Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Giovanni de Paula Oliveira André Luís Teixeira Fernandes Carlos Messias Pimenta Tiago Zanquêta de Souza Abordagens científica, filosófica e artística das relações sociedade ‑natureza Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube © 2017 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró‑Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Diagramação xxxx Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Sobre os autores André Luís Teixeira Fernandes Doutor em Engenharia de Água e Solo, com concentração em Irrigação e Drenagem, pela Feagri/Unicamp – Campinas. Mestre em Irrigação e Drenagem, com área de concentração em Uso Racional de Água e Energia Elétrica na Agricultura e Pecuária, pela Esalq/USP – Piracicaba; Engenheiro Agrônomo, formado pela Esalq/USP – Piracicaba; Atua como professor e pesquisador na Universidade de Uberaba há dez anos, ministrando aulas atualmente nos cursos de Gestão de Agronegócios, Engenharia Ambiental e Enfermagem, na Graduação e nos cursos de Pós ‑Graduação de Cafeicultura Irrigada e MBA em Gestão de Agro‑ negócios, cursos de Especialização que coordena. É coordenador do Núcleo de Cafeicultura Irrigada da Embrapa Café e Bolsista do CNPq (Produtividade em Pesquisa). Carlos Messias Pimenta Especialista em Administração Rural pela Universidade Federal de Lavras. Graduado em Direito pela Universidade de Uberaba e em En‑ genharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras. Professor da Uni‑ versidade de Uberaba, com experiência na área de Ciências Ambientais. IV UNIUBE Giovanni de Paula Oliveira Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia (2009). Graduado em Letras Português‑Inglês pela Universidade de Uberaba – Uniube (2005). Integra o Grupo de Pesquisa em Sociolinguística (GEPSO‑ CIO) da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Professor de Língua Portuguesa e Literatura da Educação Básica. Preceptor do curso de Letras Português‑Inglês dos polos de Uberaba e Uberlândia. Principais áreas de atuação: Sociolinguística – variação e sintaxe em uma perspectiva intra e interlinguística; Literatura Brasileira. Márcia Regina Pires Especialista em Formação de Professores em Educação a Distância, pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna, graduada em Tecnologia em Pro‑ cessamento de Dados e em Licenciatura em Letras, pela Universidade de Uberaba – UNIUBE. É docente e integra a equipe de Produção de Materiais Didáticos e Pedagógicos desta Universidade. Tiago Zanquêta de Souza Especialista em Docência do Ensino Superior e em Gestão Ambiental. Li‑ cenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Uberaba – Uniube. Habilitado em Magistério para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (EAD) e Professor do Curso de Engenharia Ambiental, da Uniube. Professor da rede particular de ensino de Uberaba. Sumário Apresentação ........................................................................................IX Capítulo 1 Impactos ambientais globais ............................................1 1.1 Aquecimento global: hipótese ou fato? ........................................................3 1.2 Tempo e clima ............................................................................................12 1.3 Variabilidade × mudança climática ............................................................14 1.4 Efeito estufa ...............................................................................................15 1.5 Medidas mitigadoras ..................................................................................30 Capítulo 2 Educação e gestão ambiental – construindo caminhos, dividindo fronteiras ........................................39 2.1 Educação ambiental como ferramenta de gestão do ambiente ................ 42 2.1.1 A relação homem × natureza ............................................................47 2.1.2 Necessidade da ética ambiental .......................................................49 2.1.3 Sustentabilidade: princípios necessários ao desenvolvimento .........51 2.1.4 Tendências da educação ambiental no Brasil...................................57 2.1.5 Diretrizes para conservação do meio ambiente ...............................65 2.2 Gestão e suas funções: planejar, organizar, dirigir e controlar ..................69 2.2.1 A questão ambiental na empresa .....................................................80 2.2.2 Visão do gerenciamento ambiental nos dias atuais..........................83 2.2.3 Certificação ambiental ......................................................................93 2.2.4 Melhoria contínua do desempenho ambiental ................................102 Capítulo 3 O ambiente sob o olhar do artista – leituras do ambiente na literatura, nas artes plásticas, na música .....................................................................123 3.1 O olhar do artista: artes plásticas ............................................................125 3.2 O olhar do artista: a música .....................................................................132 3.3 O olhar do artista: a literatura ..................................................................137 3.4 O traslado do olhar ..................................................................................140 VI UNIUBE Capítulo 4 O ambiente sob o olhar do artista – leituras do ambiente no cinema, nas artes cênicas e na televisão ..................................................................159 4.1 Para começo de conversa: um pouco de teoria da linguagem ................ 160 4.2 A junção das matrizes: verbal – visual – sonora ......................................163 4.3 Leituras do ambiente – o cinema .............................................................166 4.4 Leituras do ambiente – as artes cênicas .................................................172 4.5 Leituras do ambiente – a televisão ..........................................................174 Apresentação Caro(a) aluno(a), Certamente estamos construindo um período histórico em que grandes mudanças se nos apresentam a cada dia, levando ‑nos a refletir sobre tantas questões importantes como o despertamento de olhares, as mu‑ danças de paradigmas, a interação entre culturas e o aumento constante da necessidade de diálogo entre nós que habitamos o planeta. Em tempos quando questões como interdisciplinaridade, interação social e multiculturalismo são amplamente discutidas e levadas à reflexão por filósofos e educadores, faz ‑se mister o surgimento de incursões por en‑ tre as veredas que nos levam ao mundo das artes, do desenvolvimento da percepção que nos revela verdades em relação ao mundo em que vivemos, e faz ‑nos pensar sobre a igual necessidade de uma educação voltada para a integração entre o ser humano com sua capacidade de criação e a natureza. A partir dessas questões, os estudos que você realizará neste volume serão de fundamental importância à construção de sua própria identidade como professor de geografia. No Capítulo 1, você iniciará seus estudos a partir dos impactos ambientais que atualmente atingem o planeta como o aquecimento global, o efeito estufa e tantos outros assuntos decorrentes da postura do ser humano frente à natureza. VIII UNIUBE No Capítulo2, partindo do que foi apresentado no Capítulo 1 sobre os im‑ pactos ambientais, será apresentado um estudo sobre a gestão ambiental e também um panorama sobre a educação ambiental, cuja necessidade se faz presente a partir do momento em que os seres humanos tomam consciência de que é por meio da educação que haverá a possibilidade de o planeta ser salvo, e qual deve ser a postura do professor na formação de indivíduos da educação básica, que desde cedo já irão pensar sobre melhores maneiras de o ser humano se beneficiar dos recursos que a natureza tem a lhe oferecer sem, contudo, colocar a raça humana e ou‑ tras espécies em risco de extinção. Mas para isso, é necessário que haja uma gestão que dê conta de promover um desenvolvimento sustentável, justificando a necessidade de uma gestão ambiental. Seguindo uma linha interdisciplinar de pensamento, nos capítulos 3 e 4 você encontrará diversas reflexões filosóficas sobre a relação entre o ser humano, o meio ambiente e várias formas de arte como as artes plásticas, a música, a literatura, o cinema, as artes cênicas e a televi‑ são, e como essas reflexões são importantes à formação do indivíduo que possui uma dimensão filosófica, uma dimensão ético ‑política e uma dimensão artística. Com isso, esperamos que você realize ótimos estudos, a fim de se tornar um excelente educador comprometido com o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões. Equipe Pedagógica André Luís Teixeira Fernandes Introdução Todos nós temos nos deparado, ultimamente, com discussões sobre o aquecimento global. Trata ‑se de notícia repetida inúme‑ ras vezes na mídia. Esse assunto, da mesma forma, tem sido o tema central de reuniões científicas e diplomáticas em todo o mundo. Porém, nem sempre essa questão é colocada de forma isenta de paixões, livre de visões catastróficas e de forma que as hipóteses científicas de hoje não sejam consideradas fatos consumados. A hipótese do aquecimento global tem sido sustentada por séries numéricas de dados de temperatura média global do ar nos últi‑ mos 150 anos, no aumento observado de gás carbônico (CO2) na atmosfera e em simulações com modelos matemáticos dos mais variados possíveis. Dentro desse contexto, vamos estudar neste capítulo alguns aspectos teóricos referentes a mudanças climáticas, variabili‑ dade climática, efeito estufa e outros conceitos, além de discutir Impactos ambientais globais Capítulo 1 2 UNIUBE como andam as negociações internacionais sobre os estudos do clima. Objetivos Esperamos que ao final deste capítulo, você seja capaz de: • compreender o que significa o efeito estufa, sua impor‑ tância e seus inconvenientes para a manutenção da vida na Terra; • aumentar o conhecimento sobre o aquecimento global, distinguindo o que é mito e o que é verdade sobre o tema; • identificar a diferença entre mudanças climáticas e varia‑ bilidade climática; • estudar possíveis formas mitigadoras para conviver com o cenário de novas temperaturas da Terra. Esquema Efeito estufa Medidas mitigadoras Variabilidade × mudança climática Tempo e clima Aquecimento global: hipótese ou fato? UNIUBE 3 1.1 Aquecimento global: hipótese ou fato? Segundo Nishi et al. (2005), a média de temperatura da superfície terrestre sofreu um aumento de 0,6ºC no século XX. Em termos globais, é provável que a década de 1990 tenha sido a mais quente e o ano de 1998 o mais quente dessa década. Esse fato leva em consideração dados coletados desde 1861, quando se iniciaram as medidas da temperatura por instrumentação. Alguns fatos são incontestáveis. No último século e meio, observamos o aumento da concentração de gás carbônico em 25% e um aumento da temperatura mé‑ dia global de 0,3 a 0,6ºC. Porém, alguns modelos têm feito simulações indicando aumentos catastróficos de 1,5 a 4,5ºC, gerando consequências gravíssimas às populações de todo o mundo. explicando melhor O aumento do nível dos oceanos, o degelo de calotas polares e a expansão volumétrica das águas dos oceanos implicariam a necessidade de realocação de 60% da população que vive em regiões costeiras. Vejamos outros fatos relevantes vistos na mídia com relação aos fenômenos atmosféricos extremos: • forte calor no verão de 2003, com temperaturas até 6ºC acima da média, que matou cerca de 14 mil 4 UNIUBE pessoas na França e 4 mil na Itália. Em toda a Europa foram cerca de 35 mil mortes; • a seca que assolou a Amazônia entre os meses de maio e outubro de 2005 foi uma das maiores da história: mais de 250 mil pessoas foram atingidas nos estados do Amazonas e do Pará; • entre fevereiro e abril de 2005, as chuvas intensas e constantes em toda a Amazônia Legal causaram sérios prejuízos à população; • a estiagem dos meses de janeiro e fevereiro de 2005 foi uma das maiores da história, provocando perdas de produtividade de mais de 60% nas lavouras de soja, e cerca de 55% de quebra de produção nas lavouras de milho do Rio Grande do Sul; • em 2004, ventos de 150 km/h e ondas de 5 metros deixaram Torres, no litoral gaúcho, em estado de emergência. Vinte mil residências foram destruídas nas cidades litorâneas da região Sul; • o Furacão Katrina foi um furacão que alcançou o nível máximo na Es‑ cala Saffir ‑Simpson (Tabela 1), com ventos de 280 km/h. Ao atingir a costa sul dos Estados Unidos, em 28 de agosto de 2005, obrigou mais de 1 milhão de pessoas a deixarem suas casas na região metropoli‑ tana de Nova Orleans, com cerca de 1.500 mortos em quatro estados norte ‑americanos. Os prejuízos foram orçados em US$ 2 bilhões. Tabela 1: Escala de classificação de ventos de Saffir ‑Simpson. Categoria Ventos (km/h) Altura (m) Pressão (hPa) UNIUBE 5 Tempestade Tropical 56‑117 ‑ ‑ 1 119‑153 1,2‑1,6 > 980 2 154‑177 1,7‑2,5 965‑979 3 178‑210 2,6‑3,8 945‑964 4 211‑249 3,9‑5,5 920‑944 5 > 249 > 5,5 < 920 Fonte: Adaptado de Pereira; Angelocci; Sentelhas (2002). curiosidade Um furacão é um ciclone de grande intensidade. Mas qual é a diferença entre ciclone e anticiclone? O centro de uma massa aquecida, segundo Pereira, Angelocci e Sente‑ lhas (2002), possui baixa pressão. Na medida em que se afasta do centro, a pressão vai aumentando. A tendência natural é de o vento soprar em direção ao centro de baixa pressão, ou seja, um centro de baixa pressão é uma região de convergência de ventos. Um centro de alta pressão, ou seja, um centro exportador de vento, tem circulação anti ‑horária, caracterizando um anticiclone. Isso vale para o Hemisfério Sul. Em 2007, o Furacão Dean atingiu a Jamaica e deixou um rastro de des‑ truição, matando várias pessoas e passando à categoria 5. 6 UNIUBE A rede de televisão estatal de Mianmar informou que o número oficial de mortos após a passagem do ciclone Nargis, que atingiu o país no início de maio de 2008, pode chegar a 100 mil pessoas. De acordo com Nishi et al. (2005), algumas consequências drásticas são esperadas com o aquecimento iminente, como o derretimento das calotas polares, o aumento do nível médio dos oceanos, a propagação de doenças tropicais, a migração e extinção da biodiversidade, entre outros desastres. Algumas dessas consequências já podem ser obser‑ vadas, como o aumento médio do nível dos oceanos e o derretimento das calotas polares (Figura 1). Ações de depredação ambiental realizadas pelos seres humanos in‑ fluenciam essas mudanças, as quais, por sua vez, intensificam a de‑ gradação ambiental, criando um círculo vicioso (PRIMAVESI; ARzABE; PEDREIRA, 2007). No Brasil, os efeitos das catástrofes climáticas podem ser: a) savanização da Amazônia; b) elevação do nível dos oceanos; UNIUBE 7 Figura 1: Situação da calota polar ártica, desde 1979. Fonte: Adaptado de NASA. Redesenhada pela equipe de produção EAD – Uniube. POLO NORTE Desde 1979, mais de 20% da camada de gelo foi perdida Mar Ártico – camada de gelo em 1979 c) represas ameaçama biodiversidade; d) seca no Nordeste; e) enchentes no Sudeste (as chuvas em SP e RJ no dia 25 de maio de 2005 foram as mais intensas desde 1943); f) ciclones no Sul (como o Catarina, em março de 2004); g) pororoca no Norte (a nossa minitsunami no rio Araguari ‑AP); h) chuva de granizo (granizada); i) deslizamento de terra (avalanches em áreas de risco); j) enchentes em todo o Brasil; 8 UNIUBE k) secas; l) vendavais; m) raios. curiosidade Em 2007: Oitenta e sete por cento dos brasileiros estão preocupados com as mudanças climáticas, segundo relevou uma pesquisa de opinião realizada pela BBC. O Brasil é o país mais apreensivo com a questão. A pesquisa, que ouviu 14 mil pessoas de 21 países, mostrou que a média de preocupação mundial é de 68%. Fonte: Agroanalysis, FGV, p. 11, abril de 2007. Em 2009: Para o brasileiro, clima não é o maior problema. Neste caderno especial da Folha de S.Paulo, o problema das mudanças climáticas é preocupação para apenas 5% dos brasileiros. Os mais graves são: pobreza (22%) e violência e fome (19% cada um). Fonte: Folha Clima, Folha de S.Paulo, p. 2, 6 dez. 2009. Mesmo com todas essas informações reforçando a hipótese de um aque‑ cimento iminente da temperatura global, percebemos, por um acompa‑ nhamento histórico e diário de reportagens da revista Times, que, já em 1945 – após a Segunda Guerra Mundial, as mudanças climáticas já eram manchete, sendo a reportagem a seguinte: “o mundo está fervendo”; nos anos 1970, a notícia era o esfriamento, com a reportagem: “O grande UNIUBE 9 congelamento”; Em 2006, a manchete dizia: “Fiquem preocupados, muito preocupados”, iniciando reportagem global sobre o aquecimento global. E agora? Quer dizer que já se falava em aquecimento global em 1945? De‑ pois disso veio uma época fria? E depois, novamente, uma quente? Como explicar? Na verdade, a partir do início das publicações oficiais do IPCC sobre o aquecimento global, um grupo de cientistas de várias partes do mundo começou a criticar as chamadas “teorias do aquecimento”, sendo pro‑ movidos a partir de então vários debates acalorados em várias partes do mundo, debates estes que perduram até hoje. Esses pesquisadores, que posteriormente passaram a ser chamados de “céticos”, criticam du‑ ramente as teorias do IPCC. Vamos tentar entender, na Figura 2, essas duas teorias com pensamentos tão conflitantes. Conforme podemos ver na Figura 2, ambas as correntes confirmam um acréscimo médio de temperatura. Os conflitos aparecem nas causas do aquecimento. Segundo o IPCC, o planeta está aquecendo ‑se devido ao aumento fora de controle na emissão dos chamados Gases do Efeito Estufa (GEE), devido às causas antrópicas. Ou seja, atribuem a “culpa” pelo aquecimento global ao homem, unicamente. Já os céticos, apesar de também confirmarem aumentos de temperatura do globo, afirmam que o homem nada tem a ver com os aumentos de temperatura, que são causados por causas naturais, como a radiação solar (manchas solares), o aquecimento cíclico das águas dos oceanos, 10 UNIUBE em especial do Pacífico (oscilação decadal do Pacífico), à redução do albedo planetário, entre outros fatores. Os céticos criticam o estabeleci‑ mento de modelos matemáticos para prever futuras mudanças no clima, por considerá ‑los falhos e tendenciosos. saiba mais IPCC = Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Resumo do 40o relatório, novembro de 2007: O aquecimento global vai causar: • perdas irreversíveis ao meio ambiente; • a temperatura mundial deve aumentar de 1,1°C a 6,4°C até 2100, com um valor médio mais seguro entre 1,8°C e 4°C. O aquecimento será mais importante nas latitudes mais elevadas; • as chuvas serão mais intensas nas latitudes mais elevadas, mas diminuirão na maioria das regiões subtropicais; • desertificação da Amazônia; • o nível dos oceanos poderá subir de 0,18 a 0,59 m; • aumento de eventos climáticos extremos como furacões, secas, enchentes, geadas e altas temperaturas; • o homem é o principal causador do aquecimento global – emissões de CO2. UNIUBE 11 saiba mais Para saber mais sobre as teorias dos céticos, um excelente artigo é o do Prof. Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de Alagoas. Em artigo intitulado “Considerações sobre o aquecimento global antropogênico”, o professor Molion argumenta que se a influência humana no clima global existe, ela é muito pequena e impossível se ser detectada em face da grande variabilidade natural do clima. Molion afirma que, considerando o passado recente, é muito provável que ocorra um resfriamento global nos próxi‑ mos 20 anos ao invés de um aquecimento. Fonte: MOLION, L. C. B. Considerações sobre o aquecimento global antro‑ pogênico. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 29, n. 246, p. 7 ‑18, set./ out. 2008. Conheça em detalhes as correntes científicas atuais que abordam o aque‑ cimento global, apresentadas, na Figura 2, por Rolim (2008). 12 UNIUBE Correntes científicas atuais IPCC: ►incremento dos gases de efeito estufa GEE pelo homem causa o aquecimento global Tendência de AUMENTO da temperatura Tendência ?? Medidas de redução dos GEEs Indiferente aos GEEs/Causa natural Céticos: argumentos sólidos em relação a: ►aquecimento não pode ser devido ao homem porque antes de 1946 as emissões de GEE eram menos de 10% das atuais ►aumento das atividades solares ►redução do albedo planetário: devido à diminiução de atividades vulcânicas ►dados obtidos em “ilhas de calor” ►supervalorização dos GEE e desvalorização dos efeitos de ODP (vulcões submarinos) ►modelos climáticos falhos Fato científico: está ocorrendo aquecimento médio da Terra (não necessariamente onde você vive!) CAUSAS? MEDIDAS ESTRATÉGICAS? Figura 2: Comparação das duas teorias sobre o aquecimento global (IPCC = Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas; GEE = Gases do Efeito Estufa; ODP = Oscilação Decadal do Oceano Pacífico). Fonte: Rolim (2008). Está na moda falar de clima, mas ficam alguns questionamentos fundamentais: O que é clima? E o que é tempo? Mudança ou variação climática? O que é efeito estufa? UNIUBE 13 Qual o problema dos combustíveis fósseis? Para que serve o Protocolo de Kyoto? E o acordo de Copenhague? Quais os impactos das mudanças climáticas? Com base no exposto, vamos continuar nossos estudos. 1.2 Tempo e clima Conforme Angelocci e Sentelhas (2007), a atmosfera é uma massa em contínuo movimento, induzindo variações nas condições pre‑ dominantes numa região. O estado da atmosfera pode ser descrito por variáveis que caracterizam as suas condições energéticas. Para um dado local, essa descrição pode ser tanto em termos instantâneos (condição atual) como em termos médios (condição média). registrando Denomina ‑se tempo a descrição instantânea, enquanto a descrição média é denominada clima. O clima é uma descrição estática que expressa as condições médias, geralmente por mais de 30 anos, das condições de tempo num deter‑ minado local. As variações sazonais de temperatura, chuva, umidade relativa do ar e radiação solar caracterizam o clima de uma região. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) escolheu o período mínimo 14 UNIUBE de 30 anos com base em princípios estatísticos de tendência do valor médio. Assim, incluem ‑se anos com desvios para mais e para menos em todos os elementos do clima. ponto ‑chave O valor médio de 30 anos é chamado NORMAL CLIMATOLÓGICA. Na Figura 3, consta um exemplo de Normais Climatológicas para a cidade de Uberaba ‑MG, tanto para a variável temperatura como para precipitação (chuva). O tempo, como já dissemos, é a situação instantânea, cuja previsão é constantemente acompanhada na maioria dos jornais televisivos, todos os dias. Figura 3: Normais climatológicas de Uberaba (1960 ‑1990). Fonte: Rolim; Sentelhas (2007). UNIUBE 15 1.3 Variabilidade × mudança climática Paraum melhor entendimento do estudo das flutuações climáticas, é necessário entender os conceitos de variabilidade, de anomalia e de mudança climática. Define ‑se a variabilidade climática como uma variação das condições climáticas em torno da média climatológica, ou seja, normais climatoló‑ gicas, conforme já estudamos. A anomalia climática refere ‑se a uma flutuação extrema de um elemento em uma série climatológica, com desvios acentuados do padrão observado de variabilidade. Por fim, mu‑ dança climática é um termo que designa uma tendência de alteração da média por um longo período de tempo. Vamos analisar a Figura 4 para entender melhor esses conceitos. Ch uv a an ua l ( m m ) anomalia 2100 1300 1700 500 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71 77 83 89 92 95 98 1 420 26 32 38 44 50 56 62 68 74 80 86 900 1900 1100 1500 700 tendência Ano Figura 4: Variação da precipitação anual em Piracicaba, desde 1917. Fonte: Angelocci; Sentelhas (2007). 16 UNIUBE Analisando a Figura 4, observamos uma grande variação, isto é, varia‑ bilidade, em torno da média que é 1.300 mm de chuva anuais, além de anomalias, como os valores de 812 mm em 1921 e 2.018 mm em 1983. Outro aspecto de relevância é que entre 1983 e 1996 pode ser notada uma tendência de aumento da chuva, que não deve ser caracterizada ainda como uma mudança climática. 1.4 Efeito estufa Segundo Cunha (1997), o efeito estufa é ocasionado por alguns gases presentes na atmosfera, denominados gases do efeito estufa (GEEs), tais como: dióxido de carbono (CO2); metano (CH4); óxido nitroso (N2O); hexafluoreto de enxofre (SF6); perfluormetano (CF4); perfluoretano (C2F6); hidrofluorcarbonos (HFC); clorofluorcarbono (CFC). De acordo com Primavesi, Arzabe e Pedreira (2007), a emissão de gases do efeito estufa é resultado tanto de processos naturais como de atividades humanas, isto é, de emissões de origem antrópica ou antropogênica. Na Figura 5, podemos visualizar que, para o gás carbônico, metano e óxido nitroso, tem ‑se verificado grandes aumentos ao longo dos anos, principalmente após a Revolução Industrial. UNIUBE 17 Gás carbônico Ano Ano Ano C O 2 ( pp m ) C H 4 ( pp b) N 2O (p pb ) 360 1750 1500 1250 1000 750 310 290 270 250 340 320 300 280 260 1000 1000 1000 1200 1200 1200 1400 1400 1400 1600 1600 1600 1800 1800 1800 2000 2000 2000 Metano Óxido nitroso Figura 5: Gases do efeito estufa ao longo dos últimos 100 anos. Fonte: Adaptado de IPCC (2007). Segundo McKibeen (2007), antes da Revolução Industrial, a atmosfera tinha algo em torno de 280 ppm (partes por milhão) de gás carbônico (Figura 5). Depois que se passou a queimar carvão, gás e petróleo, o patamar de 280 ppm foi ficando para trás. No final da década de 1950, os valores já superavam 315 ppm. Atualmente, o valor é superior a 380 ppm, crescendo num ritmo de 2 ppm/ano. Voltando aos céticos… Molion (2008) faz o seguinte comentário: É dito que a concentração de CO2 passou de 280 ppm, na era pré ‑industrial para os atuais 380 ppm, um apa‑ rente aumento de 35% da concentração desse gás nos últimos 150 anos. Utilizando tais concentrações nas simulações feitas por modelos de clima global (MCG), o incremento na temperatura média global resultante já seria de 0,5ºC e 2,7ºC, conforme o modelo utilizado. En‑ tretanto, de acordo com o Sumário para Formuladores de Políticas, extraído do Relatório da Quarta Avaliação 18 UNIUBE do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2007), o aumento observado está entre 0,4ºC e 0,7ºC, ou seja, está situado no limite inferior dos resultados produzidos pelos atuais MCG utilizados para testar a hipótese da intensificação do efeito estufa, evidenciando que esses tendem a superestimar a temperatura. Po‑ rém, se a concentração de CO2 dobrar nos próximos 100 anos, de acordo com os mesmos MCG, poderá haver um aumento da temperatura global entre 2ºC e 4,5º, não inferior a 1,5ºC, conforme afirmado no IPCC (2007). Os efeitos desse aumento de temperatura se‑ riam catastróficos. Segundo a mesma fonte, uma das consequências seria a expansão volumétrica da água dos oceanos que, associada ao degelo parcial das gelei‑ ras e calotas polares, notadamente o Ártico, aumentaria os níveis dos mares entre 20 e 60 cm. Esse fato, dentre outros impactos sociais, forçaria a relocação dos 60% da humanidade que vive em regiões costeiras.aumento na frequência de tempestades severas e na intensidade de furacões seria outra consequência. importante! Embora não represente um número aparentemente representativo, o calor adicional capturado pelo aumento de gás carbônico é suficiente para aquecer de modo considerável o planeta. Com relação às emissões pelo homem de gás carbônico, Primavesi, Arzabe e Pedreira (2007) comentam: As emissões de CO2 de origem antrópica ocorrem a partir da queima proposital ou acidental de diferentes produtos orgânicos pelo ser humano: carvão, ma‑ deira e combustíveis fósseis (óleo diesel, gasolina e outros derivados de petróleo), principalmente. Assim, a geração de CO2 ocorre em atividades corriqueiras, domésticas, comerciais e industriais (produção de aço, de cimento, de alumínio, de papel), tais como queima de carvão ou de lenha para churrasco, de fo‑ lhas secas, de pastagens, de florestas e de carvão ou de madeira em padarias, em cerâmicas e em outras UNIUBE 19 indústrias. Também gera CO2 o uso de veículos moto‑ rizados, como motocicletas, caminhões, automóveis, aviões, tratores e até mesmo aqueles movidos com biocombustíveis. O gás metano é liberado durante a decomposição de celulose em condi‑ ções anaeróbias, tais como de áreas inundadas ou de material orgânico acumulado em lagoas de decantação e em aterros sanitários. A degra‑ dação anaeróbia da celulose desse material orgânico libera metano, formando bolhas na água. Esse gás também é liberado quando materiais orgânicos são digeridos por ruminantes, tais como bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos, e sua intensidade de produção depende do substrato ingerido (plantas forrageiras ou grãos de cereais). O óxido nitroso tem sua origem no processo de nitrificação, ou seja, na formação de nitrato – NO3 – a partir de amônio – NH4 ou de desnitrifica‑ ção, isto é, na geração de dióxido de N – NO2, de monóxido de N – NO, de óxido nitroso – N2O e de nitrogênio elementar – N2. O N2 é a forma natural de nitrogênio na atmosfera, que certas bactérias simbióticas ou assimbióticas podem fixar. A indústria química o fixa para fabricar adubos nitrogenados sintéticos. Mas o que significa, em termos práticos, o aumento da concentração dos gases do efeito estufa? O efeito estufa é sempre maléfico? Na verdade, o efeito estufa é a forma que a Terra tem para manter sua tem‑ peratura constante. A atmosfera é altamente transparente à luz solar, porém, 20 UNIUBE 35% da radiação que recebemos vão ser refletidas de novo para o espaço, ficando os outros 65% retidos na Terra (BORTHOLIN; GUEDES, 2003). Os gases de efeito estufa interagem, preferencialmente, com a radia‑ ção de onda longa proveniente da Terra, refletindo ‑os para a superfície terrestre. A radiação de onda curta, proveniente do sol, que chega à Terra praticamente não interage com os GEEs, mantendo constante a quantidade de energia que chega à superfície. Os GEEs são, portanto, gases seletivos. curiosidade Nos carros fechados e expostos ao sol e nas estufas de vidro – daí o nome efeito estufa – ocorre o mesmo processo. Porém, embora geralmente apontado como vilão, em função da propriedade de aprisionar parte da radiação infravermelha emitida pela superfície da Terra, a temperatura média global do ar próxima à superfície é de 15ºC. Na sua ausência, teríamos algo em torno de ‑18ºC, o que inviabilizaria a maior parte da vida na Terra (MOLION, 2008). O efeito estufa é responsável por um aumento de 33ºC na temperatura da superfície do planeta. Logo, é benéficopara o planeta, pois gera condições que permitem a existência da vida. Na Figura 6, podemos comparar as duas situações: a atmosfera em condições normais e a atmosfera modificada, com o aumento na concen‑ tração dos gases do efeito estufa. Note que, na atmosfera modificada, o escudo é mais denso, fazendo com que mais radiação fique retida, aumentando a temperatura na Terra. UNIUBE 21 Efeito Estufa em condições normais Atmosfera com concentração natural de GEEs Onda longa emitida Onda curta O.L. refletida pela atmosfera Superfície Efeito Estufa em condições normais Atmosfera com concentração natural de GEEs Onda longa emitida Onda curta O.L. refletida pela atm. Superfície Efeito Estufa com atmosfera alterada (a) (b) Figura 6: Efeito estufa: (a) atmosfera normal; (b) atmosfera modificada. Mas, quem seriam os grandes vilões na emissão de gases do efeito estufa? Serão os países desenvolvidos ou os em desenvolvimento? Veja na Figura 7 que os países que têm as suas indústrias mais desen‑ volvidas, os chamados países industrializados incluindo Canadá, Esta‑ dos Unidos, toda a Europa, a União Soviética, a Austrália e o Japão são responsáveis por 77% das emissões dos GEEs. Salientamos também a contribuição das novas potências mundiais industriais, como a China e a Índia, já responsáveis por mais de 12% das emissões globais. 22 UNIUBE Industrializados Em desenvolvimento Canadá 2.3% 27.7% 2.5% 2.6% 3.7%12.2% 1.1% 13.3% 30.3% 3.8% 77% Estados Unidos América Central e do Sul China, Índia e Ásia em desenvolv. Contribuições ao aquecimento global Áreas são proporcionais às emissões históricas de gás carbônico, 1900 ‑1999 Europa África JapãoÁsia Oeste Austrália União Soviética Figura 7: Contribuição para o aumento da emissão de gases do efeito estufa dos países industrializados e dos em desenvolvimento. Fonte: Adaptado de Pinto et al. (2009). saiba mais O Encontro de Kyoto, no Japão, teve importância talvez maior, pois foi o palco da criação do chamado “Protocolo de Kyoto”, que estabeleceu a necessidade de redução dos gases do efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal em 5,2% por países desenvolvidos, considerados grandes emis‑ sores (Figura 7). No Brasil, as principais emissões são causadas pela mudança no uso do solo (75%), sendo o restante atribuído à queima de combustíveis fósseis (Figura 8). Aproximadamente 17% da floresta Amazônica ou 60 UNIUBE 23 milhões de hectares, uma área equivalente à França, foram convertidos para outras atividades de uso do solo nos últimos 30 anos. Com as evidências do aquecimento global, a preocupação com o clima ganhou importância a partir da década de 1980. Segundo Scarpinella (2002), desde então, ocorreram inúmeras reuniões internacionais, cuja pauta se ocupava das mudanças climáticas. Nessas reuniões, foram discutidas as possíveis soluções para evitar ou, pelo menos, reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Figura 8: Emissões brasileiras de carbono para a atmosfera. Fonte: Adaptado de Inventário Brasileiro das emissões e remoções antrópicas de gases do efeito estufa (2009). No Quadro 1, a seguir, poderemos sanar algumas dúvidas a respeito desse Protocolo. 24 UNIUBE Quadro 1: Principais dúvidas a respeito do Protocolo de Kyoto. O que é? É um acordo internacional que estabelece metas de redução de gases poluentes para os países industrializados. Foi finalizado em 1997, baseado nos princípios do Tratado da ONU sobre Mudanças Climáticas, de 1992. Entrou em vigor em fevereiro de 2005. Quais são as metas? Países industrializados se comprometeram a reduzir, até 2012, as suas emissões de dióxido de carbono a níveis pelo menos 5,2% menores do que os que vigoravam em 1990. A meta de redução varia de um signatário para outro. Os países da União Europeia têm de cortar as emissões em 8%, enquanto o Japão se comprometeu com uma redução de 5%. Alguns países, que têm emissões baixas, podem até aumentá ‑las. As metas estão sendo atingidas? O total de emissões de dióxido de carbono caiu 3% entre 1990 e 2000. No entanto, a queda aconteceu principalmente por causa do declínio econômico nas ex‑ ‑repúblicas soviéticas, mascarando um aumento de 8% nas emissões entre os países ricos. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que os países industrializados estão fora da meta e prevê para 2010 um aumento de 10% em relação a 1990. Segundo a ONU, apenas quatro países da União Europeia têm chance de atingir as metas. Por que os EUA se retiraram do protocolo? O presidente americano George W. Bush se retirou das negociações sobre o Protocolo em 2001, alegando que o tratado estava “fatalmente fracassado”. Um dos argumentos do presidente foi que não havia exigências sobre os países em desenvolvimento para reduzirem as suas emissões. Na verdade, o presidente abandonou o Protocolo porque, ao contrário de reduzir suas emissões em 7%, como seria exigido com a assinatura, havia previsão de aumento de 35% nas emissões americanas até 2012. UNIUBE 25 E para o Brasil e demais países em desenvolvimento? No acordo, os países em desenvolvimento, como o Brasil, são os que menos contribuem para as mudanças climáticas. No entanto, tendem a ser os mais afetados pelos seus efeitos. Embora muitos tenham aderido ao Protocolo, países em desenvolvimento não tiveram de se comprometer com metas específicas. Como signatários, no entanto, eles precisam manter a ONU informada do seu nível de emissões e buscar o desenvolvimento de estratégias para as mudanças climáticas. Fonte: Notícias Terra (2005). Segundo Nishi et al. (2005), o Protocolo propõe três mecanismos de flexibilização, que são: i. Implementação Conjunta; ii. Comércio de Emissões; iii. Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Dos três, o MDL é o que possui maior aplicabilidade no Brasil, pois permite que países industrializados financiem projetos de diminuição ou comprem os volumes de redução de emissões resultantes de ini‑ ciativas desenvolvidas nos países não industrializados. Porém, pelo Protocolo, as reduções na emissão dos GEEs devem ser adicionais àquelas que ocorreriam na ausência das atividades do projeto certi‑ ficado. As reduções devem ser reais, mensuráveis e devem propor‑ cionar benefícios de longo prazo para a mitigação das mudanças climáticas. 26 UNIUBE A utilização do critério econômico para promover a hierarquização dos projetos candidatos ao MDL também está sendo considerada. Quanto maiores as contribuições dos chamados “créditos de car‑ bono” na viabilidade financeira, maior será a prioridade do projeto para aprovação. Mas, o que significa “crédito de carbono”? Créditos de carbono, também chamados de Redução Certificada de Emissões (RCE), são certificados emitidos quando ocorre a redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE), conforme já vimos ante‑ riormente. Uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivalente cor‑ responde a um crédito de carbono. Esse crédito pode ser negociado no mercado internacional. E depois de Kyoto? Segundo Pinto et al. (2009), com a entrada em vigor da Convenção do Clima em 1994, representantes dos países signatários da UNFCCC pas‑ saram a se reunir anualmente para discutir a sua implementação. Esses encontros são chamados de Conferências das Partes (COPs). Nesse caso, Parte é o mesmo que País e a COP constitui o órgão supremo da Convenção do Clima. No Quadro 2 são descritas todas as COPs, desde 1995 até a última, em 2009, em Copenhague. UNIUBE 27 Quadro 2: Descrição das Conferências das Partes, desde 1995 até 2009. COP 1 – 1995 Inicia o processo de negociação de metas e prazos específicos para a redução de emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos. É sugerida a constituição de um Protocolo. COP 2 – 1996 É acordada a criação de obrigações legais de metas de redução por meio da Declaração de Genebra COP 3 – 1997 Culminou com aadoção do Protocolo de Kyoto, estabelecendo metas de redução de gases de efeito estufa para os principais países emissores, chamados países do Anexo I. COP 4 – 1998 O Plano de Ação de Buenos Aires é elaborado, visando um plano de trabalho para implementar e ratificar o Protocolo de Kyoto. COP 5 – 1999 Deu continuidade aos trabalhos iniciados em Buenos Aires. COP 6 – 2000 As negociações são suspensas pela falta de acordo entre, especificamente, a União Europeia e os Estados Unidos em assuntos relacionados a sumidouros e às atividades de mudança do uso da terra. COP 6 ½ e COP 7 – 2001 As negociações são retomadas, porém, com a saída dos Estados Unidos do processo de negociação, sob a alegação de que os custos para a redução de emissões seriam muito elevados para a economia americana, bem como a contestação sobre a inexistência de metas para os países do sul. COP 8 – 2002 Iniciou a discussão sobre o estabelecimento de metas de uso de fontes renováveis na matriz energética dos países. COP 9 – 2003 Entra em destaque a questão da regulamentação de sumidouros de carbono no âmbito do MDL. COP 10 – 2004 São aprovadas as regras para a implementação do Protocolo de Kyoto e discutidas as questões relacionadas à regulamentação de projetos de MDL de pequena escala de reflorestamento/florestamento, o período pós‑ ‑Kyoto e a necessidade de metas mais rigorosas. COP 11/ MOP1 – 2005 11ª Conferência das Partes e 1ª Reunião das Partes do Protocolo de Kyoto (MOP1). Primeira conferência realizada após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto. Pela primeira vez, a questão das emissões oriundas do desmatamento tropical e mudanças no uso da terra é aceita oficialmente nas discussões no âmbito da Convenção. COP 12/MOP2 – 2006 Representantes de 189 nações assumem o compromisso de revisar o Protocolo de Kyoto e regras são estipuladas para o financiamento de projetos de adaptação em países pobres. O governo brasileiro propõe oficialmente a criação de um mecanismo que promova efetivamente a redução de emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento oriundas do desmatamento. 28 UNIUBE COP 13/MOP3 – 2007 Pela primeira vez a questão de florestas é incluída no texto da decisão final da Conferência para ser considerada no próximo tratado climático, tendo os países um prazo até 2009 para definir as metas de redução de emissões oriundas do desmatamento em países em desenvolvimento pós‑ ‑2012. COP 14/MOP4 – 2008 Continuidade no processo de negociações estabelecido pelo “Mapa do Caminho de Bali” (Bali Road Map) em 2007 com o objetivo de definir um novo acordo legal nas decisões de Copenhague, em 2009, durante a COP15/MOP5. COP15/MOP15 – 2009 Término do período de dois anos de negociações estabelecido pelo “Mapa do Caminho de Bali” (Bali Road Map), definição de um acordo internacional que substituirá o Protocolo de Kyoto, que deverá estabelecer novas metas para os países do Anexo I e deverá incluir metas de redução de emissões oriundas de desmatamento em países em desenvolvimento, pós ‑2012. Fonte: Pinto et al. (2009). Na Figura 9, constam as porcentagens relativas às mudanças de emis‑ sões de gases de efeito estufa ocorridas em cada país incluído no Anexo I desde o ano base de 1990 até 2005 (que foi o último ano reportado). As emissões oriundas do Uso da Terra, Mudanças de Uso da Terra e Florestas – LULUCF – não foram contabilizadas. É interessante notar que alguns países, além de não cumprirem as metas, aumentaram conside‑ ravelmente suas emissões, como a Turquia (74,4%) e Espanha (53,3%). UNIUBE 29 Figura 9: Mudança nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) de 1990 a 2005. Fonte: Pinto et al. (2009). 30 UNIUBE saiba mais A sigla LULUCF significa “Uso da Terra, Mudança no Uso da Terra e Florestas”, que vem do inglês “Land ‑Use, Land ‑Use Change and Forestry”. As atividades LULUCF até hoje elegíveis no MDL são aquelas que promovem a remoção de gás carbônico da atmosfera, ou seja, florestamento e reflorestamento (PINTO et al., 2009). Mas e Copenhague, o que aconteceu de fato? Houve avanços nas políticas para reduzir os impactos humanos no clima mundial? Não foram estabelecidas metas de redução de emissões ou de qual‑ quer tipo. Porém, ainda há esperança por um acordo futuro mais ade‑ quado nos próximos anos. Um pouco dessa esperança pode ser visto no acordo sobre REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal). O texto final sobre o assunto expressou avanços importantes, reconhecendo o papel de populações indígenas e tradicio‑ nais na formulação e acompanhamento de ações de REDD nos países. Uma vitória sem dúvida de centenas de representantes de povos da floresta que começaram a participar das conferências de clima há al‑ guns anos e conseguiram que suas ideias fossem incorporadas nas discussões. Pode ‑se dizer que o desempenho do Brasil, salvo no último minuto por um discurso excelente do presidente Lula, indica que o país terá um papel importante nas próximas rodadas de reuniões. O papel fundamental do Brasil é o da liderança. O país poderá fazer muito mais UNIUBE 31 do que já prometeu. Poderá, se houver vontade política, acabar com o desmatamento da Amazônia até 2020 e não reduzi ‑lo a 80%. Haverá várias reuniões intermediárias até a próxima COP em 2010, no México. O imenso contingente de brasileiros que acompanhou as nego‑ ciações em Copenhague certamente continuará a postos para cobrar mais ações do governo e mantermos assim nossas esperanças. Cuidar do clima planetário será certamente um diferencial entre os candidatos nas próximas eleições. Aqueles que não assumirem os compromissos declarados, certamente terão a resposta no voto. 1.5 Medidas mitigadoras Superfícies secas apresentam grande amplitude térmica e geram pulsos de calor e de frio. Quando sombreadas, essas superfícies não esquen‑ tam. O aquecimento global é alimentado pelo calor em excesso gerado por áreas degradadas ou aridizadas ou desertificadas. Essas áreas são secas e não são sombreadas. Conforme Primavesi, Arzabe e Pedreira (2007), em regiões tropicais e em regiões subtropicais, a eliminação da cobertura vegetal permanente, a queima dos restos vegetais e a exposição do solo às chuvas intensas resultam em regressão ecológica, rumo a condições inóspitas para a vida: condições sem água residente, de grandes amplitudes de temperatura e de umidade relativa do ar, de ventos fortes, de chuvas fortes e de chuva com raios ou de tempestades elétricas, sem capacidade de suporte, sem elo inicial da cadeia alimentar (plantas) e com ciclo da água curtíssimo. 32 UNIUBE Necessita ‑se, segundo esses autores, recuperar, conservar e potencia‑ lizar a capacidade de suporte e de produção das áreas já desmatadas, a fim de se evitar a diminuição de áreas de produção, principalmente de água e de alimentos. Isso deve ser feito a fim de reduzir áreas produtoras de calor em excesso, o qual os gases de efeito estufa em maiores concen‑ trações retêm e redistribuem globalmente, em parceria com os ventos. Mas o que o Brasil tem feito para reduzir o desmatamento? Analisando ‑se a Figura 10, observa ‑se que, em geral, as taxas anuais de desmatamento vêm diminuindo. Os esforços governamentais implemen‑ tados recentemente mostram o comprometimento para reduzir o desma‑ tamento. Nos últimos anos, o Brasil adotou uma série de iniciativas para a redução do desmatamento, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle de Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), o Fundo Amazônia, e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado em dezembro de 2008. A intervenção do governo contemplou, segundo Pinto et al. (2009), a criação de 240.000 km2 de novas áreas protegidas na Amazônia onde o desmatamento é mais intenso. Como consequência, estima ‑se que essas áreas poderão evitar, na próxima década, a liberação de apro‑ ximadamente 600 milhões de toneladas de carbono para a atmosfera. Para a sociedade como umtodo, a intensa veiculação na mídia a respeito do aumento iminente da temperatura global, mesmo não sendo ainda de todo provado cientificamente pelos pesquisadores do mundo inteiro, é um alerta importante para todos. UNIUBE 33 35.000 25.000 15.000 5.000 88 (a) (b) (b) (c) (a) Média ente 1977 e 1988 (b) Média entre 1993 e 1994 (c) Taxas anuais consolidadas (d) Taxa estimada (c) (c) (d)ano 9289 93 9690 94 9791 95 98 99 02 05 0800 03 0601 04 07 30.000 20.000 10.000 0 km 2 /a no Figura 10: Taxa de desmatamento da Amazônia Legal brasileira (km2/ano). Fonte: OBT (2009). Conforme Da Veiga (2008), apesar da incerteza científica que fica patente na comparação das duas teorias sobre o aquecimento, não faltaram mo‑ tivos para que, nas últimas décadas, emergisse um efetivo processo de negociações internacionais com objetivos preventivos, tentando buscar as maneiras mais viáveis de reduzir o aquecimento global e as formas de se adaptar a ele. A sociedade deve se conscientizar da importância da preservação am‑ biental. A Terra é capaz de absorver certa quantidade dos gases do efeito estufa. A humanidade precisa aprender a viver dentro desses limites impostos pela natureza, devendo sempre adotar técnicas capazes de minimizar esses impactos. Segundo Pinto et al. (2009), o reflorestamento promove a remoção ou “sequestro” de CO2 da atmosfera, diminuindo a concentração desse gás do efeito estufa e, consequentemente, desempenhando um importante papel no combate à intensificação do efeito estufa. A retirada do gás carbônico da atmosfera é realizada graças ao processo denominado 34 UNIUBE fotossíntese, que permite a fixação do carbono na biomassa da vege‑ tação e nos solos. Conforme a vegetação vai crescendo (Figura 11), o carbono incorpora ‑se nos troncos, galhos, folhas e raízes das plantas. Cerca de 50% da biomassa vegetal é constituída de carbono, e a floresta Amazônica é um grande estoque mundial de carbono pela sua área e densidade de biomassa. Figura 11: Papel das florestas no sequestro de carbono. Fonte: Adaptado de Pinto et al. (2009). Precisamos refletir criticamente sobre essas importantes temáticas. E, como educadores e interessados no futuro do nosso planeta, temos a função de proporcionar a construção de conhecimentos para formação de sujeitos capazes de analisar e intervir de forma ética no meio em que vivem. Finalizando este texto introdutório, convido ‑o a reforçar seus conheci‑ mentos, realizando as leituras obrigatórias indicadas, preparando ‑se para a realização das atividades propostas. UNIUBE 35 saiba mais Agora é com você. Estamos indicando algumas leituras que consideramos importantes para que você aprofunde os seus conhecimentos neste capítulo intitulado “Impactos ambientais globais”. Mãos à obra! PRIMAVESI, O.; ARzABE, C.; PEDREIRA, M. S. Efeitos. In: . Mudanças climáticas: visão integrada das causas, dos impactos e de possíveis soluções para ambientes rurais ou urbanos. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2007. (Documentos Embrapa, 70), cap. 4, p. 54 ‑76. Disponível em: <http:// www.cppse.embrapa.br/080servicos/070publicacaogratuita/documentos/ Documentos70.pdf>. Acesso em: 10 maio 2008. SILVA, M. E. S.; GUETTER, A. K. Mudanças climáticas regionais observadas no estado do Paraná. Terra Livre, São Paulo, ano 1, v. 1, n. 20, p. 111 ‑126, 2003. Disponível em: <http://www.rbmet.org.br/port/revista/revista_dl.php?id_ artigo=537&id_arquivo=79>. Acesso em: 10 dez. 2009. Atividades Atividade 1 Leia o fragmento de texto a seguir: Os impactos das mudanças climáticas no cotidiano das pessoas do campo e da cidade têm levado al‑ guns indivíduos a repensar sua estreita ligação com o mundo natural (PRIMAVESI; ARzABE; PEDREIRA, 2007, p. 13). 36 UNIUBE Explique em, no mínimo, 10 linhas, os reflexos desse “repensar” para a conservação do ambiente natural do planeta. Para tanto, você deve se basear no texto introdutório e nas leituras obrigatórias indicadas. Atividade 2 Para a realização dessa atividade, leia, atentamente, o texto, a seguir: Decisões do tipo “para salvar a madeira das árvores dos incêndios, a solução é simples: derrubá ‑las an‑ tes de perder tudo” mantêm o ultrapassado sistema econômico que é baseado na depleção dos recursos naturais e cujos lucros são gerados à custa do social e do ambiente, e que considera prejuízo as práticas de conservação da infraestrutura ambiental essencial para a manutenção da biodiversidade (vegetal e animal), verdadeira riqueza real e potencial. Determinadas soluções são propostas, por exemplo, a irrigação, a utilização de plantas resistentes à seca ou a biotecnologia moderna, como a transgenia. To‑ das essas propostas são reducionistas e há contes‑ tação para todas. Parecem promessas de políticos. Irrigar, sim, mas com que água? Por que ainda não foram desenvolvidas plantas para os inúmeros deser‑ tos criados pelo ser humano, inclusive o Saara, que já foi densa floresta e depois antigo celeiro de grãos do Império Romano, seguido por extensas pastagens? Quanto à saída biotecnológica e à transgenia, não há plantas que vegetam sem água no solo ou no ar e no calor abrasador. Não devemos querer adaptar as espécies ao ambiente em degradação. O mais sábio e condizente com a espécie humana é parar e reverter a degradação. Isto se aplica em especial ao Brasil, cujo diferencial no cenário mundial ainda é o ambiente natural, aquele com rica biodiversidade e aquele com potencial agropecuário, ecoturístico e energético, e que necessita ser conservado e recuperado ou mesmo implementado a todo custo, de modo a converter em oportunidade o que hoje é problema (RICUPERO apud PRIMAVESI; ARzABE; PEDREIRA, 2007). UNIUBE 37 Após sua leitura, elabore um texto estabelecendo relações entre as soluções propostas e a sua real efetividade. Em seguida, descreva sua opinião a respeito da interferência internacional no controle do patrimônio ambiental brasileiro. Atividade 3 Considerando a realidade de sua região geográfica: 3.1 Faça um levantamento sobre as variações climáticas aí existen‑ tes e os possíveis fatores que possam estar interferindo nessa variabilidade. 3.2 Explique a diferença entre tempo e clima utilizando ‑se de dois exemplos. Atividade 4 Com base no Quadro 1, do texto introdutório, e em outras fontes de pes‑ quisa, faça uma síntese dos avanços da conservação do meio ambiente consequentes das medidas constitutivas do Protocolo de Kyoto. Referências ASSAD, Eduardo Delgado; PINTO, Hilton Silveira; zULLO JR., Jurandir; MARIN, Fábio Ricardo; Mudanças climáticas e agricultura: uma abordagem agroclimatológica, Ciência & Ambiente, Santa Maria, v. 34, p.169 ‑182, 2007. ANGELOCCI, Luiz Roberto; SENTELHAS, Paulo César. Variabilidade, anomalia e mudança climática. Material didático da disciplina LCE306 – Meteorologia Agrícola – Turmas 1,4,5 e 6, Departamento de Ciências Exatas – setor de Agrometeorologia – ESALQ/USP – 2007. 38 UNIUBE BORTHOLIN, Érica; GUEDES, Bárbara Daniela. Efeito estufa. Instrumentação para o ensino, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. Disponível em: <http:// educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Efeito_Estufa.html>. Acesso em: 15 maio 2008. DA VEIGA, J. E. Aquecimento global: frias contendas científicas. São Paulo: SENAC, 2008. 112 p. INVENTÁRIO BRASILEIRO DAS EMISSÕES E REMOÇÕES ANTRÓPICAS DE GASES DE EFEITO ESTUFA. Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http://www.oc.org.br/cms/arquivos/inventa%C2%A1rio_emissa%C2%B5es_gee‑ ‑valores_preliminares ‑25 ‑11 ‑2009.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2009. IPCC. Summary for policymakers. In: IPCC. Climate chance 2007: the physical science basis. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Disponível em: <http:www.ipcc.ch/pdf/assessment ‑report/ar4/wg1/ ar4 ‑wg1 ‑spm.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2009. McKIBENN, B.Climate change 2007: The physical science basis – Summary for policymakers. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC, 18p. Disponível em: <http:// www.ipcc.ch/pdf/assessment‑report/ar4/syr/ar4_syr_spm.pdf>. Acesso em 15 mai. 2010. MOLION, L. C. B. Considerações sobre o aquecimento global antropogênico. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 29, n. 246, p. 7 ‑18, set./out. 2008. NISHI, M. H. et al. Influência dos créditos de carbono na viabilidade financeira de três projetos florestais. Revista Árvore, Viçosa, v. 29, p. 263 ‑270, 2005. NOTÍCIAS TERRA. Principais pontos do Protocolo de Kyoto. 16 fev. 2005. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI472903 ‑EI299,00.html>. Acesso em: 15 maio 2008. OBT – Coordenação Geral de Observação da Terra. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Estimativas Anuais desde 1988 até 2008. Disponível em: <http://www. obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2008.htm>. Acesso em: 10 dez. 2009. Educação e gestão ambiental – construindo caminhos, dividindo fronteiras Capítulo 2 Carlos Messias Pimenta / Tiago Zanquêta de Souza Introdução Este capítulo está dividido em duas partes. Inicialmente a edu‑ cação ambiental será analisada como uma ferramenta de ges‑ tão ambiental. Sua importância está no fato de que é por meio dela que haverá a possibilidade de a humanidade refletir seu modo de vida e salvar a própria espécie. Você deve pensar qual deve ser a postura do professor na formação de indivíduos da educação básica, que desde cedo já irão pensar sobre as melhores maneiras de o ser humano se beneficiar dos recursos que a natureza tem a lhe oferecer sem, contudo, colocar a raça humana e outras espécies em risco de extinção. Mas para isso, é necessário que haja uma gestão que dê conta de promover um desenvolvimento sustentável, justificando a necessidade de uma gestão ambiental. Esse assunto será discutido na Parte II deste capítulo. 40 UNIUBE Objetivos Esperamos que ao final deste capítulo você seja capaz de: • avaliar a relação que existe entre o homem e o meio ambiente; • coordenar projetos de educação ambiental, objetivando a prática ética; • discutir as tendências da educação ambiental no Brasil; • interpretar as políticas de educação ambiental e aplicá‑ ‑las, quando necessário; • apontar diretrizes para conservação e preservação dos recursos naturais. • preparar ‑se para atuação pró ‑ativa no contexto da orga‑ nização em gestão ambiental; • reconhecer a importância da inserção da variável ambien‑ tal no planejamento, na organização, direção e controle das atividades de uma empresa; • aplicar os termos da legislação ambiental, que define parâmetros que deverão ser seguidos pelo gestor; • justificar a importância da gestão ambiental como ferra‑ menta para as empresas. UNIUBE 41 Esquema Parte I – Educação ambiental como ferramenta de gestão do ambiente 1º momento: A relação homem × natureza 2º momento: Necessidade da ética ambiental 3º momento: Sustentabilidade: princípios necessários ao desenvolvimento 4º momento: Tendências da educação ambiental no Brasil 5º momento: Diretrizes para conservação do meio ambiente Parte II – Por que estudar gestão ambiental 1º momento: Gestão e suas funções: planejar, organizar, dirigir e controlar 2º momento: A questão ambiental na empresa 3º momento: Visão do gerenciamento ambiental nos dias atuais 42 UNIUBE 4º momento: Certificação ambiental 5º momento: Melhoria contínua do desempenho ambiental 2.1 Educação ambiental como ferramenta de gestão do ambiente Neste capítulo, vamos estudar e perceber a importância da Educação Ambiental como ferramenta de gestão do ambiente. Aqui, vamos dar uma importância e uma atenção maior a essa ferramenta de gestão. Para isso, vamos entender primeiro quando a Educação Ambiental surgiu. A Educação Ambiental surgiu em 1965, quando se começou a lutar pela busca de soluções para a crise ambiental que é notória em nosso país e até mesmo em todo nosso planeta. Para Pádua (2002, p. 55), ela […] surgiu também em resposta à crise na própria educação; crise nessa educação que prioriza o racio‑ nal, que compartimenta os saberes e que estimula a competição entre indivíduos e grupos. Se Pádua (2002) destaca o agravamento da problemática ambiental nas três últimas décadas, é certo que se trata de um problema que remonta ao final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial que surge na Inglaterra. A partir daí, começou ‑se a perceber, de maneira UNIUBE 43 cada vez mais acentuada, a resposta do planeta Terra às agressões dirigidas contra ele. A Revolução Industrial iniciou um novo ciclo de inovações tecnológicas que se aperfeiçoam, intensificando a mais importante condição à acu‑ mulação do capital, o que mantém a razão de ser do modo de produção capitalista. Mas, todo esse progresso técnico ‑científico deixou como consequência um violento impacto sobre a biomassa, os recursos natu‑ rais e a atmosfera. Esse impacto passou a ser visto com maior preocupação nos anos 1960, com as reações da Terra a essas agressões, na forma de grandes catás‑ trofes: enchentes, terremotos, maremotos, furacões, chuvas ácidas, efeito estufa, buraco na camada de ozônio, radiação nuclear, derretimento de geleiras, aumento de combustão e tantos outros. No início do século XXI, o problema da degradação ambiental é tão evi‑ dente que faz com que os mais árduos defensores do desenvolvimento a qualquer custo parem para repensar suas ações. As conferências internacionais, que envolvem um conjunto cada vez maior de países, evidenciam a gravidade da situação. importante! O termo “educação ambiental” foi usado pela primeira vez em 1965, durante a Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Grã ‑Bretanha, sob a expressão “Enviromental Education” (LOUREIRO, 2004). 44 UNIUBE A partir deste estudo, você compreenderá melhor a necessidade da educação ambiental como ferramenta de mudança do atual cenário em que vive o planeta Terra. A maioria das situações vividas por cada um de nós exige urgentemente mudança. E essa mudança poderá acontecer por meio dos estudos da educação ambiental. Na segunda parte, abordaremos a inter ‑relação da administração de uma organização com as questões ambientais, em todas as fases da gestão, explicitando a importância de atitudes ambientais preventivas e corretivas, dentro e fora da empresa, enfatizando, assim, a inserção das variáveis ambientais nos processos produtivos e administrativos da organização. No detalhamento dos objetivos da gestão do ambiente devem ser con‑ templados os valores universais e os valores individualizáveis. Entre os valores universais estão os que dependem, por exemplo, de garantia do acesso indistinto em quantidade e qualidade aos bens ambientais essenciais à vida, por meio de leis, constituições, normas, resoluções, códigos, portarias etc. Entre os valores individualizáveis estão aqueles associados ao acesso aos bens ambientais para as atividades de produção eco‑ nômica. Do mesmo modo, os instrumentos técnicos, econômicos e legais da gestão ambiental têm de estar submetidos a uma catego‑ rização de valores. Por isso, não devem impedir acesso aos bens ambientais associados aos valores universais e sim estabelecer critérios e condições para o acesso aos bens ligados aos valores individualizados. UNIUBE 45 Mas o que é educação ambiental? Educação ambiental é um ramo da educação cujo objetivo é a disse‑ minação do conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar a sua preservação e utilização sustentável dos seus recursos. É uma metodo‑ logia de análise que surge a partir do crescente interesse do homem em assuntos como o ambiente devido às grandes catástrofes naturais que têm assolado o mundo nas últimas décadas. E a educação ambiental noBrasil? No Brasil, a educação ambiental assume uma perspectiva mais abran‑ gente, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recur‑ sos naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. A educação ambiental tornou ‑se lei em 27 de abril de 1999. A Lei n. 9.795 – Lei da Educação Ambiental, em seu art. 2°, afirma que a educação am‑ biental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e moda‑ lidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. saiba mais Caráter formal é aquele em que a educação ambiental se propaga em esta‑ belecimentos de ensino, ou seja, nas escolas. 46 UNIUBE Caráter não formal é o processo educativo que acontece através da mídia, ou seja, de jornais, revistas e propagandas. A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropo‑ cêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo, esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. É uma ação educativa permanente pela qual a comunidade educa‑ tiva têm a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o indivíduo com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido à transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as ha‑ bilidades e atitudes necessárias para essa transformação (BRAGA et al., 2005). Mas qual é a necessidade da educação ambiental na sua formação? Como afirmamos anteriormente, a educação ambiental é uma fer‑ ramenta das práticas de gestão do ambiente, uma vez que esse ambiente é formado também pelo ser humano, um ser inteligente, racional, que precisa, imprescindivelmente, rever valores, atitudes e pensamentos, buscando a prática de conservação e preservação dos recursos naturais. UNIUBE 47 2.1.1 A relação homem × natureza De acordo com Branco (1988) a problemática ambiental é herdeira direta da concepção de que o homem, por ser capaz de raciocinar, adquirir, produzir e organizar conhecimentos, está acima da natureza e das leis que regem o planeta e o mantêm em equilíbrio. importante! A maioria das pessoas, sobretudo aquelas que não estudaram as ciências biológicas, manifesta muito frequentemente uma tendência a situar o homem em confronto com a natureza, ou mesmo em oposição a ela. Sejam essas pessoas otimistas ou pessimistas, veem elas o homem como o rei da natureza ou a sua vítima (FRIEDEL apud BRANCO, 1988, p. 6). Essa maneira de pensar e compreender a relação homem/natureza, expressa pelo filósofo francês fez crescer a crença de que o ser humano poderia reinar sobre todos os recursos naturais, explorando ‑os desorde‑ nadamente sem se preocupar com as consequências dessa exploração. Fez com que o homem não se sentisse como um componente do meio ambiente, excluindo ‑o de qualquer relação de ordem natural. Esse comportamento foi incorporado à ciência, que dirige a trans‑ missão do conhecimento a uma minoria privilegiada e o faz de forma compartimentada. O homem passou a pensar cada ramo do conhecimento separadamente, como fragmentos desarticulados, desconsiderando o todo e distante da sua relação com a natureza, o que o isolava em seu “mundo”, longe da realidade e do cotidiano. 48 UNIUBE saiba mais O planeta Terra é mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo orga‑ nizador e desorganizador de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes; se estas estiverem isoladas umas das outras, certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo. Marcel Mauss dizia: “É preciso recompor o todo”. É preciso efetivamente recompor o todo para conhecer as partes (MORIN, 2002, p. 37). Considerando a afirmação “A natureza está a serviço do homem, dela podendo dispor o que lhe for conveniente”, pode ‑se notar quão falhos são os seres humanos altamente consumidores no mundo atual em que estão vivendo. A bioética em seus princípios – justiça, beneficên‑ cia, não maleficência e igualdade – mostra que a natureza não está a serviço do homem para dela dispor do que lhe for conveniente. O homem deve utilizar ‑se da natureza para pro‑ duzir bens, mas jamais abusar do que ela oferece. Deve ‑se preocupar sempre com a necessidade e a importância do que ela tem a ser utilizado pelo homem. Não se pode causar danos ou desequilíbrios, mas sim beneficiar e favorecer a vida, com justiça e igualdade para todo e qualquer ser vivo. Diante disso, o desafio de um gestor ambiental é gigantesco. É preciso orientar o profissional para a construção de um novo modelo de ação, Bioética É o estudo transdisciplinar entre biologia, medicina, filosofia (ética) e direito (biodireito) que investiga as condições necessárias para uma administração responsável da vida humana, animal e responsabilidade ambiental. UNIUBE 49 comprometido com a inserção do homem em seu habitat natural, um modelo que permita a interação plena homem/ambiente. A humanidade deve sempre empenhar ‑se para que a espécie humana nunca deixe de tornar ‑se reprodutora do humano, para que se desenvolva e dê condições favoráveis ao surgimento de homens mais conscientes e solidários uns para com os outros e a natureza. Segundo Pádua (2002, p. 53), todo ser vivo ocupa um nicho dentro da teia da vida. O ser humano nem sempre se dá conta de seu papel, pois há muito se distanciou da natureza e de suas origens biológicas. No entanto, ressalta o autor, “não vivemos sem a natureza porque ela faz parte, ou melhor, ela está no âmago do nosso ser”. 2.1.2 Necessidade da ética ambiental Vamos agora dar um salto no tempo e notar um crescimento espantoso da humanidade, hoje altamente tecnológica. A medicina surge com novas técnicas, resultando numa queda dos índices de mortalidade, alterando o binômio nascimento/morte e superlotando o planeta. O descontrole da produção alimentar e a degradação da cultura vêm mundializando a fome e a pobreza. Em meio a essa visão egocêntrica, surge a ética ambiental como uma nova relação de consciência entre o homem e a natureza: o ser humano faz parte da natureza e não é o seu dono, não a tem para servi ‑lo, mas para que ele sobreviva em harmonia com os demais seres vivos. Nessa nova concepção, o homem passa a se preocupar com suas ações e, como consequência, passa a praticar ações coerentes com a natureza. 50 UNIUBE importante! Com essa nova linha de pensamento, podemos definir ética ambiental como uma conduta de comportamento do ser humano com a natureza, cuja base está na conscientização ambiental e no compromisso preservacionista, onde o objetivo é a conservação da vida global. O desafio dessa nova ética está no aparecimento de um compromisso pessoal que se desenvolve pelo próprio indivíduo, dentro dele, é ético e não legal. Não se trata de uma obrigação legal, mas moral e ética, que posiciona o homem frente à natureza e se reflete em ações éticas, que sem dúvida trarão resultados favoráveis à preservação ambiental e, consequentemente, à melhoria da qualidade de vida. O fenômeno da globalização obriga ‑nos a criar e adaptar regras de aceitação internacional, gerando uma onda de normalização ao redor do mundo, onde a ISO 9.000 foi o marco, que posteriormente culminou na ISO 14.000, em consequência à Conferência Rio ‑92, tornando ‑se um pré ‑requisito de qualidade ambiental na guerra da competitividade e da onda preservacionista, porém positiva, pois exige o esforço de inovação na implantação de tecnologias limpas. pesquisandoDo que se trata a Série ISO 9.000? Pesquise no site <http://pt.wikipedia.org/ wiki/ISO_9000>. Uma nova ordem mundial alicerçada em valores extra ssociais humanos, embasado cientificamente na relação do homem com a natureza, desen‑ UNIUBE 51 volvendo uma humanidade consciente de que é parte viva da Terra, e como tal tem o dever de desenvolver uma nova conduta comportamental, em todos os segmentos da sociedade, notadamente o setor empresarial e industrial, como peças fundamentais nesse novo paradigma do século XXI: a ética ambiental. 2.1.3 Sustentabilidade: princípios necessários ao desenvolvimento Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a conti‑ nuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Propõe ‑se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam satisfazer as suas necessidades e expressar o seu maior po‑ tencial no presente e, ao mesmo tempo, preservar a biodiversidade (Figura 1) e os ecossistemas naturais (Figura 2), planejando e agindo de forma a atingir pró ‑eficiência na manutenção indefinida desses ideais. Figura 1: Biodiversidade: o conjunto dos seres vivos do ambiente terrestre, que habitam regiões caracte‑ rísticas do planeta, dependendo do clima, condições nutricionais, além de ar, água e terra. 52 UNIUBE Figura 2: Ecossistema. A figura apresenta fielmente a relação dos seres vivos entre si e com o meio ambiente. De acordo com Braga et al. (2005, p. 47 ‑48) a sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro. Para um empreendimento humano ser sustentável, tem de ter em vista quatro requisitos básicos. Esse empreendimento tem de ser: • ecologicamente correto; • economicamente viável; • socialmente justo; • culturalmente aceito. Um exemplo real de comunidades humanas que praticam a sustentabi‑ lidade em todos os níveis são as ecovilas. Ainda de acordo com Braga et al. (2005), os ensinamentos das leis físicas e do funcionamento dos ecossistemas fornecem os requisitos básicos UNIUBE 53 para a concepção do modelo que pode ser chamado modelo de desen‑ volvimento sustentável. Esse modelo deve funcionar como um sistema fechado, que tem como base as seguintes premissas: • dependência da energia solar; • uso racional das fontes de energia e matéria, visando à conservação e evitando desperdícios; • promover a reciclagem; • controlar o crescimento populacional. Na Figura 3 é ilustrado como deve funcionar o modelo de desenvolvi‑ mento sustentável. ENERGIA Modelo de Desenvolvimento Sustentável Uso de Recursos Processamento Modificação Recursos Transporte Consumo Recuperação do Reuso Resíduo/Impacto Impacto minimizado pela restauração ambiental Figura 3: Modelo de desenvolvimento sustentável. O que diferencia o modelo de desenvolvimento sustentável do modelo econômico atual é o reuso dos recursos pela reciclagem, e mesmo com a estabilização da população e controle da poluição, há aumento do consumo nos países menos desenvolvidos, gerando desequilíbrios no balanço energético global. Desenho: Tiago zanquêta de Souza (2010a). Adaptado de Braga et al. (2005, p. 48). 54 UNIUBE Colocando em termos simples, de acordo com a Comissão Mundial do Desenvolvimento e do Meio Ambiente, a sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um futuro indefinido. Segundo o Relatório de Brundtland (apud BRAGA et al., 2005, p. 48), sustentabilidade é “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. Isso é muito parecido com a filosofia dos nativos dos Estados Unidos, que diziam que os seus líderes deviam sempre considerar os efeitos das suas ações nos seus dependentes após sete gerações futuras. O termo original foi “desenvolvimento sustentável”, adaptado pela Agenda 21, um programa das Nações Unidas. Algumas pessoas hoje se referem ao termo “desenvolvimento sustentá‑ vel” como um termo amplo, pois implica em desenvolvimento continuado, e insistem que ele deve ser reservado somente para as atividades de desenvolvimento. “Sustentabilidade”, então, é hoje em dia usado como um termo amplo para todas as atividades humanas. Na economia, crescimento sustentado refere ‑se a um ciclo de cres‑ cimento econômico real do valor da produção (descontada a inflação), sendo, portanto, relativamente constante e duradouro assentado em bases consideradas estáveis e seguras (BRAGA et al., 2005, p. 216). Observa ‑se, portanto, que, assim descrito, o conceito é um ato de crença ou um desejo filosófico de preservação que requer melhor especificação do ponto de vista prático. UNIUBE 55 Existe uma grande dúvida na definição do que sejam necessidades fu‑ turas e, além disso, existe a questão do degrau de desenvolvimento da região ou país em questão. Os parâmetros do desenvolvimento sustentável em um país com a força econômica do Japão devem ser certamente diferentes dos de um país da África Oriental, cujo consumo de energia mal supera os 2.000 kcal/ dia de sobrevivência (BRAGA et al., 2005, p. 216). 2.1.3.1 O que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável? Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planeja‑ mento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econô‑ mico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias ‑primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. 56 UNIUBE pesquisando • O que são os 3Rs? • O que é coleta seletiva? Aproveite sua pesquisa para criar um projeto de coleta seletiva que possa ser utilizado por uma empresa. Pesquise, para isso, outros projetos já existentes. 2.1.3.2 Os modelos de desenvolvimento dos países industrializados devem ser seguidos? O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não pode ser o mesmo adotado pelos países indus‑ trializados, por suas diferenças de possibilidades. Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das so‑ ciedades do Norte, a quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200 vezes. Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em desenvolvi‑ mento, é preciso reduzir os níveis observados nos países industrializados (BRAGA et al., 2005). importante! O crescimento econômico e populacional das últimas décadas tem sido marcado por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial (LOUREIRO, 2004). UNIUBE 57 Conta ‑se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se, depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida britânico, teria respondido: “[…] a Grã ‑Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo pa‑ tamar?” (LOUREIRO, 2004). A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento pre‑ cisam mudar. Os estilos de vida das
Compartilhar