administrativos, previstos no artigo 
37 da constituição, moralidade, entre outros, visto que trata da reputação do órgão público, 
havendo a impossibilidade de aplicação. 
 Também não é aplicável ao crime de posse de entorpecentes previsto no artigo 28, da 
Lei nº 11.343/2006 como decidiu recentemente o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná 
(TJPR). 
 
Apelação criminal. Posse de substância entorpecente para uso próprio. Art. 28 da Lei 
nº11.343/06. Denúncia rejeitada sob o fundamento de atipicidade material. Princípio 
da insignificância. Inaplicabilidade. Conduta típica. Delito que ultrapassa os limites 
da liberdade individual do agente. Alcance do bem jurídico. Saúde pública tutelado. 
Reprovabilidade do comportamento. Retorno à origem para processamento do feito. 
Recurso conhecido e provido. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0000129-
57.2019.8.16.0118 – Morretes - Rel.: Juíza Bruna Greggio - J. 04.03.2020) 
 
 Entende a jurisprudência de maneira unânime que tal delito atinge a coletividade, pois 
o usuário para sustentar seu vício comete diversos delitos, perturbando a paz social. 
 
4. A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
PELO DELEGADO DE POLÍCIA 
 
O cargo de Delegado de Polícia passou a ter previsão na Constituição Federal de 1988, 
nos termos do artigo 144, parágrafo 4º.3 O delegado de polícia atua como representante do 
 
 Artigo:144, § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a 
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as 
militares. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art19
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Estado tem a incumbência de chefiar a Polícia Civil presidindo investigações, instaurando 
inquéritos, como determina a Lei Federal n. 12.830 de julho de 2013. 
 Sendo assim, o delegado de polícia é o primeiro garantidor da legislação penal e não se 
restringe apenas apuração de materialidade e autoria, mas faz análise de fatos e circunstâncias 
de infrações penais, podendo, de fato, deixar de instaurar inquérito policial e realizar uma 
análise, verificando causa excludente de tipicidade e ilicitude. Deste modo é visível que é uma 
autoridade importantíssima e essencial, pois, é o primeiro a se deparar com autoriae 
materialidade, sendo assim devera classificá-lo em qual norma penal enquadra se o fato para o 
tipificar, pois, é assim que entende o doutrinador Guilherme de Souza Nucci (2014, p. 190): 
o ideal é a autoridade policial, justamente porque lhe compete a apuração da 
materialidade das infrações penais da sua autoria, proceder à classificação dos crimes 
e contravenções que lhe chegarem ao conhecimento. Quando indicar suspeito, o 
delegado deve indicar o tipo penal no qual considera incurso o investigado. 
 
 Diante disso, nota-se que é uma autoridade com múltiplas funções, que realizará uma 
análise ao caso concreto e fará interpretações da letra fria do texto de lei, devendo apreciar com 
devida prudência, pois é um garantidor da liberdade do indivíduo em um primeiro momento 
tratando assim de um direito fundamental da pessoa humana e precisa ser visto como critério 
maior ainda mais tratando do campo penal, que lida com a liberdade do indivíduo, sendo assim 
possui a discricionariedade em lavrar o auto de prisão em flagrante ou não (NUCCI, 2014, p. 
120). 
Com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 e a consagração de diversos 
princípios, o delegado de polícia passou a deixar apenas de prender indivíduos, hoje sua função 
vai muito além disso. O delegado é o primeiro “juiz” da causa, que fará uma análise ao caso 
concreto podendo lavrar o auto de prisão em flagrante, estabelecer a concessão de liberdade 
provisória mediante fiança, determinar medidas cautelares, instaurar inquéritos policial entre 
outros. 
Deste modo, com o poder discricionário em sua mão, o delegado poderá de todo modo 
realizar análise da existência de ilicitude, dando assim uma maior agilidade ao judiciário, pois 
 
LEI FEDERAL 12.830 de julho de 2013: Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais 
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. 
§1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por 
meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das 
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. 
 
 
 
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o direito penal não deve se preocupar com fatos irrelevantes, de modo a causar tumulto 
e atrasar o julgamento de processos de maior relevância. 
Sendo assim há uma mudança no papel do delegado com a Constituição Federal de 1988 
podendo no uso de suas atribuições e prerrogativas dar maior agilidade ao judiciário, portanto, 
vale esclarecer que as decisões proferidas pelo delegado de polícia não vincula aceitação do 
Ministério Público, assim como a decisão do parquet não obriga o juiz a decidir de tal modo, 
podendo ocorrer que se o ministério público não concorda com o indiciamento ou a falta deste, 
basta pedir o arquivamento ou a denúncia, visto que são instituições independentes e uma não 
vincula a outra não havendo uma hierarquia como se pensa no senso comum. 
 Neste seguimento, é concreto afirmar que se trata de uma carreira de suma importância, 
de modo que faremos uma análise na sequência da possibilidade de aplicação da bagatela 
excluindo assim a tipicidade material da conduta. 
Diante de todas as mudanças constitucionais e com implantação de princípios no 
ordenamento jurídico, o delegado de polícia deixou apenas de instaurar inquéritos realizar 
investigações entre outras atividades. 
Devido a sua discricionariedade e suas prerrogativas funcionais, não está submisso ao 
Juiz ou Ministério Público, passou a ser também um garantidor de direitos fundamentais. 
Ele é um representante do Estado sendo o primeiro a se deparar com o caso concreto, 
tendo então a legitimidade em fazer uma análise dos fatos. De acordo com o princípio da 
proporcionalidade, que se pauta no bom senso deve sim tomar a decisão de como proceder, 
pois, não é plausível que venha agir sempre de forma automática com a instauração de inquérito. 
Mirabete (2001, p. 95) ensina: 
 
Com a cautela necessária, reconhecendo caber induvidosamente na hipótese 
examinada o princípio da insignificância, não deve o delegado instaurar o inquérito 
policial, o promotor de justiça oferecer denúncia, o juiz receber ou, após a instrução, 
condenar o acusado. 
 
Nucci (2014, p.772) no mesmo sentido entende: “Ora, se o delegado é o primeiro juiz 
do fato típico, sendo bacharel em Direito, concursado, tem perfeita autonomia para deixar de 
lavrar a prisão em flagrante se constatar a insignificância do fato”. 
De acordo com Sanches (2019, p. 31), se o fato for penalmente insignificante significa 
que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da 
insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no art. 386, III, 
do CPP”. 
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Nucci (2014, p. 756): 
 
Porém, nesse contexto, invade-se na moderna jurisprudência reinante, admitindo-se, 
por exemplo, o princípio da insignificância (crime de bagatela) como excludente da 
tipicidade material. Ora, apresentado alguém ao delegado, autor de um furto de 
pouquíssima monta, pode-se deixar de lavrar a prisão em flagrante, vislumbrando-se 
a bagatela. Registra-se a ocorrência, formalmente, transmitindo-a ao representante do 
Ministério Público, que, entendendo de modo diverso, poderá requisitar a instauração 
de inquérito. No entanto, evita-se, legitimamente, o trauma da prisão em flagrante, 
que seria calcada em fato potencialmente atípico. 
 
Aury Lopes Jr: (2014, p.14) argumenta que: 
 
Primeiro ponto é a necessidade de filtros para evitar investigações e acusações 
infundadas. Temos no Brasil delegacias com 40 mil inquéritos em andamento! Isso 
porque, toda notícia-crime vira, como regra, inquérito, logo... Outro ponto é a cultura 
brasileira: diante de qualquer problema, corremos para a polícia. Tudo vira BO... 
Então, necessário é que o Delegado possa e deva filtrar e se ocupar do que realmente 
tem fumaça de crime (fumus commissi delicti) e relevância. Sei que isso na prática já 
ocorre, mas de maneira informal e à margem do sistema legal. Portanto, pode dar 
problemas, com delegado sendo acusado de prevaricação, etc. O melhor é termos 
regras claras do jogo e assumir as responsabilidades. Segundo ponto é a própria 
qualificação dos Delegados, todos graduados (e muitos pósgraduados), submetidos a 
um concurso público difícil e que têm plena condição de avaliar a insignificância ou 
mesmo a existência manifesta de uma causa de exclusão da ilicitude (legitima defesa, 
etc.) para - legitimamente - 'deixar de realizar a prisão em flagrante' por ausência de 
tipicidade ou ilicitude aparente. Hoje, por medo de punições, muitos delegados são 
obrigados a realizar autos de prisão em flagrante e manter preso - até que o juiz 
conceda a liberdade provisória, dias depois - em situações de manifesta e escancarada 
legitima defesa. Situações de violência institucional completamente desnecessárias e 
ilegítimas. 
 
Assim cumpre destacar que o reconhecimento do princípio da insignificância é essencial 
já na fase pré – processual, não tendo que se prolongar até a fase judicial de modo a gerar gastos 
e fazer com que crimes mais gravosos venham ter suas investigações atrasadas. 
É de suma importância refletir que antes do delegado exercer o cargo é um operador do 
direito e detém independência jurídica, e tendo a capacidade de distingue entre condutas que 
merecem uma maior reprimenda entre as menores que devem ser aplicadas a ilicitude pela sua 
ínfima lesão ao bem jurídico tutelado. O ministro Celso de Mello menciona os requisitos em 
habeas corpus julgado, vejamos: 
 
O princípio da insignificância – que considera necessária, na aferição do relevo 
material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima 
ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidadesocial da ação, (c) 
o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade 
da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no 
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em 
13 
 
 
função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público 
em matéria penal. (HC 84412 MC/SP. STF. Relator: Ministro Celso de Mello). 
 
A farta jurisprudência na aplicação de tal princípio sendo então de tal modo indiscutível 
sua aplicação e hoje aos poucos, vem sendo reconhecida sua aplicabilidade por juízes e como 
parte da doutrina, pois nada mais é do que garantir direitos fundamentais como liberdade, sendo 
a prisão a última medida que se impõem. 
Em um caso ocorrido no estado do Rio de Janeiro, o Delegado de Polícia reconheceu a 
aplicação do princípio da insignificância, o membro do Ministério Público entendeu por 
oferecer a denúncia e o juiz absolveu sumariamente a acusada. No caso narrado, o Delegado 
entendeu por deixar de lavrar a prisão em flagrante de uma mulher que teria subtraído 13 (treze) 
bisnagas de produto para cabelos, que totalizavam o valor de 77,09 (setenta e sete reais e nove 
centavos), deixando, portanto, de indiciá-la, vejamos a sentença do magistrado. 
 
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ofertou denúncia em desfavor de 
S.L.M.A imputando-lhe a prática da conduta tipificada no artigo 155, c/c 14, II do 
Código Penal, narrando os fatos contidos na petição inicial de fls. 2A/2B, que veio 
instruída pelos autos de Inquérito Policial de fls. 2D/17. Os bens em tese subtraídos, 
na espécie em exame, foram preliminarmente avaliados em um total de R$ 77,09 
(setenta e sete reais e nove centavos), valor absolutamente insignificante para, mesmo 
em tese, vulnerar o patrimônio da pessoa jurídica inexistindo, portanto, qualquer risco 
mencionada à inicial, (ofensividade) mesmo diante da consumação do delito (o que 
sequer ocorreu). (0293255-64.2016.8.19.0001 Juiz de direito Marcos Augusto Ramos 
Peixoto). 
 
Deste modo tal sentença proferida pelo magistrado só demonstra que deve ser aplicado 
a insignificância quando preencher os requisitos, pode se concluir com está decisão que o papel 
do delegado de polícia está mudado perante a sociedade moderna e devendo ter no exercício de 
suas atribuições total discricionaridade, em como proceder mediante cada caso concreto, pois 
como acabamos ver no julgado acima, tal situação poderia ter sido finalizada em fase pré 
processual sem necessidade de se estender a fase processual. 
Para que possamos reforçar aplicação deste princípio pelo delegado, é valido, também, 
destacar o enunciado do (Segundo Encontro Nacional de Delegados) que teve como tema 
Aperfeiçoamento da Democracia e Direitos Humanos. (ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS 
DE MINAS GERAIS, 2018). Enunciado é pacificar uma discussão acerca de uma determinada 
matéria, sobre temas que apresentam controvérsias, tanto quanto na doutrina ou jurisprudência. 
 Preconiza o enunciado n. 8: “Delegado de Polícia pode aplicar o princípio da 
insignificância e deixar de lavrar auto de prisão ou apreensão em flagrante, sem prejuízo da 
instauração de investigação policial e do controle interno e externo”. 
14 
 
 
Também é valido destacar um informativo da promotoria do Estado do Paraná 
(informativo 345): 
 
Conduta manifestamente atípica. É possível a não lavratura do flagrante pelo 
Delegado de Polícia quando, fundamentadamente, se estiver diante de fato de notória 
atipicidade. Incontinenti, é imprescindível o encaminhamento das peças de 
informação ao Ministério Público. (CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DA 
PROMOTORIAS CRIMINAIS DO MPPR) 
 
Este informativo traz o entendimento de que o delegado pode fazer aplicação do 
princípio da insignificância, justificando seu entendimento, sem prejuízo ao ministério público, 
deste modo, mesmo sendo reconhecido pelo delegado a insignificância, será remetido ao 
ministério público, pois, é ele que detém a titularidade da ação, decidindo ele se faz a denúncia 
ou faz o arquivamento da ação penal. 
Deste modo, preenchido os vetores estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal e com 
entendimento firmado pela doutrina, tendo em vista, também, o enunciado formulado no 
encontro nacional de delegados e além disso informativo de nº 345 formulado pelo centro de 
apoio da promotorias criminais do Paraná, chega-se à conclusão de que aplicação deste 
princípio pela autoridade policial torna-se inquestionável. 
 
CONCLUSÃO 
 
O presente artigo teve como finalidade realizar uma busca na doutrina e na 
jurisprudência acerca da possibilidade de o delegado de polícia fazer aplicação do princípio da 
insignificância sem a necessidade de lavrar o auto de prisão em flagrante, com o 
reconhecimento de sua atipicidade material em fase pré processual. 
Tal princípio exclui a tipicidade material do delito, afastando a sanção punitiva do 
Estado e, caso preenchidos os requisitos e verificada a ausência de tipicidade pela inexistência 
de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, deve ser aplicado de imediato, pois a 
prisão é a última “ratio” devendo, no entanto, ser a última medida imposta, visto que há diversos 
doutrinadores que defendem aplicação deste princípio, como citado neste artigo, sendo firmado 
este entendimento também no encontro nacional de delegados e no Centro de Apoio 
Operacional da Promotorias Criminais do MPPR no informativo (345) que foi citado neste 
artigo, ficando firmado que é possível o delegado fazer aplicação, sem prejuízo ao Ministério 
Público, que se entender como causa de não aplicação poderá dar sequência na ação penal. 
15 
 
 
Diante disso, conclui-se que o papel do delegado de polícia vai além de simples atos 
costumeiros implantados há tempos, sendo sim um garantidor de direitos fundamentais, o 
primeiro juiz de causa, que se constatado a ínfima lesão deve ser aplicado tal princípio, de modo 
a não banalizar o direito penal com indiciamentos de menor relevância, pois, o direito penal 
exerce uma análise jurídica dos fatos, tendo total capacidade em como proceder em todos os 
casos, sendo assim, diante da posição doutrinária e os julgados mencionados neste artigo 
cientifico, preenchidos todos os requisitos mencionados pelo Supremo Tribunal Federal, deve 
de todo modo fazer aplicação deste, agindo assim de acordo com o entendimento firmado pela 
doutrina e de acordo com o princípio da proporcionalidade não necessitando mais delongas, 
pois ao realizar aplicação da bagatela em fatos irrelevantes, trará mais rápida soluções em 
crimes graves, tornando o direito penal eficaz, contra processos mais gravosos que causam 
temor e repúdio à toda a sociedade. 
 
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