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AULA 1 PSICOLOGIA POSITIVA E MINDFULNESS Prof.ª Sheila Drumond 2 CONVERSA INICIAL A psicologia positiva é considerada um movimento (e não uma abordagem propriamente dita), que nasceu oficialmente no ano de 1998, das mãos do Dr. Martín Seligman, psicólogo norte-americano e, naquele ano, presidente da APA – American Psychological Association. Seligman é amplamente conhecido por sua teoria sobre a desesperança aprendida, e se converteu, de maneira gradual, no porta voz dessa nova corrente, que propõe potencializar as forças humanas como amortecedores diante da adversidade. Veremos que, num primeiro momento, a psicologia positiva surgiu como um movimento que promovia a investigação dos aspectos positivos do psiquismo humano, e tinha como objetivos: 1. estudar as emoções positivas; 2. investigar os traços de personalidade positivos; e 3. pesquisar as instituições que promovem 1 e 2. Neste início, a psicologia positiva se apresentou como uma novidade radical, mas hoje fica claro que se trata de uma corrente desenvolvida com enfoque salutogênico de psicologia. A psicologia positiva tem se desenvolvido, desde então, como um modelo de um novo paradigma dentro da psicologia, servindo de base para o desenvolvimento de processos como coaching, bem como outras metodologias semelhantes, que têm em comum o objetivo de desenvolvimento humano. Nesta aula, vamos entender como foi o surgimento oficial da psicologia positiva e como se fundamentam suas bases. TEMA 1 – UM POUCO DE HISTÓRIA O ponto mais importante, neste primeiro momento, é definir a psicologia positiva como um movimento e não como uma abordagem psicológica em si. Isso deixa um campo em aberto, no sentido de que é possível que qualquer profissional, de qualquer área, trabalhe com mindfulness, e não apenas um psicólogo de alguma abordagem. Outro ponto que é interessante de enfatizar é que a psicologia positiva não nasceu em 1998; este ano marca apenas seu surgimento oficial, fruto de um movimento que já acontecia muitos anos antes, por meio da psicologia humanista. Para que possamos entender a importância da psicologia positiva como ponto de mudança de paradigma dentro da psicologia, vamos ter que retomar um pouco a história da psicologia. 3 A psicologia se fundamentou dentro dos parâmetros do modelo médico. Na verdade, desde o final do século XIX tudo girava em torno do conceito de enfermidade. Antes da Segunda Guerra Mundial, a psicologia tinha três missões: 1. Curar a doença mental; 2. Ajudar para que a vida das pessoas seja mais plena; 3. Encontrar e desenvolver talentos; Com a guerra, as necessidades emergentes mudaram a orientação e o desenvolvimento da psicologia. Além disso, os efeitos da Revolução Industrial sobre as condições de vida das pessoas, bem como as doenças transmissíveis, mudaram o rumo da investigação para o controle de causas. Instala-se, assim, a partir da década de 50, o conceito e a ideia de prevenção nos órgãos internacionais de saúde. A saúde só podia ser entendida como ausência de enfermidade. Sobre tais bases se estruturou o modelo médico ou o enfoque patogênico, organizado desde, e para, a doença. Foi assim que termos como diagnóstico, prognóstico, cura e prevenção passaram a fazer parte da psicologia e, com o passar dos anos, se estenderam às ciências sociais. Depois da Segunda Guerra, outros dois eventos mudaram de vez a orientação da psicologia. No ano de 1946, foi criada a administração de veteranos, e uma grande quantidade de psicólogos passou a se dedicar ao tratamento da enfermidade mental. No ano seguinte, foi fundado o Instituto Nacional de Saúde Mental no EUA, fato que teve como consequência imediata a hipervalorização do conhecimento sobre as diversas psicopatologias. Das três missões da psicologia, somente a primeira se desenvolveu. O modelo médico começa a se mostrar insuficiente em meados do século XX; um exemplo claro disso é a definição de saúde pela OMS, em 1947: estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade. A partir de 1980, desenvolve-se o conceito de promoção de saúde, que antecipa o enfoque salutogênico. Quando nos referimos à prevenção, estamos falando sobre enfermidade e patogênese. Quando falamos sobre promoção, nos referimos à busca por evitar a enfermidade e incrementar a saúde e bem-estar em geral. Essa é a mudança de paradigma do enfoque patogênico e salutogênico. No século XIX, a psicologia se estabelece como ciência, com o modelo médico, dado seu prestígio decorrente dos avanços científicos. Apresenta, assim, duas vertentes de ação bem claras: uma que enfatiza a investigação experimental; 4 e outra que assinala o tratamento médico dos transtornos mentais sobre as bases do modelo médico. Quando, no pós-guerra, entre as décadas de 50 e 60, a ênfase recaiu, pela primeira vez, nos aspectos saudáveis do psiquismo, a primeira escola a advertir as limitações do modelo médico foi a psicologia humanista, considerada pioneira no enfoque salutogênico da psicologia. A partir dos anos 80, a psicologia mostra um progressivo interesse por estudar e pesquisar os aspectos positivos do ser humano. O chamado enfoque salutogênico, que será descrito mais adiante deste módulo, culmina em dois novos critérios de saúde: 1. A saúde ou normalidade consiste na atualização da essência da natureza humana, com suas necessidades, capacidades e tendências organizadas de maneira hierárquica (contribuição de Abraham Maslow). 2. Substituímos o conceito de saúde mental por outros conceitos, entre os quais encontramos: felicidade, vida plena, crescimento psicológico saudável ou bem-estar (psicologia positiva). A preocupação e o interesse pelo estudo do bem-estar e dos fatores que contribuem ao ele não são áreas exclusivas da psicologia positiva, mas foi Seligman que teve a virtude de não apenas identificar essas tendências, mas também dar-lhes um nome e adaptá-las aos cânones ortodoxos da ciência, organizando esses constructos dentro de uma estrutura coerente e didática, impulsionando assim sua investigação e difusão. Linley et al. (2006) enfatizam que a psicologia positiva deve prosperar como uma psicologia unificada e integrada, seguindo esse caminho que a define como o estudo científico do funcionamento humano ótimo, fazendo uma distinção entre dois níveis de análise: Nível metapsicológico, cujo objetivo consiste em corrigir o desequilíbrio entre a investigação e a prática psicológica, integrando tanto os aspectos positivos como os negativos do funcionamento e da experiência humana; Nível pragmático, que busca compreender e explicar as fontes, os processos e os mecanismos que conduzem aos resultados desejados. 5 1.1 Antecedentes históricos Como vimos, a psicologia positiva é oficialmente reconhecida a partir de 1998; porém, seu surgimento mais remoto vem com a psicologia humanista e seus distintos autores, como William James, Carl Rogers e Abraham Maslow. William James, médico e filósofo, foi o primeiro pensador a ofertar um curso de Psicologia nos EUA, trabalhando também como professor de filosofia na Universidade de Harvard e palestrante em diversas outras universidades. Ele propôs a utilização do termo mente sana, e também descreveu as funções da atenção e da consciência. Carl Rogers, por sua vez, desenvolveu uma teoria que chamou de centrada na pessoa, em resposta à visão reducionista e mecanicista de seus antecessores, como a psicanálise e o behaviorismo. Em seu processo, se recusa a se dirigir aos clientes como pacientes ou ter uma visão que pressupõe neurose como fundamento de base. Ao contrário disso, prevê que todos os seres humanos apresentam uma tendência natural ao bem-estar e à saúde. Desenvolveu conceitos importantes, como congruência e empatia. Por fim, finalizando a tendênciahumanista, citamos Abraham Maslow, muito conhecido por seu desenvolvimento da pirâmide de necessidades humanas, que contempla desde necessidades fisiológicas até a necessidade comum de autorrealização. Sendo assim, o desenvolvimento da psicologia humanista destaca-se como o princípio de uma psicologia salutogênica, priorizando o incremento do conceito de saúde psíquica e o desenvolvimento de potencialidades do psiquismo. Conceitos como bem-estar psíquico, resiliência, criatividade, inteligência emocional, teoria do apego, dentre outros, marcam essa fase, que se destaca como o início de uma psicologia positiva. Vamos entender um pouco mais sobre esse novo foco dentro da psicologia, denominado salutogênico. 1.2 Foco salutogênico Esse novo foco, como vimos, surge de uma psicologia que nasceu dentro de um contexto específico, e que incorporou, num primeiro momento, a ideia de saúde como a simples ausência de doença, conceito muito presente dentro da área médica. 6 O termo salutogênese foi proposto por Aaron Antonovski, médico e sociólogo norte-americano, na segunda metade do século XX. O termo significa “a origem da saúde”, em contraposição à patogênese, ou origem da doença; ambos os termos são complementares. A salutogênese, como modelo, foi estabelecida na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde, que aconteceu em Ottawa (Canadá). Em 1992, esse enfoque é divulgado de forma oficial. Como vimos, o primeiro movimento da psicologia com ênfase salutogênica foi a psicologia humanista das décadas de 60 e 70. A psicologia humanista de Abraham Maslow (19989) e Carl Rogers (1971) propunha que a psicologia deveria ocupar-se de estudar, com a mesma ênfase, tanto as enfermidades quanto as capacidades e potenciais psíquicos. O modelo humanista teve um impacto clínico elevado, porém uma repercussão escassa no meio acadêmico, devido à falta de emprego de metodologia científica. Esse é o ponto que separa os humanistas da psicologia positiva. Assim, a psicologia passa a incorporar o foco salutogênico, que sublinha a necessidade de estudar não apenas as dificuldades, mas também as capacidades e fortalezas que cada indivíduo tem, em maior ou menor medida, já que a remissão dos transtornos psicológicos traz determinado alívio ao sofrimento, mas não implica, necessariamente, em um maior bem-estar psicológico. Dois outros fatos marcam o surgimento do enfoque salutogênico de psicologia: investigações independentes sobre os aspectos funcionais do psiquismo, tais como o estudo de bem-estar psíquico, resiliência, criatividade, inteligências múltiplas, entre outros; e a própria orientação de Aaron Antonovsky sobre o tema. Este autor aponta os seguintes conceitos, que veremos a seguir: recursos gerais de resistência e sentido de coerência. 1.2.1 Recursos Gerais de Resistência (RGR) Os recursos gerais de resistência consistem em recursos pessoais ou contextuais a que as pessoas podem recorrer em caso de necessidade. Englobam dinheiro, conhecimento, experiência, autoestima, hábitos saudáveis, compromisso, apoio social, capital cultural, visão de vida etc. Os RGR, sigla como também é conhecido, pode englobar quaisquer características do indivíduo ou do 7 meio ambiente – recursos físicos e bioquímicos, materiais, cognitivos e emocionais, interpessoais, entre outros. Tais recursos favorecem a criação de um sentido de coerência, que é o que determina a saúde e o bem-estar das pessoas. Experiências caracterizadas pela coerência são determinadas por variáveis de personalidade, estilos de enfrentamento, qualidade de apoio, posição social etc. Elas ajudam as pessoas a construir experiências de vida coerentes. 1.2.2 Sentido de Coerência (SC) O sentido de coerência não é uma estratégia de enfrentamento de estresse nem um traço pessoal, mas sim uma orientação para a vida, que é expressa pela capacidade do indivíduo de ter um sentimento de confiança dominante, duradouro e dinâmico. Nesse sentido, como determina Antonovsky, o Sentido de Coerência é um padrão cognitivo emocional que reflete a forma como a pessoa responde à vida e às suas dificuldades. Resumidamente, no enfoque salutogênico proposto por Antonovski, é importante que um indivíduo tenha não somente os recursos (RGR) para atuar diante da vida, mas que também tenha capacidade de utilizá-los (SC). Dessa forma, o enfoque salutogênico se orienta para o desenvolvimento de potenciais. Sua ênfase não é somente a doença, o que complementa o enfoque médico que predominava na psicologia do século XX. Dessa perspectiva, passa-se a considerar a experiência de uma pessoa como uma unidade, percebendo as boas e as más experiências como os extremos de um contínuo, do fluxo da vida. Até os dias atuais, a psicologia positiva carece de um modelo teórico unificado, já que, fundamentalmente, consiste em um agrupamento de diversas investigações sobre os aspectos saudáveis do psiquismo, muitas vezes realizadas de forma independente. TEMA 2 – DEFINIÇÃO CONCEITUAL Em seu discurso inaugural como Presidente da APA (American Psychological Association), Seligman declarou que sua missão seria enfatizar o interesse geral para uma psicologia “mais positiva”, no sentido de retomar os 8 objetivos até então esquecidos dessa ciência, como por exemplo fortalecer e tornar a vida das pessoas mais produtiva, e promover a atualização do potencial humano. Seligman (2003; 2004) postula que a psicologia não é somente o estudo da debilidade, do transtorno e da desordem, mas também a compreensão da fortaleza e da virtude. O tratamento não consiste apenas em ajustar o que é falho, pois é preciso também alimentar e desenvolver o que há de melhor em nós. A psicologia positiva se refere às perspectivas científicas daquilo que faz com que a vida seja digna de ser vivida; trata das coisas que fazem a vida valer a pena. Para tanto, se centra nos aspectos da condição humana que promovem felicidade, completude e prosperidade. Analisa tanto as dificuldades como as fortalezas pessoais próprias dos indivíduos e dos contextos. Seu interesse principal é compreender e explicar a maneira e os mecanismos por meio dos quais as pessoas conseguem, ainda que em circunstâncias de máximo estresse, desenvolver emoções positivas, recursos de enfrentamento eficazes, projeto de vida, dentre outros. Eis alguns conceitos que definem a psicologia positiva, de alguns autores consagrados: O estudo científico do funcionamento humano ótimo (Sheldon, et al., 2011). Agrega-se a esse conceito uma perspectiva mais ampla, que engloba tanto o estudo do funcionamento humano ótimo de pessoas, como de grupos e instituições (Castro Solano); O estudo científico das fortalezas e virtudes humanas (Sheldon & King, 2001); O estudo científico do bem-estar subjetivo (Diener). 2.1 O que não é psicologia positiva Não é um movimento filosófico nem espiritual. Não são exercícios de autoajuda para alcançar a felicidade. Os constructos psicológicos propostos e sua evidência empírica têm uma sólida base científica. Não se encontra baseada no critério de autoridade de seu fundador, tampouco na busca de adeptos, mas opera por meio da comunidade 9 científica internacional. As investigações realizadas estão publicadas em revistas científicas de grande prestígio. Não se trata da negação do sofrimento humano, nem dos aspectos negativos das pessoas. Ou seja, tenta a corrigir o desequilíbrio da psicologia nos últimos 60 anos, quando do desenvolvimento de uma ênfase maior nos aspectos patológicos dos indivíduos. 2.2 Principais contribuições da psicologia positiva Dentre as principais contribuições da psicologia positiva, destaca-se: o corrente interesse pelos aspectos positivos do psiquismo, difundindo-os dentro da comunidade científica e dentro dasociedade em geral. o desenvolvimento de investigações nucleares vinculadas com o bem-estar psíquico, as quais podem ser aplicadas em contexto de autodesenvolvimento nas mais diferentes áreas. Concluímos que o conceito de saúde evoluiu na história da psicologia, desde a ausência de enfermidade psicológica, até o funcionamento psíquico pleno ou bem-estar psíquico, que se percebe com uma vida plena. Desse modo, uma psicologia moderna e atualizada, com “a cara” do século XXI, deveria ocupar-se não só de reparar o dano psíquico, mas também de estudar como potencializar as qualidades positivas que todos os seres humanos possuem. De forma prática: ao invés de um profissional com orientação positiva perguntar: “O que há de errado com você?”, poderia imprimir uma abordagem mais acolhedora e integradora, como “O que você tem de bom, de recursos internos para podermos superar essa dificuldade?”. TEMA 3 – OBJETIVOS DA PSICOLOGIA POSITIVA Durante algum tempo, acreditou-se que a felicidade estaria em determinados pontos ou áreas a serem conquistados ou alcançados. Por exemplo, entendíamos, até tempos atrás, que a quantidade de felicidade, por assim dizer, estaria em consonância com os ganhos financeiros, o que sabemos hoje que não é uma verdade. Mas então... O que faz com que as pessoas sejam felizes? No que consiste uma boa vida? Como podemos melhorar tomando como 10 base as nossas fortalezas e não dos nossos déficits? O que nos converte em pessoas virtuosas? De um modo geral, a psicologia positiva tenta responder a essas perguntas. Entre seus objetivos, podemos destacar: centrar-se no estudo do bem-estar, que é um constructo formado por cinco elementos, a saber: emoções positivas, compromisso, vínculos positivos, significado e realização (veremos uma explanação mais ampla no tema seguinte). ampliar o foco da psicologia clínica, desde a preocupação quase exclusiva de reparar danos, para o fortalecimento das potencialidades do indivíduo. identificar, medir e promover o bem-estar de indivíduos, grupos e sociedades. investigar como potencializar as qualidades positivas que todos os seres humanos possuem. investigar com base na rigorosidade do método científico. TEMA 4 – PILARES DA PSICOLOGIA POSITIVA Há 3 pilares dentro da psicologia positiva, conforme a teoria de Seligman: 1. O estudo das emoções positivas; 2. O estudo dos traços positivos; 3. O estudo das instituições positivas; As emoções positivas, como veremos com mais precisão, podem centrar- se no passado, no presente ou futuro. Emoções positivas, como segurança, esperança e confiança, são mais úteis em momentos difíceis do que quando a vida está bem. Os traços positivos são formados pelas virtudes e fortalezas, incluímos aí também habilidades como inteligência e capacidade atlética, por exemplo. Em épocas difíceis, compreender e desenvolver fortalezas e virtudes, como o valor, a objetividade, a integridade, a equanimidade, a lealdade, entre outros, pode ser mais urgente que em épocas fáceis ou prósperas. Em épocas difíceis, é prioritário compreender e reforçar instituições positivas, como a democracia, a união da família e a liberdade de imprensa. Tais instituições, por sua vez, sustentam as virtudes e as emoções positivas. 11 Seligman (2011) anunciou a teoria do bem-estar por meio de um novo modelo denominado Perma, cujas letras aludem a cada um dos elementos essenciais para alcançar o bem-estar: Emoções Positivas (Positive Emotion); Compromisso (Engagement); Relações Positivas (Positive Relations); Significado de vida (Meaning); Competência ou autopercepção de realização (Accomplishment); Há, dentro desses cinco pontos essenciais, várias vias de acesso para alcançarmos uma vida plena. TEMA 5 - EMOÇÕES POSITIVAS E ESTADOS MENTAIS POSITIVOS A psicologia positiva pode também ser definida como o estudo das emoções positivas, forças e virtudes humanas (Sheldon; King, 2001). Entender este espectro é fundamental para podermos compreender o impacto e o valor das emoções positivas no nosso dia a dia. Parte dos estudos científicos na área englobam os benefícios no cultivo das emoções positivas – e isso não quer dizer que não há nada de positivo nas emoções consideradas negativas. Um nome de destaque nessa área é o de Fredrickson, que centrou suas pesquisas no valor adaptativo que é desenvolvido com base no cultivo das emoções desenvolvem. No entanto, antes de entender melhor o trabalho de Fredrickson, vale a pena contextualizar a pesquisa e o estudo sobre as emoções positivas, cuja origem inicia com os filósofos Platão, Aristóteles e Descartes. 5.1 Teoria sobre as emoções Entender as emoções é algo que despertou o interesse dos filósofos Platão, Aristóteles, Descartes e Epiteto. Este último escreveu, no século II, que o homem não se perturbava pelos fatos ocorridos, mas sim pela visão, pela interpretação que tinha dos ditos fatos (Epiteto, 1996). Os estoicos consideravam as emoções como o resultado de crenças sobre o que era bom ou mau. Além da visão filosófica, há também a visão biológica e psicofisiológica. Darwin tratava as emoções positivas como um mecanismo adaptativo importante, cujas funções eram comunicar intenções e tornar mais apropriadas as reações 12 emocionais diante de certos acontecimentos do dia a dia. Vários outros autores considerados neodarwinistas, como Plutchik, Tomkins, Izard, entre outros, confirmaram essa visão darwiniana. A abordagem psicofisiológica, por sua vez, enfatiza o papel das respostas fisiológicas periféricas na percepção da experiência emocional. Dessa perspectiva, as emoções englobam padrões de regulação individual que dão lugar ao reconhecimento e à expressão de emoções de uma forma particular, subjetiva, dependentes do desenvolvimento e do contexto de seu surgimento. Ainda há outros enfoques e teorias que explicam as emoções positivas sob outras perspectivas, como as teorias behaviorista e cognitiva. 5.2 Teoria de ampliação e construção de Barbara Fredrickson A teoria construída por Fredrickson encerra um modelo que explica os mecanismos que ocorrem por trás das emoções positivas em nosso sistema, com destaque para seus efeitos e para a importância de estudá-los como uma forma de impactar nosso bem-estar. Em sua teoria, emoções positivas como alegria, amor, entusiasmo, satisfação, orgulho, complacência, entre outras, mesmo que fenomenologicamente sejam distintas entre si, compartilham o fato de ampliarem os repertórios de pensamento e ação das pessoas, além de contribuírem com a construção de reservas de recursos físicos, intelectuais, psicológicos e sociais, que servem de apoio para momentos de crise – ou seja, seu constructo visa o longo prazo. De uma forma geral, as emoções positivas promovem mais saúde física, permitem que o indivíduo estabeleça vínculos pessoais de alta qualidade, e também que usufrua de melhores relações interpessoais, além de render muito mais no trabalho. Fora isso, diversos estudos científicos (citados por Leite, 2018) apontam que indivíduos que se desenvolvem com base na psicologia positiva melhoram sua forma de pensar, tendo uma organização cognitiva mais aberta e flexível; também veem fortalecidas sua capacidade de enfrentamento diante das adversidades. É sabido que as emoções positivas têm efeitos a curto e a longo prazo, por isso Fredrickson fala sobre uma teoria de ampliação e da construção de emoções positivas. Ela demorou para entender que as emoções positivas funcionavam de forma diferente das emoções negativas. Quando formulou a teoria, foi a respeito 13 da hipótese de que as emoções positivas tinham um efeito de ampliação do repertório de ação-pensamento momentâneo, descartando as respostas automáticas (tão comuns nas reações às emoções negativas), e procurando novas maneiras,mais criativas, flexíveis e imprevisíveis, de pensar e agir. Tomando como base essa ampliação, podemos construir recursos físicos, intelectuais, psicológicos e sociais que são duradouros e que podem ser utilizados como recursos em momentos de crise. Dessa forma, as emoções positivas se tornam estados mentais positivos, transformando emoções em atitudes, em traços de personalidade. 5.2.1 Emoções positivas e o caminho para felicidade São consideradas emoções positivas: alegria, amor, bem-estar, contentamento, esperança, felicidade, otimismo, perdão, sabedoria, sentido de vida – apesar de não se encaixar como uma emoção positiva, é um componente essencial para o processo de crescimento do homem. Cada uma dessas emoções contribui para o bem-estar psicológico, e se efetivam no primeiro passo para a construção da felicidade, segundo a teoria de Seligman em seu método Perma. O método Perma, por sua vez é uma metodologia desenvolvida por Seligman para desenvolver a felicidade. Com base em cinco aspectos essenciais, como já citado anteriormente, vamos entender melhor como podemos desenvolver a felicidade por meio das emoções positivas. O “segredo” consiste em aumentar a experimentação de emoções positivas durante a maior parte do tempo. Sabemos que, pelo mecanismo de sobrevivência, as emoções negativas têm um impacto psicológico muito maior em nós; contudo, podemos melhorar o índice de processamento de emoções positivas para podermos, de fato, construir felicidade. Esse processo pode ser feito no passado, no presente e no futuro. No presente, utilizamos mindfulness e savoring, que estimula nossa consciência no aqui e agora. O mindfulness nos ajuda a “criar” um novo modelo cognitivo, uma nova forma de pensar, de ser e de estar cognitivamente no mundo, porque nos oferece uma metodologia para desenvolver uma consciência plena, ou seja, intencionalmente voltada para o momento presente, com aceitação e não julgamento do fluxo das experiências que se sucedem, englobando um aspecto afetivo-compassivo. 14 Savoring designa a capacidade de apreciar e melhorar as experiências positivas da vida, voltando nossa atenção para os pequenos prazeres da vida. Essas são as duas formas de absorver melhor as emoções positivas no presente. Um exemplo é refletir sobre algo bom que aconteceu no dia de hoje, nos fazer conscientes da experiência de satisfação com a comida ou com um trabalho que gostamos de realizar. Para experimentar emoções positivas relacionadas ao passado, é importante cultivar atitudes como gratidão e perdão. A psicologia positiva apresenta inúmeros exercícios para desenvolver tais emoções. Para experimentar emoções positivas em relação ao futuro, é preciso cultivar esperança e otimismo. Pessoas mais otimistas têm mais êxito naquilo que se determinam a fazer, reagindo de maneira mais positiva diante de fracassos e erros eventuais. Em contrapartida, pessoas com mais esperança têm melhores habilidades de gerar caminhos alternativos em resposta às dificuldades. Há, ainda, outras emoções positivas relacionadas com passado, presente e futuro, como mostra o quadro abaixo. Quadro 1 – Emoções positivas Emoções positivas relacionadas com o futuro Emoções positivas relacionadas com o presente Emoções positivas relacionadas com o passado Otimismo Prazeres (momentâneos) Satisfação Esperança Gratificações (duradouras) Realização pessoal Segurança Orgulho Fé Serenidade Confiança Fonte: Leite, 2018. 15 REFERÊNCIAS BONO, G.; MCCULLOUGH, M. E. Positive responses to benefit and harm. Bringing forgiveness and gratitude into Cognitive Psychotherapy. 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