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1 AS INTERROGAÇÕES HUMANA E O SENTIDO DA VIDA Prof. Dr. Luís Evandro Hinrichsen INTRODUÇÃO Quem é o ser humano? Pergunta vital – de extraordinária complexidade – tematizada pela Antropologia Cultural, Paleoantropologia, História, Psicologia, Biologia e Antropologia Filosófica é sempre atual e decorrentes tentativas de respostas [iterativas ou autorreferentes], pela característica da pergunta, são sempre abertas e atuais. Martin Heidegger, em Ser e Tempo [1927], anuncia que, se nos presentes dias, há tantas informações sobre o ser humano, entretanto, nunca foi tão desconhecido por si mesmo. Através das especializações, efetivamente, antropologias setoriais pretendiam elaborar visão definitiva sobre o homem. Max Scheler, colega de Martin Heidegger, em A Posição do Homem no Cosmos [1928], nas pegadas de Edmund Husserl, denuncia: perdemos visão unitária – integrativa e não setorial – sobre o ser humano. É urgente, escrevia frente à crise antropológica da época, investigar a essência do fenômeno, que Scheler descreveu pela expressão ser pessoa. a) A pergunta pelo sentido do existir, a pergunta das perguntas, intransferível e decisiva O que é o ser humano? Para os gregos anthropos designa o ente que se eleva para o alto, sonda o kosmos, elabora teorias, dá-se conta da harmonia na qual está inserido e que une todas as coisas: o logos, razão invisível que torna o kosmos belo e rítmico. Para os romanos, Homo deriva de humus, terra, ou seja, a palavra homo [ser humano] significa o ente que trabalhando a terra, constrói civilizações, edifica a si mesmo como indivíduo e gênero humano. Transcorrido dois mil anos, na década de 20 do século passado, o desenvolvimento das ciências da natureza através da adoção do método mecanicista permitiu elaborar incontáveis imagens sobre o ser humano, contudo, antagônicas, parciais, fragmentadas, resultado da especialização e incapacidade de diálogo entre as diversas áreas que examinam o ser humano. O problema percebido por Heidegger e Scheler – os reducionismos explicativos, a fragmentação do humano e a consequente crise antropológica – é desafio para os tempos que vivemos. Constatamos, ainda, nos presentes dias, atribuição de valor universal às teorias parciais, elaboradas setorialmente. A fragmentação, divórcio e hiperespecialização das ciências que tratam o ser humano, apenas, como objeto a ser observado externamente é questão que precisa ser considerada. A pretensão de respostas setoriais – sem articulação interdisciplinar – de se apresentarem como ‘a visão definitiva e completa’ é entrave ao pensamento que procura dar conta da complexidade e do sentido. O ser humano, contudo, é ente complexo, irredutível à reducionismos, é indivíduo singular, multidimensional, integral. A visão unitária, é preciso ressalvar, não é visão única, ao contrário, consiste em visão que considera todas as dimensões da existência humana, valorizando um ente dotado de vida biológica, ser cultural, racional, formado por emoções, circunstanciado, mas capaz de escolhas. O ser humano, em descrição contemporânea, é organismo bio-psíquico-social, ser relacional e ético, aberto ao mundo, portador de uma dimensão espiritual. b) O específico da pergunta antropológica Quando indagamos o que é o ser humano, concomitantemente, perguntamos: quem sou? É pergunta envolvente e autorreferente. Ademais, considerada a envolvência, é pergunta complexa que solicita elaborações complexas. As respostas, igualmente, não resultam da mera soma de informações das diversas áreas nas quais ocorre a pergunta, mas da articulação dialógica das renovadas descobertas elaboradas pelas diversas investigações e que são capazes de des- velar ou revelar a existência. Se o fenômeno [o que se mostra à consciência] é a existência, o logos [a razão do fenômeno] somente poderá ser inquirido e descrito pelo exame das ‘constantes existenciais’ ou ‘notas características da existência humana’. Tomás, Duns Escoto e Heidegger sondaram a existência humana e contribuíram ao des-velamento de constantes presentes na vida dos seres humanos. Não elaboram, apenas, teorias, mas descreveram a existência desde o mundo da vida [lebenswelt] articulando conceitos, definições, relações, inferências, ou seja, pensando rigorosamente, justificando as descobertas. Para os pensadores em tela, vale a vida vivida e os desafios que a existência nos propõe como indivíduos e 2 espécie, pois somos tão-somente e tudo, seres humanos. 1 Platão e o Mito do Caverna: ascensão ao esclarecimento Os helênicos interpretaram o anthropos [etimologicamente: Aquele que se eleva para o alto] desde sua posição no cosmos. Habitante da polis [cidade, demarcada por fronteiras geográfica e culturais correspondente à noção de Estado], portador de logos é capaz de pensar, fazer teoria, expressar desejos e posições, cultuar os deuses, participar da vida política. Platão [428/427 – 347 a.C.] descreve o anthropos desde a capacidade de conceber ideias, dialeticamente ultrapassando as sombras [Eikasia], a opinião [Pistis], a dianoia [raciocínio matemático] até a noesis – é capaz de intuir as ideias, fundamento último do real. A ciência ou episteme é conhecimento rigoroso da essência das coisas via intuição das ideias. A síntese de Platão é compreensão sistêmica que percebe as realidades sensíveis e inteligíveis interligadas pela Ideia das Ideias, o inefável Bem, fonte de tudo o que é. É metáfora do esclarecimento, nessa perspectiva, o percurso ascendente e descendente que o filósofo realiza das trevas à luz e da luz às trevas na Alegoria da Caverna na qual, o Sol, Filho do Bem, é o símbolo do Bem em Si. A luz, no Mito, é metáfora do esclarecimento. O ser humano – psyché existindo corporalmente – é composto pelo divino e pelo terreno. Se a Psyché é imortal, semelhante às ideias, o corpo pertence ao kosmos [mundo que é harmonia, beleza, ritmo, ordem]. Habitando o kosmos pela condição corporal, movido por eros, é capaz de transcendência. Transcende ou ultrapassa a si mesmo pelo conhecer percebendo a sombra das coisas físicas, as próprias coisas, posteriormente, através dos exercícios matemáticos e, finalmente, intuindo ou recordando as Ideias e o Bem. Em continuidade, é importante esclarecer, que Psyché ou alma [do latim anima] é o princípio do movimento e da vida, é causa da organização do corpo da capacidade de perceber e compreender as coisas. O kosmos – beleza, ritmo , harmonia – ordem – segundo o filósofo de Atenas, foi moldado, pelo arquiteto divino Demiurgo, segundo as ideias. As ideias são imateriais, estáveis, eternas e paradigma [modelo] de todas as realidades sensíveis. A ideia é o Uno do qual participam os múltiplos – as coisas sensíveis. Eros é desejo – impulso que, desde as coisas sensíveis – conduz à procura do bem, da beleza e da verdade. Em A República (Cf. A República, Livros IV, VI e VII), Platão descreve as relações entre alma e corpo e o processo de subida ao Mundo das Ideias e retorno à vida cotidiana. Se compete à alma racional governar a vida corporal, é preciso – desde a percepção – dirigir o olhar das coisas sensíveis às inteligíveis, ideias. Duplo exercício é solicitado, pois se a razão é o olho da alma, necessita ascender, gradativamente, das coisas sensíveis às ideias e das ideias à Ideia das Ideias, ao Bem. A ideia do Bem – divino por excelência – é inefável, pois, se fosse definível não seria o fundamento dos existentes. De que modo podemos, provisoriamente, compreender o Bem? Assim como o Sol é a causa da existência, geração, nutrição e visibilidade das coisas sensíveis, o Bem – no mundo espiritual – é a causa da existência das ideias e de sua inteligibilidade. A razão humana, via recordação, conforme lemos na alegoria do Sol em O Livro VI de A República, passo-a-passo, é capaz de compreender que o Bem éo fundamento não fundado de todas as coisas, sensíveis e inteligíveis e meta da existência humana. Em o Mito da Caverna, Platão relata a subida ou libertação de um prisioneiro que, desde a Caverna, questionando as sombras projetadas na parede, atinge o mundo exterior e, gradativamente, habilita-se à visão do Sol. Ora, o mundo da caverna é o mundo sensível, o mundo exterior é o mundo inteligível. Se sombras e marionetes correspondem às impressões sensíveis, entretanto, o mundo exterior – composto de entes iluminados pelo Sol – é o mundo inteligível. O Sol, que doa vida e existência às realidades do mundo exterior é o Bem. É preciso adaptar o olhar, gradativamente, à contemplação do Sol – Bem. No Mito da Caverna há dupla adaptação que o anthropos – vivente mortal – precisa realizar. A primeira, das sombras [caverna: reino do sensível] à luz [mundo exterior: reino do inteligível], consiste em tornar-se apto a compreender as coisas iluminadas pelo Sol ou pela luz do Bem. A segunda, consequência da contemplação do Sol ou Bem – implica na readaptação à caverna, no retorno ao mundo sensível. Por que o prisioneiro se liberta? Movido por eros – desejo de verdade, beleza e bondade – ultrapassa a si mesmo à procura do sentido da vida. Por que o liberto retorna à Caverna – correndo o risco de incompreensão e morte? Porque a visão do Bem é gratuita e compromete os que a alcançam. O liberto, de consequência, retorna à caverna para testemunhar aos antigos companheiros – ainda prisioneiros de seus pré-conceitos e valores – de que o mundo é 3 infinitamente maior e incrivelmente belo do que possam imaginar. A dialética entre mundo sensível e mundo inteligível, descrita na ascensão ao mundo exterior e retorno ao mundo da caverna sinaliza o processo de libertação – via esclarecimento – da qual a luz é símbolo. 2 Aristóteles e a Justa Medida Aristóteles [384/383 – 322 a.C] definiu o anthropos como Animal Racional e Político, capaz de teorizar e participar dos debates na ágora. É na Ágora ou Praça Pública – espaço de debates – que acontecia a vida política da Cidade. Segundo o filho de Estagira, é fundamental aos fins da vida humana a participação na vida política através da concretização da justiça. A Vida Boa, digna de ser vivida, em consequência, é a vida teorética, virtuosa, vivida desde a amizade filosófica, no contexto da Polis. Aristóteles, para evitar tanto o isolamento intelectual quanto o ativismo, propõe alternância entre vida contemplativa [filosófica] e vida ativa [política]. Eis o círculo virtuoso entre teoria e práxis que, julgamos, permanece atual. Se Platão propõe autêntica religião cósmica, cujo ápice encontrar-se-ia na visão do Bem no mundo espiritual; Aristóteles, entretanto, ao demonstrar a existência de Deus, afirma que a Religião possuiria, tão-somente, valor cultural. Deus, pensamento do pensamento ou 1º Motor Imóvel atrairia os entes ao ser como um imã atrai metais, mas sem os conhecer, pois, se os conhecesse tornar-se-ia imperfeito. Deus sabe que é causa última ou primeira do cosmos, mas, não conhece os entes que, amando-o, existem. Aristóteles em Ética a Nicômaco convida à vida ativa pela conquista das virtudes. A razão prática, segundo o estagirita – orientando a deliberação – asseguraria ao agir moderação e racionalidade. Cultivando as virtudes via hábito – repetição consciente que incorpora ao caráter um modo der ser segundo a moderação – alcançaríamos à atualização da humanidade. Para Aristóteles, em cada decisão e ação, nos tornamos o que somos: seres racionais. Capazes de teorizar, contemplar a essência das coisas, entretanto, a vida boa – eudaimonia – solicita que participemos da vida da cidade. Procurar a vida boa, conhecendo e agindo – contemplação e práxis – eis a proposta ética de Aristóteles. Virtude, de virtus em latim, é importante precisar o conceito, indica força, vitalidade, capacidade. O termo grego para virtude é areté. Aristóteles propõe educação à virtude – vida moderada pela razão – na direção do governo de si mesmo [autarquia] segundo o cultivo da temperança, da coragem e da justiça. O politeísmo helênico, rico em significados, foi substituído pelas filosofias de Platão e Aristóteles, que formularam antropologias integrais, abertas e sempre atuais e que seriam redescobertas e interpretadas em chave cristã. 3 História da Antropologia: Patrística e Escolástica Santo Agostinho, Tomás de Aquino e Duns Escoto, herdeiros da Tradição helênica, mas, cristãos por opção e formação, em contextos diversos, pensaram a existência humana desde o tempo, como tarefa e relação. Kant, posteriormente, desde a noção de pessoa, defenderá a dignidade e inviolabilidade da vida humana. 3.1 Santo Agostinho: nos instantes – que constituem o tempo – experimentamos, brevemente, a eternidade Se estou para recitar uma canção que conheço, antes de começar, já minha expectativa se estende a toda ela. Mas, assim que começo, tudo o que vou destacando e entregando ao passado vai se estendendo ao longo da memória. Assim, a minha atividade volta-se para a lembrança da parte já recitada e para a expectativa da parte ainda a recitar; a minha atenção, porém, está presente: por seu intermédio, o futuro torna-se passado. E quanto mais avança o ato tanto mais se abrevia a espera e se prolonga a lembrança, até que esta fica totalmente consumida, quando o ato, totalmente acabado, passa inteiramente para o domínio da memória. Ora, o que acontece com o cântico todo sucede também para cada uma das suas sílabas; acontece também a um ato mais longo, do qual faz parte, por exemplo, o cântico, e em toda a vida do homem, da qual todas as ações humanas são partes. Isso mesmo sucede em toda a história dos filhos dos homens, da qual a vida de cada homem é apenas uma parte. Aurélio Agostinho, Confissões Aurélio Agostinho de Hipona [354-430] viveu no crepúsculo da Antiguidade, entre um mundo que desaparecia e um novo que iniciava. A queda de Roma em 410 não significou o final do mundo, mas o começo de novo mundo. Batizou-se aos 32 anos em Milão. Retornando à África – após vida monástica em Tagaste – é eleito presbítero com direito à sucessão do Bispo Valério na diocese litorânea de Hipona. O ser humano, para Agostinho, é pessoa – ser único e irrepetível, é rosto. Aspira, no trânsito da história, o Absoluto: 4 amor pleno, capaz de conferir peso à alma - impedindo as flutuações entre isto e aquilo, conferindo sentido à existência. Ser integral, composto de corpo e alma, dotado de uma mente racional, é portador de inteligência, memória e vontade. A vontade, faculdade ativa, é capaz de querer. Ora, a vontade pode escolher contra si mesma. O amor, caritas, unificando a faculdade da vontade, unificaria a vida da pessoa e conferiria sentido e plenitude à existência. A pessoa, itinerante, membro da família humana, pertencente tanto à Jerusalém Peregrina quanto à Jerusalém Terrestre, é convidada, nas suas escolhas e atos, a construir a Paz na Cidade Terrestre, ainda que paz precária. A construção da Paz na Cidade Terrestre é antecipação e condição à inclusão na recriação escatológica, quando, no final dos tempos, manifestar-se-á a Jerusalém Celeste: ponto de convergência da Criação e da História. Em As Confissões lemos: Ama e faz o que queres. Mas, de que amor nos fala o hiponense? De amor ordenado, da ordinata dilectio, que é graça e plenitude. Quem sou? Não sei, afirma em As Confissões. Continuando, clama: tu que conheces a mim, muito melhor do que me conheço, sonda os mistérios de minha alma e permite que ao conhecer-me te reconheça (Cf. Confissões, Livro X). A existência, para Agostinho de Hipona é itinerário de autoconhecimento que, desde a criação, nos encaminha, via interioridade ao Absoluto que é Sumo Bem, Suma Verdade e Suma Beleza. Nesse sentido, Tomás de Aquino, que viveu no século XIII, refletindo sobreo ser indaga, se os entes finitos poderiam não existir, então, qual é a razão de suficiência da existência desses entes? Ora, quem pôs os entes finitos na existência é Deus, eterna fonte de amor e plenitude, parcialmente sondável pela razão humana. O ser humano, pessoa, pelo intelecto pode conhecer a verdade, pela vontade aspira o Bem. Se Deus é a fonte da Verdade, entretanto, o modo próprio de compreendê-lo consiste em amá-lo. Mas, como? Na vida presente, em cada escolha e ação, aspirando-o devemos amá-lo via cuidado do outro e da criação. Se para Tomás ser é agir, existir é realizar-se no convívio com outros seres racionais, segundo a prudência e a justiça. No tempo – fortalecidos pela Fé, esperança e amor – no transitar pela vida, experimentamos um pouquinho da eternidade. 3.2 O Ser-pessoa: Tomás, Kant e Duns Escoto A compreensão do o anthropos – ser humano – segundo as múltiplas dimensões que o constituem, é gradativa conquista que envolve a história do pensamento e implica em consequências vitais à ética, política e direito. A seguir, brevemente, descreveremos o itinerário que conduz à afirmação de que o ser humano é pessoa. 3.2.1 Santo Tomás de Aquino: ser é agir O Aquinate [1224/1225 - 1274], no contexto dos debates despertados pela redescoberta de Aristóteles no Ocidente, assume posição crítica, valorizando a contribuição do estagirita à Filosofia e à Teologia. Santo Tomás de Aquino não rejeita Aristóteles. Ao contrário, estuda e comenta a obra do fundador do Liceu com inigualável profundidade. No transcurso da história do pensamento filosófico e teológico, é notável interprete da obra de Aristóteles. O frade dominicano é importante recordar, leu as obras de Aristóteles nas traduções latinas realizadas diretamente do grego. Comentou temas aristotélicos em opúsculos, na Suma Teológica e Suma contra os gentios. É na Suma Teológica que encontraremos ampla análise, sob a forma de questões disputadas, em ótica teológica, da Ética de Aristóteles. A Teologia prática solicitou do Mestre em Teologia da Escola de Paris atento estudo e interpretação da ‘Ética do Filósofo’. Para Tomás de Aquino, ser pessoa é tornar-se pessoa pelo agir. O ser humano é pessoa; pois dotado de intelecto e vontade, pelo intelecto busca a verdade e pela vontade busca o bem. Segundo Cláudio Henrique Lima Vaz, 1991, v.1, p68-69), O ser humano nasce ‘pessoa’, mas precisa atualizar a humanidade, a racionalidade, através do agir. O agir busca sempre o bem. Bem é o que convém à natureza humana, é o que contribui à realização da pessoa, unidade corpo-alma que, inserida na história, precisa pensar, deliberar e agir segundo seu destino último: a união beatífica com Deus. Se a alma racional, prosseguindo, é a forma do corpo, compete à alma racional, unida substancialmente ao corpo, através da prudência, determinar a justa medida que, em cada ação, visando o bem do indivíduo humano. A Ratio ou Mens Racionalis, portanto, pode conhecer e querer através das potências do intelecto e da vontade. Há interessante dialética entre essas duas capacidades, pois não podemos amar aquilo que não conhecemos, todavia, o conhecimento culmina no amor, pois conhecer, em sentido pleno, é amar. Tomás opta, na sua antropologia, por equilibrada relação entre vontade e intelecto, afastando-se do 5 voluntarismo e do intelectualismo. Para Santo Tomás, o bem é conquistado pelo agir prudente, moderado, atualizador, como dizíamos, da racionalidade que confere virtude ou excelência à vida humana. Mas quem é a pessoa? A pessoa, não é uma coisa, é alguém. Portadora de singularidade irrepetível. Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, oferece oportunos esclarecimentos sobre a noção pessoa e seus significado, pois Quanto ao primeiro artigo, assim se procede: parece que não é conveniente a definição que Boécio escreve no livro Sobre as Duas Naturezas: ‘Pessoa é a substância individual de natureza racional. [...]. Quanto ao 1º, portanto, deve-se dizer que embora não se possa definir tal ou tal singular, entretanto, é possível o que constitui a razão comum da singularidade. É assim que o filósofo define a substância primeira. E é dessa maneira que Boécio define a pessoa. [...]. Além disso, Boécio diz: ‘o termo pessoa parece derivar das máscaras que representavam personagens humanas nas comédias ou tragédias: pessoa, com efeito, vem de per-sonare – ressoar, porque necessitava-se de uma concavidade para que o som se tornasse mais forte. Os gregos chamavam essa máscara de prósopa, porque colocavam-na sobre a face e diante dos olhos para esconder o rosto’. [...]. Quanto ao 2º, deve-se dizer que embora pessoa não convenha a Deus tendo em conta a origem do termo, entretanto, tendo em conta aquilo que passou a significar, convém sumamente a Deus. Com efeito, como nas comédias e nas tragédias se representavam personagens célebres, o termo pessoa veio a designar aqueles que estavam constituídos em dignidade. [...]. Ora, é grande dignidade subsistir em uma natureza racional. Por isso, dá-se o nome de pessoa a todo o indivíduo dessa natureza, como foi dito (Cf. Tomás de Aquino, ST Q 29, a.1 e a.3, p.522/528-530). Os debates registrados em torno do termo pessoa nas Questões da Suma, referem-se, inicialmente, a Deus. Deus é Pessoa ou, propriamente, Pai, Filho e Espírito Santo – na unidade divina – são Pessoas. Para o Aquinate, é conveniente salientar, todos os seres racionais, capazes de conhecer e amar, donos de si mesmos através de suas ações, são pessoas. O termo pessoa, portanto, indica unidade, singularidade, irrepetibilidade, posse de si via reflexão e ação. Na linguagem de Tomás, conforme a cita, interpretando Boécio, pessoa é substância individual de natureza racional. A pessoa humana, logo, é substância porque existe em si mesma, é completa e única. A pessoa humana é racional, como afirmávamos, porque portadora de intelecto e vontade, capacidades espirituais, é convocada a destinar-se através de escolhas e atos (vide atos imperados pela vontade cf. Suma Teológica. v.3. II. Q. 17. a.1-9. p.217-232). A palavra pessoa, esclarece Santo Tomás, deriva da expressão latina persona. Inicialmente Persona ou Prosopon [πρόσωπον] designava a máscara utilizada pelos atores, tanto no teatro grego quanto nas encenações romanas. Ao vestir a máscara, o ator assumia as características da personagem a ser representada. Persona ou Prosopon indica: a face, o rosto, o que há de maximamente singular no indivíduo. Finalmente, Persona ou Prosopon significa a dignidade dos seres racionais, dentre os quais, além de Deus e dos anjos, há o ser humano. Pessoa, portando, é noção apta a indicar a singularidade, na unidade corpo e alma, de um ser irrepetível, portador de dignidade, merecedor de profundo respeito e que portadora de um sendo do Absoluto, é vocacionada a Deus. Pessoa, igualmente, sinaliza a responsabilidade em atualizar, pelo desenvolvimento das virtudes cardeais (Cf. ST v.4. II. Q 61, a.1, a.2, a.3, a.4. p.160- 168: Prudência, Fortaleza, Temperança e Justiça], pelo cultivo das excelências intelectuais [Cf. ST v.4. Q. 57. a.1-a.6. p.114-128: Sabedoria e Ciências Particulares) e pela livre recepção das virtudes teologais (Cf. ST v.4. II. Q. 62. a.1-a.4. p.172-179: fé, esperança e amor) as amplas e dignas possibilidades inerentes à condição humana. As virtudes teologais da fé, esperança e amor supõem o cultivo virtudes cardeais [prudência, fortaleza, temperança e justiça], bem como, o cultivo das virtudes da ciência. Se pelo cultivo das virtudes cardeais a pessoas alcança a autarquia, se pela conquista do conhecimento realiza a natureza racional, pela recepção da fé, esperança e amor é fortalecida no itinerário da existência. Tomás de Aquino, é importante, frisar, unifica as dimensões da fé e da razão. Compreende a razão unida à vida concreta, concebe-a como razão afetiva,situando-a na multidimensionalidade que é a pessoa. Pessoa, em resumo, é rosto, identidade, irrepetibilidade. Designa um ser espiritual convocado a realizar a si próprio, a projetar-se, a ultrapassar-se. Indica um ser capaz de transcender, através do inteligir e do querer, pela realização do bem alcançado pela ação. Pessoa é alguém, portador de nome, chamado à promoção do próximo, ao reconhecimento do outro e ao cuidado da integridade da criação. Pessoa, finalmente, sinaliza ser que, desde as coisas finitas, procura o infinito, almeja o gozo em Deus. 6 3.2.2 Immanuel Kant e a dignidade da Pessoa Immanuel Kant [1724 – 1804], criticista, no contexto das luzes, desenvolverá em sua Filosofia Moral (KANT, 2008. p.72), desde original análise da noção de pessoa, ponto de partida necessário à reflexão ética. Para o Filósofo de Königsberg, a pessoa, é portadora de valor inauferível, é singular e irrepetível. As coisas têm preço, a pessoa é dotada de dignidade inviolável. Kant diferencia coisas de pessoas. Coisas têm valor relativo, podem ser designadas por preço. Pessoas, seres racionais, aptos à autonomia, são portadoras de valor incondicional. O valor que dignifica a pessoa, logo, não é relativizável, pois a pessoa sempre, nas mais variadas circunstâncias, é fim-em-si-mesma. A perda de uma vida humana empobrece a humanidade. De certo modo, em cada pessoa, se encontra em jogo o destino de toda a humanidade. Em decorrência, declara Kant: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca // simplesmente como meio”. (KANT, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p.73). Para Immanuel Kant, a pessoa é portadora de valor imensurável e dignidade não negociável, pois sendo fim-em-si-mesma, em decorrência, não é instrumentalizável. O imperativo categórico formulado pela razão prática pura segundo a nomenclatura kantiana, é fundamental à proposição de uma Ética de Princípios racionais compartilháveis, caracterizados como mínimos éticos, ou seja, pontos de partida à convivência em sociedades plurais. Os imperativos citados, concebidos pela razão prática e queridos pela vontade, permitem à vontade determinar a si mesma por leis autonomamente propostas. Leis que encontram na universalização e na defesa da não instrumentalização da vida humana, referência permanente. Através de exercício racional-comunicativo ou dialógico, inspirados em Kant, podemos inquirir: quais são os princípios que permitiriam a convivência entre os humanos em sociedades plurais? Os princípios que formariam o Mínimo Ético, por sua validade intersubjetiva, por seu caráter transcultural, por sua racionalidade compartilhável forneceriam as bases da convivência em um mundo plural. O respeito à vida e salvaguarda da dignidade das pessoas, o exercício da solidariedade, a promoção dos direitos e liberdades fundamentais, encontrariam no Mínimo Ético referência e fundamento. Immanuel Kant, tal qual Santo Tomás de Aquino, em contexto diferente, segundo metodologia investigativa distinta, destacamos, também declara a dignidade incontestável da pessoa, referência à Ética, à Teologia, às práticas profissionais e pastorais, à vida em sociedade. 3.2.3 Beato João Duns Escoto: da solitudo à solidariedade João Duns Escoto [1265 – 1308], Inteligência poderosa e sútil, educado na Ordem do Menores, desenvolveu estudos e atividades acadêmicas entre Oxford e Paris, falecendo, precocemente, no Estudo dos Franciscanos de Colônia. Defensor da Imaculada Conceição de Maria, proclamador do Primado de Cristo, difusor da Teologia da Glória, exerceu meritoriamente a tarefa de teólogo filosofante em Paris. O Beato João Duns Escoto, existência dedicada ao estudo e ao exercício pedagógico, nos escritos une: inteligência e afeto, lógica metafísica e piedade. Frei João Duns Escoto desbravou os enigmas do ser, meditou sobre o Ente Infinito, refletiu sobre a existência humana, desenvolveu autêntica metafísica orante. Para o Doutor Subtil, segundo Merino (2008, p.130), o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Desta afirmação decorre a preferência pela descrição de pessoa elaborada por Ricardo de São Vitor, pois a definição que dá Ricardo expõe e corrige a definição de Boécio, que diz que a pessoa é substância individual de natureza racional; porque essa afirmação implicaria que a alma é pessoa, o que é falso. Escoto defende claramente a unidade do ser humano, composto indivisível de alma e corpo. A eleição de Frei João destaca o aspecto existencial da formulação de São Vitor, valorizadora da existência em sua unidade inquebrantável. Se Tomás de Aquino, igualmente, destaca a completude da vida humana, ultrapassando e adequando a definição de Boécio à integralidade da existência humana, contudo, João Duns Escoto – em conformidade com sua doutrina sobre a univocidade ou singularidade do ente – é responsável por acentuar: a) que a existência humana é una e irrepetível; b) que a distinção entre corpo e alma é formal, que o ser humano não é, apenas, alma informando um corpo, mas, totalidade, vida espiritual encarnada, existência completa e, por conseguinte, incomunicável. Afirma Merino: 7 Segundo este último, a natureza é uma sistencia. E a pessoa é o modo privilegiado de ter natureza, ou seja, sistencia, a partir do ex, numa relação de origem. Deste modo sancionou a palavra existência para significar a unidade do ser pessoal. A existência não é um modo qualquer de estar existindo, mas uma característica de existir que é o ser pessoal. A pessoa sistit, mas a partir do ex, exprimindo o ex a íntima unidade da pessoa, que se traduz numa subsistência pessoal. A pessoa é, pois, constituída, pela sua natureza intelectual e pela sua incomunicabilidade ( MERINO, 2008, p.131). A antropologia de Duns Escoto, como lemos, privilegia a existência. Ser pessoa é existir ou ek-sistir, como afirmará Martin Heidegger. A existência, segundo o Doutor Subtil, é modo privilegiado de constituir-se em-o-ser, desde a intimidade e unidade (Cf. Merino, 2008 , p.131- 132). A pessoa, portadora de natureza intelectual, subsiste, é em si mesma una e completa. A personalização, em decorrência, reivindica a ultima solitudo, ou seja, estar livre de qualquer dependência real ou derivada, na ordem do ser, de outra pessoa. A solitudo, decorrente da completude humana, expressa a singularidade, a irrepetibilidade, a unidade do ser pessoa. A pessoa, consequentemente, precisa, na intimidade, cultivar-se, personalizar-se, penetrar no mistério da existência (Cf. Merino, 2008, p.131-132). Duns Escoto, afirmando a ultima solitudo antecipa, pensamos, a compreensão de que a pessoa não cabe em definições essencialistas. Ademais, é necessário tornar-se pessoa pelo mergulho no si mesmo, consequência da afirmação de que existir é subsistir na singularidade e unidade irrepetível que caracteriza cada ser humano (Merino, 2008, p.134). Nessa perspectiva, Antônio Merino, comentando a Ordinatio, esclarece que A pessoa humana tem vocação de abertura ao outro e ao mundo e sente o chamamento de sua presença. Mas, a sua meta natural poderá consegui-la se prévia e simultaneamente conseguir viver em si mesma. É necessário chegar a ser pessoa em si mesma, para depois ser solidário com os demais, posto que primordialmente a pessoa está destinada a subsistir por si mesma; e somente, deste este ser para si, poderá lançar-se a ser para o outro. O homem, ao mesmo tempo que pertence a si mesmo, que possui sua própria individualidade e dignidade, é um ser relacionado e reciproco. Ipseidade, tuidade, nostridade, implicam-se num processo indefinido, enriquecedor e configurador. O homem precisa descobrir a própria subjetividade. Mas, não podendo encerrar-se na subjetividade, deve abrir-se à alteridade. Pertença e referência sãoduas categorias existenciais que pressupõem a ultima solitudo e a relação transcendental. Com intuição genial, Escoto adiantou-se à filosofia dialógica, que tanta importância tem na actualidade (Merino, 2008, 134). Solicitude do latim Sollicitudo, designa preocupação para com o outro. Quem é solicito acolhe, dialoga, responde às necessidades do próximo. A constituição da subjetividade, desde a individuação, envia a pessoa ao outro, torna a pessoa capaz de reconhecer e acolher o outro. Para Duns Escoto, a solitudo, condição de subjetivação do indivíduo humano, reivindica a solicitude. De outro modo, somos vocacionados à solidariedade às outras pessoas e para com a totalidade da criação. Ao destacar a individuação da pessoa, ressaltando a completude, João Duns Escoto põe em relevo a identidade irrepetível. A pessoa, una e completa, é ultima solitudo. O tornar-se pessoa, enfatizamos, supõe cultivo da subjetividade. A subjetivação, entretanto, nos envia ao outro. Compartilhamos, efetivamente, o mundo com outras pessoas e com a criação de Deus. A pessoa, aberta ao outro, é convidada à solidariedade. A Solitudo, em conclusão, reivindica a solicitude. Desde sua individualidade, cultivando a si mesma, a pessoa é vocacionada à solidariedade, ao cuidado, a ser-com-os-outros via edificação da habitabilidade e convivialidade no-mundo. 4 René Descartes e a cisão entre homem e mundo Os antigos compreendiam o ser humano desde a inclusão cósmico-divina; se Agostinho, Tomás e Duns Escoto afirmam que o sentido último da existência se encontra na procura e gozo na verdade em Deus, entretanto, situam o ser humano no contexto do kosmos e da polis, o localizam na comunidade humana e na história. Herdamos da Filosofia e Teologia constituídas ao longo de 2.400 anos compreensão de que somente poderemos amar aquilo que nos esforçamos por compreender, pois se a recompensa da fé é o entendimento, é preciso refletir, dar razões de nossas asserções, certificar nossa esperança. As ricas antropologias desses períodos, em resumo, situam o ser humano na história, indicam que existir é ultrapassar-se, transcender através do conhecer, agir, amar, construir o mundo. São antropologia abertas e atuais, capazes de oferecer importantes significados à compreensão do ser humano. 4.1 A perda dos centros de referência Os modernos, gradativamente, perderam o centro que situava, confortavelmente, o ser humano no 8 universo. A Terra é um pequeno planeta que gira em torno do Sol. O Sol é uma estrela que pertence à uma galáxia. Nicolau de Cusa, ao descobrir a possível Infinitude do universo, louva a douta ignorância sobre os fenômenos que nos cercam, pois nos torna humildes e convida à pesquisa. Os europeus, através das viagens marítimas descobriram novos mundos, culturas primais antiquíssimas. Ora, a Europa não é o centro do mundo, como imaginavam. Ademais, após reforma de Lutero e de outros grupos, a unidade religiosa quebrou-se. As guerras, igualmente, devastavam a Europa. Se a unidade política, religiosa, geográfica e cósmica fora rompida, é preciso, para reconstruir a ocidentalidade, postular uma reforma das ciências. 4.2 O Projeto de Descartes: a ciência admirável René Descartes, leitor de Agostinho, gênio matemático e filosófico propôs-se tarefa de postular a nova ciência, a Ciência Admirável. O ponto de partida é a dúvida metódica. Indaga no Discurso do Método: será que existo? Se penso, logo existo [Cogito, ergo sum]. Não estarei, contudo, sonhando, existem realidades extra- mentais? Se sou capaz de conceber a Ideia de um Ser perfeitíssimo, pleno, simplesmente ser, carente de privações, logo, é necessário que o Sumo Ser exista para além da mente que o concebe. Demonstrada a existência de Deus [Res Infinita], em consequência, o Sumo Ser não permitirá que nos enganemos quanto à existência de realidades extra-mentais. Se Deus existe, não me engano quanto à existência das coisas extensas. Por Res Extensa ou Coisa Extensa devemos compreender tudo o que é dotado de altura, largura e profundidade e pode ser mensurado. Se Deus existe, sou e não me engano. Não me engano? Estou desperto e, portanto, não me engano sobre a existência das coisas extensas. Após demonstrar as certezas fundamentais propõe, a partir da geometria, o método da nova ciência: dividir o todo em suas partes, verificar o que há de verdadeiro e falso, eliminar o falso, remontar o todo permanecendo somente com o que é verdadeiro. 4.3 O dualismo antropológico Mas, quem é o ser humano? Se posso pensar a alma como realidade clara e distinta, pois é simples, imaterial e fonte do pensamento, ela existe. Se posso pensar o corpo como realidade clara e distinta, pois é composto de partes sensíveis, tal qual um relógio [Relógio Mecânico: paradigma do modelo científico mecanicista] o corpo existe. No contexto da pesquisa realizada por Descartes, salientemos, o relógio mecânico é o paradigma do modelo científico mecanicista. Mas, como relacionam-se corpo e alma? A alma receberia via sentidos externos, sistema nervoso periférico, cérebro e glândula pineal as experiências sensoriais. A alma, via glândula pineal, governaria o corpo-máquina. O que sou? Um ser que pensa e que comanda um corpo-máquina, que experimenta como estranha a condição corporal. O que é a morte? Quando o corpo-máquina deixa de funcionar, a alma, que é imaterial, abandona o corpo. Diante do desafio de reunificar as ciências, responder questões vitais da existência humana, Descartes fundou o dualismo corpo versus alma. Ao propor a unidade de método para Filosofia e Ciências da Natureza – postulando o modelo matemático de orientação mecanicista – desencadeou, todavia, movimento na direção da fragmentação do conhecimento. Descartes não logrou conquistar a Unidade do Saber e tampouco ofereceu chave antropológica para melhor compreendermos o ser humano. Precisamos ir além de Descartes, pois o homem não é a soma de alma e corpo, tampouco o mundo extra-mental é uma máquina composta de coisas extensas. E Deus, como Deus, não se reduz à res infinita, noção mental pela qual Descartes sustenta o seu edifício cientifico. Aliás, não tenho um corpo: sou um corpo. Corpo que pensa, ama, relaciona-se. Deus, igualmente, não é mera noção mental, antes de tudo, é experimentado na vivência no amor. Descartes merece elogio por sua tentativa de reunificar as ciências dispersas e fragmentadas, entretanto, é preciso destacar, fundou um solipsismo filosófico que necessita ser superado. O que sou? Segundo Descartes, uma coisa pensante vivendo na condição corporal. Descartes inaugura a metafísica da alma e a física das coisas extensas – dualismo que, até os presentes dias, nos influencia. No campo epistemológico, com repercussão na existência e nos processos de pesquisa, competiria às ciências da natureza explicar as coisas extensas, dentre as quais, encontra-se o corpo-máquina. Ora, o modelo mecanicista não é a coisa mesma. Seres vivos, por exemplo, não são máquinas. Máquinas são artificiais, montáveis e desmontáveis. Seres vivos são gerados, nascem, crescem, morrem. São unidade irrepetível na grande teia da vida. O ser humano, ademais, segundo a Filosofia da existência, é no mundo – espaço existencial – no qual, via linguagem, estabelece relações com outras pessoas e põe-se em relação com outros 9 entes. No mundo há distância e proximidade, caminhos e descaminhos. O mundo, para além da representação geométrica, é habitado e compartilhado. 5 HEIDEGGER E O SER-AÍ-NO MUNDO Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é mesmo nossa. A natureza concedeu-nos a posse desta coisa transitória e evanescente da qual quem quer que seja nos pode expulsar. É tão grande a insensatez dos homens que aceitam prestar contas de tudo quanto - mau grado o seu valor mínimo, ou nulo, e pelo menos certamente recuperável - lhes é emprestado, mas ninguémse julga na obrigação de justificar o tempo que recebeu, apesar de este ser o único bem que, por maior que seja a nossa gratidão, nunca podemos restituir. Sêneca, Cartas a Lucílio. Verificamos que Tomás, Escoto e, também, Martin Heidegger não elaboraram teorias, mas descrições que tocam na essência do ser humano: somos pessoas (Tomás) e seres relacionais (Escoto). Nada nos pertence, somente o tempo é nosso, mas, um dia não mais seremos. Frente à temporalidade, somente o cuidado confere sentido à existência. 5.1 Edmund Husserl e Martin Heidegger: conhecer é retornar ao mundo da vida Martin Heidegger [1889-1976], discípulo de Edmund Husserl [1859-1938], colega de Max Scheler [1874-1928] e de Ernest Cassirer [[1874- 1945], interlocutor do teólogo Rudolph Bultmann [1884-1976], experimentou, na década de 30 e anos posteriores as consequências da fragmentação antropológica. Aprendera com Husserl que é preciso retornar ao mundo da vida, lócus das vivências originárias. Se Husserl ensinara que o conhecimento é movimento intencional na consciência, enquanto conhecimento de; Martin Heidegger afirmará que conhecer é des-cobrir, no mundo, o sentido das coisas. O ser humano é aí- no-mundo, habita e constitui o mundo via linguagem. Se Para Husserl a relação sujeito e objeto dá-se na consciência, para Heidegger, o ser das coisas apresenta-se ao Dasein humano via linguagem. Para Husserl, por exemplo, não há duas macieiras: a macieira que se apresenta à consciência é a mesma macieira externa. A macieira que a consciência intenciona, portanto, é a macieira existente no mundo. Para Heidegger, antes de ser descrita cientificamente, a jarra é simplesmente o utensílio que recebe e doa água, manuseado no transitar no mundo. 5.2 O ser-aí-no-mundo e o cuidado Heidegger denomina o ser privilegiado que indaga pelo sentido da existência por Dasein [ser- aí-em-o-mundo]. Se o mundo o precede, salientamos, não há Dasein sem mundo e não há mundo sem Dasein. Dasein é-com, é Mitdasein. Se a Linguagem é a casa do ser, se o Dasein habita essa casa, precisa ter cuidado para com a palavra [Cf. Carta sobre o Humanismo]. No contexto do mundo, o Dasein precisa interpretar constantemente sua situação. O entender, portanto, é próprio do Dasein. O Dasein dá-se conta de que é finito, frágil e temporal. A resposta à finitude, pois um dia não mais será, é o Cuidado. Cuidado, do latim cura,e [curar, administrar, cuidar], na língua alemã Sorge. Sorge: preocupação. Daí: Besorgen = preocupação com o amanhã [é preciso assegurar as condições da sobrevivência pessoal e comunitária] e Fürsorge = movimento pelo qual acolhe o outro, solicitude. Existir, portanto, é cuidar. Quem cuida de si, cuida do outro. Assegura, no tempo, as condições da existência. A anterioridade do cuidado é tão evidente que, não apenas nas ações práxicas é presente, mas, inclusive, nas tematizações teóricas. Se o Dasein é-com, é via cuidado. 5.3 O risco de existir é tarefa de destinação conforme nos ensinam pintores e poetas A partir de Ser e Tempo, Martin Heidegger procurará novo modo de pensar a existência, não através de representações, definições, fórmulas. O pensar encontrará nas artes, notadamente, na poesia e na pintura novo paradigma ou ponto de partida. Van Gogh e os poetas Hörderlin e Rilke, por exemplo, serão seus companheiros. Diante da Técnica Moderna, para a qual o homem de nosso tempo tende a transferir a destinação da existência, perceberá a resistência dos pintores e poetas. Pintores e poetas habitam e constroem o mundo porque vivem no risco de ser para além da aparente proteção da técnica. A verdade é descrita como evento de manifestação do ser através dos acontecimentos, das vivências, do mostrar-se das coisas. Verdade, para o filósofo suevo, é significado pelo termo Alétheia [grego] e Wahrheit [alemão]. É preciso, no des-velamento, ir além da concepção de verdade como posse intelectual ou representação. A concepção de verdade como representação baseia-se na suposição de que a relação sujeito versus objeto não é um construto, 10 mas a coisa mesma ou, até, a totalidade do real. A situação homem-mundo, entretanto, antecede o modelo sujeito versus objeto. Há prioridade, na ordem das vivências, da vida sobre esquemas. Somente experimentando o risco – acolhendo o ser das coisas e os significados da vida no processo de des-coberta / ocultamento do ser via linguagem – poderemos conferir significado à existência e sentido à Técnica moderna, assumindo a tarefa intransferível de destinar-se ou de exercer o cuidado, responsabilidade intransferível. Para além da armação da ciência positiva de orientação cartesiana, em resumo, é preciso acolher a novidade do ser via manifestação das coisas, do outro da vida vivida. O movimento pelo qual o Dasein acolhe o sentido é denominado por Martin Heidegger por Acontecimento [Ereignis]. A verdade é o acontecimento de revelação do ser ao Dasein via eventos, vivências, manifestar-se das coisas na história, verificável desde o mundo e compartilhável com outros seres humanos. 6 APLICAÇÃO: O Dasein é no mundo via cuidado: prevendo e acolhendo Para Martin Heidegger, o Dasein é ser-aí- no-mundo. É no aberto do mundo: não vive em um bioma fechado e precisa assumir a responsabilidade de existir. Na linguagem de Heidegger, precisa destinar-se no-mundo-com outros-seres-humanos. O Dasein é frágil e temporal. Como afirmávamos: é finito. Qual é a resposta à finitude, frente à onipotência da técnica ou diante dos discursos que ignoram a finitude? A resposta é o cuidado. Cuidar é prever, cuidar é acolher. Cuidar, assim, é administrar a vida em comum. Cuidado, interessante, também, é curar, no sentido de restabelecer a saúde. Lidamos com coisas para, prevendo necessidades, continuar a existir. Vamos ao Supermercado para suprir a casa de insumos. Por que? Para atender às necessidades da família. Se nos ocupamos com as coisas para podermos existir, entretanto, nos preocupamos com as pessoas, as acolhemos. A preocupação, lidar com as coisas, é para que possamos acolher e cuidar das pessoas. Lidamos com coisas e cuidamos dos outros. Cuidar de si, nessa perspectiva é cuidar do outro, cuidar do outro é cuidar de si. Nunca estamos atrás ou na frente do outro, mas, junto. Estamos juntos na tarefa edificar a existência em comum. Confrontados com os desafios da crise pandêmica, por exemplo, responsavelmente procurarmos preparar ou constituir estratégias aptas a prevenir e, também, acolher e cuidar os que contraíram a doença causada pelo Sars-CoV- 02. Farmacêuticas, em consórcio com laboratórios, nos quatro hemisférios – como a AstraZeneca no acordo com a Fiocruz e Sinovac no acordo com o Butantã – pesquisaram e entregaram vacinas aptas a proteger populações. Profissionais da saúde, destacadamente o pessoal do front, empenham a vida no cuidado dos enfermos. Pesquisamos e produzimos vacinas, preocupados, para acolher e cuidar dos outros. A crise pandêmica recordou quão frágeis somos e quanto precisamos uns dos outros. 6.1 O Uso sereno e efetivo dos Utensílios técnicos O Dasein Humano, em resumo, é-com, precisa tornar a terra habitável, a vida possível, prevendo e acolhendo. O Cuidado é o ser do Dasein humano, pois se não cuidamos, não existimos. O cuidado não é mero acréscimo, nos define como indivíduos, é anterior às teorias e práticas. Na contemporaneidade, entretanto, vivendo fragmentação existencial, pobres de sentido, tantas vezes, transferimos à Técnica moderna a tarefa de Cuidar: tornar o mundo habitável. Há um paradoxo a ser pensado: se não podemos viver sem a Técnica moderna, entretanto, se a ilusória proteção oferecida elude a finitude, é preciso interrogar: qual é o sentido da Técnica Moderna? Para tanto, é necessário tomar distância, sair de sua influência. Como conviver em um mundo cada vez mais técnico?Somos convidados a pensar o sentido da Técnica. Exemplo notável, pensamos, é o modo como transformamos as mediações eletrônicas, em tempos crise epidemiológica, em instrumentos de encontro, descobrimos, através das reuniões via Zoom, que distanciamento social não é isolamento existencial. Aspiramos retornar à proximidade do face-a-face, mas, presentemente, através dos encontros em tempo real mediados pelas possibilidades informáticas, como podemos cuidar uns dos outros? Precisaremos de distância para avaliar quão importantes foram ‘os encontros’ e ‘conversas’ via Zoom da PUCRS. Se utilizarmos os utensílios técnicos com prudência, usando-os - apenas - quando deles precisarmos, eis importante constatação, descobriremos que devotamos tempo exagerado à Técnica. Utilizando com serenidade e prudência os artefatos técnicos, recuperando o tempo da presença, poderemos, em decorrência, realizar a tarefa do cuidado - pela qual nos mantemos em-o- ser e tornaremos o mundo habitável, tal qual nos 11 exemplos: fabricação de vacinas e encontros via Zoom. Compreendo o cuidado através de uma narrativa: Fábula Latina de Cura Um dia em que preocupação (Cura / Sorge) atravessa um rio, vê um lodo argiloso: pensativa, pega um tanto e começa a modelá-lo. Enquanto reflete sobre o que fizera. Júpiter intervêm. ‘Preocupação’ lhe pede que empreste espírito ao modelo, no que Júpiter consente de bom grado. Mas, quando preocupação quis impor-lhe seu próprio nome, Júpiter a proíbe e exige que seu nome lhe deveria ser dado. Enquanto ‘Preocupação’ e Júpiter discutiam sobre o nome, a terra (Tellus) surge também a pedir que seu nome fosse dado a quem ela dera seu corpo. Os querelantes tomaram, então, Saturno para juiz, o qual profere a seguinte decisão equitativa: ‘Tu, Júpiter, porque deste o espírito deves recebê-lo na sua morte; tu, Terra, porque o presenteaste com o corpo, deves receber o corpo. Mas, porque ‘Preocupação’ foi quem primeiro o formou, que ela, então, o possua enquanto viver. Mas, porque persiste a controvérsia sobre o nome, ele pode ser chamado homo, pois é feito de humus – terra. (ST, Ser e Tempo, § 42, p. 551). O que a fábula significa? A fábula de Cura é significativa, não-apenas por designar a constância do cuidado na totalidade da vida do Dasein, mas, sobretudo, pela afirmação da precedência do cuidado na clássica relação entre corpo e espírito. O Dasein não é abandonado por sua origem, mas por ela albergado durante toda a sua existência sobre a face-da-terra. O Dasein, conforme a fábula, não recebe o nome do seu ser, mas, do material de que é confeccionado, pois, homem deriva de humus, terra. CONCLUSÃO: FRAGMENTAÇÃO DA EXISTÊNCIA, O SEM SENTIDO E AS ESPERIENCIAS LÍQUIDAS A fragmentação da existência, o sem- sentido e as experiência liquidas O ser humano, compreendido como anthropos pelos helênicos, por pessoa pelos padres da Igreja e pela escolástica, res cogitans por Descartes e Dasein por Heidegger indagou, indaga e indagará o sentido de estar- aí-no-mundo. Haverá sentido à existência? Onde encontrá-lo? Tendemos – nos tempos de onipotência da técnica – a viver desde as possibilidades dos magníficos utensílios tecnológicos, isolados ou a procura de sensações agradáveis que nos contentem. Existimos artificialmente – ‘Ilhados’ em ‘nossas fronteiras’ – como se não pertencêssemos ao chão-do-mundo, como não fôssemos ser-com. Após Descartes, dominando e transformando o mundo segundo interesses mercantis, manipulando as energias ocultas da natureza, via técnica, nos transformamos em insaciáveis consumidores que, freneticamente, de novidade em novidade, ao consumir, nos tornamos, igualmente, objetos. A consciência de que pertencemos ao planeta foi substituída por um ‘culto’ à ‘natureza’ como entidade externa e estranha, que precisa ser protegida [Vide ecologia rasa ou superficial x ecologia profunda]. A ânsia descontrolada e insaciável de novidades nos faz transitar de objeto em objeto, tão freneticamente, que não mais sabemos quem somos. Já não nos encontramos face-a-face com-o- outro, isto sim, inúmeras vezes, via comunicação eletrônica, estabelecemos contacto com perfis ou similares substitutivos. Se já não somos próximos, pois não vencemos distâncias e não vivenciamos o face-a-face satisfatoriamente, quem somos? Se nossas experiências escorrem através de pixels e megapixels, o que somos? Se para além do pensamento instrumental raramente exercemos o pensamento que medita para onde vamos? Somos seres humanos, pois indagamos, mesmo que por descaminhos, pelo sentido. Ainda que não utilizemos com prudência os utensílios técnicos, constatamos, somos seres em transcendência. Se via pensamento instrumental ou Ciência aplicada pelo qual, via domínio tecnológico, experimentamos incontáveis comodidades e satisfação, entretanto, é urgente superar a sensação ‘embriagadora’ que nega a finitude. É preciso exercer o pensamento que medita, permanecendo junto às coisas e às pessoas – indagando pelo sentido de tudo o que é. Por que não lidamos com prudência com os utensílios técnicos? Por que ainda não encontramos um modo livre e tranquilo de lidar com os utensílios técnicos. Somos convocados, em resumo, a pensar o sentido da técnica moderna – a procurar modo adequado de incorporá-la às nossas existências, permitindo que nos destinemos. O filósofo e sociólogo Bauman, formulador da noção de liquidez aplicada às relações nas sociedades tecnológicas e mercantis, propõe o diálogo como base para, via reconhecimento do outro, reconhecer a si mesmo. Uma educação para o diálogo permitirá que recuperemos a tarefa do cuidado e percebamos a magnitude e beleza do estar-aí-no-mundo-com. 12 Breves conclusões O ser humano [pessoa / ser-aí-no-mundo] é ser em processo de transcendência. Transcender é ultrapassar-se no amar, no criar, no estudar, no procurar a verdade, na realização da fraternidade / solidariedade. Transcendemos quando, desde o mundo, a partir das situações-limites, acolhemos o outro. Transcendemos quando tocamos no Mistério da Vida, no divino que se manifesta na sacralidade da existência. Transcendemos quando perguntamos: quem sou, por que estou no mundo, qual é o sentido presente e derradeiro da vida? A vivência religiosa dá-se desde o mundo. No transcender, amamos, construindo o mundo. Acolhendo o outro, acolhemos o Totalmente outro. Na abertura que somos, pondo entre parênteses nossos pré-conceitos, ao acolher o mundo, a vida, o outro e o Absoluto, somos transformados. A vivência religiosa nos torna autenticamente humanos quando nos encaminha à responsabilidade: para comigo, para com o outro, para com um mundo. Precisamos contribuir à gestação da Paz via solidariedade através da edificação do mundo. Sim, a vida tem sentido. Vale a apostar na Paz e no Bem. É muito bom amar nossos familiares, colegas, amigos. É vital nos solidarizarmos com os que sofrem injustiças e não têm o direito à vida e ao viver assegurados. Sou parte da vida planetária, sou responsável pela defesa e promoção da vida. A religação religiosa efetiva-se quando, me importo. Nem é preciso definir a religação. Dá-se quando me torno, desde minha solidão e abertura, sempre mais solidário. E o sentido último da existência? Haverá vida pós morte? Eis indagação importante. Se o amor é a experiência fundante da existência, a fonte do amor não permitirá que a vida termine, que relações sejam cortadas. O amor em suas radicais, gratuitas e amplas possibilidades é resposta adequada à decisiva indagação sobre a vida após a presente existência. O amor é a derradeira resposta. Nessa direção esclarece C.G. Jung: “Tudo o que podemos dizer é que existe alguma probabilidade de existir para além da morte física” [Memórias, sonhos e reflexões, Nova Fronteira, p.318]. O que Jung experimentou como viável desde a exploração do inconsciente / consciência,inúmeras tradições religiosas confirmam. Com Jesus de Nazaré aprendemos que a vida e o amor têm a última resposta. Mas, se vivermos intensamente, aqui e agora, segundo a ordem do amor, reconciliados, já não experimentamos a eternidade? Vale a pena pensar. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Edson Bina. 2.ed. São Paulo: Edipro, 2007. BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. 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