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Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar a evolução da filosofia da contabilidade. � Descrever as doutrinas científicas da contabilidade. � Desenvolver uma síntese sobre as escolas contábeis. Introdução A contabilidade passou a diferenciar-se da escrituração contábil e tornou- -se uma ferramenta primordial de esclarecimento para o domínio das riquezas, visando auxiliar as entidades na tomada de decisões e esclarecer as modificações que ocorrem no seu patrimônio. Neste capítulo, você vai aprender sobre as doutrinas científicas da contabilidade, a filosofia da contabilidade e, por fim, as escolas contábeis. Filosofia da contabilidade O conhecimento contábil é entendido como científico desde o início do sé- culo XIX. Nesse período, as pesquisas justificavam a essência científica da contabilidade. O desenvolvimento, vindo com as escolas, teorias e doutrinas contábeis, resultou no reconhecimento da contabilidade como ciência, já que ela cumpria todas as solicitações necessárias para tal qualificação — possuía objeto próprio, critério definido, finalidade determinada, teoremas, teorias, hipóteses, tradição, entre outros. Nesse início do século XIX, já era de co- nhecimento entre os teóricos que o registro contábil representava somente uma expressão relativa à análise dos fatos patrimoniais, não o próprio fato. A palavra “ciência” deriva do latim, scientia, e significa “conhecimento” ou “saber” (SIGNIFICADO, 2017). O conhecimento pode ser adquirido por meio de estudos, mas também com a prática. Podemos afirmar que a prática de uma ciência acontece com o uso de métodos científicos. A experiência é um conhecimento que se adquire pela observação dos fatos ocorridos. Então, o que significa ciência? Em síntese, ciência corresponde a todo conhecimento obtido mediante pesquisa ou prática, com base em princípios que os amparam. Depois de alcançar o status de ciência, a busca passou a ser por enquadramen- tos dentro da lógica e da filosofia das ciências, a fim de firmar a sua essência de conhecimento superior. Enquadrar a contabilidade na visão filosófica provocou as seguintes definições: � o método de identificar os acontecimentos; � a natureza do elemento que se estuda; � o objetivo do conhecimento contábil; � as formas de raciocinar adotadas pela contabilidade; � o que ocorre para que o elemento patrimonial consiga ser constituído e o que intervém nisso; � como renomear os elementos da riqueza individual e como raciocinar para descobrir um nome apropriado; � como utilizar conceitos a fim de apresentar realidades sobre o compor- tamento patrimonial particular ou aziendal; � as bases do modelo teórico; � o campo científico no qual melhor se encaixa a contabilidade; � a ordenação dos elementos e a análise sistemática; � como definir o uso de conhecimentos das demais disciplinas, garantindo a independência científica da contabilidade. Sabemos que pesquisadores estudaram a contabilidade por meio da visão filosófica em diversos países, focados em refletir sobre o motivo das coisas serem como são, ou seja, sobre o conhecimento do conhecimento contábil. Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil2 A filosofia está associada ao conhecimento e à reflexão, e a contabilidade necessitava de uma filosofia própria para direcionar as pessoas inseridas no grupo social de profissionais liberais. A filosofia corresponde a uma visão interpretativa da natureza da sabedoria do profissional, uma visão crítica de suas controvérsias, de seus significados, de suas proposições, teorias e de seus pressupostos. Enquanto ciência, a contabilidade tem uma filosofia própria que procura apresentar o porquê da sua existência. A filosofia, assim, agregou valor ao profissional de contabilidade e representou uma união de conhecimentos que elabora o pensamento contábil.Dentre muitas escolas do pensamento contábil, foi com a escola patrimonialista, iniciada pelo italiano Vicenso Masi em 1926, que a contabilidade foi conhecida como ciência. A seguir, estudaremos cada escola do pensamento contábil, desde a sua origem. Doutrinas científicas do pensamento contábil A classificação da contabilidade como ciência ocorreu porque ela cumpre todas as exigências previstas e precisas para essa classificação, isto é, possui objeto próprio, processo específico, metas definidas, entre outros. 3Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil � Para que uma ciência seja classificada como tal, ela necessita atender a convenções e possuir exigências especiais. � Um conhecimento, para ser classificado como científico, precisa fundamentar-se em motivos competentes. � Doutrinadores italianos, franceses, alemães e portugueses foram responsáveis pela capacitação de doutrinários, que constituíram as escolas do pensamento contábil, resultando nas correntes científicas. Depois de algum tempo e muito esforço, teóricos observaram que a essência científica contábil deveria possuir (SÁ, 2005): � um objeto próprio, que é o patrimônio aziendal; � uma finalidade própria, que é o aspecto de observação específico, ou seja, o da eficácia como satisfação da necessidade aziendal; � um método próprio de observação e condução do raciocínio para de- senvolvimento e pesquisa, que se fundamenta no indutivo axiomático e no fenomenológico; � uma tradição como conhecimento, milenar; Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil4 � uma utilidade, como fonte de conhecimento do comportamento da riqueza aziendal, aplicável a um sem número de utilidades (crédito, investimentos, controle, etc.); � teorias próprias, como a das aziendas, do crédito, do valor, das funções sistemáticas do patrimônio aziendal, etc., e também uma teoria geral do conhecimento; � doutrinas cientificas próprias e que estabelecem correntes de pensa- mentos, como o patrimonialismo, neopatrimonialismo, aziendalismo, personalismo, etc.; � uma correlação com outras ciências, como Direito, administração, economia, matemática, sociologia, etc.; � enunciados de verdades universais e perenes sobre os fenômenos de que trata o seu objeto; � capacidade de previsões, por meio dos modelos que permitem os orçamentos; � meios de levantamento de hipóteses, como as derivadas das doutrinas das contingências; � um caráter analítico, ensejando estudos de natureza nuclear funcional da riqueza aziendal, etc. A contabilidade sempre foi privilegiada com ricas fontes de informações registradas, decorrentes de análises sob os elementos que normalmente correspondiam a preo- cupações contínuas de registros contábeis, propiciando, assim, a sua função científica. Com o intuito de determinar os métodos de indagação sobre os elementos escriturados, os teóricos estavam preocupados, inicialmente, com o real objeto de uma ciência que decorresse da pesquisa dos registros contábeis. Vamos analisar, a seguir, o relato de cada uma das escolas e o que elas evidenciaram na evolução contábil. Escolas contábeis A primeira escola do pensamento contábil foi a contista, surgida no século XV. Com o aumento da população, houve a necessidade de segregar o patrimônio da empresa da riqueza do proprietário. Essa escola afirmava que a contabilidade representava a ciência das contas e da escrituração, e teve como destaque a obra de Luca Pacioli. A escola administrativa teve a sua origem em 1840, apresentando como ideia essencial que as contas deveriam ser abertas para os valores, não para relações pessoais, aceitando a escrita contábil como método sistêmico. A escola favoreceu o desenvolvimento científico da contabilidade, evidenciando-a não somente como escrituração, mas como instrumento de informação gerencial capaz de influenciar a tomada de decisões empresariais. A personalista, que surgiu no século XIX, apresentou como ideia principal dar originalidadeàs contas, que deveriam ser criadas direcionadas às pessoas físicas e jurídicas. Já a escola controlista, criada em meados de 1880, na Itália, definiu como objeto da contabilidade o controle patrimonial, diferenciando também as etapas de gestão econômica e de direção e controle. Em 1887, surgiu a escola norte-americana, facultando clareza e responsa- bilidade aos profissionais e enfatizando a contabilidade gerencial. Ela buscou qualificar a informação contábil, proporcionando o método de contabilidade financeira, de relatórios e a publicação da contabilidade gerencial. A escola matemática trouxe a ideia de que a contabilidade representava uma ciência aplicada, e não social, já que não objetivava apresentar a gestão ou os elementos patrimoniais. Sabemos que, para a escola neocontista, o objeto da contabilidade era definido mediante o patrimônio, na defesa de que a contabilidade correspondia à ciência do controle econômico. O neocontismo (1914) trouxe grande avanço para o estudo da análise patrimonial e dos fenômenos decorrentes da gestão empresarial, dessa forma, foi um movimento contrário a escola personalista, defendendo o valor às contas desvinculandas das pessoas. Foi o início da “ciência das contas e escrituração”, como era conhecida, que deu originem a separação da entidade e do proprietário. A moderna escola italiana definiu que o controle aplicado pela contabilidade correspondia a um instrumento. já a escola controlista afirmou o seguinte: 5Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil o controle econômico pode ser considerado como uma das finalidades dos sistemas de escrituração, não abrangendo, contudo, em sua totalidade, o objeto da contabilidade. Aspectos relativos à formação dos custos, realização de receita, equilíbrio financeiro e outros que provam variações patrimoniais são objeto de operações de controle, porém, a contabilidade não se limita a esses aspectos. O controle é apenas um instrumento de apoio, e não um fim ou o objeto da contabilidade (DONATO, 2014). Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil6 A escola predominante no Brasil é a patrimonialista, que iniciou como uma corrente científica da contabilidade em 1926, com o professor italiano Vicenzo Mais. A escola patrimonialista defendeu que o patrimônio era mutável, conforme a evolução das ações econômicas. A escola patrimonialista entendeu que o desenvolvimento das atividades econômicas deve ser conhecido para que se possa analisar e registrar adequadamente os motivos das variações dos fatos administrativos ocorridos, sendo demonstrado a partir do conhecimento do patrimônio, com relação a um período de tempo específico. Observamos, na história das escolas do pensamento contábil, que o neo- patrimonialismo representa a aceitação de que tudo pode ser transformado no patrimônio, tudo se relaciona e é estruturado. O patrimônio se modifica por intermédio da sua força motora, que está sempre em desenvolvimento. Assim, o patrimônio é compreendido pelo neopatrimonialismo como um conjunto que deve ser verificado a partir de diferentes aspectos. O neopatronalismo foi um era de aceitação de que tudo pode ser transformado no patrimônio, ou seja, que o patrimônio é mutável e precisa ser verificado periodicamente de forma estruturada. Desde então a ciência contábil passou por inúmeras atualizações em sua forma de pensar e também quanto as técnicas utilizadas na escrituração contábil. Em 1976 teve uma importante regulamentação com a Lei das sociedades anônimas (Lei 6.404,76). Essa Lei passou por atualizações pela Lei 11.638 de 2007 e hoje, com todos os avanços apresentados, a contabilidade é tida como a mais importante ferramenta gerencial e estratégica no processo decisório das empresas. A evolução contábil recentemente passou pelo processo de uniformização dos parâmetros e entendimentos quanto a processos e técnicas contábeis utilizados. A partir de 2004, o Brasil passou a seguir as normas de contabilidade internacionalmente aceitos. DONATO, S. V. Teoria da contabilidade. Prof. Sócrates Vieira Donato, Petrolina, 2014. Disponível em:<http://www.socrates.cnt.br/Teoriadacontabilidade.pdf>. Acesso em: 06 nov. 2017. SÁ, A. L. Doutrinas, escolas e novas razões de entendimento na ciência contábil. Revista Catarinense da Ciência Contábil, Florianópolis, v. 4, n. 10, 2005. Disponível em: <http:// revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/1135/1064>. Acesso em: 21 out. 2017. SIGNIFICADO de ciência. Significados, 2017. Disponível em:<https://www.significados. com.br/ciencia/>. Acesso em: 06 nov. 2017. Leituras recomendadas LUZ, E. E. Teoria da contabilidade. Curitiba: InterSaberes, 2015. NIYAMA, J. K.; SILVA, C. A. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. SÁ, A. L. A contabilidade com ciência. Prof. Antonio Lopes de Sá, Belo Horizonte, 2017. Disponível em: <http://www2.masterdirect.com.br/448892/index.asp?opcao=7&cli ente=448892&avulsa=4947>. Acesso em: 06 nov. 2017. SÁ, A. L. Teoria da contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SÁNTOS, J. L. D. Teoria da contabilidade. São Paulo: Pearson, 2009. 7Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil Resumindo, primeiramente, surgiu o movimento denominado contismo, que tinha por objeto científico as contas, surgindo a teoria das contas. Em seguida, veio a doutrina personalista, que evidenciou as relações de domínio da entidade sobre as pessoas. Ela estabeleceu o patrimônio como conjunto de direitos e obrigações. Depois, Vincenzo Masi lançou um desafio: a independência científica da contabilidade com base em sugestões rígidas. A visão dele foi a que prevaleceu, tornando o patrimônio empre- sarial o objeto da contabilidade e dando origem, assim, à mais relevante corrente de pensamento doutrinário — o patrimonialismo. A concordância sobre as novas ideias por uma significativa quantidade de pesquisado- res ocasionou uma nova corrente científica, denominada neopatrimonialismo. Essa corrente surgiu no século XX e estava preocupada em definir um processo lógico para o entendimento do que ocorre com a riqueza patrimonial das organizações e das instituições de fins ideais.
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