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Metodologia do Parecer Jurídico

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METODOLOGIA DA ESTRUTURA DO PARECER TÉCNICO-FORMAL 
O professor bem sucedido já não é uma eminência que bombeia conhecimento à pressão em receptáculos passivos. [...] É um estudante mais velho, ansioso por ajudar os seus colegas mais novos. 
 William Osler
FONTE: PALADINO, Valquiria da Cunha (Org.) et al. Teoria e Prática da Argumentação Jurídica. 3.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008.
 Parecer origina-se do latim vulgar parescere, incoativo de parere, ‘aparecer’ (FERREIRA, 1998). Dentre os vários significados dados pelo filólogo, temos que o parecer é um juízo ou opinião, “fundamentada sobre determinado assunto, que deve ser verossímil, crível, provável”, emitida por especialista ou jurisconsulto, a qual fundada em razões de ordem doutrinária e legal, conclui por uma solução, que deve, a seu pensamento, ser aplicada ao caso em espécie. Em regra, o parecer técnico é provocado por uma consulta, em que se acentuam os pontos controversos da questão, a serem esclarecidos pelo parecerista. 
Quando ocorre estar a questão em discussão ou demanda judiciária, constitui praxe, sempre que oportuno, a juntada do parecer proferido pelo jurista como peça dos autos, pois o parecer é um argumento de prova técnica, quando não contestado pelas partes, torna-se argumento de prova concreta, servindo, inicialmente, de ponto de partida, para a construção de argumentos. 
A maioria dos pareceres judiciais são de decisões apeladas e o parecerista não julga, apenas expõe o fato, analisa, dimensiona, trazendo maiores esclarecimentos sobre os pontos controversos, sugerindo uma possível solução para o caso apresentado 
Na primeira instância, o parecer só é solicitado para determinados casos, como: curadoria de família, curadoria de massa falida, mandado de segurança e habeas corpus. Entretanto, nada impede que uma das partes, satisfazendo interesse particular, solicite a juntada de um parecer aos autos. 
 O promotor também atua como parte na ação (autor), quando propõe uma ação penal contra um réu criminoso ou, na esfera civil, quando atua na defesa dos interesses da sociedade (interesses coletivos afetos a um grupo determinados de pessoas ou interesses difusos, isto é, afetos a um grupo indeterminado de pessoas, por exemplo:direitos relativos ao consumidor, cidadania, meio ambiente, infância e juventude, dentre outros). 
Na instância superior, o promotor emite sempre um parecer, atuando em nome da lei, e se o juiz decidir de modo diferente do opinamento do Ministério Público, o promotor pode recorrer, caso a matéria lhe seja de grande interesse, cabendo a decisão final ao Tribunal Superior. 
O parecer, na verdade, é um documento produzido sob embasamento técnico ou jurídico, para que produza efeito esclarecedor e orientador. No plano jurídico, pode ser redigido em razão de três situações: Parecer em procedimento processual (ou de ofício), Parecer em consulta, Parecer em procedimento administrativo público (DE PLÁCIDO E SILVA, 200l). Entretanto, no momento, é do nosso interesse enfocar apenas a estrutura formal do Parecer. 
Segundo Rodríguez, há no campo jurídico a superioridade da forma à substância e que ambas não podem ser dissociadas na argumentação, pois a forma do discurso argumentativo vem a seu conteúdo intrinsecamente ligada. Ensina o teórico:
[...] A forma é um instrumento de garantia para uma série de direitos, substanciais. Não resguardada a forma, a substância, o que há de material, raramente seria igualmente preservado ou exercido, pois ela dá validade ao ato; [...] mas há um paralelo muito grande entre esse valor essencial da forma no direito e a forma na argumentação (2002, p. 158). 
Desse modo, fundamento, do latim fundamentum (firmeza, fortalecimento), é a palavra que se aplica no mesmo sentido de base ou razão, em que se firmaram as coisas ou em que se justificaram as ações. Segundo De Plácido (2001, p. 588), “o fundamento, pois, em relação às coisas, mostra-se a própria razão de ser delas. E em relação às ações que as legitimam”. Nesse sentido, então, os fundamentos se apresentam como fundamento de fato e fundamento de direito, que se exibem razões de ordem jurídica ou de fato, conforme se baseiam no Direito ou nas circunstâncias materiais que cercam os fatos. 
Nesse mesmo diapasão, ensina Aurélio (1998) que fundamento, do latim fundamentum, é a razão justificativa; motivo, ou seja, razões ou argumentos em que se fundamenta uma tese, concepção, ponto de vista etc. E que fundamentar é dar o fundamento a; documentar, justificar; estabelecer; firmar, alicerçar. Assim, segundo o filólogo, fundamento “é aquilo sobre o qual se apoia quer um dado domínio do ser (e, então, o fundamento é garantia ou razão do ser), quer uma ordem ou um conjunto de conhecimentos (e, então, o fundamento é o conjunto de proposições e de ideias mais gerais ou mais simples de onde esses conhecimentos se deduzem)”
Entretanto, De Plácido (2001) teoriza que qualquer sentido em que seja tomado, fundamento exprime sempre a série de circunstâncias que autorizam a prática de um ato, mostrando-se jurídico ou de direito, quando fundadas em regras jurídicas, e de fato, quando decorrentes de acontecimentos vistos. Fundamento é, pois, o motivo determinante e justificativo dos atos jurídicos, em virtude do que eles se autorizam, ou é a razão preponderante para a admissão de um pedido ou satisfação de uma pretensão, que é julgada procedente. 
Argumento, do latim argumentum, é, por vezes, tomado por extensão no sentido de argumentação, que está relacionada a uma solução-problema e é constituída pelo conjunto de argumentos mobilizados por uma ou outra parte, quando tal questão é debatida, tendo em vista um objetivo particular ou tese. 
Ensina De Plácido (2001, p. 77) no tocante a argumento:
Argumento do latim argumentum, de arguere (convencer, arguir, refutar, afirmar, declarar), é vocábulo que se usa para designar o raciocínio ou arrazoado, seja escrito ou oral, por meio do qual se quer tirar a consequência de uma ou mais proposições, isto é, em virtude do qual se procura provar, mostrar ou evidenciar a veracidade, procedência ou exatidão de afirmação feita. E assim se diz argumenta afferre (apresentar provas) ou argumenta solvere (destruir provas). E se conclui desse modo que o argumento tem a finalidade de construir provas ou de destruí-las. 
 
Aurélio (1998) assegura que argumento, do latim argumentum, é o raciocínio pelo qual se tira uma consequência ou dedução por meio de indício, vestígio para sustentar controvérsias. E que argumentar, do latim argumentare, é apresentar argumentos; aduzir os raciocínios que constituem uma argumentação. Tirar ilações; deduzir, concluir. 
Diante desse quadro, concluímos que a fundamentação nada mais é do que a argumentação propriamente dita, pois ao fundamentar o parecerista não só constroi bons raciocínios ou bons argumentos com competência linguística, como também externaliza-os e enuncia-os, buscando a persuasão do seu raciocínio próprio, por meio de argumentos, já que a fundamentação por si só não se sustenta, tornando-se inócua. Daí a necessidade de transformar os fundamentos em argumentos e vice-versa, pois para argumentarmos também precisamos elencar os fatos e transformá-los em argumentos, pois quem fundamenta argumenta e quem argumenta fundamenta. 
A nomenclatura fundamentação é usada apenas como forma no direito e nas peças jurídicas que buscam a persuasão do raciocínio próprio, ou seja, voltadas para o emissor, em opinamentos e atos decisórios, pois se volta para a convicção do julgador, sem necessitar da adesão do receptor (destinatário ou auditório). 
Aliás, é senso comum o fato de não existir em registro algum uma forma oficial para apresentação de um parecer; tanto em função processual, incumbida ao Ministério Público, como na esfera de voluntário pronunciamento no direito privado e também os realizados pela administração pública. 
Entretanto, há recomendaçõeslegais (Art. 129, VIII, CFB e na Lei 8. 25/93LONMP) de que é dever do Ministério Público sempre indicar os fundamentos jurídicos em seus pronunciamentos processuais. Ou seja, nenhum parecer pode deixar de ter fundamentos. 
De modo geral, principalmente, em linha de manifestação nos autos pelo Ministério Público, um parecer deve ser estruturado com os seguintes elementos: Identificação, Ementa, Fatos (Relatório), Fundamentação, Conclusão e Parte autenticativa. É obedecendo a essa estrutura, que trabalharemos aqui a forma do Parecer . 
Para uma produção textual com qualidade dessa peça jurídica, informamos os leitores, mais uma vez, da necessidade de obedecer à forma e ao conteúdo de cada um desses cinco elementos, já mencionados. Vejamos, agora, cada um deles isoladamente:
EMENTA
A palavra ementa deriva do latim ementa, plural ementum (pensamento, ideia), de e mens (juízo, razão, mente), e é aplicada, de modo geral, para indicar toda espécie de apontamento ou anotação tomada para lembrança, a fim de que, por aí, se produza depois o documento ou escrito, que se quer fazer, ou se execute o ato nela lembrado. 
No sentido administrativo, ementa, às vezes, significa o resumo de qualquer fato levado ao conhecimento de uma pessoa, para que por ela execute ou determine o serviço aí designado, ou representa, mesmo, uma determinação ou ordem para ser cumprida por aquele a quem é dirigida. Mas, em qualquer circunstância, a ementa traz sempre o sentido de apontamento ou anotação, para que se execute e se faça o que nela está inscrito. 
Em sentido próprio do Direito, que é nossa área de interesse, ementa significa o resumo que se faz dos princípios expostos em uma sentença ou em um acórdão ou o resumo do que se contém numa norma, levado à assinatura da autoridade a quem compete referendá-la ou decretá-la. Entretanto, nesse capítulo, o que nos interessa é apenas a ementa do parecer. 
1) EMENTA DO PARECER
 O parecerista, geralmente, funcionário público, incumbido de dar pareceres, apresenta apenas um opinamento sobre o caso concreto, como sugestão ou proposta para maior esclarecimento da situação de conflito e, consequentemente, maior compreensão para a decisão do julgador. 
Sendo assim, a ementa do parecer não apresenta dispositivo, pelo fato dessa peça não ser decisória, mas, sim, um breve resumo técnico do caso concreto em que se destacam os nexos de referência (fatos e consequências jurídicas), e o entendimento do parecerista em relação à análise feita dos fatos, provas e circunstâncias que compõem o caso concreto. A ementa tem, nesse contexto, fora o seu valor intrínseco, porque a ementa é parte integrante do parecer, uma função didática, pois sinaliza o entendimento do parecerista sobre determinado ponto. 
Entretanto, o parecerista não pode justificar ou explicar na ementa o porquê de ele ter chegado àquele opinamento, pois tal procedimento deve constar somente do corpo da fundamentação. 
Desse modo, a ementa é um texto meramente informativo, voltado, portanto, para a função referencial da linguagem, que, em sua simplicidade, dá conta da completude textual necessária para descrever ocorrência e fatos jurídicos, sem apresentar em seu bojo a fundamentação. 
Logo, a capacidade de síntese, nesse item, é importantíssima, pois a ementa se caracteriza por possuir a informação taquigráfica, por meio de frases nominais e palavras-chave, de rápida recuperação para pesquisa de dados, inclusive, quando informatizados. 
É importante a elaboração da ementa antes de se passar à produção do texto, porque ela obriga o redator a definir claramente o posicionamento, servindo de fio condutor de sua exposição. Não podemos apresentar nesse elemento do parecer verbos, conectores, nomes próprios de pessoas físicas ou jurídicas, legislação, tipificação do crime e devemos registrá-la ao extremo da margem direita, com oito linhas, no máximo, e em forma de bloco, conforme exemplos apresentados oportunamente. 
 Em referência à pontuação, assinalamos que na identificação dos nexos de referência/causalidade, que resumem tecnicamente a situação de conflito, usamos travessões e a primeira letra de cada palavra, em maiúscula. Já no entendimento do texto, que marca o posicionamento do parecerista, segue-se a pontuação gramatical normal. 
Registramos que os fatos, provas e circunstâncias a serem analisados pelo parecerista devem ser ordenados de forma alinear, isto é, decrescente. Ou seja, inicia-se a ementa sempre pelo fato antijurídico – o que gerou a situação de conflito, numa situação de gradação – do maior (fato antijurídico ou ilícito) para o menor (fatos relevantes que auxiliam a composição do conflito), apresentando as relações de causa e consequência entre eles; e, em seguida, o entendimento do parecerista sobre o caso concreto analisado, marcando o posicionamento tomado por ele que, logicamente, deve estar coerente com a linha de seu entendimento. 
Exemplificando:
 Venda de imóvel com cláusula de inalienabilidade. Testamento. Herdeiro maior. Conclusão universitária Transformação da área de localização do imóvel em alta periculosidade. Depreciação do bem. Possibilidade de autorização da alienação na contrapartida de depósito bancário substituidor. Iminência de grandes perdas em espécie.Parecer favorável à venda do imóvel.
2) RELATÓRIO DO PARECER
 O relatório é, exatamente, o relato do que aconteceu e não pode ser uma parte prolixa, perdendo-se em minúcias sem importância. Na produção do relatório, registramos somente o indispensável, as principais ocorrências e os pontos que deverão ser analisados pelo parecerista. Na verdade, prenda-se mais aos fatos e às circunstâncias em que eles ocorreram assim como nas evidências das provas ou indícios. 
 Deve ser completo, dando uma visão geral dos fatos relevantes ocorridos e possibilitando uma transição lógica e coe​rente para a fundamentação . Esse elemento do texto jurídico deve ser marcado pela isenção, pois aqui ainda não é o momento de o parecerista ou similar tomar posição, por isso não é de boa técnica o uso de linguagem modalizada. 
 O relatório deve também, assim como todas as outras partes da peça processual, ser redigido em linguagem simples, clara, concisa e objetiva, obedecendo, logicamente, à modalidade culta da língua, pois terá de ser inteligível e insuscetível de interpretações ambíguas ou equívocas, com aproveitamento, quando for oportuno, da palavra técnica, do vocabulário jurídico. De bom conselho é evitarem-se períodos muito longos e ordem inversa dos termos oracionais que dificultam o entendimento do texto e favorecem erros de regência e concordância. 
Devemos nos preocupar também com a estética e harmonia textual – evitando a grande desproporção de folhas ou parágrafos entre o relatório e a fundamentação, e com a teoria da polidez da linguagem, sem fazermos uso de termos da gíria, a não ser, quando de extrema importância, empregados em alguma passagem ou frase transcrita, nem termos ofensivos para quaisquer das partes, porque elegância, como sabemos, especialmente no redigir, é sinal também de imparcialidade. 
O relatório, a fundamentação e a conclusão devem manter coerência entre si, de modo a não haver fundamentação diversa do relatado e conclusão destoante da fundamentação apresentada. Como também a conclusão do parecer não pode estar destoando do opinamento dado na ementa. 
A ordem cronológica na elaboração do relatório é a mais apropriada, pois, sendo ele o elemento narrativo da peça processual jurídica vai trazer o relato dos fatos relevantes ocorridos no caso concreto; facilitando, assim, a compreensão da leitura de história processual. 
De grande utilidade é a divisão da peça jurídica, com elementos bem delineados: ementa, relatório, fundamentação, conclusão, parte autenticativa e, como é de praxe, ao final do relatório, constar de (em caixa alta) É O RELATÓRIO; iniciando, a seguir, a parte da fundamentação, conforme ensina Oliveira (2001). O relatório é, na verdade, a sequência narrativado histórico de como nasceu a questão em que os fatos são expostos, visando a mostrar o referencial sobre o que efetivamente a conclusão do parecer vai, ao final, se referir. 
Exemplificando (Acórdão-Relator: Des. Sérgio Cavalieri Filho):
RELATÓRIO
A Casa de Saúde Santa Helena está sendo acusada de provocar a morte do recém-nascido Alan Marques Amaral, devido à alta hospitalar prematura dada, em 9 de abril de 1996, no município de São Gonçalo, em Niteroi, Rio de Janeiro. 
Alan Marques Amaral, filho de mãe desnutrida e fumante, nasceu de parto normal, com peso inferior ao normal, 1. 800 gramas, com deficiências respiratórias, e 24 horas após o seu nascimento, ele e a mãe receberam alta hospitalar. 
Mãe e filho retornaram, oito horas depois, à Casa de Saúde, este quase desfalecido e sendo socorrido pelo mesmo médico que o assistiu ao nascer e que, naquele momento, lhe introduziu uma sonda nasogástrica. Entretanto, após receber esse atendimento hospitalar, a criança veio a falecer de insuficiência respiratória e hemorragia digestiva, conforme depoimento de fls. 21 do próprio médico que autorizou a alta, e pelo registro de óbito de fls. 7 
De acordo com o depoimento do médico que atendeu Alan, ao nascer, e que lhe prestou também atendimento quando este retornou à Casa de Saúde, sempre que uma criança nasce com problema, nas 24 horas seguintes ao nascimento, o estabelecimento hospitalar transfere o recém-nascido para o berçário patológico para receber o tratamento devido e que tal procedimento não foi feito em relação ao Alan Amaral. 
Hamilton da Paixão Amaral e sua mulher, pais do recém-nascido, entraram na Justiça contra a Casa de Saúde Santa Helena, solicitando indenização por danos morais e patrimoniais. 
A sentença (fls. 30/35) condenou a ré a pagar aos autores indenização por dano moral – 100 salários mínimos – despesas com funeral e pensões vincendas, a serem apuradas em liquidação, durante nove anos, compreendidos entre os 16 e os 25 anos do filho dos autores. 
A Casa de Saúde recorreu sustentando que não existe nos autos prova da culpa do estabelecimento hospitalar e aduz não ter a sentença considerado que o recém-nascido é filho de mãe desnutrida, fumante, e que esta não fez sequer acompanhamento pré-natal. 
O estabelecimento hospitalar alegou, ainda, que a sentença não considerou a baixa situação social-financeira dos pais de Alan, causa principal da mortalidade infantil, e que a introdução da sonda não foi a causa da morte da criança. Pede a reforma da sentença. 
 É O RELATÓRIO. 
 (2ª Câmara Civil – Apelação Civil nº 1. 217/93 – Relator: Des. Sérgio Cavalieri Filho, com adaptações pelo professor. )
3) FUNDAMENTAÇÃO
O parecer é uma análise que resulta de fatos concretos e dados objetivos. Para que o juiz possa reconhecer força persuasiva ao parecer técnico é necessária a exposição dos motivos que o determinaram, porquanto, meramente opinativo, convence pela força dos fundamentos em que repousa. 
A fundamentação do parecer consiste na análise dos fatos e do direito e da valoração do caso concreto, fazendo uma análise técnica ou técnico-jurídica sem abandonar as razões já apresentadas, para que possa realizar um opinamento consistente. 
Impõe a técnica jurídica, também, a ordem lógica na fundamentação, devendo o parecerista por primeiro conhecer as condições de ação, bem como as questões prejudiciais, para, então, finalmente apresentar uma proposta ou sugestão para o caso concreto; não podendo deixar de explicar como conseguiu chegar àquela solução, sem necessidade, contudo, de fazer uma operação demasiadamente minuciosa em fatos nada relevantes para os autos. 
O técnico não pode tender para um dos lados da demanda, pois a atividade dele pressupõe retidão, sem concessões com uma das partes ou comprometimento com uma delas. Assim, o parecerista deve procurar ser justo, técnico e imparcial, suge​rindo uma solução clara e completa, de acordo com a análise feita sobre os autos, e com o corpo do relatório já apresentado. Deve também ele ficar atento a determinados fatos que podem não ter sido bem pesquisados ou apresentados pelas partes em litígio – considerados desnecessários – que ponderados cuidadosamente apontam para uma possível solução. 
Na fundamentação, o parecerista explicita, pois, os argumentos (provas, fatos, circunstâncias) que sustentam o seu ponto de vista (tese ou conclusão), agasalhando todas as hipóteses, utilizando-se de uma linguagem técnica. Além disso, pode fa​zer uso nesse tópico, de recursos polifônicos (Religião, Mídia, Opinião pública, Família, Moral, Costumes etc. ), técnicas argumentativas e estratégias discursivas, para tentar enriquecer a sua fundamentação e buscar convencimento maior de seu raciocínio próprio. 
A fundamentação é a parte mais importante porque o parecerista dará ali seu opinamento, concordando com os fatos ou discordando deles, por isso deve ter sempre uma costura com algum ou alguns dispositivos, no sentido de que o raciocínio vá sendo mostrado atreladamente à norma legal. Não existe, na redação do parecer, uma opinião livre, subjetiva de seu autor. A lei, a norma são os pontos a que obrigatoriamente terá o parecerista de vincular-se para expressar seu entendimento (2ª Câmara Civil – Apelação Civil nº 1. 217/93 – Relator: Des. Sérgio Cavalieri Filho, com adaptações pelo professor. )
 . 
Exemplificando
FUNDAMENTAÇÂO:
Alan Marques Amaral, a infeliz vítima, nasceu de parto normal, mas com peso muito inferior ao normal – apenas 1. 800 gramas. Mesmo assim, 24 horas após o parto, a vítima e sua mãe tiveram alta hospitalar. Cerca de oito horas mais tarde, Alan retornava ao hospital já desfalecido, onde veio a morrer pouco depois por insuficiência respiratória e hemorragia digestiva alta. Esses fatos estão comprovados pelo depoimento de fls. 21, do próprio médico que autorizou a alta, e pelo registro de óbito de fls. 7. 
Ora, até um leigo é capaz de identificar a relação de causalidade existente entre a alta hospitalar prematura e a morte de uma criança nascida com peso muito inferior ao normal e com deficiência respiratória. A eventual desnutrição da mãe e da própria criança não foi a causa adequada da morte desta última, foi apenas uma concausa antecedentetal como a hemofilia, osteoporose etc. – mas que por si só não produziu o resultado morte. Inúmeras crianças nascem prematuramente e são salvas. 
O próprio médico que prestou depoimento às fls. 21 informou que, quando alguma criança nasce com problema, nas 24 horas seguintes ao nascimento, a clínica transfere o recém-nascido para o berçário patológico para receber o tratamento devido. Mas isso não foi feito com Alan, o que torna a apelante responsável por sua morte. 
Em face desse quadro, a apelante, por ser prestadora de serviços, deve responder objetivamente pela reparação dos danos causados à família, conforme reza nosso Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 2º, que enquadra perfeitamente a atividade dos estabelecimentos hospitalares, sendo os seus clientes, como destinatários finais desses serviços, consumidores por definição legal. 
 Pois bem, o artigo 14 do Código do Consumidor é de clareza solar ao responsabilizar o fornecedor de serviços, independentemente de culpa – vale dizer, objetivamente – pela reparação à prestação dos serviços. Desse modo, provada a relação de causalidade entre o serviço defeituoso e o dano, responde o fornecedor independentemente de culpa, à luz da legislação que protege o consumidor. 
Mesmo que assim não o fosse, a culpa dos prepostos da apelante resultou plenamente configurada na modalidade de negligência e imperícia, negligência porque não foram capazes de detectar as deficiências físicas de Alan, mormente respiratórias, a despeito de ter nascido com peso muito inferior ao normal, filho de mãe desnutrida (fls. 21), imperícia porque a hemorragia digestiva, apontada na certidão de óbito de fls. 7, como uma das causas da morte da vítima, foi provocada pela introdução da sonda nasogástrica (fls. 21,in fine). 
Ressalta-se que, nesses casos, os pais só devem fazer jus à indenização pelo dano moral, de acordo com a mais atual doutrina e jurisprudência, pois não sofreram nenhum prejuízo econômico, só moral. 
Na realidade, o que se indeniza em casos tais é a dor e o sofrimento dos pais pela morte do filho menor, já que não existe dano patrimonial indenizável com filho menor, antes de idade de trabalho. 
4) CONCLUSÃO
Na conclusão, o parecerista apresenta uma proposta ou sugestão para a solução do caso concreto que será apreciada pelo juiz e pelas partes atuantes. Ou seja, neste momento, o parecerista apresenta o resultado de sua análise e, nela, estabelece sua proposta de entendimento. 
As únicas formas verbais aceitas na conclusão do parecer são: sugere-se, propõe-se, opina-se, recomenda-se, pois parecerista não julga nem solicita ou pede coisa alguma, apenas analisa o caso concreto e apresenta um opinamento que poderá ser aceito total, parcial ou até rejeitado pelo julgador. 
Exemplificando
Em face ao exposto, propõe-se que seja excluída a indenização por dano patrimonial e sugere-se a indenização por dano moral como também as despesas com o funeral. 
5) PARTE AUTENTICATIVA
Ao final do parecer, o parecerista precisa assiná-lo, datá-lo e, se possível, informar o órgão do qual ele fizer parte e/ou até o registro da OAB, se for o caso. 
9. 5 ESTRUTURA FORMAL DO PARECER
PARECER 
2 linhas
I – EMENTA
	1 linha				 
		 
2 linhas 
II-RELATÓRIO
1 linha
 É O RELATÓRIO. 2 linhas
III-FUNDAMENTAÇÃO
	1 linha 
2 linhas
IV-CONCLUSÃO
1 linha
 
2 linhas
V- PARTE AUTENTICATIVA	
 
Data
Assinatura
Órgão
9. 6 SUGESTÕES DE PARECER 
PARECER 1
I) EMENTA
Suspensão do fornecimento de água- Exposição do usuário ao ridículo- Autoridade coatora- Obrigação no fornecimento de serviços adequados.Serviço essencial à dignidade do cidadão. Corte ilegal no fornecimento de água como obrigação do cidadão para quitação da sua dívida. Existência no Poder Público de meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários. Parecer favorável à religação da água. 
II) RELATÓRIO
O pescador Ademar Manoel Pereira morava com a família, em julho 2004, em um barraco de madeira que incendiou e todos os móveis foram destruídos, não podendo nada ser recuperado. E, por isso, devido às dificuldades financeiras, atrasou o pagamento das contas de água à CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento). 
Conforme afirmou Marlene Teixeira Pereira, esposa do pescador, ela foi ao escritório da companhia para pedir o parcelamento da dívida, pois não teriam condições de pagar a quantia à vista, porque o marido estava reconstruindo a casa com a ajuda da comunidade local, e não poderia a sua família ficar sem água. 
Entretanto, o representante da CASAN negou o pedido de Marlene Pereira e a companhia cortou o fornecimento de água devido ao atraso de pagamento por parte do usuário, em dezembro de 2004. 
O pescador, que hoje trabalha na Prefeitura de Piçarras (SC), onde recebe um salário de 400 reais, entrou com mandado de segurança em face da empresa. 
A primeira instância acolheu o pedido de Ademar Manoel. 
A CASAN, então, apelou ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, alegando que o fornecimento de água constitui serviço remunerado por tarifa, e que deve ser permitida sua interrupção no caso de não pagamento das contas. 
 É O RELATÓRIO. 
III) FUNDAMENTAÇÃO
 O fornecimento da água não pode ser interrompido por inadimplência, pois, por se tratar de serviço público fundamental, é essencial e vital ao ser humano, não podendo, assim, ser suspenso pelo atraso no pagamento das respectivas tarifas, já que o Poder Público dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários. 
 A Companhia Catarinense de Águas cometeu, grosso modo, um ato reprovável, desumano e ilegal. É ela obrigada a fornecer água à população de maneira adequada, eficiente, segura e contínua e, em caso de atraso por parte do usuário, não poderia ter cortado o seu fornecimento, expondo o consumidor ao ridículo e ao constrangimento, casos previstos, inclusive, no Código de Defesa do Consumidor. 
 É fato que o art. 42 do CDC não permite, na cobrança de débitos, que o devedor seja exposto ao ridículo, nem que seja submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Embora a CASAN alegue que o fornecimento de água constitui serviço remunerado por tarifa, e que deve ser permitida sua interrupção no caso de não pagamento das contas, ela deve usar os meios legais próprios, não podendo fazer justiça privada porque hoje se vive no império da lei, e os litígios são compostos pelo Poder Judiciário, e não pelo particular. 
 A água é bem essencial e indispensável à saúde e higiene da população. Seu fornecimento é serviço público indispensável, subordinado aos princípios da continuidade, sendo impossível, pois, a sua interrupção e muito menos por atraso no seu pagamento. 
 Primeiramente, resta evidente que o fornecimento de serviços água encanada em áreas urbanas, é considerado serviço público essencial, assim definido pela Lei 7. 783 de 28. 6. 89. Como todo e qualquer serviço público, o fornecimento de água está sujeito a cinco requisitos básicos: a) eficiência; b) generalidade; c) cortesia; d) modicidade e finalmente e) permanência. 
 A permanência, principalmente no que tange aos serviços públicos essenciais, está ainda sedimentada no artigo 22 "caput - in fine"do Código de Defesa do Consumidor: "Art. 22: Os órgão públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quando essenciais, contínuos" (grifo nosso)
 Assim, resta como evidente que o serviço de fornecimento de água, por ser essencial, não pode ser interrompido sobre qualquer pretexto. Evidentemente, que a empresa concessionária pode utilizar-se de todos os meios juridicamente permitidos para fazer valer seu direto de receber pelos serviços prestados. 
 A requerida como concessionária dos serviços de fornecimento de água encanada a população, explora na verdade um serviço público essencial à dignidade humana, posto que ligada diretamente a saúde e ao lazer. 
 Aliás, a dignidade da pessoa humana, encontra-se entre os princípios fundamentais de nossa Nação, como se encontra insculpida no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. E mais, o artigo 6º da Carta Magna, reconhece que a saúde e o lazer são direitos sociais assegurados a todos os cidadãos e que incumbem ao Estado conforme se vê do artigo 196 da Constituição Federal, in verbis: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". A matéria novamente foi referendada pelo CDC na primeira parte do inciso I do artigo 6º: "Artigo 6º - São Direitos básicos do consumidor: I - a proteção à vida, à saúde....”
 Não pode desta forma a requerida, como concessionária de serviços públicos de fornecimento de água encanada, proceder a cortes, a fim de coagir a requerente ao pagamento, já que se trata, o seu fornecimento, de um dos direitos integrantes da cidadania. 
 Se não houve o pagamento, incumbe à empresa concessionária do serviço adotar providências que a lei lhe assegura para efetuar a cobrança do que lhe é devido. O que não se pode admitir nem permitir, é a absurda exceção concedida a estas empresas para que procedam à margem da lei e do judiciário, realizando sua própria justiça, "Manu militari". 
Portanto, o inadimplemento quanto ao pagamento da taxa de água não dá à concessionária o direito de suspendero fornecimento, como forma de compelir o usuário a pagar a dívida. Tal conduta extrapola os limites da legalidade, existindo, como já se sabe, outros meios para buscar o adimplemento do débito. 
IV) CONCLUSÃO
 Em face do exposto, sugere-se o não-acolhimento do pedido da Companhia Catarinense de Águas e à religação da água e cobrança pelas vias adequadas para recebimento de pagamentos em atrasos
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V) PARTE AUTENTICATIVA
Niterói, 17 de agosto de 2008. 
Assinatura do parecerista
Titulação do parecerista
PARECER 2
EMENTA
 Venda de imóvel. Cláusula de inalienabilidade. Testamento. Herdeiro maior. Conclusão universitária. Transformação da área do imóvel em alta periculosidade. Excesso de criminalidade. Depreciação do bem. Possibilidade de autorização da alienação na contrapartida de depósito bancário substituidor..Parecer favorável à quebra da cláusula e venda do bem patrimonial. 
II) RELATÓRIO
João Paulo Soares é herdeiro de um imóvel deixado por seu tio materno, sob testamento com cláusula condicionada, impedindo sua alienação temporária até que o herdeiro complete 25 anos e que tenha concluído curso superior. 
Ocorre que João Paulo Soares ainda não atingiu a idadecondição, estando com 21 anos completos, e cursando ainda Economia, e o referido imóvel, apartamento de dois quartos em prédio de escadas, está situado em cercanias identificadas como região de constante e crescente criminalidade e periculosidade, causa de acelerada depreciação. 
Devidamente provado nos autos, não apenas com sequência de fotos, mas também por avaliação técnica sobre a região em que se acha o imóvel, postulou o agravante a venda do bem, em face da desvalorização decorrente, devendo a importância ser depositada em banco para liberação, até que se efetivem as condições testamentárias estabelecidas. 
A pretensão do agravante foi indeferida pelo julgador de primeiro grau, sob o fundamento de que o Código Civil, por seu artigo 1. 676, torna nulo ato judicial que não considere cláusula de inalienabilidade. 
 É O RELATÓRIO. 
III) FUNDAMENTAÇÃO
A escritura testamentária, com condição de cláusula de inalienabilidade por tempo até que o herdeiro adquira maioridade determinada e após conclusão de curso superior, não deve ser analisada como impossibilidade de autorização de alienação na contrapartida de depósito bancário, uma vez que o agravante, João Paulo Soares, tem como intenção apenas salvaguardar o valor patrimonial, recebido de herança, apresentando sempre lisura e boa-fé em seu pedido. Logo, tal situação deve ser valorada e julgada não só pela lei fria, pois trata-se de um fato atípico. 
A pretensão, negada sentencialmente, não infringe o escopo do artigo da lei substantiva, pois, em verdade, operacionalizar-se-á inversão financeiro-patrimonial. O efeito da cláusula testamentária tem por objeto a salvaguarda do patrimônio como valor e substância de riqueza e não propriamente o imóvel em si, protegendo o que ele representa de patrimônio. 
Portanto, não ocorre violação do artigo 1. 676 do CC; pois a alienação do imóvel, com depósito do valor, não alterará o patrimônio, logo ele estará continuadamente garantido, sob nova forma. 
E, analogicamente, pode-se citar os efeitos do artigo 1. 648 do mesmo diploma em que é dado ao Juiz o poder de suprir outorga para que se aliene um bem de casal em que um dos cônjuges, sem razão objetiva, denegue sua autorização. 
O caso não se encerra no regramento do artigo 1. 911, pois a inalienabilidade se aplica essencialmente ao patrimônio e não especificamente ao apartamento em questão, cujo valor se deteriora em razão de sua localização em contexto social problemático. 
No direcionamento da proteção patrimonial do apelante e de sua futura família, cita-se a palavra abalizada do especialista Melhim Chalhub (2003, p. 58) que observa: “Registre-se, por relevante, a garantia do direito individual de propriedade, considerados os bens necessários à garantia da subsistência do indivíduo e sua família”. 
Embora o sentido sentencial pretendesse impedir a quebra da cláusula de inalienabilidade sob a égide do artigo 1. 911 do CC, infere-se do caso em tela uma situação de anomalia que vem depreciando o valor de um patrimônio, a cuja titularidade o agravante atingirá, uma vez vencida a obrigação testamentária, logo considerando-se os fatos e as circunstâncias apresentadas, não há ilegalidade na quebra da cláusula em questão. 
Em verdade, na ocorrência da inversão financeira do patrimônio legado pretendida, convolando-o em espécie, que corretivamente evitará que se deteriore, não haverá desatendimento à intenção do testador; ao contrário, preservar-se-á o patrimônio como bem deixado ante sua desvalorização circunstancial. 
IV) CONCLUSÃO
 Em face do exposto, sugere-se a quebra da cláusula de inalienabilidade. 
V) PARTE AUTENTICATIVA
 
Niterói, 17 de agosto de 2008. 
Assinatura do parecerista
Titulação do parecerista
 
 
 PARECER 3 
I- EMENTA
Acidente de carro. Menor. Perda de sangue. Necessidade de transfusão. Não autorização dos pais. Motivos religiosos. Direito à vida. Liberdade religiosa. Ponderação de valores. Paciente incapaz, sem possibilidade de autorização judicial. Prática médica obrigatória na imposição do tratamento. Parecer favorável à realização de transfusão no menor.
II-RELATÓRIO
 Lorena Pereira, 38 anos de idade, Paulo Pereira, 40 anos de idade, Rua X, na e Pedro Pereira, x, 8 anos de idade, todos domiciliados na Rua Barata Ribeiro, nº 67, em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, sofreram um grave acidente de carro, enquanto viajavam para Angra dos Reis, em 10 de março de 2010.
 Em consequência do acidente, Pedro Pereira, o filho do casal, ficou preso nos escombros do carro. Após alguns minutos, a ambulância chegou e o menor foi retirado dos escombros pelos médicos, encontrando-se em estado grave. O casal, porém, saiu ileso do acidente.
 O menor foi levado para o Hospital Municipal de Angra dos Reis onde foi examinado pelo médico Dr. Paulo Rainho de Menezes que constatou hemorragia generalizada e, consequentemente, que o menor precisaria de uma transfusão de grande quantidade de sangue. Os pais do menor não autorizaram a transfusão de sangue por motivos religiosos o que levou o menor a falecer em decorrência de hemorragia generalizada algumas horas depois.
 É O RELATÓRIO.
III- FUNDAMENTAÇÃO
 Os princípios constitucionais tem como objetivo a criação de deveres inderrogáveis do poder público. No caso concreto em ponderação estamos diante do Princípio da Dignidade da vida Humana e do Princípio de Unidade da Constituição.
 O Princípio da Dignidade Humana é uma dos princípios fundamentais do estado brasileiro e está consagrado no artigo 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
 O princípio de Unidade de Constituição, de acordo com Luiz Roberto Barroso, é uma especificação de interpretação da Constituição de acordo com qual temos o dever de harmonizar as tensões e contradições entre normas jurídicas, inclusive na própria Constituição. Assim a interpretação deve promover uma concordância prática entre os bens jurídicos, garantindo ao máximo a preservação de cada um. (BARROSO, Luiz Roberto; Direito Constitucional Contemporâneo, São Paulo, Saraiva, 2009, p 302 e 303). Isto implica que devemos fazer uma ponderação de valores em cada caso concreto.
 O caso concreto nos confronta com um conflito de direitos fundamentais. De um lado o direito absoluto à vida, diretamente ligada ao Princípio da Dignidade Humana, consagrado no direito pátrio no artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988, e do outro lado a liberdade religiosa, consagrado no artigo5º, inciso VI, da Constituição Federal de 1988. 
 De acordo com o Parecer Jurídico de Manoel Gonçalves, em caso de conflito de direitos fundamentais, a pessoa, titular de ambos, deve escolher qual deles prevalece (FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. “Questões Constitucionais e legais referentes a tratamento médico sem transfusão de sangue”. Parecer. São Paulo, 24 de outubro de 1994., p.21). Nessa mesma linha de raciocínio, Luis Roberto Barroso, em seu parecer sobre a legitimidade de recusa de transfusão de sangue, ensina-nos que é intrínseca à dignidade humana a responsabilidade por sua própria vida por meio dos seus valores e objetos que se manifesta como a autonomia da pessoa. Assim a liberdade religiosa se integra na autonomia da pessoa e não cabe ao Estado avaliar o mérito da escolha da pessoa, a não ser para defender os direitos dos outros. Para ele, se o titular do direito à vida manifesta, de forma válida, a recusa a transfusão de sangue, essa recusa é legitima, e o Estado não pode impor o tratamento. (BARROSO, LUIS ROBERTO; “Legitimidade da recusa de transfusão de sangue por testemunhas de Jeová. Dignidade Humana, Liberdade Religiosa e escolhas existenciais”; Rio de Janeiro 2010. paginas 1 a 42). Entretanto, esse não é o nosso caso em estudo, visto que o paciente era incapaz.
 Pois bem, em caso de conflitos de direitos fundamentais, deve-se fazer uma ponderação de valores, pois não há uma hierarquia entre os direitos fundamentais. Deve-se também verificar se não existe uma contradição e esta contradição existe no caso concreto em tela. A vida é um bem jurídico indisponível, porém, ao se aceitar que os pais, por motivo religioso, podem levar a vida do menor a falecer, por não intervir e fazer a transfusão de sangue, a vida torna-se um bem disponível, desde que o menor seja absolutamente incapaz.
 A Convenção Americana de Direitos humanos tem uma forma clara de resolução deste conflito. No seu artigo 4º declara que “Toda pessoa tem direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção.” E, depois, sobre a liberdade de religião, diz o seguinte em seu artigo 12 parágrafo segundo: “A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.” 
 Ora, o crime de homicídio admite a forma comissivo por omissão, nos casos quando venha a falecer aquele que está sob a guarda do agente garantidor. Declara o Código Penal ser omisso quem deixa de prestar socorro quando possível prestar-lhe sem risco pessoal. Aplicada no caso concreto, é claro que, por omissão dolosa dos pais, o menor veio a falecer. Assim, se enquadrando diretamente no dispositivo da convenção. 
 Vale também, mencionar o artigo 9º do Código Processual Civil que diz que, se os interesses do representante legal colidem com os interesses do incapaz, o que ocorreu com certeza no caso concreto, o juiz deve designar um curador especial para este incapaz.
 De acordo com o tribunal de São Paulo, “Acusadas que em nome de seita religiosa e das orientações nela recebidas deixam de permitir transfusão de sangue em menor, possibilitando a consumação da omissão de socorro e da periclitação de vida, praticam em tese os delitos dos artigos 132 e 135 do Código Penal” (Habeas Corpus no 184.642/5, julgado em 30.08.1989, 9a Câmara, relator: Marrey Neto, RJDTACRIM 7/175).
 Tendo o Estado o dever de garantir a vida de todos, é de clareza solar que o médico poderia ter ignorado a religião dos pais, pois sabia que o menor iria falecer se não houvesse a transfusão de sangue. Como diz o artigo 6º do Código de Ética Médica, o médico deve guardar o absoluto respeito à vida humana, sempre agindo pelo bem do paciente. De acordo com a jurisprudência, “uma vez comprovado efetivo perigo de vida para a vítima, não cometeria delito nenhum o médico que, mesmo contrariando a vontade expressa dos por ela responsáveis, à mesma tivesse ministrado transfusão de sangue. ” (Habeas Corpus no 184.642/5, julgado em 30.08.1989, 9a Câmara, relator: Marrey Neto, RJDTACRIM 7/175). Neste caso, o médico age em estrito cumprimento de dever legal. (Apelação Cível no 264.210-1- Suzano, 6a Câmara de Direito Privado, relator: Testa Marchi- 01.08.96-V.U. São Paulo). 
 Nos casos futuros, podem-se discriminar 4 (quatro) casos distintos:
1. Quando há perigo iminente à vida. Neste caso claramente prevalece o direito à vida e a obrigação do médico de salvar o paciente, e se o paciente for incapaz de expressar a sua própria vontade de forma válida; deve o médico agir e fazer a transfusão.
2. Quando há risco de vida iminente, mas o paciente é capaz e pode expressar a sua vontade de forma válida, deve o médico abster-se de impor o tratamento.
3. Quando há perigo à vida, mas sem este perigo ser iminente, o médico deve pedir autorização judicial para fazer o tratamento.
4. Quando existe terapia alternativa e não há risco de vida, deverá o médico aplicar este terapia alternativa.
IV- CONCLUSÃO
 Diante do exposto, se há perigo iminente de vida, sugere-se que é dever do médico de fazer o tratamento, mesmo sendo contra a vontade do seu representante legal; se este vier a agir por motivos de religião. Se o paciente for capaz e não ter tempo para pedir autorização judicial, deve o médico se abster de impor o tratamento. Quando se trata de risco de vida, mas não há urgência, o médico deve pedir autorização da justiça para fazer o tratamento necessário. Quando não há risco de vida e se existe tratamento alternativo, o médico deve optar por este último.
V- PARTE AUTENTICATIVA Data
 Assinatura do Parecerista
 Órgão
 
REFERÊNCIAS
BINENBOJM , Gustavo. Disponível neste site: http://pt.scribd.com/doc/49149221/VISTO-PARECER-GUSTAVO-TRANSFUSAO-DE-SANGUE-TESTEMUNHA-DE-J-3; acesso em 23 de julho de 2011.
PALADINO, Valquiria da Cunha (Org.) et al. Teoria e Prática da Argumentação Jurídica. 3.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2008.

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