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3.9- ISÓTOPOS RADIOATIVOS Os isótopos radioativos são utilizados na datação radiométrica de minerais e rochas. A datação radiométrica se baseia na desintegração radioativa que é o processo pelo qual o núcleo de um átomo sofre transformação espontânea pela emissão de partículas e de energia radiante. mudança no número atômico - Z mudança no número de nêutrons - N O átomo de um elemento químico (PAI) se transforma no átomo de um outro elemento químico (FILHO) através da emissão de partículas a (alfa), b(beta), captura de elétrons acompanhados de emissão raios g (gama). 87Rb 37 ––> b - + 87Sr 38 + n + Q (decaimento b) 147Sm 62 ––> 2a 4 + 143Nd 60 + Q (decaimento a) A taxa de decaimento de um nuclídeo instável PAI é proporcional ao número de átomos “P” remanescente em um tempo “t”. P a -(dP/dt) A proporcionalidade é eliminada pela utilização de uma constante que é a constante de decaimento radioativo (l), e a equação pode ser escrita na forma: lP = - (dP/dt) ou (dP/P) = l dt Integrando de P0 (número de átomos iniciais) até P (número de átomos remanescentes), e resolvendo essa integral obtém-se a equação: P = P0 e-lt O número de átomos (PAI) inicial é desconhecido, mas o número de átomos filho (F*) produzido pelo decaimento de um átomo pai é dada pela relação: F* = P0 - P Substituindo P0 na equação anterior temos: F* = P (elt - 1) Essa equação permite o cálculo da idade de uma rocha ou mineral utilizando um sistema isotópico envolvendo um átomo radioativo (PAI) e um radiogênico (FILHO). F* e P podem ser medidos, e l é uma constante determinada experimentalmente. Para que um sistema isotópico possa ser utilizado na datação de uma rocha ou mineral é necessário que: 1) l (constante de decaimento radioativo) deva ser conhecida com razoável exatidão. 2) O mineral ou rocha tenha se formado em um sistema geoquímico fechado, ou seja: átomos do elemento pai nem do elemento filho foram adicionados e/ou retirados do sistema desde o tempo “t = 0” (tempo de formação do mineral ou rocha que é o ponto de início do relógio radiométrico) 3) Não havia elemento filho no mineral ou rocha no tempo “t = 0”, ou a composição isotópica inicial do elemento filho pode ser determinada com confiança e corrigida. SISTEMA K-Ar Tanto o potássio (K) como o argônio (Ar) possuem três isótopos naturais: 39K = 93,2581% 40Ar = 99,60% 40K = 0,01167% 39Ar = 0,063% 41K = 6,7302% 36Ar = 0,337% O isótopo 40K decai para os isótopos 40Ar e 40Ca segundo as seguintes equações: 40K 19 + e- –––> 40Ar 18 (11,2%) le= 0,581 x 10 -10 a-1 40K19 –––> b- + 40Ca20 (88,8%) lb = 4,962 x 10-10 a-1 Meia-Vida (T1/2) do 40K = 1,25 Ga. Utilizando a equação do decaimento radioativo F* = P (elt - 1), então temos: 40Ar* = le/l 40K (elt - 1) resolvendo para “t”: t = 1/l ln [(40Ar*/40K) (l/le) + 1] K - Determinado por análise química Ar - Determinado por espectrometria de massa A idade obtida é função do tempo que o mineral ficou fechado para o Ar e K desde a sua formação. Complicação - geoquímica do K é diferente da geoquímica do Ar. Devido o argônio ser um gás, ele pode escapar por difusão da estrutura do mineral (perda de argônio). Causas da perda de argônio - Incapacidade do retículo cristalino; - Fusão parcial ou total; - Metamorfismo de altas T e P; - Aumento de T devido a metamorfismo de contato ou de soterramento; - Intemperismo e outras alterações químicas; - Dissolução e reprecipitação (evaporitos); - Quebras mecânicas, danos radioativos, choques de ondas etc. Conceito importante: Temperatura de fechamento ou temperatura de bloqueio - Temperatura na qual a perda de 40Ar* por difusão num dado mineral se torna negligível quando comparado com sua velocidade de acumulação. Temperatura de fechamento para: Hornblenda 500 - 700°C Muscovita 400 - 470°C Biotita 350 ± 50°C Feldspato cerca de 230°C Portanto, o que se está datando é a temperatura de fechamento do mineral, isto é: o tempo decorrido desde o fechamento do sistema para o 40Ar*. Consequentemente, com a datação com o sistema K-Ar obtém-se a idade de RESFRIAMENTO de: - Um evento metamórfico - Uma intrusão ígnea - Epirogênese O MÉTODO 40Ar/39Ar Essa técnica de datação geocronológica se baseia na formação de 39Ar por meio do bombardeamento de nêutrons do isótopo 39K, em um reator nuclear. A quantidade de 39Ar formado em uma amostra por irradiação de nêutrons é calculado pela equação: 39Ar = 39K DT ò j(e) t(e) de DT = duração de irradiação j(e) = densidade do fluxo de nêutrons com energia e t(e) = captura de 39K por nêutrons com energia e Resgatando a equação do cálculo da idade pelo sistema K-Ar, e dividindo ela pela equação que calcula a quantidade de 39Ar formado 40Ar* = le/l 40K (elt - 1) Temos que após a radiação por neutros de uma amostra o valor da razão 40Ar*/39Ar é dada pela equação: 40Ar*/39Ar = (le/l) (40K/39K) (1/DT) [(elt - 1) /( ò j(e) t(e) de)] O parâmetro “J” pode ser definido com base nos valores que são constantes ou podem ser “controlados” na equação anterior: J= (l/le) (39K/40K) (DT) [ ò j(e) t(e) de)] Dessa forma, a equação fica reduzida a: 40Ar*/39Ar = (elt - 1) / J O valor de “J” pode ser determinado irradiando uma amostra de idade conhecida junto com as amostras que se quer determinar as idades. Depois do valor da razão 40Ar*/39Ar da amostra de referência ser determinado o valor de “J” pode ser calculado pela equação: J = (eltm - 1) / 40Ar*/39Ar onde tm é a idade da amostra de referência. Assim, a idade a ser determinada de uma amostra é calculada pela equação: t = 1/l [(40Ar*/39Ar) J + 1] As idades obtidas pelo método 40Ar*/39Ar estão sujeitas às mesmas limitações da técnica convencional K-Ar, porque elas dependem da premissa de que não houve perda de 40Ar e de que não existe excesso de 40Ar (contaminação da atmosfera). SISTEMA Rb-Sr O rubídio (Rb) possui dois isótopos e o estrôncio (Sr) quatro: 87Rb = 27,8346% 84Sr = 0,56% 85Rb = 72,1654% 86Sr = 9,86% 87Sr = 7,00% 88Sr = 82,58% 87Rb 37 ——> b- + 87Sr 38 + n + Q l = 1,42 x 10-11 a-1 T1/2 = 49,2 Ga As abundâncias dos isótopos do Sr são variáveis por causa da formação do 87Sr (radiogênico) pela desintegração radioativa do 87Rb. Aplicando-se a equação: F* = P (elt - 1) tem-se então 87Sr* = 87Rb (elt - 1) Mas, como existe 87Sr inicial (87Sr0), portanto: 87Sr total = 87Srt = 87Sr0 + 87Sr* ou seja: 87Srt = 87Sr0 + 87Rb (elt - 1) Dividindo essa equação por 86Sr (no espectrômetro de massa são medidas razões isotópicas), temos: (87Sr / 86Sr)h = ( 87Sr /86Sr)0+ ( 87Rb/86Sr)h (elt - 1) onde h = hoje Esta equação representa a equação de uma reta: Y = b + mX b = (87Sr /86Sr)0 e m = elt - 1 O que pode ser datado pelo método Rb-Sr? minerais, rochas ígneas, metamórficas e sedimentares (com algumas restrições) Para que o método Rb-Sr possa ser aplicado, o sistema isotópico deve ser fechado (nem Rb nem Sr de fora do sistema foi adicionado desde o tempo “t=0”). Ademais, deve haver a cogeneticidade entre rochas e/ou minerais. Significado da idade Rb-Sr rocha magmática - idade de intrusão do magma rocha metamórfica - paraderivada (metamorfismo); ortoderivada (magmatismo) ?????????minerais - fechamento do sistema, similar ao K-Ar 87Sr 86Sr 87Sr 86Sr ( ) tg α = (eλt -1) tg α t=0 t 87Rb 86Sr R1 R2 R3 SISTEMA U-Pb O urânio (U) possui dois isótopos enquanto o chumbo (Pb) tem quatro isótopos. 238U = 99,27% 204Pb = 1,40% 206Pb = 24,10 235U = 0,72 % 207Pb = 22,10% 208Pb = 52,40 238U —> 8a + 6b- + 206Pb + Q l 238 = 1,55 x 10-10 a-1 T1/2 = 4,47 Ga 237U —> 7a + 4b- + 207Pb + Q l 235 = 9,8485 x 10-10 a-1 T1/2 = 703,8 Ma O 204Pb é o único isótopo que não é radiogênico, ou seja, não deriva de um PAI radioativo. O 208Pb se forma pelo decaimento radioativo do 232Th. A vantagem do sistema U-Pb é que dois isótopos do mesmo elemento PAI se desintegram em dois isótopos do mesmo elemento FILHO. Dessa forma, podem ser gerados dois sistemas geocronológicos distintos para o cálculo da idade, a partir da equação fundamental: F* = P (elt - 1) 206Pb* = 238U (el8t - 1) l8 = l238 207Pb* = 235U (el5t - 1) l5 = l235 Devem ser utilizados sistemas que não tenham Pb inicial, ou seja, que todo o Pb presente seja derivado do decaimento do U. Em função da geoquímica contrastante do U e Pb, diversos sistemas minerais possuem essa característica: uraninita e torianita (óxidos) zircão, torita. alanita, titanita (silicatos) monazita, apatita e xenotima (fosfatos) O zircão seguido da monazita e da titanita são os minerais mais comumente utilizados na datação pelo método U-Pb. Duas equações são utilizadas para compor um diagrama binário para o cálculo da idade. Esse diagrama é denominado de Diagrama Concórdia porque, nele é representada a linha CONCÓRDIA, na qual as idades calculadas pelos sistemas isotópico 238U—>206Pb* e 235U—>207Pb* são coincidentes ou concordantes. Em geral, os minerais (ou frações de minerais) analisados não plotam exatamente na concórdia por uma série de razões, sobretudo pelo fato de que o sistema U-Pb não seria totalmente fechado nos minerais utilizados na datação. Com isso, dificilmente pode ser obtida uma idade concordante. Todavia, as diversas frações de minerais se alinham ao longo de uma reta denominada de discórdia, cuja intercessão com a concórdia indica a idade dos minerais. 500 1000 2000 206Pb* 238U 207Pb* 235U 500 1000 2000 206Pb* 238U 207Pb* 235U A datação geocronológica de zircão, monazita e titanita indica a idade de formação desses minerais. Em rochas ígneas, portanto, seria obtido a idade do magmatismo. No entanto, em rochas metaígneas (e.g. ortognaisses) as idades da monazita e titanita, geralmente, indicam a idade do metamorfismo. A interpretação das idades U-Pb em zircão, monazita e titanita, pode não ser tão simples assim, mas para efeito desse curso será adotada essa interpretação simplificada. SISTEMA Sm-Nd Samário (Sm) e Neodímio (Nd) fazem parte do grupo dos Elementos Terras Raras (ETR). Esses elementos têm grande resistência à lixiviação, são de difícil difusão no estado sólido, e insensibilidade às influências térmicas. Nas rochas e minerais terrestres a razão 0,1< Sm/Nd > 0,5 devido à grande similaridade química entre Sm e Nd. O Sm (Z = 62) tem 7 isótopos com as seguintes massas: 144Sm – 3,1% 147Sm – 15,0% 148Sm – 11,2% 149Sm – 13,8% 150Sm – 7,4% 152Sm – 26,7% 154Sm – 22,8% O Nd (Z = 60) tem 7 isótopos com as seguintes massas: 142Nd – 27,1% 143Nd – 12,2% 144Nd – 23,9% 145Nd – 8,3% 146Nd – 17,2% 148Nd – 5,7% 150Nd – 5,6% 147Sm 62 ––> 4a 2 + 143Nd 60 + Q l = 6,54 x 10-12 a-1 T1/2 = 106 Ga Aplicando a equação da Idade: F* = P (elt - 1) 143Nd* = 147Sm (elt - 1) 143Nd = 143Nd0 + 147Sm (elt - 1) (143Nd/144Nd)h = (143Nd/144Nd)0 + (147Sm/144Nd)*(elt - 1) Aplicações 1) Idade de rochas magmáticas cogenéticas principalmente rochas máficas e ultramáficas – diagrama isocrônico similar ao sistema Rb-Sr. 2) Parâmetro eNd 3) Idades-Modelo Evolução Isotópica do Nd na Terra (Parâmetro eNd) A abundância do isótopo radiogênico 143Nd e, portanto, da razão 143Nd/144Nd da Terra, tem crescido com o tempo devido ao decaimento radioativo do 147Sm para 143Nd. A evolução da razão 143Nd/144Nd da Terra pode ser descrita por um modelo baseado na idade e na razão Sm/Nd (147Sm/144Nd) da Terra e na razão 143Nd/144Nd primordial. A idade da Terra e a razão primordial 143Nd/144Nd são conhecidos a partir de análises isotópicas dos meteoritos. Meteorito Idade (Ga) (143Nd/144Nd) inicial Juvinas 4,56 ± 0,08 0,50677 Angra dos Reis 4,562 ± 0,031 0,506664 Passamonte 4,58 ± 0,12 0,50681 Moore County 4,60 ± 0,03 0,50676 Moama 4,58 ± 0,05 0,50684 A evolução isotópica do Nd da Terra é representada por um modelo que assume que o valor da razão Sm/Nd da Terra é igual àquela dos meteoritos condríticos, ou seja: a composição isotópica do Nd da Terra teria evoluído em um Reservatório Uniforme com valor da razão Sm/Nd igual aquela dos meteoritos condríticos. CHUR – CHondritic Uniforme Reservoir Valores atuais do CHUR: 143Nd/144Nd = 0,512638 147Sm/144Nd = 0,1967 Pode-se calcular o valor da razão 143Nd/144Nd no CHUR a qualquer tempo “t” no passado (143Nd/144Nd)h = (143Nd/144Nd)t + (147Sm/144Nd)h*(elt - 1) (143Nd/144Nd)t = (143Nd/144Nd)h – (147Sm/144Nd)h*(elt - 1) A fusão parcial do CHUR origina magmas com valores da razão Sm/Nd menores que no CHUR, portanto, rochas ígneas formadas a partir destes magmas tem hoje valores da razão 143Nd/144Nd mais baixos que do CHUR. Por sua vez, no sólido residual que permaneceu após a retirada do magma, o valor da razão Sm/Nd torna-se maior que no reservatório condrítico. Consequentemente, nestas regiões empobrecidas do reservatório condrítico, com o passar do tempo, o valor da razão 143Nd/144Nd fica mais alta do que no CHUR. É possível comparar o valor da razão inicial 143Nd/144Nd de rochas ígneas na crosta da Terra com a razão 143Nd/144Nd correspondente no CHUR na época em que estas rochas se cristalizaram. Com isso, pode-se saber se os valores da razão inicial 143Nd/144Nd de diferentes tipos de rocha são mais altos ou mais baixos do que a razão 143Nd/144Nd do CHUR quando as rochas se formaram. Entretanto, como a diferença ente as razões isotópicas que se quer comparar são muito pequenas, foi introduzido por De Paolo e Wasserburg (1976) o parâmetro epsilon (e) etCHUR = {[(143Nd/144Nd) trocha – (143Nd/144Nd) tCHUR] / (143Nd/144Nd) tCHUR}*104 etCHUR expressa as diferenças entre o valor da razão inicial 143Nd/144Nd de uma suíte de rochas e o valor correspondente da razão 143Nd/144Nd no CHUR, na época da cristalização da rocha. Esta comparação pode ser feita também para o tempo atual (hoje) e para qualquer tempo “t” e > 0 (positivo) – indica que a rocha foi derivada de um sólido residual no reservatório depois de já ter havido a retirada de magma em uma época anterior. O reservatório está empobrecido em LILE que preferem a fase liquida durante a fusão parcial e < 0 (negativo) – indica que as rochas derivaram de fontes com valores da razão Sm/Nd menores que a do CHUR. Estas rochas foram derivadas de, ou assimilaram rochas crustais antigas cuja razão Sm/Nd foi originalmente diminuída quando houve a separação do CHUR. e ~ 0 – A composição isotópica do Nd na rocha é similar a do CHUR e a rocha pode ter sido derivada diretamente deste reservatório. Idade Modelo Sm/Nd O modelo TCHUR pode também ser usado para calcular a idade na qual o Nd em uma rocha da crosta se separou do reservatório condrítico. As idades-modelo determinam o tempo no passado ondeo valor da razão (143Nd/144Nd) da rocha era igual ao valor desta razão no CHUR. (143Nd/144Nd)trocha = (143Nd/144Nd)hrocha - 147Sm/144Ndhrocha (elt - 1) (143Nd/144Nd)tCHUR = (143Nd/144Nd)hCHUR - 147Sm/144NdhCHUR (elt - 1) (143Nd/144Nd)trocha = (143Nd/144Nd)tCHUR 𝐓𝐜𝐡𝐮𝐫 = 1 λ ln + ,143Nd144Nd1h, rocha − , 143Nd 144Nd1 t, chur ,147Sm144Nd1h, rocha − , 147Sm 144Nd1 t, chur > + 1 A idade-modelo TDM é normalmente usada em vez da TCHUR, pois considera-se que o manto tipo CHUR ficou empobrecido nos elementos litófilos (LIL e HFS) que se enriqueceram na crosta, quando da formação da crosta no Arqueano e, portanto o manto ficou empobrecido nesses elementos litófilos. Com isso foi proposto o modelo de Manto Empobrecido (Depleted Mantle – DM). Valores atuais do DM: 143Nd/144Nd = 0,513114 147Sm/144Nd = 0,222
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