Buscar

Livro Efeito Estufa A Amazonia e os Aspectos Legais Terezinha de Jesus Soares -1

Prévia do material em texto

1Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Efeito Estufa
A Amazônia e os aspectos legais
2 Terezinha de Jesus Soares
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Sérgio Machado Rezende
DIRETOR DO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA DA AMAZÔNIA– INPA
Adalberto Luis Val
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Hidembergue Ordozgoith da Frota
GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAZONAS
Carlos Eduardo de Souza Braga
SECRETÁRIA DE ESTADO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Marilene Corrêa da Silva Freitas
PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DO AMAZONAS
Odenildo Teixeira Sena
Esta obra foi publicada com o apoio do Governo do Amazonas, por meio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM
Rua Recife, n. 3280. Parque 10 de Novembro, Manaus – AM
www.fapeam.am.gov.br e-mail – gabinet@fapeam.am.gov.br
SECT
3Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Efeito Estufa
A Amazônia e os aspectos legais
Terezinha de Jesus Soares
Manaus – 2007
4 Terezinha de Jesus Soares
Copyright © 2007 Universidade Federal do Amazonas
EDITORES
Renan Freitas Pinto (EDUA)
Isolde Dorothea Kossmann Ferraz (Inpa)
Niro Higushi (Inpa)
Vera Maria Fonseca de Almeida e Val (Inpa)
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA (MIOLO)
Adylia Verushka Moraes Melara
SUPERVISÃO EDITORIAL E REVISÃO
Cinara Cardoso
CAPA
Priscila de Araújo Noronha
FOTOS DA CAPA
www.sxc.hu
EDUA
Editora da Universidade Federal do Amazonas
Rua Monsenhor Coutinho, n. 724 – Centro
Fone: (0xx92) 3231-1139
CEP 69.011-110 Manaus/AM
www.ufam.edu.br
e-mail: edua_ufam@yahoo.com.br
Catalogação na Fonte
S676e Soares, Terezinha de Jesus.
Efeito estufa: a Amazônia e os aspectos legais /
Terezinha de Jesus Soares. -- Manaus: Editora da
Universidade Federal do Amazonas / Editora do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007.
171 p.: Il.; 21cm
ISBN 85-7401-220-3 (EDUA)
ISBN 978-85-211-0031-7 (Editora INPA)
1. Clima - Influência humana. 2. Efeito estufa.
3. Efeito estufa - Amazônia. I. Título.
 CDU 551.588.7
Ficha elaborada por Guilhermina de Melo Terra
Departamento de Biblioteconomia
EDITORA INPA
Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Av. André Araújo, n. 2936 – Aleixo
Fone fax: (0xx92 55) 3642-3438 3643-3223
Caixa Postal 478, CEP 69.083-000 Manaus/AM, Brasil
e-mail: editora@inpa.gov.br
http://editora.inpa.gov.br e-mail: editora@inpa.gov.br
5Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Dedicatória
À Lais,
ao Paulo Vitor e
à Tamires
6 Terezinha de Jesus Soares
7Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Agradecimentos
A Deus, que me permitiu chegar até aqui;
À minha mãe, que me ensinou os primeiros passos;
Ao Dr. Niro Higuchi pelo apoio e orientação;
À Omarina, pela amizade, que resume tudo;
A todos os meus amigos e amigas pelo incentivo.
8 Terezinha de Jesus Soares
9Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Prefácio
As questões climáticas globais, na forma de política
internacional, foram tratadas formalmente na Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que foi assinada durante a
Rio-92, em 1992, no Rio de Janeiro. O objetivo superior da Convenção
é estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa (GEE) aos níveis
que impeçam que as atividades humanas afetem perigosamente o sistema
climático global. O desdobramento da Convenção é o Protocolo de
Quioto assinado em 1997, no Japão. O Protocolo entrou em vigor
somente em 16/02/05, nonagésimo dia após a data que as Partes incluídas
no Anexo I que contabilizaram no total pelo menos 55% das emissões
totais de CO2, em 1990, depositaram seus instrumentos de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão.
O Secretário Geral da ONU é o fiel depositário da Convenção
e do Protocolo. A COP (Conferência das Partes), com apoio do SBSTA
(Corpo Subsidiário para Aconselhamentos Científico e Tecnológico) é
responsável pela implementação dos dois instrumentos. Uma Parte da
Convenção ou do Protocolo pode ser uma simples nação como EUA,
como um grupo de nações como a Comunidade Européia. Os
procedimentos técnicos para a implementação da Convenção e do
Protocolo são de responsabilidade do IPCC (Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas).
No Brasil, a Convenção foi ratificada pelo Senado da República
e publicada no DOU de 04/02/1994 - Decreto Legislativo nº 01; sendo,
desde então, uma lei brasileira. Quanto ao Protocolo, há apenas o
projeto de Decreto Legislativo 1664/2002, com parecer favorável do
Relator, ainda em tramitação no Congresso Nacional. Em 1999, o
Governo brasileiro criou a Comissão Interministerial de Mudança Global
do Clima, tendo os Ministros da Ciência e Tecnologia e o do Meio
10 Terezinha de Jesus Soares
Ambiente, respectivamente, como presidente e vice da mesma. Duas
das principais finalidades da Comissão são: (i) definir critérios de
elegibilidade adicionais àqueles considerados pelos Organismos da
Convenção, encarregados do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), conforme estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável
e (II) apreciar pareceres sobre projetos que resultem em redução de
emissões e que sejam considerados elegíveis para o MDL e aprová-los, se
for o caso.
De acordo com a Convenção, os países que mais emitiram GEE
para a atmosfera, desde a revolução industrial ocorrida em meados do
século XIX, teriam que reduzir, em 2000, os níveis de emissão destes
gases (especialmente CO
2
), com base nas emissões de 1990. O Protocolo
estabeleceu limites de emissões de GEE para 38 destes países, chamados
de “Partes do Anexo B.” As Partes aceitaram metas variadas baseadas no
princípio da “diferenciação,” que reconhece que alguns países são mais
capazes de reduzir suas emissões do que outros, na maneira como eles
produzem e usam energia, no acesso às tecnologias limpas e aos seus
níveis de poluição, entre outros numerosos fatores.
Desta forma, o Protocolo de Quioto, além de ser uma lei
internacional, é uma oportunidade de negócios para todos os países da
ONU. O Brasil, em termos de preparação da base legal para o cumprimento
da Convenção e do Protocolo, vem cumprindo aquilo que foi acordado.
Além disso, a emissão de GEE via uso de tecnologia (queima de
combustível fóssil, produção de cimento) está dentro dos limites
aceitáveis pela Convenção. No entanto, a emissão via uso do solo
(desmatamento na Amazônia, especialmente) continua fora do controle
e isto pode custar caro ao País. Estas são as questões de fundo deste livro.
Ph.D Niro Higuchi
Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
11Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Sumário
Introdução ................................................................................................
1 Análise comparativa ...........................................................................
1.1 Pesquisa bibliográfica ...................................................................
1.2 Pesquisa documental ....................................................................
2 O efeito estufa e o clima global ........................................................
2.1 Convenção, protocolos, tratados internacionais ...................
2.1.1 O mundo se preocupa com o clima ..................................
2.1.2 Acordos para proteção da natureza .................................
2.1.3 Antecedentes da convenção – quadro das Nações
 Unidas sobre mudança do clima .....................................
2.1.4 O protocolo de Quioto .......................................................
2.1.5 Mecanismos de flexibilização ..........................................
2.2 A convenção do clima e o direitopositivo brasileiro ............
2.2.1 Compromissos do Brasil .....................................................
2.2.2 O fórum brasileiro de mudanças climáticas ..................
2.2.3 Construindo a comunicação nacional ............................
2.2.4 Florestas x MDL ..................................................................
2.2.5 Transportes e eletricidade .................................................
2.3 Regulamentação do uso do solo amazônico e suas
 conseqüências ................................................................................
2.3.1 Políticas públicas para aAmazônia .................................
2.3.2 O meio ambiente nos estados e municípios .................
2.3.3 O meio ambiente no estado do Amazonas ...................
2.4 Conhecimentos sobre o tema abordado: científico,
 tecnológico e legal ........................................................................
2.4.1 Tecnologias alternativas ...................................................
3 O Brasil fecha questão na implementação conjunta ....................
3.1 Mudanças globais fora do governo ............................................
3.2 Mudança no uso do solo na Amazônia ....................................
3.3 Devastação e fiscalização .............................................................
Conclusão .................................................................................................
Referências ...............................................................................................
Obras consultadas ...................................................................................
15
19
19
20
25
33
39
43
47
53
55
57
64
67
70
77
79
83
91
98
101
106
110
119
134
137
148
156
162
169
12 Terezinha de Jesus Soares
Lista de figuras
Figura 1. Percentual mundial de emissão de CO2 ...........................
Figura 2. Metas do Protocolo de Quioto para as partes do anexo I
Figura 3. Linguagem adequada ajuda as crianças a entenderem o
efeito estufa ............................................................................
Figura 4. Ocupação de área em alta floresta em 1986 do satélite
LANDSAT ...............................................................................
Figura 5. Resultado do avanço da fronteira agrícola (...) no ano
1997 ..........................................................................................
Figura 6. Obras do Programa Brasil em Ação em janeiro de 1998
Lista de tabelas
Tabela 1. Datas, locais e presidentes das sessões da COP, até o
ano 2000 .................................................................................
Tabela 2. Unidades de conversão na Amazônia até o ano 2000
Tabela 3. Relação desmatamento autorizado/não autorizado na
Amazônia ................................................................................
Tabela 4. Taxa média do desflorestamento bruto (km2/ano) ............
54
57
127
142
143
151
50
96
152
155
13Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Lista de siglas
AIE – Agência Internacional de Energia
ANEEL – Agência Reguladora Nacional de Eletricidade
BIRD – Banco Mundial de Reconstrução e Desenvolvimento
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CEE – Comunidade Econômica Européia
CDM – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
CIDES – Comissão Interministerial para o Desenvolvimento Sustentável
CIN – Comitê Internacional de Negociação
COP – Conferência das Partes
COPERSUCAR – Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar
DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito
DOU – Diário Oficial da União
EITS – Países com Economia em Transição
GEE – Gases de Efeito Estufa
GEF – Global Environmental Facility (Fundo Global para o Meio Ambiente)
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima)
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
JUSSCANNZ – Japan, United States, Switzerland, Canadá, Austrália,
Norway, New Zealand
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MME – Ministério de Minas e Energia
OASIS – Aliança dos Pequenos Países Insulares
OMM – Organização Meteorológica Mundial
OIG – Organizações Intergovernamentais
ONG – Organizações Não-Governamentais
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PPA – Plano Planurianual
PRODEEM – Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e
Municípios
SBI – Órgão Subsidiário de Implementação
SBSTA – Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico
SCA – Secretaria de Coordenação de Assuntos da Amazônia Legal
UNFCC – United Nations-framework Convention on Climate Change
(Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima)
14 Terezinha de Jesus Soares
15Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Introdução
As atividades humanas têm provocado significativas mudanças
na paisagem terrestre e, mais recentemente, na atmosfera. O consumo
de combustíveis fósseis e as mudanças no uso da terra liberam uma
série de gases que se acumulam na atmosfera em quantidades tais que
impedem que parte da energia solar retorne ao espaço. Isso potencializa
o aquecimento do globo agravando o efeito estufa. Estudos revelam
que a temperatura média da superfície terrestre pode aumentar de 1 a
3,5ºC até o ano 2100. O crescente agravamento dessa situação motivou
a busca de uma solução de amplitude global, uma vez que todos os
países contribuem para a situação e deverão sofrer as conseqüências.
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD (Rio-92), realizada no
Rio de Janeiro, foi adotada a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (em inglês, United Nations Framework
Convention on Climate Change – UN-FCCC) pela qual os países
reconheceram a gravidade da situação e se comprometeram a adotar
providências no sentido de contribuir para reduzir os efeitos dessas
mudanças. As providências incluíam o compromisso de reduzir até o
ano 2000 suas emissões de gás carbônico e outros gases causadores de
efeito estufa em quantidade que não ultrapassasse os níveis de 1990.
O Brasil foi o primeiro dos 186 países, mais a Comunidade
Européia que, até o ano 2001, assinaram a Convenção. O Brasil também
é um dos países vulneráveis aos efeitos da mudança climática. Entre
esses efeitos anunciam-se problemas de várias magnitudes, de alcance
local e global. No início das discussões, na década de 1980, o grau de
incertezas a respeito do aquecimento global era considerável. Com o
16 Terezinha de Jesus Soares
passar do tempo essas incertezas vêm dando lugar a evidências cada
vez mais claras de que o aquecimento global está alterando os
ecossistemas naturais. Não há mais que se contestarem as mudanças, a
questão principal agora é a sua magnitude e a velocidade com que elas
acontecem. A preocupação maior dos cientistas é com a elevação do
nível do mar, provocada pelo aquecimento das águas e o derretimento
do gelo nos pólos, que ameaça países em todas as latitudes, mas muito
especialmente os países insulares e o litoral de vários outros, entre os
quais o litoral brasileiro. Em Pernambuco pesquisadores já constataram
mudanças do nível do mar, o Pará e o Rio de Janeiro também
encontram-se ameaçados. Outro problema que se anuncia catastrófico
é a quebra da estrutura da produção de alimentos em decorrência de
alterações no regime hidrológico nas áreas de plantio.
A Convenção do Clima prevê obrigações diferenciadas para
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em 1997, a Convenção
adotou o Protocolo de Quioto estabelecendo metas diferenciadas
de redução de emissões e mecanismos de negociação destinados aagilizar o cumprimento das metas por determinados países. Este
trabalho se propõe a conferir até que ponto o Brasil vem fazendo
sua parte no cumprimento dessas obrigações. Aqui não se discute se
o efeito estufa existe ou não, nem se questiona sua abrangência. Parte-
se do pressuposto que, tendo aderido livremente à Convenção, o
Brasil reconhece o problema, se compromete a colaborar para sua
mitigação e por isso deve agir conforme acordado. A Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima é um Tratado
de Direito Internacional e é sob esta ótica que precisa ser
implementada, considerando-se tanto as normas de Direito
Internacional, como as normas de Direito Interno, garantidas pela
Constituição Federal e pelo conjunto da legislação brasileira,
especialmente a legislação ambiental.
17Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
O efeito estufa é agravado pela emissão acima dos padrões de
dióxido de carbono (CO
2
), metano (CH
4
), óxido nitroso (N
2
O),
hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e sulfoexafluoreto
(SF
6
), denominados gases do efeito estufa – GEE, produzidos pela
queima de petróleo e pela mudança no uso da terra, representada pela
derrubada e queima das florestas no mundo inteiro. A maior contribuição
brasileira para o efeito estufa decorre da queima da floresta amazônica,
uma vez que a produção energética nacional se faz, basicamente, por
hidrelétricas. O tema é abordado do ponto de vista da legislação brasileira,
para verificar os pontos de convergência e aqueles que fazem conflitar a
legislação nacional e o cumprimento das obrigações assumidas no âmbito
da Convenção. Na análise são consideradas pesquisas científicas, políticas
públicas ambientais, programas e projetos voltados para o meio
ambiente, o uso dos recursos naturais ou que, de outra forma, têm
influência nas questões climáticas e contribuem para o agravamento ou a
mitigação do efeito estufa.
Considera-se também a legislação dos estados, incluindo o
Amazonas, que mantém ainda 98% de suas florestas intactas e pretende
utiliza-las dentro dos mecanismos criados pelo Protocolo de Quioto.
Em síntese, este trabalho situa-se na área de políticas públicas e gestão
ambiental tendo como base de comparação normas e preceitos do
direito ambiental. Destina-se a analisar a legislação e o comportamento
do Brasil diante das obrigações assumidas junto à Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A partir das conclusões
sugerem-se atitudes que, podem contribuir para agilizar a
implementação da Convenção, através do envolvimento da comunidade
nacional na discussão da mudança do clima, preparar as populações
potencialmente atingidas pelos efeitos dessas mudanças e criar poder
de barganha para os representantes brasileiros nas instâncias de
negociação da Convenção e do Protocolo de Quioto.
18 Terezinha de Jesus Soares
19Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Capítulo 1
Análise comparativa
E
ste trabalho adota a metodologia proposta por Ferrari
(1982) que consiste, na aplicação do: Método
Comparativo, usando, para o levantamento de dados:
1.1 Pesquisa bibliográfica
A adesão do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, é considerada, inicialmente do ponto de
vista do Direito Internacional, por ser um tratado entre nações que
decidiram livremente trabalhar em conjunto e individualmente para
produzir resultados que beneficiam a todos indistintamente. Entre os
autores consultados, dá-se preferência ao trabalho do professor Oyama
César Ituassu, catedrático de Direito Internacional Público da
Universidade do Amazonas que se destacou como teórico nesta área.
No que se refere ao direito ambiental internacional é adotada a
bibliografia de Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, não apenas
um teórico, mas, enquanto embaixador, um homem com experiência
comprovada na negociação internacional o que concede ao seu trabalho
características muito especiais.
O aspecto científico trabalha com os dados do IPCC, as
decisões das COPs, os autores brasileiros e estrangeiros, iniciando pelos
primeiros teóricos do desenvolvimento, os que propuseram impor
limites ao crescimento econômico e populacional, temendo que a
20 Terezinha de Jesus Soares
capacidade de suporte da terra se esgotasse em razão da demanda por
alimentos necessários para alimentar a população cada vez mais
crescente. Chega-se à constatação de que hoje o problema está também
no espaço aéreo e não apenas no solo ou na água, o que, cada vez
mais, limita a capacidade do planeta em processar os resíduos
produzidos pelo crescimento populacional e pela intensa exploração
dos recursos naturais. O agravamento do efeito estufa e todas as
conseqüências que ele provoca começa a chamar a atenção do mundo
que discute o problema, propõe soluções e conclui pela Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e seus
desdobramentos. Para saber até que ponto a Convenção vem sendo
cumprida esses dados foram trabalhados comparativamente, cruzadas
as informações e analisados os seus significados.
1.2 Pesquisa documental – para levantamento das
informações foram utilizados como fonte:
a) Documentos de 1.ª mão compostos pela:
Documentação oficial – caracterizada pelo conjunto da
legislação ambiental e agrária federal, estadual e municipal (direito
positivo), resoluções do Conama, programas e projetos que compõem
as políticas ambientais.
Imprensa: jornais, revistas, telejornais – foi levantado o
noticiário sobre meio ambiente, ciência e tecnologia e afins nos jornais
de grande circulação e nas principais revistas semanais, mas os jornais
Folha de São Paulo e A Crítica e a revista ISTOÉ 2000/2001, foram
acompanhadas sistematicamente constatando-se que o espaço dedicado
ao tema efeito estufa é bastante considerável, que o volume maior é
21Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
para noticiário e menor para a análise da situação e que, embora metade
das matérias se baseie no noticiário internacional, tendo como fonte as
agências de notícias e as revistas científicas, contemplam algo da opinião
de pesquisadores e especialistas brasileiros. A partir do anúncio de que
os Estado Unidos abandonaram o Protocolo de Quioto o tratamento
dado à questão pelo New York Times e CNN, foi acompanhado via
internet, apenas para efeito de comparação com a cobertura nacional.
O Aquecimento Global foi matéria de capa da revista TIME, de 09
de abril de 2001, com 14 páginas. A primeira frase da reportagem
especial intitulada Feeling the heat vaticina que, exceto pela guerra nuclear
ou a colisão com um asteróide não há força de maior potencial de
destruição da vida no nosso planeta que o aquecimento global (tradução
pessoal). Motivada pela retirada dos EUA do Protocolo de Quioto a
revista examina os sinais do aquecimento global, as possíveis
conseqüências futuras, a urgência das ações e porque o mundo tem
falhado em agir prontamente. Na mesma data e ao mesmo tema Época
abriu duas páginas e meia e ISTO É não abriu espaço para a decisão
de Bush. Não se trata de arquivo e sim de um cliping produzido pela
autora diretamente dos jornais e revistas em 2000/2001 e com o
objetivo de acompanhar a dinâmica da cobertura dos eventos ligados
às mudanças climáticas no período correspondente à execução do
trabalho. As matérias foram classificadas por sua ligação direta com o
tema em estudo: a) mudanças climáticas, b) efeito estufa, c) Convenção
do Clima, d) Protocolo de Quioto. As fontes foram classificadas em
1) nacionais e 2) internacionais.
Documentação indireta – Do conjunto de pronunciamentos das
autoridades brasileiras foram estudados os discursos dos Ministros de
Ciênciae Tecnologia e do Presidente da República nas Conferências
das Partes, na Reunião Rio+5, na abertura do Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas, em Seminários e Workshops. Analisados também
22 Terezinha de Jesus Soares
os programas de seis grandes encontros sobre o meio ambiente no
Brasil no ano 2001. A autora participou do Encontro Verde das
Américas, em Brasília, que em três itens contemplava o aquecimento
global e a Convenção do clima. Considerando-se a angulação do
trabalho do ponto de vista da legislação foram consultadas as bibliotecas
da Câmara e do Senado Federal, onde encontram-se as seguinte
ocorrências para o tema – no Senado, 09 revistas, 3 jornais, 2 livros e
01 Texto para discussão; na Câmara, 09 revistas e 07 livros. Nas duas
casas as revistas são de informação geral e especializada e apenas a
Câmara inclui revistas estrangeiras – Ambio e Foreign Affairs.
Arquivos públicos – no item políticas, programas, projetos, além
do conteúdo da CIMGC para formação da Comunicação Nacional e
do Inventário Nacional de Emissões, constantes do site do MCT, foram
levantados os conteúdos da Política Nacional Integrada para a
Amazônia, da Coordenação da Amazônia no site do Ministério do
Meio Ambiente e uma série de publicações do PPG7.
b) Documentos de 2.ª mão –
Esse trabalho se apresenta como pioneiro. Apesar dos vários
autores que trabalham com efeito estufa, nenhum dos documentos
encontrados analisam o problema do ponto de vista aqui proposto.
Os Documentos foram analisados segundo:
Métodos clássicos
§ Análise interna – de base racional e caráter objetivo de seu
conteúdo diante da proposta principal, que é a mitigação do clima e o
cumprimento das obrigações previstas na Convenção.
23Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
§ Análise externa – que permite análise de contexto em que as
ações se desenvolvem e os pronunciamentos são feitos, assim como a
origem dos documentos, seus autores e sua repercussão na sociedade.
Métodos Quantitativos
§ Análise semântica quantitativa – do discurso oficial em
relação à política realmente implementada.
§ Análise de conteúdo – abrangendo a documentação
disponibilizada pela CIMGC.
Os dados levantados ao final de todo esse processo
receberam
§ Análise qualitativa – que, através de métodos comparativos,
estabeleceu a necessária relação entre a Legislação Brasileira e a
Convenção do Clima, permitindo que se alcancem os objetivos
propostos.
24 Terezinha de Jesus Soares
25Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Capítulo 2
O efeito estufa e o clima global
P
erda de biodiversidade, desertificação, chuva ácida,
desflorestamento. Estes são alguns dos problemas
ambientais que mais afligem a humanidade nos dias
atuais, pois embora ocorram em determinados pontos do planeta,
sua repercussão se faz sentir em termos globais. Na opinião de alguns
cientistas, no entanto, a alteração na camada de gases da atmosfera,
também denominada efeito estufa, é o problema principal porque
pode afetar o globo como um todo.
A utilidade do Efeito Estufa é a retenção do calor em torno
do globo regulando a temperatura e permitindo que a vida se
desenvolva da maneira como a conhecemos. Duas são as suas fontes:
Natural – que resulta da quantidade de produtos químicos
lançados na atmosfera pelos vulcões e pela flutuação na intensidade da
luz solar que chega à superfície terrestre; como também pelas trocas
gasosas entre a biosfera e a atmosfera.
Antrópica – produzida pela queima de combustíveis fósseis
(petróleo, gás natural e carvão) e pelo uso do solo (desflorestamento,
criação de gado e plantações anuais).
O efeito estufa é necessário para a manutenção do clima e
importante para a vida terrestre no seu todo. Em excesso, no entanto,
esses gases formam uma espécie de cobertura espessa demais, que
retém o calor, aquecendo a superfície da terra além do necessário e
projetando mudanças que preocupam cientistas, ambientalistas, ecólogos
e dirigentes políticos no mundo inteiro, porque devem afetar o clima
26 Terezinha de Jesus Soares
de diferentes partes do globo, em diferentes intensidades, mas sempre
trazendo muitos problemas, tanto ambientais quanto econômicos,
incidindo na produção de alimentos, no abastecimento de água e no
nível dos mares, que poderá subir e invadir zonas costeiras em diferentes
pontos da terra e até fazer desaparecer alguns países insulares.
A idade da terra é calculada em 5 bilhões de anos, ao longo
dos quais sofreu modificações as mais diversas – realinhamentos,
mudanças nos campos magnéticos, avanços e retrações das montanhas
de gelo. A existência de vida na terra gira em torno de 3,5 bilhões de
anos, durante os quais espécies surgiram e desapareceram, modificaram-
se ou se fundiram até chegar à realidade tal qual a conhecemos. Percebe-
se com certa facilidade que os processos de formação da terra,
começando com o big-bang, a formação da Pangaea, as eras glaciais,
a aproximação e distanciamento dos continentes, até a distribuição das
espécies, desenvolveram-se durante milhões de anos, se calculados numa
escala de tempo. Segundo Simon (1992) as décadas e os séculos, duração
de algumas gerações humanas, são a escala de tempo na qual os oceanos,
a atmosfera e a biota interagem para formar o sistema climático físico.
Esses sistemas estão ligados pelo fluxo de umidade que existe no globo
na forma de vapor, líquido e gelo e mudam em resposta a processos
e interações que ocorrem durante períodos muito mais curtos, que
vão de estações até horas. Nessa estrutura de tempo, a biosfera da
Terra influencia e responde a ciclos que fazem deslocar pelo ambiente
do globo substâncias-chave como carbono, nitrogênio, fósforo e
enxofre.
A atmosfera terrestre é composta por uma série de gases,
que em última instância são quem determina a capacidade da terra em
manter o equilíbrio entre a energia recebida e a energia liberada. Os
principais gases da atmosfera são: nitrogênio (78,1%), oxigênio (21%)
e gases traços (0,9%). Em decorrência de sua quantidade na composição
27Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
atmosférica, o vapor d’água é o principal responsável pelo efeito estufa,
os outros componentes estão presentes em menores quantidades,
medidas à razão de partes por bilhão – ppb (SIMON, 1992). O fator
que vem incomodando o mundo da ciência, a partir da década de
1970 é o aumento acentuado, contínuo e constante da concentração
de CO
2
 na atmosfera (SALATI, 1994).
Os principais GEE são o dióxido de carbono (CO
2
), metano
(CH
4
), óxido nitroso (N
2
O), hidrofluorcarbonos (HFCs),
perfluorcarbonos (PFCs) e sulfohexafloreto (SF
6
). Atualmente o CO
2
constitui 0,034% da atmosfera. Estudos do gelo glacial demonstram
que o nível de CO
2
 durante as eras glaciais era de aproximadamente
200ppm. Entre os períodos glaciais, quando a terra esteve quente, era
de 288ppm. Hoje encontra-se em 350ppm e aumentando (SIMON,
1992). Apenas dois grandes ecossistemas trabalham na absorção desse
gás: as florestas em processo de crescimento e os oceanos.
Parte da radiação solar dirigida à terra é absorvida pela
superfície terrestre (70%), a outra parte (30%) é refletida na forma de
calor. Desta, uma parcela se dissipa e retorna ao espaço enquanto outra
parcela é impedida de retornar pela barreira de gases que funcionam
como uma estufa, absorvendo a radiação infravermelha e propiciando
o aquecimento da terra. A ocorrência natural desse processo mantém
constante a temperatura em torno de +15ºC. Sem a ocorrência natural
do efeito estufa a temperatura média planeta seria em torno de – 18ºC
(SIMON, 1992).
A presença influente do homem sobre a terra pode ser situada
entre 30.000e 10.000 anos atrás, quando apareceu o Homo sapiens
(GIOVANNINI, 1987), embora haja registros mais antigos da presença
de homens mais primitivos, como o homem de Neanderthal, 80.000
anos atrás. Mas a esse tempo a intervenção do homem no ambiente
era incipiente. Ele vivia apenas do que a terra oferecia – caça, pesca e
28 Terezinha de Jesus Soares
coleta de frutos. Ainda não derrubava, não construía, embora já
dominasse o fogo. As principais modificações se dão no período
neolítico, 6.000 a 3.000a.C. quando o homem começa da dominar a
natureza e a fazer a transição de simples caçador, para agricultor e
criador. Desse ponto em diante o homem, suas realizações e conquistas,
a simples ocupação do espaço é suficiente para mudar não apenas a
paisagem, mas também o balanço dos gases na atmosfera. E à medida
que a sociedade se desenvolve, à medida que o homem doma a natureza
e dela se apropria, mais mudanças ele produz.
O mundo antigo é marcado pelo esplendor da Grécia e de
Roma assim como pelas guerras de conquista e ataques bárbaros. Durou
até 476, quando o último imperador romano foi derrubado. Na idade
média, que se prolongou até 1453, destaca-se o feudalismo, voltado
para a agricultura e o pastoreio, usando técnicas e instrumentos de trabalho
bastante rudimentares. Mas a ação humana sobre o meio ambiente, já
bastante significativa, é marcada pela intervenção na paisagem através da
arquitetura, em que se destacam a construção de igrejas, grandes castelos
e fortificações, tão necessários à manutenção do sistema feudal. Apesar
de não haver registros sobre o tema, estudos do World Wildlife Found
– WWF, constataram que já nos séculos V e VIa.C., as florestas começaram
a desaparecer porque a madeira era usada como combustível e nas
construções. Em volta do Mediterrâneo, os humanos destruíram tanto
as comunidades naturais que agora é difícil para os pesquisadores
determinar quais plantas são naturais e quais são introduzidas ou como
era a vegetação original (SIMON, 1992).
O século XV traz consigo uma nova visão de mundo, do
mundo moderno, com a queda do sistema feudal e a abertura para o
comércio, o advento das colônias marítimas e a ascensão dos interesses
econômicos da burguesia. Caminhava para o processo industrial. A
invenção da máquina a vapor (século XIX) é apresentada como tendo
29Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
marcado a passagem da sociedade agrícola para a industrial, mas a
invenção da imprensa com tipos móveis, em 1450, por Gutenberg,
pode também ser tomada como um marco significativo, ainda na
vigência do feudalismo. Comentando o assunto Castagni (1987) afirma
que a mecânica tipográfica constituiu o primeiro processo de trabalho
através do qual o homem produziu objetos iguais e em grande
quantidade. O invento de Gutenberg, o conseqüente desenvolvimento
das máquinas e os melhoramentos técnicos introduzidos no processo
de impressão, é um primeiro ato na revolução que se iniciava na Europa.
Com a imprensa, o progresso tecnológico da era industrial já
encontrava à sua disposição um homem habituado à produção em
série e automatizada dos próprios movimentos (MCLUHAN apud
CASTAGNI, 1987). Multiplica-se, a partir daí, a disseminação do
conhecimento, a comunicação das idéias, a troca de notícias, inventos e
descobertas e leva para os séculos seguintes o homem que faz a
revolução industrial e que, com a força da máquina, explora cada vez
mais a natureza (madeira, força da água, metais e carvão) e amplia,
continuamente, sua capacidade de modificação do ambiente.
A essa altura o mundo já evoluiu social, cultural e
economicamente. O campo já não satisfaz, a produção é intensificada
e diversificada. Os conceitos de trabalho e produção são outros. O
operário substitui o artesão e a produção necessita de mão de obra
especializada. A forma de usar e dispor dos recursos naturais e do
espaço se modifica a cada dia, para dar abrigo às populações que
crescem, à necessidade de mais alimento, moradia, meios de transporte
e espaços para circulação. Outro fator importantíssimo é a velocidade
com que essas mudanças se processam e sua pressão sobre os recursos
naturais, especialmente a necessidade, sempre crescente, de energia. O
progresso técnico, a industrialização, os avanços científicos e as
necessidades inerentes ao desenvolvimento, levam à descoberta,
30 Terezinha de Jesus Soares
exploração e consumo do petróleo e às mudanças drásticas no uso da
terra. Simon (1992) afirma que o furor das mudanças que a humanidade
causou ao ambiente global desde o início da industrialização convida à
suposição de que a alteração da paisagem terrestre pelo ser humano é
um fenômeno relativamente recente, quando comparado à idade da
terra.
É possível afirmar que as mudanças começaram com o
próprio caminhar da humanidade, mas o século XIX foi decisivo para
o aumento das emissões de gases do efeito estufa. Especialmente do
Dióxido de Carbono – CO
2
. Os níveis de CO
2
 aumentaram em volume
de 280 ppm, antes da Revolução Industrial, para quase 360 atualmente.
Estima-se que, de 1751 a 1990, 230 bilhões de toneladas de carbono,
na forma de CO
2
 foram introduzidos na atmosfera terrestre pela
queima de carvão e petróleo e de 1859 a 1990, cerca de 120 bilhões de
toneladas pelo desmatamento.
Independentemente da liberação de GEE, a intervenção
humana no meio ambiente e o uso indiscriminado dos recursos naturais,
começaram a tornar visíveis os seus efeitos a partir de meados do
século XX. Considerem-se, apenas como exemplo, as seguintes
ocorrências-chave: 1) a doença de Minamata, anos 50, no Japão; 2) a
disseminação dos inseticidas, tipo DDT; 3) as Marés Negras, em
Amoco Cadiz/França, 1978; 4) o incêndio no campo de Nowruz,
Golfo Pérsico, 1983; 5) o desastre nuclear de Chernobil, em 1986; e 6)
derramamento de óleo no mar, pelo encalhe do navio Exxon Valdez,
no Alasca em 1989. A partir dos anos 50 o sistema industrial funciona
como um verdadeiro vulcão artificial. Num estado de crescente
atividade os poluentes exercem ação particularmente destrutiva à escala
de toda a biosfera. O CO
2
, que no final dos anos oitenta era emitido
pelos combustíveis fósseis à razão de 25 bilhões de t/ano é o maior
poluente em volume, com um acréscimo incessante da sua concentração
31Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
no ar (DELÈAGE, 1997). O metano (CH
4
), encontra-se na atmosfera
em menor quantidade, mas tem poder de absorção de infravermelho,
trinta vezes superior ao CO
2
. É liberado por fontes biológicas como
os pântanos e turfeiras, combustão da biomassa, pelo metabolismo
dos ruminantes e pelos arrozais. O CFC 12 é o mais poderoso dos
GEE. Sua molécula absorve dezessete mil vezes mais energia que a do
gás carbônico.
Num balanço das atividades humanas, praticamente tudo
implica em produção de GEE: indústria química de petróleo, plantas
energéticas, agricultura, pecuária, exploração madeireira ou o simples
utilizar de um carro de passeio. Até os anos 50 a interpretação que se
fazia da abundância dos recursos naturais é de que eles são infinitos.
Em muitos setores não só ainda se pensa assim como se procede
como se esta fosse uma verdade absoluta. Mas a natureza começou a
dar sinais do stress que o homem vem provocando. Segundo Deleàge
(1997) a questão efeito estufa começou a ser sistematizada em 1957
quando Revelle e Suess anunciaram, na revista Tellus, que o oceano já
não reciclava todo o carbono da atmosfera e afirmaram que os seres
humanos procediam a uma experiência geofísica em tal escala que, no
período de alguns séculos, enviaram para a atmosfera e os oceanos,
carbono orgânico concentrado e acumulado nas rochas sedimentares
durantecentenas de milhões de anos.
A partir de 1958 Charles G. Keeling, trabalhando no
observatório de Mauna Loa, no Hawaí, atendendo sugestão de Revelle,
iniciou a medição de CO
2
 na atmosfera. Os estudos revelaram dois
tempos bem definidos na liberação de carbono: um, em torno de
1800, que acompanha o aumento da utilização da hulha (carvão) e
outro na segunda metade do século XX, que corresponde à aceleração
do consumo dos combustíveis fósseis pelos países industrializados.
Durante os primeiros dez anos de medições, evidenciou-se o aumento
32 Terezinha de Jesus Soares
médio da ordem de 0,23% ao ano, aumento que passou para 0,44%
durante a década de oitenta, ou seja, a taxa de crescimento de CO
2
duplicou em menos de vinte anos. São em média 25 bilhões de t/
CO
2
/ano lançadas na atmosfera pelas atividades humanas. As projeções
dão conta de que o aquecimento médio do planeta estará em torno de
1,5ºC e 4,5ºC até 2050 (DELEÀGE, 1997) e em se concretizando as
previsões mudanças significativas se processarão.
Relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas – IPCC, prevêem que a temperatura média poderá aumentar
e 0,3 a 0,4ºC a cada 10 anos, provocando verões mais secos na América
do Norte e na Europa e secas mais severas e mais freqüentes, quadro
que se agravará nos países em desenvolvimento. A elevação do nível
dos mares, um dos resultados previstos do aquecimento global deverá,
no mínimo, deslocar de suas terras milhões de pessoas que virão
engrossar a vaga de milhões de refugiados do ambiente que já povoam
os bairros degradados do terceiro mundo (DELÈAGE, 1997).
Na emissão de CO
2
 pela queima de combustíveis fósseis
(carvão e petróleo) enquadram-se a produção de energia elétrica, a
produção industrial e os automóveis. A emissão pela queima da
biomassa, da floresta, é provocada pela mudança no uso da terra, que
provoca o desmatamento, para todos os fins – produção madeireira,
agricultura e pecuária, crescimento das cidades. Na divisão de
responsabilidades os países ricos ficam com a maior parte – 65%,
enquanto os países pobres, em desenvolvimento, contribuem com 34%.
A questão principal é como diminuir a emissão. A quem cabe essa
responsabilidade considerando-se que os países ricos são os principais
produtores de GEE e que os países pobres não podem prescindir do
processo de desenvolvimento?
O automóvel é o vilão do aquecimento global. Consome um
terço da produção mundial de petróleo, emite CO
2
, que contribui
33Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
para o aumento do efeito estufa e óxido nitroso, que provoca a chuva
ácida. Há 500 milhões de automóveis registrados em todo o mundo,
número que aumenta mais rapidamente do que a população,
particularmente nos países em desenvolvimento. A persistir a tendência
atual, por volta de 2025 haverá quatro vezes mais automóveis do que
hoje (SIMON, 1992). Mas quem, em nome do desaquecimento global
tomará, conscientemente, a decisão de trocar o conforto do seu
automóvel pelo sistema de transporte coletivo, por exemplo, pelo
menos aqui no Brasil?
A produção de alimentos também tem sua parcela de
contribuição. A área dedicada à colheita expandiu-se 450% nos últimos
300 anos, chegando a um aumento mundial de aproximadamente 12,4
milhões de quilômetros quadrados. A perda líquida de florestas, desde
que o homem começou a cortar árvores, está entre 15% e 20% da
área florestada do mundo, aproximadamente 8 milhões km². Nos
últimos três séculos a população das 40 maiores áreas urbanas
aumentou quase 25 vezes, com um aumento ainda maior da área urbana
estimada (SIMON, 1992). O que não pode ser esquecido é o fato de
que muitos desses problemas decorrem do incessante crescimento da
população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento.
2.1 Convenções, Protocolos, Tratados Internacionais
Em geral as questões ambientais ultrapassam fronteiras, pois,
ainda que levadas a efeito dentro de um determinado território, têm
influência em territórios vizinhos (poluição das águas fronteiriças) e até
mesmo em territórios distantes (chuva ácida), muitas vezes assumindo
caráter global (buraco na camada de ozônio e aquecimento global). A
solução dessas questões não pode se restringir à legislação interna de
34 Terezinha de Jesus Soares
cada país. Ela se rege por legislação e jurisprudência muito mais
abrangentes, por tratados e convenções internacionais, aos quais os
países aderem por força da necessidade de manterem intactas as relações
entre si e para buscar soluções conjuntas. É o caso típico das Mudanças
Climáticas que ameaçam todos os países de forma indiscriminada. As
questões jurídicas relacionadas à mudança do clima ou à Convenção
de Mudanças Climáticas, fundamenta-se no Direito Internacional.
Definir Direito Internacional não é obra das mais simples,
pois são várias as correntes doutrinárias. O presente trabalho acompanha
a opinião do professor Oyama Ituassú (1986), de que toda definição é
provisória, porque oscila, desenvolve-se e se robustece, à medida que
se amplia o estudo, novos horizontes surgem e são transpostos. Assim
acontece com o Direito Internacional, cujo campo de ação tomou
impulso a partir da segunda década do século XX, inclusive tendo em
vista a globalização do Direito Internacional Público. Mais
especificamente dos acordos, tratados e convenções sobre questões
ambientais, que se amiúdam a partir de 1925, quando foi assinado o
Protocolo de Genebra sobre guerra bacteriológica. Nas palavras do
próprio Ituassú, Direito Internacional Público, pode ser definido como
“a soma de preceitos normativos que têm por objetivo regular o
entendimento inter-relacional da sociedade comunitária”. Por sociedade
comunitária Ituassú entende a vida coletiva em seu sentido universal, a
comunidade universal como seu verdadeiro alvo.
Tratando-se da aplicação teórico/prática o Direito
Internacional tem seu campo de atuação nos vários ramos do direito:
Civil, Penal, Comercial, Processual, Constitucional, Administrativo e
do Trabalho. Já o direito ambiental, segundo Silva (1995), não é um
ramo autônomo do direito, “é uma manifestação das regras de direito
internacional, desenvolvidas dentro de um enfoque ambientalista”. Ele
define o Direito Ambiental Internacional como sendo “o conjunto de
35Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
regras e princípios que criam obrigações e direitos de natureza ambiental
para os Estados, as organizações intergovernamentais e os indivíduos”.
O sujeito do direito ambiental internacional é o Estado, representado
por suas instituições, mas é do indivíduo o papel principal na observância
dos princípios do direito, em qualquer campo, assim como a obediência
aos seus preceitos e normas. O respeito ou o descaso para com o
meio ambiente é que irá garantir, ou não, a sua proteção (idem).
Para colocar melhor a questão pode-se buscar uma definição
para direito ambiental entre Paulo Affonso Leme Machado e Paulo
de Bessa Antunes, autores consagrados, referência no ensino
universitário. Machado (1982) prefere citar outros brasileiros e
estrangeiros ou a jurisprudência, a exemplo de Tycho B.F. Neto que
conceitua Direito Ambiental como sendo “o conjunto de normas e
princípios editados objetivando a manutenção de um perfeito equilíbrio
nas relações do homem com o meio ambiente”. Antunes (1990)
partindo da análise do que chama de linhas mestras da defesa ambiental,
conclui que as estruturas que estão envolvidas no sistema legal de
proteção ao meio ambiente são, ainda, muito precárias e não chegam
a se constituir em um perfeito ramo do direito, suficientemente
amadurecido para que possam se impor sobre outros ramos. O que
não impede, segundo o mesmo autor,que em algum tempo a defesa
ambiental se consolide e venha a se constituir num novo ramo do
direito: o Direito Ambiental. Portanto, estes dois autores concordam
com Silva, que a defesa ambiental lança mão de regras e princípios de
outros ramos do direito.
O termo Direito Ambiental Internacional, no entanto, segundo
Silva (1995), foi reconhecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas
na resolução 44/228, de 1989, que convocou a Conferência sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento. Na verdade, a questão não está
codificada como um ramo exclusivo do direito, como cível ou penal.
36 Terezinha de Jesus Soares
Trata-se, isso sim, da aplicação das regras de direito internacional às
questões de cunho ambiental. Se constrói, portanto, sobre as mesmas
bases ou as mesmas fontes, em que merecem destaque os princípios
gerais do direito, o costume, a doutrina e os tratados internacionais.
Os tratados, segundo Ituassú (1986) têm origem remotíssima.
Surgiram primeiramente por declaração verbal ou mediante a invocação
dos deuses, registrando-se sob a forma escrita no século XIVa.C., para
firmar um acordo entre hititas e Targasnalis, príncipe de Hapala.
Tiveram larga aplicação com os gregos e os romanos, especialmente
com os últimos, que estabeleceram formas e preceitos novos como
amizade, hospitalidade e paz. Dependiam da aprovação pelo Senado
Romano. Exprimiam sempre um acordo entre Estados, no sentido
do bem comum ou visando à regulamentação de assuntos particulares.
Definem-se como um ato jurídico pelo qual um ou mais estados
manifestam seu acordo quanto ao objeto proposto. Podem ser bilaterais,
multilaterais ou plurilaterais. Sua essência está no assunto a que se referem,
em sua natureza e fins a que visam. Atendendo aos aspectos citados,
Ituassu divide os tratados em duas espécies: tratados-contratos, que
regulam interesses e questões particulares entre Estados participantes
e os tratados-leis ou tratados normativos, que traçam normas de
conduta coletiva, disciplinando direitos e deveres de todos quantos
integram a comunidade internacional.
Os tratados-leis têm feição exponencial na vida e no
desenvolvimento do direito internacional. São eles que presidem as
grandes manifestações jurídicas dos povos, assentando as linhas mestras
do procedimento dos Estados e, principalmente, cerceando os
excessos, disciplinando a sociedade. São elaborações de natureza
jurídico-política e/ou de natureza administrativa. No primeiro caso,
Ituassú (1986) cita a Declaração de Paris, 1856, as Convenções de
Haia, 1899 e 1907 e a Convenção sobre Direito Marítimo, de 1958. A
37Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Convenção sobre Propriedade Industrial, 1883, seria de natureza
administrativa enquanto a que criou a Organização Mundial de Saúde,
em 1954, enquadra-se nas duas espécies. Já a Carta das Nações Unidas
tem estrutura essencialmente normativa, pois as regras que contém se
destinam a dirigir e orientar a comunidade internacional em um sistema
destinado a constitucionalizar sua construção e deliberações. Mas, por
seus objetivos, tem também o caráter formador de uma instituição
mundial (idem).
Sob o título “tratados” estão abrigados também os
protocolos, acordos, convênios e convenções que podem ter caráter
regional, bilateral ou global. Dentre aqueles de que o Brasil faz parte
podem ser citados: a Convenção para a regulamentação da pesca à
baleia, de 1946, o Tratado para a proscrição de armas nucleares na
América Latina, 1967, o Acordo de pesca e preservação de recursos
vivos Brasil/Uruguai, de 1968 e o Tratado de Cooperação Amazônica.
A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
é típica desses tratados de caráter global, que têm a virtude de
determinar, de maneira nítida, ou quase nítida, os direitos e as obrigações
das partes contratantes (SILVA, 1995).
O sujeito do Direito Internacional é o Estado, mas as
organizações intergovernamentais e seus representantes têm papel
preponderante nas discussões, definições e firmatura dos tratados e
convenções. Ituassú (1986) enumera os chefes de Estado, Ministros
das Relações Exteriores, agentes diplomáticos e consulares, ou outros
designados para tal, que expressam as relações essenciais à constituição
da comunidade internacional de acordo com a lei interna de cada país.
Além dos Estados as organizações internacionais têm atuação
fundamental nas questões de direito internacional. São elas que entram
em campo quando as regras deixam de ser respeitadas ou a título
preventivo, buscando o consenso, estimulando e promovendo a
38 Terezinha de Jesus Soares
cooperação internacional e cuidando para que as relações se processem
da melhor forma, podendo, inclusive, firmar tratados em nome dos
Países que representam, como é o caso da Comunidade Econômica
Européia – CEE. A Organização das Nações Unidas – ONU é a
principal dessas organizações e reúne sob seus auspícios várias outras
instituições. Criada em 26 de junho de 1945, substituiu a Liga das Nações
e, de certa forma, a Corte Permanente Internacional de Justiça, que se
desfez logo em seguida para ressurgir como órgão jurídico da própria
ONU. Seus objetivos, conforme a Carta das Nações Unidas, são:
preservar as gerações dos flagelos da guerra, reafirmar os direitos
fundamentais do homem e a igualdade de direitos entre as nações, criar
condições sob as quais possam manter-se a justiça e o respeito às
obrigações emanadas dos tratados e outras fontes de direito internacional
e ainda promover o progresso social e elevar o nível de vida dentro do
mais amplo conceito de liberdade (NORDENSTRENG, 1990).
Outros organismos dedicam-se a assuntos mais específicos.
A Organização dos Estados Americanos – OEA e a Organização dos
Tratados do Atlântico Norte – OTAN, são voltados para a defesa
coletiva e a segurança continental, enquanto a Organização Mundial de
Saúde – OMS, cobre a área que lhe dá o nome. Em termos ambientais
destacam-se, entre outras, a Agência Internacional de Energia Atômica
– AIEA, a Organização Marítima Internacional – OMI, que cuida dos
assuntos relativos à poluição do mar e à preservação de seus recursos.
Para tratar especificamente das relações do meio ambiente,
desenvolvimento e populações foi criado em junho de 1972, durante
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em
Estocolmo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –
PNUMA, que coordena as atividades de todos os organismos da ONU
com relação ao meio ambiente. Atua junto à governos, comunidades
científicas, industriais e organizações não-governamentais – ONGs .
39Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
No âmbito das questões climáticas a responsabilidade está
com a Organização Meteorológica Mundial – OMM, mas em termos
de mudanças climáticas globais o assunto está sob a égide da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
que se reúne anualmente na Conferência das Partes – COP, com a
assessoria do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima –
IPCC.
2.1.1 O mundo se preocupa com o clima
A pesquisa sistemática sobre o efeito estufa se inicia em 1957,
com Revelle e Suess, mas desde 1798, segundo Tamames (1977), as
atividades humanas causavam preocupação, embora não com relação
ao clima. Acreditando que em determinado momento os recursos
alimentícios mundiais resultassem insuficientes para alimentar a
população Malthus, em sua obra “An essay on the principle of
population (...)” (1798), propunha o controle da expansão demográfica
através da redução da natalidade. Malthus justificava que enquanto a
população se desenvolvia em progressão geométrica (crescimento
exponencial) a produção de alimentos tendia a crescer em progressão
aritmética(crescimento linear). Foi contestado por Karl Marx em sua
“Teoria da Mais Valia”, que alegava não provir a miséria do número
excessivo da população, mas do regime de propriedade privada com
todas as suas seqüelas. David Ricardo, baseado na Lei dos Rendimentos
Decrescentes, citado por Tamames (idem) partia da hipótese do caráter
limitado dos recursos da terra, segundo o que, maior produção necessita
de maior aporte de trabalho e capital.
John Stuart Mill, em “Princípios da Política Econômica”,
publicada em 1848 (apud TAMAMES, 1977), reconhecia a teoria de
40 Terezinha de Jesus Soares
Malthus sobre a expansão sem freio da população enquanto John Maynard
Keynes (idem) não aceitava a tese do estado estacionário. Para ele o impasse
poderia romper-se através dos gastos públicos, da política monetária e
fiscal e de outros meios utilizados para estimular o crescimento. Apesar
dos aspectos políticos e econômicos das teses citadas o componente
ambiental esteve sempre presente na preocupação com o risco de a
capacidade da terra ser insuficiente para sustentar o crescimento populacional.
A questão evoluiu para o crescimento econômico e social em geral
encontrando defensores do crescimento sem limites e adeptos da idéia de
crescimento zero, e continuou a integrar as preocupações dos pensadores
ao longo dos anos, como o atesta Tamames (1977):
Fue tras la secuencia Gran Depressión/Segunda
Guerra Mundial/reconstrucción económica/
guerra fria quando la polêmica del crecimiento
surgió com toda su fuerza y se difundió a
múltiplos niveles, sobre todo em los países
desarollados. Em combinación, ciertamente, com
los estudios de prospectiva que ya a mediados de
la década de 1960 empezaron a cobrar um
importante impulso.
O aspecto global do perigo ecológico é creditado ao anúncio
da morte do Oceano por Ehrlich, em 1969 e com o relatório Meadows
encomendado pelo Clube de Roma em 1972. Mas, segundo Tamames
(idem) o assunto já fora tratado pelo próprio Ehrlich, em 1968, na
obra The population bomb, em que defendia a necessidade de se limitar
o crescimento da população tanto nos países em desenvolvimento,
quanto nos países industriais, concretamente nos Estados Unidos, em
razão da contaminação e degradação do meio ambiente, que deriva
do crescimento e tem como efeitos negativos toda classe de situações
sociais combinadas com a expansão urbana.
41Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
Antes, porém de Ehrlich, Boulding (apud TAMAMES, 1974)
já defendera atitudes de freio ao crescimento em artigos publicados
em 1945, The Consumption Concept in Economic Theory e 1949,
Income or Welfare que não tiveram tanta repercussão. Boulding é o
autor da tese que define a terra como uma nave espacial, publicada
em 1966 sob o título The Economics for the Coming Spaceship Earth.
Ele partia da premissa de que a economia do planeta terá que ser
concebida como um sistema fechado que exige princípios econômicos
diferentes dos que imperaram na exploração como sistema aberto,
próprio de uma economia de Cow-boy, baseado na abundância,
aparentemente ilimitada de recursos e espaços livres para deposição e
vertedouro de resíduos e contaminantes. E no entanto a terra é um
sistema fechado, daí a idéia de nave espacial, cujos recursos são limitados
e os espaços finitos, passíveis de contaminação e de destruição.
Robert Heilbroner (apud TAMAMES, idem) é outro que
tratou da questão em 1970, antes dos estudos do Massachusetts Institute
of Technology – MIT para o Clube de Roma. Para ele, como em
qualquer aeronave, a sobrevivência dos passageiros da nave espacial
terra depende do equilíbrio entre a capacidade de carga do veículo e
as necessidades dos seus habitantes. Mas o ponto limite da capacidade
já foi ultrapassado devido a três fatores que impõem sérias limitações
à capacidade de vida do planeta: a população galopante, os efeitos
cumulativos da tecnologia e a fome. Heilbroner divide os passageiros
da nave espacial terra em primeira e segunda classes. Na primeira
estariam os habitantes dos países desenvolvidos e na segunda os dos
subdesenvolvidos. Ele acreditava que pelos recursos esperáveis do
mundo e pela tolerância do meio ambiente, a maioria dos passageiros
será sempre de segunda classe. A não ser que trocas impostas dentro
da nave os tornem de uma única classe. São inúmeros os autores que
trataram da questão ora defendendo limitar o crescimento econômico
42 Terezinha de Jesus Soares
e frear o crescimento populacional, ora favoráveis à tese do crescimento
ilimitado, acreditando que o equilíbrio acabará por acontecer.
Os trabalhos realizados sob os auspícios do Clube de Roma
são considerados pontuais na presente questão, embora seu foco central
não fosse a atual concepção do meio ambiente, que só se torna explícita
um pouco mais adiante. Os estudos realizados pelo MIT, produziram
três trabalhos. O primeiro e mais conhecido é “Limites ao Crescimento”
(The Limits to Growth), foi publicado em 1972. Os outros são: Toward
global equilibrium: Collected Papers (1975) e The Dynamics of growth
in a finit world (1977). Para o Clube de Roma ficava clara a existência
de limites físicos superiores (os ecológicos de alcance global) e
insuficiências derivadas do sistema humano de organização: as políticas
divergentes das nações soberanas. A única saída razoável não é outra,
pois, que um marco global que permita resolver os problemas (idem).
O Clube de Roma é uma espécie de universidade invisível,
formada por uma centena de personalidades que, em 1968 decidiram
examinar o vasto conjunto de problemas que preocupavam os homens
nas mais diferentes latitudes: a pobreza em contraste com a abundância;
a degradação do ambiente; o crescimento urbano sem controle; a
insegurança e o emprego, a alienação da juventude, a inflação e outras
distorções monetárias e econômicas (TAMAMES, 1977). Em todos
esses trabalhos, os assuntos principais são a economia e a política, mas
em nenhum momento a questão ambiental esteve ausente, uma vez
que o crescimento populacional não pode ser dissociado do ambiente,
da ocupação dos espaços e da exploração dos recursos naturais
enquanto o crescimento econômico se baseia na exploração desses
mesmos recursos, na utilização da matéria prima, especialmente a
energia.
As conclusões de Revelle e Suess e o trabalho de Heilbroner
receberam maior atenção quando dos estudos para o Clube de Roma
43Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
que se revestiram da maior importância no cenário econômico mundial,
despertando para a necessidade de se estabelecer uma nova ordem
internacional, ao ponto de o presidente do Clube, Aurélio Pecei,
constituir um grupo de especialistas para indicar “que nova ordem
internacional deveria se recomendada aos estadistas e grupos sociais
de todo o mundo para enfrentar, de modo mais prático e realista, as
urgentes necessidades da população atual e as exigências prováveis das
gerações futuras”. Os primeiros rascunhos do relatório foram entregues
na sétima Assembléia Geral ONU em 1975, e as conclusões finais um
ano depois, de onde se destacam as recomendações seguintes:
– acesso por todos e para todos à tecnologia e à informação
científica;
– administração internacional para os espaços oceânicos e
aéreos além das jurisdições nacionais;
– utilização racional da energia, com atenção muito especial à
conservação dos recursos não renováveis e com maior aproveitamento
das fontes de energia não convencionais.
2.1.2 Acordos para proteção da natureza
No que se refere a medidas para regular as relações do homem
com a natureza e no que isso resulta ao longo do tempo, há na história
inúmeros atos destinados a coibir a degradação do meio ambiente,
principalmentequanto à pureza da água e do ar, como a proclamação
de 1306, do rei Eduardo I, proibindo o uso do carvão nas fornalhas
abertas de Londres. A pena, em caso de violação, era uma multa; em
caso de reincidência, a fornalha seria demolida e ocorrendo uma terceira
violação da proclamação, o responsável pagaria com a vida (SILVA,
1995). A primeira lei protecionista brasileira é o Regimento do Pau
44 Terezinha de Jesus Soares
Brasil, de 12/12/1605, que proibiu o corte da árvore sem a expressa
licença real ou do provedor da capitania em cujo distrito estivesse a
mata explorada. A pena para o infrator era o confisco de toda a fazenda.
(WAINNER, 1991)
Nos tempos modernos, Silva (idem) considera que o I
Congresso Internacional para a Proteção da Natureza, realizado em
Paris, em 1923, representa o primeiro passo importante no sentido de
abordar o problema no seu conjunto. O primeiro tratado em defesa
do Meio Ambiente foi assinado em Londres, em 1954. Trata-se da
Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por
Óleo, assunto sobre o qual duas outras convenções foram assinadas
em 1969. O Brasil é signatário da Convenção internacional sobre
responsabilidade civil em danos causados por poluição por óleo. É
parte também de uma série de outros tratados, convenções e protocolos
firmados até o ano de 1973, voltados para a proteção da fauna terrestre
e marinha, regulamentação da pesca à baleia, proteção dos vegetais e
dos recursos naturais em geral. Mas a respeito dos quais, segundo Silva
(idem), os Estados não tinham uma consciência ecológica no seu sentido
mais amplo. As questões eram encaradas sob um prisma mais restrito,
de combate a problemas específicos.
Como está provado o fator população, com todos os
problemas que o acompanham, é desde muito tempo, uma grande
preocupação de pensadores e pesquisadores. Em 1968, materializando
essas preocupações a UNESCO fez realizar, em Paris, a Conferência
Internacional da Biosfera, onde surgiu a idéia da realização, pela ONU,
de um encontro destinado a discutir os problemas ambientais. Essa
idéia se materializou em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, com a participação
de 113 países, quando foi criado o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente – PNUMA. Segundo Tamames (1977), os
45Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
preparativos para a Conferência foram árduos, repletos de dificuldades
e dentro de um ambiente de tensão, originado por encontros paralelos,
também em Estocolmo, por grupos de ecologistas independentes e
com os mais diversos propósitos. Os países em desenvolvimento se
mostraram pouco receptivos e até mesmo contrários aos pontos
defendidos na Conferência, por se considerarem prejudicados na
discussão das questões ambientais. Defendiam que mais importante
era seu processo de desenvolvimento econômico e social. O Brasil foi
um dos países firmemente contrários às posições ambientalistas. As
colocações do embaixador brasileiro Araújo e Castro (SILVA, 1995)
declaravam que os planos submetidos à Conferência identificavam-se
com os problemas e as preferências dos países industrializados e não
levavam em consideração as necessidades e as condições dos países
em desenvolvimento.
Essa posição foi considerada pela Conferência, influenciou o
movimento ambientalista mundial e motivou a inclusão de aspectos
de interesse dos países em desenvolvimento, capazes de conciliar
desenvolvimento e proteção ambiental. Da Conferência resultou a
Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,
proclamada em junho de 1972, composta de 26 princípios comuns
que proclamam o direito do homem a viver em ambiente de boa
qualidade, bem como a responsabilidade de proteção e melhoria desse
ambiente para as gerações futuras.
Outro grande passo no sentido de encontrar um meio termo
nas relações homem x ambiente foi a criação pela ONU, em 1983, da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida
por Gro Brundtland, Ministra do Meio Ambiente da Noruega e que
resultou no relatório Nosso Futuro Comum, apresentado à Assembléia
Geral da ONU em 1987 e que representa a possibilidade de uma
nova era de crescimento econômico, apoiado em práticas que
46 Terezinha de Jesus Soares
conservem e expandam a base de recursos ambientais, essencial para
mitigar a pobreza que se vem intensificando na maior parte do mundo
em desenvolvimento. Criava-se assim a tese do desenvolvimento
sustentável, como objetivo a ser alcançado não só pelas nações em
desenvolvimento, mas também pelas industrializadas. Sobre as
questões climáticas globais a Comissão considerou que devido ao
efeito estufa, é possível que, já no início do século XXI as temperaturas
médias globais se tenham elevado ao ponto de acarretar o abandono
de áreas de produção agrícola e a elevação do nível do mar, de
modo a inundar cidades costeiras e desequilibrar economias nacionais
(CMMAD, 1991).
Na década de 1970/1980 o pensamento ecologizado tomou
corpo e foi num crescendo. Saiu dos pequenos grupos de ecologistas,
dos corredores das universidades e dos laboratórios de pesquisas,
atingiu a sociedade maior e mais organizada e ganhou espaço nos
meios de comunicação social. Também ocupou espaço nos
parlamentos a ponto de nos anos 70 haverem sido criados ministérios
do ambiente em 70 países. O tempo também concretizou as previsões
de cientistas e ambientalistas com relação ao uso desordenado do
meio ambiente. Além das catástrofes já mencionadas começaram a
se evidenciar as questões climáticas e o que era local passou a ter
dimensões globais ameaçando o planeta como um todo. É o caso
do buraco da camada de ozônio, do efeito estufa, dos fenômenos
El Niño e La Niña.
A tomada de consciência da realidade e da gravidade desses
problemas motivou a mudança definitiva dos paradigmas ambientais.
A Comissão sugeriu à Conferência Geral das Nações Unidas convocar
uma conferência internacional para analisar os progressos obtidos e
promover acordos de acompanhamento do seu relatório final – Nosso
Futuro Comum – necessário para estabelecer pontos de referência e
47Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
manter o progresso humano dentro das diretrizes das necessidades
humanas e das leis naturais.
A sugestão foi acatada pela ONU na Assembléia Geral de
1988. A Resolução 44/228, da Assembléia Geral de 1989, convocou a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CNUMAD para 1992, com o objetivo de destacar
entre outros temas: proteção da atmosfera; diminuição da camada de
ozônio; poluição transfronteiriça e combate à mudança climática;
proteção e melhoria da qualidade da água potável, inclusive das zonas
costeiras; proteção racional dos recursos do mar; proteção e
administração dos recursos terrestres pelo combate ao desmatamento;
desertificação e secas; conservação da diversidade biológica;
administração da biotecnologia em padrões ambientalmente aceitáveis;
administração de rejeitos, principalmente os químicos de natureza tóxica;
proibição do tráfego ilícito internacional de rejeitos tóxicos e perigosos.
Após quatro anos de preparação a Conferência foi realizada no Rio
de Janeiro, em junho de 1992, com a participação de 78 delegações e
vários chefes de estado, ficando conhecida como Rio 92 (Silva, 1995).
A tese do desenvolvimento sustentável orientou todas as discussões 92
e se constituiu no eixo principal dos documentos firmados na
Conferência, que são: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Agenda 21, a Convenção sobre Mudança do Clima
e a Convenção sobre Diversidade Biológica.
2.1.3 Antecedentes da convenção-quadro das Nações
Unidassobre mudança do clima
Em 1988 a Assembléia Geral das Nações Unidas abordou
pela primeira vez o tema mudança do clima e adotou a resolução 45/
48 Terezinha de Jesus Soares
53 sobre a proteção do clima global para as gerações presentes e futuras
da humanidade. No mesmo ano foi instituído pela Organização
Meteorológica Mundial – OMM e pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente – PNUMA, o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas – IPCC, que reúne cientistas do mundo inteiro e
se destina a auxiliar as Nações Unidas na condução das políticas relativas
ao clima. O IPCC não realiza pesquisas independentes, trabalha na
interpretação das pesquisas divulgadas pelas publicações científicas em
diferentes países. Seus relatórios são reconhecidos como fontes confiáveis
de informações sobre mudança do clima. O primeiro relatório do
IPCC, de 1990, confirmava a ameaça que a mudança do clima
representa, sugerindo a necessidade de se celebrar um acordo global
para tratar do assunto. Em dezembro do mesmo ano através da
Resolução 45/212 a Assembléia Geral da ONU formalizou as
negociações para a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima,
criando o Comitê Intergovernamental de Negociação – CIN,
constituído por representantes de mais de 150 países e presidido por
Jean Ripert, da França, para conduzir as negociações (DEPLEDGE,
2001).
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima foi adotada na quinta reunião do CIN, em 02 de maio de
1992, tendo como objetivo primeiro a estabilização das concentrações
atmosféricas de gases do efeito estufa, em níveis que impeçam que as
atividades humanas afetem perigosamente o sistema climático global,
que permitam aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança
do clima e aos países prepararem-se para enfrentar os seus efeitos. A
Convenção foi aberta a assinaturas na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 04 de junho de 1992,
no Rio de Janeiro, sendo o Brasil o primeiro país a firmá-la. Entrou
em vigor no dia 21 de março de 1994, 90 dias após a qüinquagésima
49Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
ratificação. Hoje, 186 países e a Comunidade Econômica Européia –
CEE, são partes da Convenção, divididos em dois grupos: Partes do
Anexo I – países industrializados e Partes não-Anexo I – países em
desenvolvimento. Por essa divisão os primeiros são tidos como
principais contribuintes para a mudança climática. O que se deve ao
fato de ao longo da história haverem emitido mais GEE que os países
em desenvolvimento.
Em decorrência desse entendimento foi adotado o princípio
da eqüidade e da responsabilidade comum mas diferenciada, pelo qual
as partes do Anexo I comprometeram-se a adotar medidas internas
com o objetivo de até o ano 2000, retornar suas emissões aos níveis de
1990. As partes do não-Anexo I não têm compromisso de reduzir
emissões, por entendimento geral de que as emissões estão diretamente
relacionadas aos processos de desenvolvimento, ainda em andamento
nesses países. Como obrigação comum, todos devem submeter à
apreciação da Convenção as Comunicações Nacionais em que detalham
suas políticas internas e apresentam os Inventários de Emissões. Além
dos países desenvolvidos, integram o Anexo I os países de economias
em transição – EITs, entre os quais a Federação Russa. Outra obrigação
das partes do Anexo I é auxiliar os países em desenvolvimento na
condução dos termos da Convenção, inclusive facilitando a transferência
de tecnologias modernas capazes de reduzir as emissões ou fornecendo
recursos financeiros, que auxiliem no trato da questão.
O Secretário Geral das Nações Unidas é o depositário da
Convenção e dos protocolos adotados. A Convenção dispõe de
mecanismos próprios para implementação e administração de seus
recursos:
• Conferência das Partes – COP (Art. 7) É o órgão maior da
Convenção. Tem autoridade suprema para a tomada de decisões.
Materializa-se na associação de países membros, que ratificam as
50 Terezinha de Jesus Soares
decisões tomadas. Orienta esforços internacionais em relação à mudança
do clima; revisa a implementação da Convenção e acompanha os
compromissos das partes; revisa as Comunicações Nacionais submetidas
pelas Partes com base no que avalia os efeitos das medidas adotadas no
sentido de se fazer cumprir a Convenção. Reúne-se uma vez por ano,
recebendo uma denominação numérica, conforme Tabela 01.
Angela Merkel (Alemanha)
Chen Chimutengwende (Zimbábue)
Hiroshi Ohki (Japão)
Maria Júlia Alsogary (Argentina)
Jan Szysko (Polônia)
Jan Pronk (Holanda)
Berlim
Genebra
Quioto
Buenos Aires
Bonn
Haia
COP1
COP2
COP3
COP4
COP5
COP6
28 de março a 07 de abril de 1995
8 a 19 de julho de 1996
1 a 11 de dezembro de 1997
2 a 14 de novembro de 1998
25 de outubro a 5 de novembro de 1999
13 a 14 de novembro de 2000
Tabela 01. Datas, locais e presidentes das sessões da COP até o ano 2000.
• Secretariado (Art. 8). Atende à COP, aos Órgão Subsidiários
e aos Bureaux. Suas funções incluem preparar as sessões dos órgãos da
Convenção, assistir às Partes na implementação dos compromissos,
apoiar as negociações em andamento e interação com os secretariados
do GEF e do IPCC; Preparar os documentos oficiais, coordenar e
revisar as comunicações nacionais das Partes do Anexo I. O Secretariado
é administrado de acordo com as regras das Nações Unidas que indica
o Secretário Executivo, que atualmente é Michael Zammit Cutajar, de
Malta. Atualmente localiza-se em Bonn, Alemanha (DEPLEDGE, 2001).
• Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e
Tecnológico – SBSTA (Art. 9). Assessora a COP em questões científicas,
tecnológicas e metodológicas. Funciona junto com o IPCC solicitando,
quando necessário, estudos específicos.
• Órgão Subsidiário de Implementação – SBI (Art. 10).
Colabora na avaliação e implementação da Convenção. Desempenha papel
fundamental no exame das Comunicações Nacionais e dos Inventários de
Emissões e assessora a COP nos assuntos administrativos e orçamentários,
51Efeito Estufa: a Amazônia e os aspectos legais
assim como na aplicação do mecanismo financeiro (operado GEF). Em
conjunto com o SBSTA atua em questões ligadas ao Protocolo de Quioto,
no cumprimento, capacitação e vulnerabilidade dos países em
desenvolvimento à mudança do clima e às medidas de mitigação.
• Bureau – eleito pelas Partes no início de cada sessão da
COP para orientar os trabalhos. É composto por 11 membros, dois
indicados pelos grupos regionais das Nações Unidas e um lugar é
reservado para um representante dos pequenos países insulares. Cada
Bureau é eleito por um ano, podendo ser reeleito para mais um ano.
Há Bureaux também para a SBSTA e SBI (DEPLEDGE, 2001).
• Mecanismo Financeiro (Art. 11). Destina-se a fornecer
recursos para auxiliar países em desenvolvimento a implementar a
Convenção e a tratar da mudança do clima. É operado pelo GEF.
Responde à COP, que decide sobre suas políticas de mudança do
clima, prioridades de programas e critérios para obtenção de fundos.
• Para as negociações durante as COPs cada Parte (país ou
conjunto de países) elege uma delegação ou um representante. As Partes
se organizam em cinco grupos, tradicionais das Nações Unidas a partir
dos quais elegem os Bureaux. Os grupos são: África, Ásia, Europa
Oriental, América Latina e Caribe (GRULAC) e a Europa Oriental e
os Outros Grupos (WEOG) que incluem Austrália, Canadá, Islândia,
Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos. O Japão está no
grupo da Ásia. Nas negociações prevalecem outras associações de
acordo com os interesses das partes representadas. Os países em
desenvolvimento atuam através do grupo dos 77 mais a China. Este
grupo foi fundado em 1964 na Conferência das

Continue navegando