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1Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Efeito Estufa A Amazônia e os aspectos legais 2 Terezinha de Jesus Soares PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Sérgio Machado Rezende DIRETOR DO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA DA AMAZÔNIA– INPA Adalberto Luis Val REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Hidembergue Ordozgoith da Frota GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAZONAS Carlos Eduardo de Souza Braga SECRETÁRIA DE ESTADO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Marilene Corrêa da Silva Freitas PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DO AMAZONAS Odenildo Teixeira Sena Esta obra foi publicada com o apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM Rua Recife, n. 3280. Parque 10 de Novembro, Manaus – AM www.fapeam.am.gov.br e-mail – gabinet@fapeam.am.gov.br SECT 3Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Efeito Estufa A Amazônia e os aspectos legais Terezinha de Jesus Soares Manaus – 2007 4 Terezinha de Jesus Soares Copyright © 2007 Universidade Federal do Amazonas EDITORES Renan Freitas Pinto (EDUA) Isolde Dorothea Kossmann Ferraz (Inpa) Niro Higushi (Inpa) Vera Maria Fonseca de Almeida e Val (Inpa) EDITORAÇÃO ELETRÔNICA (MIOLO) Adylia Verushka Moraes Melara SUPERVISÃO EDITORIAL E REVISÃO Cinara Cardoso CAPA Priscila de Araújo Noronha FOTOS DA CAPA www.sxc.hu EDUA Editora da Universidade Federal do Amazonas Rua Monsenhor Coutinho, n. 724 – Centro Fone: (0xx92) 3231-1139 CEP 69.011-110 Manaus/AM www.ufam.edu.br e-mail: edua_ufam@yahoo.com.br Catalogação na Fonte S676e Soares, Terezinha de Jesus. Efeito estufa: a Amazônia e os aspectos legais / Terezinha de Jesus Soares. -- Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas / Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007. 171 p.: Il.; 21cm ISBN 85-7401-220-3 (EDUA) ISBN 978-85-211-0031-7 (Editora INPA) 1. Clima - Influência humana. 2. Efeito estufa. 3. Efeito estufa - Amazônia. I. Título. CDU 551.588.7 Ficha elaborada por Guilhermina de Melo Terra Departamento de Biblioteconomia EDITORA INPA Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Av. André Araújo, n. 2936 – Aleixo Fone fax: (0xx92 55) 3642-3438 3643-3223 Caixa Postal 478, CEP 69.083-000 Manaus/AM, Brasil e-mail: editora@inpa.gov.br http://editora.inpa.gov.br e-mail: editora@inpa.gov.br 5Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Dedicatória À Lais, ao Paulo Vitor e à Tamires 6 Terezinha de Jesus Soares 7Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Agradecimentos A Deus, que me permitiu chegar até aqui; À minha mãe, que me ensinou os primeiros passos; Ao Dr. Niro Higuchi pelo apoio e orientação; À Omarina, pela amizade, que resume tudo; A todos os meus amigos e amigas pelo incentivo. 8 Terezinha de Jesus Soares 9Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Prefácio As questões climáticas globais, na forma de política internacional, foram tratadas formalmente na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que foi assinada durante a Rio-92, em 1992, no Rio de Janeiro. O objetivo superior da Convenção é estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa (GEE) aos níveis que impeçam que as atividades humanas afetem perigosamente o sistema climático global. O desdobramento da Convenção é o Protocolo de Quioto assinado em 1997, no Japão. O Protocolo entrou em vigor somente em 16/02/05, nonagésimo dia após a data que as Partes incluídas no Anexo I que contabilizaram no total pelo menos 55% das emissões totais de CO2, em 1990, depositaram seus instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão. O Secretário Geral da ONU é o fiel depositário da Convenção e do Protocolo. A COP (Conferência das Partes), com apoio do SBSTA (Corpo Subsidiário para Aconselhamentos Científico e Tecnológico) é responsável pela implementação dos dois instrumentos. Uma Parte da Convenção ou do Protocolo pode ser uma simples nação como EUA, como um grupo de nações como a Comunidade Européia. Os procedimentos técnicos para a implementação da Convenção e do Protocolo são de responsabilidade do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). No Brasil, a Convenção foi ratificada pelo Senado da República e publicada no DOU de 04/02/1994 - Decreto Legislativo nº 01; sendo, desde então, uma lei brasileira. Quanto ao Protocolo, há apenas o projeto de Decreto Legislativo 1664/2002, com parecer favorável do Relator, ainda em tramitação no Congresso Nacional. Em 1999, o Governo brasileiro criou a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, tendo os Ministros da Ciência e Tecnologia e o do Meio 10 Terezinha de Jesus Soares Ambiente, respectivamente, como presidente e vice da mesma. Duas das principais finalidades da Comissão são: (i) definir critérios de elegibilidade adicionais àqueles considerados pelos Organismos da Convenção, encarregados do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), conforme estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável e (II) apreciar pareceres sobre projetos que resultem em redução de emissões e que sejam considerados elegíveis para o MDL e aprová-los, se for o caso. De acordo com a Convenção, os países que mais emitiram GEE para a atmosfera, desde a revolução industrial ocorrida em meados do século XIX, teriam que reduzir, em 2000, os níveis de emissão destes gases (especialmente CO 2 ), com base nas emissões de 1990. O Protocolo estabeleceu limites de emissões de GEE para 38 destes países, chamados de “Partes do Anexo B.” As Partes aceitaram metas variadas baseadas no princípio da “diferenciação,” que reconhece que alguns países são mais capazes de reduzir suas emissões do que outros, na maneira como eles produzem e usam energia, no acesso às tecnologias limpas e aos seus níveis de poluição, entre outros numerosos fatores. Desta forma, o Protocolo de Quioto, além de ser uma lei internacional, é uma oportunidade de negócios para todos os países da ONU. O Brasil, em termos de preparação da base legal para o cumprimento da Convenção e do Protocolo, vem cumprindo aquilo que foi acordado. Além disso, a emissão de GEE via uso de tecnologia (queima de combustível fóssil, produção de cimento) está dentro dos limites aceitáveis pela Convenção. No entanto, a emissão via uso do solo (desmatamento na Amazônia, especialmente) continua fora do controle e isto pode custar caro ao País. Estas são as questões de fundo deste livro. Ph.D Niro Higuchi Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia 11Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Sumário Introdução ................................................................................................ 1 Análise comparativa ........................................................................... 1.1 Pesquisa bibliográfica ................................................................... 1.2 Pesquisa documental .................................................................... 2 O efeito estufa e o clima global ........................................................ 2.1 Convenção, protocolos, tratados internacionais ................... 2.1.1 O mundo se preocupa com o clima .................................. 2.1.2 Acordos para proteção da natureza ................................. 2.1.3 Antecedentes da convenção – quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima ..................................... 2.1.4 O protocolo de Quioto ....................................................... 2.1.5 Mecanismos de flexibilização .......................................... 2.2 A convenção do clima e o direitopositivo brasileiro ............ 2.2.1 Compromissos do Brasil ..................................................... 2.2.2 O fórum brasileiro de mudanças climáticas .................. 2.2.3 Construindo a comunicação nacional ............................ 2.2.4 Florestas x MDL .................................................................. 2.2.5 Transportes e eletricidade ................................................. 2.3 Regulamentação do uso do solo amazônico e suas conseqüências ................................................................................ 2.3.1 Políticas públicas para aAmazônia ................................. 2.3.2 O meio ambiente nos estados e municípios ................. 2.3.3 O meio ambiente no estado do Amazonas ................... 2.4 Conhecimentos sobre o tema abordado: científico, tecnológico e legal ........................................................................ 2.4.1 Tecnologias alternativas ................................................... 3 O Brasil fecha questão na implementação conjunta .................... 3.1 Mudanças globais fora do governo ............................................ 3.2 Mudança no uso do solo na Amazônia .................................... 3.3 Devastação e fiscalização ............................................................. Conclusão ................................................................................................. Referências ............................................................................................... Obras consultadas ................................................................................... 15 19 19 20 25 33 39 43 47 53 55 57 64 67 70 77 79 83 91 98 101 106 110 119 134 137 148 156 162 169 12 Terezinha de Jesus Soares Lista de figuras Figura 1. Percentual mundial de emissão de CO2 ........................... Figura 2. Metas do Protocolo de Quioto para as partes do anexo I Figura 3. Linguagem adequada ajuda as crianças a entenderem o efeito estufa ............................................................................ Figura 4. Ocupação de área em alta floresta em 1986 do satélite LANDSAT ............................................................................... Figura 5. Resultado do avanço da fronteira agrícola (...) no ano 1997 .......................................................................................... Figura 6. Obras do Programa Brasil em Ação em janeiro de 1998 Lista de tabelas Tabela 1. Datas, locais e presidentes das sessões da COP, até o ano 2000 ................................................................................. Tabela 2. Unidades de conversão na Amazônia até o ano 2000 Tabela 3. Relação desmatamento autorizado/não autorizado na Amazônia ................................................................................ Tabela 4. Taxa média do desflorestamento bruto (km2/ano) ............ 54 57 127 142 143 151 50 96 152 155 13Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Lista de siglas AIE – Agência Internacional de Energia ANEEL – Agência Reguladora Nacional de Eletricidade BIRD – Banco Mundial de Reconstrução e Desenvolvimento BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CEE – Comunidade Econômica Européia CDM – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo CIDES – Comissão Interministerial para o Desenvolvimento Sustentável CIN – Comitê Internacional de Negociação COP – Conferência das Partes COPERSUCAR – Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito DOU – Diário Oficial da União EITS – Países com Economia em Transição GEE – Gases de Efeito Estufa GEF – Global Environmental Facility (Fundo Global para o Meio Ambiente) IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais JUSSCANNZ – Japan, United States, Switzerland, Canadá, Austrália, Norway, New Zealand MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MME – Ministério de Minas e Energia OASIS – Aliança dos Pequenos Países Insulares OMM – Organização Meteorológica Mundial OIG – Organizações Intergovernamentais ONG – Organizações Não-Governamentais PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPA – Plano Planurianual PRODEEM – Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios SBI – Órgão Subsidiário de Implementação SBSTA – Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico SCA – Secretaria de Coordenação de Assuntos da Amazônia Legal UNFCC – United Nations-framework Convention on Climate Change (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) 14 Terezinha de Jesus Soares 15Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Introdução As atividades humanas têm provocado significativas mudanças na paisagem terrestre e, mais recentemente, na atmosfera. O consumo de combustíveis fósseis e as mudanças no uso da terra liberam uma série de gases que se acumulam na atmosfera em quantidades tais que impedem que parte da energia solar retorne ao espaço. Isso potencializa o aquecimento do globo agravando o efeito estufa. Estudos revelam que a temperatura média da superfície terrestre pode aumentar de 1 a 3,5ºC até o ano 2100. O crescente agravamento dessa situação motivou a busca de uma solução de amplitude global, uma vez que todos os países contribuem para a situação e deverão sofrer as conseqüências. Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD (Rio-92), realizada no Rio de Janeiro, foi adotada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (em inglês, United Nations Framework Convention on Climate Change – UN-FCCC) pela qual os países reconheceram a gravidade da situação e se comprometeram a adotar providências no sentido de contribuir para reduzir os efeitos dessas mudanças. As providências incluíam o compromisso de reduzir até o ano 2000 suas emissões de gás carbônico e outros gases causadores de efeito estufa em quantidade que não ultrapassasse os níveis de 1990. O Brasil foi o primeiro dos 186 países, mais a Comunidade Européia que, até o ano 2001, assinaram a Convenção. O Brasil também é um dos países vulneráveis aos efeitos da mudança climática. Entre esses efeitos anunciam-se problemas de várias magnitudes, de alcance local e global. No início das discussões, na década de 1980, o grau de incertezas a respeito do aquecimento global era considerável. Com o 16 Terezinha de Jesus Soares passar do tempo essas incertezas vêm dando lugar a evidências cada vez mais claras de que o aquecimento global está alterando os ecossistemas naturais. Não há mais que se contestarem as mudanças, a questão principal agora é a sua magnitude e a velocidade com que elas acontecem. A preocupação maior dos cientistas é com a elevação do nível do mar, provocada pelo aquecimento das águas e o derretimento do gelo nos pólos, que ameaça países em todas as latitudes, mas muito especialmente os países insulares e o litoral de vários outros, entre os quais o litoral brasileiro. Em Pernambuco pesquisadores já constataram mudanças do nível do mar, o Pará e o Rio de Janeiro também encontram-se ameaçados. Outro problema que se anuncia catastrófico é a quebra da estrutura da produção de alimentos em decorrência de alterações no regime hidrológico nas áreas de plantio. A Convenção do Clima prevê obrigações diferenciadas para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em 1997, a Convenção adotou o Protocolo de Quioto estabelecendo metas diferenciadas de redução de emissões e mecanismos de negociação destinados aagilizar o cumprimento das metas por determinados países. Este trabalho se propõe a conferir até que ponto o Brasil vem fazendo sua parte no cumprimento dessas obrigações. Aqui não se discute se o efeito estufa existe ou não, nem se questiona sua abrangência. Parte- se do pressuposto que, tendo aderido livremente à Convenção, o Brasil reconhece o problema, se compromete a colaborar para sua mitigação e por isso deve agir conforme acordado. A Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima é um Tratado de Direito Internacional e é sob esta ótica que precisa ser implementada, considerando-se tanto as normas de Direito Internacional, como as normas de Direito Interno, garantidas pela Constituição Federal e pelo conjunto da legislação brasileira, especialmente a legislação ambiental. 17Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais O efeito estufa é agravado pela emissão acima dos padrões de dióxido de carbono (CO 2 ), metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e sulfoexafluoreto (SF 6 ), denominados gases do efeito estufa – GEE, produzidos pela queima de petróleo e pela mudança no uso da terra, representada pela derrubada e queima das florestas no mundo inteiro. A maior contribuição brasileira para o efeito estufa decorre da queima da floresta amazônica, uma vez que a produção energética nacional se faz, basicamente, por hidrelétricas. O tema é abordado do ponto de vista da legislação brasileira, para verificar os pontos de convergência e aqueles que fazem conflitar a legislação nacional e o cumprimento das obrigações assumidas no âmbito da Convenção. Na análise são consideradas pesquisas científicas, políticas públicas ambientais, programas e projetos voltados para o meio ambiente, o uso dos recursos naturais ou que, de outra forma, têm influência nas questões climáticas e contribuem para o agravamento ou a mitigação do efeito estufa. Considera-se também a legislação dos estados, incluindo o Amazonas, que mantém ainda 98% de suas florestas intactas e pretende utiliza-las dentro dos mecanismos criados pelo Protocolo de Quioto. Em síntese, este trabalho situa-se na área de políticas públicas e gestão ambiental tendo como base de comparação normas e preceitos do direito ambiental. Destina-se a analisar a legislação e o comportamento do Brasil diante das obrigações assumidas junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A partir das conclusões sugerem-se atitudes que, podem contribuir para agilizar a implementação da Convenção, através do envolvimento da comunidade nacional na discussão da mudança do clima, preparar as populações potencialmente atingidas pelos efeitos dessas mudanças e criar poder de barganha para os representantes brasileiros nas instâncias de negociação da Convenção e do Protocolo de Quioto. 18 Terezinha de Jesus Soares 19Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Capítulo 1 Análise comparativa E ste trabalho adota a metodologia proposta por Ferrari (1982) que consiste, na aplicação do: Método Comparativo, usando, para o levantamento de dados: 1.1 Pesquisa bibliográfica A adesão do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, é considerada, inicialmente do ponto de vista do Direito Internacional, por ser um tratado entre nações que decidiram livremente trabalhar em conjunto e individualmente para produzir resultados que beneficiam a todos indistintamente. Entre os autores consultados, dá-se preferência ao trabalho do professor Oyama César Ituassu, catedrático de Direito Internacional Público da Universidade do Amazonas que se destacou como teórico nesta área. No que se refere ao direito ambiental internacional é adotada a bibliografia de Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, não apenas um teórico, mas, enquanto embaixador, um homem com experiência comprovada na negociação internacional o que concede ao seu trabalho características muito especiais. O aspecto científico trabalha com os dados do IPCC, as decisões das COPs, os autores brasileiros e estrangeiros, iniciando pelos primeiros teóricos do desenvolvimento, os que propuseram impor limites ao crescimento econômico e populacional, temendo que a 20 Terezinha de Jesus Soares capacidade de suporte da terra se esgotasse em razão da demanda por alimentos necessários para alimentar a população cada vez mais crescente. Chega-se à constatação de que hoje o problema está também no espaço aéreo e não apenas no solo ou na água, o que, cada vez mais, limita a capacidade do planeta em processar os resíduos produzidos pelo crescimento populacional e pela intensa exploração dos recursos naturais. O agravamento do efeito estufa e todas as conseqüências que ele provoca começa a chamar a atenção do mundo que discute o problema, propõe soluções e conclui pela Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e seus desdobramentos. Para saber até que ponto a Convenção vem sendo cumprida esses dados foram trabalhados comparativamente, cruzadas as informações e analisados os seus significados. 1.2 Pesquisa documental – para levantamento das informações foram utilizados como fonte: a) Documentos de 1.ª mão compostos pela: Documentação oficial – caracterizada pelo conjunto da legislação ambiental e agrária federal, estadual e municipal (direito positivo), resoluções do Conama, programas e projetos que compõem as políticas ambientais. Imprensa: jornais, revistas, telejornais – foi levantado o noticiário sobre meio ambiente, ciência e tecnologia e afins nos jornais de grande circulação e nas principais revistas semanais, mas os jornais Folha de São Paulo e A Crítica e a revista ISTOÉ 2000/2001, foram acompanhadas sistematicamente constatando-se que o espaço dedicado ao tema efeito estufa é bastante considerável, que o volume maior é 21Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais para noticiário e menor para a análise da situação e que, embora metade das matérias se baseie no noticiário internacional, tendo como fonte as agências de notícias e as revistas científicas, contemplam algo da opinião de pesquisadores e especialistas brasileiros. A partir do anúncio de que os Estado Unidos abandonaram o Protocolo de Quioto o tratamento dado à questão pelo New York Times e CNN, foi acompanhado via internet, apenas para efeito de comparação com a cobertura nacional. O Aquecimento Global foi matéria de capa da revista TIME, de 09 de abril de 2001, com 14 páginas. A primeira frase da reportagem especial intitulada Feeling the heat vaticina que, exceto pela guerra nuclear ou a colisão com um asteróide não há força de maior potencial de destruição da vida no nosso planeta que o aquecimento global (tradução pessoal). Motivada pela retirada dos EUA do Protocolo de Quioto a revista examina os sinais do aquecimento global, as possíveis conseqüências futuras, a urgência das ações e porque o mundo tem falhado em agir prontamente. Na mesma data e ao mesmo tema Época abriu duas páginas e meia e ISTO É não abriu espaço para a decisão de Bush. Não se trata de arquivo e sim de um cliping produzido pela autora diretamente dos jornais e revistas em 2000/2001 e com o objetivo de acompanhar a dinâmica da cobertura dos eventos ligados às mudanças climáticas no período correspondente à execução do trabalho. As matérias foram classificadas por sua ligação direta com o tema em estudo: a) mudanças climáticas, b) efeito estufa, c) Convenção do Clima, d) Protocolo de Quioto. As fontes foram classificadas em 1) nacionais e 2) internacionais. Documentação indireta – Do conjunto de pronunciamentos das autoridades brasileiras foram estudados os discursos dos Ministros de Ciênciae Tecnologia e do Presidente da República nas Conferências das Partes, na Reunião Rio+5, na abertura do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em Seminários e Workshops. Analisados também 22 Terezinha de Jesus Soares os programas de seis grandes encontros sobre o meio ambiente no Brasil no ano 2001. A autora participou do Encontro Verde das Américas, em Brasília, que em três itens contemplava o aquecimento global e a Convenção do clima. Considerando-se a angulação do trabalho do ponto de vista da legislação foram consultadas as bibliotecas da Câmara e do Senado Federal, onde encontram-se as seguinte ocorrências para o tema – no Senado, 09 revistas, 3 jornais, 2 livros e 01 Texto para discussão; na Câmara, 09 revistas e 07 livros. Nas duas casas as revistas são de informação geral e especializada e apenas a Câmara inclui revistas estrangeiras – Ambio e Foreign Affairs. Arquivos públicos – no item políticas, programas, projetos, além do conteúdo da CIMGC para formação da Comunicação Nacional e do Inventário Nacional de Emissões, constantes do site do MCT, foram levantados os conteúdos da Política Nacional Integrada para a Amazônia, da Coordenação da Amazônia no site do Ministério do Meio Ambiente e uma série de publicações do PPG7. b) Documentos de 2.ª mão – Esse trabalho se apresenta como pioneiro. Apesar dos vários autores que trabalham com efeito estufa, nenhum dos documentos encontrados analisam o problema do ponto de vista aqui proposto. Os Documentos foram analisados segundo: Métodos clássicos § Análise interna – de base racional e caráter objetivo de seu conteúdo diante da proposta principal, que é a mitigação do clima e o cumprimento das obrigações previstas na Convenção. 23Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais § Análise externa – que permite análise de contexto em que as ações se desenvolvem e os pronunciamentos são feitos, assim como a origem dos documentos, seus autores e sua repercussão na sociedade. Métodos Quantitativos § Análise semântica quantitativa – do discurso oficial em relação à política realmente implementada. § Análise de conteúdo – abrangendo a documentação disponibilizada pela CIMGC. Os dados levantados ao final de todo esse processo receberam § Análise qualitativa – que, através de métodos comparativos, estabeleceu a necessária relação entre a Legislação Brasileira e a Convenção do Clima, permitindo que se alcancem os objetivos propostos. 24 Terezinha de Jesus Soares 25Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Capítulo 2 O efeito estufa e o clima global P erda de biodiversidade, desertificação, chuva ácida, desflorestamento. Estes são alguns dos problemas ambientais que mais afligem a humanidade nos dias atuais, pois embora ocorram em determinados pontos do planeta, sua repercussão se faz sentir em termos globais. Na opinião de alguns cientistas, no entanto, a alteração na camada de gases da atmosfera, também denominada efeito estufa, é o problema principal porque pode afetar o globo como um todo. A utilidade do Efeito Estufa é a retenção do calor em torno do globo regulando a temperatura e permitindo que a vida se desenvolva da maneira como a conhecemos. Duas são as suas fontes: Natural – que resulta da quantidade de produtos químicos lançados na atmosfera pelos vulcões e pela flutuação na intensidade da luz solar que chega à superfície terrestre; como também pelas trocas gasosas entre a biosfera e a atmosfera. Antrópica – produzida pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) e pelo uso do solo (desflorestamento, criação de gado e plantações anuais). O efeito estufa é necessário para a manutenção do clima e importante para a vida terrestre no seu todo. Em excesso, no entanto, esses gases formam uma espécie de cobertura espessa demais, que retém o calor, aquecendo a superfície da terra além do necessário e projetando mudanças que preocupam cientistas, ambientalistas, ecólogos e dirigentes políticos no mundo inteiro, porque devem afetar o clima 26 Terezinha de Jesus Soares de diferentes partes do globo, em diferentes intensidades, mas sempre trazendo muitos problemas, tanto ambientais quanto econômicos, incidindo na produção de alimentos, no abastecimento de água e no nível dos mares, que poderá subir e invadir zonas costeiras em diferentes pontos da terra e até fazer desaparecer alguns países insulares. A idade da terra é calculada em 5 bilhões de anos, ao longo dos quais sofreu modificações as mais diversas – realinhamentos, mudanças nos campos magnéticos, avanços e retrações das montanhas de gelo. A existência de vida na terra gira em torno de 3,5 bilhões de anos, durante os quais espécies surgiram e desapareceram, modificaram- se ou se fundiram até chegar à realidade tal qual a conhecemos. Percebe- se com certa facilidade que os processos de formação da terra, começando com o big-bang, a formação da Pangaea, as eras glaciais, a aproximação e distanciamento dos continentes, até a distribuição das espécies, desenvolveram-se durante milhões de anos, se calculados numa escala de tempo. Segundo Simon (1992) as décadas e os séculos, duração de algumas gerações humanas, são a escala de tempo na qual os oceanos, a atmosfera e a biota interagem para formar o sistema climático físico. Esses sistemas estão ligados pelo fluxo de umidade que existe no globo na forma de vapor, líquido e gelo e mudam em resposta a processos e interações que ocorrem durante períodos muito mais curtos, que vão de estações até horas. Nessa estrutura de tempo, a biosfera da Terra influencia e responde a ciclos que fazem deslocar pelo ambiente do globo substâncias-chave como carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre. A atmosfera terrestre é composta por uma série de gases, que em última instância são quem determina a capacidade da terra em manter o equilíbrio entre a energia recebida e a energia liberada. Os principais gases da atmosfera são: nitrogênio (78,1%), oxigênio (21%) e gases traços (0,9%). Em decorrência de sua quantidade na composição 27Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais atmosférica, o vapor d’água é o principal responsável pelo efeito estufa, os outros componentes estão presentes em menores quantidades, medidas à razão de partes por bilhão – ppb (SIMON, 1992). O fator que vem incomodando o mundo da ciência, a partir da década de 1970 é o aumento acentuado, contínuo e constante da concentração de CO 2 na atmosfera (SALATI, 1994). Os principais GEE são o dióxido de carbono (CO 2 ), metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e sulfohexafloreto (SF 6 ). Atualmente o CO 2 constitui 0,034% da atmosfera. Estudos do gelo glacial demonstram que o nível de CO 2 durante as eras glaciais era de aproximadamente 200ppm. Entre os períodos glaciais, quando a terra esteve quente, era de 288ppm. Hoje encontra-se em 350ppm e aumentando (SIMON, 1992). Apenas dois grandes ecossistemas trabalham na absorção desse gás: as florestas em processo de crescimento e os oceanos. Parte da radiação solar dirigida à terra é absorvida pela superfície terrestre (70%), a outra parte (30%) é refletida na forma de calor. Desta, uma parcela se dissipa e retorna ao espaço enquanto outra parcela é impedida de retornar pela barreira de gases que funcionam como uma estufa, absorvendo a radiação infravermelha e propiciando o aquecimento da terra. A ocorrência natural desse processo mantém constante a temperatura em torno de +15ºC. Sem a ocorrência natural do efeito estufa a temperatura média planeta seria em torno de – 18ºC (SIMON, 1992). A presença influente do homem sobre a terra pode ser situada entre 30.000e 10.000 anos atrás, quando apareceu o Homo sapiens (GIOVANNINI, 1987), embora haja registros mais antigos da presença de homens mais primitivos, como o homem de Neanderthal, 80.000 anos atrás. Mas a esse tempo a intervenção do homem no ambiente era incipiente. Ele vivia apenas do que a terra oferecia – caça, pesca e 28 Terezinha de Jesus Soares coleta de frutos. Ainda não derrubava, não construía, embora já dominasse o fogo. As principais modificações se dão no período neolítico, 6.000 a 3.000a.C. quando o homem começa da dominar a natureza e a fazer a transição de simples caçador, para agricultor e criador. Desse ponto em diante o homem, suas realizações e conquistas, a simples ocupação do espaço é suficiente para mudar não apenas a paisagem, mas também o balanço dos gases na atmosfera. E à medida que a sociedade se desenvolve, à medida que o homem doma a natureza e dela se apropria, mais mudanças ele produz. O mundo antigo é marcado pelo esplendor da Grécia e de Roma assim como pelas guerras de conquista e ataques bárbaros. Durou até 476, quando o último imperador romano foi derrubado. Na idade média, que se prolongou até 1453, destaca-se o feudalismo, voltado para a agricultura e o pastoreio, usando técnicas e instrumentos de trabalho bastante rudimentares. Mas a ação humana sobre o meio ambiente, já bastante significativa, é marcada pela intervenção na paisagem através da arquitetura, em que se destacam a construção de igrejas, grandes castelos e fortificações, tão necessários à manutenção do sistema feudal. Apesar de não haver registros sobre o tema, estudos do World Wildlife Found – WWF, constataram que já nos séculos V e VIa.C., as florestas começaram a desaparecer porque a madeira era usada como combustível e nas construções. Em volta do Mediterrâneo, os humanos destruíram tanto as comunidades naturais que agora é difícil para os pesquisadores determinar quais plantas são naturais e quais são introduzidas ou como era a vegetação original (SIMON, 1992). O século XV traz consigo uma nova visão de mundo, do mundo moderno, com a queda do sistema feudal e a abertura para o comércio, o advento das colônias marítimas e a ascensão dos interesses econômicos da burguesia. Caminhava para o processo industrial. A invenção da máquina a vapor (século XIX) é apresentada como tendo 29Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais marcado a passagem da sociedade agrícola para a industrial, mas a invenção da imprensa com tipos móveis, em 1450, por Gutenberg, pode também ser tomada como um marco significativo, ainda na vigência do feudalismo. Comentando o assunto Castagni (1987) afirma que a mecânica tipográfica constituiu o primeiro processo de trabalho através do qual o homem produziu objetos iguais e em grande quantidade. O invento de Gutenberg, o conseqüente desenvolvimento das máquinas e os melhoramentos técnicos introduzidos no processo de impressão, é um primeiro ato na revolução que se iniciava na Europa. Com a imprensa, o progresso tecnológico da era industrial já encontrava à sua disposição um homem habituado à produção em série e automatizada dos próprios movimentos (MCLUHAN apud CASTAGNI, 1987). Multiplica-se, a partir daí, a disseminação do conhecimento, a comunicação das idéias, a troca de notícias, inventos e descobertas e leva para os séculos seguintes o homem que faz a revolução industrial e que, com a força da máquina, explora cada vez mais a natureza (madeira, força da água, metais e carvão) e amplia, continuamente, sua capacidade de modificação do ambiente. A essa altura o mundo já evoluiu social, cultural e economicamente. O campo já não satisfaz, a produção é intensificada e diversificada. Os conceitos de trabalho e produção são outros. O operário substitui o artesão e a produção necessita de mão de obra especializada. A forma de usar e dispor dos recursos naturais e do espaço se modifica a cada dia, para dar abrigo às populações que crescem, à necessidade de mais alimento, moradia, meios de transporte e espaços para circulação. Outro fator importantíssimo é a velocidade com que essas mudanças se processam e sua pressão sobre os recursos naturais, especialmente a necessidade, sempre crescente, de energia. O progresso técnico, a industrialização, os avanços científicos e as necessidades inerentes ao desenvolvimento, levam à descoberta, 30 Terezinha de Jesus Soares exploração e consumo do petróleo e às mudanças drásticas no uso da terra. Simon (1992) afirma que o furor das mudanças que a humanidade causou ao ambiente global desde o início da industrialização convida à suposição de que a alteração da paisagem terrestre pelo ser humano é um fenômeno relativamente recente, quando comparado à idade da terra. É possível afirmar que as mudanças começaram com o próprio caminhar da humanidade, mas o século XIX foi decisivo para o aumento das emissões de gases do efeito estufa. Especialmente do Dióxido de Carbono – CO 2 . Os níveis de CO 2 aumentaram em volume de 280 ppm, antes da Revolução Industrial, para quase 360 atualmente. Estima-se que, de 1751 a 1990, 230 bilhões de toneladas de carbono, na forma de CO 2 foram introduzidos na atmosfera terrestre pela queima de carvão e petróleo e de 1859 a 1990, cerca de 120 bilhões de toneladas pelo desmatamento. Independentemente da liberação de GEE, a intervenção humana no meio ambiente e o uso indiscriminado dos recursos naturais, começaram a tornar visíveis os seus efeitos a partir de meados do século XX. Considerem-se, apenas como exemplo, as seguintes ocorrências-chave: 1) a doença de Minamata, anos 50, no Japão; 2) a disseminação dos inseticidas, tipo DDT; 3) as Marés Negras, em Amoco Cadiz/França, 1978; 4) o incêndio no campo de Nowruz, Golfo Pérsico, 1983; 5) o desastre nuclear de Chernobil, em 1986; e 6) derramamento de óleo no mar, pelo encalhe do navio Exxon Valdez, no Alasca em 1989. A partir dos anos 50 o sistema industrial funciona como um verdadeiro vulcão artificial. Num estado de crescente atividade os poluentes exercem ação particularmente destrutiva à escala de toda a biosfera. O CO 2 , que no final dos anos oitenta era emitido pelos combustíveis fósseis à razão de 25 bilhões de t/ano é o maior poluente em volume, com um acréscimo incessante da sua concentração 31Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais no ar (DELÈAGE, 1997). O metano (CH 4 ), encontra-se na atmosfera em menor quantidade, mas tem poder de absorção de infravermelho, trinta vezes superior ao CO 2 . É liberado por fontes biológicas como os pântanos e turfeiras, combustão da biomassa, pelo metabolismo dos ruminantes e pelos arrozais. O CFC 12 é o mais poderoso dos GEE. Sua molécula absorve dezessete mil vezes mais energia que a do gás carbônico. Num balanço das atividades humanas, praticamente tudo implica em produção de GEE: indústria química de petróleo, plantas energéticas, agricultura, pecuária, exploração madeireira ou o simples utilizar de um carro de passeio. Até os anos 50 a interpretação que se fazia da abundância dos recursos naturais é de que eles são infinitos. Em muitos setores não só ainda se pensa assim como se procede como se esta fosse uma verdade absoluta. Mas a natureza começou a dar sinais do stress que o homem vem provocando. Segundo Deleàge (1997) a questão efeito estufa começou a ser sistematizada em 1957 quando Revelle e Suess anunciaram, na revista Tellus, que o oceano já não reciclava todo o carbono da atmosfera e afirmaram que os seres humanos procediam a uma experiência geofísica em tal escala que, no período de alguns séculos, enviaram para a atmosfera e os oceanos, carbono orgânico concentrado e acumulado nas rochas sedimentares durantecentenas de milhões de anos. A partir de 1958 Charles G. Keeling, trabalhando no observatório de Mauna Loa, no Hawaí, atendendo sugestão de Revelle, iniciou a medição de CO 2 na atmosfera. Os estudos revelaram dois tempos bem definidos na liberação de carbono: um, em torno de 1800, que acompanha o aumento da utilização da hulha (carvão) e outro na segunda metade do século XX, que corresponde à aceleração do consumo dos combustíveis fósseis pelos países industrializados. Durante os primeiros dez anos de medições, evidenciou-se o aumento 32 Terezinha de Jesus Soares médio da ordem de 0,23% ao ano, aumento que passou para 0,44% durante a década de oitenta, ou seja, a taxa de crescimento de CO 2 duplicou em menos de vinte anos. São em média 25 bilhões de t/ CO 2 /ano lançadas na atmosfera pelas atividades humanas. As projeções dão conta de que o aquecimento médio do planeta estará em torno de 1,5ºC e 4,5ºC até 2050 (DELEÀGE, 1997) e em se concretizando as previsões mudanças significativas se processarão. Relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC, prevêem que a temperatura média poderá aumentar e 0,3 a 0,4ºC a cada 10 anos, provocando verões mais secos na América do Norte e na Europa e secas mais severas e mais freqüentes, quadro que se agravará nos países em desenvolvimento. A elevação do nível dos mares, um dos resultados previstos do aquecimento global deverá, no mínimo, deslocar de suas terras milhões de pessoas que virão engrossar a vaga de milhões de refugiados do ambiente que já povoam os bairros degradados do terceiro mundo (DELÈAGE, 1997). Na emissão de CO 2 pela queima de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) enquadram-se a produção de energia elétrica, a produção industrial e os automóveis. A emissão pela queima da biomassa, da floresta, é provocada pela mudança no uso da terra, que provoca o desmatamento, para todos os fins – produção madeireira, agricultura e pecuária, crescimento das cidades. Na divisão de responsabilidades os países ricos ficam com a maior parte – 65%, enquanto os países pobres, em desenvolvimento, contribuem com 34%. A questão principal é como diminuir a emissão. A quem cabe essa responsabilidade considerando-se que os países ricos são os principais produtores de GEE e que os países pobres não podem prescindir do processo de desenvolvimento? O automóvel é o vilão do aquecimento global. Consome um terço da produção mundial de petróleo, emite CO 2 , que contribui 33Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais para o aumento do efeito estufa e óxido nitroso, que provoca a chuva ácida. Há 500 milhões de automóveis registrados em todo o mundo, número que aumenta mais rapidamente do que a população, particularmente nos países em desenvolvimento. A persistir a tendência atual, por volta de 2025 haverá quatro vezes mais automóveis do que hoje (SIMON, 1992). Mas quem, em nome do desaquecimento global tomará, conscientemente, a decisão de trocar o conforto do seu automóvel pelo sistema de transporte coletivo, por exemplo, pelo menos aqui no Brasil? A produção de alimentos também tem sua parcela de contribuição. A área dedicada à colheita expandiu-se 450% nos últimos 300 anos, chegando a um aumento mundial de aproximadamente 12,4 milhões de quilômetros quadrados. A perda líquida de florestas, desde que o homem começou a cortar árvores, está entre 15% e 20% da área florestada do mundo, aproximadamente 8 milhões km². Nos últimos três séculos a população das 40 maiores áreas urbanas aumentou quase 25 vezes, com um aumento ainda maior da área urbana estimada (SIMON, 1992). O que não pode ser esquecido é o fato de que muitos desses problemas decorrem do incessante crescimento da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento. 2.1 Convenções, Protocolos, Tratados Internacionais Em geral as questões ambientais ultrapassam fronteiras, pois, ainda que levadas a efeito dentro de um determinado território, têm influência em territórios vizinhos (poluição das águas fronteiriças) e até mesmo em territórios distantes (chuva ácida), muitas vezes assumindo caráter global (buraco na camada de ozônio e aquecimento global). A solução dessas questões não pode se restringir à legislação interna de 34 Terezinha de Jesus Soares cada país. Ela se rege por legislação e jurisprudência muito mais abrangentes, por tratados e convenções internacionais, aos quais os países aderem por força da necessidade de manterem intactas as relações entre si e para buscar soluções conjuntas. É o caso típico das Mudanças Climáticas que ameaçam todos os países de forma indiscriminada. As questões jurídicas relacionadas à mudança do clima ou à Convenção de Mudanças Climáticas, fundamenta-se no Direito Internacional. Definir Direito Internacional não é obra das mais simples, pois são várias as correntes doutrinárias. O presente trabalho acompanha a opinião do professor Oyama Ituassú (1986), de que toda definição é provisória, porque oscila, desenvolve-se e se robustece, à medida que se amplia o estudo, novos horizontes surgem e são transpostos. Assim acontece com o Direito Internacional, cujo campo de ação tomou impulso a partir da segunda década do século XX, inclusive tendo em vista a globalização do Direito Internacional Público. Mais especificamente dos acordos, tratados e convenções sobre questões ambientais, que se amiúdam a partir de 1925, quando foi assinado o Protocolo de Genebra sobre guerra bacteriológica. Nas palavras do próprio Ituassú, Direito Internacional Público, pode ser definido como “a soma de preceitos normativos que têm por objetivo regular o entendimento inter-relacional da sociedade comunitária”. Por sociedade comunitária Ituassú entende a vida coletiva em seu sentido universal, a comunidade universal como seu verdadeiro alvo. Tratando-se da aplicação teórico/prática o Direito Internacional tem seu campo de atuação nos vários ramos do direito: Civil, Penal, Comercial, Processual, Constitucional, Administrativo e do Trabalho. Já o direito ambiental, segundo Silva (1995), não é um ramo autônomo do direito, “é uma manifestação das regras de direito internacional, desenvolvidas dentro de um enfoque ambientalista”. Ele define o Direito Ambiental Internacional como sendo “o conjunto de 35Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais regras e princípios que criam obrigações e direitos de natureza ambiental para os Estados, as organizações intergovernamentais e os indivíduos”. O sujeito do direito ambiental internacional é o Estado, representado por suas instituições, mas é do indivíduo o papel principal na observância dos princípios do direito, em qualquer campo, assim como a obediência aos seus preceitos e normas. O respeito ou o descaso para com o meio ambiente é que irá garantir, ou não, a sua proteção (idem). Para colocar melhor a questão pode-se buscar uma definição para direito ambiental entre Paulo Affonso Leme Machado e Paulo de Bessa Antunes, autores consagrados, referência no ensino universitário. Machado (1982) prefere citar outros brasileiros e estrangeiros ou a jurisprudência, a exemplo de Tycho B.F. Neto que conceitua Direito Ambiental como sendo “o conjunto de normas e princípios editados objetivando a manutenção de um perfeito equilíbrio nas relações do homem com o meio ambiente”. Antunes (1990) partindo da análise do que chama de linhas mestras da defesa ambiental, conclui que as estruturas que estão envolvidas no sistema legal de proteção ao meio ambiente são, ainda, muito precárias e não chegam a se constituir em um perfeito ramo do direito, suficientemente amadurecido para que possam se impor sobre outros ramos. O que não impede, segundo o mesmo autor,que em algum tempo a defesa ambiental se consolide e venha a se constituir num novo ramo do direito: o Direito Ambiental. Portanto, estes dois autores concordam com Silva, que a defesa ambiental lança mão de regras e princípios de outros ramos do direito. O termo Direito Ambiental Internacional, no entanto, segundo Silva (1995), foi reconhecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas na resolução 44/228, de 1989, que convocou a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Na verdade, a questão não está codificada como um ramo exclusivo do direito, como cível ou penal. 36 Terezinha de Jesus Soares Trata-se, isso sim, da aplicação das regras de direito internacional às questões de cunho ambiental. Se constrói, portanto, sobre as mesmas bases ou as mesmas fontes, em que merecem destaque os princípios gerais do direito, o costume, a doutrina e os tratados internacionais. Os tratados, segundo Ituassú (1986) têm origem remotíssima. Surgiram primeiramente por declaração verbal ou mediante a invocação dos deuses, registrando-se sob a forma escrita no século XIVa.C., para firmar um acordo entre hititas e Targasnalis, príncipe de Hapala. Tiveram larga aplicação com os gregos e os romanos, especialmente com os últimos, que estabeleceram formas e preceitos novos como amizade, hospitalidade e paz. Dependiam da aprovação pelo Senado Romano. Exprimiam sempre um acordo entre Estados, no sentido do bem comum ou visando à regulamentação de assuntos particulares. Definem-se como um ato jurídico pelo qual um ou mais estados manifestam seu acordo quanto ao objeto proposto. Podem ser bilaterais, multilaterais ou plurilaterais. Sua essência está no assunto a que se referem, em sua natureza e fins a que visam. Atendendo aos aspectos citados, Ituassu divide os tratados em duas espécies: tratados-contratos, que regulam interesses e questões particulares entre Estados participantes e os tratados-leis ou tratados normativos, que traçam normas de conduta coletiva, disciplinando direitos e deveres de todos quantos integram a comunidade internacional. Os tratados-leis têm feição exponencial na vida e no desenvolvimento do direito internacional. São eles que presidem as grandes manifestações jurídicas dos povos, assentando as linhas mestras do procedimento dos Estados e, principalmente, cerceando os excessos, disciplinando a sociedade. São elaborações de natureza jurídico-política e/ou de natureza administrativa. No primeiro caso, Ituassú (1986) cita a Declaração de Paris, 1856, as Convenções de Haia, 1899 e 1907 e a Convenção sobre Direito Marítimo, de 1958. A 37Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Convenção sobre Propriedade Industrial, 1883, seria de natureza administrativa enquanto a que criou a Organização Mundial de Saúde, em 1954, enquadra-se nas duas espécies. Já a Carta das Nações Unidas tem estrutura essencialmente normativa, pois as regras que contém se destinam a dirigir e orientar a comunidade internacional em um sistema destinado a constitucionalizar sua construção e deliberações. Mas, por seus objetivos, tem também o caráter formador de uma instituição mundial (idem). Sob o título “tratados” estão abrigados também os protocolos, acordos, convênios e convenções que podem ter caráter regional, bilateral ou global. Dentre aqueles de que o Brasil faz parte podem ser citados: a Convenção para a regulamentação da pesca à baleia, de 1946, o Tratado para a proscrição de armas nucleares na América Latina, 1967, o Acordo de pesca e preservação de recursos vivos Brasil/Uruguai, de 1968 e o Tratado de Cooperação Amazônica. A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é típica desses tratados de caráter global, que têm a virtude de determinar, de maneira nítida, ou quase nítida, os direitos e as obrigações das partes contratantes (SILVA, 1995). O sujeito do Direito Internacional é o Estado, mas as organizações intergovernamentais e seus representantes têm papel preponderante nas discussões, definições e firmatura dos tratados e convenções. Ituassú (1986) enumera os chefes de Estado, Ministros das Relações Exteriores, agentes diplomáticos e consulares, ou outros designados para tal, que expressam as relações essenciais à constituição da comunidade internacional de acordo com a lei interna de cada país. Além dos Estados as organizações internacionais têm atuação fundamental nas questões de direito internacional. São elas que entram em campo quando as regras deixam de ser respeitadas ou a título preventivo, buscando o consenso, estimulando e promovendo a 38 Terezinha de Jesus Soares cooperação internacional e cuidando para que as relações se processem da melhor forma, podendo, inclusive, firmar tratados em nome dos Países que representam, como é o caso da Comunidade Econômica Européia – CEE. A Organização das Nações Unidas – ONU é a principal dessas organizações e reúne sob seus auspícios várias outras instituições. Criada em 26 de junho de 1945, substituiu a Liga das Nações e, de certa forma, a Corte Permanente Internacional de Justiça, que se desfez logo em seguida para ressurgir como órgão jurídico da própria ONU. Seus objetivos, conforme a Carta das Nações Unidas, são: preservar as gerações dos flagelos da guerra, reafirmar os direitos fundamentais do homem e a igualdade de direitos entre as nações, criar condições sob as quais possam manter-se a justiça e o respeito às obrigações emanadas dos tratados e outras fontes de direito internacional e ainda promover o progresso social e elevar o nível de vida dentro do mais amplo conceito de liberdade (NORDENSTRENG, 1990). Outros organismos dedicam-se a assuntos mais específicos. A Organização dos Estados Americanos – OEA e a Organização dos Tratados do Atlântico Norte – OTAN, são voltados para a defesa coletiva e a segurança continental, enquanto a Organização Mundial de Saúde – OMS, cobre a área que lhe dá o nome. Em termos ambientais destacam-se, entre outras, a Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, a Organização Marítima Internacional – OMI, que cuida dos assuntos relativos à poluição do mar e à preservação de seus recursos. Para tratar especificamente das relações do meio ambiente, desenvolvimento e populações foi criado em junho de 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, que coordena as atividades de todos os organismos da ONU com relação ao meio ambiente. Atua junto à governos, comunidades científicas, industriais e organizações não-governamentais – ONGs . 39Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais No âmbito das questões climáticas a responsabilidade está com a Organização Meteorológica Mundial – OMM, mas em termos de mudanças climáticas globais o assunto está sob a égide da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que se reúne anualmente na Conferência das Partes – COP, com a assessoria do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima – IPCC. 2.1.1 O mundo se preocupa com o clima A pesquisa sistemática sobre o efeito estufa se inicia em 1957, com Revelle e Suess, mas desde 1798, segundo Tamames (1977), as atividades humanas causavam preocupação, embora não com relação ao clima. Acreditando que em determinado momento os recursos alimentícios mundiais resultassem insuficientes para alimentar a população Malthus, em sua obra “An essay on the principle of population (...)” (1798), propunha o controle da expansão demográfica através da redução da natalidade. Malthus justificava que enquanto a população se desenvolvia em progressão geométrica (crescimento exponencial) a produção de alimentos tendia a crescer em progressão aritmética(crescimento linear). Foi contestado por Karl Marx em sua “Teoria da Mais Valia”, que alegava não provir a miséria do número excessivo da população, mas do regime de propriedade privada com todas as suas seqüelas. David Ricardo, baseado na Lei dos Rendimentos Decrescentes, citado por Tamames (idem) partia da hipótese do caráter limitado dos recursos da terra, segundo o que, maior produção necessita de maior aporte de trabalho e capital. John Stuart Mill, em “Princípios da Política Econômica”, publicada em 1848 (apud TAMAMES, 1977), reconhecia a teoria de 40 Terezinha de Jesus Soares Malthus sobre a expansão sem freio da população enquanto John Maynard Keynes (idem) não aceitava a tese do estado estacionário. Para ele o impasse poderia romper-se através dos gastos públicos, da política monetária e fiscal e de outros meios utilizados para estimular o crescimento. Apesar dos aspectos políticos e econômicos das teses citadas o componente ambiental esteve sempre presente na preocupação com o risco de a capacidade da terra ser insuficiente para sustentar o crescimento populacional. A questão evoluiu para o crescimento econômico e social em geral encontrando defensores do crescimento sem limites e adeptos da idéia de crescimento zero, e continuou a integrar as preocupações dos pensadores ao longo dos anos, como o atesta Tamames (1977): Fue tras la secuencia Gran Depressión/Segunda Guerra Mundial/reconstrucción económica/ guerra fria quando la polêmica del crecimiento surgió com toda su fuerza y se difundió a múltiplos niveles, sobre todo em los países desarollados. Em combinación, ciertamente, com los estudios de prospectiva que ya a mediados de la década de 1960 empezaron a cobrar um importante impulso. O aspecto global do perigo ecológico é creditado ao anúncio da morte do Oceano por Ehrlich, em 1969 e com o relatório Meadows encomendado pelo Clube de Roma em 1972. Mas, segundo Tamames (idem) o assunto já fora tratado pelo próprio Ehrlich, em 1968, na obra The population bomb, em que defendia a necessidade de se limitar o crescimento da população tanto nos países em desenvolvimento, quanto nos países industriais, concretamente nos Estados Unidos, em razão da contaminação e degradação do meio ambiente, que deriva do crescimento e tem como efeitos negativos toda classe de situações sociais combinadas com a expansão urbana. 41Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais Antes, porém de Ehrlich, Boulding (apud TAMAMES, 1974) já defendera atitudes de freio ao crescimento em artigos publicados em 1945, The Consumption Concept in Economic Theory e 1949, Income or Welfare que não tiveram tanta repercussão. Boulding é o autor da tese que define a terra como uma nave espacial, publicada em 1966 sob o título The Economics for the Coming Spaceship Earth. Ele partia da premissa de que a economia do planeta terá que ser concebida como um sistema fechado que exige princípios econômicos diferentes dos que imperaram na exploração como sistema aberto, próprio de uma economia de Cow-boy, baseado na abundância, aparentemente ilimitada de recursos e espaços livres para deposição e vertedouro de resíduos e contaminantes. E no entanto a terra é um sistema fechado, daí a idéia de nave espacial, cujos recursos são limitados e os espaços finitos, passíveis de contaminação e de destruição. Robert Heilbroner (apud TAMAMES, idem) é outro que tratou da questão em 1970, antes dos estudos do Massachusetts Institute of Technology – MIT para o Clube de Roma. Para ele, como em qualquer aeronave, a sobrevivência dos passageiros da nave espacial terra depende do equilíbrio entre a capacidade de carga do veículo e as necessidades dos seus habitantes. Mas o ponto limite da capacidade já foi ultrapassado devido a três fatores que impõem sérias limitações à capacidade de vida do planeta: a população galopante, os efeitos cumulativos da tecnologia e a fome. Heilbroner divide os passageiros da nave espacial terra em primeira e segunda classes. Na primeira estariam os habitantes dos países desenvolvidos e na segunda os dos subdesenvolvidos. Ele acreditava que pelos recursos esperáveis do mundo e pela tolerância do meio ambiente, a maioria dos passageiros será sempre de segunda classe. A não ser que trocas impostas dentro da nave os tornem de uma única classe. São inúmeros os autores que trataram da questão ora defendendo limitar o crescimento econômico 42 Terezinha de Jesus Soares e frear o crescimento populacional, ora favoráveis à tese do crescimento ilimitado, acreditando que o equilíbrio acabará por acontecer. Os trabalhos realizados sob os auspícios do Clube de Roma são considerados pontuais na presente questão, embora seu foco central não fosse a atual concepção do meio ambiente, que só se torna explícita um pouco mais adiante. Os estudos realizados pelo MIT, produziram três trabalhos. O primeiro e mais conhecido é “Limites ao Crescimento” (The Limits to Growth), foi publicado em 1972. Os outros são: Toward global equilibrium: Collected Papers (1975) e The Dynamics of growth in a finit world (1977). Para o Clube de Roma ficava clara a existência de limites físicos superiores (os ecológicos de alcance global) e insuficiências derivadas do sistema humano de organização: as políticas divergentes das nações soberanas. A única saída razoável não é outra, pois, que um marco global que permita resolver os problemas (idem). O Clube de Roma é uma espécie de universidade invisível, formada por uma centena de personalidades que, em 1968 decidiram examinar o vasto conjunto de problemas que preocupavam os homens nas mais diferentes latitudes: a pobreza em contraste com a abundância; a degradação do ambiente; o crescimento urbano sem controle; a insegurança e o emprego, a alienação da juventude, a inflação e outras distorções monetárias e econômicas (TAMAMES, 1977). Em todos esses trabalhos, os assuntos principais são a economia e a política, mas em nenhum momento a questão ambiental esteve ausente, uma vez que o crescimento populacional não pode ser dissociado do ambiente, da ocupação dos espaços e da exploração dos recursos naturais enquanto o crescimento econômico se baseia na exploração desses mesmos recursos, na utilização da matéria prima, especialmente a energia. As conclusões de Revelle e Suess e o trabalho de Heilbroner receberam maior atenção quando dos estudos para o Clube de Roma 43Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais que se revestiram da maior importância no cenário econômico mundial, despertando para a necessidade de se estabelecer uma nova ordem internacional, ao ponto de o presidente do Clube, Aurélio Pecei, constituir um grupo de especialistas para indicar “que nova ordem internacional deveria se recomendada aos estadistas e grupos sociais de todo o mundo para enfrentar, de modo mais prático e realista, as urgentes necessidades da população atual e as exigências prováveis das gerações futuras”. Os primeiros rascunhos do relatório foram entregues na sétima Assembléia Geral ONU em 1975, e as conclusões finais um ano depois, de onde se destacam as recomendações seguintes: – acesso por todos e para todos à tecnologia e à informação científica; – administração internacional para os espaços oceânicos e aéreos além das jurisdições nacionais; – utilização racional da energia, com atenção muito especial à conservação dos recursos não renováveis e com maior aproveitamento das fontes de energia não convencionais. 2.1.2 Acordos para proteção da natureza No que se refere a medidas para regular as relações do homem com a natureza e no que isso resulta ao longo do tempo, há na história inúmeros atos destinados a coibir a degradação do meio ambiente, principalmentequanto à pureza da água e do ar, como a proclamação de 1306, do rei Eduardo I, proibindo o uso do carvão nas fornalhas abertas de Londres. A pena, em caso de violação, era uma multa; em caso de reincidência, a fornalha seria demolida e ocorrendo uma terceira violação da proclamação, o responsável pagaria com a vida (SILVA, 1995). A primeira lei protecionista brasileira é o Regimento do Pau 44 Terezinha de Jesus Soares Brasil, de 12/12/1605, que proibiu o corte da árvore sem a expressa licença real ou do provedor da capitania em cujo distrito estivesse a mata explorada. A pena para o infrator era o confisco de toda a fazenda. (WAINNER, 1991) Nos tempos modernos, Silva (idem) considera que o I Congresso Internacional para a Proteção da Natureza, realizado em Paris, em 1923, representa o primeiro passo importante no sentido de abordar o problema no seu conjunto. O primeiro tratado em defesa do Meio Ambiente foi assinado em Londres, em 1954. Trata-se da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo, assunto sobre o qual duas outras convenções foram assinadas em 1969. O Brasil é signatário da Convenção internacional sobre responsabilidade civil em danos causados por poluição por óleo. É parte também de uma série de outros tratados, convenções e protocolos firmados até o ano de 1973, voltados para a proteção da fauna terrestre e marinha, regulamentação da pesca à baleia, proteção dos vegetais e dos recursos naturais em geral. Mas a respeito dos quais, segundo Silva (idem), os Estados não tinham uma consciência ecológica no seu sentido mais amplo. As questões eram encaradas sob um prisma mais restrito, de combate a problemas específicos. Como está provado o fator população, com todos os problemas que o acompanham, é desde muito tempo, uma grande preocupação de pensadores e pesquisadores. Em 1968, materializando essas preocupações a UNESCO fez realizar, em Paris, a Conferência Internacional da Biosfera, onde surgiu a idéia da realização, pela ONU, de um encontro destinado a discutir os problemas ambientais. Essa idéia se materializou em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, com a participação de 113 países, quando foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA. Segundo Tamames (1977), os 45Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais preparativos para a Conferência foram árduos, repletos de dificuldades e dentro de um ambiente de tensão, originado por encontros paralelos, também em Estocolmo, por grupos de ecologistas independentes e com os mais diversos propósitos. Os países em desenvolvimento se mostraram pouco receptivos e até mesmo contrários aos pontos defendidos na Conferência, por se considerarem prejudicados na discussão das questões ambientais. Defendiam que mais importante era seu processo de desenvolvimento econômico e social. O Brasil foi um dos países firmemente contrários às posições ambientalistas. As colocações do embaixador brasileiro Araújo e Castro (SILVA, 1995) declaravam que os planos submetidos à Conferência identificavam-se com os problemas e as preferências dos países industrializados e não levavam em consideração as necessidades e as condições dos países em desenvolvimento. Essa posição foi considerada pela Conferência, influenciou o movimento ambientalista mundial e motivou a inclusão de aspectos de interesse dos países em desenvolvimento, capazes de conciliar desenvolvimento e proteção ambiental. Da Conferência resultou a Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, proclamada em junho de 1972, composta de 26 princípios comuns que proclamam o direito do homem a viver em ambiente de boa qualidade, bem como a responsabilidade de proteção e melhoria desse ambiente para as gerações futuras. Outro grande passo no sentido de encontrar um meio termo nas relações homem x ambiente foi a criação pela ONU, em 1983, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Brundtland, Ministra do Meio Ambiente da Noruega e que resultou no relatório Nosso Futuro Comum, apresentado à Assembléia Geral da ONU em 1987 e que representa a possibilidade de uma nova era de crescimento econômico, apoiado em práticas que 46 Terezinha de Jesus Soares conservem e expandam a base de recursos ambientais, essencial para mitigar a pobreza que se vem intensificando na maior parte do mundo em desenvolvimento. Criava-se assim a tese do desenvolvimento sustentável, como objetivo a ser alcançado não só pelas nações em desenvolvimento, mas também pelas industrializadas. Sobre as questões climáticas globais a Comissão considerou que devido ao efeito estufa, é possível que, já no início do século XXI as temperaturas médias globais se tenham elevado ao ponto de acarretar o abandono de áreas de produção agrícola e a elevação do nível do mar, de modo a inundar cidades costeiras e desequilibrar economias nacionais (CMMAD, 1991). Na década de 1970/1980 o pensamento ecologizado tomou corpo e foi num crescendo. Saiu dos pequenos grupos de ecologistas, dos corredores das universidades e dos laboratórios de pesquisas, atingiu a sociedade maior e mais organizada e ganhou espaço nos meios de comunicação social. Também ocupou espaço nos parlamentos a ponto de nos anos 70 haverem sido criados ministérios do ambiente em 70 países. O tempo também concretizou as previsões de cientistas e ambientalistas com relação ao uso desordenado do meio ambiente. Além das catástrofes já mencionadas começaram a se evidenciar as questões climáticas e o que era local passou a ter dimensões globais ameaçando o planeta como um todo. É o caso do buraco da camada de ozônio, do efeito estufa, dos fenômenos El Niño e La Niña. A tomada de consciência da realidade e da gravidade desses problemas motivou a mudança definitiva dos paradigmas ambientais. A Comissão sugeriu à Conferência Geral das Nações Unidas convocar uma conferência internacional para analisar os progressos obtidos e promover acordos de acompanhamento do seu relatório final – Nosso Futuro Comum – necessário para estabelecer pontos de referência e 47Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais manter o progresso humano dentro das diretrizes das necessidades humanas e das leis naturais. A sugestão foi acatada pela ONU na Assembléia Geral de 1988. A Resolução 44/228, da Assembléia Geral de 1989, convocou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD para 1992, com o objetivo de destacar entre outros temas: proteção da atmosfera; diminuição da camada de ozônio; poluição transfronteiriça e combate à mudança climática; proteção e melhoria da qualidade da água potável, inclusive das zonas costeiras; proteção racional dos recursos do mar; proteção e administração dos recursos terrestres pelo combate ao desmatamento; desertificação e secas; conservação da diversidade biológica; administração da biotecnologia em padrões ambientalmente aceitáveis; administração de rejeitos, principalmente os químicos de natureza tóxica; proibição do tráfego ilícito internacional de rejeitos tóxicos e perigosos. Após quatro anos de preparação a Conferência foi realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, com a participação de 78 delegações e vários chefes de estado, ficando conhecida como Rio 92 (Silva, 1995). A tese do desenvolvimento sustentável orientou todas as discussões 92 e se constituiu no eixo principal dos documentos firmados na Conferência, que são: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda 21, a Convenção sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre Diversidade Biológica. 2.1.3 Antecedentes da convenção-quadro das Nações Unidassobre mudança do clima Em 1988 a Assembléia Geral das Nações Unidas abordou pela primeira vez o tema mudança do clima e adotou a resolução 45/ 48 Terezinha de Jesus Soares 53 sobre a proteção do clima global para as gerações presentes e futuras da humanidade. No mesmo ano foi instituído pela Organização Meteorológica Mundial – OMM e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, que reúne cientistas do mundo inteiro e se destina a auxiliar as Nações Unidas na condução das políticas relativas ao clima. O IPCC não realiza pesquisas independentes, trabalha na interpretação das pesquisas divulgadas pelas publicações científicas em diferentes países. Seus relatórios são reconhecidos como fontes confiáveis de informações sobre mudança do clima. O primeiro relatório do IPCC, de 1990, confirmava a ameaça que a mudança do clima representa, sugerindo a necessidade de se celebrar um acordo global para tratar do assunto. Em dezembro do mesmo ano através da Resolução 45/212 a Assembléia Geral da ONU formalizou as negociações para a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, criando o Comitê Intergovernamental de Negociação – CIN, constituído por representantes de mais de 150 países e presidido por Jean Ripert, da França, para conduzir as negociações (DEPLEDGE, 2001). A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima foi adotada na quinta reunião do CIN, em 02 de maio de 1992, tendo como objetivo primeiro a estabilização das concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa, em níveis que impeçam que as atividades humanas afetem perigosamente o sistema climático global, que permitam aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima e aos países prepararem-se para enfrentar os seus efeitos. A Convenção foi aberta a assinaturas na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 04 de junho de 1992, no Rio de Janeiro, sendo o Brasil o primeiro país a firmá-la. Entrou em vigor no dia 21 de março de 1994, 90 dias após a qüinquagésima 49Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais ratificação. Hoje, 186 países e a Comunidade Econômica Européia – CEE, são partes da Convenção, divididos em dois grupos: Partes do Anexo I – países industrializados e Partes não-Anexo I – países em desenvolvimento. Por essa divisão os primeiros são tidos como principais contribuintes para a mudança climática. O que se deve ao fato de ao longo da história haverem emitido mais GEE que os países em desenvolvimento. Em decorrência desse entendimento foi adotado o princípio da eqüidade e da responsabilidade comum mas diferenciada, pelo qual as partes do Anexo I comprometeram-se a adotar medidas internas com o objetivo de até o ano 2000, retornar suas emissões aos níveis de 1990. As partes do não-Anexo I não têm compromisso de reduzir emissões, por entendimento geral de que as emissões estão diretamente relacionadas aos processos de desenvolvimento, ainda em andamento nesses países. Como obrigação comum, todos devem submeter à apreciação da Convenção as Comunicações Nacionais em que detalham suas políticas internas e apresentam os Inventários de Emissões. Além dos países desenvolvidos, integram o Anexo I os países de economias em transição – EITs, entre os quais a Federação Russa. Outra obrigação das partes do Anexo I é auxiliar os países em desenvolvimento na condução dos termos da Convenção, inclusive facilitando a transferência de tecnologias modernas capazes de reduzir as emissões ou fornecendo recursos financeiros, que auxiliem no trato da questão. O Secretário Geral das Nações Unidas é o depositário da Convenção e dos protocolos adotados. A Convenção dispõe de mecanismos próprios para implementação e administração de seus recursos: • Conferência das Partes – COP (Art. 7) É o órgão maior da Convenção. Tem autoridade suprema para a tomada de decisões. Materializa-se na associação de países membros, que ratificam as 50 Terezinha de Jesus Soares decisões tomadas. Orienta esforços internacionais em relação à mudança do clima; revisa a implementação da Convenção e acompanha os compromissos das partes; revisa as Comunicações Nacionais submetidas pelas Partes com base no que avalia os efeitos das medidas adotadas no sentido de se fazer cumprir a Convenção. Reúne-se uma vez por ano, recebendo uma denominação numérica, conforme Tabela 01. Angela Merkel (Alemanha) Chen Chimutengwende (Zimbábue) Hiroshi Ohki (Japão) Maria Júlia Alsogary (Argentina) Jan Szysko (Polônia) Jan Pronk (Holanda) Berlim Genebra Quioto Buenos Aires Bonn Haia COP1 COP2 COP3 COP4 COP5 COP6 28 de março a 07 de abril de 1995 8 a 19 de julho de 1996 1 a 11 de dezembro de 1997 2 a 14 de novembro de 1998 25 de outubro a 5 de novembro de 1999 13 a 14 de novembro de 2000 Tabela 01. Datas, locais e presidentes das sessões da COP até o ano 2000. • Secretariado (Art. 8). Atende à COP, aos Órgão Subsidiários e aos Bureaux. Suas funções incluem preparar as sessões dos órgãos da Convenção, assistir às Partes na implementação dos compromissos, apoiar as negociações em andamento e interação com os secretariados do GEF e do IPCC; Preparar os documentos oficiais, coordenar e revisar as comunicações nacionais das Partes do Anexo I. O Secretariado é administrado de acordo com as regras das Nações Unidas que indica o Secretário Executivo, que atualmente é Michael Zammit Cutajar, de Malta. Atualmente localiza-se em Bonn, Alemanha (DEPLEDGE, 2001). • Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico – SBSTA (Art. 9). Assessora a COP em questões científicas, tecnológicas e metodológicas. Funciona junto com o IPCC solicitando, quando necessário, estudos específicos. • Órgão Subsidiário de Implementação – SBI (Art. 10). Colabora na avaliação e implementação da Convenção. Desempenha papel fundamental no exame das Comunicações Nacionais e dos Inventários de Emissões e assessora a COP nos assuntos administrativos e orçamentários, 51Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais assim como na aplicação do mecanismo financeiro (operado GEF). Em conjunto com o SBSTA atua em questões ligadas ao Protocolo de Quioto, no cumprimento, capacitação e vulnerabilidade dos países em desenvolvimento à mudança do clima e às medidas de mitigação. • Bureau – eleito pelas Partes no início de cada sessão da COP para orientar os trabalhos. É composto por 11 membros, dois indicados pelos grupos regionais das Nações Unidas e um lugar é reservado para um representante dos pequenos países insulares. Cada Bureau é eleito por um ano, podendo ser reeleito para mais um ano. Há Bureaux também para a SBSTA e SBI (DEPLEDGE, 2001). • Mecanismo Financeiro (Art. 11). Destina-se a fornecer recursos para auxiliar países em desenvolvimento a implementar a Convenção e a tratar da mudança do clima. É operado pelo GEF. Responde à COP, que decide sobre suas políticas de mudança do clima, prioridades de programas e critérios para obtenção de fundos. • Para as negociações durante as COPs cada Parte (país ou conjunto de países) elege uma delegação ou um representante. As Partes se organizam em cinco grupos, tradicionais das Nações Unidas a partir dos quais elegem os Bureaux. Os grupos são: África, Ásia, Europa Oriental, América Latina e Caribe (GRULAC) e a Europa Oriental e os Outros Grupos (WEOG) que incluem Austrália, Canadá, Islândia, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos. O Japão está no grupo da Ásia. Nas negociações prevalecem outras associações de acordo com os interesses das partes representadas. Os países em desenvolvimento atuam através do grupo dos 77 mais a China. Este grupo foi fundado em 1964 na Conferência das
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