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Apostila Aula 8 - Mercado Informal no Brasil e as Mercadorias Políticas

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Apostila de Curso – Aula 9 
Mercado Informal no Brasil e as Mercadorias Políticas 
 
 
 
IDENTIFICAÇÃO 
 
Professor: Daniel Ganem Misse 
Unidade: Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos 
Departamento: Departamento de Segurança Pública e Social 
Disciplina: Criminalidades, moralidades, direitos e mercados no Brasil 
Carga horária: 60 horas/aula 
Semestre Letivo: 5º Período – Tecnólogo em Segurança Pública 
Curso: Tecnólogo em Segurança Pública - CECIERJ 
E-mail: danielmisse@gmail.com 
 
 
Meta: 
Apresentar as teias de negociação entre o legal/ilegal, formal/informal das 
mercadorias políticas na cidade como bazar, compreendendo o processo 
econômico e social que engloba essa sociedade em que os papéis sociais 
são tão flexíveis quanto a mão de obra assalariada. 
 
 
Objetivos: 
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 
1) Analisar a flexibilidade de papéis assumidos na cidade como bazar e 
as fronteiras entre o legal e o ilegal. 
2) Analisar o conceito de mercadoria política e seus desdobramentos 
quando associado à sujeição criminal. 
3) Desenvolver a habilidade reflexiva acerca das estratégias de 
sobrevivência que evidenciam a cidade como Bazar. 
 
1. Considerações sobre a Precarização do Trabalho e as novas 
fronteiras entre legal/ilegal, moral/imoral e lícito/ilícito. 
 
Segundo Márcio Pochmann (2003), as modificações ocorridas no 
capitalismo pós-moderno não afeta o trabalhador da mesma forma em todas 
as partes do mundo. Dependerá do grau de industrialização do país – ou de 
centralidade no sistema capitalista. 
Para explicar como a precariedade do emprego na era da 
globalização está ligada ao grau de desenvolvimento das forças produtivas 
em cada país, Pochmann realiza um breve histórico da divisão internacional 
do trabalho, separando-a em três etapas. 
A primeira divisão internacional do trabalho era caracterizada pela 
dicotomia entre os produtos manufaturados produzidos nos Estados do 
centro capitalista e os produtos primários provenientes da periferia. Enquanto 
o setor agrícola era o grande empregador nos países periféricos, o setor 
urbano, especialmente a indústria, destacou-se no emprego da maior parte 
da mão-de-obra nas economias centrais. 
A segunda divisão internacional do trabalho se deu no segundo pós-
guerra com a bipolarização do mundo entre Estados Unidos e União 
Soviética, que favoreceu não somente a reconstrução da Europa e Japão, 
mas a reformulação do próprio centro capitalista mundial, com a geração de 
um bloco de países semiperiféricos. A periferização da indústria foi possível 
nesses países sob a liderança do Estado, por meio da expansão e da 
proteção do mercado interno, o que permitiu a rápida passagem da fase 
agrária-exportadora para a de desenvolvimento industrial, um exemplo desse 
modelo foi adotado no Brasil por sua política de substituição de importações 
durante os anos 1950 a 1970. 
A Terceira divisão internacional do trabalho ocorre como 
consequência da segunda, pois empresas multinacionais se expandiram 
principalmente para a semiperiferia em busca de redução de custos, inclusive 
de mão-de-obra, e incremento na produção, tendo sido a revolução 
tecnológica peça chave para que essas empresas se tornassem gigantes 
transnacionais que pudessem melhor controlar as filiais (periferia) e 
concentrar conhecimento e tecnologia nas sedes (nos países centrais). 
Portanto, o que importa a essas empresas é o incentivo que receberão e os 
custos que cortarão podendo migrar sem muita dificuldade de um país para o 
outro em busca do que for mais vantajoso. 
Nessa nova etapa ocorre uma financeiralização do capitalismo, 
ocorrendo uma perda do valor do setor produtivo, que passa a sofrer um 
processo de reestruturação para se adequar à nova lógica de mercado. 
Desta maneira, os setores primário e secundário se tornam muito mais 
frágeis no processo de busca pela redução de custos, sendo que os países 
periféricos e semiperiféricos que passam a concentrar boa parte de seus 
trabalhadores nesses setores se tornam os mais vulneráveis, como afirma 
Pochmann: 
A nova Divisão Internacional do Trabalho parece referir-
se mais à polarização entre a produção de manufatura, 
em parte dos países semiperiféricos, e a produção de 
bens industriais de informação e comunicação 
sofisticados e de serviços de apoio à produção gerada 
no centro do capitalismo. [...] No centro do capitalismo, 
a redução da capacidade de produção intensiva em 
mão-de-obra foi complementada, em parte, pela 
ampliação de fábricas intensivas em capital e 
conhecimento, com valor adicionado por trabalhador 
muito mais elevado. Por conta disso, mais de 70% do 
total da ocupação desses países concentram-se no 
setor de serviços, que é menos globalizado (e, portanto, 
mais protegido) que os setores industriais e 
agropecuários. [...] Enquanto os países ricos possuem 
30% das ocupações mais expostas a concorrência 
internacional (indústria e agropecuária), os países 
pobres têm 70% das ocupações concentradas nos 
setores primários e secundários, que são mais objeto de 
competição mundial. (Idem, p.34) 
 
Ainda, Pochmann observa que: 
Ao mesmo tempo em que a nova Divisão do Trabalho 
impõe limites à dinâmica dos bons empregos aos países 
pobres, ocorre, paralelamente, a elevação no grau de 
desigualdade na distribuição da renda entre as 
populações dos distintos grupos de países. No centro 
capitalista, a diferença entre a renda dos 10% mais ricos 
em relação à renda dos 20% mais pobres era menos de 
4 vezes nos anos 90, enquanto nos países periféricos 
foi quase 6 vezes e de mais de 7 vezes nas economias 
semiperiféricas. (p.35). 
 
Esses também foram anos em que as atividades ilícitas mudaram de 
escala, se internacionalizaram e se reorganizaram sob formas polarizadas 
entre, de um lado, os empresários do ilícito, em particular do tráfico de drogas 
e que, a cada local irão se conectar com a criminalidade urbana comum e, de 
outro, os pequenos vendedores de rua, que operam à margem da verdadeira 
economia da droga e transitam o tempo todo entre a rua e a prisão. Esses 
são os “trabalhadores precários” da droga, que se multiplicam na medida em 
que varejo se expande e se enreda nas dinâmicas urbanas, modulação 
criminosa do capitalismo pós-fordista – criminalidade “just-in-time”, define 
Ruggiero (2000), que responde a variabilidade, oscilações e diferentes 
territorialidades dos mercados. É justamente nesse ponto que as atividades 
ilícitas – e não só o tráfico de drogas – passam a interagir com as dinâmicas 
urbanas e compor o bazar metropolitano nos pontos de intersecção com os 
igualmente expansivos mercados irregulares, esse terreno incerto em que 
operam as “mobilidades laterais” de trabalhadores que transitam nas 
fronteiras borradas entre o trabalho, expedientes de sobrevivência e o ilícito. 
E também entre a rua e a prisão. 
É justamente nas fronteiras porosas entre o legal e o ilegal, o formal 
e informal que transitam, de forma descontínua e intermitente, as figuras 
modernas do trabalhador urbano, lançando mão das oportunidades legais e 
ilegais que coexistem e se superpõem nos mercados de trabalho. Oscilando 
entre empregos mal pagos e atividades ilícitas, entre o desemprego e o 
pequeno tráfico de rua, negociam a cada situação e em cada contexto os 
critérios de aceitabilidade moral de suas escolhas e seus comportamentos. É 
isso propriamente que caracteriza o bazar metropolitano: esse 
embaralhamento do legal e do ilegal, esse permanente deslocamento de 
suas fronteiras sob a lógica de uma forma de mobilidade urbana, 
“mobilidades laterais”, de trabalhadores que transitam entre o legal, o 
informal e o ilícito, sem que por isso cheguem a se engajar em “carreiras 
delinqüentes”. 
O bazar metropolitano começou a ganhar forma em meados da 
década de 1980. No caso da Inglaterra e dos Estados Unidos, momento da 
virada conservadorade governos que fizeram por desmanchar direitos e 
garantias sociais, ponto de arranque da precarização do trabalho e 
redefinição dos mercados urbanos de trabalho. Em termos gerais, anos de 
reestruturação produtiva e da chamada flexibilização das relações de 
trabalho que terminou por esfumaçar as diferenças entre trabalho, 
desemprego e expedientes de sobrevivência, na própria medida em que o 
assim chamado informal instala-se no coração dos modernos processos 
produtivos e, no mesmo passo, se expande pelas vias de redes de 
subcontratação e formas diversas de mobilização do trabalho temporário, 
esporádico e intermitente, sempre nos limites incertos entre o legal, o ilegal, 
clandestino ou mesmo ilícito e delituoso (Ruggiero, 2000). 
Para exemplificar o caso brasileiro, em que o mercado informal 
sempre foi amplo, sendo largamente ampliado a partir dos anos 1990, pelos 
processos históricos de flexibilização da mão-de-obra assalariada, Telles e 
Hirata (2007) propõem uma etnografia do cotidiano de um bairro da periferia 
de São Paulo. 
Uma das personagens apresentadas nessa etnografia é Doralice, 40 
anos, que mora em uma modesta casa em um bairro da periferia paulista 
com seu filho (16 anos) e um marido doente (problemas renais), e mais a 
mãe um irmão e um menino de seis anos neto do primeiro casamento do 
marido. Não tendo hesitado em montar uma banca de CDs piratas em um 
bairro próximo a sua casa quando surge a oportunidade. 
Doralice não consegue reconstruir os percursos que os CDs 
percorrem até chegar a seu modesto ponto de venda - a partir de um certo 
ponto o circuito fica embaçado. Ela conhece muito bem as coisas da vida e 
sabe que não teria condições de bancar o seu negócio em algum lugar mais 
disputado e mais rendoso. Enfim, ela é desprovida de cacife necessário para 
lidar com as "forças da ordem" que parasitam os negócios informais-ilegais 
com a força da chantagem e da extorsão, diferindo em grande medida os 
modos como esses mercados se organizam e se distribuem nos espaços 
urbanos. 
Nas horas do aperto, Doralice tampouco titubeia em mobilizar uma 
espantosa rede que opera o mercado de receitas médicas fraudadas para 
conseguir o remédio que depende a vida do marido, e que passa por dentro 
das farmácias de maior porte da região. Como ela diz, "não estou fazendo 
nada de errado, não roubo, não mato" - apenas está se virando como pode, 
como entre tantas outras circunstâncias de sua vida. 
É um jogo situado de escalas que superpõem e se entrelaçam nos 
agenciamentos da vida cotidiana e é isso justamente que interessa reter e, a 
partir daí, apreender a cidade em suas diversas modulações. 
Na mira dos autores Ruggiero e South (1997), está um cenário 
urbano no qual se expande uma ampla zona cinzenta que torna incertas e 
indeterminadas as diferenças entre o trabalho precário, o emprego 
temporário, expedientes de sobrevivência e as atividades ilegais, 
clandestinas ou delituosas. O bazar metropolitano dizem os autores, 
começou a ganhar forma em meados da década de 1980. 
Esses, no entanto, foram anos em que as atividades ilícitas mudaram 
de escala, se internacionalizaram e se reorganizaram sob formas valorizadas 
entre, de um lado, os empresários do ilícito, em particular do tráfico de drogas 
e que, a cada local irão se conectar (e redefinir a) com a criminalidade urbana 
comum e, de outro, os pequenos vendedores de rua, que operam à margem 
da verdadeira economia da droga e transitam o tempo todo entre a rua e a 
prisão. Bem sabemos que, entre nós, o bazar metropolitano não é 
exatamente um novidade. Em outros termos, esse trânsito entre o informal e 
o ilegal, quiçá o ilícito,sempre esteve presente e sempre foi importante em 
cidades marcadas desde longa data por um hoje expansivo mercado 
informal, sempre próximo e tangente aos mercados ilícitos que também têm 
uma história que seria importante, em outro momento, reconstruir. 
Por outro lado, se a situação brasileira, tem que ser vista sob o 
ângulo dos processos transversais (e globalizados) que a atravessam, 
também é importante averiguar os modos de sua territorialização, em 
interação com contingências locais, história e tradições herdadas, assimetrias 
e desigualdades que lhes são próprias. 
Por enquanto, vale dizer que é esse o sentido crítico inscrito no 
empreendimento descritivo de Ruggiero, ao relançar a noção do "crime como 
trabalho" e discutir as proximidades e semelhanças, contiguidades e 
intersecções entre mercados legais e ilegais, localizando aí nessas interfaces 
a reposição e o engendramento de clivagens sociais, dessimetrias, 
discriminações diversas e também formas violentas de regulação nos seus 
modos de segmentação interna. 
Na verdade, esse jogo entre o legal e o ilegal parece hoje ser feito 
em termos muito diferentes do tão debatido descompasso entre a cidade 
legal e a cidade real. Ou melhor: será preciso se deter nas práticas, 
mediações e conexões que se processam justamente nesses terrenos 
incertos que não se reduzem às fronteiras físicas (se é que elas existem) do 
que chamamos periferia, pois passam por todo o entrelaçado da vida social. 
 
2. As Mercadorias Políticas. 
Vimos na última aula que na favela o reforço da sujeição criminal vem 
da associação dos moradores com mercadorias ilícitas que carregam um 
forte significado de “clandestinidade” (MISSE, 1999). A transação dessas 
mercadorias se dá por meio de relações de poder que dependem da 
existência de mercadorias políticas. 
A variedade de mercadorias ilícitas é imensa, bem como a escala de 
sua criminalização. Do mesmo modo, o grau de efetiva incriminação de 
agentes desses mercados varia bastante e depende de uma concentração de 
interesse (material ou ideal) sobre determinados temas, bem como de 
campanhas morais, da visibilidade pública dos ganhos privados ilegais ou do 
montante de violências concorrentes mobilizadas. 
Michel Misse assim define o que seriam as mercadorias políticas: 
Existe um outro mercado informal cujas trocas 
combinam especificamente dimensões políticas e 
dimensões econômicas, de tal modo que um recurso 
(ou um custo) político seja metamorfoseado em valor 
econômico e cálculo monetário. O preço das 
mercadorias (bens ou serviços) desse mercado, ganha 
a autonomia de uma negociação política, algo como um 
mercado de regateio que passe a depender não apenas 
das leis de todo mercado, mas de avaliações 
estratégicas de poder, de recurso potencial à violência e 
de equilíbrio de forças, isto é, de avaliações 
estritamente políticas. Para distinguir oferta e demanda 
desses bens e serviços daqueles cujo preço depende 
fundamentalmente do princípio do mercado proponho 
chamá-los de ‘mercadorias políticas’. (MISSE, 2011, pp. 
219-220). 
 
Observamos que o conceito de mercadoria política depende de 
avaliações estritamente políticas utilizando avaliações estratégicas de poder 
e capacidade de coação para a obtenção de um bem econômico e mesmo 
político que possa ser convertido para outras trocas futuras. 
A “economia da corrupção” é apenas umas das formas de 
mercadorias políticas existentes, pois no caso da corrupção o agente utiliza o 
recurso político expropriando-o do Estado para poder oferecê-lo como valor 
de troca para a consecução de benefícios econômicos, tendo um forte caráter 
de privatização de bens públicos. As suas diversas formas podem ir desde o 
tráfico de influência até a expropriação de recursos de violência, cujo 
emprego legítimo dependia da monopolização de seu uso legal pelo Estado. 
Entretanto, o conceito de mercadoria política abrange também outras 
formas que o discurso da corrupção não dá conta de explicar, por ser uma 
noção construída no campo da moral. 
A questão da extorsão mediante chantagem ou mesmo do sequestro 
é observada como caso-limite de uma mercadoria cuja lógica econômica é 
baseada exclusivamente em uma relação extra-econômica, que lhe dá 
origem erazão de existência. Por ser uma atividade mercantil não-regulada, 
não se submetendo à regulação do Estado, não se desenvolve sem apelar 
para recursos políticos próprios. É essa dimensão de poder ilegal, 
semilegítima ou ilegítima, que condiciona seu desenvolvimento e que a torna 
passível de constituir redes de dominação não-legítima (MISSE, 2011). 
O que não é regulado pelo Estado, por ser considerado ilegal, passa 
a criar redes de auto-regulação paralela, em que os agentes desse mercado 
tendem a desenvolver suas próprias agências de proteção, ou a se 
colocarem sob a proteção de cursos de ação ilegais de agentes estatais 
(policiais, servidores públicos, juízes, políticos, militares etc.). As “ligações 
perigosas” possíveis entre a oferta de mercadorias criminalizadas abrem 
assim um leque de opções quanto ao emprego da violência (MISSE, 1997, 
1999, 2011). 
Nesse sentido, a sujeição criminal vai influir diretamente no preço 
dessas mercadorias políticas, uma vez que o seu custo seria calculado de 
acordo com a maior ou menor reprovação ou desconfiança gerada pela troca 
dessa mercadoria, o que aumenta a possibilidade de venda das mercadoria 
políticas expropriadas da função pública investida nos agentes públicos. 
Tudo isso pode ser lido como uma dupla tragédia: uma tragédia 
social, que tem representado o extermínio de milhares de jovens por ano, 
numa acumulação macabra de cifras oficiais sombrias e desencontradas e 
uma tragédia institucional: pressionadas pela opinião pública, as autoridades 
do Estado continuam a pôr o foco na repressão aos varejistas nas favelas 
sem que consigam controlar os seus próprios agentes, coadjuvantes 
principais da reprodução ampliada da violência. 
Desta forma, mesmo encarcerando boa parte dos banqueiros do jogo 
do bicho e dos “donos” de áreas de tráfico na cidade, a troca das 
mercadorias ilícitas permanece normalmente, pois agora a impunidade 
assume uma nova face. As trocas de mercadorias políticas mantém a 
reprodução do mercado informal ilegal do Rio alheia a qualquer prisão ou 
mesmo intervenção. 
Nas favelas cariocas, a mercadoria ilícita que alimenta a rede de 
mercadorias políticas tem nas drogas ilícitas somente um de seus expoentes. 
Os serviços públicos também alcançaram um grau de “privatização” que 
ajudou a alimentar a rede do tráfico que entra em decadência na cidade a 
partir do início da década de 2000 e das milícias que entram em ascenção no 
mesmo período. 
A ascensão à associação de moradores de diversas lideranças do 
movimento1 durante as décadas de 1980 e 1990, findou por diminuir a 
participação política de moradores na sua comunidade ao mesmo tempo em 
que houve uma delegação dos serviços que o Estado prestava de forma 
precária na favela e que passaria mais intensamente pela intermediação da 
associação de moradores. Isso propiciou a produção de mercadorias políticas 
em torno de serviços públicos nas favelas cariocas que foram apropriados 
por grupos de traficantes e, mais recentemente, milicianos. Podemos 
observar alguns exemplos como o caso do “Gari Comunitário” da prefeitura e 
do “Convênio Bomba” da CEDAE. 
O programa “Favela Limpa”, também conhecido como Gari 
Comunitário, foi criado em 1993 para atender a cerca de 80 favelas da cidade 
onde a COMLURB teria problemas para realizar a coleta, por conta da forte 
presença do tráfico de drogas. Teriam sido contratados cerca de 800 garis 
comunitários que eram indicados pelas associações de moradores 
conveniadas com a Comlurb, sendo repassados mais de 23 milhões de reais 
por ano (dados de 2001) para executar o projeto2. 
Em 2005, o Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou Ação Civil 
Pública contra a Prefeitura do Rio de Janeiro, tendo no mesmo ano o Tribunal 
Regional do Trabalho (TRT) julgado liminarmente pela suspensão do 
convênio, sob o argumento de que tratava-se de uma “terceirização ilícita por 
intermédio do programa ‘Gari Comunitário’ mantido pela Prefeitura do Rio de 
Janeiro”. A prefeitura (Comlurb) fez um acordo com o MPT para ir 
substituindo gradualmente os garis comunitários por garis contratados por 
meio de concurso público. 
																																																								
1	“Movimento” era o nome que se dava ao tráfico varejista de drogas nas favelas. Hoje 
em dia fala-se de “firma” (Misse, 2003; Grillo, 2013).	
2	Para maiores informações, ver relatório do Tribinal de Contas do Município (TCM) do 
Rio de Janeiro que descreve como se estrutura, o cálculo de quantos garis por áreas 
populacional e quais os objetivos, detalhando também quais as 82 comunidades 
atendidas e o valor repassado para cada associação de moradores em 2000 para a 
contratação e execução do serviço. Disponível em: 
http://www.tcm.rj.gov.br/Noticias/414/4714-01.PDF. Acessado em: 10/08/2012.	
As favelas que estudamos entre 2011 e 2014, quase todas já tinham 
encerrado o programa Gari Comunitário, e muitos foram os relatos do seu 
sucesso e também dos cadastramentos indevidos realizados pela associação 
de moradores. 
Algumas das falas mais marcantes foi a de uma senhora que dizia 
“eles entravam na minha casa e apanhavam o lixo na minha lixeira. Agora, 
não tem mais gari em lugar nenhum e tenho que jogar meu lixo na rua”. De 
fato, é impressionante a quantidade de lixo acumulado em todas as 
comunidades que visitamos. Mais impressionante ainda é no 
Cantagalo/Pavão-Pavãozinho que fica em uma região nobre da cidade do Rio 
de Janeiro, entre Ipanema e Copacabana, a quantidade de lixo jogado em 
locais indevidos e o seu acúmulo atrás de edifícios de luxo. A principal 
demanda da população, mapeada por equipes de programas sociais, nessas 
duas favelas se refere à questão do descarte do lixo, sua coleta e 
reaproveitamento. 
Também pudemos observar casos em que Garis Comunitários iam 
em uma associação de moradores na Zona Norte mensalmente buscar seu 
pagamento, mas não prestavam qualquer serviço. Segundo relatos de 
moradores: “eles só aparecem no dia do pagamento”. A proposta dos Garis 
Comunitários foi levantada por muitos moradores em diversas reuniões de 
que participamos, quase todos reclamando do fim do projeto e da não 
substituição por garis da Comlurb em número suficiente para fazer a limpeza. 
Hoje, a questão relativa à limpeza urbana e coleta de lixo nas favelas é a 
principal demanda de serviços públicos mapeada pelos gestores sociais, 
juntamente com a falta d’água. 
O caso da Água, também é outro exemplo de terceirização e 
precarização da mão-de-obra para a execução de serviços na favela, 
reforçando a figura da associação de moradores como gestora dos serviços 
públicos no plano local. 
Na década de 1980, para dotar de saneamento básico essas 
localidades, bem como demais áreas do Estado ocupadas por segmentos 
populacionais de baixa renda, foi iniciada pela CEDAE, com a implantação do 
Programa de Favelas da CEDAE - PROFACE, um conjunto de ações que se 
desenvolveram até os dias de hoje, quando do surgimento do Programa 
Água Para Todos. 
A partir de 1990, através do Programa de Saneamento para 
Populações de Baixa Renda - PROSANEAR-RJ, a atuação da CEDAE 
nessas áreas passou a contar com um reforço substancial de recursos 
provenientes do Banco Mundial e da Caixa Econômica Federal, o que 
resultou na ampliação de sua abrangência, na diversificação de suas 
atribuições e na especialização de atividades. 
Segundo Maria Cristina Teixeira Lima Verda e Orlando de Melo 
Lima3, a absorção pela CEDAE da operação e manutenção dos sistemas de 
bombeamento de água existentes em comunidades faveladas, estabelecida 
como estratégia do PROFACE, foi implementada através de convênios 
firmados entre a empresa e as representações comunitárias locais. 
Esse serviço veio ao encontro das demandas dessas comunidades 
seriamente afetadas pelas dívidas com a concessionária de energia elétrica, 
decorrentes do consumo de energia das elevatórias integrantes dossistemas 
de abastecimento de água locais, geralmente construídos, operados e 
mantidos pelos próprios moradores. 
Através desses convênios a CEDAE passou a assumir a conta de 
energia emitida pela concessionária em nome da associação de moradores, 
a repassar para a associação de moradores local o salário e encargos pagos 
ao morador encarregado da operação e manutenção do sistema interno (o 
manobreiro), a responsabilizar-se pela manutenção dos equipamentos 
eletromecânicos das elevatórias, bem como a fornecer o material necessário 
aos eventuais reparos da rede interna. Isso ficou conhecido como Convênio 
Bomba. 
Do início da década de 1980 até meados da década de 1990, 
sucessivos convênios foram firmados entre a CEDAE e as associações de 
																																																								
3	Em seu trabalho publicado “Saneamento Básico Em Comunidades De Baixa Renda No 
Estado Do Rio De Janeiro - Aspectos Institucionais E Gerenciais” no XXVII Congresso 
Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Disponível em: 
http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/saneab/xi-002.pdf. Acessado em: 15/10/2012.	
moradores, ultrapassando o número de 80 associações de moradores no fim 
da década de 1990. 
O sistema de água que fora criado em muitas localidades a partir de 
ligações clandestinas (“gato”) na rede d’água, sendo cobrada taxa pela 
associação de moradores ou até mesmo lideranças locais para a sua 
instalação e manutenção, com o Convênio Bomba, continuou sendo cobrada. 
Mesmo após o programa Favela-Bairro urbanizar e refazer a rede de 
água e esgoto de muitas dessas favelas, sempre foi paga a taxa de 
manutenção da rede pelos moradores à associação. Muitos dos argumentos 
que justificavam a taxa era o fato de que o Convênio Bomba não pagaria 
pelas peças de reposição e manutenção das redes d’água, ficando o ônus 
para a associação. 
Até maio de 2012, 39 associações de moradores recebiam repasses 
do Convênio Bomba (CEDAE), quando o projeto se encerrou por problemas 
de prestação de contas junto ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de 
Janeiro (TCE-RJ). 
Com a interrupção do convênio, os manobreiros ficaram sem salário 
e começaram a cobrar para realizar manobras d’água para abastecer a 
favela. Em muitos lugares passou a ser cobrada uma anuidade, como no 
caso de uma comunidade da Grande Tijuca, de 150 reais para o morador ter 
água. 
Pudemos acompanhar também junto à associação de moradores do 
Morro do São João, que a CEDAE não substituía bombas queimadas e peças 
quebradas. Segundo o presidente da associação, teve um vez que a 
comunidade ficou duas semanas sem água porque a “bomba pifou”, fazendo 
com que ele começasse a cobrar de moradores para consertá-la. 
Conversamos à época com agentes da CEDAE e, segundo o que nos 
informaram, a empresa faz isso propositalmente, pois haveria muitos furtos 
de peças e bombas supostamente queimadas nas favelas. Seria uma 
espécie de punição pelo fato de não terem mantido a bomba a salvo de 
ladrões. Segundo ainda afirmaram, sempre que isso acontece em um lugar, 
espera-se duas semanas para resolver o problema e nunca mais o evento 
torna a ocorrer. 
Quase todas as associações de moradores cobram até hoje também 
pelo serviço de entrega de cartas e cadastramento para participar de 
programas sociais. O custo mensal pago por domicílio para se receber uma 
carta é em média 5 reais. Já o cadastramento em programas sociais varia. 
A informalidade do espaço das favelas, em que não se tem ruas, 
becos e vielas mapeadas, bem como a falta de um sistema de CEP para 
essas áreas, tende a torná-las passíveis das mais diversas formas de trocas 
de mercadorias políticas decorrentes de uma sujeição criminal que impede os 
moradores dessas áreas de se inserirem como cidadãos plenos de direitos. 
Trocam-se favores políticos muitas vezes por serviços públicos precários que 
serão geridos por associações de moradores sem capacidade de gestão e 
que muitas vezes acabam se tornando alvo do domínio de grupos criminosos 
como forma de obtenção de poder político e financeiro. 
O que essa questão faz transparecer é que, aparentemente, os 
serviços públicos no Brasil não foram feitos para serem universais e muito 
menos de qualidade. Na falta de serviços, paga-se por ele de outras formas. 
É como se a reprodução de mercadorias políticas fosse algo inerente à 
política pública no país, pois como os serviços não são universais, quem 
quiser tê-los e puder pagar por eles, o terá de qualquer forma, mesmo que 
ilicitamente. 
Outro caso emblemático é a questão do transporte público. Muitas 
são as favelas que são de difícil acesso para ônibus. Portanto, nessas áreas 
formas alternativas de transporte se desenvolveram, como as vans e moto-
taxis. 
No caso das vans, cobra-se entre 2 e 5 reais por uma viagem de 5 a 
20 minutos (dependendo do tamanho da favela). Caso não queira ir de van, 
que também demora para passar, pode pegar um moto-taxi, subir na garupa 
e pagar também mais de 5 reais em média. Em muitos dos casos, a 
associação de moradores cobra também uma taxa pelo serviço. No caso das 
vans, é mais difícil o controle, pois algumas são regularizadas, pagando 
pequenas taxas somente. Entretanto, no caso dos moto-taxistas, as taxas 
são cobradas semanalmente. Desta forma, percebemos que quanto mais 
irregular for o serviço maior será o seu custo enquanto mercadoria política. 
Com a chegada das UPPs em muitas das favelas, as cobranças 
feitas de cooperativas de vans e moto-taxistas pararam de ser realizadas 
pelas associações de moradores. Entretanto, o não reconhecimento da 
profissão de moto-taxista pela prefeitura torna a categoria frágil e ainda 
passível de extorsões, principalmente por policiais, sendo comum que o 
moto-taxi se torne mercadoria política em muitos lugares. 
Como vimos, muitos dos serviços que se sustentavam de forma 
ilícita, sendo explorados como mercadorias não só econômicas como 
políticas, passam a ser desativados por inúmeras razões, levando muitas 
associações de moradores a uma queda nas suas receitas, o que fez com 
que houvesse eleições em muitas delas, já que a sua rentabilidade não era 
mais tão expressiva. 
Com a chegada das UPPs, muitas localidades viram uma 
formalização da venda de gás, outra fonte de renda de traficantes e 
milicianos, da luz e o fim das instalações irregulares de tevê à cabo (o “gato-
net”). 
A segurança também emerge na favela como outra forma de 
mercadoria política, seja em áreas de milícia, seja em áreas de domínio do 
tráfico de drogas. No caso das milícias a mercadoria política é a proteção, 
sendo cobrada financeiramente dos moradores. Apropriação dos serviços 
públicos de TV a Cabo, internet, distribuição de gás, vans, dentre outros, 
surgem como produtos a serem somados no pacote da mercadoria 
segurança. Muitos dos milicianos são agentes do Estado, do campo da 
segurança pública, que por possuírem essa função pública se valem de sua 
condição para vender proteção em troca de benefícios políticos e 
econômicos. 
Nos territórios dominados pelo tráfico de drogas, a mercadoria 
política tem seu valor relacionado à sujeição criminal que incide sobre a 
favela. Seu preço é fixado em observância a essa fator, impactando 
diretamente no valor da mercadoria droga e da mercadoria política a ser 
transacionada. Deste modo, se sabemos que quanto maior a reação social 
ao produto que está sendo vendido, mais custosa será a sua rede de 
proteção que envolverá agentes públicos, em especial da força policial, 
garantindo por exemplo o acesso a armamentos e informações sobre 
operações e batidas policiais, podemos concluir que quando envolve também 
a sujeição criminal, há um aumento ainda maior nos custos e no valor dessa 
mercadoria política. 
Por que um bairro como Copacabana tem um intenso tráfico de 
drogas de classe média e isso não se converte em violência da mesma forma 
que nas favelas? Talvezporque o lugar em que é possível de forma mais 
intensa a troca da mercadoria política proteção de forma mais visível sejam 
as favelas, as áreas em que incidem maior sujeição criminal. A sujeição 
criminal que incide sobre a favela torna esses espaços da cidade mais 
vulneráveis à exploração pública da mercadoria política proteção seja por 
agentes públicos, seja por traficantes. A violência acaba sendo produzida 
pela disputa por poder e a correlação de forças em torno do controle de 
mercadorias políticas, encarecidas pela incidência da sujeição criminal na 
favela. Não é à toa que em muitos desses lugares as associações de 
moradores acabam sendo dominadas pelo tráfico, tendo seus serviços 
apropriados e estabelecendo nova rede de trocas de mercadorias políticas 
para que a comunidade tenha acesso aos serviços públicos básicos. 
Como se vê o conceito de mercadoria política é mais amplo do que o 
de corrupção, pois normalmente exige uma posição de poder e de correlação 
de forças em que alguém (em geral um agente público) se apropria 
privadamente de um bem público, transformando-o em mercadoria a ser 
negociada em troca benefícios ou favores de qualquer ordem, política ou 
econômica. 
 
 
 
3. Referências Bibliográficas. 
 
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Pacificados. Tese de Doutorado, PPGSD/UFF, 2013 
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POCHMANN, Márcio. O Emprego na Globalização – a nova 
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VERDA, M. C. T. L. e LIMA, O. M. Saneamento Básico Em 
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http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/saneab/xi-002.pdf. Acessado em: 
15/10/2012.

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