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ERRO DE TIPO, ERRO DE PROIBIÇÃO, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ

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PROVA DE DIREITO PENAL – QUARTO BIMESTRE – PROF. ÉRIKA MENDES DE CARVALHO
ERRO DE TIPO
Erro sobre elementos do tipo.
Art. 20: o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Ocorre quando alguém não conhece, a cometer o fato, uma circunstância que pertence ao tipo legal. Falta a consciência de que está praticando a infração, afastando o dolo.
Consequências:
	Sempre exclui o dolo, mas pode haver culpa.
Erro de tipo inevitável/escusável/invencível ocorre quando o agente não tinha como evitá-lo, mesmo tomando todas as cautelas. Qualquer pessoa incorreria em erro se estivesse nas mesmas circunstâncias. Afasta o dolo e a culpa, deixando o fato de ser típico (excludente de tipicidade). Invencível, desculpável. ex: numa mesma mesa tinha o meu celular e um igual ao meu. Ao sair, pego um deles sem perceber que não era o meu.
Erro de tipo evitável/inescusável/vencível ocorre quando o agente poderia evitar o resultado, se tivesse atuado com a diligência exigida. Afasta somente o dolo. O agente pode responder pelo crime culposo, se houver previsão legal.
Esse é o ERRO DE TIPO ESSENCIAL. Recai sobre elementos, circunstâncias ou qualquer outro dado da figura típica. 
Há também o ERRO DE TIPO ACIDENTAL: engana-se quanto a um elemento não essencial do fato ou erra no movimento da execução (não afasta o dolo).
	Pode ser: a) erro sobre o objeto
		 b) erro sobre a pessoa (Art. 20, §3º)
		 c) erro na execução (art. 73)
		 d) resultado diverso do pretendido (Art. 74)
		 e) erro sobre o curso causal.
Erro acidental:
O agente age sabendo que comete um delito, apenas erra um elemento não essencial ou erra no movimento da execução.
Erro sobre o objeto (error in objecto):
	O erro recai no objeto a que se destina a conduta do agente. Ex: quer subtrair sacas de açúcar, mas subtrai sacas de farinha.
Erro sobre a pessoa (error in persona):
	Por erro do agente atinge-se pessoa diversa (virtual) da pretendida.
	Art. 20, §3º: o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
	As qualidades/condições/características da pessoa pretendida serão levadas em conta na pena, e não as condições da vítima (ex.: agravantes de pena – gestantes, idosos, crianças, etc.), da mesma forma que se a vítima atingida possuía um agravante e a pretendida não, o sujeito iria se beneficiar, não tendo a pena agravada.
Erro na execução (aberratio ictus):
	Art. 20, §3º: por erro na execução, o agente atinge pessoa diversa.
	O art. 73 trata da hipótese do “aberratio ictus” (bens jurídicos iguais), havendo erro na execução atingindo uma pessoa diferente da pretendida – responde como se atingisse quem visava inicialmente. Já no caso de atingir tanto o sujeito pretendido tanto uma outra pessoa por erro/acidente na execução, haverá o concurso formal de crimes (art. 70 – uma ação/omissão e dois ou mais crimes).
		Concurso formal perfeito: aplica-se a pena do crime mais grave, somada de 1/6 a 1/2. O sujeito projeta a vontade contra um sujeito e atinge este por dolo e um outro por culpa. 
		Concurso formal imperfeito: quando o sujeito possui dolo (direto ou eventual) ao atingir a vítima atingida e a projetada. O sujeito responderá pelos dois crimes, somando as penas.
	O art. 74 trata da hipótese da “aberratio delicti”, quando ocorre resultado diverso do previsto (bens jurídicos diferentes). Se prevista a modalidade culposa, o sujeito responde pelo delito culposo; se, mesmo havendo o erro, o resultado pretendido também ocorrer, há o concurso formal do art. 70.
Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis –art. 74):
	O erro deverá ser de coisa para a pessoa.
	O agente responde por culpa, se houver previsão legal. Se também ocorrer o resultado pretendido aplica-se o concurso formal.
	Ex: joga uma pedra para acertar a vitrine, mas acerta a pessoa – lesão culposa. Se acertar a pessoa e o vidro – concurso formal de crimes.
Erro sobre o curso causal (aberratio causae):
	Dolo geral: o erro na causa do resultado.
	Ex: Nardoni achou que tinha matado por asfixia, mas morreu pela queda. Responderá por um crime só de homicídio.
Erro induzido por terceiro:
O artigo 20, §2º traz o erro induzido por terceiro. Nesses casos, o terceiro será responsabilizado (no erro evitável o sujeito pode responder por culpa).
Descriminantes putativas:
Descriminante fato não é criminoso, é transformado em um indiferente penal = causas de justificação.
Putativas situações imaginárias que só existem na mente do sujeito.
Erro sobre a causa de justificação.
Pensa que tem um fato que precisa reagir/se proteger (legítima defesa/estado de necessidade).
Ex: o policial imagina que está pretendo o criminoso, mas é o irmão gêmeo (estrito dever legal).
Como qualquer erro ocorrido em putatividade, pode ser escusável ou inescusável (culpa imprópria = responde por culpa, mesmo agindo com dolo).
Obs: quando o erro recai sobre a existência ou mesmo sobre os limites de uma causa de justificação, ocorrerá o erro de proibição.
	Quando o sujeito pensa existir uma causa de justificação que o permite realizar uma ação, sendo que na verdade não existe (ex.: matar alguém que está em profundo sofrimento ou doença grave, visando encerrar tal sofrimento); ou então exceder os limites da causa de justificação. Há erro de proibição (indireto), então se o erro for evitável, diminui a pena, e se for inevitável excluí a culpabilidade.
Natureza jurídica do erro nas causas de justificação:
	Teoria Extremada: todo erro nas causas de justificação é erro de proibição. Régis Prado.
	Teoria Limitada: Código Penal: erro sobre a situação fática é erro de tipo permissivo (erro sobre a descriminante putativa); erro sobre limite ou existência é erro de proibição indireto. Compatível ao finalismo.
ERRO DE PROIBIÇÃO
Art. 21: o desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta a pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Desconhecimento da lei não conhece a norma. Atenuante. Inescusável. Art. 65, II.
Desconhecimento da ilicitude erro de proibição.
Consciência da ilicitude real (o agente deve saber efetivamente que está cometendo um crime) ou potencial (basta a possibilidade de conhecimento, todo mundo sabe disso). Nós utilizamos a potencial, basta a possibilidade do agente conhecer a lei para ela ser aplicada.
Espécies:
	Direto: erra sobre o conteúdo proibitivo da norma. Ex: holandês que visita o Brasil e fuma maconha.
	Indireto: descriminante putativa, o erro recai sobre a existência.
	Mandamental: incide sobre o mandamento contido nos crimes omissivos. Ex: acha que não precisa ajudar a criança que está morrendo afogada.
Consequência:
Inevitável/escusável isenta de pena. Exclui a culpabilidade.
Evitável/inescusável diminui a pena de 1/6 a 1/3.
Art. 21, parágrafo único: considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consequência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
ETAPAS DA REALIZAÇÃO DO DELITO (INTER CRIMINIS)
O caminho que o agente percorre desde que projeta a prática delitiva até o momento em que o crime se consome.
1. Cogitação: quando o sujeito analisa a situação, valora seus propósitos, bens a atingir, etc. É impunível. 
2. Preparação: é integrada pelos atos preparatórios. O sujeito começa a exteriorizar seus propósitos, preparando-se para dar início a execução – viabilização do plano. Em geral, não interessa ao direito penal, portanto, é impunível. No entanto, em alguns casos o legislador considera a preparação perigosa por si – recebe críticas doutrinárias. Se houver intervenção penal para preparações que não são perigosas, não há legitimidade (art. 14 – norma de extensão: estende o tipo) – política criminal e princípios constitucionais penais. 
	Quando criminalizados, devem ser como crimes autônomos (antecipa a puniçãopara que não seja tarde a busca pela proteção ao bem jurídico) 
	São equívocos – os atos preparatórios podem de fato antecipar um crime como podem não estar. Por essa razão, o legislador deve punir apenas quando a preparação for perigosa por si (proteção de determinados bens jurídicos). 
	Ex.: formar associação criminosa (art. 288) é em termos materiais um ato preparatório (as pessoas se unem para viabilizar um projeto de praticar os crimes – não precisam iniciar a execução dos crimes, bastando o fim especial de agir, isto é, associar-se 3 ou mais pessoas para cometer crimes), no entanto é tipificado no código penal (termos formais). Respondem, em concurso material, pelos crimes praticados e pela associação criminosa.
	Ex.: adquirir, possuir ou guardar máquina de fabricar moeda. O sujeito não precisa realizar a conduta de falsificar a moeda, o simples ato preparatório de ter os petrechos é um crime autônomo. Se o sujeito falsificar de fato (art. 289), há a consumação do crime de possuir os petrechos 	Recentemente, a Lei do Terrorismo (13.260/16) tipificou, em seu art. 5º, a realização de atos preparatórios ao terrorismo. 
	A partir do início da execução que se pode falar em tentativas. 
	Nos atos preparatório o sujeito sequer iniciou a execução, não havendo de se falar em tentativa. 		Exemplo: estudar o comportamento da vítima, preparação econômica, comprar objetos para realizar a conduta, alugar o local onde o crime será praticado, contratar pessoas a ajudar na empreitada delitiva, etc. 
3. Execução: marca o início da intervenção penal, dada a orientação da conduta delitiva à lesão ao bem jurídico. O sujeito pode ter sucesso, conseguir percorrer toda a fase de execução e não concluir o projeto de consumar o delito e lesar os bens jurídicos ou realizar parcialmente a execução por fatores alheios a sua vontade. Problema: identificar o início da lesão ao bem jurídico – valoração. 
	Quando os atos executórios não puderem ser fracionados, tem-se os atos unisubsistentes (ex.: calúnia, difamação, injuria), enquanto os que podem ser fracionados chamam-se plurisubsistentes (ex.: homicídio, roubo) 
	Início da execução (utiliza-se um pouco de cada teoria - relativização): 
		Teoria formal: quando o sujeito realiza o núcleo 
		Teoria material: quando o sujeito coloca em risco o bem jurídico, realizando o núcleo ou suas “circunvizinhanças” (proximidade do núcleo) 
		Teoria subjetiva: examina-se a pretensão do sujeito e o momento em que este considera que seja o início da execução (ex.: tirar a roupa na frente da vítima – início da execução do estupro) 		Teoria do início do perigo concreto: o começo da execução se dá quando o bem jurídico entra de fato em perigo 
Tentativa idônea (art. 14, II e § único): pressupõe o início da execução e dolo. Ocorrem em delitos plurisubsistentes, uma vez que nos unisubsistentes há a consumação junto com a execução. O sujeito não consuma por fatores exteriores e alheios a sua vontade. A punição da tentativa é a pena do crime consumado, diminuída de um a dois terços – natureza jurídica: causa geral de diminuição de pena. Elementos: 1) início da execução, 2) dolo (vontade), 3) não consumação por fatores alheios à vontade do agente. 
	Há delitos que não admitem tentativa: os delitos culposos, contravenções penais, omissivos próprios, delitos qualificados pelo resultado (preterdolosos – ex.: lesão corporal seguida de morte), delitos unisubsistentes, delitos habituais (ex.: art. 229 e 230), crimes omissivos próprios. 
		Crime omissivo impróprio: sendo doloso, admite tentativa (omissão da tentativa de impedir o resultado) 
	Classificação:
		Tentativa completa ou acabada: quando o sujeito realiza todo o processo de execução, mas o resultado não ocorreu (ex.: o sujeito disparou planejando matar a vítima, mas ela não morreu devido a uma intervenção médica). 
		Tentativa incompleta ou inacabada: quando o sujeito é interrompido no curso da execução por fator alheio a sua vontade. Tende a haver uma diminuição maior da pena, a depender do juiz.
		Tentativa branca: o sujeito não consegue atingir a vítima 
O delito tentado é norma de extensão – é cominado com o tipo tentado. A tentativa não é um delito autônomo, razão pela qual o termo correto, por exemplo, é “homicídio tentado”, e não “tentativa de homicídio”.
É uma causa geral de diminuição da pena. O juiz estipula na terceira fase de aplicação da pena. 
4. Consumação/Exaurimento: ocorre quando o sujeito consegue realizar com sucesso plenamente todos os elementos objetivos do tipo penal (consumação formal), inclusive o resultado, se não for um delito de mera conduta (delito de mera conduta = consumação acontece com a conduta). Se houver resultados além da descrição típica, haverá a consumação material (exaurimento).
	Crime permanente: quando a consumação se prolonga pelo tempo (ex.: sequestro).
Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15):
Causas pessoais de exclusão da punibilidade.
Quando o agente voluntariamente desiste da execução ou voluntariamente impede que o resultado se produza – o agente responderá somente pelos atos já realizados (não é tratada como tentativa). Se os atos realizados não se configuram como delito, não há punição ao sujeito. 
Difere-se da tentativa, pois nesta, o crime não se consuma por circunstâncias alheias a vontade do sujeito. Na desistência voluntária ou arrependimento eficaz, o sujeito inicialmente tem o dolo e propósito delitivo, que é iniciado na execução, no entanto, não se concretiza por vontade do sujeito. 
Na desistência voluntária, o sujeito desiste ao longo da execução (similar a tentativa inacabada) – não há consumação. 
No arrependimento eficaz o sujeito realiza todos os atos de execução e em seguida se arrepende, buscando e conseguindo evitar que o resultado se concretize (similar a tentativa acabada). O sujeito, de forma proativa, realiza atos opostos do que ele pretendia inicialmente, havendo sucesso – ex.: o sujeito, após tentar matar uma pessoa, leva a vítima ao hospital, impedindo que a vítima morra (responde pelo já cometido – lesão corporal).
O arrependimento ineficaz (sem sucesso), o sujeito irá responder pelo crime consumado, podendo haver uma atenuação da pena (art. 65, III, b) – 2ª fase de aplicação da pena. 
Não interfere se é espontâneo ou não, desde que seja voluntário (pode existir influências externas, desde que o sujeito ainda domine os cursos causais) – ex.: a vítima pediu e o sujeito ficou com pena (não se enquadra com fatores externos, como o caso da polícia chegar e o sujeito se amedrontar).
	Não é importante o motivo do arrependimento ou da desistência. 
Requisitos: 
	Desistência voluntária: voluntariedade e desistência dos atos executórios (não consuma) 
	Arrependimento eficaz: voluntariedade e impedimento eficaz da consumação 
	Obs.: em ambos há um requisito subjetivo (voluntariedade) e requisitos objetivos (não prosseguir na execução ou evitação eficaz da consumação).
São causas pessoais de isenção de pena – somente quem desistiu ou se arrependeu são isentos da pena. 
O mandante não tem a isenção da pena (ex.: o mandante de um assassinato, onde o sujeito desiste no curso da execução, responderá por tentativa de homicídio).
Natureza jurídica: há controvérsias. Parte da doutrina considera que não tenha ocorrido crime (causa de atipicidade – eliminaria o tipo subjetivo e o tipo objetivo: perde o dolo e o resultado) ou que não tenha apenas pena (causas pessoais de isenção ou exclusão de pena – ausência de punibilidade). 
	Questão político-criminais: estímulo ao sujeito não consumar o delito – salvar o bem jurídico. 
	Diferença prática: 
		No caso de entender que há atipicidade, não se pode punir os partícipes e coatores, pois não há crime. 
		No entendimento de que não há punibilidade devido a causa pessoal de exclusão da pena, os partícipes e coatores podem ser punidos, se não tiverem desistido voluntariamente ou se arrependido eficazmente (responde pelo crime tentado, pois não há consumação; o fator alheio que impediu a consumação foi a desistência do outro sujeito).Obs.: nos crimes contra terrorismo, há a criminalização de atos preparatórios – o art. 10 da lei permite a desistência ou arrependimento em atos preparatórios (via de regra é apenas quando inicia-se a preparação) – aplicação do art. 15 do CP ao art. 5º da lei do terrorismo. 
Arrependimento posterior (art. 16):
O legislador reconhece uma diminuição de pena. 
Natureza jurídica: causa geral de diminuição de pena (diminuída de 1/3 a 2/3) – 3ª fase de aplicação da pena.
É o arrependimento após a consumação.
Requisitos: 
	Não pode ser um crime que envolva violência ou grave ameaça.
	Deve haver reparação do dano ou restituição da coisa (ex.: furto, peculato, desvio de verbas, etc.). 
		A vítima não pode ser obrigada a aceitar. 
		Prioritariamente deve-se buscar a reparação integral e plena (o melhor para a vítima e para o bem jurídico). Quanto mais integral, maior será a diminuição da pena. 
		Em alguns casos, o legislador pode estabelecer extinção de pena. Ex.: em alguns crimes econômicos e tributários há o estabelecimento de cláusulas mais benéficas ainda ao sujeito em caso de arrependimento posterior.
	Marco temporal: o sujeito deve reparar o dano ou restituir a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa. 
	Requisito subjetivo: voluntariedade (não necessariamente espontaneidade) 
É mais benéfico que o arrependimento ineficaz (causa de diminuição é melhor que atenuação) 
Obs.: art. 65, III, b – arrependimento como circunstância atenuante genérica. 
Crime impossível ou tentativa inidônea (art. 17):
Há o início da execução, exteriorizando o sujeito a vontade de consumar, mas é impossível que alcance a consumação – espécie de tentativa (inidônea). 
Não existe nenhuma viabilidade no projeto. O sujeito não sabe, mas o projeto dele não tem nenhuma possibilidade de gerar riscos ao bem jurídico. 
No ordenamento brasileiro não há a punição para o crime impossível. Existem ordenamentos que o punem, pois adotam uma concepção mais subjetivista (crítica: visto como direito penal do autor).
	Isenção de pena (diferentemente da tentativa idônea, o legislador optou por não punir o crime impossível, seguindo uma concepção objetiva – o legislador brasileiro se afastou do direito penal do autor e se aproximou do direito penal do fato).
Há dolo. 
Razões pela total impossibilidade da consumação: 
	Objeto absolutamente impróprio. Não há o bem jurídico que o sujeito visa lesar (seja o objeto material em delitos materiais ou o bem jurídico em delitos de mera conduta). 
		Ex.: atirar querendo matar alguém, no entanto a pessoa já estava morta (não pode responder também por vilipêndio, pois não havia dolo de vilipendiar o cadáver). 
		Ex. 2: tentar praticar o aborto, mas não havia gravidez. 
		Paralelo (apenas para entender): seria uma espécie de erro de tipo ao inverso (há dolo mas não há o tipo objetivo). 
		Se houver relativa impropriedade do objeto, trata-se de tentativa idônea e não crime impossível. 
	Absoluta ineficácia do meio. O meio utilizado é absolutamente ineficaz (totalmente falho) – teoria objetiva (não há riscos ao bem jurídico objetivamente).
		Ex.: o sujeito queria matar alguém, mas ao invés de veneno, coloca fermento em pó. 
		Obs.: se for parcialmente eficaz (ex.: colocar pouco veneno), haverá a tentativa idônea e não crime impossível. 
OBS. Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. 
	É uma hipótese de em que a vítima se prepara para a violação de bens jurídicos. Esse fato, para o entendimento do STJ, não afasta a possibilidade de consumação, então, mesmo havendo monitoramento ou seguranças, não há de se falar de crime impossível (dificulta o alcance da consumação, no entanto ainda é viável e pode acontecer). 
	Para alguns autores, se o sujeito é monitorado e controlado desde o início da execução, não haverá a possibilidade da consumação, havendo então crime impossível. 
OBS. Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. 
	Não há crime quando há preparação de flagrante, isto é, ficção/teatro/manipulação/ensaio por parte dos agentes que combatem a figura delitiva. 
	É quando a polícia cria a conduta e constitui o próprio cenário delitivo para o sujeito realizar a conduta (flagrante preparado) – não há crime. 
		Não se trata de uma verdadeira vítima e um verdadeiro bem jurídico atingido – haverá impossibilidade total de se alcançar a consumação. 
	Ex.: quando a polícia se passa por um consumidor de drogas para comprovar que o sujeito é um traficante (obs.: no caso do tráfico, há dezenas de núcleos, então apenas o porte da droga já é suficiente para consumar o delito). 
	Obs.: no caso de crimes praticados por organização criminosas, a Lei 12.850/13 permite a ação controlada (arts. 8 e 9) e a infiltração de agentes (arts. 10-14) – disposições políticos criminais para o combate do crime organizado.
CONCURSO DE DELITOS
Arts. 69-75.
É diferente do concurso aparente de normas e leis penais (este não é regulado pelo CP – quando a conduta aparentemente é abrangida por dois ou mais tipos penais, no entanto, através dos princípios da especialidade, subsidiariedade e consunção, nota-se que a conduta na realidade se enquadra em apenas um crime).
A doutrina costuma trabalhar esse tema na teoria do delito, mesmo que o CP o coloca dentro da aplicação da sanção penal (teoria da pena).
O concurso de delitos é quando o sujeito pratica uma ou mais ações, resultando em dois ou mais crimes.
	CONCURSO FORMAL (IDEAL) – art. 70;
	CONCURSO MATERIAL (REAL) – art. 69;
	CRIME CONTINUADO (CONTINUIDADE DELITIVA) – art. 71.
Sistemas das penas: 
	Cúmulo material/aritmético: soma das penas. 
	Exasperação: aumento na pena mais grave.
Concurso material (art. 69):
Requisitos: 
	Mais de uma ação ou omissão.
	A prática de dois ou mais crimes (mesmo contexto, conexão ou continência).
Consequência: 
	A somatória das penas (cúmulo material).
Concurso material homogêneo: crimes idênticos (ex: matar duas pessoas) – espécies iguais.
Concurso material heterogêneo: crimes diferentes (ex: atropelar um pedestre e se omitir de prestar socorro) – espécies diferentes.
Independência fática e jurídica entre os crimes.
Concurso formal/ideal (art. 70):
Requisitos: 
	Uma só ação ou omissão.
	Prática de dois ou mais crimes.
Concurso formal homogêneo: quando os delitos forem idênticos (ex.: o sujeito dirige de maneira descuidada e atinge duas pessoas, lesionando a integridade física de ambas).
Concurso formal heterogêneo: quando os delitos forem diferentes (ex.: o sujeito dirige de maneira descuidada e atinge duas pessoas, matando uma e lesionando outra).
O sujeito reponde por ambos os delitos a título de dolo e/ou culpa.
Espécies:
	Concurso formal próprio/perfeito (1ª parte): uma só conduta pratica dois ou mais delitos culposos ou um delito doloso e outro culposo por erro na execução uma só pena (a mais grave) com causa de aumento de 1/6 até ½. Proporcionalidade entre o número de crimes praticados e a causa de aumento de pena. 
	Concurso formal impróprio (2ª parte): uma só conduta pratica dois ou mais crimes dolosos. O autor tem desígnios autônomos (vontade de cometer cada um dos delitos) as penas são somadas (como no concurso material = cúmulo material)
		Ex.: o sujeito coloca veneno em uma sopa sabendo que ela será servida para 2 ou mais pessoas.
		Ex.: estuprar com a intenção de transmitir uma doença. Há uma ação e dois delitos, havendo dolo em todos. Deve-se somar as penas (cúmulo material).
Cúmulo/concurso material benéfico (art. 70, parágrafo único):
O legislador optou por tratar de forma mais benéfica ao sujeito o concurso formal perfeito em relação ao imperfeito, pois naquele não há dolo em todas os delitos. Dessa forma, se quando do cálculo da pena o sistema da cumulação material for mais benéfico ao sujeito do que o sistema da exasperação, deverá ser utilizado o sistema do cúmulo material.
Ex: homicídio dolosoe lesão culposa em concurso formal = 6 anos + 1/6 = 7 anos.
 Mas, se for feito o cúmulo material teremos: 6 anos + 2 meses = 6 anos e 2 meses.
Crime continuado (art. 71):
Requisitos:
	Mais de uma ação ou omissão.
	Pratica dois ou mais crimes, da mesma espécie.
	Condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes.
Consequência:
	Uma só pena (a mais grave) com causa de aumento de 1/6 até 2/3.
Espécies:
	Crime continuado comum (caput): quando o sujeito pratica duas ou mais ações/omissões e dois ou mais crimes. Tem como requisitos objetivos: 1) os crimes devem ser da mesma espécie (que atacam o mesmo bem jurídico); 2) pluralidade de condutas; 3) semelhança nas circunstâncias de tempo, lugar, maneira de execução ou outras. Difere-se do concurso material, pois o sujeito responderá como se tivesse realizado apenas um único crime (ficção jurídica – teoria objetiva), respondendo pela pena do crime mais grave ou se idênticas, de qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 a 2/3 (causa geral de aumento de pena).
		Ex.: o sujeito realiza vários furtos de bicicletas em uma mesma região na mesma noite.
		Ex.: um chefe de cozinha quer furtar um jogo de 50 facas e furta uma por dia (2 ou mais ações e um resultado/crime).
	Crime continuado específico (parágrafo único): nesse caso, a pena será aplicada até o triplo, não dispondo o mínimo do aumento (por analogia, entende-se que o mínimo é 1/6). Além dos requisitos previstos no caput do artigo, há mais 3 requisitos: 1) os crimes devem ser dolosos; 2) praticados contra vítimas diferentes; 3) praticados mediante violência ou grave ameaça a pessoa. Não pode ficar mais oneroso ao sujeito que o cúmulo material (deve aplicar o mais benéfico ao sujeito), e também deve-se observar o limite de 30 anos de aplicação da pena.
		Ex.: o sujeito realiza vários homicídios dolosos em circunstâncias semelhantes.
		É muito aplicado em crimes em séries – deve haver uma proximidade temporal, o que é discutido pela doutrina. Deve ser em local similar, como bairros próximos, etc. Deve haver similaridade no modo de operação (ex.: o sujeito conheceu todas a vítimas na internet).
Multa (art. 72):
São somadas.
CONCURSO DE PESSOAS
Art. 29: quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§1º: participação de menor importância causa geral de diminuição de pena: 1/6 a 1/3.
§2º: desvio do liame subjetivo não cumpre o delito combinado; responde apenas pelo projetado; mas se era previsível que o crime mais grave acontecesse, responderá pelo projetado (menos grave) com pena aumentada (causa geral de aumento de pena até ½ .
Para ser concurso de pessoas, deve ser um delito unissubjetivo (uma pessoa é suficiente para agir). Não pode ser plurissubjetivo (ex: artigo 288 associação criminosa). 
Para quem entende que o arrependimento/desistência exclui a tipicidade, não há como punir os outros agentes. Se entender que é isenção de pena, apenas aquele sujeito não é punido. 
Não pode haver coautoria em delitos omissivos/culposos, mas pode haver participação.
	Pode haver contribuição dolosa ex: “A” bebeu e está em dúvida se dirige ou pede um uber; o amigo “B” incentiva “A” a dirigir. “B” induziu, então é partícipe (não é coautor). A conduta principal deverá ser tipificada.
Teorias:
	Unitária: quando cada agente realiza parte de um tipo penal, praticando eles condutas diversas entre si e havendo apenas um resultado. Haverá somente um delito em princípio, todos respondem pelo mesmo tipo penal (na medida da culpabilidade). Teoria adotada pelo CP brasileiro.
	Dualista: cada sujeito responde pelo domínio do fato. Uma infração penal para os autores e outra infração penal para os partícipes.
Requisitos:
Pluralidade de agentes e condutas.
Relevância causal de cada conduta (faz algo que seja relevante para cometer o crime).
Liame subjetivo entre os agentes (combinado, acordado em cometer o crime).
Identidade de infração penal (devem querer realizar o mesmo crime).
Teoria do domínio do fato:
A culpabilidade do partícipe é sempre menor do que a do coautor, pois ele não tem domínio do fato; apenas ajuda/colabora.
Coautor: possui o domínio do fato (maior culpabilidade); gerencia o desenrolar da conduta delitiva, controla os rumos.
≠ associação criminosa o concurso de pessoas não tem uma estabilidade no tempo; quando tem o concurso, ao menos algum ato/preparação para a conduta já se iniciou.
Todo coautor é autor; nem todo autor é coautor.
Autoria colateral: dois autores que não sabiam um do outro, mas os dois querem realizar a mesma conduta.
	Se souber quem realizou o disparo fatal, este responderá por homicídio e o outro por homicídio tentado.
	Difere-se da coautoria, pois nesta independeria saber quem realizou o disparo fatal, respondendo todos pelo crime de homicídio consumado em concurso de pessoas
Partícipe:
Só ajudou/instigou. 
Não possui o domínio do fato, mas contribui para que o crime aconteça (realiza ações não contidas no tipo penal).
Colaboração dolosa em delito doloso alheio não existe colaboração culposa em delito doloso, bem como não é possível colaborar dolosamente para uma conduta culposa.
A colaboração culposa não configura participação.
Elementos: objetivo colaboração efetiva; subjetivo dolo.
Art. 31: limites da punibilidade da participação exige-se ao menos o início da execução do crime pelo autor. Não vai ser punido se o crime não tiver ao menos se iniciado. A participação tem caráter acessório, está na dependência do ator pelo menos iniciar a execução.
Acessoriedade da participação:
	Acessoriedade mínima: o autor precisa iniciar uma conduta típica.
	Acessoriedade limitada: preferida pela doutrina; o autor precisa iniciar uma conduta típica e ilícita.
	Acessoriedade máxima: o autor precisa iniciar uma conduta típica, ilícita e culpável.
	Hiperacessoriedade: o autor precisa iniciar uma conduta típica, ilícita, culpável e punível.
Espécies de participação:
	Induzimento/indução: fazer surgir na mente do autor a ideia da conduta delitiva.
	Instigação/determinação: reforçar/incitar um propósito delitivo que já está na mente do autor.
	Auxílio/cumplicidade: material fornece os meios necessários para a conduta delitiva; moral instruções/conselhos para realização da conduta delitiva.
A consumação encerra o caminho do crime para todos (autor/partícipe). Atos de colaboração após a consumação não podem ser criminalizados, desde que não configurem crimes autônomos. Ex: art. 348 (favorecimento pessoal = apoiar um fugitivo) e 349 (favorecimento real = ajuda a manter seguro o proveito do crime).
O legislador pode punir casos onde não há tipicidade na ação do autor (não preenche sequer a teoria mínima). Assim, se o legislador quiser criminalizar antes mesmo da tentativa, deve criar formas autônomas de crimes que, em termos materiais seriam meras participações, no entanto, passam a ser crimes autônomos e o sujeito deixa de ser partícipe e passa a ser autor. Exemplos: arts. 122, 227, 228.
Art. 30: circunstâncias incomunicáveis são elementos/dados/condições que não se comunicam ou se transferem entre os agentes do crime (de um coautor para outro, de um partícipe para o outro, de um autor para um partícipe). São circunstâncias pessoais e subjetivas, portanto, são próprias e intransferíveis. 
	Não se transferem tanto para agravar tanto para atenuar a pena 
	São incomunicáveis, pois geralmente dizem respeito a culpabilidade 	
	Obs.: as circunstâncias objetivas são comunicáveis e podem ser transferidas entre os envolvidos no crime, pois dizem respeito a gravidade do ilícito – ex.: se um dos autores realize uma ameaça durante um roubo, todos os demais participantes respondem, a princípio, pela ameaça e pelo roubo (exceto se não for previamente combinado – responde pelo crime que pretendia realizar) 	Exceção: situação pessoal elementar do crime. Ex: arts. 123 e 312
Autoria:
O dono do crime.
Possui o domínio do fato.
Concepções:
	Conceito restritivo: somente quem pratica a conduta do núcleo do tipo. O outro que colabora é partícipe.Teoria do domínio do fato para ajudar na diferenciação tinha base finalista, mas o funcionalismo de Roxin a resgata.
		Crimes comuns: qualquer pessoa pode praticar;
		Crimes especiais: crimes praticados por sujeitos especiais. Pode haver coautoria.
		Crimes de mão-própria: crimes pessoais que não podem ser divididos em coautores (ex: prestar falso testemunho). Cabe participação acessória, mas não coautoria (ex: o advogado induz o sujeito a dar falso testemunho, mas quem de fato pratica o crime é o sujeito).
	Conceito extensivo: não tem distinção entre autor e partícipe. Todos os colaboram podem ser considerados autores. Alinha-se com a teoria da equivalência das condições (Art. 13, caput).
		Art. 29, primeira parte conceito extensivo; art. 29, segunda parte tem algumas objeções, pois nem sempre a culpabilidade do partícipe será menor que a do autor.
	Conceito subjetivo: o autor é quem considera o crime como obra dele próprio = age com animus de autor. O partícipe age com animus de partícipe.
Classificação:
	Autor direto/imediato: realiza o núcleo do tipo. Tem o domínio da conduta quando realiza sozinho ou domínio funcional quando em coautoria.
	Autor indireto/mediato: realiza o núcleo do tipo, mas está sob controle de outro. Tem o domínio da vontade pelo autor indireto. Se vale de outra pessoa para fazer. Pode-se falar em coautoria, pois, mesmo o autor indireto não realizando o núcleo diretamente, instrumentaliza e domina quem o realiza.
		Exemplos: coação moral, obediência hierárquica, emprego de inimputável e aproveitamento de erro de terceiro.
TEORIA DA PENA
Artigos 32 ao 120, além da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal). 
Fases de aplicação da pena (art. 68) – teoria trifásica: 
	1ª fase: pena base. São as circunstancias judiciais (art. 59, caput) consideradas pelo juiz, como antecedentes (ex.: homicídio pode ser de 6 a 20 anos). O juiz deve fazer a escolha, dentre as possíveis para o caso, de qual pena aplicar (art. 59, I).
	2ª fase: verificar a existência de atenuantes ou agravantes (art. 61-66).
	3ª fase: verificar as causas de aumento ou diminuição da pena. Ex.: tentativa.
Espécies de penas: o Código Penal (art. 32) estabelece as PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE, RESTRITIVAS DE DIREITOS E DE MULTA. Além dessas, há outras em leis especiais, como a suspensão ou proibição de obter a habilitação, previstas no Código de Trânsito Brasileiro (art. 292, Lei 9.503/97), ou a prisão simples na Lei de Contravenções Penais (art. 5º, Decreto-Lei 3.688/41).
	Na parte especial do CP brasileiro, o legislador não indica as penas restritivas de direito, isto porque possuem caráter substitutivo (substituem as penas privativas de liberdade – art. 44). A possibilidade de substituição está disposta na última parte do art. 59, que trata acerca dos critérios de fixação da pena.
		Quando fora do CP, em alguns casos, há a aplicação direta de penas restritivas de direitos, sem caráter substitutivo (ex.: art. 28 da lei de drogas).
	Parte especial: há a cominação de penas privativas de liberdade e de multa.
Sanções penais:
	PRIVATIVAS DE LIBERDADE
	RESTRITIVAS DE DIREITOS
	MULTA
Penas privativas de liberdade:s
Espécies:
	Reclusão (crimes); 
	Detenção (crimes);
	Prisão simples (contravenções penais): uma espécie de prisão que não poderia ser feita em uma prisão de segurança máxima/penitenciária. Na prática, ocorre a transação penal e a pena não é cumprida.
Limites mínimo e máxima estabelecidos/previstos/cominados no preceito secundário de cada tipo penal da parte especial (art. 53) – princípio da legalidade.
	Previsão abstrata.
A reclusão e a detenção são as penas privativas de liberdade dispostas no Código Penal. Em termos formais, a diferença pode repercutir com alguns efeitos, embora na prática haja pouca diferença.
	O regime inicial de cumprimento de pena da RECLUSÃO pode ser fechado, semiaberto ou aberto (art. 33). Já na DETENÇÃO, os regimes de cumprimento de pena são semiaberto ou aberto, salvo expressa necessidade em cumprimento em regime fechado (excepcionalmente). 
	Exemplos de efeitos: aplica-se primeiro reclusão e depois detenção (art. 69); se for aplicado ao inimputável uma medida de segurança e o crime era punido com reclusão, ele deve ser internado, se for punido com detenção, pode haver tratamento ambulatorial (art. 97, caput); crime contra tutelado ou curatelado só torna o sujeito incapaz para o poder familiar se for sujeito a pena de reclusão (art. 92, II).
		Obs.: os arts. 248 e 249 tratam de crimes contra o tutelado ou curatelado no poder familiar, porém, punem com detenção, portanto, não poderia aplicar o art. 92, II.
	O estabelecimento onde o sujeito cumpriria a pena de detenção ou reclusão é o mesmo. Podem ser no regime fechado, semi-aberto ou aberto – art. 33. 
		Regime fechado (art. 34 – pouca aplicação prática): cumprido em estabelecimento penitenciário de segurança máxima.
		Regime semi-aberto (art. 35): cumprido em colônia agrícola industrial ou similar. Se não houver o estabelecimento adequado, cabe ao juiz deixar o sujeito no regime aberto (mais benéfico) ou, se considerar necessário, no fechado (regime mais rigoroso).
		Regime aberto (art. 36): a lei dispõe que se cumpre em casa de albergado, no entanto, na prática o sujeito cumpre na sua própria casa. O art. 36, §2º dispõe situações que o sujeito é transferido a regimes mais rigorosos (ressalva: não mais o sujeito pode ser transferido com o não pagamento da multa).
O art. 33, § 2º destaca que a pena será cumprida de forma progressiva (sistema de cumprimento = sistema progressivo). Assim, mesmo que o sujeito inicie a pena no regime fechado, ele pode progredir para o regime semi-aberto ou aberto. O Juiz determina o regime inicial na sentença, mas o sistema é progressivo, e preenchido alguns requisitos, o sujeito pode alcançar regimes mais benéficos. Deve-se atender ao art. 59.
	Quem for condenado a crime de administração pública (ex.: peculato), deve reparar o dano e restituir os cofres públicos com correção monetária para poder progredir o regime (art. 33, §4º).
	O art. 112 da Lei de Execução penal dispõe que a progressão de regime depende do cumprimento de 1/6 da pena no regime estabelecido (requisito objetivo), além do bom comportamento carcerário (requisito subjetivo). 
	Para crimes hediondos, há condições mais específicas para a progressão de regime: se não reincidente, deve cumprir 2/5 para progredir; se reincidente em crime hediondo, deve cumprir 3/5 para progredir. O regime inicial não precisa ser necessariamente fechado em crimes hediondos, desde que preenchido os requisitos (o STF declarou considerou inconstitucional que para crimes hediondos o regime inicial deve ser necessariamente fechado, bem como declarou inconstitucional a proibição de progressão de regime para crime hediondo). Lei 8.072/90 (Lei de crimes hediondos), art. 2º, §2º.
O art. 37 dispõe um regime especial para mulheres, em estabelecimentos diferentes – problema na aplicação prática.
Trabalho prisional: o sujeito que cumpre pena privativa de liberdade, em especial regime fechado e semiaberto, tem o direito e dever de trabalho prisional. O CP traz no art. 39 que o trabalho prisional será remunerado e terá os benefícios da Previdência Social (obs.: trabalhos em prol da sociedade não são remunerados – essência da pena restritiva de direitos). A Lei de Execução Penal trata acerca do trabalho prisional (arts. 28 a 37). Em razão dos dias trabalhados ou dedicados ao estudo formal (o estudo foi inserido em 2011), há a possibilidade de remição (art. 126 da LEP).
Superveniência de doença mental (art. 41): caso o condenado seja cometido de doença mental, a pena privativa de liberdade será convertida em medida de segurança, sendo o sujeito direcionado ao hospital de custódia e tratamento, onde receberá medida de segurança e tratamento.
	O sujeito, se não fizer jus à progressão, deve cumprir o tempo restante no hospital de custódia e tratamento.
	Quando não há vaga no hospital de custódia, o sujeito continua cumprindo sua pena.
Detração (art. 42): é abatido no tempo da penaprivativa de liberdade o tempo em que o sujeito ficou preso (ex.: prisão administrativa, cautelar, processual, preventiva, medida de segurança preventiva, etc.) durante as diligências de investigação (ex.: inquérito, processo, etc.). 
	Em razão da detração, o tempo de prisão anterior a condenação não pode ser superior ao tempo da condenação. Se o sujeito for, ao final do processo, absolvido, não necessariamente tem direito a indenização contra o Estado, excepcionalmente quando há abuso de autoridade, erro judicial, etc.
Regime disciplinar diferenciado (R.D.D.): é uma sanção disciplinar/punição administrativa. Presente na LEP (art. 53, V e art. 52 da LEP). Há a limitação dos direitos do preso (para parte da doutrina, há inconstitucionalidade material). Para o preso ser transferido para o RDD, o diretor do sistema penitenciário deve requerer ao juiz, que analisará e ouvirá o MP (art. 54 da LEP). Ocorre quando:
	O sujeito comete um crime doloso que repercute na ordem do sistema carcerário (ex.: agressão a outro preso); 
	O preso representa risco para o sistema prisional ou a sociedade. 
	Participação ou suspeita de participação em organização criminosa.
Penas restritivas de direitos:
Para os autores de infrações penais consideradas mais leves, são previstas em lei algumas penas alternativas às privativas de liberdade, com o objetivo de evitar o encarceramento de tais criminosos.
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, a denominação penas “restritivas de direito” não foi a mais correta na aplicação destas modalidades. Bitencourt explica que de todas as penas restritivas de direitos, apenas a prestação de serviços à comunidade e limitação de fim de semana referem-se especificamente à restrição de direitos, pois a prestação pecuniária e a perda de bens e valores são de natureza pecuniária.
Quanto a natureza jurídica destas penas, Guilherme de Souza Nucci define como sanções penais autônomas e substitutivas, uma vez que derivam da permuta que se faz com a pena privativa de liberdade, na sentença condenatória, após a aplicação da pena.
Dessa forma não há tipos penais que preveem como sanção a pena restritiva de direito. Por isso cabe ao juiz substituir, quando cabível, a pena privativa de liberdade por uma restritiva, pelo mesmo prazo da primeira.
A possibilidade de substituir a pena privativa de liberdade está estabelecida no artigo 59, IV, do Código Penal.
André Estefam esclarece que algumas penas restritivas de direito são genéricas, pois podem ser aplicadas em todas as espécies de infração penal, observando-se as limitações legais, como pena não superior a quatro anos e crime cometido sem violência ou grave ameaça. Há também penas restritivas que são específicas, uma vez que só são cabíveis quando a condenação for sobre crimes que possuem características especiais. Exemplifico: a proibição para o exercício de cargo, função ou atividade pública pressupõe que o crime cometido tenha sido com relação ao exercício das atividades profissionais.
Estefam aborda como três principais características das penas restritivas de direito as seguintes: autonomia, pois “não se trata de pena acessória, que possa ser cumulada com a pena privativa de liberdade”; substitutividade, pois, ao contrário das penas privativas de liberdade e da multa, não podem ser aplicadas diretamente pelo juiz, tendo em vista que primeiro ele deverá aplicar a pena privativa de liberdade e, após, substituí-la por pena restritiva de direitos, se couber a substituição; precariedade, visto que estas penas podem sem reconvertidas em privativa de liberdade no juízo das execuções caso não seja cumprida corretamente.
Espécies:
O artigo 43 do Código Penal elenca um rol de penas restritivas de direitos, conforme descrevo a seguir:
	PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA:
É o pagamento de 1 a 360 salários mínimos à vítima ou seus dependentes ou, na falta, a entidade social. Esse pagamento deve levar em consideração qual foi o prejuízo causado pelo crime. 
Frisa-se que não se confunde com pena de multa, visto que os beneficiários são diversos. Além disso, a multa não é considerada pena restritiva de direitos.
Por outro lado, o pagamento feito na esfera criminal vale como adiantamento de indenização civil, razão pela qual chega a ser um instituto misto, de natureza penal-civil. Aqui temos uma outra diferença com a pena de multa, sendo que esta última não tem o valor descontado de futura indenização.
Há a possibilidade ofertada pela lei em que o juiz da execução penal substitua a pena de prestação pecuniária por prestação de outra natureza, como serviços prestados pelo condenado, desde que haja concordância do beneficiário.
A Lei Maria da Penha proíbe a aplicação de pena de prestação pecuniária ou de outra natureza (ex: cesta básica) à pessoa condenada por crime envolvendo violência doméstica ou familiar contra mulher.
	PERDA DE BENS E VALORES:
É a pena aplicável aos crimes que possuam réus com poder aquisitivo, pois o juiz importará a perda de bens ou valores lícitos, em lugar de cumprir a pena privativa de liberdade.
Será considerado o maior teto: ou o montante do prejuízo causado, ou o lucro obtido pelo agente em razão da prática do crime.
O juiz deverá estabelecer os valores na sentença condenatória. Se assim não fizer, caberá ao juiz de execução.
	PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE:
Obriga o condenado a servir a comunidade, por intermédio de entidades assistenciais ou programas estatais. Cada dia de condenação equivalerá a uma hora-tarefa. 
O juiz somente poderá conceder essa pena alternativa para prisões superiores a seis meses.
	INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS:
Proibição de exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo.
Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público.
Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.
Proibição de frequentar determinados lugares.
Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames públicos.
	LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA:
O condenado deverá recolher-se em Casa do Albergado, ou local específico, durante cinco horas no sábado e cinco horas no domingo, a fim de participar de cursos e palestras educativas.
Requisitos para substituição:
Os requisitos para substituição estão dispostos no artigo 44 do Código Penal.
André Estefam divide os requisitos em objetivos e subjetivos. Os que se referem à modalidade do crime são considerados objetivos. Os subjetivos são aqueles que se referem a primariedade do autor, conduta, personalidade etc.
a) Pena aplicada não superior a quatro anos, para crimes dolosos, e qualquer montante, para crimes culposos.
b) Crime cometido sem violência ou grave ameaça contra a pessoa.
c) Não ser reincidente em crime doloso.
Frisa-se que, quando for reincidência em crime culposo ou contravenção penal, o artigo 44, §3º do Código Penal admite a substituição para reincidentes se dois requisitos se fizerem presentes: primeiramente, a medida deverá ser recomendável no caso concreto em face da condenação anterior; ainda, a reincidência não poderá ser em virtude da prática do mesmo delito.
Vale ressaltar que não caberá a substituição em crimes dolosos mesmo se a condenação anterior tenha sido exclusivamente a pena de multa.
d) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
Vale a atenção para casos específicos, como o tráfico de drogas e a impossibilidade de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, mesmo que a pena for diminuída e alcançar sentença inferior a quatro anos. Essa proibição está prevista no art. 44, caput, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas). Porém, o STF entendeu que a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos é viável nos crimes de tráfico, desde que presentes os requisitos legais.
Sobre os crimes hediondos, em tese, não é possível a referida substituição. Entretanto, se a pena da sentença for inferiorao limite de quatro anos e não houver emprego de violência e ameaça (ex: crime tentado de estupro de vulnerável – consentimento da mulher de 13 anos para a realização do ato, sendo que tal consentimento não tem validade), bem como obedecer aos demais requisitos legais, os tribunais superiores entendem a possibilidade da substituição.
Ademais, observa-se que os crimes de menor potencial ofensivo (pena máxima de dois anos), mesmo que cometidas com violência ou grave ameaça, admitem a substituição, desde que presentes os demais requisitos legais. Isso porque o autor da infração poderá, antes mesmo da condenação, obter pena restritiva de direito ou multa em audiência preliminar.
Por fim, quanto aos crimes de violência imprópria (aqueles em que o agente não emprega violência física ou grave ameaça, mas de alguma forma reduz a vítima à impossibilidade de resistência), há quem entenda que somente a violência rela exclui a possibilidade da substituição de penas. Já Nucci entende que essa é uma violência presumida e por isso é igualmente impeditiva a concessão de penas alternativas.
Regras para a substituição e reconversão:
A pena fixada em período igual ou inferior a um ano pode ser substituída por multa ou por uma pena restritiva de direitos. Entretanto, se a pena for inferior a seis meses, não poderá aplicar a pena de prestação de serviços à comunidade.
Para reconversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, através de decisão judicial, será necessário o descumprimento injustificado da medida imposta, falta grave do sentenciado ou condenação superveniente a pena privativa de liberdade por outro crime, sendo conferida a impossibilidade do cumprimento da pena restritiva imposta anteriormente.
Com a reconversão, será descontado o tempo já cumprido de pena restritiva de direitos, sendo necessário cumprir ao menos trinta dias de pena privativa, mesmo que o tempo remanescente seja inferior a isso.
Pena de multa:
Tipos:
	Cumulativa: pena privativa de liberdade + penal de multa.
	Alterativa: pena privativa de liberdade ou pena de multa.
	Retributiva.
	Isolada.
A multa também pode ter um caráter substitutivo, podendo ser substituta da pena privativa de liberdade aplicada se for igual ou inferior a um ano. Se for igual ou inferior a quatro anos, o juiz pode aplicar duas penas restritivas ou uma restritiva e multa. 
Art. 49: o juiz deve decidir a quantidade de dias-multas a serem aplicados (mínimo 10 e máximo 360). Primeiro, o juiz deve escolher quantos dias, em seguida o valor de cada dia-multa, com base no poder financeiro do réu. Não tem caráter de indenização (não vai para a vítima), sendo o valor pago ao Estado.

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