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[Digite aqui] i Jean Piaget uma abordagem neuropsicopedagógica Autores Roberto Aguilar Machado Santos Silva Suzana Portuguez Viñas Santo Ângelo, RS 2018 2 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com: e-mail: Suzana-vinas@yahoo.com.br robertoaguilarmss@gmail.com Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva Editoração: Suzana Portuguez Viñas Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva 1ª edição Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 3 Autores Roberto Aguilar Machado Santos Silva Etologista, Médico Veterinário, escritor poeta, historiador Doutor em Medicina Veterinária robertoaguilarmss@gmail.com Suzana Portuguez Viñas Pedagoga, psicopedagoga, escritora, editora, agente literária suzana_vinas@yahoo.com.br 4 Pensamento Os fenômenos humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus meios. Jean Piaget 5 Apresentação O livro Jean Piaget, uma abordagem neuropsicopedagógica visa investigar as bases filosóficas e neurobiológicas do entendimento das teorias piagetianas e seus reflexos na neuropsicopedagogia. Roberto Aguilar Machado Santos Silva Suzana Portuguez Viñas 6 Dedicatória Para Jean Piaget, pelo que construiu. 7 Pensamento O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas. Jean Piaget 8 Sumário Introdução ....................................................................................28 Capítulo 1. A família Piaget..........................................................13 Capítulo 2. A alvorada do Pensamento Piagetiano......................24 Capítulo 3. Conceitos da Teoria Piagetiana.................................33 Capítulo 4. A Neuroanatomia Funcional ......................................61 Capítulo 5. Neuropsicopedagogia da Teoria Piagetiana............130 Bibliografia consultada................................................................168 9 Introdução Nascido na Suíça, Jean Piaget (1896-1980) dedicou-se inicialmente aos estudos científicos relacionados à natureza biológica, pesquisando sobre moluscos. Mais tarde, investigando sobre a relação entre organismo e o meio, passa a estudar a natureza humana. Interessa-se pela inteligência humana, que considera tão natural como qualquer outra estrutura orgânica, embora mais dependente do meio do que qualquer outra. O motivo está no fato de que a inteligência depende do próprio meio para sua construção, graças às trocas entre organismo e o meio, que se dão através da ação. Em 1924 publica A Linguagem e o Pensamento da Criança, quando a questão primeira era: para que serve a linguagem? A partir daí, mostra que o progresso da inteligência da criança se dá através da mudança de suas características e não, simplesmente, pela eliminação de erros. Em 1926 publica A Representação do Mundo na Criança, quando examina o desenvolvimento progressivo do pensamento infantil em suas tentativas de explicar realidades, tais como a do sonho ou dos fenômenos naturais. Neste livro Piaget descreve o método clínico, que viria a ser a base metodológica da Psicologia Genética, fundamentada na observação e entrevista clínica (Ferracioli, 19991). Neuropsicopedagogia é uma ciência que estuda o sistema nervoso e sua atuação no comportamento humano, tendo como enfoque a aprendizagem. Para isso, a Neuropsicopedagogia busca relações entre os estudos das neurociências com os conhecimentos da psicologia cognitiva e da pedagogia. Sendo assim, essa é uma ciência transdisciplinar que estuda a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana (POSFG, 20182). 1 FERRACIOLI, L. Aspectos da construção do conhecimento e da aprendizagem na obra de Piaget. Cad.Cat.Ens.Fís., v. 16, n. 2: p. 180-194, 1999. 2 POSFG. Tudo sobre neuropsicopedagogia e as diferenças entre atuações clínica, institucional e hospitalar. Disponível em: 10 A visão geral das principais ideias de Jean Piaget, seguida da abordagem de alguns aspectos de sua obra relacionados à neuropsicopedagogia e construção do conhecimento através de estádios e dos fatores que influenciaram os conceitos piagetianos de desenvolvimento, aprendizagem e conhecimento. O entendimento sobre os processos cerebrais, ajuda os estudantes com problemas e podem contribuir para a melhoria no processo de ensino-aprendizagem. http://posfg.com.br/neuropsicopedagogia-clinica-institucional-hospitalar/ Acesso em: 15 mar. 2018. 11 12 Capítulo 1 A família Piaget Jean Piaget em família Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, 9 de agosto de 1896 - Genebra, 16 de setembro de 1980), filho de Artur Piaget, professor doutor de língua e literatura medievais, e de Rebecca Suzane, uma das primeiras socialistas suíças, Piaget vive sua infância e adolescência em Neuchâtel onde, aos onze anos de idade (1907), publica o primeiro relato sobre um pardal albino. Jean Piaget era o único filho homem de Arthur e Rebecca Piaget. Tinha duas irmãs mais jovens, Madeleine (1899-1976) e Marthe (1903-1985). Arthur Piaget Seu pai, Arthur Piaget (1865 – 1952), intelectual, professor de Literatura Comparada e Diretor do Arquivo Público, em 1894, tornou-se por convite, professor da Academia de Neuchâtel, após publicar trabalhos científicos sobre escritores medievais. Vidal (1998), em seu livro biográfico Piaget antes de ser Piaget, escreveu sobre Arthur Piaget: ...um homem de mente minunciosa e critíc, que se aborrecia com as generalizações improvisadas apressadamente. Ensinou Jean “o valor do trabalho sistemático, inclusive as coisas pequenas. Tambem, certa vez comentou que sua “paixão pelos fatos” se devia ao seu pai e que Arthur não lhe aconselhou a estudasse história porque “não era uma autêntica ciência”. Arthur Piaget nasceu em Yverdon, cidade proxima à Neuchâtel, embora no cantão de Vaud, onde se exilou seu pai (o avô de Jean Piaget era monarquista), depois de fracassada a rebelião realista (da realeza) de 1856. 13 Yverdon-les Bains Yverdon-les Bains é uma cidade da Suíça situada a 60 km de Berna, no cantão de Vaud, às margens do Lago de Neuchâtel. É a capital do Distrito do Jura-Nord vaudois e segunda cidade mais populosa do cantão. Residentes célebres: Jean-Jacques Rousseau, Johann Heinrich Pestalozzi. Yverdon-les Bains Cantão de Vaud O Cantão de Vaud (em alemão Waadt) é um cantão da Suíça, situado na parte ocidental do país, sua capital é Lausana. Com o Cantão de Genebra e o Cantão do Valais é um dos cantões da Região Lemánica. O gentílico de Vaud é um(a) Vaudois(e). Pays de Vaud fazia parte das terras da Saboia, ganhou a independência em 24 de Janeiro de 1798 e entrou para a Confederação Helvética em 1803. O termo Pays, sempre no plural, é corrente na Idade média para designar uma subdivisão territorial, o pagus latin. Hoje em dia o termo 14 ainda é empregado e fala-se do País de Gex, doPays de la Loire, etc. Cantão de Vaud Arthur Piaget estudou literatura medieval e, já era um romancista conhecido no início do decênio de 1890. Arthur Piaget. Em 1895, deixou Paris, onde vivia desde 1889, para ir a Neuchâtel, como catedrático de línguas e literatura românica da 15 universidade. Em sua aula inaugural Arthur Piaget demonstrou que La chronique des chanoines, o documento mais venerado da história de Neuchântel, não era um documento original, e sim uma fraude do século XVIII. Sua demonstração não agradou aos conservadores; uns anos mais tarde suscitava debates apaixonados. Conforme nossas pesquisas encontramos em um jornal suíço de 31 de outubro de 1863, onde há referencia ao documento La chronique des chanoines (assinalado em vermelho). Fragment de la ehronique des chanoines de Neuehaftel. II a paru ä Neuchätel, en 1859, un petit volume extremement curieux et interessant, lequel renferme de nombreux extraits de laChronique redigee autrefois par les chanoines de cette ville'. Ces extraits sont d'autant plus precieux quele manuscrit original a peri dans um grand incendie qui detruisit une partie de la ville de Neuchätel au commencement du dix-septieme siecle. Nous pensons etre agreables ä nos lecteurs en leur donnant un des plus jolis fragments de cetle ehronique. 11 se rapporte aux guerres de Bourgogne, dont il raconte avec beaueoup de verve et d'originalite un des episodes les moins connus. Nous conservons autant que possible au style sa couleur naive et pittoresque, et n'y touchons que pour le rendre parfaitement accessible ä tous. 16 Não obstante, o governo o nomeou arquivista da cidade em 1897. Esta nomeação foi o princípio de suas investigações sobre a história local e de uma completa renovação da historiografia de Neuchântel. O desmacaramento de La chronique não foi o único gesto iconoclasta3 de sua carreira, sua critica as geanologias estabelecidas por um reputado historiador local, suas aulas sobre a revolução de 18484 e sua de descrição da história da universidade, molestaram inevitavelmente, algumas pessoas por razãoes sentimentais ou políticas. 3 Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone", imagem, e κλαστειν, transl. klastein, "quebrar", portanto "quebrador de imagem"). adjetivo e substantivo de dois gêneros. 1. que ou aquele que destrói imagens religiosas ou se opõe à sua adoração. 2. que ou aquele que destrói imagens em geral. 4 Dá-se o nome de Revoluções de 1848 ou Primavera dos povos à série de revoluções na Europa Central e Oriental que eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas, do aumento da condição financeira e da falta de representação política das classes médias e do nacionalismo despertado nas minorias da Europa central e oriental, que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as tentativas de reformas políticas e econômicas. Fragmento da retórica dos cânones de Neuehaftel. Em Neuchätel, em 1859, um pequeno volume extremamente interessante e interessante foi publicado, que contém muitos trechos das Crônicas, anteriormente escritos pelos cânones daquela cidade. Esses excertos são ainda mais valiosos, pois o manuscrito original pereceu em um grande incêndio que destruiu parte da cidade de Neuchätel no início do século XVII. Pensamos que somos agradáveis aos nossos leitores, dando-lhes um dos fragmentos mais bonitos deste mundo. Ele se relaciona com as guerras de Borgonha, das quais ele relata com muita grandeza e originalidade um dos episódios menos conhecidos. Nós preservamos o máximo possível o estilo de sua cor ingênua e pitoresca e tocamos apenas para torná-lo perfeitamente acessível para nós. todos. 17 Se estilo incisivo e irônico se extendia a suas relações pessoais. Jean Piaget recordou, que em razão dos “comentários irônicos” de seu pai, sobre o livro de aves que compôs, quando tinha dez anos. Então, Jean teve que reconhecer, com pesar, “que se tratava de uma mera recompilação” (mais tarde, um grafólogo percebeu em escritos do jovem Piaget indícios de uma causticidade5 herdada). Jean Piaget, com 10 anos de idade Em resumo, Arthur Piaget, era um personagem muito respeitado e conhecido em Neuchântel. Os cículos conservadores, o consideravam drante muito tempo um perturbador (Vidal, 1998). Rebecca Piaget Rebecca, ou Rebecca-Suzanne Jackson (1872-1942) conforme seu nome de solteira, era uma mulher excêntrica; uma pessoa “tão impossível como seus escritos” (conforme Vidal, 1998). Também é descrita como muito inteligente, enérgica e fundamentalmente muito bondosa. Ela teria “um temperamento bastante neurótico que tornava a vida familiar um tanto problemática. A irmã de Jean Piaget, Marthe Burguer, confirmou as caracteristcas acima ao escritor Vidal (1998). Em 1981, Marthe afirmou que Rebecca Piaget era uma mulher autoritária que lhe tornou a infancia infeliz. 5 Causticidade. substantivo feminino. 1. qualidade do que é cáustico. 2. fig. mordacidade, maledicência. 18 Rebecca Piaget Sua instabilidade familar, causada na área do relacionamento entre os pais e suas irmãs, resultou em um estado de ansiedade que se dirigia ao trabalho, bem como ocorreu com seu pai, pois a compulsão por ocupação tornou-se uma questão natural para desenvolver sua vida intelectual (Gaspar, 2017). Família Piaget. Vidal (1998), relata que uma das consequências diretas desta situação – conforme descrita por Jean Piaget – foi que ela 19 logo começou a desejar dedicar-se ao trabalho sério. Evidentemente isso o fez imitar ao pai, bem como refugiar-se em um mundo intimo e não fictício. Como consequência, sempre detestou todo o afastamento da realidade. Um outro fator que o influenciou nos primeiros anos da sua vida foi a má saúde mental da mãe. Este assunto fez Jean Piaget interessar-se por psicoanalise e psicopatologia. Vidal (1998), citou que em carta datada do ano de 1927, caracterizava o problema de Rebecca Piaget, não como uma simples neurose, e sim como um caso de alienação, mas exatamente, como paranoia ou folie raisonnante, naqual o paciente esta lúcido e raciocina muito bem, porém baseando-se em premissas falsas (no caso de sua mãe, as ideias de perseguição). Rebecca Piaget aos trinta anos. Folie raisonnante Para Pinel6 tem um significado especial a chamada folie raisonnante, que corresponde à mania sem transtorno intelectual. 6 Philippe Pinel (Saint André, 20 de abril de 1745 – Paris, 25 20 Esses traços de personalidade mais tarde serão desenvolvidos por Jean. Porém, esse filho cientista de Arthur, empenhou-se menos na preservação da verdade histórica do que na defesa de fatos empíricos contra teorias puras. Sua mãe, Sra. Rebeca Suzanne, de descendência inglesa, ao contrário de Arthur, a-religioso, era luterana. E assim Jean foi batizado e iniciado no ensinamento religioso de sua mãe, fruto da vontade materna. A relação do pai, agnóstico, com a mãe religiosa, desde muito cedo representou para Jean um conflito entre ciência e religião, compondo-se em uma experiência cuja a clarificação se constituiria uma de suas preocupações existenciais. Além dessa diferença de estrutura de valores pessoais, Jean percebia sua mãe como uma senhora de majestosa inteligência, firme em suas decisões, o que ele classifica como enérgica, efetivamente uma postura de bondade, porém sem mimarseu filho com afeto materno. Assim o próprio Jean se classificava com um temperamento neurótico, isso dificultava sua vida familiar enquanto filho. Em função dessas questões familiares, desde muito jovem gostava de Psicologia, Psicanálise e de sua forma de tratamento, a psicoterapia. Isso influenciou sua busca em elaborar uma teoria própria, preferindo atuar no campo da investigação de casos normais e do funcionamento do intelecto, do que o estudo das “ciladas” do inconsciente. Especializou-se em lesmas lacustres, seu artigo foi publicado em 1909, aos 13 anos. Neste artigo revela que havia mudança do comportamento do animal, quando o meio ambiente se alterava e assim procurou explicar as causas desse fato diante de observações diretas dos animais em pesquisa. Em 1913, foi preciso encontrar um novo responsável pela coleção de moluscos, que incluía a coleção de J. B. Lamarck (1744-1829), tendo o nome de Piaget sido cogitado, porém, como de outubro de 1826). Notabilizou-se por ter considerado que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram doentes e que ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta. Foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais, demência precoce ou esquizofrenia. A obra mais importante escrita por Pinel foi "Traité médicophilosophique sur l’aliénation mentale ou la manie. 21 faltavam dois anos para terminar seus estudos secundários, ele preferiu não aceitar o convite. Depois de um ano do término do ano letivo, em 1916, Piaget tinha publicado 35 artigos científicos em revistas e jornais especializados com divugalção internacional (Gaspar, 2017). Jean Piaget adolescente. 22 23 Capítulo 2 A alvorada do Pensamento Piagetiano Jean Piaget, foi biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano. Nesse mesmo ano, torna-se auxiliar de Paul Godet, especialista emmalacologia e diretor do Museu de História Natural da cidade. Aos catorze anos, o jovem Piaget ingressa no "Clube dos Amigos da Natureza e em 1911 escreve os primeiros artigos sobre "taxonomia malacológica" para revistas especializadas. A Psicologia do Desenvolvimento se fez presente em sua vida científica, tanto de suas observações com as lesmas lacustres, quanto as questões de adaptação ao meio físico na cor, na forma e no comportamento. Tornando relevante descobrir se as mudanças na organização e no comportamento biológico são oriundos da adaptação e se podem ser transmitidas aos descendentes, concentrando seus estudos na classificação das lesmas lacustres (da espécie Limnaea). Esta tarefa despertou-lhe o interesse pela questão filosófica da existência das classes biológicas, inclinando-se a admitir que ocorria uma transição entre caracteres hereditários e flutuantes. Isso personifica e direciona seu trabalho científico na categoria de evolucionista, aproximando seu conhecimento à teoria de Lamarck. No período de 1912 a 1914 envolveu-se em uma disputa científica com o pesquisador polonês Dr. W. Roszkowski, em setembro de 1912, em função de uma conferência realizada na Sociedade dos Amigos da Natureza, onde Piaget negou a “realidade” das espécies 24 biológicas. Essa discussão revela que o Dr. Roszkowski estava melhor informado, entre outras questões, o retorno do estudo às Leis de Mendel, 1900, com o aval de pesquisadores como Correns e outros, revelando que a hereditariedade se dá através de uma recombinação de unidades genéticas, contrariando a originalidade da ideia de Lamarck de que as variações fenotípicas possam ser transmitidas de forma hereditária. Esta discussão com a conclusão aqui apresentada, fez com que o jovem pesquisador Piaget postulasse uma maior maturidade em seu desenvolvimento intelectual direcionando de forma definitiva seu estudo com base no conhecimento genético (). A influência de Henri Bergson na obra de Piaget Henri Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês. Conhecido principalmente por Ensaios sobre os dados imediatos da consciência, Matéria e Memória, A evolução criadora e As duas fontes da moral e da religião, sua obra é de grande atualidade e tem sido estudada em diferentes disciplinas - cinema, literatura, neuropsicologia, bioética, entre outras. Recebeu o Nobel de Literatura de 1927. Influenciado por sua mãe, Piaget frequenta a Igreja Independente de Neuchâtel (protestante) no mesmo ano em que inicia a leitura da obra de Henri Bergson, que o influenciou de maneira duradoura, e é envolvido por leituras variadas de filosofia e psicologia. Assiste às aulas de lógica, metodologia científica e psicologia. Confuso, Piaget vive um momento que opõe religião e ciência e se vê impelido a escolher a fé ou o conhecimento. Na filosofia de Bergson, busca um caminho possível para o conhecimento científico e a análise crítica da origem do conhecimento e descobre a epistemologia. Abaixo relatamos os escritos de Gaspar (2017), sobre o encaminhando e madurecimento científico de Piaget baseados na leitura da obra do filósofo francês Henri Bergson, intitulada “Evolução Criadora” – 1907, por influência de seu padrinho, o 25 escritor francês Samuel Cornut7, que objetivava com isso ampliar o pensamento do jovem cientista diante do mundo a sua volta, fazendo um convite de ir além molúsculos. Esse episódio é importante para influenciar Jean Piaget a encontrar uma relação estreita e necessária entre Deus e a Ciência, porém, o polêmico jovem cientista em sua primeira abordagem da filosofia de Bergson, se coloca como crítico desse pensamento, pois não acreditava ainda na tese de Bergson que discutia sobre as diferentes explicações da mudança das espécies, em voga à época e que o filosófo chama de “élan vital”. No entanto a filosofia mais uma vez convenceu aqueles que nela se debruçam para discutir o campo do conhecimento humano e com Piaget não foi diferente, pois em “Evolução Criadora”, o jovem cientista encontrou um desafio, no qual caracterizava em buscar na Biologia, o campo em que a religião e a ciência se encontram e que a própria vida é um processo em criatividade na concepção piagetiana, bem como seu crescente interesse pela gênese do novo (Gaspar, 2017) Conforme o mesmo autor, em sua experiência com a obra do filósofo Bergson, Piaget revela em sua autobiografia essa importância quando descreve: “lembro-me da noite em que experimentei uma revelação profunda: a identificação de Deus com a própria vida era um pensamento que em mim quase chegou a provocar um êxtase, porque daí em diante me permitiu ver, na Biologia a explicação de todas as coisas e do próprio espírito”. Por força dessa influência, Piaget segue a trajetória de Bergson e se coloca de forma crítica as concepções do Darwinismo e Mutacionista. Sua justificativa para tal postura está na seguinte explicação: se a evolução deriva de uma cadeia de mutações cujas causas não se encontram no interior dos seres vivos, o desenvolvimento das espécies não pode passar de um jogo de forças externas e, em última análise, meramente fortuitas, ao contrário do que Bergson ensinava (Gaspar, 2017). 7 Samuel Cornut, nascido em Aigle em 28 de junho de 1861, e morreu em 1 de maio de 1918 em Thonon-les-Bains, é um escritorsueco de língua francesa, principalmente um romancista. 26 Em um contexto de guerra (1915), Piaget conclui os estudos secundários, ingressa na Faculdade de Ciências da Universidade de Neuchâtel e publica A Missão da Ideia. Filia-se à Federação Socialista Cristã, em 1917. Em 1918, obtém o bacharelado em ciências naturais para, em seguida, finalizar a sua tese: Introdução à Malacologia da Região do Valais. Entre 1915 e 1917, problemas de saúde o obrigam a estadias em Leysin. Piaget retoma, então, o dilema entre ciência e fé e, em 1918, escreve o romance filosófico e autobiográfico: Recherche - ("expressão que em frances tem um duplo sentido - "busca" e "pesquisa"). Nesse período, Piaget busca uma formação em psicologia e vai para Zurique. Lá, conhece Eugène Bleuler, então diretor em uma clínica psiquiátrica, e seu assistente Carl Gustav Jung. A perspectiva psicanalítica não o entusiasma e, em 1919, retoma seus estudos em malacologia e viaja para Paris (Gaspar, 2017 Na Sorbonne, conhece grandes nomes da psicologia e psicopatologia como Pierre Janet e Léon Brunschvicg. A estadia em Paris (1919-1921) se revela importante especialmente pelo encontro com Théodore Simon, que lhe possibilita investigar o pensamento infantil, e descobre na criança pequena uma forma própria de raciocínio. Estas pesquisas resultam na publicação de três artigos. Suas primeiras pesquisas em psicologia, como coordenador do Instituto Jean-Jacques Rousseau, resultam em um ciclo de cinco publicações: A linguagem e o pensamento na criança (1923); O raciocínio da criança (1924); A representação do mundo na criança (1926); A causalidade física na criança (1927); e O julgamento moral na criança (1931). Esta fase, sobretudo por apresentar a criança como sujeito da razão, "ainda que de uma razão própria", desperta interesse de estudiosos e Piaget é convidado para expor suas ideias em universidades europeias e norte-americanas. Segundo Machado (2015), de acordo com o filósofo e sociólogo francês Lucien Goldmann (1913-1970), em Epistemologia e Filosofia Política, o conhecimento jamais é produzido por um único ser humano particular; ele é sempre produzido socialmente. Entretanto, conforme o autor, em alguns momentos encontra-se na figura de sujeitos particulares a possibilidade de síntese de conhecimentos construídos 27 anteriormente por outros sujeitos e em estágios distintos de elaboração. Essa síntese, para que possa ser caracterizada como tal, precisa conter algo que é próprio do sujeito particular em questão – embora os limites daquilo que é próprio de um autor seja algo bastante difícil de ser traçado. Ao assumir que o conhecimento é produzido socialmente, pode-se afirmar que na história do pensamento são muito raros, se é que existem, aqueles que nada devem de sua obra a outros. Em termos de síntese dialética (aos moldes do hegelianismo8), a produção do conhecimento pode ser entendida como uma construção que comporta novidade, ao mesmo tempo em que a possibilidade dessa novidade se deve também a outros seres humanos e seus modos de pensar determinadas questões. A influência de Immanuel Kant na obra de Piaget Quando analisamos a história da epistemologia podemo perceber que havia um empesse entre o racionalismo, que dizia que o conhecimento está no sujeito, e o empirismo que afirmava o oposto, ou seja, que o conhecimento reside no objeto, o primeiro 8 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 – Berlim, 14 de novembro de 1831) foi um filósofo alemão. É unanimemente considerado um dos mais importantes e influentes filósofos da história. Pode ser incluído naquilo que se chamou de Idealismo Alemão, uma espécie de movimento filosófico marcado por intensas discussões filosóficas entre pensadores de cultura alemã (Prússia) do final do século XVIII e início do XIX. Essas discussões tiveram por base a publicação da Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant. Hegel, ainda no seminário de Tübingen, escreveu, juntamente com dois renomados colegas, os filósofos Friedrich Schelling e Friedrich Hölderlin, o que chamaram de "O Mais Antigo Programa de Sistema do Idealismo Alemão". Posteriormente Hegel desenvolveu um sistema filosófico que denominou "Idealismo Absoluto", uma filosofia capaz de compreender discursivamente o absoluto (de atingir um saber do absoluto, saber cuja possibilidade fora, de modo geral, negada pela crítica de Kant à metafísica). Apesar de ser notavelmente crítica em relação ao Iluminismo, a filosofia hegeliana é tida por muitos como, para usar a expressão de Habermas, a "filosofia da modernidade por excelência". 28 pensador a propor uma solução para esse conflito foi o filósofo Immanuel Kant9 (Mendes, 2017). Immanuel Kant Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano. Amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna, Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried Wilhelm Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução). Kant fez uma síntese entre as duas vertentes, segundo ele tanto o objeto como o sujeito têm grande importancia na construção do conhecimento. Kant começa seu livro, A crítica da razão pura, concordando com os empiristas, pois segundo ele, não se pode duvidar que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, mas nem todo conhecimento vem dela. Kant diz que o modo originário do conhecimento é a intuição, ele divide a intuição em: empírica e pura. Intuição empírica é o conhecimento que provem das sensações, e é também chamada de matéria do conhecimento, a intuição pura é a forma da sensibilidade que ordena aquilo que nos é dado pela sensação (Mendes, 2017). Conforme o mesmo autor, Kant fez uma síntese entre as duas vertentes, segundo ele tanto o objeto como o sujeito tem grande importancia na construção do conhecimento. Kant começa seu livro, A crítica da razão pura, concordando com os empiristas, pois segundo ele, não se pode duvidar que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, mas nem todo conhecimento vem dela. Kant diz que o modo originário do conhecimento é a intuição, ele divide a intuição em: empírica e pura. Intuição empírica é o conhecimento que provem das sensações, e é também chamada de matéria do conhecimento, a 9 Kant foi um leitor de Rousseau. Conforme nos lega a historiografia oficial, a única vez em que o filósofo alemão atrasou seu passeio diário por Königsberg foi quando estava lendo o Emílio, de Rousseau. O pensamento rousseauniano certamente influenciou as elaborações teóricas kantianas. Contudo, essa influência não será aprofundada neste artigo. 29 intuição pura é a forma da sensibilidade que ordena aquilo que nos é dado pela sensação. Kant chamava o tempo e o espaço de formas da sensibilidade, e ele sublinhava, que essas duas formas já existem em nossa experiência, isso significa que podemos saber, antes de experimentar alguma coisa, que vamos experimentá-la como fenômeno no tempo e no espaço. Somos incapazes por assim dizer de tirar os óculos da razão”. De acordo com (Mendes, 2017) Piaget discorda de Kant quando se fala das formas a priori da sensibilidade, para ele, Piaget, não existe estruturas cognitivas a priori, mas sim esquemas que são desenvolvidos na criança em sua relação com os objetos a partir do nascimento, e não somente quando se inicia a fala, como se pensava nos tempos dele. Piaget fala que não se pode pensar em qualquer disposição a priori (no sentido kantiano) do sujeito e, portanto, em um sujeito a priori, somente porque o sujeito não está consciente de si mesmo nem deobjetos já constituídos, o sujeito começa a tomar consciência de si através da interação com o meio, ou seja, quando ele começa a perceber que ele é diferente dos objetos que estão á sua volta e que ela é um ser consciente de sua existência, mas embora haja divergência e muitos aspectos Piaget e Kant ainda continuam tendo muita coisa em comum. A influência de Jean-Jacques Rousseau na obra de Piaget Apresentamos, a seguir, parte da influência de Jean- Jacques Rousseau, por meio de seu Emílio ou Da Educação (1762), na proposta epistemológica piagetiana. De acordo com Machado (2015), o período em que Jean- Jacques Rousseau viveu e elaborou sua obra é denominado modernidade. Na modernidade, a questão da infância passa a ser ponto de discussão em diversas áreas do conhecimento, desde as Artes à Filosofia, além de prenunciar a vinda de uma Psicologia. Rousseau é um dos primeiros pensadores a dar papel de destaque para a questão da infância. Jean-Jacques Rousseau Jean-Jacques Rousseau, também conhecido como J.J. Rousseau ou simplesmente Rousseau (Genebra, 28 de 30 junho de 1712 — Ermenonville, 2 de julho de 1778), foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo. Para ele, as instituições educativas corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar. O autor faz isso por meio de seu tratado filosófico educacional: Emílio ou Da Educação. Em termos de teoria, é, sobretudo, a partir de Emílio que a criança passa a ser entendida como diferente do ser humano adulto. O filósofo genebrino também se coloca contrário à ideia hegemônica e medieval da criança como um adulto em miniatura. Ele se coloca contrário à ideia de que basta crescer em tamanho para que a criança se torne um adulto plenamente desenvolvido em suas capacidades. Para Rousseau, o que existe é a possibilidade do desenvolvimento dessas capacidades. Dito de outro modo, crescer em tamanho não é condição suficiente para que essas capacidades, tal como a razão humana, sejam desenvolvidas. O desenvolvimento orgânico surge como condição necessária de possibilidade para esse desenvolvimento cognitivo, mas não como condição suficiente. Emílio apresenta o percurso formativo do personagem Emílio, desde sua mais tenra idade até a idade adulta. Nesse percurso, Rousseau faz a defesa de que a razão de Emílio vai sendo desenvolvida no decorrer de sua formação. Junto da proposta rousseauniana do desenvolvimento da razão ainda está presente a ideia de natureza previamente dada no que diz respeito a uma espécie de sentimento moral. Ao contrário de Rousseau, Piaget pensa uma moralidade que é construída em estreita ligação com o desenvolvimento das estruturas cognitivas. Se o epistemólogo genebrino se afasta do filósofo genebrino quanto à proposta de uma moralidade, aquele se aproxima deste no que diz respeito à questão do desenvolvimento da razão. Para ambos, a razão não é entendida como uma faculdade inata. O filósofo e o epistemólogo em questão entendem a razão como capacidade que pode ou não ser desenvolvida e seu desenvolvimento depende tanto das atividades do sujeito quanto 31 das demandas do entorno. Em Emílio, existe a defesa de que as solicitações do meio, entre elas as orientações do preceptor, influem sobre a formação do sujeito. Rousseau coloca-se favorável à ideia de uma formação que busca propiciar o desenvolvimento de capacidades a partir da própria ação do sujeito. Ao mesmo tempo, o autor destaca que esse desenvolvimento também dependente das solicitações do ambiente em que o sujeito em formação está inserido. Rousseau opta por educar Emílio no campo, e faz isso por entender que sua formação não aconteceria de mesmo modo se o ambiente ao seu entorno fosse a cidade. Campo e cidade são espaços diferentes e com ofertas distintas para o sujeito, portanto, com possibilidades de construções também distintas. Essa indicação rousseauniana reaparece em Piaget com a elaboração dos fatores do desenvolvimento. São eles: maturação, experiência, transmissão social e equilibração. 32 Capítulo 3 Conceitos da Teoria Piagetiana Os conceitos fundamentais de Jean Piaget, no desenvolvimento da inteligência foram baseados no trabalho de Mara Tavares (2017), intitulado “Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência” e podem ser vistos a seguir. Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência . A hereditariedade: Herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma série de estruturas biológicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como conseqüência inferimos que a qualidade da estimulação interferirá no processo de desenvolvimento da inteligência (Tavares, 2017). Os contributos de Piaget para a psicologia foram, a interacção entre os processos hereditários, o meio e o sujeito e o fato do sujeito ter um papel ativo na construção da sua inteligência; descobrir que a criança não é um adulto em miniatura, existe uma diferença qualitativa entre o adulto e a criança quanto ao modo de funcionamento intelectual; as crianças pensam e raciocinam de forma qualitativa em diferentes fases do desenvolvimento intelectual, percorremos uma sequência invariante de quatro períodos qualitativamente distintos, ou seja, não podemos saltar estádios nem passar por eles numa ordem diferente. Porem a idade em que se atingimos cada estádio pode variar (Psicologia Solta, 2017). 33 A teoria de Piaget ultrapassa a dos behavioristas e a dos gestaltistas. A seguir Santana (2017) explica as teorias do Behaviorismo: O Behaviorismo O Behaviorismo, o termo inglês behaviour ou do americano behavior, significando conduta, comportamento – é um conceito generalizado que engloba as mais paradoxais teorias sobre o comportamento, dentro da Psicologia. Estas linhas de pensamento só têm em comum o interesse por este tema e a certeza de que é possível criar uma ciência que o estude, pois, suas concepções são as mais divergentes, inclusive no que diz respeito ao significado da palavra ‘comportamento’. Os ramos principais desta teoria são o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical. Esta teoria teve início em 1913, com um manifesto criado por John B. Watson10 – “A Psicologia como um comportamentista a vê". Nele o autor defende que a psicologia não deveria estudar processos internos da mente, mas sim o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. Nesta época vigorava o modelo behaviorista de S-R, ou seja, de resposta a um estímulo, motor gerador do comportamento humano. Watson é conhecido como o pai do Behaviorismo Metodológico ou Clássico, que crê ser possível prever e controlar toda a conduta humana, com base no estudo do meio em que o indivíduo vive e nas teorias do russo Ivan Pavlov11 sobre o condicionamento – a conhecida experiência com o cachorro, que saliva ao ver comida, mas também ao mínimo sinal, som ou gesto que lembre 10 John Broadus Watson (Greenville, 9 de janeiro de 1878 — Nova Iorque, 25 de setembro de 1958) foi um psicólogo norte-americano, considerado o fundador do comportamentalismo (ou simplesmente behaviorismo). Para Watson, a psicologia não devia ter em conta nenhum tipo de preocupações introspectivas, filosóficas ou motivacionais, mas apenas e simplesmente os comportamentos objetivos, concretos e observáveis. 11 Ivan Petrovich Pavlov (Riazan, 26 de setembro de 1849 - Leningrado, 27 de fevereiro de 1936) foi um fisiologista russo conhecido principalmentepelo seu trabalho no condicionamento clássico. Foi premiado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904, por suas descobertas sobre os processos digestivos de animais. Ivan Pavlov veio, no entanto, a entrar para a história por sua pesquisa em um campo que se apresentou a ele quase que por acaso: o papel do condicionamento na psicologia do comportamento (reflexo condicionado). 34 a chegada de sua refeição. Assim, qualquer modificação orgânica resultante de um estímulo do meio-ambiente pode provocar as manifestações do comportamento, principalmente mudanças no sistema glandular e também no motor. Ivan Pavlo e a experiência sobre o reflexo condicionado. Mas nem toda conduta individual pode ser detectada seguindo-se esse modelo teórico, daí a geração de outras teses. Edward C. Tolman12 propõe o Neobehaviorismo Mediacional ao publicar, em 1932, sua obra Purposive behavior in animal and men. Na sua teoria, o organismo trabalha como mediador entre o estímulo e a resposta, ou seja, ele atravessa etapas que Tolman denomina de variáveis intervenientes – elos conectivos entre estímulos e respostas -, estas sim consideradas ações internas, conhecidas como gestalt- sinais. Esta linha de pensamento conduz a uma tese sobre o sistema de aprendizagem, apoiada sobre mapas cognitivos – interações estímulo-estímulo – gerados nos mecanismos cerebrais. Assim, para cada grupo de estímulos o indivíduo produz um comportamento diferente e, de certa forma, previsível. Tolman, ao contrário de Watson, vale-se dos processos mentais em suas pesquisas, reestruturando a linha mentalista através da simbologia comportamental. Ele via também 12 Edward Chace Tolman (West Newton, 14 de abril de 1886 — 19 de novembro de 1959) foi um psicólogo norte-americano. estudou no Massachusetts Institute of Technology (MIT), tendo-se doutorado, em 1915, na Universidade de Harvard. Os seus trabalhos enquadram-se na corrente behaviorista, considerando, contudo, que a proposta de explicação do comportamento presentada (estímulo-resposta) era muito redutora. Assim dever-se-ia ter em conta as intenções e objectivos do sujeito na explicação de um comportamento. Recusava a ideia de que a aprendizagem resultava apenas de tentativas e erros ou era aleatória. A aprendizagem era intencional, dirigida para objetivos - daí a sua concepção ser designada por behaviorismo intencional. De entre as suas obras pode-se destacar: Purposive behavior in animals and men , publicada em 1932 e Drives toward War. 35 no comportamento uma intencionalidade, um objetivo a ser alcançado, com traços de uma intensa persistência na perseguição desta meta. Por estas características presentes em sua teoria, este autor é considerado, portanto, um precursor da Psicologia Cognitiva. B. F. Skinner13 criou, na década de 40, o Behaviorismo Radical, como uma proposta filosófica sobre o comportamento do homem. Ele foi radicalmente contra causas internas, ou seja, mentais, para explicar a conduta humana e negou também a realidade e a atuação dos elementos cognitivos, opondo-se à concepção de Watson, que só não estendia seus estudos aos fenômenos mentais pelas limitações da metodologia, não por eles serem irreais. Skinner recusa- se igualmente a crer na existência das variáveis mediacionais de Tolman. Em resumo, ele acredita que o indivíduo é um ser único, homogêneo, não um todo constituído de corpo e mente. O behaviorismo filosófico é uma teoria que se preocupa com o sentido dos pensamentos e das concepções, baseado na idéia de que estado mental e tendências de comportamento são equivalentes, melhor dizendo, as exposições dos modos de ser da mente humana é semelhante às descrições de padrões comportamentais. Esta linha teórica analisa as condições intencionais da mente, seguindo os princípios de Ryle14 e Wittgenstein15. O behaviorismo não ocupa 13 Burrhus Frederic Skinner (Susquehanna, Pensilvânia, 20 de março de 1904 — Cambridge, 18 de agosto de 1990) foi um autor e psicólogo norte- americano. Conduziu trabalhos pioneiros em psicologia experimental e foi o propositor do behaviorismo radical, abordagem que busca entender o comportamento em função das inter-relações entre a filogenética, o ambiente (cultura) e a história de vida do suposto individuo. A base do trabalho de Skinner refere-se a compreensão do comportamento humano através do comportamento operante. O trabalho de Skinner é o complemento e o coroamento de uma escola psicológica. Skinner adotava práticas experimentais derivadas de física e outras ciências. Outros importantes estudos do autor referem-se ao comportamento verbal humano e a aprendizagem. 14 Gilbert Ryle (19 de agosto de 1900– 6 de outubro de 1976) foi um filósofo britânico pertencente a uma geração influenciada pelas teorias de Wittgenstein sobre a linguagem. Ryle é conhecido principalmente pela sua crítica ao dualismo cartesiano, para o qual ele cunhou a expressão "the dogma of the ghost in the machine" (o dogma do fantasma na máquina). Algumas de suas ideias sobre filosofia da mente foram consideradas como "behavioristas". Em seu livro mais conhecido, The Concept of Mind (1949), ele escreve que "a tendência geral deste livro será, indubitavelmente e sem conotação ofensiva, ser estigmatizado como "behaviorista". Para Ryle, a tarefa da filosofia seria trazer a clarificação. Para o filósofo há mais de uma forma de descrever as 36 mais um espaço predominante na Psicologia, embora ainda seja um tanto influente nesta esfera. O desenvolvimento das Neurociências, que ajuda a compreender melhor, hoje, o que ocorre na mente humana em seus processos internos, aliado à perda de prestígio dos estímulos como causas para a conduta humana, e somado às críticas de estudiosos renomados como Noam Chomsky16, o qual alega que esta teoria não coisas, e não se pode impor apenas uma descrição. Existem expressões sistemáticas ou enganadoras. Quando a substituição de termos resulta em um absurdo óbvio percebe-se claramente que as categorias são diferentes nas proposições. Os enigmas filosóficos surgem quando esta substituição não resulta em absurdo óbvio, necessitando de uma análise. Seus estudos vão chegar à análise dos conceitos mentais, combatendo o mito cartesiano do ‘fantasma na máquina’, acabando com o problema da fusão corpo e alma. 15 Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de abril de 1889 — Cambridge, 29 de abril de 1951) foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais atores da virada linguística na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente. Muitos o consideram o filósofo mais importante do século passado. O único livro de filosofia que publicou em vida, o Tractatus Logico-Philosophicus, de 1922, exerceu profunda influência no desenvolvimento do positivismo lógico. Mais tarde, as ideias por ele formuladas a partir de 1930 e difundidas em Cambridge e Oxford também impulsionaram um outro movimento filosófico - a chamada "filosofia da linguagem comum". Seu pensamento é geralmente dividido em duas fases. Para identificá-las, muitos autores recorrem ao artifício de atribuir os escritos da juventude ao Primeiro Wittgenstein e a obra posterior ao Segundo Wittgenstein, como se designassem autores distintos. A cada um desses períodos corresponde uma obra central na história da filosofia do século XX. À primeira fase, pertence o Tractatus Logico-Philosophicus, livro em que Wittgenstein procura esclarecer as condições lógicas que o pensamento e a linguagem devem atender para poder representar o mundo. À segundafase, pertencem as Investigações Filosóficas, publicadas postumamente em 1953. Nesse livro, Wittgenstein trata de tópicos similares aos do Tractatus (embora sob uma perspectiva radicalmente diferente) e avança sobre temas da filosofia da mente ao analisar conceitos como os de compreensão, intenção, dor e vontade. 16 Avram Noam Chomsky (Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna", também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica. Chomsky é Professor Emérito em Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e teve seu nome associado à criação da gramática ge(ne)rativa transformacional. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, tendo seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky. Seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenômenos da linguagem com uma crítica do 37 é suficiente para explicar fenômenos da linguagem e da aprendizagem, levam o Behaviorismo a perder espaço entre as teorias psicológicas dominantes. Gestalt Gestalt (guès) (do alemão Gestalt, "forma"), também conhecida como gestaltismo (gues), teoria da forma, psicologia da gestalt, psicologia da boa forma e leis da gestalt, é uma doutrina que defende que, para se compreender as partes, é preciso, antes, compreender o todo. Refere-se a um processo de dar forma, de configurar "o que é colocado diante dos olhos, exposto ao olhar". A palavra gestalt tem o significado "de uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos". A gestalt, ou psicologia da forma, surgiu no início do século XX e, diferente da gestalt-terapia, criada pelo psicanalista berlinense Fritz Perls17 (1893-1970), trabalha com dois conceitos: super-soma e transponibilidade. O filósofo austríaco Cristian von Ehrenfels18 apresentou esses critérios pela primeira vez em 1890, na Universidade de Graz. behaviorismo, nos quais a linguagem é conceitualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para a formação da psicologia cognitiva, no domínio das ciências humanas. Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário. Identifica-se com aquilo que é modernamente compreendido como "anarcossindicalismo", havendo também quem o associe ao anarcocomunismo ou ao comunismo de conselhos. 17 Friederich Salomon Perls, mais conhecido como Fritz Perls (Berlim, 8 de julho de 1893 — Chicago, 14 de março de 1970), foi um psicoterapeuta e psiquiatra de origem judaica que, junto com sua esposa Laura Perls, desenvolveu uma abordagem de psicoterapia que chamou de Gestalt-terapia. 18 Christian von Ehrenfels - Maria Christian Julius Leopold Freiherr von Ehrenfels - (Rodaun, Áustria, 2 de junho 1856 - Lichtenau, 8 de setembro 1932) foi um filósofo austríaco. Seus estudos contribuíram para o surgimento da psicologia da Gestalt. O livro "Sobre as qualidades formais", 1890, evidencia a existência de objetos perceptivos (como as formas espaciais, as melodias e as estruturas rítmicas) que não se reduzem à soma de sensações precisas, mas se apresentam originariamente como “formas”, isto é, como relações estruturais, ou seja, como algo diferente de uma soma de “átomos” de sensações. 38 . A adaptação: Piaget concede na sua teoria um lugar privilegiado ao problema de adaptação entre o indivíduo e o meio (Temas da Psicologia, 2017). Possibilita ao indivíduo responder aos desafios do ambiente físico e social. Dois processos compõem a adaptação, ou seja, a assimilação (uso de uma estrutura mental já formada) e a acomodação (processo que implica a modificação de estruturas já desenvolvidas para resolver uma nova situação). o os esquemas: constituem a nossa estrutura básica. Podem ser simples, como por exemplo, uma resposta específica a um estímulo-sugar o dedo quando ele encosta nos lábios, ou, complexos, como o modo de solucionarmos problemas matemáticos (Tavares, 2017). Para Piaget, há adaptação enquanto processo quando o organismo se transforma em função do meio e quando esta transformação tem por efeito um acréscimo das trocas entre ambos, favoráveis ao organismo. Para explicar este processo de trocas entre organismo e meio, que não é mais do que a adaptação, Piaget utiliza vários conceitos que estão directamente associados com a biologia, como por exemplo o de invariantes funcionais. Estas estas invariantes funcionais são os processos responsáveis pelos mecanismos dessas trocas entre organismo e meio, ou melhor, pelo funcionamento e gestão entre organismo e meio. Os mecanismos chamados de invariantes funcionais que definem a interacção adaptativa do sujeito ao meio são a assimilação e a adaptação (Temas da Psicologia, 2017). . Os esquemas Os esquemas estão em constante desenvolvimento e permitem que o indivíduo se adapte aos desafios ambientais (Tavares, 2017). Conforme Tafner (2017), ao referir-se à construção do conhecimento segundo Piaget, escreveu sobre “Os Esquemas” e que se deve antes de prosseguir com a definição da assimilação e da acomodação, introduzir um novo conceito que é amplamente 39 utilizado quando essas operações, assimilação e acomodação, são empregadas. Esse novo conceito que estamos procurando introduzir é chamado por Piaget de esquema (schema). Tafner (2017), comentou que Wadsworth (199619) define os esquemas como estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos reais, mas como conjuntos de processos dentro do sistema nervoso. Os esquemas não são observáveis, são inferidos e, portanto, são constructos hipotéticos. Tafner (2017) cita Pulaski (198620), esquema é uma estrutura cognitiva, ou padrão de comportamento ou pensamento, que emerge da integração de unidades mais simples e primitivas em um todo mais amplo, mais organizado e mais complexo. Dessa forma, temos a definição que os esquemas não são fixos, mas mudam continuamente ou tornam-se mais refinados. Uma criança, quando nasce, apresenta poucos esquemas (sendo de natureza reflexa), e à medida que se desenvolve, seus esquemas tornam-se generalizados, mais diferenciados e mais numerosos. O mesmo Tafner (2017) cita Nitzke e colaboradores (199721) segundo o quel escreve que os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança. De fato, um adulto, por exemplo, possui um vasto arranjo de esquemas comparativamente complexos que permitem um grande número de diferenciações. Estes esquemas são utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos, e graças a isto o organismo está apto a diferenciar estímulos, como também está apto a generalizá-los. O funcionamento é mais ou menos o seguinte, uma criança apresenta um certo número de esquemas, que grosseiramente poderíamos compará-los como fichas de um arquivo. Diante de um estímulo, essa criança tenta "encaixar" o estímulo em um esquema disponível. Vemos então, que os esquemas são estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles são percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com características comuns. 19 WADSWORTH, B. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São Paulo : Enio Matheus Guazzelli, 1996. 20 PULASKI, M A. S. Compreendendo Piaget.Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científicos, 1986. 21 NITZKE, J. A.; CAMPOS, M. B. E LIMA, MARIA F. P.. "Teoria de Piaget". PIAGET. 1997. http://penta.ufrgs.br/~marcia/piaget/ (20 de Outubro de 1997). 40 . A equilibração A equilibração das estruturas cognitivas: o desenvolvimento consiste em uma passagem constante de um estado de equilíbrio para um estado de desequilíbrio. É um processo de auto regulação interna. A assimilação e a acomodação são mecanismos do equilíbrio. Segundo Tavares (2017), de acordo com as possibilidades de entendimento construídas pelo sujeito, ele tende a assimilar idéias, mas, caso estas estruturas não estejam ainda construídas, acontece um esforço contrário ao da assimilação. Há uma modificação de hipóteses e concepções anteriores que vão ajustando-se àquilo que não foi possível assimilar. É o que ele chama de acomodação, onde o sujeito age no sentido de transformar-se em função das resistências colocadas pelo objeto do conhecimento. Conforme Temas de Psicologia (2017), são as transformações que o meio e os objectos impõem aos exercícios dos esquemas iniciais do sujeito, ou seja, as transformações que o meio e os acontecimentos operam no sujeito. Contrariamente à assimilação, onde os esquemas não são modificados, na acomodação o esquema inicial transforma-se em função dos novos objectos e do próprio meio. Diante de um estímulo diferente, ou radicalmente novo, a criança modifica as suas estruturas ou esquemas (acomodação), depois assimila objectos semelhantes àqueles para os quais ela já tem um esquema. Ex: com o esquema de sucção a criança chupa o seio e outros objetos. Na sucção de outros objetos não há modificação do esquema. Quando a criança começa a comer com uma colher, o esquema de sucção não serve, necessita de ser modificado para que o bebé se adapte à alimentação com a colher – É um exemplo de acomodação. Para Tafner (2017), nesta linha de pensamento em torno da teoria das equilibrações, Piaget, identifica três formas básicas de equilibração, são elas: 41 1. Em função da interação fundamental de início entre o sujeito e os objetos, há primeiramente a equilibração entre a assimilação destes esquemas e a acomodação destes últimos aos objetos. 2. Há, em segundo lugar, uma forma de equilibração que assegura as interações entre os esquemas, pois, se as partes apresentam propriedades enquanto totalidades, elas apresentam propriedades enquanto partes. Obviamente, as propriedades das partes diferenciam-se entre si. Intervêm aqui, igualmente, processos de assimilação e acomodação recíprocos que asseguram as interações entre dois ou mais esquemas que, juntos, compõem um outro que os integra. 3. Finalmente, a terceira forma de equilibração é a que assegura as interações entre os esquemas e a totalidade. Essa terceira forma é diferente da Segunda, pois naquela a equilibração intervém nas interações entre as partes, enquanto que nesta terceira a equilibração intervém nas interações das partes com o todo. Em outras palavras, na Segunda forma temos a equilibração pela diferenciação; na terceira temos a equilibração pela integração. Então, dessa forma, podemos ver a integração em um todo, segundo a teoria da equilibração como uma tarefa de assimilação, enquanto que a diferenciação pode ser vista como uma tarefa de acomodação. Há, contudo, conservação mútua do todo e das partes. Segundo o mesmo autor, embora, Piaget tenha apontando três tipos de equilibração, lembra que os tipos possuem o comum aspecto de serem todas relativas ao equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, além de conduzir o fortalecimento das características positivas pertencentes aos esquemas no sistema cognitivo. O desequilíbrio O desequilíbrio é, portanto, fundamental, pois, o sujeito buscará novamente o reequilíbrio, com a satisfação da necessidade, daquilo que ocasionou o desequilíbrio (Tavares, 2017). 42 A inteligência Segundo Tavares (2017), a inteligência para Piaget se constrói na medida que novos patamares de equilíbrio adaptativo são alcançados. Piaget concluiu sua obra explicitando qual o motor pelo qual este equilíbrio se processa, mas além disto, Piaget estudou exaustivamente a gênese das estruturas cognitivas nas crianças da sua comunidade. Piaget aborda a inteligência como algo dinâmico, que decorre da construção de estruturas de conhecimento que, enquanto vão sendo construídas, vão se instalando no cérebro. A inteligência portanto, não aumenta por acréscimo e sim por reorganização. Para ele o desenvolvimento da inteligência é explicada pela relação recíproca existente com a gênese da inteligência e do conhecimento. Piaget criou um modelo epistemológico com base na interação sujeito - objeto. Pelo modelo epistemológico o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto mas na interação entre ambos. Formas de conhecimento De acordo com IMES (2017), para Piaget, há três tipos de conhecimento: o físico, o social e o lógico matemático. Conhecimento físico Conhecimento físico é o que obtemos por meio da observação dos objetos na realidade externa. Exemplos: a cor de um objeto, o material de que ele é feito, o peso, o tamanho, etc. Conhecimento social Conhecimento social é aquele que herdamos da cultura do meio em que vivemos. Por exemplo, dizer “alô” quando atendemos ao telefone; saber o nome do “homem que descobriu o Brasil”. Esse tipo de conhecimento só pode ser adquirido por transmissão e é totalmente arbitrário, exigindo, por isso mesmo, memorização. Embora não seja recomendável o ensino da 43 matemática calcado unicamente na memorização de regras e definições, não se pode desprezar essa forma de reter o conhecimento. Ao estudar matemática é necessário que decoremos a sequência dos números naturais, os nomes das figuras geométricas e muitos outros dados. Conhecimento lógico-matemático O conhecimento lógico-matemático resulta das relações que o sujeito estabelece com ou entre os objetos, ao agir sobre eles. Por exemplo, ao observar duas bolas, uma azul e uma vermelha, a criança pode perceber-lhes a forma (o conhecimento físico) e aprender que chamam “bolas” (conhecimento social). No âmbito da experiência lógico-matemática, ela pode pensar que as bolas são “iguais” (ambas são bolas) ou “diferentes” (uma é azul, a outras é vermelha). Essa semelhança ou diferença não está em cada uma das bolas, isoladamente, mas foi criada na mente da criança no momento em que ela relacionou os objetos “bolas”. Assim, enquanto o conhecimento físico deriva das propriedades dos próprios objetos, o conhecimento lógicomatemático tem origem no próprio sujeito. Na verdade, porém, é impossível separar totalmente os três tipos de conhecimento, pois eles sempre se apresentam juntos Resumo dos tipos de conhecimento, segundo Piaget 44 Os Estágios Cognitivos Conforme Tafner (2017), Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras: aprendizagem e desenvolvimento. O mesmo autor escreveu que para Piaget, a aprendizagem refere-se à aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da experiência, obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este o responsável pela formação dos conhecimentos. 45 Tafner (2017), prossegue dizendo que Piaget, quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve- a, basicamente, em 4 estados, que ele próprio chama de fases de transição. Essas 4 fases são: Sensório-motor (0 – 2 anos) Pré-operatório (2 – 7,8 anos) Operatório-concreto (8 – 11 anos) Operatório-formal (8 – 14 anos) Esse trabalho fez Piaget, definir o caminho que percorreria ao longo de sua vida; pesquisar a epistemologiagenética, ou seja, como a criança aprende. Sensório-motor Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. Conforme Tafner (2017), também é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência essencialmente prática. É assim que os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de forma mais complexa." O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. Segundo os exemplos citados por Tafner (2017): O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca. Característica do estagio sensório-motor por mecanismos sensório-motores, no contato com a realidade, com ausências de manipulações simbólicas. Este período é caracterizado por 6 estágios (Cresça Brasil, 2017): 46 I. Estágio: (0 a 1 mês) . Imitação: Ex.: a criança é estimulada a chorar quando houve o choro de outras crianças (0 a 1 mês). As reações circulares, isto é, repetições reflexas de ações geram satisfação caracterizando-se por uma atividade equivalente ao brinquedo (a sucção, por exemplo). . Conceitos de Objetos: Os objetos são principalmente sensações. Não diferencia o objeto das suas sensações. . Espaço: A criança não aprende um espaço unitário, mas uma coleção de espaços desligados e organizados em torno das principais esferas sensório-motoras de atividade. Portanto existe um espaço oral, um visual, um auditivo e um tátil, em vez de um espaço comum, no qual todos os demais estão incluídos. . Causalidade: De acordo com a interpretação adulta, a causalidade transcende ao que seria viável nesse estágio. A gênese da causalidade expressa através do sentimento de que algo se reproduz, de eficiência ou de eficácia. . Tempo: A criança vivencia o sentimento vago de duração, imanentes às suas próprias ações. Nesse sentido, se confunde com as impressões de expectativas e de esforço, sem distinção entre o antes e o depois. II. Estágio: (1 a 4 meses) 47 . Imitação: É mais pré-imitativa do que imitativa. Nesse estágio, a criança jamais tenta imitar um som, um movimento que lhe seja novo. A imitação ocorre apenas quando o modelo imitou a criança. . Brinquedo: Há muito pouco indício de atividades lúdicas. . Aparecem repetições Aparecem repetições de ações que são feitas posteriormente, buscando satisfação. Conceito de objeto/espaço/tempo Semelhante ao estágio I. III. Estágio: (4 a 8 meses) . Imitação: A criança é frequentemente vista imitando deliberada e sistematicamente sons e movimentos feitos por outras pessoas. Mas só imita respostas presentes no seu repertório e as que pode ver e ouvir. . Brinquedos: Há o uso da ação apenas pelo prazer da atividade e não pela necessidade de acomodação. . Conceito de Objeto: 48 O início da extrapolação transcende a percepção imediata. Antecipa o objeto inteiro vendo apenas uma de suas partes; procura um objeto fora de seu campo visual etc. Porém há uma desistência imediata quando não acha o objeto. Espaço: Enquanto o espaço próximo (do sujeito) começa a ser percebido em esquemas de profundidade (busca visual de objetos, procura), o espaço amplo continua sendo a tela plana que caracteriza os dois primeiros estágios. No espaço próximo começa a perceber a si próprio (mão, braço, interagindo com os objetos), mas numa organização indiferenciada onde a ação e o objeto se confundem. Tempo: Percebe suas próprias ações e "seria" em relação aos efeitos ambientais que causam. Tem uma consciência elementar do antes e depois na sequênciação-resultado. Surge a capacidade de reter um fato que se deu no passado imediato. Causalidade: Começa a discriminar o ato de seu resultado, quando ela se percebe agindo IV. Estágio: (8 a 12 meses) Imitação: imita modelos novos. Na imitação muitas vezes se diferencia do modelo. Brinquedos: A criança abandona as finalidades da ação para brincar com os meios usados. Aparece também a "ritualização" (a criança 49 encontra um estímulo conhecido que usualmente está associado ao ato de ir dormir (travesseiro, lençol) e por alguns momentos, desenvolve o ritual de dormir: deita-se, chupa o dedo, etc. Espaço: O espaço não próximo deixa de ser um pano único e se torna organizado em regiões de profundidades diferentes. Causalidade: A criança considera o sujeito (agente) como a causa do movimento. V. Estágio: (1 ano a 1ano e 6 meses) Imitação: A imitação torna-se mais deliberada e ativa com mais habilidade e sutileza. Brinquedo: Além de repetir e variar uma ação, ela complica pelo prazer de fazê-lo. Conceito de Objeto: Aprende a procurar o objeto no local em que foi visto pela última vez. A criança não consegue encontrar o objeto quando há deslocamentos invisíveis que precisam ser inferidos ou imaginados Espaço: Há relações espaciais entre os objetos: empilhar objetos, colocar e retirar do recipiente. 50 Causalidade: Ela agora não se considera como uma causa, mas como um receptor de causas Tempo: Capacidade maior de seriar os próprios acontecimentos. Capacidade crescente de reter os acontecimentos na memória e num tempo maior. VI. Estágio: (1ano e 8 meses em diante) Imitação: Imitação adiada: a criança reproduz de memória um modelo ausente. Brinquedo: Aparece a simbolização. A criança é capaz de fingir e fazer de conta. Conceito de Objeto: imagina independente das suas ações uma série de objetos concretos que existe permanentemente no espaço. É visto como definidamente isolado, sujeito às suas próprias leis de deslocamento. Espaço: É capaz de controlar seus movimentos no espaço. É capaz de representar os deslocamentos invisíveis no espaço. Causalidade: 51 A capacidade de representação (imagens de memória) leva a criança a inferir uma causa, a partir do efeito, e a antecipar um efeito, a partir da causa. Tempo: A capacidade de reter fatos e de formar imagens facilita a recordação de fatos cada vez mais remotos: organização ordenada de acontecimentos relacionados com ações. Pré-operatório (2 a 7 anos) De acordo com Tavares (2017), é nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação, e esta substituição é possível, conforme Piaget, graças à função simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica. Conforme e mesma autora, a atividade sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e percepções intuitivas. Segundo Cresça Brasil (2017) a característica é o aparecimento acentuado das representações mentais, desenvolvendo as funções simbólicas (capacidade de simbolizar um fato real. Ex. "faz de conta"). Conforme o mesmo autor, esta fase é dividida em 2 estágios. 1 º Subestágio – nível pré-operatório São caracteristcas deste subestágio (Cresça Brasil, 2017): . Aparecimento da linguagem – da função simbólica. . Aparecimento da imagem. 52 A linguagem é nessa época um acompanhamento da ação, baseada em imagem. Os símbolos disponíveis para a manipulação mental e expressados em linguagem têm a propriedade de um preconceito.Preconceito é o intermediário entre o símbolo imaginado e o conceito propriamente dito e é definido como "... ausência de inclusão dos elementos em um todo e identificação direta dos elementos parciais entre si sem a mediação do todo." Conforme o mesmo autor, a criança é egocêntrica nas representações mentais, desenvolvendo a percepção centrada, sem considerar o ponto de vista do outro. Pouco esforço faz em adaptar a sua linguagem às necessidades do ouvinte. Não consegue pensar sobre o seu próprio pensamento. O mecanismo de centração e a dificuldade de descentrar leva esta criança a concentrar-se num único aspecto do objeto, o que produz a distorção do raciocínio; é incapaz de considerar vários aspectos do elemento. Assimilam os aspectos aparentes que mais chamam a sua atenção. Estados e transformações: as crianças se atem a um estado do objeto e não à transformação deste. Cresça Brasil (2017) informa ainda que, o pensamento é estático e imóvel. O mesmo autor ainda descreve as seguintes características: Equilíbrio: Ausência relativa de equilíbrio entre assimilação e acomodação. A criança é mais submissa às mudanças do que controladora das mesmas. Não possui um sistema em equilíbrio com o qual possa ordenar, formar com coerência o mundo que o cerca. Sua vida cognitiva com sua vida afetiva tende a ser instável, descontínua e momentânea. Ação: A criança já representa a realidade com imagens, mas essas representações estão mais próximas das ações explícitas. Não há tentativa do esquematizar, ordenar e refazer. Piaget 53 denomina esta fase de realismo quando as coisas para a criança são aquilo que parecem ser, na percepção imediata, egocêntrica. Irreversibilidade: As transformações não podem ser reversíveis, isto é não podem a partir dela, voltar ao que era. Isto não é percebido, principalmente porque na transformação não se percebe a constância dos elementos. Conceitos e raciocínios: Dificuldade de reconhecer a identidade de um objeto no decorrer de mudanças contextuais. Dificuldades de perceber elementos semelhantes pertencentes a uma classe, com suas diferenças individuais. Os preconceitos são estes conceitos generalizadores e não diferenciados. Animismo e artificialismo: Em sua visão do mundo possui conceitos primitivos de moral e de justiça e apresenta uma imaturidade generalizada nas tentativas de enfrentar intelectualmente problemas relativos ao tempo, causalidade e espaço. Não distingue claramente a atividade lúdica e a realidade como áreas cognitivas diferentes, com regras próprias. No animismo tudo possui alma e vida. Transdusão: Faz implicações entre dois fatos sem ter uma relação lógica: água quente implica em barbear-se. A criança raciocina de preconceito para preconceito. Justaposição e sincretismo: Justapor é reunir partes sem articulá-las, sem relacionar parte e chegar ao todo. 54 Pensamento sincrético é quando a criança relaciona tudo com tudo o mais. É buscar todos, sem relacioná-los entre si e com as partes. 2 ª Subfase Intuitiva De acordo com Cresça Brasil (2017), entre 4 e 7 anos assiste-se a uma nova estruturação dos esquemas cognitivos. Esta fase intermediária se caracteriza por um esforço considerável de adaptação à ideia de uma forma semissimbólica de pensamento que é o raciocínio intuitivo. Conforme o mesmo autor, já há uma exploração de vários traços do objeto, na busca de um todo. Mas ainda não há uma conservação de um todo. O erro é de ordem perceptiva, há uma construção intelectual incompleta. Ocorre progresso, entretanto, na medida em que o sujeito examina as configurações do conjunto, de maneira a relacionar duas dimensões, mas não amplia as suas conclusões sobre compensações e conservações porque ainda está muito presa às imagens perceptivas. A descentração progride, identificando vários traços de uma realidade e na tentativa de buscar relações. As regras mantêm maior constância e organizações, mas carecem de reversibilidade e de conservações e relatividade. Já começam as tentativas de agrupamento (por um traço apenas, sem inclusões de classe) e ordenações por um traço perceptivo, ainda apoiado em pareamentos (sem inclusão de séries). Tavares (2017), de forma resumida descreveu a criança do Estágio Pré-Operatório e suas características da criança neste estágio: É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro. Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês"). Já pode agir por simulação, "como se". Possui percepção global sem discriminar detalhes. Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. Exemplos: 55 Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações. Operatório-concreto (7 a 11 anos) Conforme Cresça Brasil (2017), durante este período, as deficiências do período anterior são em grande parte superadas. A criança adquire o conceito de conservação ou o princípio de invariância. As quantidades de água em vidros diferentes não mudam simplesmente porque a forma mudou. Se pegar uma mesma massa e transformá-la ora numa bola, ora numa salsicha, a quantidade não varia, simplesmente por ter mudado a forma. Além disso, a criança adquire o conceito de reversibilidade: no pensamento, as ideias podem ser retomadas, a situação original pode ser restaurada, as coisas transformadas podem voltar às suas origens. A criança tem mais capacidade de descentração, buscando as identidades e diferenças, além do percebido. Derivado desta capacidade, a criança pode classificar objetos sob um aspecto e desclassificá-lo sobre um outro (em um aspecto pertence a um conjunto, num outro aspecto pertence a outro grupo). Possui capacidade de ordenar os objetos tendo em vista uma qualidade padrão (ordenar varas de tamanhos diversos). Isto se dá porque consegue estabelecer relações. Estabelecer relação, classificando e seriando, faz com que o indivíduo deduza das ações percebidas, operações implícitas, porém estas operações são feitas tendo em vista objetos concretos. A simples verbalização para expressar relações não são compreendidas nesta fase. O mesmo processo se dá em relação a percepção espacial-temporal, isto é, todas as características de flexibilidade (reversibilidades) e constância de elementos aparecem na percepção de causa e efeito. Igualmente na avaliação (julgamento ético e estético) todas as características citadas acima entram no processo. Resumidamente, segundo Tavares (2017), neste estágio a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., sendo então capaz de relacionar diferentes 56 aspectos e abstrair dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata, depende do mundo concreto para abstrair. De acordo com a mesma autora, um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada. Exemplos: Despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação. Operatório-formal (11 ou 12 anos) Segundo Cresça Brasil (2017), o estágio das operações formais começa no início da adolescência. O adolescente pode raciocinar dedutivamente, fazer hipóteses a respeito de soluções para o problema, pensar simultaneamente em várias hipóteses. É capaz de raciocínio científico e de lógica formal e pode aceitar a forma de um argumento, embora deixe de lado seu conteúdo concreto, de onde se origina o termo "operações
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