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Daniel Giacometti Amaral Antony Best et al. (2008), International History of the Twentieth Century and Beyond. Cap – 11. From Cold War to détente, 1962-79 Introduction Em outubro de 1962, EUA e URSS se confrontaram de forma perigosa devido a presença de mísseis soviéticos em Cuba. Uma década após o fim da crise em Cuba, as duas superpotências assinaram um acordo de limitação de armas estratégicas – Strategic Arms Limitation Treaties (SALT I) -. No auge da détente - durante o início da década de 70 – parecia que o encontro entre os EUA e a URSS e a visita do presidente Nixon à Moscou em 1972, haviam lançado as bases para uma nova era nas relações internacionais. No entanto, quando a URSS enviou suas tropas para o Afeganistão em meado de 1979, o governo Carter no EUA tomou uma série de medidas que confirmavam o fim da détente americano-soviética. O acordo SALT-II não seria ratificado e as tensões do período pós-45 voltariam à tona. A partir de 1980, o breve período de relaxamento das tensões abriu caminho para o que foi caracterizado por alguns como nova Guerra Fria. As explicações para o surgimento da détente são complexas a Crise dos Misseis de Cuba teve como um dos seus efeitos o aumento da produção de armamentos na URSS que levou a uma “paridade virtual” entre os arsenais nucleares de Washington e Moscou em meados da década de 60. Nesse contexto as duas superpotências acharam conveniente – e economicamente favorável – limitar de alguma forma tais arsenais. Détente: termo que remete à redução das tensões entre Estados. É geralmente usado para se referir à diplomacia das superpotências durante um período da Guerra Fria entre a subida de Richard Nixon ao poder até a década de 80. The Cuban Missile Crises Desde a guerra hispano-americana do século XIX, Cuba tornou-se um protetorado dos Estados Unidos. Essa condição semi-colonial somada à estrema divisão econômica e social, contribuiu para o crescente anti- americanismo. Após anos de guerra de guerrilha, as forças revolucionárias lideradas por Fidel Castro chegaram a Havana em 1959. No entanto, Castro sabia que seu sucesso dependia em grande medida da disposição dos EUA em tolerarem o novo regime. Temendo uma reação americana como a ocorrida em 1954 na Guatemala quando um governo de esquerda foi retirado do poder, Cuba, que temia uma intervenção militar dos EUA, inclina-se em direção à URSS em busca de apoio. Em resposta o presidente Kennedy autoriza o que ficou conhecido como a Invasão da Bahia dos Porcos em Abril de 1961. Mesmo tendo derrotado com sucesso a força de invasão, tal acontecimento somado à crescente preocupação com as tentativas americanas de retirar Castro do poder, fez com que Cuba se mostrasse mais disposta a aceitar suporte militar da URSS. Khrushchev propôs que mísseis nucleares soviéticos fossem instalados em Cuba, o que foi aceito por Castro. Em 1962 começaram a chegar os materiais necessários, incluindo mísseis. A instalação do armamento foi feita em segredo, pois se esperava criar uma propaganda favorável com a notícia de que mísseis soviéticos estavam a menos de 160 km dos EUA. Em meados de outubro de 1962, aviões U-2 de espionagem americanos que voavam sobre Cuba avistaram a construção de silos de lançamento de mísseis. Com isso, uma crise tornou-se iminente. Ambos os países possuíam a capacidade de atacar um ao outro a partir de longas distâncias com mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs). No entanto, o impacto psicológico de existirem instalações nucleares soviéticas a tão pouca distância, assim como o sigilo da operação, persuadiram Kennedy para a necessidade de que alguma ação fosse tomada. De início, pensou-se em uma invasão ao território cubano. No entanto, o governo Kennedy decidiu por isolar Cuba a partir de um bloqueio naval visando impedir que novos navios soviéticos chegassem com mais suprimentos. Dada as tensões, EUA e URSS pareciam caminhar para uma guerra nuclear. O governo Kennedy chegou a relatar o caso à ONU e a preparar um ataque aéreo e uma invasão massiva a Cuba. O governo cubano, por outro lado, mobilizou grande parte de sua população para que estivessem prontos para combater uma invasão americana além do fato das forças soviéticas instaladas no país estarem alerta com seus mísseis nucleares. Criou-se um medo quanto a uma possível guerra nuclear em diversas partes do mundo. Na Europa, os aliados da OTAN estavam preparados para possíveis complicações. Após diálogos baseados em barganha e sob uma grande tensão, a crise foi finalmente resolvida. Em 26 de outubro, Khrushchev ofereceu a retirada dos mísseis em troca da garantia de que os EUA não invadissem Cuba. Além disso, o líder soviético também exigiu a retirada dos mísseis americanos que estavam instalados na Turquia. Sob esses termos, ambos os países entrarem em acordo. Em 28 de outubro, Khrushchev anunciou a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba. Towards the world of MAD Em resposta à crise, EUA e URSS buscaram algumas tentativas de diminuir as tensões criando melhores canais de comunicação e, além disso, trabalharam em acordos sobre testes nucleares. Apesar disso, a corrida armamentista não parou e ambos os lados continuaram com seus programas de armas nucleares sendo que, na URSS, houve um grande esforço para o aumento dos arsenais. O resultado final foi uma condição de destruição mútua assegurada (MAD) no mundo. Sob o MAD, a estabilidade das relações americano- soviéticas firmou-se no fato de cada lado possuir um grande e diverso arsenal nuclear que possibilitaria, mesmo após um primeiro ataque nuclear de algum dos dois, o outro teria a capacidade de retaliar. Nesse sentido, nenhum teria a ousadia de iniciar um conflito. O choque da Crise dos Misseis de Cuba claramente fez com que os líderes dos EUA e da URSS estivessem mais atentos de que uma guerra nuclear acidental era uma séria possibilidade e demandava, no mínimo, melhores canais de comunicação entre os lados. Assim sendo, em 1963 foi estabelecida uma “hot line”, ou seja, uma linha direta de comunicação entre as duas capitais. Meses depois, URSS, EUA e a Grã-Bretanha (Outros países assinaram posteriormente) estabeleceram o “Limited Test Ban Treaty” que determinava o fim de testes nucleares na atmosfera. De agora em diante os testes seriam subterrâneos. Eram passos tênues para a diminuição das tensões. Após a saída de Khrushschev do poder na URSS em 1964, o novo governo que criticava a postura do ex-presidente frente à questão da Crise dos Mísseis de Cuba e frente às relações com os EUA de uma forma geral. Assim sendo, a URSS toma a decisão de aumentar os investimentos na corrida armamentista visando a paridade com os EUA. A partir da segunda metade da década de 60, tornou-se evidente as implicações da corrida armamentista de ambos os países. Ao passo que o número de armas aumentava e, com isso, a capacidade de destruição de cada um, uma guerra nuclear tornava-se quase impensável dada suas conseqüências. Nesse contexto, os americanos que primeiramente consideravam a superioridade como a melhor maneira de evitar um ataque soviético, passaram a acreditar que somente um “equilíbrio pelo terror”, ou seja, a habilidade de tantos os EUA quanto a URSS sobreviverem a um primeiro ataque e lançarem uma retaliação em resposta, poderia prevenir um conflito nuclear. De certa forma, as armas nucleares pareciam perder sua utilidade dada a condição do MAD. A princípio, a corrida armamentista que acontecia na década de 60 parecia buscar assegurar que uma guerra nuclear não aconteceria. Por outro lado, o crescente arsenal nuclear das potências parecia dar a elas pouco poder político adicional, salvo o prestigio frente ao resto do mundo. As armas nuclearesnão poderiam ser usadas, por exemplo, em conflitos regionais como a Guerra do Vietnã. Nesse cenário, ambas as superpotências tinham o interesse em manter, de certa forma, o status quo dificultando que novos países adquirissem armamento nuclear (França e China já possuíam em meados de 1960). A proliferação poderia interferir na estabilidade do mundo na condição vigente do MAD. Foi no contexto do MAD, da proliferação e do aparente desperdício de recursos que a manutenção da corrida armamentista representava, que os EUA e a URSS começaram a pensar melhor em alguma forma de acordo que limitasse a expansão de seus respectivos arsenais. France, Germany and the origins of European détente Enquanto os EUA ainda lidava com as conseqüências da Crise dos Mísseis de Cuba e uma possível paridade nuclear com a URSS, outras questões desafiavam a supremacia dos americanos. O crescente envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã passou a ser criticado por seus aliados. Nenhum aliado da OTAN, por exemplo, concordou em dar suporte à guerra americana. Muitos temiam que a obsessão dos EUA no Vietnã pudesse de alguma forma, minar o compromisso dos americanos em manterem tropas na Europa ocidental e, com isso, enfraquecer a capacidade de defesa coletiva da OTAN. Essa preocupação dos aliados da OTAN mostrava-se muito relevante tendo em vista a mudança na política de “retaliação massiva” para “resposta flexível”, adotada por Kennedy. Isso significava – dentro do contexto do MAD - que em caso de um ataque vindo dos membros do Pacto de Varsóvia contra Berlin ou a Alemanha Ocidental, os EUA não responderiam com armas nucleares. A unidade do Ocidente como um todo foi complicada também pelo declínio do domínio econômico dos EUA em meados de 1960. Pela primeira vez desde 1945, os americanos enfrentavam uma séria competição econômica. O Japão e a Europa Ocidental cresciam rapidamente dentro das condições favoráveis criadas pelos EUA como o Sistema de Bretton Woods além dos investimentos diretos. Em 1971 o peso do apoio ao Sistema de Bretton Woods e, simultaneamente, a luta no Vietnã, levou o presidente Nixon a acabar com o padrão dólar-ouro. Foi nesse contexto de uma emergente paridade nuclear entre os EUA e a URSS, o crescimento do envolvimento americano no Vietnã, o aumento da preocupação dos europeus quanto a determinação dos EUA em defender a Europa Ocidental e o relativo declínio do poder econômico americano que de o presidente Francês, Charles de Gaulle, busca alcançar uma posição de liderança na Europa. Trouble in the Soviet bloc Em meados do início da década de 1960, a noção de um comunismo monolítico provou ser um mito. Na medida em que as diferenças ideológicas entre a URSS e a República Popular da China aumentavam e, além disso, na medida em que os chineses ficavam mais desiludidos com a natureza da ajuda soviética e que a doutrina da co-existência pacífica era rejeitada em Pequim como heresia, a separação entre os dois gigantes comunistas era clara. Em 1960, os dois encerraram cooperações militares e, em 1961, os dois lados estavam criticando abertamente um ao outro por revisionismo. A separação Sino-soviética era o acontecimento mais significante dentro do bloco socialista, mas a unidade do mesmo também estava em questão no continente europeu. O maior desafio à unidade do Pacto de Varsóvia veio em 1968. Um movimento para liberdade política na Checoslováquia – a chamada Primavera de Praga – resultou na invasão do país pelo Pacto de Varsóvia em Agosto. A supressão da Primavera de Praga foi efetivamente uma reafirmação da hegemonia soviética no leste europeu. A invasão de Praga, no entanto, não acabou com as esperanças da détente. Triangular Diplomacy Em Março de 1969, as tropas soviéticas e chinesas entraram em conflito em diversas ocasiões. Grande parte das condições que resultaram no relaxamento das tensões americano-soviéticas floresceram nesse contexto. O presidente Nixon e seu assessor Henry Kissinger se aproveitaram das hostilidades sino-soviéticas como carta diplomática nas relações americano-soviéticas e, além disso, como um meio de pressionar os norte-vietnamitas. Para maximizar tal proveito, os EUA buscaram a abertura com a China. A abertura para a China parecia remover muitos obstáculos no caminho de uma possível détente americano-soviética. Nos anos que se seguiram ao encontro entre EUA e China, as duas superpotências negociaram diversos acordos e deram início a uma era de tipo de Concerto Americano-soviético. Em um encontro em Moscou em 1972, os EUA e a URSS assinaram o primeiro acordo SALT – Acordos para Limitação de Armas Estratégicas - . Tal acordo era composto por duas partes: uma sobre o limite do número de lançadores ofensivos de mísseis (tanto ICBMs – mísseis balísticos intercontinentais - quanto SLBMs – mísseis balísticos lançados de submarinos), e outro, que incluía limites em sistemas defensivos anti- mísseis. Já em 1973, ambos assinaram o acordo de Prevenção contra Guerras Nucleares. Em 1974, o então presidente americano, Geral Ford, e o líder soviético Brezhnev, tentaram assinar um acordo sobre um tratado SALT II (Nixon tinha caído após o escândalo de Watergate em Agosto de 1974). De uma forma geral, esses notáveis acordos e encontros constituíram uma parada significativa da atmosfera do final da década de 60, quando o crescente envolvimento americano no Vietnã e a invasão do Pacto de Varsóvia à Checoslováquia impediram as primeiras tentativas de criarem a détente. O início dos anos 70 foi marcado por um contraste nítido com os anos de crise do início da década de 60. Enquanto URSS e os EUA estiveram, em Outubro de 1962, à beira de uma guerra nuclear, eles assinaram menos de 10 anos depois o primeiro acordo para limitação de armas estratégicas. A disposição dos principais atores do lado americano (Nixon e Kissinger) em buscarem a détente, não representava uma determinação em acabar com o conflito, mas de mudar a forma como ele estava sendo travado. A intenção aparente de ambos era, na verdade, manter o status quo. Détente in trouble: Watergate, Angola and the Horn of África Em meados da metade da década de 70, após uma promissora série de acordos e encontros, as esperanças e promessas de uma mudança permanente na relação americano-soviética começaram a se dissipar. A détente americano-soviética entrou em declínio ao passo em que os problemas domésticos minaram o governo de Nixon e ao passo que os americanos e soviéticos se empenharam em uma disputa por influência no Oriente Médio. Após a saída de Nixon do poder em agosto de 1974, o declino da détente apenas se acelerou. Do ponto de vista americano, os soviéticos pareciam de repente estar buscando expandir sua influência na África ao apoiarem o partido vitorioso na Guerra Civil Angolana e, também, por enviarem um grande número de conselheiros para a Etiópia marxista. Em resposta, os EUA passaram a dar apoio à Somália. Para se compreender o colapso da détente é necessário analisar o desenvolvimento dos problemas domésticos nos EUA. Com a caída de Nixon do poder, suas políticas passaram a ser muito criticadas e, dentre elas, estava no desenvolvimento do lado econômico da détente. O intervencionismo da URSS também contribuiu fortemente para o declínio da détente, no entanto, os motivos que estavam por trás disso também devem ser considerados. Para os soviéticos, os americanos estavam buscando vantagens unilaterais ao invés de recorrerem à cooperação com a outra superpotência. Exemplos do intervencionismo soviético no chamado “Terceiro Mundo” incluem o engajamento de Moscou na crise de descolonização de Angola através do suporte a Cuba. O mesmo pode ser constatado no Chifre da África após uma crise entreEtiópia e Somália. The death of détente: SALT II e Afeganistão Apesar das críticas contra a détente nos EUA e a crescente atividade da URSS no Terceiro Mundo, as duas superpotências ainda buscavam negociar o Acordo SALT II. Tal acordo era de extrema importância dadas as falhas do SALT I. O primeiro acordo havia excluído os MIRVs – multiple independently targetable re-entry vehicles - , isto é, a habilidade de alocar diversas ogivas independentes em um único lançador nuclear. Tal lacuna possibilitou que a corrida armamentista fosse possível mesmo sob os termos do SALT I. Outro problema desse regime de controle de armas do início da década de 70 era a falta de um acordo sobre outra coisa além de armas nucleares estratégicas de longo alcance. Isso se tornou evidente quando os soviéticos introduziram um novo míssil nuclear de médio-alcance na Europa sem maiores complicações. Dada a curta duração do tratado de 1972, negociações para o SALT II foram iniciadas ainda no mesmo ano. Complicações às conversas surgiram por um número de fatores incluindo: As eleições presidências de 1976 nos EUA, os eventos em Angola e no Chifre da África, o desenvolvimento dos mísseis de médio-alcance pela URSS e a decisão americana de estabilizar suas relações com a China em meados de 1978. O Acordo SALT II chegou a ser assinado em Viena, no entanto, não foi ratificado pelo senado americano. A Revolução Iraniana de 1978-79 também complicaram a situação. A perda de outro aliado representava um abalo para o prestígio americano e criava pressão para políticas mais firmes. Nesse contexto, a invasão soviética ao Afeganistão em 1979 foi interpretada nos EUA como um movimento estratégico para aumento de influência. Alguns autores defendem que a postura soviética ao invadir o Afeganistão visava prevenir que um regime fundamentalista islâmico se instalasse em sua porta. Enquanto os soviéticos talvez vissem suas ações essencialmente como defensivas e visando a segurança nacional, a reação americana ao intervencionismo soviético foi severa. Segundo o presidente Carter, os movimentos da URSS no Afeganistão representavam um perigo à paz. Com isso, Carter retirou o SALT II do senado, interrompeu a venda de grãos e itens de alta-tecnologia para a URSS e anunciou um boicote às olimpíadas de 1980.
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