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FAMÍLIAS%20E%20POLÍTICAS%20PÚBLICAS.Maiely

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FAMÍLIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
A construção de uma identidade social
Maiely Saldanha Ferreira
Resumo
O presente artigo tem por objetivo destacar a categoria familiar na discussão das políticas públicas no contexto das mudanças ocorridas na sociedade capitalista. Entender a família como um processo social em construção e mudança, destacando a construção dos papéis sociais de “pai” e “mãe” em família. Esta categoria permite ainda uma identificação social que corresponde, também, a formas de opressão e limites aos sujeitos em suas escolhas e liberdade. A família é reconhecida como um dos mais antigos provedores de cuidados (bem-estar) e, assim, tem sido valorizada mundialmente no âmbito da sua importância no contexto da vida social.
Palavras-chave: Política Pública, família, sociedade, identidades sociais.
Abstract
The present article aims to highlight the family category in the discussion of public policies in the context of changes in capitalist society. To understand the family as a social process in construction and change, highlighting the construction of the social roles of "father" and "mother" in family. This category also allows a social identification that also corresponds to forms of oppression and limits to the subjects in their choices and freedom. The family is recognized as one of the oldest care providers (well-being) and thus has been valued worldwide in the context of its importance in the context of social life.
Key words: Public policy, Family, society, social identities.
1 INTRODUÇÃO
Para iniciar é importante fazer uma leitura histórica da família, pois este é o núcleo fundamental para a construção e a recuperação da família como lugar de  busca  de condições  materiais de vida, de pertencimento  na sociedade e  de  construção  de  identidade. Assim, não se pode falar de família, mas de famílias, para que se possa
tentar contemplar a diversidade de relações que convivem na sociedade.
A família é a unidade básica da sociedade, formada por indivíduos com ancestrais em comum e/ou ligados por laços afetivos e constituída por figuras essenciais para o desenvolvimento sadio e integral das crianças: na maior parte dos casos a figura paterna e a figura materna, uma vez que estes se tornam indispensáveis para a compreensão da formação da identidade social. A família, como instituição, corresponde a essa estruturação social, afetiva e econômica do sujeito, já que é a partir dela que o mesmo se constrói nas relações. O grupo familiar, dessa forma, apresenta-se na maiorias das vezes como sendo o primeiro em que o indivíduo irá iniciar a vida social e afetiva. Contudo, a família será a primeira instância que lhe transmitirá valores e ensinamentos sobre questões de papéis, formação pessoal, moralidade e conceitos de mundo, ensinado as maneiras de se portar diante das dificuldades entre outras situações, que depositará a família como referência para indivíduos em sua formação. 
Nos últimos anos, várias mudanças ocorridas no plano
socioeconômico, pautadas no processo de globalização da economia capitalista, vêm
interferindo na dinâmica e estrutura familiar, trazendo alterações em seu padrão tradicional
de organização, até se formarem novos valores, chegando a uma transformação social mais radical, que se refere ao modo de vida capitalista.
2 FAMÍLIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
Historicamente, a família tem sido definida a partir de suas funções. No Brasil colonial, autores como Freyre e Duarte, permitem-nos concluir que a família exerce funções políticas, econômicas e de representação social, além da reprodução biológica e cultural até hoje a ela associadas.
A teoria social tem, portanto, localizado na família o centro do processo de reprodução social e, portanto, um lugar decisivo para intervir em realidades sociais indesejáveis, como a pobreza e o baixo capital humano. O foco tem sido, sobretudo, a reflexão sobre os destinos das gerações futuras, pensando a organização e os recursos familiares em suas consequências para a socialização dos filhos.
Retornando a história identificamos que a Revolução Industrial, foi um evento de grande importância, pois, foi a partir desde marco histórico que as transformações se tornaram mais evidente no que se refere ao conceito família.
 
A família possuía uma composição que configurou um padrão de “Família Nuclear
Burguesa”, em que toda e qualquer família, considerada “normal” tivesse um homem, uma
mulher e filhos, com os papéis definidos. No imaginário social, a família seria um grupo de
indivíduos ligados por laços de sangue que habitavam a mesma casa.
Após a Revolução Industrial, essa visão foi se modificando. A agricultura não era
mais o ponto fundamental da economia, muitas famílias deixaram os campos agrícolas para
viverem nos centros urbanos industriais. O salário oferecido pelas indústrias já não era mais
o suficiente para o sustento da família, as mulheres também foram trabalhar, até mesmos as
crianças, iniciando assim, a exploração da mão-de-obra feminina e infantil. Essas são as
transformações que configuram a emergência da sociedade urbana industrial.
Nesse breve contexto, pode-se começar a compreender as transformações sociais e
familiares que se expressam nos dias atuais. As mudanças ocorreram de forma gradativa.
O processo de modernização e os novos padrões familiares trazem novos desafios, As  famílias tornam- se  mais heterogêneas  e as  novas formas  levaram a mudanças conceituais e jurídica. Portanto, é imprescindível que ao se considerar a centralidade das famílias como fator de proteção social atente-se para seu caráter participante nos processos das mudanças, bem como às suas transformações internas. 
É ainda significativo o número de famílias monoparentais, termo utilizado para
denominar como responsáveis, o pai e ou a mãe. Esta constituição de família pode ser
denominada de “recompostas” a partir do momento em que o responsável pela família
venha a se casar ou viver um concubinato (art. 1727- Código Civil Brasileiro).
Outra mudança importante que favorece as segundas uniões é a situação de viuvez
quando decidem ter uma nova relação conjugal, seja para ser correspondido afetivamente
ou para ter o apoio do outro na manutenção do lar. Fato esse que há alguns anos não
acontecia principalmente entre as mulheres, que após se tornarem viúvas, guardavam o
chamado luto permanente e que a sociedade logo as identificava pelas vestimentas e
trajes escuros.
As rupturas e a finalização de casamentos ou uniões estáveis, também são
resultantes da situação econômica da família. O homem era considerado como o
mantenedor e provedor, mas com as alterações no mundo do trabalho, com o número de
desempregados, a falta de emprego, a mulher acaba assumindo a responsabilidade
financeira da família quando está inserida no mundo do trabalho. Com isso o homem perde
seu papel como o “chefe de família”. Assim a autoridade masculina fica abalada, pois o
homem não aceita a mulher como provedora dessa família.
Para Kaloustian & Ferrari (1994), a família é o espaço indispensável para a garantia
da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente
do arranjo familiar ou da forma como vem se estruturando. É a família que propicia os
aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos
seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal. É
em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e morais, e onde se aprofundam os
laços de solidariedade.
Dessa forma, as modifiações demonstram a heterogeneidade dos novos arranjos domésticos, referindo-se ao tamanho da família, ao número de fihos e ao aumento de famílias mono- parentais. No âmbito do serviço social, esses índices marcam a necessidade de construção de órgãos que encarem a família como eixo fundamental das atuações, considerando, que é em seu interior que os indivíduos se formam e produzem suas condições de existência (SILVA et al., 2004). Em consonância com Silva et al. (2004), a famíliasempre foi assunto de preocupação das políticas públicas. Essa justifiativa é devida ao núcleo familiar que simboliza a estrutura básica da sociedade envolvendo os objetivos do Estado em garantir que os direitos fundamentais de seus integrantes sejam preservados. 
Não há uma única defiição familiar, estática, visto que se trata de uma instituição de transformações históricas. Todavia, essa forma de pensar implica em re-signifiar a representação familiar em termos de organização e estrutura, tornando referência a família nuclear, embasado na diversidade. Dessa maneira, como afima Carneiro (2004), as políticas sociais trabalham com várias perspectivas, dentre elas a centralidade dessa
família, apostando em sua capacidade de cuidados e proteção, na qual a intervenção do Estado seja de caráter temporário. Outra perspectiva é direcionada a família em estar protegendo seus membros, garantido pelo Estado por intermédio das políticas sociais e públicas. A família brasileira hoje quer ser reconhecida como instância de cuidados e proteção, porém a mesma precisa ser cuidada, protegida atribuindo à responsabilidade pública.
A proteção à família tornou-se uma estratégia vinculada às políticas sociais, em especial pela Política de Assistência Social, como alvo dos programas defiidos como unidades de intervenção, como é o caso do Programa Bolsa Família. Porém, é de suma importância esclarecer que o programa Bolsa Família, assim como, uma política social, não tem a capacidade de superar a pobreza das famílias, de forma que a pobreza é resultado de como a sociedade se organiza na produção de suas relações e desigualdades, fundamentadas entre o capital e o trabalho. A centralidade da família enquanto direitos sociais devem ser efetivados pelo Estado, de maneira que as políticas estejam voltadas às unidades familiares, como propõe Carneiro (2004).
É preciso compreender a família em seu movimento, dentro de uma organização e reorganização, devido aos novos arranjos familiares, bem como, os estigmas sobre as formas diferenciadas, evitando a naturalização dos grupos sociais de desorganização e reorganização em relação a determinados contextos sócio-culturais. É preciso refltir sobre o signifiado família numa sociedade contemporânea e principalmente no lugar que a mesma ocupa dentro de uma política social. As expectativas em relação à família contemporânea vêm sendo direcionadas de um imaginário coletivo, passivo de idealizações sobre o símbolo de família nuclear.
2.1 O LUGAR DA FAMÍLIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Historicamente a família ocupa um lugar de destaque na provisão do bem - estar. No Brasil, ao longo do tempo ela vem exercendo a função de amortecedora das crises do país, viabilizando a reprodução social, apesar das dificuldades cotidianas que enfrenta (CARVALHO; ALMEIDA, 2003). 
Num contexto de expansão do ideário neoliberal recrudescem as exigências quanto ao papel da família na provisão do bem - estar, ganhando expressão no âmbito das políticas sociais do país, especialmente nas políticas de saúde e assistência social. Apartir dos anos 1990, o Estado e o trabalho deixaram de ser “terra firme”, especialmente em virtude da crise mundial da década de 1970 que atinge o Brasil a partir dos anos 1980, período mais conhecido como a “década perdida”, na qual a dívida externa do país se mostrava exorbitante e adescredibilidade econômica diante do mercado internacional também se mostrava elevada, gerando um processo de estagnação econômica, recessão e inflação (CARVALHO, 2006). Esse contexto de crise gerou um descrédito do Estado quanto à sua função na regulação da economia nacional, o que facilitou a expansão da ideologia de aceitação de medidas e orientações ditadas pelas instituições dominantes do mercado mundial (MATTOSO apud ALENCAR, 2008). 
A partir dessa conjuntura, o país intensifica a execução de programas de ajuste estrutural da economia, seguindo o ideário neoliberal e as terapias ortodoxas indicadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. Assim, nesse cenário de compressões polític as e econômicas globais e dos déficits públicos, a partir da década de 1990 o Brasil
Assim, é fortalecida a máxima do Estado mínimo para o social se expressando na restrição de fundos para o financiamento de políticas públicas e no chamamento da sociedade para o processo de reprodução do bem - estar público, em que a família se inclui, sendo colocada como uma das grandes responsáveis pelo provimento das necessidades dos indivíduos (ALENCAR, 2008). Particularizando - se o cenário evidenciado a partir da década de 1990 no país, recrudesce a ideia da família como instituição pilar, que representa “a base de tudo” e tem responsabilidades ao lado da sociedade e do Estado, pela proteção à infância, à adolescência e ao idoso, por exemplo. 
Algumas legislações e programas sociais editados, especialmente, a partir da década de 1990, demonstram a centralidade na família. Esta pode ser percebida, por exemplo, na atual Política Nacional de Assistência Social (2004), que destaca a matricialidade sócio -familiar, como um aspecto de superação da focalização na família, visando sua centralidade nas políticas, especialmente na Assistência Social, ao considerar “[...] que para a família prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal.” (BRASIL, 2004, p.25). 
Assim, a política de Assistência Social propõe que as responsabilidades das famílias na 
proteção social devem ser precedidas da satisfação de suas necessidades específicas. A lei 8.069/1990 – o Estatuto da Criança e do Adolescente – defende a família como lugar de proteção dos membros que as constituem, especialmente os mais frágeis, donde se incluem a criança e o adolescente. Em seu Art. 19, propõe uma quebra com a institucionalização desses sujeitos, salvo como medida de proteção em abrigo, com caráter temporário; e defende a convivência familiar. Estabelece, ainda, no Art. 22, a atribuição dos pais quanto ao “[...] dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo - lhes ainda, no interesse destes a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.” (BRASIL, 1990). No que toca à proteção aos idosos, a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/1994), afirma ser a família a instituição mais apta a prover o bem - estar deste, cabendo ao Estado intervir somente quando o idoso ou a família não consegue gerir as necessidades básicas de reprodução do bem - estar. Outro exemplo é o Benefício de Prestação Continuada (BPC) disciplinado pela Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742/1993), que destina no Art. 20 um salário mínimo mensal “[...] à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê -la provida por sua família.” (BRASIL, 1993). A concepção histórica de que a família é a grande responsável pela provisão primária do bem - estar fortalece o caráter residual de atuação do Estado brasileiro no âmbito das políticas sociais.
Vê-se claramente no entorno dos benefícios, programas e políticas sociais públicas o caráter emergencial e subsidiário da atuação estatal, que se materializa em situações de “falimento” ou pobreza extrema das famílias. Assim, a atuação do Estado se dá, preferencialmente, quando as famílias já não dispõem de recursos próprios para a provisão do bem - estar de seus membros, isto é, quando elas comprovadamente “fracassam” nessa tarefa. Isso resulta na conformação de ações públicas voltadas para as famílias mais pobres. Assim, baseando - se em princípios humanitários, o governo federal vem investindo em programas de desinstitucionalização do atendimento em saúde com o objetivo maior de 
reduzir a atuação estatal e os gastos públicos com pacientes hospitalizados e, enfatizar a atuação informal ancorada na família e na comunidade. Visualiza - se, então, um cenário em 
que as famílias usuárias tornam - se também sujeito ativo nos serviços,ganhando inclusive a 
tarefa do cuidado em saúde, que deveria ser atribuição precípua dos serviços oficiais de saúde. Como destaca Mioto e Dal Prá (2012, s/p), “a família, no cenário dos serviços de saúde, passa a ser invocada e evocada como sujeito fundamental no processo de cuidado tanto no sentido de sua responsabilidade do cuidado, como de ser objeto de cuidado”. 
Constata - se, portanto, que a criação de políticas e programas nesta linha aponta para um Estado que pede apoio à sociedade para superação dos problemas e agravos, transferindo para as famílias atribuições que antes estavam sob sua responsabilidade, e sobrecarregando - as, devido às precárias condições socioeconômicas (GOLDANI apud BORGES, 2008). Segundo Mioto e Campos (2003), alguns estudos recentes demonstram o caráter cada vez mais limitado da “capacidade protetora” das famílias, (especialmente as famílias da classe trabalhadora), ligado ao empobrecimento acelerado da população brasileira nas últimas décadas e ao processo histórico de transformações pelas quais as famílias vêm passando; famílias menores, por exemplo, são “[...] muito mais sensíveis às situações de crises, mortes, desemprego” (MIOTO; CAMPOS, 2003, p. 182). Por isso, o que deve ser coletivamente defendido é a atuação efetiva e máxima do Estado na proteção social e na garantia de direitos socialmente conquistados, de modo que as políticas sociais, ao invés de transferir responsabilidades do Estado e sobrecarregar a família, a comunidade e a sociedade de um modo geral, devam, na verdade, prover a manutenção e a extensão de direitos, numa perspectiva universal. 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi apresentado no artigo sobre o tema de família e políticas públicas, destacamos que fazendo um paralelo com a contemporaneidade percebemos que ao colocar a família como centralidade nas políticas Públicas traz avanços, por um lado, ao situar o indivíduo no seu contexto de sociabilidade, contudo por outro lado também reatualiza esse conceito de família pautado na subserviência, numa perspectiva tradicional de família nuclear composta por pai, mãe e filhos/as. Como também o reforço dos papéis sociais que asseguram um privilégio masculino no poder de mando, de dominação e exploração das mulheres e confinando e aprisionando as mulheres ao espaço doméstico, de subserviência. É o que Bourdieu chama de “ordem natural das coisas”, a transformação das diferenças em desigualdades, polarizando o mundo em masculino e feminino. Essa construção é baseada numa superioridade masculina que de forma “invisível” é imposta a ciência, a história e as relações sociais.
Arbitrária em estado isolado, a divisão das coisas e das atividades (sexuais e outras)
segundo a oposição entre o masculino e o feminino (...) num sistema de oposições
homólogas, alto/baixo, e cima/embaixo (...) fora/dentro, público/privado, etc que, para
alguns, correspondem a movimentos do corpo (...). Esses esquemas de pensamento, de
aplicação universal, registram como que diferenças de natureza (...). a divisão dos sexos
parece estar ‘na ordem das coisas’ (...) como se também as coisas fossem sexuadas
(BOURDIEU, 1999, 16- 17).
 Contudo, vale ressaltar que essa apesar de ser uma lógica dominante na nossa sociedade capitalista ela não é única. Convivem em conflitos e disputas as várias formas de composição familiar. E que mesmo diante da forte imposição social de uma sociedade patriarcal, racista, burguesa e heteronormativa que presenciamos através dos números absurdos de violência contra a mulher em que a cada 1 minuto quatro mulheres são agredidas e que cerca de 90% das agressões são feitas por seus companheiros, maridos, namorados, noivos, pais e irmãos o que demonstra a perpetuação da mulher como a “outra”, a mulher como posse do pai e posteriormente quando se casa do marido. Estes dados também jogam por terra o conceito de família como “o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social” (NOB/ SUAS, 2005, p.90). Assim, o Estado moderno assume o papel de patriarca ao participar direto e indiretamente da produção e reprodução dos papéis sociais garantindo as desigualdades de gênero e reforçando o poder masculino ao perpetuar a sequência de dominação: Pai – Marido
1 1 – Estado. 
Ao longo da história, a mulher desde o nascimento deve obediência ao pai provedor e com seu casamento passa a obedecer ao marido que assume o papel de “provedor” da casa. Contudo, diante de tantas mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais os modelos hegemônicos convivem com outras realidades que não se encaixam. O Estado moderno passa a assumir esse papel de provedor através dos programas e das políticas de assistência social, mas coloca como contrapartida a reatualização dos papéis de gênero jogando para essas novas famílias as velhas funções de mulheres cuidadoras e protetoras de sua prole. Essa lógica fica clara diante dos números de mulheres responsáveis pelas famílias cadastradas em que “segundo dados do próprio programa, as mulheres constituíam, em março de 2005, 91% do total de pessoas responsáveis pelas 6.449.778 famílias cadastradas” (TEXEIRA RODRIGUES, 2009, p.220). Reforça as desigualdades de gênero ao vincular a mulher ao cuidado, ao espaço doméstico, de subserviência e obediência. 
O crescimento do número de mulheres responsáveis pelos domicílios, indicado nas estatísticas nacionais, mais do que representar mudança de gênero na provisão econômica familiar ou autonomia feminina indica, que em se tratando de camadas pobres, a condição de vulnerabilidade de tais mulheres. E mais ainda, significa que essas mulheres além de serem chamadas a assumir a provisão da família são chamadas também a assumir os papéis fruto do binarismo que reforça as desigualdades de gênero na velha equação tão naturalizada ao longo da história da humanidade: mulher = mãe = dona de casa. Desta forma, percebemos que o modelo de família nuclear burguesa foi estendido às diversas classes sociais a partir das transformações do século XVIII (revolução industrial, revolução francesa, entre outras) como natural e ideal para toda a sociedade. Este modelo é baseado na hierarquia e subordinação, no poder e na obediência, fixando a separação de mundos externos (espaço masculino) e interno (espaço feminino). E hoje apesar das mudanças nos arranjos familiares que pauta-se não em um modelo de família, mas em famílias no plural pela sua diversidade não é vivenciada na elaboração das políticas públicas, nem tão pouco na sua execução que ainda é permeada de valores androcêntricos que dão o tom as práticas cotidianas.
Portanto, destacamos neste estudo a importância de compreender essa família na contemporaneidade, pois ela se encontra em movimento, aleatório de um único conceito muito menos de definição, que ao olhar das políticas públicas precisa ser repensada como algo que vá ampliar a qualidade de vida dos indivíduos, propiciando o desenvolvimento individual e grupal das famílias e como dever principal do Estado e das políticas públicas, garantir os direitos dos cidadãos, aos quais são negados e omitidos. O profissional pautado nas políticas públicas se propõe a acrescentar na vida desses sujeitos o protagonismo, permitindo que esses tenham autonomia de sua própria história, como sujeitos de direitos e deveres.
ReferênciaS
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