Buscar

8 A Guerra Fria

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A Guerra Fria
-Nas malhas da Guerra Fria: cercada por mitos e impregnada de intensa propaganda oficial, a expressão “guerra fria” se baseia numa premissa básica: a partir do fim da II Guerra Mundial (1945), e particularmente a partir de 1949, tamanho era o poderio militar e nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética, que evitavam se destruir, passando a se chocar diplomaticamente e em locais onde não haveria risco de conflito nuclear. Esta seria a equação básica para as relações internacionais e, na medida em que o conflito entre Estados Unidos e União Soviética era ideológico e de aniquilação mútua, o mundo teria que se posicionar entre um e outro, formando áreas de influência e blocos diplomáticos. A verdade oficial que a propaganda incutia em uma ou outra população, era que enquanto uma nação tentava se defender, a outra se expandia, e tudo não passava de uma formidável luta entre a liberdade e a tirania, a defesa da paz contra o expansionismo belicoso. 
Mas é preciso se entender com o romper a barreira dos mitos e procurar as bases e as razões profundas do surgimento da Guerra Fria. A II Guerra Mundial mal terminou quando a humanidade mergulhou no que se pode encarar razoavelmente como uma III Guerra Mundial, embora uma guerra muito peculiar. Na realidade, ela se assemelhou a uma caracterização do conceito de guerra feito pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, no século XVII:
A guerra consiste não só na batalha ou no ato de lutar, mas num período de tempo em que a vontade de disputar uma batalha ou de lutar é suficientemente conhecida por ambos os lados. 
A Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética não envolveu um confronto militar direto entre as duas superpotências, mas a disputa entre elas e os blocos respectivos por ela liderados era algo reconhecido por todos. Gerações inteiras se criaram a partir de um imaginário no qual batalhas nucleares globais poderiam ocorrer a qualquer momento e devastar a humanidade. E mesmo aqueles que duvidavam que um dos lados tomasse realmente a iniciativa militar para iniciar o confronto mundial eram pessimistas, pois achavam que um incidente mal interpretado poderia gerar atitudes equivocadas de um dos lados, sendo o suficiente para mergulhar o mundo no caos atômico. 
A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, objetivamente, não havia um perigo iminente de uma nova guerra mundial, pois apesar dos discursos agressivos de ambos os lados (principalmente do norte-americano, mais do que o soviético), tanto Estados Unidos e União Soviética respeitavam o equilíbrio de poder firmado após a II Guerra Mundial e o compromisso de não utilizarem as suas próprias forças militares para expandirem as suas respectivas áreas de controle. Contudo, o caráter ideológico do conflito (capitalismo X comunismo), na realidade originado com a vitória bolchevique na Revolução de Outubro de 1917 na Rússia e que teve um curto recesso enquanto liberais e comunistas aliavam-se para lutar contra o inimigo comum, o nazifascismo, fortaleceu a impressão de que, mais cedo ou mais tarde, haveria uma guerra mundial entre os blocos liderados pelos Estados Unidos e a União Soviética na qual a probabilidade de utilização de arsenal nuclear deixava entrever a possibilidade de aniquilamento total dos seres humanos no planeta Terra. 
- A bipolarização das relações internacionais após a II Guerra Mundial : em 1943, com o início do avanço militar soviético que levaria à derrota da Alemanha nazista, começaram as negociações entre Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética sobre a ordem mundial que prevaleceria após a guerra. Stálin desconfiava profundamente de seus aliados, pois estava ressentido com a demora de norte-americanos e britânicos de abrir uma frente ocidental contra os alemães (algo feito apenas em 1944, com o desembarque na Normandia) e com a possibilidade de Roosevelt e Churchill aceitarem a proposta de Hitler em negociar uma paz em separado, deixando a Alemanha livre para se concentrar apenas na guerra contra a União Soviética. Apenas depois de vários acertos prévios, obteve-se a concordância para um encontro de cúpula reunindo Roosevelt, Churchill e Stálin, que ocorreu no final de novembro de 1943 em Teerã, no Irã. Basicamente, a Conferência decidiu a invasão da Europa ocupada através do Canal da Mancha e determinou que o norte da França, uma exigência soviética visando dividir as atenções da Alemanha na guerra, algo que permitiria o avanço das tropas do Exército Vermelho sobre o leste europeu. 
Esse avanço militar soviético pôs em destaque novas questões políticas. Stálin tinha como objetivo não admitir mais Estados hostis em suas fronteiras e, para isso, era necessário assegurar que o leste europeu se tornaria uma zona de influência da União Soviética após a guerra. Assim, no decorrer da Conferência de Yalta, cidade da Ucrânia, entre os dias 4 e 11 de fevereiro de 1945, delimitou-se as zonas de influência de cada potência vencedora do conflito mundial, além de estabelecer-se que a própria Alemanha seria dividida em zonas militarizadas que seriam lideradas, respectivamente, por Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha e França (esta última, por cortesia, apesar de protestos dos diplomatas soviéticos). Além disso, norte-americanos e britânicos reconheceram a influência soviética no leste europeu, 
Contudo, após a morte de Roosevelt, em março de 1945, e a posse de Harry Truman como presidente dos Estados Unidos, a situação modificou-se. Influenciado por conselheiros do Departamento de Estado que via na liderança soviética no leste europeu como uma “ameaça de invasão bárbara à Europa”, convenceram o novo presidente a barganhar com Stálin através da oferta de auxílio econômico para a reconstrução da União Soviética após a II Guerra Mundial, desde que, em troca, o líder soviético renunciasse as pretensões de estabelecer uma zona de influência soviética no leste europeu. A tentativa revelou-se um fracasso, pois o governo soviético prontamente recusou a proposta. 
A partir de tal recusa, os Estados Unidos perceberam que não conseguiriam conter o “expansionismo soviético” através de ajuda econômica. Como destacou o então conselheiro da embaixada norte-americana em Moscou, George Frost Kennan:
A crença no antagonismo nato entre capitalismo e socialismo trazia profundas conseqüências para a conduta da Rússia como membro da sociedade internacional, pois significava que jamais poderia haver, da parte de Moscou, qualquer admissão sincera de uma comunidade de propósitos entre a União Soviética e as potências consideradas capitalistas. 
Logo após a rendição incondicional da Alemanha, em maio de 1945, Churchill escreveu uma carta para Truman na qual expunha as suas desconfianças quanto à continuidade da aliança com a União Soviética: “O mundo está envolvido numa total confusão. O perigo comum, o laço que unia os membros da grande aliança (Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética) se desvaneceu para sempre. A ameaça soviética, ao meu entender, já tomou o lugar do inimigo nazista”. Os líderes do Ocidente se conscientizavam de haver entregue uma boa porção da Europa, todo o seu setor oriental, ao inimigo de classe que sempre temeram. Após a guerra, queriam de volta o que haviam concedido. Queriam conter Stálin nas antigas fronteiras de 1941, e começaram a sonhar com uma grande manobra para obrigarem os soviéticos a recuarem. 
Foi a partir de tal constatação que surgiu a base ideológica da Guerra Fria por parte dos Estados Unidos. Para o governo Truman, o futuro do capitalismo mundial e das democracias liberais estavam ameaçados, pois a maioria dos economistas esperava uma série crise econômica pós-guerra similar (ou até mais grave) do que a Grande Depressão. Se Washington previa grandes problemas que minavam a estabilidade social e econômica mundial era porque no final da guerra todos os países envolvidos diretamente no conflito (com a exceção do próprio Estados Unidos), haviam se tornado um campo de ruínas habitado por povos famintos, desesperados e provavelmente propensosà radicalização, mais do que dispostos a ouvir o apelo à revolução social feito pelos comunistas liderados pela União Soviética, que ameaçava a livre empresa, o livre-comércio e os investimentos que os bancos e os grandes conglomerados industriais norte-americanos estavam dispostos a fazer na Europa Ocidental, visando a sua reconstrução. Assim, os setores de propaganda dos governos norte-americano e britânico logo se engajaram em construir uma imagem de que a União Soviética era um perigoso colosso imperial e tirânico que ameaçava o chamado “mundo livre”. 
E o contexto do pós-II Guerra Mundial parecia confirmar o pessimismo dos economistas, principalmente os norte-americanos. Na realidade, os Estados Unidos se recuperaram da Grande Depressão graças à II Guerra Mundial, pois a retomada do crescimento da economia norte-americana a partir de 1939 foi decorrente da demanda militar das Forças Armadas norte-americanas e de seus aliados britânicos e (em menor grau) soviéticos. Com o fim da guerra, no início de 1946, a produção industrial norte-americana caiu 30%, o desemprego subira a 2,7 milhões, com estimativas de que chegaria aos astronômicos (na época) oito milhões após a desmobilização das Forças Armadas. Seria necessário, portanto, impor um multilateralismo econômico, a fim de evitar uma nova depressão, e consolidar e expandir a hegemonia norte-americana no mundo. 
Mas, apesar dos temores do governo norte-americano, a União Soviética não era expansionista – e tampouco agressiva. Em qualquer avaliação racional, a União Soviética não apresentava perigo imediato à paz mundial. O país (embora vencedor) saíra da guerra em ruínas, com suas forças militares exauridas e exaustas, com a economia em frangalhos e enfrentando a desconfiança de boa parte da população dos países ocupados, cuja maioria apoiara regimes hostis ao comunismo soviético, como era o caso da Polônia e da Alemanha ocupadas pelo Exército Vermelho. Na realidade, como bem caracterizou o historiador alemão Isaac Deutscher, se na aparência o contexto do pós-II Guerra era caracterizado como de confrontação entre o “gigante norte-americano” comprometido “com a defesa da liberdade e democracia, e o colosso soviético que estaria disposto a impor a “tirania socialista” por todo planeta, a realidade mostrava o enfrentamento entre uma superpotência cuja economia e poderio militar estava no auge (no caso, os Estados Unidos), contra um “colosso soviético” ferido, enfraquecido e cansado, embora vencedor. 
A tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética marcou a Conferência de Potsdam, na Alemanha destruída e ocupada pelos Aliados, em julho de 1945. Nela, confirmou-se a divisão da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas militarizadas de ocupação controladas respectivamente pelos Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha e França. Durante a Conferência, os representantes do governo norte-americano e o próprio presidente Harry Truman repetiram à exaustão que era necessário proteger as “liberdades democráticas” nas regiões anteriormente ocupadas pela Alemanha nazista, principalmente o leste europeu. Para conturbar ainda o mais as relações entre os agora ex-aliados, a explosão de duas bombas atômicas norte-americanas sobre o Japão, em agosto de 1945, foi entendida pelos soviéticos como uma forma de pressão e intimidação visando “convencer” Stálin a não apoiar o avanço da revolução socialista no Extremo Oriente (China, Coreia e Indochina) e na Grécia. 
-A Doutrina Truman- defendendo o Ocidente: as tensões diplomáticas entraram explosivamente no ano de 1946. Percorrendo junto com o presidente Truman um circuito de palestras em universidades norte-americanas para um público formado pela intelectualidade e por empresários, Winston Churchill, que deixara de ser primeiro-ministro da Grã-Bretanha após uma derrota inesperada e retumbante de seu partido, o Conservador, para os Trabalhistas, proferiu discursos apocalípticos e demagógicos contra a União Soviética, lançando oficialmente e publicamente a Guerra Fria. O mais famoso deles foi feito na cidade de Foulton, no Missouri, em 5 de março de 1946. Para Churchill:
Uma sombra desceu sobre o cenário até há pouco iluminado pelas vitórias aliadas: Ninguém sabe o que a Rússia soviética e sua organização internacional comunista pretende fazer no futuro imediato, ou quais são os limites, se é que os há, para as suas tendências expansionistas (...). Do mar Báltico ao mar Adriático [o leste europeu], uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás daquela linha todas as capitais de antigos Estados do centro do Leste europeu, Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia, todas elas famosas cidades, e suas populações vivem no que se poderia chamar esfera soviética e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não apenas à influência soviética, mas em crescente medida ao controle de Moscou (...). Esta não é certamente a Europa libertada que lutamos para construir. Também não é uma que contenha os ingredientes de uma paz permanente (...). Não nos deixeis tornar o rumo de permitir que os acontecimentos nos conduzam até uma situação cuja reversão seja tarde demais. 
Churchill, ao conclamar os Estados Unidos a conservarem a sua superioridade em armas nucleares e apoiarem os “povos oprimidos” da Europa Oriental em sua resistência ao comunismo, estava consciente do pânico que seu discurso provocaria. A imagem de hordas vermelhas prontas a cair sobre os povos livres do Ocidente apresentou-se diante da imaginação dos europeus e norte-americanos. 
A partir desse momento, ficou claro que os Estados Unidos não cederiam mais nada para a União Soviética. Mas, apesar do tom belicoso de Churchill, que ao retornar para a Europa clamou para que “os povos franceses e alemães” deixassem seu ressentimento de lado e se unissem, sob a proteção das bombas atômicas norte-americanas, para evitar o avanço soviético sobre a Europa, Stálin ainda mostrava-se confiante na manutenção da “convivência pacífica” com os seus antigos aliados. Contrariando o discurso do ex-primeiro-ministro britânico com fatos, Stálin cumpriu o compromisso de retirar-se de Viena e evitou que nos países ocupados pelos soviéticos no leste europeu fosse adotado um regime político e econômico similar ao da União Soviética (regime de partido único monopolizado pelo Partido Comunista, controle total do Estado na economia, fim da propriedade privada, etc), permitindo eleições democráticas com a participação de partidos liberais de direita. Além disso, o contingente militar soviético diminuiu nesse período, caindo de 12 milhões para 3 milhões no final de 1948. 
A Guerra Fria, porém, continuava a recrudescer. Nos Estados Unidos, onde a propaganda oficial ia atingindo as raias da loucura, enfatizar a existência de um inimigo externo ameaçando o American way of life
 era conveniente para o governo Truman, que havia concluído que seu país era uma potência mundial hegemônica e que devia assumir tal papel na sua plenitude, mas ainda enfrentava a oposição dos “isolacionistas” que ainda defendiam que os Estados Unidos não deveriam se envolver nas questões internacionais que teoricamente não estavam diretamente relacionadas à sociedade norte-americana. A “ameaça externa” era um argumento suficiente para convencer a maior parte dos estadunidenses da necessidade de atuarem como protagonistas no jogo das relações exteriores após a II Guerra Mundial. 
O período mais explosivo da Guerra Fria foi possivelmente iniciado com o lançamento formal da Doutrina Truman, após uma nova crise internacional surgir no horizonte, sendo esta habilmente utilizada para servir como justificativa para a total radicalização da política norte-americana com relação à União Soviética. No dia 21 de fevereiro de 1947, a Grã-Bretanha comunicou ao Departamento de Estado norte-americano que não poderia manter sua ajuda em armas e dinheiro para os governos da Grécia e da Turquia visando evitar o avanço das guerrilhas comunistas locais. Por outro lado, o comunicado britânicomanifestava a esperança de que os Estados Unidos assumissem tais obrigações em virtude da importância estratégica daquelas áreas para o domínio do mar Mediterrâneo e a proximidade com o Oriente Médio. 
Na realidade, a retirada britânica da Grécia e da Turquia era somente um sintoma da grave crise econômica que atingiu não apenas a Grã-Bretanha, mas todos os países da Europa Ocidental. O início de 1947 fora o pior momento do mais terrível inverno do pós-guerra; o frio cortante, a escassez de carvão ( que obrigou o racionamento até mesmo da iluminação e do aquecimento doméstico), o racionamento de alimentos, a interrupção dos transportes e o fechamento das fábricas, com o conseqüente e alarmante desemprego; a imediata queda nas exportações, tudo isso caracterizou uma estagnação quase total tanto da economia britânica quanto da francesa, alemã, italiana, belga e holandesa. Dessa maneira, o tesouro britânico determinou o corte da ajuda à Grécia e à Turquia, mas o fez ciente de que poderia proporcionar às autoridades norte-americanas um excelente pretexto para a sensibilização do Congresso e da opinião pública norte-americana. 
O governo Truman acreditava que a “queda” da Grécia teria um “efeito dominó” imprevisível na Turquia, no Irã e até na Itália e na França. O caso grego, em particular, era uma séria ameaça, pois após dois anos e meio de guerra civil, a corrupta monarquia grega sustentada pelos britânicos havia se revelado completamente incapaz de derrotar os guerrilheiros comunistas com forte presença no país. Era urgente convencer o Congresso que os Estados Unidos precisavam entrar na brecha deixada pelos britânicos para garantir que a Grécia “não sucumbisse ao comunismo”, além de insistir num plano de recuperação econômica efetiva para a Europa Ocidental. E para convencer o Congresso norte-americano, no dia 12 de março de 1947, Truman fez um discurso extremamente agressivo, lançando assim o que seria chamado de “Doutrina Truman”.
No presente momento praticamente todas as nações devem escolher entre formas de vidas opostas (...). Uma forma de vida é baseada na vontade da maioria e distingue-se por instituições livres, governos representativos, eleições livres, garantias à liberdade individual, liberdade de expressão e eleição, e ausência de opressão política. Uma segunda forma de vida é baseada na vontade de uma minoria, imposta pela força à maioria. Recorre ao terror e à opressão, a uma imprensa controlada, a eleições decididas de antemão e à supressão das liberdades pessoais. Creio que a política dos Estados Unidos deve a ser de apoiar os povos livres que resistem a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões de fora. 
A Doutrina Truman declarou oficialmente a Guerra Fria. A partir daí, os Estados Unidos assumiram a liderança de uma “cruzada anticomunista” contra a União Soviética. A partir daí, a ação conjunta dos aliados dos Estados Unidos era voltada ao combate de tudo que cheirasse comunismo, dividindo o mundo entre “nós” do mundo livre” e “eles” da tirania comunista. 
Acompanhando a Doutrina Truman, o secretário de Estado norte-americano, o general George Marshall, formulou o famoso plano de reabilitação econômica da Europa, em junho de 1947, batizado de Plano Marshall. Segundo Marshall:
Nossa política é dirigida não contra qualquer país ou doutrina, mas contra a fome, a pobreza, o desespero e o caos. Qualquer governo que desejar assistência na tarefa de recuperação achará toda a cooperação por parte dos Estados Unidos. Qualquer governo que manobra para bloquear a recuperação de outros países não pode esperar nossa ajuda. Ainda mais, governos, partidos políticos ou grupos que busquem perpetuar a miséria humana a fim de se beneficiar politicamente encontrarão a oposição dos Estados Unidos. 
O Plano Marshall foi um projeto maciço para a recuperação européia. Ao contrário do auxílio norte-americano aos países europeus após a I Guerra Mundial, calcado em uma política de empréstimos que se revelou desastrosa, a ajuda foi feita através de concessão de verbas e parcerias entre o capital norte-americano e europeu, algo que também foi realizado no Japão a partir de 1952, quando os Estados Unidos restituíram a total soberania ao país. O objetivo era evitar um excessivo endividamento dos aliados norte-americanos e evitar a inviabilidade da recuperação destes países. Tal auxílio econômico norte-americano foi essencial para restabelecer o desenvolvimento capitalista na Europa Ocidental e no Japão. Já no final da década de 1950, as grandes empresas alemãs (como a Volkswagen) e japonesas (Honda, Toyota) já estavam recuperadas e figurando entre as maiores multinacionais do mundo, ao lado das grandes corporações industriais norte-americanas. 
Tanto o Plano Marshall quanto a ajuda econômica norte-americana ao Japão tiveram um importante impacto social devido a adoção por parte da Grã-Bretanha, França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda e Japão de uma política reformista de linha keynesiana, estabelecendo nesses países o Estado de Bem-Estar Social que no decorrer dos anos 1950 e 1960 conseguiram erradicar a pobreza extrema. O desenvolvimento econômico desses países não apenas os recuperou sob o sistema capitalista como foi revertido para boa parte da população. Sob tal contexto, houve um enfraquecimento dos partidos comunistas e um alinhamento dos sindicatos ao Estado. Como apontou Eric Hobsbawm, para a maior parte da classe trabalhadora européia, norte-americana e japonesa, as grandes vicissitudes do capitalismo pareciam ter desaparecido, pelo menos, nas regiões mais desenvolvidas do planeta:
Naturalmente, a maior parte da humanidade continuava pobre, mas nos velhos centros industrializados, que significado poderia ter o “De pé, ó vítimas da fome!”, da Internacional para trabalhadores que agora esperavam possuir seu carro e passar férias anuais remuneradas nas praias da Espanha¿ E se os tempos se tornassem difíceis para eles, não haveria um Estado previdenciário universal e generoso pronto a oferecer-lhes proteção, antes nem sonhada, contra os azares da doença, da desgraça e mesmo da terrível velhice dos pobres¿(...). A gama de bens e serviços oferecidos pelo sistema produtivo, e ao alcance deles, tornava antigos luxos itens do consumo diário. E isso aumentava a cada ano (...).
O próximo filhote imediato da Doutrina Truman nasceria com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 4 de abril de 1949, reunindo os países capitalistas europeus (e o Canadá) numa aliança militar, dotada de instituições permanentes e capitaneada pelos Estados Unidos. No acordo constava que “um ataque armado contra qualquer membro da Aliança na Europa ou na América do Norte seria considerado como um ataque contra todos”, e seu objetivo básico era “a defesa coletiva das liberdades democráticas através de uma estreita colaboração política e econômica”. Era um claro aviso que todas as autodenominadas “nações livres” estavam unidas contra a “ameaça comunista”, ao ponto de todos aceitarem o rearmamento da Alemanha [Ocidental]. Anos mais tarde, George Kennan, um diplomata aposentado norte-americano, declarou com toda sinceridade em uma conferência na Universidade de Genebra, que:
Após a II Guerra Mundial, os responsáveis pela política norte-americana não eram capazes de enxergar o comunismo como algo que ia além de uma ameaça militar. Ao criar a OTAN haviam traçado uma linha imaginária através da Europa contra um ataque que ninguém estava planejando.
De imediato, o Plano Marshall e a OTAN foram essenciais para a derrota da guerrilha comunista grega. A monarquia grega sobreviveu mais alguns anos e as tropas britânicas permaneceram no país até 1950. Eliminado o perigo grego, a ameaça do surgimento de uma guerrilha comunista na Turquia desapareceu após o país receber ajuda econômica norte-americana. Por sinal, tanto a Grécia como a Turquia ingressaram na OTAN. 
As medidas mais sintomáticas provocadas logo após o lançamento da Doutrina Truman, na Europa Ocidental, foram as expulsões doscomunistas franceses e italianos dos governos de coalizão em que haviam tomado assento. As embaixadas norte-americanas jogavam então um papel decisivo na política de quase todos os países da Europa Ocidental e lideraram a repressão a todo e qualquer Partido Comunista existente no “mundo livre”. 
-O anticomunismo nos Estados Unidos: a postura anticomunista do governo norte-americano nas relações internacionais refletiu diretamente na política interna dos Estados Unidos. Para a maioria dos norte-americanos, seu país representava o modelo de democracia e economia que deveriam ser adotados por todos os países, e o regime soviético era não apenas a sua antítese, mas seu antagonista que deveria ser combatido não apenas externamente, mas também internamente, pois era uma frontal ameaça ao “mundo livre”. Assim, a retórica anticomunista apocalíptica tornou-se conveniente a boa parte dos políticos norte-americanos que desejavam destacar-se nas eleições. Não foi o governo norte-americano que iniciou o sinistro e irracional frenesi da caça às bruxas anticomunista, mas demagogos ambiciosos que provavelmente jamais chamariam a atenção da opinião pública, como o senador Joseph McCarthy que deu início a perseguição de políticos e intelectuais suspeitos de serem comunistas ou simpatizantes do comunismo no decorrer da década de 1950. Sintomaticamente, tal movimento foi chamado pela imprensa norte-americana de Macartismo, e foi responsável pela mudança do ator e cineasta britânico Charles Chaplin de Hollywood, obrigado pela onda anticomunista a deixar os Estados Unidos e “exilar-se” na Suíça. 
O tom apocalíptico da Guerra Fria, sem dúvida, nasceu nos Estados Unidos. Todos os governos europeus ocidentais, com ou sem grandes partidos comunistas, eram empenhadamente anticomunistas e decididos a proteger-se de um possível ataque militar soviético. Nenhum deles teria hesitado, caso solicitados, a escolher entre os Estados Unidos e a União Soviética, mesmo aqueles por tradição política estavam comprometidos com a neutralidade, a optar pelos norte-americanos. Contudo, a “conspiração comunista mundial” não era um elemento sério das políticas internas de nenhum desses Estados que se autodenominavam democracias. Apenas nos Estados Unidos presidentes se elegiam (como John Kennedy, em 1960; e Ronald Reagan, em 1980) para combater o comunismo que, em termos de política interna, era tão insignificante quanto o budismo na Irlanda. Se alguém introduziu o caráter de cruzada no confronto entre as superpotências (e que sobreviveu à Guerra Fria, com o anticomunismo foi substituído pelo combate ao terrorismo fundamentalista islâmico), foi os Estados Unidos. 
-A reação soviética: apesar da histérica pregação anticomunista da Doutrina Truman, Stálin ainda agiu de forma lenta e prudente, evitando um enfrentamento direto com os Estados Unidos. O comportamento soviético continuava condicionado, sobretudo, por uma extrema fragilidade econômica e militar, enfrentando ainda a chantagem nuclear norte-americana. Afinal, até 1949, os Estados Unidos possuíram o monopólio do armamento atômico internacional, conferindo ao bloco capitalista um predomínio incontestável nas relações entre as duas superpotências. 
Foi apenas após a expulsão dos comunistas dos governos de coalizão na França e na Itália que a União Soviética começou a reagir. Foi iniciada a exclusão completa de todos os partidos anticomunistas e não-comunistas da Europa Oriental, estabelecendo-se assim, gradativamente, o sistema de partido único. 
Cinicamente, os Estados Unidos ofereceram ajuda econômica à União Soviética e aos países do leste europeu através do Plano Marshall. Mas os soviéticos deveriam fazer algumas concessões: o governo soviético deveria enviar para Washington um relatório revelando todos os seus recursos econômicos; os governos do leste europeu não deveriam nacionalizar as suas indústrias e nem adotar um programa de planificação econômica similar ao soviético; a União Soviética deveria aceitar a reconstrução econômica da Alemanha Ocidental e, por fim, os governos soviético, polonês e tchecoeslovaco estavam impedidos de requisitar reparações de guerra à Alemanha Ocidental. Stálin não aceitou tais condições, pois a penetração econômica norte-americana no leste europeu e na própria União Soviética poderia impulsionar todas as forças anticomunistas locais e fomentar a contrarrevolução. 
Se o poderio econômico norte-americano permitia ao governo dos Estados Unidos exercer um controle político indireto sobre os seus aliados da Europa Ocidental, a União Soviética só poderia prevalecer no leste europeu por meio do controle político direto e pelo uso da força. É verdade que na Iugoslávia (onde os guerrilheiros comunistas de Tito expulsaram os nazistas sozinhos, sem precisar das tropas soviéticas), na Tchecoslováquia e na Bulgária o movimento comunista tinha um irresistível apelo popular. Mas no restante da Europa Oriental a situação era diversa. Os partidos comunistas locais eram fracos e incapazes de manter sozinhos o poder. Os remanescentes da burguesia polonesa, húngara e alemã oriental, bem como as igrejas católica e protestantes e amplos setores do campesinato individualista oravam pelo aniquilamento nuclear da União Soviética e do comunismo. Enquanto as classes trabalhadoras passavam fome em uma região devastada pela guerra, a contrarrevolução ainda contava com bastante força. Em um contexto hostil, os soviéticos não tiveram outra opção de concentrar seus esforços no leste europeu, assistindo passivamente a perseguição dos comunistas na Europa Ocidental. E tais esforços necessitaram do deslocamento de técnicos, administradores, generais e agentes de segurança soviética que deveriam prestar assistência aos comunistas locais para organizar os Estados socialistas na Europa Oriental. 
A superioridade soviética em armas convencionais era a única resposta que Stálin podia dar à supremacia nuclear norte-americana. Afastou qualquer possível ameaça de ataque nuclear norte-americano mediante a implícita contra-ameaça de uma invasão soviética da Europa Ocidental, invasão que a OTAN não teria condições de deter. Assim, o monstro que o Ocidente invocara para justificar a Doutrina Truman - “as hordas vermelhas que ameaçavam a Europa” – adquiriu algo de realidade. É verdade que Stálin não tinha intenção de deslocar seus exércitos para além do leste europeu, mas estabeleceu um equilíbrio de poder. 
Em setembro de 1947, no decorrer da reunião entre os partidos comunistas do leste europeu realizado em Belgrado, capital da Iugoslávia, foi publicado um documento que pode ser considerada uma resposta soviética à Doutrina Truman, na qual o mesmo tom agressivo foi adotado pelo bloco socialista:
Um novo alinhamento das forças políticas surgiu, dois campos opostos se formaram: de um lado a política da União Soviética e dos países democráticos direcionada a anular o imperialismo e fortalecer as democracias; do outro lado a política dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, direcionada ao fortalecimento do imperialismo e anulação da democracia. O Plano Truman-Marshall somente uma das partes, a seção européia de um plano geral de uma política expansionista mundial levada avante em todas as partes do mundo. 
-A questão de Berlim Ocidental: três anos após o término da II Guerra Mundial, o local de maior tensão entre as duas superpotências continuava a ser a Alemanha ocupada. O acordo de Potsdam que dividiu o país em quatro áreas de influência também era válido para Berlim, a antiga capital do Reich. Desta forma, em plena área de influência soviética, erguia-se um baluarte da penetração capitalista, já que a porção controlada pelos ocidentais estava cravada no coração do território oriental. 
Berlim permitiu o confronto entre dois mundos: enquanto o lado ocidental estava em plena recuperação impulsionada pelos dólares do Plano Marshall, o lado dominado pelos soviéticos padecia de sérias dificuldades econômicas e sócio-políticas. Enquanto a os Estados Unidos despejava dinheiro na recuperação econômicada Alemanha Ocidental, a União Soviética absorvia os parcos recursos da Alemanha Oriental, tomados como indenização de guerra e utilizados para a própria reconstrução da economia soviética (na época, a Alemanha ainda não tinha sido dividida em dois Estados). O contraste brutalmente exposto em Berlim permitia que os propagandistas anti-soviéticos apresentarem o que era resultado da guerra e de longos e complexos acontecimentos históricos precedentes, como a pedra de toque dos sistemas sócio-políticos opostos; e sustentavam que o capitalismo trouxera prosperidade e liberdade ao passo que o comunismo só podia viver da espoliação e escravidão.
Stálin recusara às potências ocidentais toda intromissão na direção dos negócios da Alemanha Oriental, da mesma forma que elas lhe tinham vetado qualquer participação no controle do território germânico ocidental. Os norte-americanos, os britânicos e os franceses já estavam formando a República Federal Alemã, que iria ser dirigida pelo governo do conservador e anticomunista Konrad Adenauer, e as potências ocidentais ocupavam a parte ocidental de Berlim como um enclave em território inimigo. Era natural que a política soviética procurar eliminar esse enclave. 
No começo de 1948, a questão alemã parecia levar o mundo à III Guerra Mundial. A tensão girava em torno do problema da reforma monetária, pois uma nova moeda era essencial para a recuperação da Alemanha Ocidental, substituindo o marco velho e depreciado por um novo. A decisão foi tomada numa conferência entre as potências ocidentais, realizada em Londres. Em março, o representante soviético no Conselho do Controle Aliado (o governo militar da Alemanha) exisgiu um relatório completo da conferência, sabendo que a reforma selava a divisão da Alemanha e que colocava imediatamente a questão da circulação da moeda em Berlim. A União Soviética jamais poderia permitir que a cidade se incorporasse financeiramente a Alemanha Ocidental, com os aliados controlando indiretamente a economia da zona de ocupação soviética. Se duas moedas diferentes passassem a circular em Berlim, o resultado seria um conflito crônico, pois enquanto um volume cada vez maior de mercadorias na parte ocidental deveria assegurar a estabilidade do novo marco, o valor da moeda oriental seria solapado por uma contínua escassez de mercadorias. Quando a proposta soviética de receber um relatório minucioso da decisão aliada sobre a reforma monetária foi recusado, toda a delegação abandonou o Conselho, e seu chefe, o marechal soviético Vasily Sokolovsky, declarou que a partir daquele momento o Conselho do Controle Aliado deixava de existir. Alguns dias depois, os soviéticos iniciaram um bloqueio sobre Berlim, impedindo que todo transporte terrestre e marítimo vindo do ocidente não entrassem mais na cidade. 
Ao ordenar o bloqueio, Stálin esperava forçar as potências do Ocidente a saírem de Berlim, ou pelo menos induzi-las a abandonarem o plano de usar a República Federal Alemã como aliada contra a União Soviética. Logo houve uma grave crise de abastecimento, com falta de mercadorias e paralisando as indústrias. Porém, os ocidentais possuíam estreitos corredores aéreos que ligavam suas zonas na Alemanha a Berlim; e que, utilizando seu poderio aéreo, poderiam suprir as indústrias e os habitantes da cidade. Assim, aviões militares norte-americanos e britânicos participaram da “ponte-aérea”, transportando os suprimentos para Berlim a partir das cidades da Alemanha Ocidental. O bloqueio soviético sobre a cidade durou onze meses e diversas negociações para suspendê-lo resultaram em fracasso. Berlim só não sucumbiu graças à ponte-aérea e o grande número de aviões que participaram dela, cuja intensidade superou até as ações aéreas da II Guerra Mundial. Isso fez com que o bloqueio fracassasse, com os soviéticos aceitando um acordo proposto pelas Nações Unidas no qual foi restabelecido o Conselho do Controle Aliado e a divisão de Berlim em quatro zonas de ocupação. Durante esses meses do bloqueio em Berlim, as duas superpotências quase entraram em guerra, com os norte-americanos deslocando um bombardeio com armas nucleares na Grã-Bretanha, cuja missão era bombardear com bombas atômicas Moscou, caso os soviéticos não acabassem com o bloqueio. Enquanto Berlim estava sitiada, nasceu a República Federal Alemã, preparada para ser rearmada e contar com Forças Armadas e cujo ingresso na OTAN foi imediato. . 
Berlim continuou sendo um destacado termômetro da Guerra Fria. Incitando o militarismo, movendo uma guerra econômica declarada contra o bloco socialista, atraindo os melhores cérebros e técnicos altamente qualificados da Alemanha Oriental, desenvolvendo incrivelmente a espionagem, Berlim Ocidental seria uma das mais sérias ameaças à estabilidade da influência soviética. Só em Berlim Ocidental, os Estados Unidos gastaram em dez anos mais dólares do que em toda a América Latina, transformando a cidade na mais reluzente vitrine do capitalismo na Europa. Finalmente, em agosto de 1961, as autoridades da República Democrática Alemã levantaram uma barreira murada entre ambos os lados de Berlim, tentando extirpar o lado ocidental que tanto lhes prejudicava. 
-A Revolução Chinesa: o acontecimento mais importante para as relações internacionais do pós-II Guerra foi o estabelecimento da República Popular da China. Quando as forças revolucionárias chinesas tomaram a cidade de Cantão, no dia 14 de outubro de 1949, destruindo o último refúgio do decadente regime político do Kuomitang de Chiang Kai-Shek (que fugiu para a ilha de Formosa, onde instalaram um governo “nacionalista” aliado e bancado pelos Estados Unidos), estavam cumprindo a etapa final de um longo processo histórico e abrindo uma nova era para o grande país asiático. Sob a liderança de Mao Tsé-Tumg e do Partido Comunista Chinês, os revolucionários vencedores lutaram a mais prolongada guerra civil do século XX, e com sua vitória causaram a maior ruptura individual no capitalismo internacional desde a Revolução Russa.
O movimento operário chinês sofreu uma grande derrota em 1927, quando as forças revolucionárias que se levantaram nos principais centros industriais chineses (Cantão e Xangai) foram sufocadas pelo Kuomitang, com o auxílio das grandes potências imperialistas. Dessa forma, os comunistas que não caíram foram para as regiões rurais da China, onde iniciaram guerrilhas como o apoio do campesinato. Na realidade, desobedecendo as orientações da Internacional Comunista, as principais lideranças comunistas chinesas estavam convencidas de que, ao contrário da Rússia, a revolução na China deveria se basear primordialmente pelos camponeses que realizariam o cerco das grandes cidades a partir do campo, estando tal estratégia mais condizente com a realidade chinesa. E, de fato, os comunistas chineses estavam certos.
No campo, os comunistas instalaram a comuna de Kiangsi (1927-1934), que acabou sendo destruída pelas forças do Kuomitang, obrigando os comunistas, sob a liderança de Mao-Tse Tung, realizarem a Grande Marcha, refugiando-se nas proximidades da Muralha da China. Os comunistas lideraram a resistência contra a ocupação japonesa (1937-1945), conseguindo controlar a maior parte do país após o fim da guerra. A revolução concretizou a sua vitória entre os anos de 1946 e 1949, quando os comunistas avançaram sobre as cidades que ainda estavam sob controle do Kuomitang, que na época contava não apenas com armas, mas com consultores militares norte-americanos que, em vão, tentaram reverter a derrota do governo de Chiang Kai-Shek. 
A vitória dos comunistas chineses, pelas dimensões, pelo tamanho da população e pela importância econômica e estratégica de seu país, marcou fortemente a correlação de forças favoráveis ao socialismo, não só na Ásia, mas em todo mundo. 
Recém-proclamada a República Popular da China, Stálin convidou Mao para uma visita oficial a Moscou. Em dezembro de 1949, recebeu-o no Kremlin com todas as honras e todos os sinais de amizade e respeito. A situação delicada no leste europeu e o acúmulode tensões internacionais faziam com que o líder da União Soviética tratasse com todo zelo possível a principal liderança comunista chinesa. Afina, a China era uma dádiva colossal para Stálin. No auge da Guerra Fria, os soviéticos adquiriram um inestimável aliado. Dali por diante, a China protegeria a imensa fronteira soviética na Ásia; e ela poderia concentrar seus recursos militares na Europa. E os dirigente chineses necessitavam dos soviéticos para a sua recuperação econômica e proteção militar e diplomática. 
Em fevereiro de 1950, União Soviética e China firmaram uma sólida aliança formal. Stálin comprometeu-se a entregar os territórios da Manchúria conquistados pelos soviéticos durante a guerra com os japoneses e a abrir mão da Ferrovia Manchu, além de comprometer-se com um generoso auxílio no campo do desenvolvimento econômico. 
-A Guerra da Coreia: a eclosão da Guerra da Coreia, no dia 25 de junho de 1950, dominou as relações internacionais no início da década e aprofundou ainda mais as tensões da Guerra Fria. Suas raízes estão nos acontecimentos que se seguiram à rendição japonesa, em agosto de 1945. Naquele momento, os Estados Unidos e a União Soviética concordaram em dividir a Coreia numa marcação estritamente militar (e não política) ao longo do paralelo 38, cujo objetivo era facilitar a rendição das forças japonesas. Mas, desrespeitando o acordo, os Estados Unidos levaram o problema para as Nações Unidas, onde gozavam de forte influência. Em setembro de 1947, a questão da independência da Coreia já ocupava um papel de destaque nos conflitos entre os Estados Unidos e a União Soviética, resultando na efetivação da divisão do país em duas áreas de influência que deu base para a formação de um Estado comunista ao norte do paralelo 38, e de um Estado capitalista ao sul. 
Na ONU a maioria dos países era favorável a realização de um plebiscito em toda a Coreia visando a unificação em um único Estado. A União Soviética era contra, pois temia por manipulações e fraudes que favorecessem os interesses dos Estados Unidos, preferindo que o assunto fosse debatido no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Diante do impasse, os Estados Unidos se adiantaram e realizaram eleições no sul, em agosto de 1948, da qual originou-se a República da Coreia sob a liderança do nacionalista Synghaman Rhee, aliado dos Estados Unidos. No mês seguinte, em resposta, os soviéticos criaram a República Popular Democrática da Coreia nos moldes do regime político, social e econômico soviético e tendo como principal líder Kim Il Sung, que comandou a guerrilha coreana que lutou contra a dominação japonesa na Coreia. 
A linha divisória entre as duas Coreias se tornava cada vez mais explosiva, e eram constantes os choques e as escaramuças entre as tropas comunistas e anticomunistas. Finalmente, em junho de 1950, Kim Il Sung acusou o governo do sul de agressão e ordenou uma ofensiva geral norte-coreana. Os meios de comunicação do Ocidente interpretaram a invasão como um ato de agressão sino-soviético arquitetado por Mao e Stálin. Com toda probabilidade, Mao Tse-Tung tinha interesse numa Coreia unificada e socialista, um prolongamento natural da Revolução Chinesa. Em relação a Stálin, porém, seu comportamento era mais cauteloso, pois encarava a guerra como um conflito local, ainda mais porque acreditava na declaração do interventor norte-americano no Japão, o general Douglas MacArthur, de que a Coreia estava fora do perímetro de defesa norte-americanda no Pacífico. 
No entanto, os acontecimentos se precipitaram. Truman, sentindo as pressões internas e estimulado por seus aliados nas Nações Unidas, resolveu intervir no conflito e convidou os países membros da ONU a fazerem o mesmo, inclusive o Brasil. Os Estados Unidos e seus aliados, se aproveitando da ausência do delegado soviético em uma reunião do Conselho de Segurança, aprovaram uma resolução que obrigava todos os membros das Nações Unidas a enviar tropas à Coreia. A guerra local converteu-se em um conflito internacional e durante três anos ameaçou descambar para uma III Guerra Mundial. A opinião pública norte-americana, influenciada pela grande mídia, chegou, em sua maioria, apoiar uma extensão do conflito coreano para a China e União Soviética, o que resultaria em uma guerra mundial de imprevisíveis proporções. 
Foi um conflito sangrento. As forças militares da OTAN, disfarçadas como tropas de segurança da ONU, intervieram no conflito conjuntamente com as tropas norte-americanas que apoiaram a Coreia do Sul. As tropas estiveram sob a liderança do general Douglas McArthur, que queria levar a Doutrina Truman às últimas conseqüências. O comandante norte-americano não escondia o desejo de “esmagar os amarelos comunistas”. O exército norte-coreano, que havia praticamente avançado por toda a Coreia do Sul, inclusive ocupando a capital sul-coreana Seul, não resistiu a ofensiva das forças ocidentais e recuou. A ofensiva norte-americana penetrou fundo no norte, chegando até a fronteira com a China. Uma extraordinária contra-ofensiva chinesa fez recuar as tropas norte-americanas até o sul do paralelo 38 (Mao-Tse Tung declarava que “desejava jogar as forças imperialistas ao mar”). Desesperado, o general McArthur propôs ao presidente Truman, em abril de 1951, a “estratégia do esmagamento”, propondo um ataque nuclear massivo à Coreia do Norte e China. Truman não aceitou e demitiu o general Douglas MacArthur. 
Um conflito mundial parecia iminente. Embora não envolvida oficialmente no conflito coreano, a União Soviética apoiava chineses e norte-coreanos militarmente. Inclusive, os norte-americanos estavam cientes que cerca de 150 aviões chineses eram, na verdade, aviões soviéticos conduzidos por pilotos soviéticos. Contudo, isso não ocorreu por causa da habitual moderação de Stálin. Ciente das limitações militares soviéticas, cujo arsenal atômico era inferior ao norte-americano, esteve sempre aberto a negociações e atuou para acalmar os ânimos de Mao Tse-Tung e Kim Il Sung. Assim, entre 1951 e 1953, a guerra resumiu-se a defesa de posições, sem grandes ofensivas enquanto ocorriam as negociações de paz. Em 27 de julho de 1953, assinou-se um armistício (cessar-fogo) no qual foram mantidas as fronteiras entre as duas Coreias em torno do paralelo 38. O custo humano deste conflito , muito mais sofisticado em armas convencionais que a II Guerra Mundial, foi bastante elevado: a Coreia do Sul teve 300.000 baixas militares, os Estados Unidos 142.000, as tropas de segurança da ONU, cerca de 17.000. A Grã-Bretanha perdeu cerca de 7.000 soldados, enquanto as baixas chinesas e norte-coreanas, segundo as fontes da ONU, foram astronômicas, estimando-se entre 1,5 e 2 milhões de combatentes. Acredita-se que 1 milhão de civis foram mortos, somando tanto as baixas do norte com a do sul. 
Até hoje, mesmo com o fim da Guerra Fria, a questão coreana ainda é um dos maiores pontos de tensão nas relações internacionais, pois até hoje não foi firmado um tratado de paz entre os lados envolvidos diretamente no conflito. 
-A “Coexistência Pacífica”: ao se aproximar o fim da década de 1950, o mundo continuava a se equilibrar numa corda bamba sobre um abismo nuclear. A União Soviética conseguiu explodir a sua primeira bomba atômica em um teste, no dia 29 de agosto de 1949. Em 1953, os soviéticos surpreenderam o mundo ao criarem e detonarem em testes a primeira bomba de Hidrogênio (a bomba H). No campo das armas convencionais, apesar de uma ligeira superioridade norte-americana, Estados Unidos e União Soviética tinham a capacidade de vencer e destruir um ao outro. Assim, chegou-se ao ponto de ambos os lados reconhecerem a necessidade de limitarem ao mínimo a possibilidade de um conflito direto entre as duas superpotências. 
Os primeiros sinais de uma nova política de melhor entendimento entre Estados Unidos e União Soviética com o objetivo de controlar o perigo de guerra atômica partiu dos soviéticos. Com a morte de Josef Stálin, em 1953, as novas lideranças soviéticas começaram a preparar o terreno para as negociaçõesde desarmamento e controle de armas atômicas, visando uma coexistência pacífica entre os blocos capitalista e socialista. 
Tal iniciativa ganhou mais força com a ascensão ao poder na União Soviética de Nikita Kruschev. De origem camponesa (kulak), o novo líder soviético iniciou um período de reformas políticas na União Soviética, terminando com o rígido controle político mantido anteriormente, sendo responsável pela liberação de um número considerável de dissidentes das prisões soviéticas. Em fevereiro de 1956, no decorrer do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Kruschev denunciou os “crimes de Stálin”, iniciando uma verdadeira reviravolta na política soviética que resultou em um programa de reaproximação com o Ocidente (principalmente com os Estados Unidos) e no lançamento oficial da política de “coexistência pacífica”. Para Kruschev:
O princípio da coexistência pacífica está ganhando cada vez mais a aceitação internacional. E isso é lógico, pois não há outra saída para a situação atual. Na realidade, só existem duas soluções: a coexistência pacífica, ou, então, a mais devastadora guerra da História. Não há uma terceira alternativa (...). Não há qualquer inevitabilidade fatal da guerra. 
O reformismo de Kruschev batia de frente com toda a política bolchevique e de Stálin. Apesar da moderação com relação à política externa, Stálin seguia a velha tradição revolucionária marxista-leninista baseada na luta de classes e, por essa razão, considerava que, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável uma confrontação entre o imperialismo norte-americano, defensor da grande burguesia internacional, e a União Soviética e todo movimento comunista. Já Kruschev rompia com a tradição revolucionária comunista ao propor a “coexistência pacífica”, retirando o caráter de classe da lógica das relações internacionais. 
A repercussão da atitude de Kruschev no bloco socialista foi enorme. Provocou dissidências no leste europeu que resultaram na revolta na Hungria em 1956, que foi reprimida pelas tropas soviéticas. Mas o principal efeito foi o estremecimento e posterior rompimento entre a União Soviética e a China. Criticando duramente o “revisionismo” da diplomacia soviética, Mao Tse-Tung e as lideranças do Partido Comunista Chinês apareciam como os “verdadeiros revolucionários”, prontos a ajudarem os movimentos populares de resistência contra o imperialismo no mundo subdesenvolvido. 
Quanto aos Estados Unidos, a iniciativa soviética foi avaliada com profunda desconfiança. Os setores de extrema-direita, associados com os interesses da indústria armamentista, consideraram que a proposta de “coexistência pacífica” de Kruschev era uma traiçoeira armadilha cujo objetivo era fazer com que o governo norte-americano “baixasse a guarda” e reduzisse o seu armamento atômico e convencional. Cabe ressaltar que a insana corrida armamentista para a mútua destruição impulsionou o crescimento de um “complexo industrial-militar”(segundo as palavras do presidente norte-americano Dwright Eisenhower, em 1960) que mobilizava um número cada vez maior de homens e recursos que viviam da preparação da guerra. Como era de se esperar, os dois complexos industrial-militares ( o norte-americano e o soviético) eram estimulados por seus governos a usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes e, ao mesmo tempo, conquistar lucrativos mercados de exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas armas nucleares. Em suma, a Guerra Fria tornou a indústria armamentista em uma das mais lucrativas do mundo (senão a mais lucrativa). Para Richard Barnett:
A economia de guerra proporcionou abrigos confortáveis para dezenas de milhares de burocratas com e sem uniforme militar que vão para o escritório todo dia construir armas nucleares ou planejar uma guerra nuclear; milhões de trabalhadores cujo emprego depende do sistema de terrorismo nuclear; cientistas e engenheiros contratados para buscar aquela “inovação tecnológica” final que pode oferecer segurança total; fornecedores que não querem abrir mão de lucros fáceis; intelectuais guerreiros que vendem ameaças e bendizem guerras. 
A extrema-direita norte-americana, formada por generais de alta patente do Pentágono e pelos grandes conglomerados da indústria armamentista, fizeram de tudo para dar continuidade para uma solução racional da era nuclear, mesmo com as demonstrações soviéticas de tentarem uma reaproximação diplomática com os Estados Unidos, como a retirada total do Exército Vermelho da Áustria e o restabelecimento total da independência do país, as tentativas de aproximação diplomática com a Alemanha Ocidental e a redução dos efetivos militares soviéticos no leste europeu. 
Na realidade, a partir de 1956 e até o final da Guerra Fria, em 1989, os governos da União Soviética esforçaram-se por um acordo com os Estados Unidos para estabelecer uma “coexistência pacífica” entre as superpotências. Isso por causa dos cada vez mais dispendiosos gastos com arsenais convencionais e nucleares que sufocavam a economia soviética, exigindo sacrifícios internos. Aliás, isso não era uma exclusividade soviética, pois a economia norte-americana também ficou mais vulnerável devido aos altos gastos militares que impulsionaram a dívida pública norte-americana. Por sinal, desde os anos 1970, a dívida pública norte-americana é a maior do mundo. 
Apesar da negativa norte-americana e da oposição chinesa, Kruschev continuou articulando sua política de coexistência pacífica, utilizando-a como instrumento de propaganda tanto internamente como externamente, com o objetivo de conquistar o reconhecimento internacional através da imagem de um líder “comprometido com a paz mundial”. Foi por sua iniciativa que se tornou comum, a partir de 1959, os “encontros de cúpula” entre o presidente dos Estados Unidos e o principal líder soviético. Cercadas de grande publicidade, tais encontros tiveram poucos efeitos práticos, mas grande repercussão midiática. No dia 18 de setembro de 1959, Kruschev fez um discurso extremamente demagógico em defesa da “paz mundial”:
Todos os países do mundo devem esforçar-se para, dentro de quatro anos, não disporem mais de meios para fazerem uma guerra. Quero reafirmar aos delegados da Assembleia Geral da ONU que a União Soviética será um participante ativo em todos os esforços voltados para livrar a Humanidade do fardo dos armamentos e para consolidar a paz mundial. 
Mas os anos de 1959 a 1962 transcorreram num clima por vezes contraditório e quase sempre conflitante. Não era possível dissipar um confronto tão complexo como a Guerra Fria apenas com encontros entre chefes de Estado e boa vontade recíproca. Tanto que as tensões voltaram a crescer a partir de 1960, quando em maio Kruschev anunciou que os mísseis soviéticos haviam abatido um avião de espionagem norte-americano (o U-2) que sobrevoava o seu espaço aéreo fotografando e colhendo dados estratégicos da União Soviética. Tal fato ocorreu antes de mais uma Conferência de Cúpula a ser realizada em Paris. O objetivo das lideranças soviéticas era demonstrar a capacidade das novas defesas antinucleares que poderiam abater os mísseis nucleares norte-americanos em um caso de ataque. Kruschev exigiu um pedido de desculpas do presidente norte-americano, Eisenhower, mas este jogou duro, ressaltando a importância da espionagem para a defesa dos Estados Unidos e deixando de comparecer à Conferência. 
A situação tornou-se mais tensa no início de 1961, quando o novo presidente norte-americano, John Kennedy, apoiou um plano da CIA de treinar e coordenar exilados cubanos que deveriam derrubar o governo revolucionário de Fidel Castro em Cuba. Após quatro dias de combate, as forças revolucionárias cubanas derrotaram os invasores e provaram o envolvimento direto dos Estados Unidos na fracassada invasão. Após esse fato, o regime de Fidel Castro aproximou-se da União Soviética, com o líder cubano, até então um nacionalista, se declarasse comunista. Alguns meses depois, o início da construçãodo muro de Berlim acirrou ainda mais os ânimos, com os Estados Unidos aumentando o seu efetivo militar na Europa Ocidental. 
Em 1962, desenrolou-se uma das maiores crises da Guerra Fria. Como resposta à instalação de mísseis nucleares norte-americanos nas proximidades da fronteira entre a Turquia e a União Soviética, Kruschev aproveitou-se dos temores do governo cubano de que houvesse uma invasão norte-americana e convenceu Fidel Castro a autorizar a instalação de mísseis nucleares que teriam por objetivo impedir qualquer tentativa de avanço de tropas norte-americanas sobre a linha caribenha. Ameaçados por armas nucleares localizadas a 150 quilômetros de seu território, os norte-americanos não poderiam deixar de reagir. Kennedy anunciou o bloqueio de todos os barcos que levavam material militar para Cuba e ameaçou a União Soviética de um ataque nuclear caso todo arsenal atômico soviético não fosse retirado da ilha. Por fim, abriu-se as negociações, com Kruschev aceitando as exigências de Kennedy em troca de um compromisso formal norte-americano de que respeitariam a soberania cubana e nunca mais apoiariam qualquer tentativa de golpe anticastrista. 
A crise dos mísseis de 1962 quase provocou uma III Guerra Mundial, tornando possível a concretização do projeto de “coexistência pacífica” entre as superpotências. Em junho de 1963 estabeleceu-se uma linha telefônica direta entre Washington e Moscou, por onde os chefes de Estado norte-americano e soviético dialogariam diretamente sobre as questões internacionais. No mesmo ano, um acordo entre Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha proibiram os testes nucleares na atmosfera. Contudo, foi um tratado limitado, pois China e França recusaram-se assinar o acordo e continuaram a realizar tais testes nocivos ao meio ambiente. A importância desse tratado foi por ele ter sido o primeiro no qual limitou-se a utilização de armamento nuclear. 
A partir daí, embora os dois lados continuassem se armando, a Guerra Fria estabilizou-se. Nos anos 1970, foram feitos diversos acordos de limitação de armamentos nucleares entre Estados Unidos e União Soviética. Embora os norte-americanos interviessem militarmente no Vietnã (1965-1975) e os soviéticos no Afeganistão (1979-1988), essas confrontações, embora tivessem repercussão mundial, não impactaram tanto as relações entre as duas superpotências como nos tempos da Doutrina Truman. Na realidade, os confrontos da Guerra Fria nos anos 1970 e 1980 foram “terceirizados”, estando presente nas revoluções e guerras civis que ocorriam na América Latina, na África e na Ásia, nas quais os lados envolvidos no conflito eram armadas pelas superpotências. Já na década de 1980, mesmo com o presidente norte-americano Ronald Reagan lançar o “programa Guerra nas Estrelas”, no qual satélites espaciais iriam formar um escudo anti-ataque nuclear soviético e, simultaneamente, adotar um discurso anticomunista extremado similar ao da Doutrina Truman, não houve uma possibilidade de uma guerra mundial de forma efetiva. Na realidade, a Guerra Fria acabou com o desmoronamento econômico da União Soviética e a renúncia por parte do líder soviético Mikhail Gorbachev, a partir de 1985, de defender a manutenção do leste europeu com sua zona de influência, não reprimindo os movimentos anticomunistas desses países no ano de 1989. Antes, Reagan e Gorbachev assinaram o Acordo de Reikjavik, em 1987, onde se comprometeram em extinguir seus armamentos nucleares de curto e médio alcance, sendo esse um passo para a desmilitarização da Europa. 
-A corrida espacial: no decorrer dos anos 1950, a ciência e tecnologia da União Soviética teve avanços consideráveis, ao ponto de superar em algumas áreas os Estados Unidos. Os setores bélico e espacial que impulsionaram tal processo. Os cientistas soviéticos 
Possivelmente a maior conquista soviética alcançada tenha sido a do espaço. Mostrando-se capaz de dominar técnicas avançadas em energia nuclear, os cientistas soviéticos ultrapassaram os Estados Unidos em pesquisa espacial lançando o primeiro satélite em redor do globo terrestre, o Sputnik, em 5 de outubro de 1957. O segundo deles, lançado pouco depois, pesava trezentas vezes mais que o primeiro satélite norte-americano e levava em seu interior a cadela Layka. Em 1959, conseguiram fotografar a face até então desconhecida da Lua. Mais do que deflagrar a chamada corrida espacial, o pioneirismo soviético nessa área de pesquisa acertou uma vigorosa bofetada nos estrategistas norte-americanos e ocidentais. Desprezando totalmente os avanços tecnológicos soviéticos, tais estrategistas rotularam estas como pura e simples “propaganda vermelha”. A arrogância norte-americana não permitia que os especialistas norte-americanos admitissem que os soviéticos seriam capazes de fazer bombas atômicas ou mandar homens para o espaço. 
Em 1961, a bordo da nave Soyuz, o astronauta Yuri Gagárin tornou-se o primeiro homem a sair da órbita terrestre e atingir o espaço sideral. Como resposta, durante a presidência de John Kennedy, os Estados Unidos investiram pesado no seu próprio programa espacial coordenado pela NASA. Assim, a Guerra Fria impulsionou a corrida espacial entre as duas superpotências. Apesar do pioneirismo soviético, os norte-americanos foram os primeiros a enviarem astronautas para o satélite da Terra, a Lua, em 1969, sendo o astronauta Neil Armstrong o primeiro ser humano a pisar em um corpo celeste. 
� O “estilo de vida norte-americano”, cujo individualismo consumista embalava o imaginário das classes média e trabalhadora dos Estados Unidos.

Continue navegando