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PORTUGUÊS – 11.ª CLASSE – 2021 Os Professores: Miguel Machiza e António Marcos FICHA INFORMATIVA EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO TEMPO E NO ESPAÇO 1. Fases da Evolução da Língua Portuguesa 1.1. Proto Indo-Europeu Os estudos em torno da evolução da Língua Portuguesa são consentâneos em considerar que o Português e o Francês têm raízes comuns, ou seja, são línguas latinas, tal como o que ocorre com o Inglês e o Alemão que são classificadas como línguas germânicas. Entretanto, várias questões podem decorrer de tal constatação, como por exemplo: se do latim derivaram as línguas Portuguesas e Francesa, a semelhança do que ocorreu com as germânicas, então qual é a origem do Latim? A resposta para a pergunta supramencionada é nos dada por GONÇALVES & BASSO (2010: 14), considerando que, dos diversos estudos feitos por filólogos, linguistas, gramáticos comparatistas e humanistas, foi possível descobrir que o Latim e o Sânscrito eram aparentados o suficiente para terem uma origem comum, nos moldes em que dizemos que o Francês e o Português têm origem no Latim. A suposta língua que deu origem ao Latim, ao Grego, ao Sânscrito, ao Protogermânico etc., foi chamada de “proto indo-europeu”. Isto é, ainda que possa ser uma posição contestada, é de se aceitar que não só o português, como também a quase totalidade dos demais dialetos mundiais, com excepção do Finlandês, do Estónio, do Húngaro e do Basco, terão uma origem primitiva comum: o proto indo-europeu – língua utilizada por uma comunidade que se julga oriunda da zona do Danúbio, por volta do terceiro milénio a.C. Esta língua ter-se-á desdobrado, num processo de evolução continua, do qual viriam a resultar as línguas: Celta, Germânicas, Bálticas, Eslavas, Indo-iranianas, Helénicas, Anatólias, Tocarianas, Ilíricas, Albanês, Arménio, Hitita e as Latinas. Por sua vez, também estas se desdobrarão, sendo que é deste ultimo grupo que, a par do francês, do occitânico, do catalão, do espanhol, do sardo, do italiano e do romeno, emergira o português (MATOS, 2010: 35-36). A língua Proto Indo-Europeia está na razão de discussões acesas, uma vez que, alguns estudiosos a classificam como uma língua hipotética, porque, apesar de não haver registro escrito ou falado (gravação) algum, o qual comprove que um dia foi usado por uma comunidade de falantes, a gramatica e o vocabulário de muitas línguas do mundo apresentam tantas semelhanças entre si que é provável que essas similaridades não sejam fortuitas, mas ocorram devido ao facto de possuírem um ancestral comum. Embora haja grande controvérsia a respeito dessa hipótese (pois existem teorias que afirmam que essas semelhanças indicam empréstimos e não parentesco) a teoria da árvore genealógica permanece como solução mais económica para a explicação dos traços comuns entre essas línguas. Esses traços são, por exemplo, termos que denotam relações de parentesco, como as palavras abaixo: PORTUGUÊS LATIM SÂNCRITO INGLÊS ALEMÃO Pai Pater Pitar Father Vater Irmão Frater Bhratar Brother --------- A observação sistemática dessas similaridades foi feita pela primeira vez por William Jones (1746-1794), um juiz da corte suprema de Bengala, na Índia, que descobriu várias semelhanças entre o sânscrito, o grego antigo, o latim, o persa, o galês e outras línguas. Jones anunciou suas descobertas em um discurso no terceiro aniversário da Sociedade Real Asiática de Calcutá́ em 1786. Essas pesquisas deram origem à hipótese de que línguas como o latim e o sânscrito pertencessem a um conjunto geneticamente relacionado. Esse conjunto foi chamado de família das línguas indo-europeias. O Proto Indo-Europeu foi uma língua de uso há muito tempo – daí a denominação “arcaica”. O prefixo “proto” vem da suposição de que o Proto Indo-Europeu seja uma proto-língua1: um idioma que está na origem de uma família de línguas. Os termos “indo” e “europeu” designam a extensão geográfica da distribuição dos primeiros usuários das línguas indo-europeias: da atual Europa ocidental à Índia. O termo proto indo-europeu também qualifica os itens de vocabulário dessa língua arcaica, que foram herdados pelo conjunto das línguas da família das línguas indo- europeias (BECCARI, 2015). Em síntese, o Proto Indo-Europeu deu origem ao Latim que, por sua vez, teve um papel importante na formação do Português, por isso descrevemos, de forma sucinta esta língua. EXERCÍCIOS 1- De que língua deriva o Latim e quais são as demais línguas do qual derivam? 2- Onde era falada a língua hipoteticamente considerada ancestral do Latim? 3- Por que razão é que se considera que a língua Proto Indo-Europeia está na razão de discussões acesas? 4- Qual terá sido o contributo de William Jones no estudo das línguas? 5- O que é uma proto-língua? 1 Uma proto-língua é uma língua que foi o ancestral comum de diversas outras línguas que formam uma família de línguas. Na maioria dos casos, a proto-língua ancestral não é conhecida directamente, e tem de ser reconstruída através da comparação de diferentes membros da família de idiomas, por uma técnica chamada de método comparativo. Através deste processo apenas uma parte da estrutura e do vocabulário da proto-língua pode ser reconstruído, e, quanto mais antiga for a proto-língua em questão, em relação a seus descendentes, mais fragmentária será a sua reconstrução. Informação disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Protol%C3%ADngua. https://pt.wikipedia.org/wiki/Protol%C3%ADngua 1.2. Latim Conforme já foi dito, do Latim derivam as línguas portuguesa, francesa, espanhola, entre outras, contudo, há razões históricas que justificam tal fenómeno, que passamos a mencionar. Primeiro, refira-se que, segundo GONÇALVES & BASSO (2010: 21), “o latim era a língua falada na região central da Itália, chamada de Lácio, durante o primeiro milénio antes de Cristo e que, juntamente com o Império Romano, estendeu-se por grande parte da Europa, pelo norte da África e por diversas regiões da Ásia, até se transformar, através do curso natural das línguas, em dialetos incompreensíveis entre si, que acabaram dando origem às lingues românicas.” Neste contexto, o Latim foi levado à Península Ibérica pela expansão do Imperio Romano, no inicio do seculo III a.C, particularmente no processo de romanização dos povos do oeste e noroeste (lusitanos e galaicos), processo que encontrou tenaz resistência dos habitantes originários dessas regiões (BECHARA, 2009: 10). Entretanto, importa referir que, numa primeira fase, na assaz longa fase do bilinguismo, o latim conviveu com as línguas primitivas e absorveu algumas marcas autóctones que influenciaram decisivamente a sua evolução. Contudo, o seu poder prevalecer, tendo-se estabelecido em todos os territórios conquistados na bacia mediterrânica e em grande parte da Europa, e sofrido evoluções divergentes de acordo com os substratos encontrados nessas regiões. Surgiu, conforme já mencionado, o grupo de línguas Românticas. Não obstante, a romanização não se fez numa velocidade uniforme por todos os territórios da România (MATOS, 2015: 37). Imagem 1: Península Ibérica Pré-românica (adaptada) A romanização, que transformou as comunidades locais e o espaço que elas habitavam. Além de uma nova organização administrativa e de novas infraestruturas, os romanos trouxeram consigo a língua latina. Progressivamente, os povos que habitavam a Península Ibérica foram adotando o latim como idioma comum. Refira-se que, antes da ocupação romana, outros povos2 2 Antes do domínio romano, vários povos habitaram a Península Ibérica: os próprios iberos, depois gregos e fenícios. Maistarde, vieram os celtas, povo de origem germânica. Da fusão desses povos, surgem os celtiberos, que foram normalmente dominados pelos romanos. (Universidade Castelo Branco, 2008: 14). habitavam (ou tinham habitado) diferentes áreas da Península Ibérica e alguns vestígios das suas línguas permaneceram no latim usado a partir do século III a. C. O ibero, o celta, o basco, bem como as línguas dos cartagineses, dos fenícios, dos tartéssios, são línguas faladas antes da chegada dos romanos. Assim, voltando a questão inicial, refira-se que, de acordo com Universidade Castelo Branco (2008: 14), “a origem das línguas neolatinas está no latim vulgar, a língua falada, e não na língua escrita ou literária (latim clássico)”, por isso importa descrever, de forma breve, os dois registos. a) Latim Clássico O Latim Clássico é convencionalmente conhecido como o estilo literário culto da língua latina ao longo do primeiro século a.C. até o início do primeiro século da Era Cristã (GONÇALVES & BASSO, 2010: 23-24). São desse período a prosa elaborada do político, filósofo e orador Cícero; a poesia lírica e a épica nacional de Virgílio, com as suas Bucólicas e a sua Eneida; e a lírica amorosa de Catulo, Propércio, Tibulo, Horácio e Ovídio, além de textos de historiadores como Tito Lívio. Refira-se que esta ideia é praticamente replicada por BENEDITA & REIS (s/d: 9), quando afirmam: “também chamado latim clássico, era o idioma ensinado nas escolas e cultivado por uma pequena elite, entre ela os grandes escritores de Roma, como Horácio e Virgílio.” Em geral, o latim que ensinamos hoje em dia é a língua literária desse período, tanto por causa da beleza do estilo cuidadosamente trabalhado desses autores quanto pelo facto de que grande parte do corpus mais substancial dos textos clássicos é literário, o que nos deixou sem acesso aos outros registros linguísticos do período. Ao contrário do que se pensa, não é do latim clássico que as línguas românicas se desenvolveram, mas sim das variantes faladas ao longo da história do latim. Ou seja, em geral, o latim mais inovador, aquele que deu origem a novas línguas, foi o latim vulgar (BENEDITA & REIS, op. cit.). b) Latim Vulgar O Latim Vulgar, foi o que, pelo seu elevado grau de flexibilidade, e por ser o empregue pela vasta maioria dos falantes nos territórios sob o escopo de Roma, que se perpetuou e que evoluiu para as actuais línguas (MATOS, 2015: 38). De acordo com BENEDITA & REIS (op. cit.), “o termo vulgar deve ser entendido aqui como a língua falada por todas as camadas da população. Ele inclui as diversas variedades da língua falada, desde a linguagem corrente, das ruas, até as linguagens profissionais, os termos usados nas guerras e nas transações comerciais e as gírias. Foi esse latim que os soldados, lavradores, viajantes e funcionários romanos levaram para as regiões conquistadas e que, por diversos fatores, deu origem às chamadas línguas românicas”. Outras Invasões à Península Ibérica Para além da invasão Romana à Península Ibérica, recorde-se que outros povos vieram, sobretudo enquanto o império romano decaía. Os outros invasores referidos são: os povos bárbaros de origem germânica, como os suevos, vândalos e visigodos, no século V d.C., por isso, a língua latina, dominante desde o século III a. C, sofreu grandes influências, mas sua base românica, consolidada durante tantos séculos, não foi alterada. No entanto, esse processo, aliado ao esfacelamento do Império Romano, libera as forças linguísticas desagregadoras, de tal forma que em fins do século V os dialetos regionais já estariam mais próximos dos idiomas românicos do que do próprio latim. Começa então o período do romance ou romanço, denominação que se dá à língua nessa fase de transição, que mistura o latim vulgar e os dialetos ibéricos, dando origem às diversas línguas românicas, ou neolatinas. Entre elas, as mais importantes são: francês, espanhol, italiano, sardo, provençal, rético, catalão, português, franco-provençal, dálmata e romeno. Mas as invasões à Península Ibérica prosseguiram. No século VIII é a vez dos árabes: vindos do norte da África, eles conquistam a região. Sua influência foi tão forte na língua que se acentuaram ainda mais as diferenças entre os vários romances existentes. Com a chegada dos povos Árabes, floresceram na Península as ciências e as artes, bem como a agricultura, a indústria e o comércio, com consequente introdução de inúmeras palavras para designar no- vos e variados conhecimentos (BENEDITA & REIS, s/d: 9-10). Assim, importa salientar que, as línguas que falavam — línguas germânicas e o árabe — fizeram sentir a sua influência e constituem os superstratos3 da língua nativa de estrutura latina (no caso do árabe, pode também falar-se de adstrato). Eis a razão para a existência, no Português, de palavras que derivam das outras línguas que confluíram a Península Ibérica, conforme o quadro abaixo: LÍNGUAS PALAVRAS DE ORIGEM NAS OUTRAS LÍNGUAS Árabe Muitas delas começam com “al”, que é o artigo árabe aglutinado à palavra: álcool, alfazema, alface, alcachofra, alfândega, algema, azeite, arroz; xarope, tarefa, tarifa, algarismo, enxaqueca. Ibérica Baía, balsa, barro, bezerro, cama, esquerdo, garra, manto, sapo. Céltica Bico, cabana, caminho, camisa, carpinteiro, carro, cerveja, duna, gato, gordo, 3 O conceito de superstrato refere-se à influência de outras línguas sobre a primitiva, que, todavia, se mantém ou mesmo ao conjunto de elementos linguísticos trazidos por uma língua vinda do exterior que coexistiu algum tempo com a língua local. Já o conceito de substrato remete-nos a língua antiga e, eventualmente, desaparecida que deixou vestígios na língua que chegou e predominou. Por fim, o conceito adstrato refere-se a toda língua que vigora ao lado de outra (bilinguismo), num território dado, e que nela interfere como manancial permanente de empréstimos. Ex.: O Árabe em relação às línguas latinas faladas na Península Ibérica. lança, peça. Grega Bolsa, cara, corda, calma, anjo, bispo, bíblia. Germânica Agasalho, barão, banco, banho, brasa, guerra, lata, roupa, sopa. Quadro adaptado dos pressupostos apresentados por Universidade Castelo Branco (2008: 14). NOTAS IMPORTANTES De acordo com GONÇALVES & BASSO (2010: 44-46), muitas das influências locais que o latim falado recebeu nas regiões romanizadas se deveram às línguas já existentes nessas regiões anteriormente à chegada dos romanos. A essas línguas chamamos de “línguas de substrato”. É natural percebermos que as populações preexistentes ao domínio romano falavam outras línguas e acrescentaram ao latim que passaram a falar diversas características de suas línguas. As influências foram maiores em regiões onde o latim ficou mais tempo em contacto com as línguas de substrato. Os superestratos mais importantes para as línguas românicas foram, de um lado, os “bárbaros” (germânicos no ocidente e eslavos no oriente da România) no período de queda do Império Romano, e os árabes, que invadiram e conquistaram o norte da África, a Ibéria e parte da Sicília por volta do século VIII. EXERCÍCIOS 1- Em que contexto histórico surgem as línguas românicas? 2- Quais povos habitavam a Península Ibérica antes da primeira Invasão? 3- De forma breve, distingue o Latim Clássico do Vulgar? 4- Qual destes dois registos foi importante às línguas actuais? 5- Que outras invasões se fizeram sentir na Península Ibérica. Justifica, recorrendo a palavras do Português oriundas das línguas dos povos invasores. 1.3. Passagem do Latim ao Galego-Português4 A língua (rigorosamente, línguas) romance — «romance» vem de ROMANICE FABULARE, que significa “falarà maneira dos romanos” — começa a ganhar identidade própria a partir dos séculos VI e VII, em grande medida, como resultado da acção dos substratos 4 Os termos Galaico-português ou Galego-português referem-se, ambos, ao primitivo idioma português, também conhecido como português medieval, que se estende grosso modo até os fins do século XV. Pode-se considerar que o termo galaico-português é mais erudito, porque de “galaico” é que vem a forma galego. O étimo é o latim gallaecu-, relativo à Galiza. O galego-português, que se estendia para ambas as margens do rio Minho, foi relativamente uniforme durante a sua época. e dos superstratos, mas também da acção de outros factores de diversificação relacionados, por exemplo, com a forma e a cronologia da romanização. Por esta altura, a Península Ibérica já era linguisticamente fragmentada, tendo em conta que já emergiam diferenças entre os romances peninsulares nas regiões que se viriam a designar galego-portuguesa, leonesa, castelhana, navarro-aragonesa ou catalã. Assim, é de se inferir que tal fragmentação que se verificou na Península Ibérica está na razão do surgimento, dentre outras línguas, do galego-português. Neste diapasão, refira-se que não é rigoroso o registro do nascimento do galego-português. Provavelmente existiu desde o século VI, mas os primeiros documentos conhecidos redigidos integralmente em galego-português datam do século XIII (BENEDITA & REIS, s/d: 11). Neste sentido, conforme advoga MATOS (2015: 28-29), para compreender com pleno rigor a passagem do latim ao galego-português, é irreversível abordar as intrincadas movimentações militares e políticas que permitiram essa transição. Em rigor, o autor mencionado, afirma que os Romanos desembarcaram na Península Ibérica no ano de 218 a.C., no que se constituiu um dos episódios da segunda Guerra Púnica (218-221 a.C.). tendo vencido os Cartagineses, em 209 a.C., puderam empreender a conquista do território, processo que só viria a terminar em 19 a.C., após sujeição dos cântabros e dos ástures no Norte da Península. Por essa altura, havia, na Península dois grandes domínios linguísticos: (a) um ibérico e (b) outro no interior do país, no Norte e no Oeste, onde eram falados dialetos indo-europeus próximos do celta. Numa fase inicial da conquista, ainda próximo da bacia mediterrânica, a região foi dividida em duas províncias: a Hispânia Citerior e a Hispânia Ulterior. Imagem 2: Hispânia Ulterior e Citerior. A primeira, correspondia, grosso modo, à região Nordeste, compreendendo o vale o vale de Ebro e a cidade de Cartagena. A segunda equivalia, aproximadamente, à Andaluzia de hoje em dia. A partir de então, os Romanos caminharam para o interior da Península5. 5 Península (do latim pæne, quase e insula, ilha) é uma formação geológica consistindo de uma extensão de terra que se encontra cercada de água por quase todos os lados, com exceção da porção de terra que a liga com a região maior, designada por istmo. Por exemplo, diz-se Península Ibérica para designar a região constituída pela Espanha e por A parir da pacificação em 19 a.C., as províncias passaram a ser três: Lusitânia (com capital em Emérita Augusta, ou Mérida) e a Bética (com a capital em Córdoba, ou Córdova, resultando da divisão na Hispânia Ulterior; e a Terraconense (cuja capital era Tarraco, ou Torragona), fruto da anexação da Gallaecia à antiga Hispânia Citerior. Contudo, após estas primeiras divisões administrativas, outras, de não menos importância, surgiram. Será de revelar a criação, por parte de Caracalla, em 216, da Hispânia Nova Citerior Antoniana, que abrangia o Noroeste de Portugal, a Galiza e as Astúrias e, mais tarde, perto do término do século III, a constituição de Galiza como uma província independente sob a égide de Diocleciano. Tendo demonstrado, já desde a época pré-romana, uma unidade cultural bastante sólida, esta zona mais setentrional da Península conseguiu preservar, de uma forma mais evidente e duradoura, acionada e à influência das línguas de substrato, fez com que o latim apresentasse uma configuração melhor predisposta a mudanças, ao contrário do que se verificou no Sul. Viria a ser neste espaço linguístico que, séculos mais tarde, se constituíra e desenvolveria o galego-português. Em síntese, pode-se aduzir que o termo galego-português designa a língua românica falada durante a Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza e o actual sistema linguístico que ocupa toda a faixa ocidental da Península Ibérica, incluindo os diversos dialetos das línguas portuguesa e galega, assim como as variedades próprias das Astúrias, Bierzo, Portelas, de Xálima, das Terras de Alcântara, de Olivença e de Barrancos. Para além destes territórios, as aldeias de Rio de Onor e Guadramil também podem ser incluídas nesta faixa, tendo sido até meados do século XX de fala leonesa. Ademais, o idioma galego-português é o idioma ancestral comum às línguas galaico- portuguesas. Destacou-se pela sua utilização como idioma próprio da poesia trovadoresca não só nos reinos onde era nativa (Portugal, Galiza e Leão), mas também em Castela e, pontualmente, noutros locais da Europa. No século XI, à medida que os antigos domínios foram sendo recuperados pelos cristãos, os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim. Com a Reconquista, os grupos populacionais do Norte foram-se instalando mais a sul, dando assim origem ao território português, da mesma forma que, mais a leste na Península Ibérica, os leoneses e os castelhanos também foram progredindo para o sul e ocupando as terras que, muito mais tarde, viriam a se tornar no território do Estado espanhol. Com o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galego-português consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Em galego-português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais): Portugal, ligada à Europa pelos Pirenéus. Também se pode dizer que uma península é um braço de terra que avança pelo mar, ligando-se ao resto do continente pelo istmo. Cancioneiro da Ajuda - Copiado (na época ainda não havia imprensa) em Portugal em fins do século XIII ou princípios do século XIV. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase todas são de amor. Cancioneiro da Vaticana - Trata-se do códice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Entre as suas 1.205 cantigas, há composições de todos os gêneros. Cancioneiro Colocci-Brancutti - Copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, há composições de todos os gêneros. EXERCÍCIOS 1- Qual é o significado de ROMANICE? 2- De forma sucinta, refere-te ao que pode estar na razão do surgimento do galego- português? 3- Quais províncias podem ser consideradas a partir da pacificação em 19 a.C.? 4- Resume, em poucas palavras, a passagem do Latim para o Galego-português. 1.4. Português Arcaico / Antigo. O rótulo Português Arcaico pode ser utilizado para designar o período compreendido pela fase trovadoresca (fins do século XII até meados do século XIV). Os historiadores e filólogos que estudam esse período do português normalmente situam seu inicio no século XII pelo seguinte motivo: é nesse momento que a língua portuguesa aparece documentadapela escrita. Com efeito, até essa data, os documentos eram redigidos em latim. Entretanto, conforme MATOS (2015: 33), os textos escritos em romance, não só em galego-português, como também noutros idiomas românicos, era, desde logo, um sinal indicativo da crescente perda da força do latim como língua principal. Saliente-se que, para este autor, a primitiva escrita galego-portuguesa remota aos finais do século XII e, tal como nos demais romances europeus, inicia-se com o registo em verso. Foi, de igual maneira, formalmente inaugurada pelos trovadores, compositores palacianos da Idade Média, geralmente de origem cavaleiresca e nobre. Se na área occitânica, o “trovador” era apenas quem compunha, na área galego-portuguesa ser cavaleiro era mesmo condição substancial. Correspondia a uma categoria profissional e social. É, especialmente, neste período que surgem textos muitos importantes e exclusivamente escritos em galego-português, por isso GONÇALVES & BASSO (2010: 79), consideram que “muitas mudanças foram reconhecidas nesse período, (...) [destacando-se textos canónicos], como a Carta de Fundação da Igreja de Lardosa, e os textos escritos em galego-português propriamente dito, que datam do final do século XII e início do XIII, como a Notícia de Torto, datado entre 1210 e 1216, e a Demanda do Santo Graal. Há pelo menos dois outros textos importantes com relação ao nascimento da língua portuguesa: a Notícia de Fiadores, datada de 1175, e o Testamento de Afonso II, de 1214.” Neste período estará também em marcha a diferenciação entre o português e o galego. E há desde cedo uma vontade de reconhecer a identidade da língua portuguesa e de a valorizar cultural e politicamente. No fim do século XIII, no reinado de D. Dinis, a Chancelaria real adopta o português como língua dos documentos oficiais, substituindo o latim. Importa salientar que, nesta época, são vários os traços que caracterizam esta fase inicial, destacando-se os fonéticos e morfológicos. Esta época, conforme os vários estudiosos, apresenta uma subdivisão em duas grandes épocas: a primeira, de galego-português, estender-se-ia ate cerca de 1350 e a segunda, designada por português arcaico medio, subsistiria ate ao seculo XVI (MATOS, op. cit.). Abaixo, são exploradas estas duas sub-periodizações. a) Primeira fase do Português Arcaico: o Galego-português (1100-1350). Os primórdios do Galego-português coincidem com a criação do Reino de Portugal. Tanto um facto quanto outro decorrem das correrias e acções guerreiras promovidas pela Reconquista. Enquanto o Reino se consolida, o Galego-português vai ocupando os novos territórios, deslocando-se do Norte para o Sul. Essa língua românica foi adoptada pelos moçárabes, pelos muçulmanos que tinham permanecido na península, e por outros contingentes que desciam do Norte para ocupar as terras abandonadas pelos Árabes. A Língua literária mesmo ocorreria, igualmente no começo desse século, com a extraordinária floração da poesia lírica, reunida nos cancioneiros: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa. Três categorias de poesia são recolhidas nesses cancioneiros: (1) as cantigas de amor, de inspiração provençal, em que fala o homem; (2) as cantigas de amigo, mais populares, em que fala a mulher; (3) as cantigas d’escarnho e mal dizer, poemas satíricos, habitualmente grosseiros (CASTILHO, s/d). b) Segunda fase do Português Arcaico (1380-1540) A transição do Galego-português para o Português Arcaico se deu “por volta de 1350”. Antes e depois dessa data o Galego-português ainda existia, e a segunda fase do Português Arcaico já teria aparecido. O Reino de Portugal consolida-se cada vez mais no sul. Em 1255 D. Afonso III instala-se em Lisboa, e o centro cultural e político passa a girar ente Lisboa e Coimbra. Em 1290 funda-se a Universidade de Lisboa, transferida para Coimbra em 1308. Já́ no séc. XII, a fronteira do Reino de Leão e Castela isola a Galícia de Portugal. O isolamento se acentua no séc. XIV, o Galego- português sofre alterações linguísticas, separando-se do Português. Entretanto, mesmo separadas, ainda hoje as duas línguas são de fácil intercompreensão (CASTILHO, s/d). NOTAS IMPORTANTES Características do Português Arcaico Vocabulário. Destaca-se a mudança na forma das palavras fremosa (formosa) e também no sentido – fazenda (façanha). Fonética. Verificam-se hiatos que se transformam em crase: maa > má; seer > ser; e ditongo: meo > meio; feo > feio. Morfologia. Os nomes são terminados em -nte, -or, -ês eram uniformes: a infante, mha senhor, lingoa português; Flexionavam no plural: ourives: ouriveses; simples: simpleses; Gênero diferente: m, planeta, mar, cometa (femini- nos); tribo, coragem, linguagem (masculinos); Particípio passado em UDO: perdudo, conhoçudo, escondudo (permanece em conteúdo). Sintaxe. O pronome reto em função de objecto: “E o senhor disse que enforcariam ell”(Coutinho, 1971); Verbos de movimento seguidos de EM: “Veerom da Gallia Gótica em Espanha”; Pleonasmos: “oje em este dia”, boas bondades”; Períodos muito extensos; Pontuação escassa; Colocação mais livre de palavras na frase; Predomínio da ordem inversa. Universidade Castelo Branco (2008: 17) EXERCÍCIOS 1- Menciona os textos importantes para esta época e que contribuíram para a evolução do português. 2- Em que contexto o Latim foi substituído pelo Português? 3- Em que contexto surgem as cantigas de amor, de amigo e de escarnio? 4- Pesquisa sobre as mesmas e apresenta uma informação sucinta. 5- Quando é que o galego-português sofre alterações e quais foram as implicações de tais alterações? 1.5. Português Clássico A fase do português clássico engloba o período que vai de 1415 até 1572, coincidindo com o início das grandes navegações portuguesas e culminando com a publicação do épico Os Lusíadas6, de Camões (GONÇALVES & BASSO, 2010: 97). A língua de Camões e de outros escritores, como ele marcados pelo Renascimento humanista e italianizante, constitui, verdadeiramente, o português “clássico”. Para chegar a essa fase, o português sofreu, do século XIV ao XVI, uma série de transformações que tiveram como efeito fixar a morfologia e a sintaxe de tal maneira que, daí por diante, pouco variarão. A morfologia do nome e do adjectivo absorve as consequências das evoluções fonéticas: os plurais dos nomes em ão são fixados (tipo mãos, cães e leões), assim como o feminino dos adjectivos em ão; ex.: são, feminino sã. Ainda que uma ortografia arcaica por vezes as mascare, desde 1500 já têm plena vitalidade as formas da língua moderna (TEYSSIER, 1982: 55). Em 1415, com a conquista de Ceuta, no norte da África, inicia-se um processo que levará o português para muitas regiões para além do mar, como o Brasil e vários territórios na costa da África, além da India e de outros territórios asiáticos (GONÇALVES & BASSO, op. cit). Ainda nesse período, a Universidade de Coimbra, fundada em 1290, é instalada em Lisboa e depois retorna a Coimbra, exercendo papel importante na produção e disseminação das letras, da gramática, da dialética e da retórica. Ao longo do século XV, também floresce a prosa historiográfica, com nomes importantes como Fernão Lopes. Todo esse movimento culminaria com o estabelecimento do português clássico, especialmente em virtude da produção renascentista, no qual a língua viria a se consolidar e retomar vários aspectos do latim, perdendo diversas alterações vulgares que vinham se desenvolvendo desde o período galego-português. As conquistas territoriais também foram importantes para a consolidação clássica da língua portuguesa. Por volta de 1500, muitas das grandes navegações portuguesas já haviam ocorrido, frutos do movimento expansionistaportuguês. Nessa altura, Portugal já conhecia, além das ilhas da Madeira, os Açores, bem como Cabo Verde, a América, a África e também vários domínios na Ásia, como Damão, Macau, Ceilão (Sri-Lanka), Bombaim etc. O contacto com diferentes realidades, povos, culturas e línguas exerceu algum impacto na língua portuguesa, principalmente em relação ao seu léxico, que incorporou inúmeras palavras originárias desses locais então exóticos – o português teve contato, durante a sua fase clássica, com diversas línguas, literalmente das mais diferentes partes do globo. Alguns exemplos dessas incorporações lexicais são: zebra (do etíope), canja (do malabar, língua falada no Sri-Lanka), chá (mandarim), condor e lhama (do quéchua), chocolate (azteca), 6 “Os Lusíadas” é uma epopeia do escritor português Luís Vaz de Camões, que tem como assunto a viagem de Vasco da Gama às Índias. A Narrativa é dividida em dez cantos que são organizados em 1.102 estrofes, cada uma com oito versos, todos decassílabos heroicos, e com rima ABABABCC. https://www.infoescola.com/literatura/poesia-epica/ https://www.infoescola.com/escritores/luis-vaz-de-camoes/ https://www.infoescola.com/biografias/vasco-da-gama/ https://www.infoescola.com/biografias/vasco-da-gama/ https://www.infoescola.com/redacao/narrativa/ manga (indonésio), sagu (malaio), várias palavras de origem tupi, como ananás, amendoim, mandioca etc. Por outro lado, nesta época entra na língua portuguesa um elevado número de helenismos e latinismos (palavras de origem grega e latina) como resultado do fenómeno cultural do Renascimento. Os humanistas valorizaram e recuperaram as culturas e as línguas da antiguidade greco-latina. Se a base do português se constitui a partir do latim vulgar, os termos latinos entram neste período por via culta, em muitos casos pela influência de autores como Camões ou João de Barros. Alguns latinismos que enriquecem o português nesta fase são: orbe, rapace, lácteo, argênteo. Entre os helenismos, mesmo se intermediados pelo latim, contam-se: ode, átomo, ninfa, epopeia. EXERCÍCIOS 1- O que caracteriza substancialmente do período clássico da língua portuguesa? 2- Pesquisa outras palavras do português que derivam das línguas que entraram em contacto com o português clássico ao moderno. 1.6. Português Moderno O ano de 1536 foi o decisivo ponto de viragem, ditando o inicio desta nova etapa da língua portuguesa (MATOS, 2015: 39), contudo, refira-se que a transição de um período para o outro é, inevitavelmente, um processo continuo e moroso, por isso que esta data é, pois, meramente indicativa, como ponto convergente de vários acontecimentos de índole literária, cultural e até política. A expansão ultramarina portuguesa para África, Asia, Oceânia e América significou, por um lado, a propagação da língua portuguesa para diversos territórios por todo o globo e, por outro, o aparecimento dos crioulos7 de base portuguesa, fruto da necessidade de comunicação entre o povo luso e as comunidades recém-descobertas. Permitiu, igualmente, a entrada na língua de vocábulos directamente provenientes destes territórios (MATOS, 2015: 40). Ademais, pode-se destacar que a literatura, a codificação gramatical e o aumento da escolarização contribuíram para estabilizar a língua nos últimos duzentos anos. O português moderno, ora designado de contemporâneo, herda as estruturas gramaticais e lexicais da fase anterior. No entanto, suaviza o peso que o grego e o latim têm na língua — não vingam certos vocábulos eruditos, mas integram-se termos que descrevem, sobretudo, conceitos científicos e técnicos: oftalmologia, ecológico, exógeno, televisão. O português torna-se mais recetivo à 7 Diz-se de ou cada uma das línguas mistas nascidas do contacto de um idioma europeu com línguas nativas, ou importadas, e que se tornaram línguas maternas de certas comunidades socioculturais. influência, primeiro, do francês (garagem, bisturi, cassete) e, depois, do inglês (líder, futebol, hotel, scanner). Os empréstimos desta língua fazem sentir-se sobretudo nas áreas da ciência, da tecnologia e do espetáculo. Na viragem do século XX para o XXI, o português é uma língua de comunicação inter- nacional: é falado em quatro continentes; é a 5a língua mais falada no mundo e a 3.a mais falada na Europa; tem mais de 250 milhões de falantes nativos (Observatório da Língua Portuguesa); tem estatuto oficial na União Europeia, no Mercosul e na União Africana; é língua oficial de nove países (CPLP): Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Guiné Equatorial; é largamente falado ou estudado como segunda língua em muitos países. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECCARI, Alessandro J, O proto-indo-europeu: ancestral hipotético do português. UNESP, São Paulo, 2015. Capturado em http://www2.assis.unesp.br. Consultado a 15 de Setembro de 2020. BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática Portuguesa, 37a ed., Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2009. Capítulo 1 – Noções Históricas in BENEDITA, Maria Cecília Garcia & REIS, Aparecida Costa dos, Minimanual Compacto de Gramática – Língua Portuguesa – Teoria e Prática, 2a ed., Editora RIDEEL, São Paulo, s/d. Pp. 7-15 CASTILHO, Ataliba T. de. Como, onde e quando nasceu a língua portuguesa? Capturando em http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Como-onde-e- quando-nasce-a-lingua-portuguesa.pdf. Consultado a 15 de Setembro de 2020. Galego-português. Capturado em https://pt.wikipedia.org/wiki/Galego-português. Consultado a 15 de Setembro de 2020. História da Língua Portuguesa. Capturado em https://www.santillana.pt. Consultado a 15 de Setembro de 2020. O galego-português. Capturado em http://www.linguaportuguesa.ufrn.br/pt_2.3.php. Consultado a 15 de Setembro de 2020. Origem e evolução da língua portuguesa. In MATOS, João Carlos, Gramática Moderna da Língua Portuguesa, 3a ed., Escolar editora, 2015. Pp. 25-56. Unidade A - Do Latim ao Português in GONÇALVES, Rodrigo Tadeu & BASSO, Renato Miguel, História da Língua, LLV/CCE/UFSC, Florianópolis, 2010. Pp. 9- 48. Universidade Castelo Branco, História da Língua Portuguesa, UCB, Rio de Janeiro, 2008. TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Martins Fontes, 1982. http://www2.assis.unesp.br/ http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Como-onde-e-quando-nasce-a-lingua-portuguesa.pdf http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Como-onde-e-quando-nasce-a-lingua-portuguesa.pdf https://pt.wikipedia.org/wiki/Galego-português https://www.santillana.pt/ http://www.linguaportuguesa.ufrn.br/pt_2.3.php
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